58
comerciantes destas (ou seus descendentes
5
) voltam-se para o comércio de víveres,
ferramentas, tecidos, remédios e sementes, em troca dos produtos da Colônia, além de
guardarem, a juros módicos, as sobras dos imigrantes
6
.
Este grupo formado por negociantes-fazendeiros era bastante estruturado, possuindo,
via de regra, tropa própria de muares para o transporte das mercadorias, bem como
carroceiros
7
. Progressivamente, contudo, os imigrantes iniciaram na atividade, não como
donos de casas de comércio, mas como carroceiros, transportando seus próprios produtos
ou o dos seus vizinhos para os centros de comércio. Neste período, há por parte destes
pequenos produtores, além da dedicação a uma produção de subsistência, a afirmação da
especialização no cultivo de determinados produtos, tendo-se como principais o trigo, o
feijão preto, o milho e os suínos. Tal prática da associação da cultura do milho à criação de
suínos, objetivando a produção de banha acabou por se difundir entre estes migrantes (no
caso, os pequenos produtores da então Colônia de Sananduva, especialmente aqueles
oriundos das “colônias velhas italianas”) que passaram a produzir para o mercado interno
gaúcho e, após, para o nacional, conforme foi apontado no Capítulo III.
A proliferação da produção de suínos com vistas a negociação da banha, justificava-
se comercialmente tanto no período de formação da cooperativa em questão, quanto em um
diretamente anterior a ele (a partir da década de 1880, quando o Rio Grande do Sul já
vendia banha para o norte do país), em função da eclosão da Primeira Guerra Mundial. A
banha passou a se afirmar como um dos principais produtos de exportação do Rio Grande
do Sul, que estendeu as suas remessas para os mercados europeus da Inglaterra, Alemanha,
Itália e para a região do Prata, embora seu consumo interno fosse ainda maior que a
5
“Já no ano seguinte, Victor de Moraes Branco, vulgo “Mesquita”, seu filho, adquiria a Casa de Comércio de
Carlos Raymundi, em troca de centenas de hectares de campo. Assim, através de seu filho, Heleodoro
também se favorecia no comércio. LOVATTO, op. cit., p. 27.
6
LOVATTO, loc. cit., p. 27.
7
“O comerciante Ângelo Granzotto, por exemplo, com sortida Casa no Lageado Bonito, viajava
periodicamente a Florianópolis com 30 a 40 mulas de carga, via Barracão, Campos Novos, Lages, Anita
Garibaldi e Florianópolis. A encomenda era apanhada, na maioria das vezes, diretamente do navio. As compra,
na maioria tecidos, eram cuidadosamente acondicionadas sobre o cargueiro e cobertas com couro inteiro de
gado, para manter o tecido e evitar a chuva, o sol e as intempéries. A viagem durava de 30 a 35 dias. O trecho
mais difícil era a passagem pelo Rio Pelotas. Demorava-se um dia, entre desencilhar as mulas, passá-las a
nado, transportar o equipamento com canoa e preparar os animais para seguir viagem.” [...] “E quando as
compras chegavam a Lajeado Bonito, parecia uma festa. O pessoal se achegava para comprar novidades,
ouvir histórias e tomar um bom vinho.” LOVATTO, op. cit., p. 27-28.