66
termos proporcionais. Carla Almeida constatou que, “enquanto a população cativa, na
capitania mineira, cresceu, entre 1767 e 1821, 43,65%, a livre aumentou em 305,17%”.
202
Assim como Almeida, Silvia Brügger constata que o aumento dos habitantes na Comarca do
Rio das Mortes e, consequentemente, no termo de São João del-Rei, no século XIX, foi
proporcionalmente muito maior entre os livres
203
do que entre os escravos. Verificou que, em
1821, a Comarca do Rio das Mortes, do total de 209.664 habitantes, 138.517 eram livres e
71.147, escravos. No mesmo ano, o termo de São João del-Rei tinha 31.029 habitantes, sendo
20.152 livres e 10.877, escravos.
204
Mais interessante ainda é a constatação da caracterização da população sanjoanense.
Brügger afirma que havia maior concentração de mulheres na Vila de São João del-Rei em
1838, ou seja, para um total de 4.033 pessoas livres, 1.776 eram homens e 2.257, mulheres,
portanto, o predomínio masculino se inverteu: havia apenas 79 homens para cada 100
mulheres.
205
Dessa forma, acreditamos que a maior participação das mulheres livres na
Confraria do Rosário de São João del-Rei, na primeira metade do XIX, seja o reflexo da
tendência populacional, apontada pela historiografia, mas isso não é tudo. Cabe, aqui,
aprofundarmos a investigação para percebermos algumas particularidades.
Vários estudos têm destacado o aumento de cativos agraciados pela alforria a partir da
metade do século XVIII, principalmente mulheres, como apontamos em páginas anteriores.
Os libertos, em grande parte, buscavam nos centros urbanos a oportunidade de sobrevivência,
onde a oferta de trabalho livre era maior. Nas vilas de perfil mais urbanizado, como é o caso
de São João del-Rei, muitas mulheres foram em busca de atividades laboriosas que lhes
propiciassem melhores condições de sobrevivência. Tradicionalmente, estavam reservadas
aos homens a atividade de mineração, ofícios como carpinteiro, sapateiro, pedreiro, alfaiate,
etc. Sendo assim, as mulheres procuraram exercer outras funções. Sheila de Castro Faria
afirmou que as principais atividades femininas, no meio urbano, eram: costureira, rendeira,
doceira, padeira, fiandeira, louceira, lavadeira, parteira e prostituta.
206
Mas era no comércio,
202
Apud: BRÜGGER, Silvia. Op. cit, p.40.
203
Entre os livres, a autora afirma que se achavam incluídos também os libertos.
204
Idem, ibidem, p.41. Anderson de Oliveira e Sílvia Brügger pesquisaram registros paroquiais de óbito de São
João del-Rei e constataram a mesma tendência. Entre 1801 e 1822, o percentual de livres no conjunto da
população era maior. Dos 6.189 assentos, 56,8%, em média, era de livres, 6,1% de forros e 37,1% de escravos.
OLIVEIRA, Anderson de e BRÜGGUER, Silvia Maria Jardim. Os benguelas de São João del-Rei: tráfico
atlântico, religiosidade e identidades étnicas (séculos XVIII e XIX). Revista Tempo, Departamento de História da
UFF, Niterói/RJ, v. 13, nº 26, 2009, p. 181.
205
BRÜGGER, Silvia. Op. cit, p.41.
206
FARIA, Sheila de Castro. Pobreza ou Poder? Mulheres chefes de domicílio no Brasil (séculos XVIII e XIX).
Niterói, 1998 (texto mimeo.).