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conflitos com a população existente. Aos “fundadores” são associadas características que
posteriormente identificariam os indivíduos que coadunassem com o destino de progresso e
desenvolvimento “fundado” por eles, dentre elas a de ser uma pessoa idônea, laboriosa,
religiosa e instruída, empreendedora, honesta e não dada a conflitos, consciente de suas
atitudes no interior de um projeto de civilização do interior de Minas Gerais, que aja junto
com outros, num projeto coletivo para a edificação de Uberabinha. “Desse modo, demonstra-
se que o progresso local tem lastro, é verídico e autêntico” (Dantas, 2009:50).
A imprensa também exerceu papel importante. O primeiro jornal foi criado no ano de
1897, e seguido de vários outros, de duração efêmera
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. Em geral, estavam associados ao
grupo que constituía o governo municipal da época ou à sua oposição. Seja de que lado
estivessem, reivindicavam o propósito de contribuir para o progresso da cidade e declaravam
ter por objetivo fazer a cidade ser conhecida além das fronteiras regionais para alcançar uma
posição de importante centro comercial. De nenhum modo marcados por um discurso
homogêneo e ileso aos conflitos, os jornais à época eram palco de disputas pelos grupos
políticos locais, cocões e coiós, ambos, no entanto, circulando em torno de uma mesma
ideologia, a do progresso local.
“Como uma tribuna, muitas vezes, suas páginas eram palco das disputas pelo domínio
político das frações da classe dominante, reivindicações de melhoramentos, vitrine de
paisagem urbana, esclarecimentos diversos, defesa ardorosa de princípios e projetos,
panfletagem política, demonstração das condições sociais, políticas e culturais. Em suma,
um espaço privilegiado de lutas em que suas palavras de ordem buscam consenso em torno
dos projetos sociais e políticos vencedores” (Dantas, 2001:105).
De propriedade particular, em algumas ocasiões declarando seu apoio explícito a um
dos partidos, cocão ou coió, por vezes estes jornais eram utilizados pela Câmara Municipal
para apresentar relatórios, prestações de contas, atas das reuniões, publicar leis, etc. Em sua
atuação, estes jornais estiveram estreitamente associados às reivindicações da elite local por
empreendimentos que pudessem efetivar o progresso da cidade (Dantas 2001; 2009). No
entanto, qualificavam-se por uma neutralidade e factualidade de suas notícias. Reivindicando,
tal como os memorialistas, uma função referencial da linguagem (Jakobson, s/d), plena de
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Dantas (2001, 2009) relata a existência de mais de quarenta títulos de jornais; um número, segundo a autora,
considerável para uma média populacional de 10.00 habitantes, de maioria analfabeta, e considerando-se as
dificuldades de comunicação e distância das principais cidades do país. Entre 1897 e 1929 relata: A Reforma,
Gazeta de Uberabinha, A nova Era, O Progresso, A Livraria Kosmos, Paranahyba, O Brasil, O Commercio, O
binóculo, O Diario de Uberabinha, A Noticia, A Escola, A Tribuna, A Chispa, O Aerolitho, O Lampeão, O
Corisco, O Garotinho, O Lápis, O Rabixo, O Relâmpago, O Sabre, A Letra 7, A Esperança, Sertão Judiciário, A
Espora, Reflexo, O Alarme, A Reação, A Marposa, A Farpa, Triangulo Mineiro, A Garra, O Ideal, O Município,
A Folha Municipal, Cidade de Uberabinha, A Semana, A Voz de Uberabinha, Ferrão, Gavião, Martelo,
Chaleira, Violino, A Escola e Almanak de Uberabinha (Dantas, 2009:101).