Uma fotografia.
Eu me lembro que é uma das pranchas que a gente recebeu no curso da 27ª. Bienal, mas não me
lembro de ter lido nada sobre ela.
A fotografia é um pouco desfocada e tem alguns pingos que me fazem entender que a lente da
câmera estava molhada. Tem uma praia, um céu bem fechado, um céu cinza que vai clareando. No
horizonte ele é bem cinza, depois ele toma uma tonalidade azul claro, depois ele vai ficando branco,
esbranquiçado como se a luz do sol estivesse próxima, iluminando melhor aquela parte.
Aqui em primeiro plano tem um rapaz, um moço negro, com o cabelo acho que raspado e ele está
sobre uma... não sei se é uma pista de skate porque não tem uma rampa, tem uma quebra aqui do
lado esquerdo, mas acho que não... não me parece que seja uma pista de skate não, parece que é
algo utilizado de improviso.
O corpo dele, boa parte do corpo dele está de perfil, mas o tronco na parte superior está girando,
então ele mostra parte das costas pra gente, mas ele não está virado para gente.
Acho interessante o efeito das gotas de água da fotografia, as gotas de água na lente porque me
faz pensar que pode pensar que podem ser gotas de água da chuva também que esse céu parece
que está anunciando.
Os tons são tons muito próximos, que a roupa dele tem um tom esverdeado, ele usa a calça bem
de “mano” e tem uma parte da calça, eu não sei se é um bolso que aponta para alguma coisa
vermelha ou é realmente um detalhe da calça.
Aqui do lado direito em cima tem alguma coisa que remete a uma vegetação, uma coisa assim...
existem pedras próximas à praia.
O significado desta imagem para mim – isso já é bem mais difícil – poderia ser uma foto de autor,
um fotógrafo capta um momento de alguém numa atividade que gosta, que faz bem.
É mais interessante olhar esta imagem porque eu não tenho referência nenhuma do autor ou das
suas intenções, é mais instigante do que olhar a imagem do Van Gogh, por outro lado, é mais difícil
encontrar um sentido pra mim.
Uma praia, um céu escuro, alguém num skate, uma pista improvisada, o que isso pode? O que
isso significa pra mim? É um contraste, é como se a imagem dele representasse algo mais animador,
algo mais alegre do que este céu. Este céu é triste, esse céu me parece carregado e a atividade que
ele exerce, esse andar de skate, estar empinando o skate, é algo que contrasta com esse medo, com
essa coisa fechada do céu, ele me parece que está aberto, ele está aberto a utilizar um pedaço de
calçada talvez... Ele veio para se divertir, se distrair com o seu skate, ele tem um corpo bonito, o
movimento que o corpo dele faz é muito bonito, agora chegou a me lembrar um pouco o “Discóbulo
de Miron”, então ele faz um movimento muito bonito com o corpo, ao mesmo tempo que você vê
parte do corpo de frente, de perfil, você vê parte de costas, então é muito bonito. A imagem dele está
quase centralizada na fotografia e parece que os tons foram combinados, os tons da roupa dele com
os tons do concreto dessa pista, com os tons das rochas, que são todos tons meio acinzentados ou
esverdeados e que contrastam com o azul do céu, da água, que por sua vez também é meio
acinzentado.
A imagem é toda, é meio nebulosa, dá pra perceber que ela não é uma imagem nítida, é como se
ela tivesse sido feita com uma câmera digital e aí quando ela foi ampliada, dá pra perceber os pixels,
a imagem retalhadinha.
Acho que o que mais faz sentido pra mim ao olhar esta imagem é isso, esse contraste do escuro
com o claro, o claro representado pelo rapaz, mas a claridade está no que ele faz, está nessa alegria
de estar se movendo e agora me parece que ele está se movendo como as ondas se movem. Então,
o mar se move, ele se move, o mar ... As ondas fazem vários movimentos, ele também, ele ergue o
skate como que uma onda que está se aproximando, que vai desaguar na praia, é muito bonito. É
como se fosse um “Discóbulo de Miron” contemporâneo, fotográfico.