IV. Destrutividade, destruição, pulsão de destruição
...pour un agnostique, une des définitions possibles du démon est: ce
qui, en l’homme, aspire à le détruire.
André Malraux, Saturne, essai sur Goya.
Mais pour le désespoir de l’homme, il ne peut rien faire que
d’imparfait, soit en bien, soit en mal. Toutes ses oeuvres intellectuelles
ou physiques sont signées par une marque de destruction.
Honoré de Balzac, La fille aux yeux d’or.
...pois tudo o que nasce
digno é de se destruir; por isso,
melhor seria que não tivesse nascido;
assim, o que vós chamais pecado,
destruição, o mal, em suma,
esse é o elemento a mim adequado.
Goethe, Fausto, parte I, cena 3.
Destruir provém do latim destruere, segundo o Dicionário etimológico da língua
portuguesa (NASCENTES, 1955). De acordo com o Le Petit Robert, dicionário da
língua francesa, este verbo saiu do latim popular destrugere, proveniente do clássico
destruere, que significa demolir, abater, arruinar, fazer desaparecer. A raiz é struere,
juntar, edificar, presente em inúmeras palavras, entre elas estrutura. Em sentido
figurado, pode designar causar a morte de alguém, de algo ou de si próprio. Matar,
eliminar, exterminar, devastar, extinguir, reduzir a nada. Diferentemente de agressão,
que se refere a um ato de ataque, de hostilidade, destruição implica o desaparecimento
do objeto (REY-DEBOUE, J. & REY, A., 2003). Segundo o Dicionário Houaiss de
Língua Portuguesa, destruição se define como ação ou efeito de pôr abaixo, de demolir
o que está construído, ação ou efeito de tirar a vida, eliminação, exterminação, morte.
Designa também a ação ou efeito de assolar, devastar; estrago, perda, ruína (HOUAISS,
2001). Sua raiz etimológica é o latim destructĭo, ōnis. O termo equivalente em alemão,
Destruktion, presente na expressão pulsão de destruição, Destruktionstrieb, nem sempre
está presente nos textos. A destruição implica, via de regra, a extinção total, o
aniquilamento, o fim. Destrutividade aponta para a qualidade de quem é destrutivo, para
uma tendência, capacidade ou poder de destruir.
Conforme veremos, a expressão pulsão de destruição às vezes se confunde, no
texto freudiano, com as próprias pulsões de morte; comumente qualifica-as quando
orientadas para o mundo externo. Sua meta é, explicitamente, a destruição do objeto,
constituindo os efeitos mais acessíveis, mais manifestos, por assim dizer, das pulsões de