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O desespero da situação vivida leva Gulliver a concluir que “as criaturas humanas são
selvagens em proporção ao seu tamanho” (SWIFT, 2005, p. 123). O medo faz com que
Gulliver grite muito alto, a criatura para e passa a observar aquele minúsculo ser caído a sua
frente. O homem vira um boneco minúsculo, um inseto nas mãos do gigante:
Afinal, ele aventurou-se a pegar-me por trás e pelo meio do corpo, entre o indicador
e o polegar, depois me ergueu a dois metros e meio dos olhos para ver-me melhor.
(...) O máximo que me atrevi a fazer foi erguer os olhos para o sol e unir as mãos
num gesto de súplica, enquanto falava num tom humilde e triste, bem de acordo com
a situação em que eu me encontrava. Eu esperava que a qualquer momento ele me
largasse no chão e me esmagasse, como costumamos fazer com pequenos e temíveis
animais que queremos destruir. (SWIFT, 2005, p. 124)
Agora Gulliver é colocado na lapela da camisa, bem como ele fazia com os nativos de
Liliput. Desse modo, foi revelado ao fazendeiro e aos demais trabalhadores. O fazendeiro
coloca o estrangeiro no seu lenço, envolve-o com cuidado, levando-o para sua casa. A
princípio, a mulher dele leva um grande susto, mas depois trata o visitante com carinho. Na
hora do almoço, Gulliver foi apresentado para toda a família e também ao gato preferido da
dona da casa, um bicho de estimação três vezes maior do que um boi. Tudo isso representa
um risco real e iminente, mas as experiências de Gulliver foram importantes para que suas
atitudes não o levassem a correr um perigo ainda maior. “Como já me tinham ensinado, e eu
confirmara por experiência nas minhas viagens, que fugir ou demonstrar medo diante de um
animal feraz é o modo mais certo de fazê-lo perseguir e atacar você, naquela perigosa
conjuntura decidi não demonstrar o mínimo receio.” (SWIFT, 2005, p. 128)
De todos os viajantes aqui nomeados, Gulliver é o mais cuidadoso com as suas
anotações. No texto apresenta muitas considerações em relação aos seus registros, como no
trecho a seguir:
Espero que o gentil leitor me desculpe por entrar nesses e em outros particulares; por
mais insignificantes que possam parecer para as rastejantes mentes vulgares,
certamente ajudarão um filósofo a ampliar seus pensamentos e sua imaginação,
aplicando-os tanto para o benefício da vida pública quanto da particular. Pois está é
minha única finalidade ao apresentar esta e outras narrativas de minhas viagens pelo
mundo, que faço tomando absoluto cuidado com a verdade, sem afetá-la com
quaisquer ornamentos de erudição ou estilo. (SWIFT, 2005, p. 131)
A filha do casal, de 9 anos, fica oficialmente responsável pelo novo hóspede. Ela lhe
dá um nome cujo significado em inglês é anão. O fazendeiro decide levá-lo para a feira a fim
de torná-lo um espetáculo público. Gulliver não desanima, ele afirma: “Tinha a forte
esperança que jamais me abandonava de que um dia iria recuperar minha liberdade.” (SWIFT,