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INPE-16692-TDI/1636
DESENVOLVIMENTO E SIMULA ¸C
˜
AO DA L
´
OGICA
EMBARCADA PARA MANOBRAS DE RENDEZVOUS E
DOCKING DA PLATAFORMA ORBITAL
RECUPER
´
AVEL SARA
Jonas Gentina
Disserta¸ao de Mestrado do Curso de os-Gradua¸ao em Engenharia e Tecnologia
Espaciais/Mecˆanica Espacial e Controle, orientada pelos Drs. Ijar Milagre da
Fonseca, e Paulo Moraes Junior, aprovada em 24 de fevereiro de 2010.
Registro do documento original:
<http://urlib.net/sid.inpe.br/mtc-m19@80/2010/02.13.15.13>
INPE
ao Jos´e dos Campos
2010
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PUBLICADO POR:
Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais - INPE
Gabinete do Diretor (GB)
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Caixa Postal 515 - CEP 12.245-970
ao Jos´e dos Campos - SP - Brasil
Tel.:(012) 3208-6923/6921
Fax: (012) 3208-6919
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˜
AO:
Presidente:
Dr. Gerald Jean Francis Banon - Coordena¸ao Observao da Terra (OBT)
Membros:
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Regina C´elia dos Santos Alval´a - Centro de Ciˆencia do Sistema Terrestre (CST)
Marciana Leite Ribeiro - Servi¸co de Informa¸ao e Documenta¸ao (SID)
Dr. Ralf Gielow - Centro de Previs˜ao de Tempo e Estudos Clim´aticos (CPT)
Dr. Wilson Yamaguti - Coordena¸ao Engenharia e Tecnologia Espacial (ETE)
Dr. Hor´acio Hideki Yanasse - Centro de Tecnologias Especiais (CTE)
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Dr. Gerald Jean Francis Banon - Coordena¸ao de Observao da Terra (OBT)
Marciana Leite Ribeiro - Servi¸co de Informa¸ao e Documenta¸ao (SID)
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Viv´eca Sant´Ana Lemos - Servi¸co de Informa¸ao e Documenta¸ao (SID)
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DESENVOLVIMENTO E SIMULA ¸C
˜
AO DA L
´
OGICA
EMBARCADA PARA MANOBRAS DE RENDEZVOUS E
DOCKING DA PLATAFORMA ORBITAL
RECUPER
´
AVEL SARA
Jonas Gentina
Disserta¸ao de Mestrado do Curso de os-Gradua¸ao em Engenharia e Tecnologia
Espaciais/Mecˆanica Espacial e Controle, orientada pelos Drs. Ijar Milagre da
Fonseca, e Paulo Moraes Junior, aprovada em 24 de fevereiro de 2010.
Registro do documento original:
<http://urlib.net/sid.inpe.br/mtc-m19@80/2010/02.13.15.13>
INPE
ao Jos´e dos Campos
2010
Dados Internacionais de Cataloga¸ao na Publica¸ao (CIP)
Gentina, Jonas.
G289d
Desenvolvimento e simula¸ao da ogica embarcada para mano-
bras de rendezvous e docking da plataforma orbital recuper´avel
SARA / Jonas Gentina. ao Jos´e dos Campos : INPE, 2010.
xxii + 106 p. ; (INPE-16692-TDI/1636)
Disserta¸ao (Mestrado em Engenharia e Tecnologia Espaci-
ais/Mecˆanica Espacial e Controle) Instituto Nacional de Pes-
quisas Espaciais, ao Jos´e dos Campos, 2010.
Orientadores : Drs. Ijar Milagre da Fonseca, e Paulo Moraes
Junior.
1. Sistemas de controle de ´orbita e atitude. 2. Sat´elites artifi-
ciais e ve´ıculos espaciais. 3.Software embarcado . 4. Rendezvous
e docking. 5. Plataformas orbitais recuper´aveis. 6. Modelagem e
simula¸ao computacional. 7. Ambientes de simulao distribui-
dos. I.T´ıtulo.
CDU 004.414.23:629.076.66
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c
2010 do MCT/INPE. Nenhuma parte desta publica¸ao pode ser reproduzida, arma-
zenada em um sistema de recup era¸ao, ou transmitida sob qualquer forma ou por qualquer meio,
eletrˆonico, mecˆanico, fotogr´afico, reprogr´afico, de microfilmagem ou outros, sem a permiss˜ao es-
crita do INPE, com exce¸ao de qualquer material fornecido especificamente com o prop´osito de ser
entrado e executado num sistema computacional, para o uso exclusivo do leitor da obra.
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2010 by MCT/INPE. No part of this publication may be reproduced, stored in a
retrieval system, or transmitted in any form or by any means, electronic, mechanical, photocopying,
recording, microfilming, or otherwise, without written permission from INPE, with the exception
of any material supplied specifically for the purpose of being entered and executed on a computer
system, for exclusive use of the reader of the work.
ii
“Computadores ao est´upidos, eles somente conseguem responder
perguntas”.
Pablo Picasso
v
vii
AGRADECIMENTOS
Agrade¸co primeiramente a meus pais, pois sem o devido apoio e reconhecimento
deles eu ao teria como ter chegado at´e aqui.
`
A minha esposa, Mariana Rosin Gentina, pela aten¸ao especial, carinho, paciˆencia
e compreens˜ao nos momentos de maior necessidade.
Ao meu orientador, Prof. Dr. Ijar Milagre da Fonseca, que com seu ex´ımio conheci-
mento e experiˆencia em tecnologias espaciais me motivou a trabalhar na ´area.
Ao meu co-orientador, Dr. Paulo Moraes Jr., pela oportunidade de trabalho em
coopera¸ao com o IAE.
Ao Prof. Wilson Yamaguti da Divis˜ao de Sistemas Espaciais do INPE, pelo aux´ılio
na realiza¸ao dos cursos e certifica¸ao do STK.
Aos professores da os-gradua¸ao em Mecˆanica Espacial e Controle do INPE, que
muito me ensinaram e abriram meus olhos para uma ´area de conhecimento at´e enao
desconhecida por mim.
Ao doutorando Cap.
´
Elcio de Oliveira pela ajuda no desenvolvimento das equa¸oes
propulsivas e a todos os colegas da ASE/C do IAE, que a partir de agora ser´a meu
“novo lar”.
Aos alunos do instituto e colegas de sala e de pr´edio, pelos momentos de alegria e
satisfa¸ao e por compartilharem comigo seus esfor¸cos no aux´ılio aos ´arduos estudos.
Ao Conselho Nacional de Desenvolvimento Cient´ıfico e Tecnol´ogico (CNPq), pela
bolsa de mestrado fornecida durante o tempo em que estive estudando neste insti-
tuto.
Special thanks to Jens Ramrath, Diogo Rodrigues and Aaron Weiser from AGI, for
all the training, assisting, certificating and technical support on STK, Astrogator
and Connect.
ix
RESUMO
Neste trabalho foram analisadas as possibilidades de se viabilizar computacional-
mente a implementa¸ao de manobras de rendezvous (encontro) e docking (acopla-
mento) espacial entre o SAt´elite de Reentrada Atmosf´erica (SARA) e um segmento
orbital permanente. Mais especificamente, foram levantadas as necessidades de soft-
ware e os algoritmos de oo que devem ser desenvolvidos para procedimentos desse
tipo. Al´em das revis˜oes sobre as abordagens de procedimentos e tecnologias envol-
vendo este tipo de manobra, foi desenvolvida uma arquitetura de simula¸ao cons-
titu´ıda por um ambiente virtual distribu´ıdo, capaz de fornecer simula¸ao integrada
em tempo quase-real, juntamente com outro ambiente de controle e monitoramento
implementado em linguagem interpretada para facilitar sua utiliza¸ao como uma
ferramenta de software para engenharia de sistemas e engenharia de software espa-
ciais. Com base neste ambiente virtual de simula¸ao, foram tamb´em desenvolvidos
algoritmos que simulam a ogica embarcada em cada ve´ıculo atuante no cen´ario e
tamem as rotinas de opera¸ao remota e monitoramento existentes nas esta¸oes de
rastreio em solo. Esta metodologia de comunica¸ao entre dois ambientes simulados
´e capaz de executar um cen´ario de simula¸ao de forma totalmente interativa e de
acil entendimento para o usu´ario, pois ao geradas sa´ıdas gr´aficas em 3-D exibindo
toda a evolu¸ao durante sua execu¸ao. Os resultados mostraram que o desenvolvi-
mento de cen´arios de rendezvous e docking dentro deste tipo de arquitetura tornam
as an´alises de procedimentos de software embarcado mais precisas e dinˆamicas, sem
a necessidade do desenvolvimento de simuladores ou ambientes virtuais a partir do
in´ıcio. Todos esses conceitos foram relacionados `as suas respectivas aplica¸oes dentro
do Projeto SARA, correspondendo ao princ´ıpio de desenvolvimento de um prot´o-
tipo de software embarcado a ser implementado nos subsistemas computacionais de
bordo dos ve´ıculos da miss˜ao que ir˜ao executar as referidas manobras.
xi
DEVELOPMENT AND SIMULATION OF THE EMBEDDED LOGIC
TO THE SARA RECOVERABLE ORBITAL PLATFORM
RENDEZVOUS AND DOCKING MANEUVERS
ABSTRACT
In this work, it was analysed the possibilities of becoming computationally viable
the space rendezvous and docking maneuvers implementation between the recove-
rable SARA satellite and another permanent orbital segment. More specifically, the
software needs and the flight algorithms that have to be developed to accomplish
procedures like this were raised. Besides the reviews about procedures and technolo-
gies approaches involving that kind of maneuver, it was also developed a simulation
architecture made by a distributed virtual environment, capable to supply integra-
ted simulation in near real time, together with another environment for controlling
and monitoring which was implemented by interpreted language, in order to ease
its using as a software tool for space engineers and space software engineers. Based
on that virtual simulation environment, it was also developed some algorithms that
simulate the embedded logic in each vehicle acting on the scenario and also the
remote operation and monitoring routines that reside on tracking ground stations.
That communication methodology between two simulated environments is capable
to run a simulation scenario in a totally interactive way and easy understanding to
the user, because 3-D graphical outputs are generated showing all the simulation
execution evolution. The results showed that the rendezvous and docking scenario
development inside that kind of architecture turns the embedded software procedure
analysis more precise and dymanic, without the need to develop simulators or vir-
tual environments from scratch. All of those subjects were related to their respective
applications within the SARA Project, addressing to the development principles of
an embedded software prototype to be implemented onboard the mission vehicles
computational subsystems that will accomplish the referred maneuvers.
xiii
LISTA DE FIGURAS
ag.
2.1 odulo Lunar (ML) se aproximando do odulo de Comando e Servi¸co
(MCS) em ´orbita da Lua, para acoplamento. . . . . . . . . . . . . . . . . 6
2.2 Perfil de oo da Apollo 11 mostrando os eventos mais importantes da
miss˜ao. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 13
2.3 Diagrama de Blocos representando a simula¸ao de acoplamento autom´atico. 17
2.4 Sistema Telerob´otico Espacial, mostrando o fluxo de dados e comandos. . 26
2.5 Esquema de um sistema de teleropera¸ao do tipo master-slave. . . . . . . 28
2.6 M´etodos de controle telerob´otico. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 29
2.7 Diagrama de blocos de um sistema do tipo local-remoto simulado em
laborat´orio. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 34
2.8 Potencial repulsivo adicionado a um po¸co atrativo. . . . . . . . . . . . . 40
3.1 Concep¸ao art´ıstica preliminar da plataforma orbital recuper´avel SARA. 43
4.1 Fases dos procedimentos de RVD desde o lan¸camento at´e o acoplamento
mostrando as tecnologias empregadas em cada uma destas etapas. . . . . 45
4.2 Transferˆencia de Hohmman executada pelo perseguidor para atingir a
´orbita alvo. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 48
4.3 Transferˆencia apida executada pelo perseguidor para atingir a ´orbita
alvo. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 50
4.4 Sistema de referˆencia centralizado no alvo, utilizado em movimento relativo. 55
4.5 Inclina¸ao entre os planos dos ve´ıculos perseguidor e alvo na dire¸ao do
eixo-z. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 64
5.1 Necessidade de se combinar diversas simula¸oes menores em outras mai-
ores e adapt´aveis. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 70
5.2 Cen´ario de simula¸ao indicando o fluxo de dados entre os ve´ıculos execu-
tando as manobras de RVD. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 72
5.3 Procedimentos principais da ogica embarcada no ve´ıculo alvo. . . . . . . 73
5.4 Procedimentos principais da ogica embarcada no ve´ıculo perseguidor. . . 74
5.5 Procedimentos principais da ogica embarcada na esta¸ao de solo. . . . . 75
5.6 Perfil de aproxima¸ao e acoplamento do ve´ıculo perseguidor com o alvo
simulado no ambiente STK. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 79
xv
5.7 Corre¸ao intermedi´aria de trajet´oria comandada pelo software de bordo
do perseguidor em dire¸ao ao ve´ıculo alvo. . . . . . . . . . . . . . . . . . 80
5.8 Momento do acoplamento entre o SARA e o segmento orbital alvo no
cen´ario de simula¸ao controlado e configurado pelo ambiente remoto (es-
ta¸ao de solo). . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 82
5.9 Manobra de Transferˆencia de Hohmann executada pelo perseguidor do
ponto de vista da horizontal local do alvo. . . . . . . . . . . . . . . . . . 84
5.10 Manobra de Transferˆencia apida executada pelo perseguidor sobre a
esta¸ao de Alcˆantara, do ponto de vista da horizontal local do alvo. . . . 87
5.11 Varia¸ao dos parˆametros orbitais relativos ao longo do tempo no sistema
de referˆencia do sat´elite alvo para o cen´ario de simula¸ao completo via
STK. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 88
5.12 Varia¸ao dos parˆametros orbitais relativos ao longo do tempo no sistema
de referˆencia do sat´elite alvo para o cen´ario de simula¸ao de rendezvous
com 3 manobras via ambiente distribu´ıdo. . . . . . . . . . . . . . . . . . 89
5.13 Varia¸ao dos parˆametros orbitais relativos ao longo do tempo no sistema
de referˆencia do sat´elite alvo para o cen´ario de simula¸ao completo con-
trolado pelo ambiente remoto. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 90
5.14 Demonstra¸ao da visibilidade da esta¸ao de Alcˆantara durante a manobra
de acoplamento do ve´ıculo SARA com o segmento orbital. . . . . . . . . 90
xvi
LISTA DE TABELAS
ag.
2.1 Compara¸ao entre os erros de alinhamento dos ve´ıculos Gemini e Agena
durante o acoplamento. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 10
2.2 Condi¸oes terminais m´edias comparando os oos diurnos, noturnos e no-
turnos com aux´ılios visuais. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 11
2.3 Alinhamentos e velocidades no momento do contato inicial entre o MC e
o ML das miss˜oes Apollo. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 14
2.4 Distˆancias e desalinhamentos aximos permitidos para um acoplamento
autom´atico bem-sucedido. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 18
2.5 Conceitos de acoplamento sem impacto e suas opera¸oes associadas. . . . 22
xvii
LISTA DE ABREVIATURAS E SIGLAS
AOCS Attitude and Orbit Control System (Sistema de Controle de Atitude e
´
Orbita)
ATV Automated Transfer Vehicle
CAM Collision Avoidance Maneuver
CD Corretor Diferencial
CTA Comando-Geral de Tecnologia Aeroespacial
C-W Clohessy-Wiltshire
DARPA Defense Advanced Research Projects Agency
DART Demonstration of Autonomous Rendezvous Technology
DMS Docking Mechanism Subsystem
ESA European Space Agency (Agˆencia Espacial Europ´eia)
ETS-VII Engineering Test Satellite VII
GNC Guidance, Navigation and Control (Guiagem, Navega¸ao e Controle)
HTV H-II Transfer Vehicle
IAE Instituto de Aeron´autica e Espa¸co
ISS International Space Station (Esta¸ao Espacial Internacional)
JPL Jet Propulsion Laboratory
LEO Low Earth Orbit (
´
Orbita Baixa Terrestre)
LOR Lunar Orbit Rendezvous
MC odulo de Comando
MCS odulo de Comando e Servi¸co
ML odulo Lunar
MUBLCOM Multiple-Paths, Beyond-Line-of-Sight Communications Satellite
NASA National Aeronautics and Space Administration
OTV Orbital Transfer Vehicle
RVD Rendezvous and Docking (Encontro e Acoplamento)
SARA SAt´elite de Reentrada Atmosf´erica
STK Satellite Tool Kit
SW Software
TDRS Tracking Data Relay Satellite
TLD Translunar Docking
TMS Teleoperator Maneuvering System
TV Tempo de oo
UMI User Macro Interface
xix
SUM
´
ARIO
ag.
1 INTRODU ¸C
˜
AO . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 1
2 ABORDAGEM DAS TECNOLOGIAS UTILIZADAS EM
RENDEZVOUS E DOCKING . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 5
2.1 Evolu¸ao Hist´orica das Miss˜oes de Rendezvous e Docking . . . . . . . . . 5
2.2 Principais Abordagens das Tecnologias de Rendezvous e Docking . . . . 8
2.2.1 Sistemas de oo ao-Autˆonomos . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 8
2.2.2 Sistemas de oo Semi-Autˆonomos e Totalmente Autˆonomos . . . . . . 13
2.3 Montagem, Constru¸ao e Servi¸cos em
´
Orbita . . . . . . . . . . . . . . . . 19
2.4 Teleopera¸ao e Telerob´otica Espacial . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 22
2.4.1 Motivao para a utiliza¸ao de software e simula¸ao em Teleopera¸ao . 23
2.4.2 Vis˜ao Geral de Teleopera¸ao Espacial . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 24
2.4.2.1 Sistemas Telerob´oticos Espaciais . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 25
2.4.3 Autonomia Supervisionada para Telerob´otica Espacial . . . . . . . . . 28
2.4.3.1 Sistemas de Autonomia Supervisionada . . . . . . . . . . . . . . . . 32
2.4.3.2 Controle de Seq
¨
uˆencia de Comandos . . . . . . . . . . . . . . . . . . 36
2.5 T´ecnicas de preven¸ao de colis˜oes para manipuladores espaciais . . . . . 37
3 A PLATAFORMA ORBITAL RECUPER
´
AVEL SARA . . . . . 41
4 AN
´
ALISE E MODELAGEM DO PROBLEMA . . . . . . . . . . 45
4.1 Manobras de Transferˆencia Orbital . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 46
4.1.1 Transferˆencia de Hohmman . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 47
4.1.2 Transferˆencia apida . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 49
4.1.3 Compara¸ao entre a Transferˆencia de Hohmann e a Transferˆencia R´apida 53
4.2 An´alise das Equa¸oes de Clohessy-Wiltshire . . . . . . . . . . . . . . . . 54
4.2.1 Solu¸ao das Equa¸oes de Clohessy-Wiltshire . . . . . . . . . . . . . . . 58
4.3 Defini¸ao da Estrat´egia de Controle . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 59
4.3.1 alculo do Impulso Total (∆V ) . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 61
4.3.2 An´alise do Movimento em Z (Fora do Plano) . . . . . . . . . . . . . . 63
4.3.3 etodo para Encontrar o Tempo de oo at´e o Alvo - Algoritmo Cor-
retor Diferencial . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 64
xxi
4.3.4 alculo do Consumo de Combust´ıvel . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 66
5 SIMULA¸C
˜
OES E RESULTADOS . . . . . . . . . . . . . . . . . . 69
5.1 Implementa¸ao do Ambiente de Simula¸ao Distribu´ıdo . . . . . . . . . . 70
5.2 Implementa¸ao dos Algoritmos Embarcados no Ambiente de Simula¸ao . 72
5.3 Cen´arios de Simula¸ao . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 77
5.3.1 Cen´ario Completo de Referˆencia - Implementado via STK/Astrogator . 78
5.3.2 Cen´ario de Rendezvous com 3 Manobras - Implementado no Ambiente
Completo . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 79
5.3.3 Cen´ario Completo Controlado pelo Ambiente Remoto . . . . . . . . . . 81
5.4 Resultados . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 81
5.4.1 Transferˆencia de Hohmann . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 81
5.4.2 Transferˆencia apida . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 84
5.4.3 Cen´ario Completo de Referˆencia . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 86
5.4.4 Cen´ario de Rendezvous com 3 Manobras . . . . . . . . . . . . . . . . . 86
5.4.5 Cen´ario Completo Controlado pelo Ambiente Remoto . . . . . . . . . . 89
6 CONCLUS
˜
OES . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 91
REFER
ˆ
ENCIAS BIBLIOGR
´
AFICAS . . . . . . . . . . . . . . . . . 93
AP
ˆ
ENDICE A - OUTPUT DAS ROTINAS DE SOFTWARE EXE-
CUTADAS A BORDO DO VE
´
ICULO SARA . . . . . . . . . . . . 99
xxii
1 INTRODU ¸C
˜
AO
Realizar uma aproxima¸ao segura e controlada seguida de um acoplamento entre
dois ve´ıculos no espa¸co sempre foi um desafio aos engenheiros e operadores de mis-
oes espaciais. Isto porque esta ´e uma tarefa bastante complexa e arriscada, al´em de
envolver equipamentos e sistemas de comunica¸ao igualmente complexos. O proce-
dimento de rendezvous (encontro) e docking (acoplamento) (RVD) consiste em uma
s´erie de manobras orbitais e trajet´orias controladas, que sucessivamente levam um
ve´ıculo ativo (chamado de ca¸cador, perseguidor ou visitante) at´e a vizinhan¸ca e gra-
dativamente at´e o contato com um ve´ıculo passivo (denominado alvo). O processo
de rendezvous refere-se `as manobras orbitais respons´aveis por alinhar o oo de duas
espa¸conaves, sincronizando seus elementos orbitais e reunindo-as no mesmo plano
orbital. Ao final desta opera¸ao, ambos os ve´ıculos estar˜ao emparelhados. Durante a
fase de docking, o sistema de Guiagem, Navega¸ao e Controle (GNC) do perseguidor
controla os parˆametros de estado do ve´ıculo necess´arios para estabelecer contato
f´ısico com as interfaces de acoplamento do ve´ıculo alvo, realizando assim a captura
ou a ancoragem entre um e outro (FEHSE, 2003; SEITO et al., 2007). O ve´ıculo per-
seguidor deve chegar para se acoplar com o alvo com velocidades relativas lineares e
angulares nulas ou pr´oximas de zero. Para que isso seja poss´ıvel, al´em de reduzir sua
velocidade de aproxima¸ao, o perseguidor deve tamem sincronizar sua atitude com
a do alvo. Estes parˆametros de contato podem servir como um ´ındice de desempenho
da execu¸ao da manobra de docking em uma poss´ıvel an´alise os-miss˜ao ou mesmo
os-simula¸ao.
As opera¸oes de RVD tˆem sido estudadas e testadas desde antes do Projeto Apollo,
que culminou com a descida do homem na Lua. Muitas miss˜oes utilizando esta classe
de manobras tamb´em foram executadas pelas espa¸conaves russas ao visitar a Esta¸ao
Espacial MIR. As espa¸conaves da fam´ılia do Space Shuttle realizam estas manobras
at´e hoje para capturar e consertar sat´elites em ´orbita ou para se acoplar com a
Esta¸ao Espacial Internacional (International Space Station - ISS), atualmente sendo
constru´ıda a aproximadamente 350 km de altitude em uma ´orbita baixa terrestre
(Low Earth Orbit - LEO). Ae o momento, as manobras orbitais de RVD tˆem sido
em sua maioria ao-autˆonomas ou semi-autˆonomas, significando que tais opera¸oes
sempre contam com a assistˆencia de teleoperadores (tripula¸ao de astronautas em um
ou ambos os ve´ıculos ou mesmo pessoal em solo). Este tipo de assistˆencia usualmente
entra em maior carga de opera¸ao principalmente durante a fase mais cr´ıtica do vˆoo:
1
a chamada aproxima¸ao final.
´
E nesta fase em que a trajet´oria de aproxima¸ao deve
colocar o ve´ıculo perseguidor dentro dos estreitos limites de posi¸ao, velocidades,
atitude e taxas de varia¸ao angulares necess´arias para um processo de acoplamento
suave (FEHSE, 2003).
Recentemente, devido ao alto risco e custo de se enviar astronautas ao espa¸co, uma
nova tendˆencia vem surgindo e sendo implementada para se realizar opera¸oes de
RVD. Estas opera¸oes est˜ao migrando para serem executadas de forma totalmente
autˆonoma, ou seja, sem a interferˆencia humana in-loco. Por´em, para se desenvolver
sistemas com tal n´ıvel de automatiza¸ao, deve-se levar em considera¸ao a necessidade
de tecnologias inovadoras, precisas e robustas. Para isso, existe a necessidade de se
desenvolver melhorias em sensores de bordo especiais de alta precis˜ao, repectores
GPS, radares a laser e sistemas de comunica¸ao via retransmiss˜ao de dados, como
´e o caso da constela¸ao de sat´elites geoestacion´arios Tracking Data Relay Satellite
(TDRS) da NASA, ou ainda o sat´elite japonˆes Communication and Broadcasting
Engineering Test Satellite (COMETS) (KASAI et al., 1999; KAWANO et al., 1994; MO-
KUNO et al., 1995).
Apesar dos avan¸cos nesta ´area, a literatura ecnica ao ´e muito rica ao apresentar
estudos que incluam resultados e benef´ıcios para projetos reais, uma caracter´ıstica
desej´avel que seria ´util principalmente para pa´ıses que ao dominam inteiramente a
tecnologia espacial, como ´e o caso do Brasil. Existem inclusive diversas ferramentas
de software dispon´ıveis atualmente que podem contribuir para as pesquisas, an´alises
e algumas at´e permitem a gera¸ao visual em 3D de determinados casos ou cen´arios
envolvendo opera¸oes de RVD (SCHWEIGER, 2004; SCHWEIGER, 2006; ANALYTICAL
GRAPHICS, INC. (AGI), 2008). Contudo, muitas destas ferramentas ao como “caixas
pretas”, sendo portanto inflex´ıveis e ao permitindo sua implementa¸ao de forma
satisfat´oria com a utiliza¸ao de modelos espec´ıficos de sensores e atuadores para
miss˜oes particulares.
Neste trabalho, os esfor¸cos em escolher tais ferramentas e t´ecnicas para aplica¸oes de
RVD estar˜ao sendo direcionados de acordo com as necessidades do Programa Espa-
cial Brasileiro, mais precisamente segundo os requisitos para o projeto da Plataforma
Orbital Recuper´avel SARA (MORAES JR., 1998), atualmente em desenvolvimento no
Instituto de Aeron´autica e Espa¸co (IAE), do CTA, em ao Jos´e dos Campos, SP.
Este projeto objetiva colocar em uma ´orbita LEO por aproximadamente 10 dias uma
plataforma orbital recuper´avel de aplica¸oes cient´ıficas. Dentro deste per´ıodo, esta
2
plataforma dever´a possuir habilidades para se juntar a um outro segmento em ´orbita
permanente, para manipular e realocar experimentos de microgravidade, antes de
retornar a Terra. Por esta raz˜ao, o sat´elite SARA dever´a possuir dispositivos de doc-
king para poder se acoplar com o referido segmento. O presente trabalho pretende
contribuir com o projeto SARA ao desenvolver, simular e implementar os algorit-
mos necess´arios para o gerenciamento autˆonomo dos procedimentos de RVD desta
plataforma orbital. Os resultados deste trabalho poder˜ao futuramente se integrar
aos algoritmos do software de bordo do SARA respons´avel pelo seu subsistema de
controle de ´orbita e atitude (AOCS).
Os cap´ıtulos a seguir apresentam uma revis˜ao da literatura a respeito dos assuntos
relacionados a RVD, suas tecnologias, etodos e procedimentos, al´em de expor e
comparar os dados referentes `as principais miss˜oes que executaram manobras desse
tipo, como as pioneiras dos programas espaciais Gemini e Apollo (Cap´ıtulo 2). Tam-
b´em ao descritos alguns procedimentos tecnol´ogicos de RVD referentes a miss˜oes
atuais e futuras, comentando sobre a importˆancia e a motivao de utilizarem ecni-
cas de RVD dentre os mais diversos tipos de miss˜oes espaciais. Ainda s˜ao tratados no
cap´ıtulo os conceitos referentes `a teleopera¸ao e telerob´otica espacial, consideravel-
mente ´uteis no que dizem respeito a opera¸oes remotas de RVD, tanto controladas
remotamente quanto executadas de forma autˆonomas por telerobˆos. Ap´os a intro-
du¸ao dos conceitos de telerob´otica e dos sistemas que o constituem, dois outros
conceitos fundamentais ao detalhados: a autonomia supervisionada e a preven¸ao
de colis˜oes em sistemas telerob´oticos e teleoperados. Posteriormente, ao apresen-
tadas no Cap´ıtulo 3 as atuais necessidades do Programa Espacial Brasileiro em se
desenvolver ve´ıculos e m´etodos de RVD, contextualizando tais necessidades com as
aplica¸oes de futuras miss˜oes a serem realizadas pela Plataforma Orbital Recuper´avel
SARA. Tamem s˜ao inclu´ıdas como base te´orica aplic´avel, as descri¸oes a respeito de
solu¸oes de software existentes para se recriar cen´arios de simula¸ao utilizando para
isso arquiteturas de sistemas paralelos e distribu´ıdos. Estas tecnologias baseadas em
simula¸ao computacional s˜ao capazes de representar sistemas reais e seus ambientes
operacionais sob uma forma simplificada com alto n´ıvel de abstra¸ao que podem ser
facilmente compreendidos. No Cap´ıtulo 4 ´e realizada toda a an´alise te´orica do pro-
blema de RVD envolvendo os tipos de transferˆencias orbitais e o equacionamento do
movimento relativo. S˜ao tamb´em demonstradas as defini¸oes utilizadas na estrat´egia
de controle envolvidas no procedimento, bem como os parˆametros associados a estas.
Ap´os isso, ao descritos no Cap´ıtulo 5 os materiais e etodos que foram utilizados
3
na implementa¸ao de um ambiente virtual distribu´ıdo para execu¸ao das simula¸oes
em tempo quase-real. Nessa parte, ao descritos tamb´em os algoritmos utilizados e
a forma como foram implementados nesta arquitetura. Por fim, ao apresentados os
cen´arios obtidos dos casos de simula¸ao e os resultados de cada um desses testes.
4
2 ABORDAGEM DAS TECNOLOGIAS UTILIZADAS EM
RENDEZVOUS E DOCKING
Este trabalho aborda os principais conceitos necess´arios para o desenvolvimento de
sistemas de software para controle capazes de gerenciar opera¸oes autˆonomas de
RVD. Para introduzir estas id´eias, este cap´ıtulo inicia apresentando algumas carac-
ter´ısticas da evolu¸ao hist´orica relacionadas aos princ´ıpios de sistemas que variam
desde os processos de RVD mais b´asicos at´e os mais complexos. A Se¸ao 2.2 descreve
os principais trabalhos que abordam os aspectos te´oricos e de engenharia relaciona-
dos `as opera¸oes de RVD em geral, desde as ao-autˆonomas at´e as completamente
autˆonomas.
2.1 Evolu¸ao Hist´orica das Miss˜oes de Rendezvous e Docking
Desde o lan¸camento do Sputnik (o primeiro sat´elite artificial terrestre) realizado
pela antiga Uni˜ao Sovi´etica em 4 de outubro de 1957, seguido pelo an´uncio dos
Estados Unidos contendo seus planos de tamb´em lan¸car um sat´elite, o Explorer I,
o interesse humano a respeito do espa¸co tem crescido significativamente e continua
a crescer at´e os dias atuais da era espacial. Os planos para enviar humanos ao
espa¸co em miss˜oes `a Lua, a Marte ou mesmo para trabalhar dentro de esta¸oes
espaciais tˆem estimulado o desenvolvimento de novas tecnologias e novas iniciativas
em pesquisas cient´ıficas. Uma dessas tecnologias inclui a capacidade de ve´ıculos
espaciais se encontrarem em um ambiente de microgravidade permitindo a troca ou
realoca¸ao de tripula¸ao ou carga ´util, bem como fornecer `a espa¸conave suprimentos
necess´arios para a manuten¸ao da miss˜ao ou apoio `a vida no espa¸co.
Historicamente, as miss˜oes da NASA Mercury, Gemini e as primeiras Apollo pro-
duziram, passo a passo, as respostas necess´arias para a Apollo 11, miss˜ao que efeti-
vamente pousou na Lua. Nesse contexto, o primeiro encontro e acoplamento entre
duas espa¸conaves ocorreu em Mar¸co de 1966, quando Neil Armstrong e Dave Scott
executaram manualmente a partir do ve´ıculo Gemini VIII, as manobras de RVD
com o ve´ıculo alvo ao-tripulado Agena. O principal objetivo do Projeto Gemini
foi demonstrar a possibilidade de uma espa¸conave realizar manobras de RVD como
uma ecnica operacional em ´orbita da Terra. A respeito da miss˜ao Gemini VI, foi
preparado um relat´orio bastante detalhado (LOCKHEED MISSILES AND SPACE CO.,
1965) contendo a avalia¸ao do desempenho de oo e a an´alise de diagn´ostico de
falhas sobre o ve´ıculo alvo Agena 5002. Os resultados apresentados neste relat´orio
5
foram muito importantes para se compreender os problemas associados `as manobras
de RVD.
O primeiro encontro e acoplamento autom´atico em ´orbita entre duas espa¸conaves ao
tripuladas foi executado em 30 de outubro de 1967 pelo programa sovi´etico Soyuz,
atraes dos ve´ıculos Kosmos 186 e 188 (FEHSE, 2003). Ap´os isso, opera¸oes de RVD
foram realizadas regularmente pelos programas espaciais russos e americanos. Uma
aten¸ao especial deve ser dada `a miss˜ao Apollo, que levou o homem `a Lua. Esta
miss˜ao nunca teria sido poss´ıvel sem o total conhecimento das manobras de RVD,
executadas com sucesso pelo odulo de Comando (MC) durante a fase de inje¸ao
translunar e pelo odulo Lunar (ML) ao retornar da superf´ıcie da Lua para se
juntar ao odulo de Comando e Servi¸co (MCS). O MCS se manteve orbitando a Lua
enquanto o ML executou sua miss˜ao de pousar na superf´ıcie lunar. As bem sucedidas
opera¸oes de RVD realizadas pelo ML com o MCS ao retornar da superf´ıcie da Lua
foram fundamentais para completar o oo da espa¸conave de volta `a Terra (NASA,
1969). Imagens capturadas por uma amera de TV montada no MCS registraram o
evento (Figura 2.1).
Figura 2.1 - odulo Lunar (ML) se aproximando do odulo de Comando e Servi¸co (MCS)
em ´orbita da Lua, para acoplamento.
Desde aquela d´ecada, cientistas j´a previam que os programas dos vˆoos espaciais con-
tinuariam a explorar a Lua, a Terra e o Sistema Solar. Era de se esperar que, ao
habitar laborat´orios em ´orbita da Terra, pessoas conduziriam experimentos e obser-
voes poss´ıveis somente no ambiente espacial (GILRUTH; LOW, 1969). Experimentos
em ambiente de gravidade zero foram conduzidos pela esta¸ao orbital americana Sky-
6
lab (1973-1974) e tamem pelos programas de esta¸oes espaciais sovi´eticos Salyut e
MIR (1971-1999). A esta¸ao espacial MIR possuia uma porta de docking permitindo
este tipo de opera¸ao tanto pelas Space Shuttle americanas quanto pelas naves sovi´e-
ticas Soyus (tripuladas) e Progress (m´odulo ao-tripulado de transporte de cargas e
suprimentos). Outras miss˜oes com procedimentos de RVD relevantes realizadas pos-
teriormente foram: a miss˜ao de acoplamento Apollo-Soyuz executada em coopera¸ao
entre Estados Unidos e Uni˜ao Sovi´etica (Apollo Soyuz Test Project - ASTP, 1975);
as miss˜oes de servi¸co e recupera¸ao de sat´elites executadas pelos ˆonibus espaciais
americanos (iniciando em 1984 com a recupera¸ao e manuten¸ao do sat´elite Solar
Max); miss˜oes das Space Shuttle `a Esta¸ao Espacial Russa MIR durante a ecada
de 1990, preparando para o programa da ISS; constru¸ao, troca de tripula¸ao e rea-
bastecimento da Esta¸ao Espacial Internacional (ISS) (come¸cando em novembro de
1998 e ainda em opera¸ao).
Alguns dos futuros ve´ıculos de docagem que contribuir˜ao para o programa ISS em
miss˜oes de reabastecimento e levantamento de sua ´orbita ao o Automated Trans-
fer Vehicle (ATV), desenvolvido pela Agˆencia Espacial Europ´eia (European Space
Agency - ESA) (a primeira vers˜ao, Jules Verne, foi lan¸cada com sucesso em 9 de
mar¸co de 2008) e o ve´ıculo japonˆes H-II Transfer Vehicle (HTV), que entrou em
opera¸ao em 2009. Ambos os ve´ıculos incorporam os mais inovadores conceitos em
RVD autˆonomos para espa¸conaves ao tripuladas. O europeu ATV completou com
sucesso sua miss˜ao de seis meses realizando atividades de log´ıstica e suprimento
ao levar seis toneladas de carga `a ISS, executar quatro manobras de aumento da
sua ´orbita, controlar a atitude da esta¸ao e desvi´a-la de um fragmento de sat´elite
desativado cuja trajet´oria se aproximava da ISS, executando assim uma manobra
evasiva, evitando sua colis˜ao com este fragmento (ESA, 2008). Em complemento a
estes ve´ıculos de transporte, ´e poss´ıvel que, em um futuro pr´oximo, ve´ıculos de ins-
pao sejam conectados `a ISS. Caso seja necess´ario, tais ve´ıculos realizar˜ao oos
autˆonomos ao redor da esta¸ao para inspecionar ´areas com problemas e identificar
a natureza destes. Em um futuro distante, estes ve´ıculos poder˜ao tamb´em ser utili-
zados como robˆos espaciais a fim de executarem tarefas de manuten¸ao e reparos na
estrutura e subsistemas da ISS. Para tanto, a tecnologia de RVD ser´a crucial tanto
para permitir o desacoplamento e reacoplamento desses ve´ıculos com a esta¸ao, as-
sim como para a realiza¸ao de suas tarefas operacionais. Fehse (2003) ainda comenta
que, embora a ISS seja provavelmente o alvo mais importante para aplica¸oes das
tecnologias e procedimentos de RVD durante as duas primeiras d´ecadas do eculo
7
XXI, ainda existem e existir˜ao outras miss˜oes de RVD para se testar e aprimorar
estes tipos de tecnologias e procedimentos. Este contexto justifica a id´eia de que as
aplica¸oes de RVD ao somente desempenharam um papel importante nos progra-
mas de oos espaciais tripulados e ao-tripulados, mas tamb´em continuar˜ao a fazer
parte do futuro da explora¸ao espacial.
2.2 Principais Abordagens das Tecnologias de Rendezvous e Docking
A literatura apresenta diversos estudos sobre assuntos relacionados a RVD, abran-
gendo desde as opera¸oes orbitais n˜ao-autˆonomas at´e as totalmente autˆonomas. Um
mecanismo primitivo de RVD foi utilizado nos ve´ıculos do programa americano Ge-
mini. Durante as principais miss˜oes Gemini, as opera¸oes de encontro e acoplamento
no espa¸co eram executadas por pilotos treinados que utilizavam somente informa-
¸oes visuais localizadas no ve´ıculo alvo Agena para efetivar as manobras. Uma certa
evolu¸ao nos sistemas de RVD ode ser verificada pelo programa Apollo, no qual
a constavam computadores de bordo que realizavam alculos de trajet´oria e, co-
nectados aos subsistemas de controle das espa¸conaves, eram capazes de comandar
as manobras automaticamente ou auxiliar a tripula¸ao indicando aos astronautas o
que fazer. Por outro lado, o programa espacial sovi´etico sempre foi conduzido com
a utiliza¸ao de uma metodologia automatizada, eliminando a carga de trabalho da
tripula¸ao, cujo papel principal era de monitoramento e altera¸ao do controle para
manual somente em caso de falhas. Isso pˆode ser constatado com o Programa Soyuz,
ainda hoje em opera¸ao (WOFFINDEN; GELLER, 2008).
2.2.1 Sistemas de oo ao-Autˆonomos
Pennington et al. (1965) cita que os resultados do programa americano Mercury
demonstrou que as habilidades humanas de controle e tomada de decis˜oes eram
poss´ıveis no ambiente espacial. Este fato motivou arios grupos a estudar op¸oes
para melhorar as capacidades dos pilotos nas manobras de RVD. Naquela ´epoca,
um trabalho consider´avel foi realizado envolvendo acoplamento por controle manual,
em que um piloto tinha que manobrar sua espa¸conave para se aproximar ou se
acoplar com outro ve´ıculo. Uma das primeiras miss˜oes do programa Gemini foi
realizada com o prop´osito de desenvolver as ecnicas necess´arias para se efetuar
um acoplamento no espa¸co, controlado por pilotos. Embora estudos anteriores com
acoplamento simulado houvessem demonstrado que um piloto pudesse se acoplar
com outro ve´ıculo satisfatoriamente, o piloto da Gemini encontraria problemas para
8
executar tal opera¸ao devido ao seu limitado campo de vis˜ao, paralaxe visual e
acoplamento cruzado entre for¸cas de controle de atitude e transla¸ao. Os autores em
Pennington et al. (1965) investigaram as seguintes ´areas relacionadas aos requisitos
e capacidades visuais dos pilotos: suas habilidades para alinhar os ve´ıculos Gemini
e Agena utilizando somente informa¸oes visuais e para determinar as precis˜oes do
acoplamento durante a fase terminal do oo, com o piloto controlando tanto em
miss˜oes durante o dia como a noite. Em ambas as situa¸oes, o procedimento de se
utilizar somente informa¸oes visuais e/ou aux´ılios visuais para se obter informa¸oes
sobre a trajet´oria foram testados. Foi verificado que esta ´ultima abordagem poderia
aumentar a precis˜ao e a confiabilidade do piloto. Nesse estudo, foi utilizado um
simulador dinˆamico de RVD em escala real com seis graus de liberdade. Os resultados
ao mostrados na Tabela 2.1 e Tabela 2.2.
Um computador anal´ogico de prop´osito geral foi inclu´ıdo na malha de controle entre
o piloto e o simulador. Os movimentos de controle do piloto eram transformados
do sistema de eixos do corpo da Gemini para um sistema de eixos inercial alinhado
com os eixos da trajet´oria e depois eram integrados para se obter sua velocidade e
posi¸ao. Estes comandos de velocidade e posi¸ao eram utilizados para alimentar os
sistemas atuadores do simulador, que moviam o modelo da Gemini como se fosse o
ve´ıculo real em movimento no espa¸co.
A Tabela 2.1 compara os erros de alinhamento visual a 1, 5 metros de distˆancia
do alvo com os erros da fase terminal de acoplamento. Os dados referem-se a 30
manobras de acoplamento controlados por pilotos realizados durante o dia. Durante
a fase terminal de acoplamento, os pilotos ao tinham como obter informa¸oes visuais
tanto quanto poderiam obter durante a aproxima¸ao final (a 1, 5 metros do ve´ıculo
alvo). Isso devido a limita¸oes f´ısicas estruturais relativas `a localiza¸ao da porta de
docking da Gemini e da janela do cockpit. Dessa forma, o erro de alinhamento do
ve´ıculo durante o contato final pode ser interpretado como a representa¸ao dos erros
de acoplamento causados pela perda de informa¸oes visuais do ambiente externo. A
diferen¸ca entre os dois tipos de erro est´a relacionada com o qu˜ao bem feitas foram
as corre¸oes efetuadas pelos pilotos dentro do intervalo de distˆancia de 1, 5 metros
do alvo.
As condi¸oes terminais edias para as simula¸oes de oo diurnas e noturnas ao
apresentadas na Tabela 2.2. Primeiramente, como era de se esperar, os pilotos foram
mais cautelosos ao se aproximarem do alvo durante a noite. A taxa de aproxima¸ao
9
Tabela 2.1 - Compara¸ao entre os erros de alinhamento dos ve´ıculos Gemini e Agena du-
rante o acoplamento.
Parˆametros
Erros de Alinhamento
Sem Controle Com Modo de Controle Direto (Visual)
Erro Lateral (m) 0.10 0.15
Erro Vertical (m) 0.08 0.09
Erro em Pitch (graus) 1.66 3.25
Erro em Yaw (graus) 1.15 2.82
Erro em Roll (graus) 0.89 4.51
Fonte: Pennington et al. (1965)
˙x tamb´em foi menor, com um correspondente aumento no tempo de oo t. As taxas
de varia¸ao dos parˆametros terminais (exceto ˙x) tanto nas manobras diurnas quanto
noturnas foram baixas. Suas diferen¸cas ao ao realmente significativas porque uma
taxa de varia¸ao de uma fra¸ao de cent´ımetro por segundo ou um grau por segundo
encontra-se abaixo do limite de precis˜ao de controle do piloto, aliado ao acoplamento
cruzado e aos modos de controle empregados. Um oo julgado como “fora da tolerˆan-
cia” na simula¸ao ao necessariamente indicaria que o acoplamento orbital tivesse
sido perigoso ou danoso, e sim somente que o piloto da Gemini teria que reiniciar a
manobra e tentar se acoplar novamente. A percentagem substancialmente pequena
de oos noturnos dentro do limite de tolerˆancia de fato indicava a necessidade de
algum tipo de aux´ılio, o que aumentaria a acuidade visual dos pilotos durante a
noite e, conseq
¨
uentemente, sua seguran¸ca em realizar os procedimentos.
As condi¸oes terminais m´edias a respeito das 11 manobras de acoplamento nas quais
foram utilizados os aux´ılios visuais ao mostrados pela ´ultima coluna da Tabela 2.2.
A terceira e quarta colunas indicam os oos simulados diurnos e noturnos nos quais
os pilotos ao possuiam nenhum tipo de aux´ılio visual durante a manobra de doc-
king. Estes resultados tamb´em indicaram a necessidade de aux´ılios visuais para os
oos noturnos. Os melhores resultados, apresentados pela ´ultima coluna da tabela,
confirmam esta necessidade. Pennington et al. (1965) ainda comenta que embora
a percentagem de oos bem-sucedidos incluindo aux´ılios visuais tenha sido menor
que a dos oos diurnos, este parˆametro possivelmente seria maior se os pilotos tives-
sem realizado um n´umero maior de oos se familiarizando melhor com os aux´ılios,
aumentando assim os dados de amostragem.
10
Tabela 2.2 - Condi¸oes terminais m´edias comparando os vˆoos diurnos, noturnos e noturnos
com aux´ılios visuais.
Dia (sem aux´ılios) Noite (sem aux´ılios) Noite (com aux´ılios)
Deslocamentos
y
n
(m) 0.19 0.17 0.14
z
n
(m) 0.19 0.16 0.15
y
c
(m) 0.15 0.24 0.20
z
c
(m) 0.09 0.15 0.13
ψ (graus) 2.82 4.86 3.68
θ (graus) 3.25 3.98 3.02
φ (graus) 4.51 5.85 3.33
Taxas de Varia¸ao
˙x (m/s) 0.15 0.12 0.20
˙y (m/s) 0.03 0.02 0.03
˙z (m/s) 0.03 0.04 0.04
˙
ψ (graus/s) 0.60 0.41 1.28
˙
θ (graus/s) 0.60 0.90 1.25
˙
φ (graus/s) 0.94 0.55 1.66
Tempo de oo (t) (s) 122 208 166
N´umero total de oos 30 30 11
oos na tolerˆancia (%) 97 73 85
Fonte: Pennington et al. (1965)
Onde o ´ındice n refere-se ao nariz da Gemini, o ´ındice c refere-se ao centro de massa
da Gemini e ψ, θ e φ referem-se aos ˆangulos de yaw, pitch e roll respectivamente.
Um trabalho posterior comparou os resultados de oos de acoplamento do tipo
Gemini-Agena, controlados por pilotos em dois simuladores em escala real indepen-
dentes. Para um primeiro experimento foi utilizado um simulador de base fixa em
conjunto com um sistema de circuito fechado de televis˜ao que exibia a imagem do
ve´ıculo alvo Agena em uma tela esf´erica. O segundo experimento compreendia um
simulador de base ovel constitu´ıdo por um modelo dinˆamico em escala real da
espa¸conave Gemini e um alvo tridimensional estacion´ario. Uma compara¸ao dos re-
sultados encontrados, nos quais somente a vis˜ao externa do ve´ıculo alvo foi utilizada
para informa¸ao de navega¸ao, indicou que ap´os treinamento suficiente, essencial-
mente os mesmos resultados puderam ser obtidos de cada simulador (RILEY et al.,
1966a).
Riley et al. (1966b) tamem contribuiu para o programa Gemini-Agena ao estu-
dar manobras de acoplamento controladas manualmente por pilotos utilizando o
mesmo simulador de base fixa empregado no estudo anterior, por´em com o ve´ıculo
alvo Agena completamente iluminado oscilando senoidalmente em seus trˆes graus
de liberdade angulares a partir do seu centr´oide. Os oos com manobras de doc-
king iniciaram-se a uma distˆancia de aproximadamente 90 metros e foram efetuados
11
utilizando-se somente observoes visuais externas do alvo como dicas de pilotagem.
Os resultados com o ve´ıculo Agena oscilando a ±5
de amplitude em cada um dos
seus trˆes graus de liberdade angulares foram compar´aveis `aqueles obtidos com um
alvo rigidamente estabilizado quando os per´ıodos de oscila¸ao eram de 160 s ou
mais. Para uma amplitude de ±2, 5
, as oscila¸oes do alvo tiveram pouca influˆencia
na tarefa de acoplamento, exceto em per´ıodos de menor dura¸ao (menores que 30 s).
Para uma faixa de amplitude entre ±2, 5
e ±10
, o aumento da amplitude no mo-
vimento para um determinado valor de per´ıodo (abaixo de 120 s) resulta, em geral,
no aumento do consumo de combust´ıvel, no tempo de oo necess´ario e avalia¸oes
individuais dos pilotos menos favor´aveis.
Ap´os estas pesquisas, Riley e Suit (1967) conclu´ıram que a NASA a estava pre-
parada para colocar teleoperadores humanos no espa¸co a fim de manobrar ve´ıculos
ao-tripulados a partir de uma certa distˆancia. Foram realizados testes utilizando-se
um simulador de base fixa no qual pilotos tinham que executar acoplamentos or-
bitais entre dois tanques esf´ericos projetados na tela `a sua frente, a partir de uma
espa¸conave remota tripulada. Assumia-se que os trˆes ve´ıculos encontravam-se esta-
bilizados em atitude e o piloto era respons´avel pelo controle translacional da sua
pr´opria espa¸conave e de um dos dois tanques remotamente localizados, atraes de
simples jatos impulsivos do tipo liga-desliga. Os resultados desta investiga¸ao in-
dicaram que os pilotos poderiam completar o acoplamento remoto com condi¸oes
terminais aceit´aveis, exceto para o posicionamento longitudinal. Os dados relativos
ao desalinhamento longitudinal entre os tanques indicaram que, conforme a distˆancia
da espa¸conave tripulada aumentava acima de um certo valor, as chances de sucesso
no acoplamento decresciam. Os autores conclu´ıram que a grandes distˆancias da es-
pa¸conave tripulada (aproximadamente 90 m) a utiliza¸ao de aux´ılios visuais, instru-
menta¸ao, ou uma ecnica diferente de acoplamento se mostrou necess´aria para que
fosse poss´ıvel manter uma alta percentagem de finaliza¸oes bem-sucedidas. Por outro
lado, o combust´ıvel utilizado e o tempo de oo aumentou devido `a movimenta¸ao
adicional necess´aria para que fosse poss´ıvel atingir as condi¸oes terminais desejadas.
Al´em disso, contribu´ıram para este aumento os freq
¨
uentes movimentos de controle
dos pilotos requeridos pr´oximo ao t´ermino dos oos, a fim de corrigir os erros de
deslocamento gerados continuamente por velocidades residuais ao-anuladas.
12
2.2.2 Sistemas de oo Semi-Autˆonomos e Totalmente Autˆonomos
Poucos anos ap´os a Gemini, o programa Apollo elevou a categoria das opera¸oes de
RVD ao adicionar novos conceitos de GNC a essas manobras. Os sistemas de RVD
da Apollo tinham de ser altamente confi´aveis, seguros e estarem bem validados
para executar uma descida `a Lua livre de erros e trazer a tripula¸ao de astronau-
tas novamente `a Terra. De acordo com Langley (1972), a configura¸ao selecionada
no programa Apollo exigiu o desenvolvimento de um sistema de acoplamento que
providenciava uma conex˜ao estrutural entre dois ve´ıculos espaciais, transferˆencia
interveicular de tripula¸ao e equipamentos, bem como separa¸ao e re-jun¸ao entre
ambos os ve´ıculos. O sistema de acoplamento foi utilizado em cinco miss˜oes Apollo
(Apollos 9 a 13). O autor enfatiza que o desempenho do sistema em todos os casos foi
excelente e as condi¸oes de contato estiveram sempre dentro dos crit´erios de projeto.
O alinhamento relativo entre o odulo de Comando (MC) e o odulo Lunar (ML),
assim como suas velocidades no instante de contato inicial encontram-se listadas na
Tabela 2.3, tanto para os eventos de acoplamento translunar (Translunar Docking
- TLD) quanto para o rendezvous do ML em ´orbita da Lua (Lunar Orbit Rendez-
vous - LOR) (n´umeros 5 e 15 respectivamente na Figura 2.2 abaixo). Os valores
listados ao baseados em estimativas da tripula¸ao. Todos os outros parˆametros ao
aproximadamente zero.
Figura 2.2 - Perfil de vˆoo da Apollo 11 mostrando os eventos mais importantes da miss˜ao.
Fonte: NASA (1969)
13
Tabela 2.3 - Alinhamentos e velocidades no momento do contato inicial entre o MC e o
ML das miss˜oes Apollo.
Parˆametros
Miss˜ao Apollo
9 10 11 12 13
TLD LOR TLD LOR TLD LOR TLD LOR TLD
Velocidade Axial (m/s) 0.09 0.03 0.06 0.06 a 0.09 0.03 a 0.06 0.03 0.03 a 0.06 0.06 0.06
Erro de Alinhamento (cm) 7.62 10.16 5.08
Fonte: Langley (1972)
Ao observar a Tabela 2.3, ´e not´avel a minimiza¸ao dos parˆametros de erro quando
comparados aos acoplamentos realizados pelo programa Gemini, no qual foi utilizado
somente pilotagem manual dos ve´ıculos. Isso ocorre porque nas miss˜oes Apollo foram
introduzidas novas tecnologias para implementa¸ao de sistemas de GNC melhora-
dos. Um exemplo foi a utiliza¸ao de um sistema de piloto autom´atico constitu´ıdo
por equipamentos de aux´ılio `a navega¸ao e controle, como radares, computadores
de bordo e transceptores de adio. Na verdade, o sistema de oo da Apollo pode ser
classificado como semi-autom´atico, tamem devido ao fato de que a tripula¸ao po-
deria assumir os controles a qualquer momento para corrigir as trajet´orias fornecidas
pelo computador de bordo.
Estas caracter´ısticas podem ser notadas no documento NASA (1969), cuja tradu¸ao
livre narra os detalhes da decolagem do ML e suas atividades durante o rendezvous
em ´orbita da Lua (LOR):
Seguindo a inser¸ao do ML na ´orbita lunar, a tripula¸ao do ML ir´a com-
putar a bordo as quatro principais manobras para o encontro com o MCS
que estar´a localizado a aproximadamente 472 km `a frente do ML neste
ponto. Todas as manobras da seq
¨
uˆencia ser˜ao realizadas com os pro-
pulsores do Sistema de Controle por Rea¸ao (SCR) do ML. In´ıcio da
Seq
¨
encia Concˆentrica (ISC): Durante a primeira passagem do ML
pelo apolune, 15 m/s positivos, seguindo uns 20 minutos de rastreio pelo
radar de rendezvous do ML e navega¸ao baseada em distˆancia medida
pelo sextante/VHF do MCS. O ISC ser´a configurado para posicionar o
ML em uma ´orbita aproximadamente 28 km abaixo do MCS em tempo
para a pr´oxima manobra (Altitude de Delta Constante - ADC). A ativa-
¸ao do ISC dever´a iniciar tamb´em corre¸oes sobre quaisquer dispers˜oes
para fora do plano causadas por erros de azimute durante a inser¸ao. A
´orbita resultante do ML ap´os o ISC ser´a de 84, 3 x 81, 9 km e possuir´a
uma taxa de aproxima¸ao em rela¸ao ao MCS de 0, 072 graus por mi-
nuto. Outra corre¸ao do plano orbital ser´a poss´ıvel a aproximadamente
29 minutos ap´os o ISC, durante o cruzamento nodal das ´orbitas do MCS
e do ML, quando o ˆangulo de elevao do MCS atingir 26, 6 graus. A
´orbita do ML atinge 113, 3 x 80 km e a taxa de aproxima¸ao em rela¸ao
14
ao MCS decai para 0, 032 graus por segundo, ou 39, 9 m/s. Duas mano-
bras de corre¸ao intermedi´arias ser˜ao realizadas caso necess´ario, seguidas
por quatro manobras de desacelera¸ao reduzindo a taxa de aproxima¸ao
respectivamente para 3, 5 m/s, 3 m/s e 1, 4 m/s em cada manobra. O
acoplamento nominal dever´a ser conclu´ıdo em trˆes horas e meia ap´os o
in´ıcio da seq
¨
uˆencia de rendezvous. (NASA, 1969, p. 49, 53).
Os astronautas da Apollo repetidamente demonstraram suas habilidades funcionais
na Lua. Muito tempo depois, o brilhante sucesso da miss˜ao de restaura¸ao do Teles-
opio Espacial Hubble em dezembro de 1993, provou que os astronautas s˜ao capazes
de realizar opera¸oes de constru¸ao, manuten¸ao e reparos no espa¸co. Todavia, o
uso de astronautas em larga escala para tais opera¸oes ´e altamente custoso e envolve
riscos significantes em seguran¸ca. Ve´ıculos espaciais ao-tripulados e teleoperados,
eventualmente chamados de telerobˆos espaciais, podem estender as habilidades dos
astronautas, aumentando dessa forma o desempenho das miss˜oes e reduzindo custos
de opera¸ao. A motivao para utiliz´a-los no espa¸co se resume ao cumprimento de
tarefas de forma mais segura e eficiente do que se estas fossem atribu´ıdas a humanos,
ou ainda executarem tarefas que humanos ao incapazes de realizar. Estas tarefas
incluem inspao, manuten¸ao, reparos, substitui¸oes de odulos, limpeza, atendi-
mento `a experimentos cient´ıficos, execu¸ao de tarefas repetitivas, captura e despin
de sat´elites etc. Um telerobˆo espacial possui um conjunto de sensores usualmente
montados em bra¸cos rob´oticos, plataformas, ameras, al´em de sensores de estado
ou de movimento, sensores de for¸ca e sistemas computacionais de apoio. Uma im-
portante caracter´ıstica associada aos telerobˆos ´e que seu sistema de gerenciamento
e controle de bordo deve ser capaz de monitorar e manter o estado operacional do
pr´oprio sistema. No entanto, por outro lado o julgamento humano ainda ´e essencial
para situa¸oes complexas (RUOFF, 1994).
Atualmente, ´e necess´ario fornecer aos telerobˆos comandos detalhados, tanto na forma
de macros quanto na forma de comandos de movimentos. Al´em disso, operadores
humanos devem estar preparados para auxili´a-los na localiza¸ao e identifica¸ao de
objetos. Dentro desta linha de pensamento, Hartley e Pulliam (1988) desenvolve-
ram um experimento no qual Heads-Up Displays e comandos de voz de entrada e
sa´ıda foram implementados em um console de treinamento para pilotos. O principal
objetivo deste experimento era qualificar opera¸oes futuras otimizadas de ve´ıculos
pilotados remotamente para procedimentos operacionais da ISS, como o acoplamento
de espa¸conaves a esta.
15
Controlar telerobˆos espaciais a partir do solo poderia torn´a-los extremamente vi´a-
veis, por´em, isso infere demandas severas por parte de seus sistemas de controle de-
vido aos atrasos de comunica¸ao, limita¸oes em taxas de transferˆencia e incertezas
de tarefas. Para compensar estes problemas e ao mesmo tempo manter o desem-
penho, os sistemas telerob´oticos ir˜ao depender de maior inteligˆencia e autonomia,
que ao conceitos independentes relacionados `a complexidade ambiental e de tare-
fas, que possuem um grande impacto no desempenho dos sistemas telerob´oticos.
Robˆos extremamente inteligentes encontram-se distantes dos atuais estados-da-arte,
por´em, sistemas significativamente ´uteis podem ser constru´ıdos sob o conceito de
telerobˆos supervisionados por humanos. Este tipo de abordagem permite aos robˆos
executarem opera¸oes de baixo n´ıvel automaticamente, deixando livres seus teleope-
radores humanos para se concentrarem em elementos de tarefas de mais altos n´ıveis.
Conforme a tecnologia de sistemas autˆonomos evoluir, ser´a poss´ıvel delegar n´ıveis
maiores de tomadas de decis˜ao aos telerobˆos, reduzindo a carga sobre os operadores
humanos, controle de solo e sistemas de telecomunica¸ao, melhorando o desempe-
nho dos telerobˆos. Dessa forma, o futuro da telerob´otica certamente possibilitar´a
o desenvolvimento de aquinas avan¸cadas com extrema utilidade para escavao,
constru¸ao, montagem, manuten¸ao, inspao, calibra¸ao, reparos, posicionamento
de pain´eis solares e constru¸ao de habita¸oes ou prepara¸ao de terrenos para bases e
observat´orios tripulados na Lua ou em Marte por exemplo. Telerobˆos espaciais ainda
poderiam ser utilizados para a realiza¸ao de atividades espaciais perigosas, caras ou
arriscadas, como aquelas em que se deve lidar com reatores nucleares, material cri-
ogˆenico e propelentes oxicos a bordo de espa¸conaves (RUOFF, 1994). Mais detalhes
a respeito de sistemas telerob´oticos ao esclarecidos na Se¸ao 2.4.
Telerobˆos espaciais autˆonomos tamb´em remetem `a tecnologia de RVD autom´atico,
que atualmente vem sendo utilizada em diversos tipos de espa¸conaves, como o Tele-
operator Maneuvering System (TMS), o Orbital Transfer Vehicle (OTV) e muitas
outras aplica¸oes envolvidas com a esta¸ao espacial. Estes sistemas de oo empre-
gam o mesmo tipo de dado de um piloto humano in-loco ou remoto, por´em, utilizam
sensores eletrˆonicos, como sistemas guiados por v´ıdeo por exemplo. Dabney (1984)
desenvolveu um estudo sobre uma simula¸ao de computador baseada nesse tipo de
sensor em conjunto com um padr˜ao de acoplamento constitu´ıdo por trˆes fontes de luz
ou refletores individualmente distingu´ıveis fixados na espa¸conave alvo. As opera¸oes
de RVD foram investigadas sob uma variedade de condi¸oes, incluindo desalinha-
mentos de atitude e taxas de varia¸ao angulares do alvo. Um diagrama de bloco da
16
simula¸ao digital completa utilizada no estudo ´e mostrado na Figura 2.3. Os progra-
mas representados pela maioria dos blocos foram constru´ıdos da mesma forma que
seriam implementados no software de oo real. Um modelo matem´atico do ve´ıculo
perseguidor, incluindo seus propulsores, foi utilizado para determinar seu movimento
verdadeiro e fornecer informa¸oes simuladas de unidades de medida inercial. Usando
este e um modelo similar dos movimentos da espa¸conave alvo, foram calculados os
centr´oides das imagens dos padr˜oes de luzes no alvo, da mesma forma como se-
riam captados pelos sensores do perseguidor. N´umeros aleat´orios possuindo uma
distribui¸ao Gaussiana eram ainda adicionados a estas coordenadas para simular o
efeito de ru´ıdos el´etricos e outras incertezas. Estes dados alimentavam diretamente
o programa de interpreta¸ao de imagens, que calculava a atitude e posi¸ao relativa
“medida” e enviava-as ao filtro de Kalman assim como seria feito pelo software real
em oo.
Figura 2.3 - Diagrama de Blocos representando a simulao de acoplamento autom´atico.
Fonte: Dabney (1984)
a que as distˆancias deveriam constituir um fator importante influenciando o de-
sempenho de um sistema autom´atico, o procedimento foi repetido para distˆancias
iniciais de 50, 100 e 300 m. Os resultados encontram-se resumidos na Tabela 2.4.
17
Tabela 2.4 - Distˆancias e desalinhamentos aximos permitidos para um acoplamento au-
tom´atico bem-sucedido.
Todos os Eixos Distˆancia Inicial (metros)
Inicialmente Alinhados 300 100 50
Taxas de Varia¸ao Yaw 0.5 0.8 1.1
aximas do Alvo Pitch 0.5 1.1 1.1
(graus/s) Roll 1.5 1.5 1.5
Eixos Desalinhados
(todos os outros eixos ao assumidos
inicialmente alinhados)
Desalinhamentos Yaw 60 75 70
aximos Pitch 45 60 80
do Alvo Pitch e Yaw 30 60 65
(graus) Roll 180 180 180
Fonte: Dabney (1984)
Um resultado surpreendente nas simula¸oes acima ´e que o sistema pode tolerar taxas
mais altas de varia¸ao em pitch e yaw do alvo conforme a distˆancia inicial ´e reduzida.
Uma raz˜ao para este comportamento ´e que, se a distˆancia inicial for razoavelmente
pequena, o alvo ao possui tempo suficiente para rotacionar muito al´em do seu
estado inicial de alinhamento antes que o ve´ıculo perseguidor chegue. Por´em, se a
distˆancia inicial for grande, as luzes do alvo podem rotacionar al´em do campo de
vis˜ao dos sensores do perseguidor, antes que este se aproxime, dificultando assim a
conclus˜ao de um acoplamento bem-sucedido.
Um fato importante a ser notado nesse tipo de estudo ´e que, em todas as execu-
¸oes das simula¸oes, o desalinhamento no contato final entre os dois ve´ıculos e suas
taxas de varia¸ao ao mantidas dentro dos parˆametros nominais planejados para a
manobra de acoplamento. Nesse caso, a simula¸ao continua a ser executada at´e que
estas condi¸oes sejam satisfeitas ou um tempo limite predeterminado seja excedido,
caso contr´ario o procedimento ´e considerado mal-sucedido. Esta ´e uma das princi-
pais diferen¸cas entre as abordagens de sistemas de oo manuais ou semi-autˆonomas
e as completamente autˆonomas. Em outras palavras, o estado atual do ve´ıculo per-
seguidor ´e mais importante que seu estado final dentro do procedimento, pois o
computador de bordo est´a sempre calculando os estados subseq
¨
uentes, tanto do alvo
quanto do perseguidor. Dessa forma, quando o perseguidor necessita se acoplar ao
alvo automaticamente, todas as condi¸oes iniciais devem ser testadas, simuladas,
verificadas e validadas antes que os procedimentos sejam transformados em rotinas
de odigo e implementadas nos sistemas de software de oo dos ve´ıculos.
18
Outros sistemas de navega¸ao autˆonomos desenvolvidos mais tarde optaram por
utilizar tecnologias diferentes, como ´e o caso do Sistema de Posicionamento Global
(GPS) (DIPRINZIO; TOLSON, 1994; CHERN, Hung-Sheng, 1995), controle h´ıbrido entre
teleopera¸ao a partir do solo e controle autˆonomo a bordo (ODA et al., 1998), ou
ainda teleopera¸ao por retransmiss˜ao de dados atrav´es de uma terceira espa¸conave
(OHKAMI; KAWANO, 2003).
2.3 Montagem, Constru¸ao e Servi¸cos em
´
Orbita
As tecnologias envolvendo telerobˆos espaciais e ve´ıculos ao-tripulados tamem ao
parte constituinte das principais perspectivas que possibilitam o chamado servi¸co
em ´orbita (On-orbit Servicing), realizado em espa¸conaves. O servi¸co em ´orbita pode
ser definido como a manipula¸ao de sat´elites e outros artefatos espaciais em ´orbita
a fim de estender sua vida ´util ou suas capacidades (MADISON, 2000). Este assunto
pode ser dividido em trˆes tarefas principais: diagn´ostico, fornecimento e reparo. O
diagn´ostico se refere `a identifica¸ao de danos ou problemas a um ve´ıculo ou sat´elite
por exemplo. Esta tarefa na realidade ao envolve manipula¸ao, por´em ´e uma pre-
cursora necess´aria para essa, pois determina qual o tipo de servi¸co ser´a necess´ario.
O fornecimento ´e o conjunto de tarefas de manipula¸ao que podem ser cumpridas
atraes do acoplamento e transferˆencia de algo para um sat´elite. Os casos mais
´obvios para este fato ao o adicionamento, atualiza¸ao ou substitui¸ao de compo-
nentes e abastecimento de elementos consum´ıveis pelo sat´elite, como combust´ıvel
por exemplo. Tarefas menos ´obvias relacionadas a esta classe de servi¸cos incluem o
fornecimento de energia ou corrente el´etrica, rebocar o sat´elite para uma nova orien-
ta¸ao ou uma nova ´orbita ou ainda montar um sat´elite a partir de m´odulos menores.
A tarefa de reparo ´e o conjunto de servi¸cos de manipula¸ao que envolvem consertos.
Alguns exemplos incluem: descontamina¸ao de equipamentos ´oticos, adicionamento
ou substitui¸ao de camadas de revestimento ou material estrutural, corte ou aber-
tura de acess´orios para recuperar dispositivos que n˜ao foram estendidos (ex: antenas
ou pain´eis solares) e montagem de itens de apoio(ex: suportes estruturais). A habi-
lidade de se realizar essas tarefas de servi¸co abre um enorme leque de possibilidades
sobre as formas de opera¸ao de sat´elites e suas miss˜oes. O aumento da disponibili-
dade operacional dos sat´elites constitui o principal benef´ıcio dos servi¸cos em ´orbita.
Outros benef´ıcios incluem: flexibilidade de miss˜oes, escalabilidade, aumento da vida
´util e redu¸ao do custo operacional durante o ciclo de vida dos sat´elites.
Madison (2000) esclarece que, atualmente, uma nova vis˜ao de servi¸cos em ´orbita
19
considera novos conceitos sobre a utiliza¸ao de ve´ıculos de servi¸co simples e pe-
quenos, concomitante ao desenvolvimento de sat´elites inteligentes projetados para
serem servidos, ao ines de se utilizar ve´ıculos de servi¸co grandes e complexos que
executariam tarefas de servi¸co igualmente complexas. Este novo conceito se torna
cada vez mais poss´ıvel, ao passo que componentes cada vez menores, processadores
mais apidos e algoritmos mais inteligentes ao capazes de reduzir o tamanho dos
ve´ıculos de servi¸co, ao mesmo tempo que permitem aos sat´elites fazerem melhor uso
dos aux´ılios que um ve´ıculo de servi¸co pode oferecer. Compartilhando desta vis˜ao, a
Agˆencia Americana de Projetos de Pesquisas Avan¸cadas em Defesa (Defense Advan-
ced Research Projects Agency - DARPA) desenvolveu uma arquitetura de aviˆonica
que possibilita a substitui¸ao de hardware deficiente de sat´elites em ´orbita assim
como possui a capacidade de efetuar atualiza¸oes e adapta¸oes de sistemas em ´or-
bita. Isso seria poss´ıvel atraes de um ve´ıculo de servi¸co que, de forma autˆonoma,
se encontraria e se acoplaria a um sat´elite alvo e inseriria novos componentes no
odulo da aviˆonica deste sat´elite. A capacidade associada de se efetuar atualiza¸oes
pr´e-programadas e adapta¸oes a artefatos espaciais em ´orbita possui o potencial para
se projetar futuras espa¸conaves de alta performance. Tal capacidade permitiria aos
engenheiros de sistemas acomodar taxas divergentes de avan¸cos tecnol´ogicos e mini-
mizaria a necessidade de medidas de redu¸ao de riscos pr´e-lan¸camento. Para provar
isso, o Laborat´orio Drapper, vinculado `a DARPA, realizou um estudo de viabilidade
para desenvolver uma arquitetura que determinasse uma diretriz de evolu¸ao a partir
de projetos atuais de sat´elites eficientes funcionalmente at´e a conclus˜ao do desen-
volvimento de uma arquitetura totalmente modular e funcionalmente confi´avel que
ir´a atender aos requisitos de atualiza¸oes autˆonomas em ´orbita, compat´ıveis com os
sat´elites do futuro (MOYNAHAN, III; TUOHY, 2000). O trabalho discute as estrat´egias
de design em alto n´ıvel e as avalia¸oes comerciais de tecnologias existentes neces-
arias para integrarem a arquitetura aviˆonica, incluindo etodos de gerenciamento
de energia, transferˆencia de dados e tratamento ermico. Recentemente, a DARPA
comprovou estas id´eias ao utilizar suas aplica¸oes no seu novo programa Orbital
Express, lan¸cado em mar¸co de 2007, no qual tecnologias cr´ıticas para servi¸cos em
´orbita e RVD completamente autˆonomo/n˜ao-tripulado puderam ser demonstradas
(DARPA, 2007).
Devido ao fato do processo de RVD como pr´e-requisito para opera¸oes espaciais avan-
¸cadas ao ser somente cr´ıtico para a miss˜ao, mas tamem conter o risco de danos
para o investimento espacial in-situ, as tecnologias que o tornam poss´ıvel tamb´em
20
devem ser altamente confi´aveis. Contudo, estas tecnologias devem estar dispon´ıveis a
custos razo´aveis para que os benef´ıcios da constru¸ao, montagem e servi¸cos em ´orbita
possam ser satisfeitos. Dessa forma, estes requisitos ao passados aos subsistemas
respons´aveis pelas opera¸oes de RVD. Gampe et al. (1985) explica o funcionamento
do Docking Mechanism Subsystem (DMS), desenvolvido pela ESA, come¸cando por
diferenciar duas importantes t´ecnicas de sistemas de acoplamento: os sistemas de
impacto e os sem impacto. Os conceitos de mecanismos de acoplamento anteriores
embarcados em miss˜oes como Gemini, Apollo e Soyuz/Salyut eram do tipo“impulso”
ou “impacto”, ou seja, a energia cin´etica do ve´ıculo perseguidor era utilizada para
disparar ou ativar o mecanismo de docking. Para miss˜oes espaciais modernas, como
´e o caso das grandes plataformas fr´ageis e flex´ıveis, ´e desej´avel adotar uma t´ecnica
de acoplamento sem impacto, a fim de se evitar o risco de danos, al´em de se poder
utilizar mecanismos auto-ativ´aveis e reutiliz´aveis. Sistemas de acoplamento sem im-
pacto podem ser subdivididos em duas categorias, nas quais seguido de uma curta
aproxima¸ao entre dois sat´elites, estes ao trazidos para um contato f´ısico tanto por
meios do mecanismo de acoplamento atraes da extens˜ao de um mastro, ou atrav´es
de controle ativo proporcionado pelo Sistema de Controle de Atitude e
´
Orbita (Atti-
tude and Orbit Control System - AOCS) de uma das espa¸conaves. O autor (GAMPE
et al., 1985) chama esta curta aproxima¸ao de “closure”, e exp˜oe dois meios para
realiz´a-la, referidos como closure controlada pelo DMS (DMS controlled closure -
DMS-CC) e closure controlada pelo AOCS (AOCS controlled closure - AOCS-CC).
Estas duas ecnicas de aproxima¸ao diferem conforme as opera¸oes necess´arias e
conforme a configura¸ao dos seus componentes. A Tabela 2.5 fornece uma vis˜ao ge-
ral das opera¸oes seq
¨
uenciais associadas a cada categoria, demonstrando como estas
poderiam ser aplicadas aos servi¸cos em ´orbita.
Fica claro que, a princ´ıpio, a aproxima¸ao controlada pelo AOCS pode resultar em
um mecanismo mais simples, no qual o mastro ao ´e necess´ario nem tampouco a
a necessidade de se utilizar mecanismos e atuadores complexos de captura. No en-
tanto, a complexidade fica a cargo de uma demanda maior sobre o AOCS e sobre a
necessidade de sensores precisos de curta distˆancia para o acoplamento. Por outro
lado, surge ainda uma vantagem bastante significativa: a possibilidade de se utilizar
uma interface de acoplamento de estrutura muito simples que seja inclusive compa-
t´ıvel com a ado¸ao de uma interface padr˜ao para este fim. Os requisitos gerais para
o DMS da ESA ao baseados em cen´arios t´ıpicos para miss˜oes de RVD automatiza-
das, nas quais as espa¸conaves envolvidas s˜ao em geral n˜ao-tripuladas e encontram-se
21
Tabela 2.5 - Conceitos de acoplamento sem impacto e suas opera¸oes associadas.
Aproxima¸ao Controlada pelo DMS (DMS-CC) Aproxima¸ao Controlada pelo AOCS (AOCS-CC)
Distˆancia
de Captura
1m
Aproxima¸ao
Final
(Closure)
Travamento Conex˜oes
Distˆancia
de Recep¸ao
0,1m
Travamento
Conex˜oes
- Verifica
a prepara-
¸ao para a
captura;
- Reduz a
energia ci-
etica do
movimento
relativo;
- Ajuste fino
de alinha-
mento;
- Conex˜oes
el´etricas;
- Verifica a pre-
para¸ao para o
travamento;
- Ajuste fino
de alinha-
mento;
- Conex˜oes
el´etricas;
- Move o me-
canismo de
captura para
a posi¸ao;
- Alinha o ve´ı-
culo;
- Conex˜ao
mecˆanica
r´ıgida entre
os ve´ıculos.
- Conex˜oes de
l´ıquidos e ga-
ses.
- Captura. - Conex˜ao
mecˆanica
r´ıgida entre
os ve´ıculos.
- Conex˜oes de
l´ıquidos e ga-
ses.
- Fecha o
mecanismo
de captura.
- Traz o ve´ı-
culo para a
interface.
Fonte: Adaptada de Gampe et al. (1985)
estabilizadas em trˆes eixos. Estas miss˜oes exigem um alto n´ıvel de flexibilidade e
modularidade no que tange ao conceito de projeto de um DMS. Al´em disso, para
proteger o alto investimento em ´orbita ´e desej´avel se assegurar que somente as par-
tes passivas do DMS estejam localizadas na espa¸conave mais permanentemente em
´orbita (GAMPE et al., 1985).
2.4 Teleopera¸ao e Telerob´otica Espacial
Os procedimentos operacionais em ambiente espacial ao realizados muitas vezes a
partir de centros de controle localizados remotamente em rela¸ao aos equipamentos,
dispositivos ou ve´ıculos sendo operados. Isso decorre do fato de que tais artefatos
espaciais possam inclusive encontrar-se localizados em espa¸conaves tripuladas, cuja
opera¸ao remota visa diminuir a carga de trabalho da tripula¸ao, ou ent˜ao podem
constituir um sistema autˆonomo, necessitando de teleopera¸ao somente para fins
de monitoramento ou controle em caso de falhas. Dessa forma, o conceito de tele-
opera¸ao deve ser esclarecido neste trabalho dentro de uma abordagem de controle
requerida por ve´ıculos ao-tripulados autˆonomos ou semi-autˆonomos, que possuem
dispositivos rob´oticos integrados para operar em ambiente de microgravidade.
Sendo assim, esta se¸ao apresenta uma revis˜ao das abordagens tecnol´ogicas utiliza-
das em cen´arios de teleopera¸ao espacial, enfatizando os recursos computacionais e
de software que possibilitam a execu¸ao de simula¸oes em tempo real e controle de
atividades espaciais complexas. Al´em disso, ser˜ao descritos conceitos t´ecnicos envol-
22
vidos nesse tipo de atividade, como a autonomia supervisionada para telerob´otica
espacial, bem como preven¸ao de colis˜oes.
2.4.1 Motivao para a utiliza¸ao de software e simula¸ao em Teleope-
ra¸ao
Atualmente, as opera¸oes espaciais que implementam rastreio e controle de espa¸co-
naves s˜ao em sua grande maioria realizadas remotamente. Este tipo de teleopera¸ao
inclui a transmiss˜ao de dados de diferentes eventos, desde simples dados referentes a
telemetria de componentes dos ve´ıculos at´e links de informa¸oes complexas obtidos
por sistemas da espa¸conave, como por exemplo downloads de imagens obtidas por
ameras de alta-resolu¸ao ou mesmo atualiza¸oes do software de bordo.
Todas essas opera¸oes ao sempre realizadas sob o gerenciamento de sistemas de
software robustos e confi´aveis, implementados tanto em esta¸oes terrenas quanto
nas espa¸conaves atraes de seu software embarcado. Esta se¸ao discute as ecnicas
mais utilizadas para implementa¸ao de teleopera¸ao em ambiente espacial, espe-
cialmente aquelas empregadas em controle autˆonomo de ve´ıculos ao-tripulados e
telerobˆos espaciais. Ser˜ao descritos ainda alguns procedimentos de telerob´otica que
possibilitam supervis˜ao autˆonoma a bordo e em solo, al´em de descrever as aplica-
¸oes t´ecnicas para algumas das mais cr´ıticas e arriscadas manobras espaciais. Estas
manobras exigem cautela para serem executadas. Por isso ao divididas em arios
passos, para os quais as ecnicas de preven¸ao e detec¸ao de colis˜oes, estabilidade
de impactos e controle de for¸cas dos manipuladores rob´oticos devem ser testados
e verificados. Algumas das abordagens relacionadas a procedimentos telerob´oticos
encontram-se aqui descritas, principalmente aquelas direcionadas aos sistemas de
software que possibilitam estas opera¸oes espaciais ao longo de suas diversas fases.
A literatura apresenta descri¸oes de arios sistemas bastante ´uteis que podem ser
desenvolvidos em torno do conceito de telerobˆos supervisionados por humanos. Base-
ado na id´eia introduzida na Subse¸ao 2.2.2, ´e poss´ıvel desenvolver telerobˆos espaciais
capazes de realizar opera¸oes de baixo n´ıvel automaticamente. Este tipo de opera-
¸ao se refere `as tarefas asicas que podem ser executadas por um robˆo sem qualquer
interven¸ao de um operador humano. Adicionalmente a este conceito, existem v´arios
m´etodos que possibilitam uma autonomia supervisionada para telerob´otica espacial.
A autonomia supervisionada ´e uma abordagem relacionada ao controle remoto de
manipuladores espaciais. Dentro desse contexto, a seguran¸ca das opera¸oes ´e garan-
23
tida ao se gerarem comandos com parˆametros espec´ıficos para cada tarefa, os quais
podem ainda serem acessados por uma simula¸ao executada a priori. Sobre este tipo
de recurso, atualmente existe uma possibilidade de se simular sistemas dinˆamicos
complexos em tempo real atrav´es de ambientes virtuais. Assim como descrito no
Cap´ıtulo 4, para aumentar o desempenho do sistema estas simula¸oes podem ser
executadas de maneira distribu´ıda atrav´es do uso de arquiteturas modernas capazes
de atender aos requisitos de tais sistemas de software. Dessa forma, as t´ecnicas de
teleopera¸ao e telerob´otica espacial, bem como suas aplica¸oes atrav´es de sistemas
de software compreendendo simula¸ao distribu´ıda em tempo real, podem ent˜ao ser
comparadas.
2.4.2 Vis˜ao Geral de Teleopera¸ao Espacial
Desde o in´ıcio da era espacial, volumes consider´aveis de recursos em sido investi-
dos no desenvolvimento de sistemas espaciais e tais investimentos em provado ser
muito bem-sucedidos. Nas ´ultimas d´ecadas, sat´elites em ´orbita da Terra revoluciona-
ram as comunica¸oes, sistemas de inteligˆencia, previs˜ao do tempo, gerenciamento de
recursos e navega¸ao. Sat´elites cient´ıficos possibilitam uma riqueza de dados que au-
mentaram significativamente a compreens˜ao cient´ıfica da Terra, do Sol, do Sistema
Solar e do Universo (RUOFF, 1994).
Os telerobˆos espaciais, cujo conceito foi introduzido na Subse¸ao 2.2.2 ao descritos
por Ruoff(1994, p. 6) a grosso modo como: “m´aquinas que executam tarefas f´ısicas”.
O autor comenta que uma caracter´ıstica exclusiva faz a diferen¸ca ao se classificarem
telerobˆos. Esta caracter´ıstica est´a associada a habilidades remotas de seu sistema
de controle que, em conjunto com operadores humanos e apoio de solo, ao capazes
de acomodar incertezas. Em outras palavras, o sistema deve ser apto a determinar
o estado da tarefa e de objetos relevantes a serem manipulados, iterativamente de-
terminar quais oes tomar, predizer seus efeitos e coordenar os subsistemas para
executarem estas oes enquanto monitora seus efeitos em tempo real para garantir
que estes sejam consistentes com as predi¸oes. Caso os efeitos previstos e observados
ao estejam consistentes, pode estar ocorrendo um problema em potencial.
Sat´elites e espa¸conaves em geral ao desenvolvidos para operar em um espa¸co livre,
no qual obst´aculos ao representam um papel importante dentro do cen´ario de suas
opera¸oes e manobras. Neste tipo de ambiente, os objetivos de controle podem ser
facilmente caracterizados em alguns aspectos. Sistemas desse tipo ao possuem ou
24
ao necessitam de habilidades especiais para perceber ou classificar situa¸oes ex-
ternas complexas a fim de tomar apidas decis˜oes a bordo. Tais sistemas podem
simplesmente operar sob um m´etodo em malha-aberta por longos per´ıodos e deixar
que a maioria das decis˜oes de controle sejam tomadas em solo. Por outro lado, rovers
e telerobˆos espaciais devem ser capazes de executar opera¸oes mecˆanicas a taxas ra-
zo´aveis e em ambientes naturais complexos (ex: a superf´ıcie de outro planeta ou a
estrutura de outro sat´elite).
Conforme citado na Subse¸ao 2.2.2, o comportamento de mais baixo n´ıvel dos te-
lerobˆos, como interpreta¸ao de dados de sensores e controle de for¸ca ou movimento
podem ser facilmente automatizados. De acordo com Ruoff (1994), uma abordagem
pr´atica para se desenvolver sistemas ´uteis aplicados a telerobˆos pode ser resumida
em: 1) automatizar fun¸oes de baixo n´ıvel desenvolvendo-se algoritmos de controle
confi´aveis que se adaptem a partir de informa¸oes de sensores, 2) contar com opera-
dores humanos para fornecer tarefas gerais de navega¸ao e supervis˜ao, al´em de ma-
nipula¸ao de situa¸oes especiais, e 3) desenvolver interfaces e ferramentas avan¸cadas
para aux´ılio no planejamento e gerenciamento de tarefas para telerobˆos, permitindo
aos operadores se comunicarem facilmente com o sistema em m´ultiplos n´ıveis de
detalhes.
2.4.2.1 Sistemas Telerob´oticos Espaciais
Um telerobˆo espacial ´e constitu´ıdo por um ou mais manipuladores, cada um com
arios graus de liberdade, montados sobre uma plataforma que pode estar fixa em
algo (outro ve´ıculo, por exemplo) ou pode ser ovel, deslocando-se livremente no
espa¸co. Os principais subsistemas telerob´oticos ao o computacional, o de coorde-
na¸ao, os sensores externos, o de manipula¸ao, o de mobilidade, a carga ´util, o de
percep¸ao, a plataforma, o de energia, o de telecomunica¸oes, o de controle ermico
e o executivo. Estes subsistemas encontram-se detalhados na Figura 2.4.
No presente trabalho, ser˜ao levados em considera¸ao os subsistemas computacional,
o de coordena¸ao, o de percep¸ao e o executivo, devido ao fato de estarem de certa
forma interonectados entre si. O subsistema mais importante dentro do escopo deste
trabalho ´e obviamente o computacional, pois nele reside a maior parte da ogica
embarcada implementada pelo conjunto de software de bordo em aplica¸oes espa-
ciais autˆonomas. No caso dos telerobˆos, este subsistema est´a sob o controle do seu
subsistema executivo. Ele agrega todos os dispositivos computacionais a bordo de
25
Figura 2.4 - Sistema Telerob´otico Espacial, mostrando o fluxo de dados e comandos.
Fonte: Ruoff (1994)
um telerobˆo, incluindo computadores de prop´osito geral e espec´ıfico, controladores
de baixo n´ıvel, pr´e-processadores de sensores e outros dispositivos eletrˆonicos dedi-
cados. Todo o gerenciamento de controle reside no subsistema computacional. Os
subsistemas de percep¸ao, de coordena¸ao e executivo residem tamem no subsis-
tema computacional.
O subsistema de coordena¸ao, que realiza os c´alculos dinˆamicos e cinem´aticos neces-
arios e coordena o comportamento dos diversos outros subsistemas que encontram-
se sob o controle do executivo, reside no subsistema computacional sob a forma de
software e/ou hardware. Ele recebe informa¸oes de estado dos atuadores do telerobˆo
e de sensores externos (interpretados pelo subsistema de percep¸ao). Em sistemas
mais avan¸cados, o subsistema de coordena¸ao pode enviar informa¸oes previstas de
estado ao sistema de percep¸ao para que a consistˆencia da evolu¸ao da tarefa possa
ser determinada, isto ´e, o sistema pode determinar se a tarefa est´a procedendo con-
forme o previsto.
O subsistema de percep¸ao recebe inputs a partir de arios sensores de estado ex-
ternos, bem como do sistema de telecomunica¸oes. Em telerobˆos sofisticados, este
subsistema calcula um resumo do ambiente externo, do pr´oprio telerobˆo e dos esta-
26
dos das tarefas. Este resumo ´e utilizado pelo executivo do telerobˆo e pelo subsistema
de coordena¸ao. Em sistemas mais simples, o subsistema de percep¸ao atua somente
efetuando transforma¸oes nos dados captados pelos sensores.
O executivo, que tamem ´e parte integrante do subsistema computacional, agenda
e controla o comportamento completo de alto n´ıvel dos subsistemas do telerobˆo,
exceto para prote¸ao autom´atica de falhas e para rea¸oes. Este subsistema recebe os
comandos e instru¸oes do operador assim como informa¸oes de estado sobre tarefas,
ambiente externo e sobre o pr´oprio telerobˆo, provenientes do subsistema de percep-
¸ao. Em telerobˆos avan¸cados, o executivo inclui planejamento, racioc´ınio, previs˜ao de
comportamento e ferramentas para diagn´ostico de falhas. O executivo pode fornecer
comandos tanto para o subsistema de percep¸ao quanto para o de coordena¸ao.
Um sistema telerob´otico espacial t´ıpico tamem possui uma esta¸ao de controle,
al´em do pr´oprio telerobˆo, mostrados esquematicamente na Figura 2.4 juntamente
com seu fluxo de dados e comandos. A esta¸ao de controle ´e denominada “local site”.
Esta inclui a interface que o operador utiliza tanto para compreender a tarefa remota
quanto para controlar o telerobˆo. A esta¸ao de controle se comunica com o telerobˆo
atraes de um link de dados. Um fator interessante a ser notado ´e que em solo pode
existir o apoio de recursos computacionais poderosos para simula¸ao e planejamento.
O operador na esta¸ao de controle tem por objetivo monitorar e supervisionar as
tarefas do telerobˆo, resolvendo situa¸oes dif´ıceis e determinando quais rotinas ou
macros (seq
¨
uˆencias de comandos) a serem utilizadas. Este operador pode especificar
uma tarefa e enao ceder o controle ao telerobˆo, que retornar´a o controle ou quando a
tarefa estiver completa ou se um impasse ocorrer. O operador tamem pode assumir
o controle a qualquer momento. Portanto, o controle das opera¸oes ´e continuamente
trocado entre o operador e o telerobˆo.
O telerobˆo tamb´em ´e denominado “remote site”. Ele realiza as tarefas fisicamente
sob o controle de um operador. Os teleoperadores podem interagir com os sistemas
do telerobˆo sob a forma de sistemas do tipo master-slave, nos quais o master ´e uma
r´eplica localizada no local site de um slave localizado no remote site. Neste cen´ario,
o operador realiza uma tarefa movendo o master enquanto assiste a uma represen-
ta¸ao visual do local de trabalho remoto, onde est´a o telerobˆo, como se o master
estivesse executando a tarefa. Em sistemas master-slave sem eplicas, o master e o
slave ao ao geometricamente similares. Sob uma abordagem na qual o sistema ´e
todo constitu´ıdo por software, o master costuma ser um modelo de representa¸ao
27
matem´atico-computacional do slave. Nesse tipo de sistema, a coordena¸ao de eixos ´e
efetuada por um computador na malha de controle que continuamente mapeia a pre-
sente posi¸ao do manipulador do master para a posi¸ao em escala do manipulador do
slave. O computador utiliza a cinem´atica do master para calcular a posi¸ao Cartesi-
ana do manipulador do master no espa¸co e a cinem´atica do slave para transformar
esta posi¸ao em comandos de posi¸ao para os eixos do slave, fazendo o manipulador
do slave executar o mesmo movimento (em escala) do manipulador do master. Os
sinais de erro e de contato ao usados para repelir o master, dando uma id´eia de
contato com o ambiente remoto. Estes procedimentos s˜ao ilustrados pela Figura 2.5.
Figura 2.5 - Esquema de um sistema de teleropera¸ao do tipo master-slave.
2.4.3 Autonomia Supervisionada para Telerob´otica Espacial
As aplica¸oes espaciais constituem um prop´osito importante para a telerob´otica, po-
r´em, imp˜oem determinadas restri¸oes de igual importˆancia no que se refere a suas
abordagens de implementa¸ao. Usualmente, os projetos de espa¸conaves ao desen-
volvidos para serem confi´aveis e a prova de falhas, por isso seus sistemas devem ser
otimizados para possibilitarem somente as necessidades mais cr´ıticas a fim de garan-
tir o sucesso da miss˜ao. Estas necessidades incluem na maior parte as capacidades
de bordo em comunica¸ao e controle da espa¸conave e seus instrumentos. O segmento
de solo, dentro dos sistemas teleoperados, geram seq
¨
uˆencias de comandos que ao
enviadas ao ve´ıculo espacial remoto. A gera¸ao de comandos em solo, baseada em
dados atualizados provenientes da espa¸conave, fornece a necess´aria flexibilidade ao
sistema, capaz de garantir o sucesso da miss˜ao. Recursos humanos e computacio-
nais ao muito mais abundantes e complexos nas esta¸oes de solo do que aqueles
28
a bordo das espa¸conaves. Como foi visto na se¸ao anterior, a espa¸conave ´e capaz
de executar seq
¨
uˆencias de comandos enviadas a partir da Terra, bem como reagir a
situa¸oes anˆomalas. O controle baseado em solo de ve´ıculos espaciais autˆonomos ´e
considerado um tipo de aplica¸ao de controle autˆonomo supervisionado.
Os etodos de telerob´otica podem ser separados em trˆes tipos (BACKES, 1994),
ilustrados pela Figura 2.6: controle manual, controle supervisionado e controle to-
talmente autom´atico. No controle manual, todos os movimentos rob´oticos ao es-
pecificados por inputs cont´ınuos de um operador humano, sem nenhum movimento
adicional causado por computador. No controle supervisionado, os movimentos ro-
oticos podem ser causados tanto por inputs humanos quanto por inputs gerados
por computador. No controle totalmente autom´atico, todos os movimentos rob´oticos
ao causados por inputs gerados por computador.
Existem dois subconjuntos prim´arios do controle supervisionado: o controle compar-
tilhado e a autonomia supervisionada. No controle compartilhado, os comandos do
operador ao enviados durante a execu¸ao de um movimento remoto e ao mesclados
com o movimento em malha fechada gerado automaticamente. Na autonomia super-
visionada, os comandos autˆonomos ao gerados atraes de uma intera¸ao humana.
Entretanto, os comandos ao enviados para execu¸ao autˆonoma remotamente. Um
comando pode ser enviado imediatamente ou iterativamente salvo, simulado e modi-
ficado caso necess´ario antes que seja enviado para execu¸ao pelos sistemas rob´oticos
reais.
Figura 2.6 - M´etodos de controle telerob´otico.
A habilidade de iterativamente salvar, simular e modificar os comandos antes de
envi´a-los definitivamente para execu¸ao ´e uma caracter´ıstica cr´ıtica da autonomia
supervisionada que a distingue de outras formas de controle supervisionado. Por
29
motivos de seguran¸ca, ´e importante ser capaz de simular execu¸oes de tarefas antes
de se enviar seq
¨
uˆencias de comandos aos manipuladores para a efetivao da res-
pectiva tarefa. A seguran¸ca nesses sistemas ´e garantida ao verificar estes comandos
previamente ou ao monitorar a execu¸ao de tarefas em tempo real. Os comandos
podem ser modificados e simulados at´e que sejam aceit´aveis para execu¸ao pelos
sistemas rob´oticos remotos. Comandos individuais podem ser concatenados em uma
seq
¨
uˆencia de comandos (macro) que pode ent˜ao ser iterativamente testada, simulada,
modificada corretamente e inserida em uma seq
¨
uˆencia maior. A gera¸ao da seq
¨
uˆen-
cia de comandos para espa¸conaves autˆonomas ´e um processo formal, pois comandos
incorretos ou perigosos poderiam resultar em erios danos, perdas de oportunidades
cient´ıficas ´unicas (e.g., durante o sobrevˆoo de um planeta ou um aster´oide) ou enao
a perda de toda a espa¸conave, arruinando a miss˜ao. No controle compartilhado, os
comandos do operador ao enviados instantaneamente para se fundirem com a exe-
cu¸ao autˆonoma. A seguran¸ca no controle compartilhado ´e garantida ou ao contar
com que o operador insira somente movimentos seguros ou ao se realizar um mo-
nitoramento autˆonomo em tempo real e conseq
¨
uente modifica¸ao dos movimentos
antes especificados pelo operador.
Uma das situa¸oes mais famosas na qual um comando errˆoneo foi fornecido a uma
espa¸conave causando uma falha na miss˜ao ocorreu no sat´elite Mars Climate Orbiter
em 1999 (HARLAND; LORENZ, 2005). A espa¸conave era um dos ve´ıculos do programa
de mapeamento orbital de Marte Mars Surveyor 98 e deveria entrar em ´orbita
do planeta vermelho a uma altitude de 140 a 150 km. No entanto, um erro de
navega¸ao levou a espa¸conave a atingir uma altitude extremamente baixa, mais
precisamente, 57 km acima da superf´ıcie. O ve´ıculo foi destru´ıdo pelo atrito com a
atmosfera devido ao arrasto ser consideravelmente elevado a esta altitude t˜ao baixa.
Este erro de navega¸ao ocorreu devido ao fato de um contratante da NASA ter
utilizado unidades imperiais (libra-segundos) ao inv´es de unidades etricas (newton-
segundos), conforme havia sido especificado pela NASA. O problema surgiu devido
a erros no software de oo da espa¸conave, parcialmente porque o software tinha
sido adaptado a partir da sua reutiliza¸ao em outros ve´ıculos do programa Mars
climate Orbiter, sem a realiza¸ao de testes apropriados anteriores ao lan¸camento, e
parcialmente porque ao foi feita uma verifica¸ao cruzada dos dados de navega¸ao
fornecidos por este software durante o oo de cruzeiro.
Uma outra falha, e conseq
¨
uente perda de miss˜ao bem conhecida ocorreu em 4 de
30
junho de 1996, quando o oo 501 do foguete lan¸cador europeu Ariane 5 se des-
viou bruscamente da sua trajet´oria 37 segundos ap´os o lan¸camento. O lan¸cador foi
destru´ıdo pelo seu sistema de auto-detona¸ao autom´atica no momento em que altos
n´ıveis de for¸cas aerodinˆamicas fizeram o n´ucleo do ve´ıculo se desintegrar (HARLAND;
LORENZ, 2005; LIONS, 1996). As causas desta falha foram absolutamente as mesmas
reportadas pelo Mars Climate Orbiter, ou seja, um mau-funcionamento do soft-
ware de controle de oo. O software do Ariane 5 reutilizou as mesmas especifica¸oes
daquele a bordo do Ariane 4, por´em, a trajet´oria de oo do Ariane 5 era considera-
velmente diferente e estava acima do limite para o qual o odigo reutilizado tinha
sido escrito. De forma mais espec´ıfica, a grande acelera¸ao sofrida pelo Ariane 5 fez
com que os computadores prim´ario e redundante do sistema de navega¸ao inercial
falhassem, levando as tubeiras do lan¸cador a se guiarem por dados esp´urios. Testes
pr´e-vˆoo nunca haviam sido realizados no quesito de se fazer um realinhamento do
odigo sob condi¸oes de oo simuladas do Ariane 5. Assim, o erro ao ode ser des-
coberto anteriormente ao lan¸camento. Este erro ´e conhecido como um dos bugs de
computador mais infames da hist´oria.
Desastres como esses citados acima poderiam ser facilmente evitados atrav´es da
simples utiliza¸ao de prescri¸oes descritas pelos m´etodos de controle supervisionado,
mais especificamente, pela autonomia supervisionada. Conforme mencionado anteri-
ormente, sistemas de oo necessitam de softwares robustos e altamente qualificados
que executem em ambientes computacionais limitados quando comparados a sis-
temas de solo. A modifica¸ao do software embarcado durante o oo, embora seja
poss´ıvel, requer processos de qualifica¸ao extensivos e custosos. Dessa forma, para
prevenir situa¸oes inesperadas e indesej´aveis como as descritas, a solu¸ao proposta
pela autonomia supervisionada para controle de espa¸conaves ao-tripuladas e robo-
tizadas ao aqui descritas.
Uma outra importante caracter´ıstica da autonomia supervisionada ´e a chamada
execu¸ao de comportamento restrito. Esta caracter´ıstica permite `a execu¸ao de
tarefas divergir do movimento nominalmente planejado dentro de um limite pr´e-
estabelecido. Como o ambiente remoto pode ao ser conhecido exatamente a priori,
a execu¸ao em tempo real ir´a contar somente com a trajet´oria pr´e-planejada e per-
turba¸oes calculadas a partir de dados sensoriais remotos. Sendo assim, a seguran¸ca
desta execu¸ao dentro de um limite especificado pode ser testada previamente no
local site. O sistema remoto pode enao monitorar autonomamente sua execu¸ao em
31
tempo real a fim de garantir que o estado do movimento esteja dentro do limite
especificado. Se a execu¸ao da tarefa mover-se para fora destes limites, ent˜ao uma
ao de escape autom´atica ´e acionada e comandos subseq
¨
uentes vindos do local site
ao interrompidos.
2.4.3.1 Sistemas de Autonomia Supervisionada
Os componentes locais e remotos de um sistema de autonomia supervisionada podem
ser divididos em sub-componentes. O local site inclui gera¸ao de seq
¨
uˆencia, an´alise de
seq
¨
uˆencia, monitoramento e telemetria. O remote site inclui telemetria, mapeamento
de comandos, controle de seq
¨
uˆencia, controle em tempo real de monitoramento e
rea¸ao. As seq
¨
uˆencia de comandos ao compostas por tipos de comandos e dados
associados que especificam o comportamento desejado do controle dos instrumentos
e da espa¸conave. O software de oo ´e fixo por´em oferece a possibilidade de receber
tipos gerais de comandos que podem ser parametrizados para gerar uma ampla gama
de comportamentos de controle espec´ıficos.
A gera¸ao de seq
¨
uˆencias ´e o processo que cria uma seq
¨
uˆencia de comandos que pode
ser enviada por telecomando para um sistema remoto de controle rob´otico autˆo-
nomo. Uma interface para o operador ´e necess´aria a fim de que este a utilize para
especificar os comandos desejados. Aux´ılios computacionais tamem podem prestar
suporte para a especifica¸ao de tarefas, comandos e parametriza¸ao. Tais aux´ılios
incluem ferramentas de modelagem, visualiza¸ao e planejamento de tarefas. A mo-
delagem por computador fornece um modelo dos sistemas manipulados ou ainda
do ambiente de execu¸ao da tarefa. O modelo pode inclusive ser modificado para
adaptar-se ao cen´ario remoto utilizando para isso dados provenientes do ambiente
remoto de execu¸ao. A visualiza¸ao possibilita uma representa¸ao gr´afica do cen´ario
remoto. Uma representa¸ao fact´ıvel do cen´ario de execu¸ao da tarefa ´e importante
para garantir que a simula¸ao executada a priori seja uma representa¸ao fiel e a-
lida da tarefa que ser´a realizada pelo sistema rob´otico real. A an´alise de seq
¨
uˆencia
determina o resultado esperado da execu¸ao de uma seq
¨
uˆencia gerada previamente
e o n´ıvel de seguran¸ca para se atingir tal resultado. Uma an´alise autom´atica reali-
zada por computador pode testar casos de carga dinˆamica, colis˜oes, limites alidos
de movimento, al´em de validar velocidades e acelera¸oes comandadas. O monitora-
mento a partir do local site analisa os relat´orios provenientes do remote site a fim
de executar testes de execu¸oes alidas, bem como monitorar o estado operacional
do sistema. A telemetria no local site fornece suporte `a comunica¸ao das seq
¨
uˆencias
32
de comandos ao remote site e `a recep¸ao de dados e do status deste.
A telemetria no remote site recebe as seq
¨
uˆencias de comandos geradas no local
site e envia dados de estados a este. No remote site as seq
¨
uˆencias de comandos
ao mapeadas em comandos individuais para execu¸ao. O controle de seq
¨
uˆencia
providencia a transi¸ao ao pr´oximo comando dentro de uma seq
¨
uˆencia no momento
esperado do t´ermino deste comando ou ainda executa transi¸oes para oes de escape
em eventos de monitoramento de rea¸oes. O controle em tempo real ´e respons´avel
por comandar os servo-controladores em malha fechada dos mecanismos do remote
site. Este controle ´e baseado em comandos gerados no local site. O monitoramento no
remote site ´e respons´avel pela an´alise de execu¸ao remota, fornecendo informa¸oes
para implementar as transi¸oes dos estados de execu¸ao. Rea¸ao ´e a habilidade
do sistema em responder a condi¸oes monitoradas. O tipo de rea¸ao mais comum
´e executar a transi¸ao para o pr´oximo comando de uma seq
¨
uˆencia de comandos,
baseada em um evento de monitoramento ativado assim que o comando anterior
tenha sido completado corretamente. Outro tipo de rea¸ao igualmente importante
se refere `a habilidade do sistema em acionar uma ao de seguran¸ca, atraes de
uma interrup¸ao que impossibilita o sistema de executar o comando planejado na
ocorrˆencia de um evento de monitoramento inesperado.
Um tipo de arquitetura de sistema local-remoto incorporando conceitos de autono-
mia supervisionada ´e mostrado no diagrama de blocos da Figura 2.7. Esta arquite-
tura ´e parte de um trabalho desenvolvido pelo Jet Propulsion Laboratory (JPL), no
California Institute of Technology (Caltech) (BACKES, 1994). Tal trabalho apresenta
as caracter´ısticas de simula¸ao e as capacidades de um sistema em realizar autono-
mia supervisionada de um sistema manipulador remoto atrav´es da implementa¸ao
de um sistema de simula¸ao operacional em laborat´orio. O sistema emprega sensores
espec´ıficos, como uma amera de vis˜ao estereosc´opica e dois manipuladores monta-
dos em bra¸cos rob´oticos com movimentos cooperativos, utilizados como atuadores.
No sistema acima, a interface da esta¸ao de trabalho prim´aria do operador exibe a
descri¸ao da tarefa, a gera¸ao de seq
¨
uˆencia e o estado da execu¸ao. Uma esta¸ao de
trabalho gr´afica exibe uma superposi¸ao gr´afica estereosc´opica sobre as imagens das
ameras de v´ıdeo, bem como uma designa¸ao interativa de objetos ou destinos. O
simulador do remote site simula a execu¸ao remota em ambiente local, com o estado
desta execu¸ao sendo exibido na esta¸ao de trabalho prim´aria e o movimento sendo
exibido na esta¸ao de trabalho gr´afica. O remote site ´e constitu´ıdo por dois sistemas
33
Figura 2.7 - Diagrama de blocos de um sistema do tipo local-remoto simulado em labora-
orio.
Fonte: Backes (1994)
de controle, um para controle independente, coordenado ou cooperativo dos dois
manipuladores e outro para controle de um terceiro manipulador que posiciona um
conjunto de quatro cˆameras. O odulo executivo do sistema provˆe comunica¸ao com
o local site e inicia comandos de tarefas conforme especificados por este. Primitivas
de tarefas, que a grosso modo ao seq
¨
uˆencias de comandos pr´e-definidas, por´em
incompletas, possibilitam o controle das juntas dos bra¸cos rob´oticos e do espa¸co de
tarefas, al´em de monitorar os manipuladores em modo de opera¸ao simples (controle
individual) ou duplo (controle cooperativo).
O projeto de um sistema remoto aplicado a um sistema telerob´otico espacial possui
mais restri¸oes impostas ao seu local remoto do que aos seus locais em solo. Uma
restri¸ao primordial aplicada ao seu local remoto se refere `a qualifica¸ao em oo de
seu software embarcado. Isso cria a necessidade de se desenvolverem softwares de
oo fixos, que sejam validados antes do lan¸camento (ou enao modificados, validados
e atualizados em oo). Softwares fixos de oo impossibilitam o desenvolvimento de
programas customizados e otimizados para cada miss˜ao da tarefa. Preferencialmente,
o software fixo de oo deve providenciar funcionalidades suficientes para cumprir
tanto tarefas esperadas quanto inesperadas dentro do perfil da miss˜ao.
A solu¸ao demonstrada por Backes (1994) em seu sistema de laborat´orio ´e cons-
titu´ıda por uma fam´ılia de tarefas parametriz´aveis denominadas primitivas. Cada
34
uma das quais conem uma funcionalidade geral para uma determinada classe de
tarefas de manipula¸ao. Comandos separados fornecem outras capacidades neces-
arias, como atualiza¸oes da base de dados, solicita¸oes de status ou interrup¸oes
de execu¸oes. Primitivas de execu¸ao de tarefas ao programas auto-contidos que
permitem o controle dos manipuladores se comportar conforme especificado, atrav´es
de um conjunto de parˆametros de entrada. Dessa forma, uma interface natural entre
os sistemas local e remoto ´e a pr´opria lista de parˆametros para as arias primitivas
de tarefas existentes.
O subsistema executivo possui uma funcionalidade similar ao subsistema de mani-
pula¸ao de comandos e dados de uma espa¸conave. Ele recebe comandos do local site,
mapeia estes comandos para determinar os tipos de comandos de que se tratam e
inicia a execu¸ao destes atraes de chamadas `as primitivas de tarefas ou a outros co-
mandos com a parametriza¸ao determinada nos conjuntos de dados fornecidos com
eles. O executivo tamem retorna informa¸oes sobre o estado do sistema ao local
site. Os comandos de interface que podem ser enviados ao remote site pelo local
site incluem comandos de bases de dados, status e de execu¸ao. Os comandos de
bases de dados possuem parˆametros especificando o tipo de dado do manipulador
e da pr´opria base de dados seguidos pelos parˆametros espec´ıficos referentes `a base
de dados. As primitivas de tarefas, juntamente com seus parˆametros, utilizam os
parˆametros da base de dados ao executar uma determinada tarefa. Os comandos de
status solicitam ao remote site que retorne o estado dos manipuladores e dos bra¸cos
rob´oticos especificados pelos comandos. Finalmente, o comando de execu¸ao efeti-
vamente aciona as tarefas de execu¸ao autˆonomas dos movimentos pr´e-selecionados,
como por exemplo comandos para mover o bra¸co rob´otico e tocar ou pegar algo.
O projeto de sistema do tipo local-remoto especifica a interface que o local site pode
utilizar para controlar os manipuladores remotos. O sistema local ´e ent˜ao projetado
para reproduzir as habilidades remotas ao operador local. As descri¸oes das tarefas
e a gera¸ao de seq
¨
uˆencias ao fornecidas pela User Macro Interface (UMI) (BAC-
KES, 1994). A UMI abstrai os detalhes da interface local-remota e exibe ao operador
uma representa¸ao natural atrav´es de menus que possibilitam especificar tarefas e
parˆametros. Os inputs resultantes do operador ao convertidos em comandos equi-
valentes e parametrizados de forma a serem comunicados ao remote site. O operador
possui a op¸ao de executar os comandos das tarefas tanto nos sistemas telerob´oticos
remotos (reais) quanto simular os movimentos localmente enviando estes coman-
35
dos ao simulador do remote site e observando seus resultados no display gr´afico. O
modo de simula¸ao ´e selecionado como um parˆametro atrav´es do menu da UMI. O
simulador do remote site executa um software de controle idˆentico ao localizado no
sistema remoto. Este simulador funciona enviando dados resultantes de ˆangulos das
juntas dos segmentos dos bra¸cos rob´oticos e dos manipuladores ao display gr´afico
da UMI. A UMI eventualmente especifica primitivas de tarefas e suas respectivas
parametriza¸oes ao executivo do local site para que sejam executadas tarefas espec´ı-
ficas desejadas pelo operador. O operador pode inclusive salvar uma parametriza¸ao
espec´ıfica de uma tarefa sob a forma de um comando para posterior utiliza¸ao. O es-
tado do sistema remoto ´e atualizado no monitor da esta¸ao de controle do operador
sempre que um estado de sistema ou resultado de comando ´e retornado do remote
site.
Os cen´arios que utilizam autonomia supervisionada aplicada `a telerob´otica podem
ainda ser implementados com o apoio dos prop´ositos de simula¸ao em tempo real
paralela e distribu´ıda descritos no Cap´ıtulo 4. Em outras palavras, se existirem
recursos computacionais mais poderosos nas esta¸oes de solo (local site) capazes de
simular os comandos gerados e pr´e-planejados, torna-se estritamente necess´ario a
simula¸ao destes comandos antes de envi´a-los ao telerobˆo no espa¸co (remote site),
conforme especifica o conceito de autonomia supervisionada. Dessa forma, utilizar
um sistema de software paralelo/distribu´ıdo em tempo real para executar este tipo
de tarefa de simula¸ao constituiria uma solu¸ao conveniente como forma de medida
de efic´acia, seguran¸ca e tolerˆancia a falhas dos sistemas telerob´oticos espaciais.
Quando se lida com telerobˆos que realizam movimentos autˆonomos controlados, ´e
importante tamb´em considerar os efeitos causados por comandos de movimentos
absolutos e relativos. Um comando de movimento relativo produz o mesmo deslo-
camento relativo a partir de um ponto inicial sobre o qual o movimento foi dito
para iniciar, mesmo que a posi¸ao absoluta deste ponto inicial se altere. Em outras
palavras, o movimento ´e sempre relativo a sua referˆencia inicial, ao importando se
este ponto de in´ıcio mudou ou ao. Estas informa¸oes ao ´uteis ao se mover para
uma posi¸ao absoluta antes de se iniciar um comando de movimento relativo.
2.4.3.2 Controle de Seq
¨
uˆencia de Comandos
O controle de seq
¨
uˆencia ´e respons´avel pelo gerenciamento das transi¸oes entre co-
mandos dentro de uma seq
¨
uˆencia ou ativar uma ao de escape. Segundo Backes
36
(1994), duas fases importantes do controle de seq
¨
uˆencia s˜ao: concatena¸ao em tempo
de execu¸ao, executado antes de cada comando, e teste de condi¸ao terminal, execu-
tado ao final de um comando. O primeiro concatena parˆametros em um comando de
tarefa logo antes de sua execu¸ao ser iniciada. Os limites de parˆametros em tempo
de execu¸ao podem ao ser conhecidos no momento em que o comando ´e formado.
Alguns exemplos de concatena¸ao em tempo de execu¸ao incluem a inser¸ao de pa-
ametros de seguran¸ca atuais, fatores de velocidade e do per´ıodo de solicita¸ao de
relat´orio `a lista de parˆametros. Cada comando em uma seq
¨
uˆencia de tarefas se com-
pleta devido `a satisfa¸ao de um objetivo ou da conclus˜ao de uma condi¸ao terminal
(incluindo condi¸oes de seguran¸ca). Se a condi¸ao terminal ´e uma das condi¸oes
aceit´aveis especificadas pelo comando, ent˜ao o pr´oximo comando da seq
¨
uˆencia ´e
providenciado. Sen˜ao, uma ao de escape evasiva ´e ativada por seguran¸ca e uma
nova seq
¨
uˆencia de comandos deve ser enviada.
Transi¸oes entre comandos em uma seq
¨
uˆencia podem ocorrer tanto local quanto
remotamente, por´em, o acionamento de uma ao de escape deve ser realizada de
forma autˆonoma somente no remote site. Para o controle de seq
¨
uˆencia no local site,
um atraso de dura¸ao m´ınima de um tempo correspondente ao pr´oprio tempo ne-
cess´ario para o comando realizar um upload e um download sucessivos (round-trip),
dever´a ocorrer entre a execu¸ao de cada comando dentro da seq
¨
uˆencia. Isso ´e devido
ao fato de que o local site deve receber o status do remote site indicando que o
comando terminou corretamente antes de enviar o pr´oximo comando da seq
¨
uˆencia.
Esta situa¸ao imp˜oe a necessidade da utiliza¸ao de algum tipo de equipamento de
medida do atraso de tempo de round-trip, baseado nas estimativas de transmiss˜ao
de dados e informa¸oes em tempo real sobre a latˆencia da rede. No caso do local
site receber um status de timeout referente ao ´ultimo comando enviado, significar´a
que um problema no link de comunica¸ao pode ter ocorrido, como por exemplo uma
poss´ıvel perda de dados ou at´e uma perda de comunica¸ao com a espa¸conave remota.
2.5 ecnicas de preven¸ao de colis˜oes para manipuladores espaciais
Os manipuladores espaciais, juntamente com os telerobˆos, ao desenvolvidos para
operarem em ambientes que diferem daqueles usualmente vivenciados por sistemas
similares na superf´ıcie da Terra. Quando estes telerobˆos n˜ao est˜ao realizando ativida-
des na superf´ıcie de outros planetas ou outros astros, eles encontram-se comumente
em ambientes de microgravidade, executando opera¸oes adequadas a estes locais li-
vres de potenciais gravitacionais, atrito ou arrasto. Estas opera¸oes tamb´em exigem
37
algoritmos de controle especiais, desenvolvidos exclusivamente para rob´otica espa-
cial. Em rela¸ao a essas diferen¸cas entre a rob´otica terrestre e a espacial, existem
trˆes considera¸oes principais: movimento livre (irrestrito), estabilidade durante a
transi¸ao de contato e manipula¸ao controlada de for¸cas aplicadas ao ambiente.
Falhas em miss˜oes autˆonomas, telerob´oticas e ao-tripuladas mal-sucedidas foram
noticiadas devido a ocorrˆencia de impactos entre espa¸conaves, como foi o caso vi-
venciado pelo ve´ıculo espacial DART (DART, 2005). DART foi o projeto de uma
espa¸conave cujo objetivo principal era testar a aplica¸ao da tecnologia de rendez-
vous e docking autˆonomos. O ve´ıculo deveria se encontrar com o sat´elite obsoleto
MUBLCOM, lan¸cado em maio de 1999, e captur´a-lo. Contudo, a menos de 11 horas
do seu lan¸camento, o DART colidiu com o MUBLCOM. Este fato confirma os riscos
envolvidos nas opera¸oes espaciais autˆonomas associados a colis˜oes inesperadas.
Se um robˆo espacial encontra-se desacoplado do seu ambiente de trabalho, ´e con-
siderado que este robˆo esteja em oo livre, ou seja, o robˆo e seu ambiente formam
dois sistemas independentes. Neste caso, as principais preocupa¸oes dos engenhei-
ros e operadores se referem a: planejamento de trajet´oria, desvio de obst´aculos e
rendezvous e docking. Controle de for¸cas ao ´e pertinente, uma vez que quaisquer
for¸cas exercidas entre o robˆo e seu ambiente tender´a a repel´ı-los entre si. Portanto,
para que o controle de for¸cas seja aplicado, o robˆo dever´a se acoplar ao seu ambiente
de trabalho, formando assim uma cadeia cinem´atica cont´ınua, isto ´e, formar˜ao um
´unico sistema dinˆamico. A jun¸ao deste robˆo ao ambiente ´e tipicamente atingida
atraes de uma lenta manobra de acoplamento (docking) seguida pela conex˜ao da
base ou plataforma de oo do robˆo ao ambiente, ou ent˜ao pela captura do ambiente
atraes de um sistema de um ou m´ultiplos bra¸cos rob´oticos. Uma vez que o robˆo e
seu ambiente de trabalho estejam unidos, trˆes problemas passam a ser importantes:
movimento livre de colis˜oes, transi¸ao de contato e controle de for¸cas. O movimento
livre de colis˜oes pode se tornar mais complexo quando existe a restri¸ao da base do
robˆo conectada ao ambiente. No entanto, esta conex˜ao permite de fato o controle
das for¸cas de interao sob a forma de controle de impacto e trajet´orias de for¸cas
precisas seguindo as superf´ıcies contactadas (VOLPE, 1994).
Volpe (1994) ainda divide o conceito de desvio de obst´aculos a fim de se atingir um
local objetivo em duas classes de m´etodos: global e local. Os etodos globais contam
com a descri¸ao dos obst´aculos no espa¸co de configura¸ao de um manipulador. Os
m´etodos locais contam com a descri¸ao dos obst´aculos e da posi¸ao do manipula-
38
dor no espa¸co Cartesiano, referindo-se ao envelope de trabalho local de ambos os
sistemas.
Os etodos globais requerem que dois problemas principais sejam resolvidos. Pri-
meiro, todos os obst´aculos do ambiente devem ser mapeados para o espa¸co de confi-
gura¸ao do manipulador. Segundo, uma trajet´oria atrav´es deste espa¸co de configu-
ra¸ao deve ser encontrada para o ponto representando o manipulador. Duas t´ecnicas
ao utilizadas para gerar estas trajet´orias: buscas geom´etricas e for¸cas artificiais. A
t´ecnica de busca geom´etrica implica em uma procura exaustiva atraes do espa¸co
de configura¸ao desocupado para gerar uma trajet´oria cont´ınua a partir do ponto
inicial at´e o ponto objetivo. A ecnica de for¸cas artificiais cerca os obst´aculos do
espa¸co de configura¸ao com fun¸oes de energia potencial repulsiva e coloca o ponto
objetivo exatamente no ponto de m´ınima energia global. O ponto no espa¸co de
configura¸ao representando o manipulador ´e impulsionado por uma for¸ca igual ao
gradiente negativo deste campo potencial e ´e guiado para longe dos obst´aculos em
dire¸ao ao m´ınimo. No software de oo real, o controle do sistema em tempo real
deve ser baseado nestas fun¸oes de energia potencial, calculando as atuais posi¸oes
do manipulador e fazendo-o desviar dos picos de gradiente, que correspondem aos
obst´aculos do ambiente.
Todavia, os m´etodos globais possuem diversas desvantagens. Os algoritmos neces-
arios para implementa¸ao dos m´etodos globais ao computacionalmente intensos.
Sendo assim, ao adequados somente para planejamento de trajet´orias off-line e ao
podem ser utilizados para preven¸ao de colis˜oes em tempo real. Uma conseq
¨
uˆencia
imediata desta implementa¸ao ´e que os algoritmos globais ao dif´ıceis de ser utili-
zados para preven¸ao de colis˜oes em ambientes dinˆamicos, nos quais os obst´aculos
se movem constantemente ao longo do tempo. Adicionalmente, quando se utilizam
algoritmos globais torna-se muito dif´ıcil descrever tarefas de planejamento de mo-
vimentos mais complicados tais como aqueles realizados por dois manipuladores
movendo-se de forma cooperativa.
Os m´etodos locais s˜ao alternativas poss´ıveis aos globais. etodos locais tamb´em em-
pregam a utiliza¸ao do conceito de for¸cas artificiais. Entretanto, ao ines de utilizar
as for¸cas no espa¸co de configura¸ao, estas ao expressas no espa¸co Cartesiano do
manipulador. As colis˜oes com os objetos ao prevenidas ao cerc´a-los com fun¸oes de
potencial repulsivos e o ponto objetivo ´e cercado por um po¸co de potencial atrativo,
conforme mostrado pela Figura 2.8. Estes potenciais ao somados para formar um
39
potencial composto que transmite for¸cas para um modelo do manipulador no espa¸co
Cartesiano. Torques equivalentes a estas for¸cas fazem o manipulador real se mover.
Estes modelos referidos aqui s˜ao calculados utilizando modelagem matem´atica dinˆa-
mica de sistemas rob´oticos e manipuladores espec´ıficos (MEIROVITCH, 1970; CRAIG,
1989).
Figura 2.8 - Potencial repulsivo adicionado a um po¸co atrativo.
Fonte: Volpe (1994)
A principal vantagem dos etodos locais ´e que eles ao menos custosos computaci-
onalmente em rela¸ao aos globais, permitindo assim sua utiliza¸ao em sistemas de
controle em tempo real. Al´em disso, os m´etodos locais fornecem o sistema de refe-
rˆencia necess´ario para lidar com ambientes dinˆamicos e com preven¸ao de colis˜oes
em tempo real. Quando utilizados em conjunto com um manipulador teleoperado,
as for¸cas artificiais locais tamb´em possibilitam preven¸ao de colis˜oes em baixo-n´ıvel,
enquanto os operadores humanos executam em alto-n´ıvel o planejamento das traje-
orias do manipulador.
40
3 A PLATAFORMA ORBITAL RECUPER
´
AVEL SARA
O acrˆonimo SARA se refere a SAt´elite de Reentrada Atmosf´erica, cujo ve´ıculo trata-
se de uma Plataforma Orbital Recuper´avel de aplica¸oes cient´ıficas constitu´ıda por
uma pequena espa¸conave (Figura 3.1) de aproximadamente 350 Kg atualmente em
desenvolvimento no Instituto de Aeron´autica e Espa¸co (IAE), do CTA, em S˜ao Jos´e
dos Campos, SP (MORAES JR., 1998). Este sat´elite ser´a lan¸cado a uma ´orbita baixa
terrestre (LEO) de 300 km de altitude em ´orbita equatorial e aproximadamente ap´os
10 dias em ´orbita a espa¸conave ir´a realizar uma manobra de reentrada atmosf´erica
controlada. Ap´os a reentrada, o ve´ıculo dever´a ser recuperado para posterior reuti-
liza¸ao do seu odulo reentr´avel (SEITO et al., 2007). O SARA est´a sendo projetado
para fins de aplica¸oes cient´ıficas e ser´a constitu´ıdo por um ve´ıculo com uma carga
´util de 55 Kg contendo pequenos experimentos cient´ıficos e tecnol´ogicos. Alguns des-
tes experimentos poder˜ao necessitar ser atendidos ou servidos em ´orbita para serem
bem-sucedidos ao longo do tempo de dura¸ao da miss˜ao, isto ´e, poder˜ao precisar
de troca ou recarga de baterias, realoca¸ao de amostras qu´ımicas ou biol´ogicas, etc.
Para cumprir um requisito como este, o SARA (ve´ıculo perseguidor) dever´a incorpo-
rar dispositivos de acoplamento que ser˜ao utilizados por um outro segmento orbital
permanente (ve´ıculo alvo). Sendo assim, o perseguidor dever´a executar uma s´erie de
opera¸oes autˆonomas de RVD a fim de completar os objetivos da miss˜ao relacionados
`a manipula¸ao de experimentos descrita.
Ae o momento, para atender `as necessidades brasileiras em pesquisas sob ambiente
espacial de microgravidade, existem poucas op¸oes. Uma delas consiste em embarcar
amostras em estudo nos ve´ıculos de sondagem, ou seja, foguetes que executam um
oo sub-orbital com trajet´oria bal´ıstica que ao recuperados ap´os o oo. Contudo,
neste tipo de ve´ıculo, o tempo em que sua carga ´util ´e mantido sob as condi¸oes
de microgravidade ´e pequeno, da ordem de alguns minutos. Uma outra op¸ao seria
inserir as amostras cient´ıficas a bordo de um oo orbital tripulado, como no caso
dos ˆonibus espaciais (Space Shuttle) americanos ou as naves russas Soyuz. Por´em, o
tempo aximo que estas espa¸conaves podem ficar em ´orbita sem se acoplarem com a
Esta¸ao Espacial Internacional (ISS) fica em pouco mais de 10 dias, o que equivaleria
ao tempo de oo do SARA acoplado ao seu segmento orbital. Uma terceira op¸ao
seria ainda enviar estes experimentos para a ISS e aguardar seu retorno em uma
das naves de transporte citadas anteriormente. Todavia, tanto neste caso quanto no
anterior, seria necess´ario aguardar uma oportunidade de vˆoo para tais experimentos,
41
o que dependeria de agˆencias espaciais estrangeiras, treinar um astronauta para ma-
nipular as amostras, al´em do que o tempo de retorno para estas poderia chegar a at´e
seis meses, dependendo da periodicidade dos oos espaciais americanos e russos. Ou-
tra restri¸ao se fundamenta no tempo em que a ISS fica dispon´ıvel para a realiza¸ao
de experimentos cient´ıficos provenientes das agˆencias internacionais, pois em grande
parte do tempo sua tripula¸ao se dedica exclusivamente a tarefas de manuten¸ao,
constru¸ao e ajustes de ´orbita e atitude do grande complexo orbital. Dessa forma,
havendo uma oportunidade de embarcar estes experimentos cient´ıficos e tecnol´ogicos
atraes de ve´ıculo reentr´avel (SARA) para uma esp´ecie de mini-laborat´orio orbital
ao tripulado (segmento orbital), poderia atender a uma necessidade de tempo de
microgravidade ainda ao dispon´ıvel para este tipo de carga ´util. O segmento orbi-
tal do programa SARA poderia permanecer em ´orbita por um es ou pouco mais
com uma carga ´util em estudos embarcada, a qual retornaria ao solo trazida pelo
ve´ıculo perseguidor ap´os este tempo. Para isso, este segmento orbital dever´a pos-
suir gera¸ao de energia pr´opria, atrav´es de elulas solares instaladas em sua pr´opria
estrutura externa, por exemplo, al´em da possibilidade de receber manuten¸oes en-
quanto o SARA estiver acoplado a ele. Estas manuten¸oes incluiriam corre¸oes de
´orbita e atitude atraes dos propulsores do SARA, transferˆencia de energia, al´em
da possibilidade de uma transferˆencia de combust´ıvel para o ve´ıculo alvo, caso este
venha a ter seus pr´oprios propulsores para controle de ´orbita e atitude. Isso seria
poss´ıvel com a instala¸ao de uma linha hidr´aulica e um barramento el´etrico e de
dados comum entre ambos os ve´ıculos. Estes sistemas seriam conectados mecanica-
mente no momento do acoplamento. Mesmo com toda esta complexidade envolvendo
mecanismos de docking, manipuladores rob´oticos teleoperados para transferˆencia de
carga ´util, recarga de baterias, transferˆencia de combust´ıvel, entre outros sistemas, ´e
desej´avel que a maior parte desta complexidade fique presente no ve´ıculo SARA. O
segmento orbital, por n˜ao ser recuper´avel, deve incorporar os conceitos mais simples
poss´ıveis de constru¸ao, controle e opera¸ao, principalmente no que diz respeito aos
sistemas de RVD. Isso facilita sua manuten¸ao pelo ve´ıculo perseguidor, al´em de ba-
ratear os custos de projeto e opera¸ao. A grande vantagem do projeto SARA entre
os outros ve´ıculos espaciais que incorporam sistemas de RVD atualmente, se deve
principalmente ao fato de que toda a manuten¸ao de qualquer um dos subsistemas
do ve´ıculo perseguidor pode ser feita em solo ap´os sua recupera¸ao. Sendo assim,
o mesmo ve´ıculo pode ir ao espa¸co diversas vezes atendendo a arias necessidades
de carga ´util que podem ser totalmente recuperadas ap´os sua utiliza¸ao. A ado¸ao
desta filosofia passa a ser refletida nos baixos custos de manuten¸ao e opera¸ao dos
42
sistemas em uso no projeto.
Esta ser´a a primeira vez que o pa´ıs utilizar´a m´etodos e tecnologias de RVD, por-
tanto, dever˜ao ser realizadas miss˜oes de teste para qualificar os sistemas de RVD
em oo. Nestas miss˜oes, os ve´ıculos perseguidor e alvo dever˜ao ser lan¸cados juntos
e a acoplados e efetuar˜ao desacoplamentos e reacoplamentos sucessivos. Com isso,
ser´a poss´ıvel serem testadas manobras de aproxima¸ao, rendezvous, station keeping,
homing, phasing, manobras evasivas do tipo CAM (Collision Avoidance Maneuver),
acoplamento (docking), desacoplamento (un-docking), bem como diferentes estra-
t´egias de realiza¸ao destas manobras, al´em de testes de sensores, mecanismos e
subsistemas respons´aveis pelo RVD em oo. A metodologia de navega¸ao a ser im-
plementada nessas opera¸oes ser´a o chamado docking cooperativo. Por esta raz˜ao,
a miss˜ao necessitar´a de hardware e software apropriados localizados tanto na nave
alvo quanto na nave perseguidora. Dessa forma, o segmento orbital alvo e o sat´elite
SARA (perseguidor) possuir˜ao a capacidade de se comunicar entre si atrav´es de um
link de dados e trocar informa¸oes a respeito dos seus estados de oo atuais, garan-
tindo assim uma execu¸ao sincronizada das suas manobras de encontro, aproxima¸ao
e subseq
¨
uentemente acoplamento.
Figura 3.1 - Concep¸ao art´ıstica preliminar da plataforma orbital recuper´avel SARA.
Para realizar os procedimentos de RVD em ´orbita, a plataforma recuper´avel SARA
dever´a possuir, al´em de um motor de reentrada, propulsores para controle de ´orbita
e guiamento e propulsores para controlar a atitude do ve´ıculo. Portanto, existe a
real necessidade de controle em todos os seis graus de liberdade e disponibilidade de
arios propulsores posicionados em diferentes configura¸oes, se poss´ıvel com redun-
43
ancia nas diferentes dire¸oes de movimentos. Sendo assim, todas estas restri¸oes
foram consideradas durante as simula¸oes e para isso foi utilizado um modelo de
motor com 300 s de impulso espec´ıfico e 1000 N de empuxo. Tamem foi utilizado
como parˆametro para as simula¸oes uma massa de combust´ıvel equivalente a um
tanque com 20 Kg de propelente dedicado exclusivamente `as manobras orbitais de
RVD. Adicionalmente, foi inserida uma restri¸ao para que sempre houvesse dispon´ı-
vel no tanque uma quantidade reserva de 8 Kg de combust´ıvel, para que no caso de
uma aproxima¸ao perdida ou havendo a necessidade de acionamento de uma mano-
bra CAM, este excedente pudesse ser utilizado para iniciar uma nova aproxima¸ao
posteriormente. Em rela¸ao aos parˆametros de arrasto utilizados nos simuladores
dos ve´ıculos, al´em da massa do SARA, foi considerada uma massa de 100 Kg para
o segmento orbital alvo, al´em de um coeficiente de arrasto Cd = 2.2 e uma ´area de
arrasto de 1m
2
para ambos os ve´ıculos.
Apesar de terem sido utilizados nas simula¸oes os parˆametros citados acima, existem
ainda diversas defini¸oes a serem feitas em rela¸ao ao tipo de propelente, equipa-
mentos de hardware e inclusive no software da plataforma SARA. Partindo deste
princ´ıpio, este trabalho restringe este escopo e aborda as principais metodologias de
prepara¸ao para o desenvolvimento de um m´odulo de software de bordo do SARA, o
qual encontra-se atualmente nas fases de defini¸ao e simula¸ao. De fato, o trabalho
de implementa¸ao destes algoritmos que futuramente ser˜ao embarcados ao pode
ser realizado a menos que t´ecnicas precisas e confi´aveis de simula¸ao sejam estabe-
lecidas. Para tanto, foi utilizada uma ferramenta computacional bastante robusta e
confi´avel para este prop´osito. O Cap´ıtulo 4 ilustra a maneira que o cen´ario envol-
vendo os procedimentos de RVD entre o SARA e o ve´ıculo alvo foram modelados
e simulados. Tentou-se reproduzir computacionalmente o problema no contexto em
que no momento da aproxima¸ao e rendezvous, o ve´ıculo alvo ativa seu subsistema
de controle para entrar em modos de opera¸ao de RVD, mantendo sua atitude e
elementos orbitais dentro das especifica¸oes nominais. Concomitantemente, o perse-
guidor SARA tamb´em ajusta seus dados para realizar uma s´erie de manobras que
resultam em trajet´orias de vˆoo de aproxima¸ao ao alvo, tamb´em de acordo com espe-
cifica¸oes e estrat´egias de controle pr´e-estabelecidas. Tudo isso obviamente levando
em considera¸ao determinadas restri¸oes para que sejam evitadas colis˜oes ou outras
poss´ıveis falhas previstas.
44
4 AN
´
ALISE E MODELAGEM DO PROBLEMA
O problema de rendezvous e docking deve ser analisado subdividindo as opera¸oes
e procedimentos em diversas fases. Estas fases compreendem uma seq
¨
uˆencia de pas-
sos que ao realizados em sua grande maioria pelo ve´ıculo perseguidor, enquanto
o alvo mant´em-se orbitando em ´orbita circular, mantendo tamb´em uma atitude
pr´e-definida enquanto aguarda a chegada do perseguidor. A Figura 4.1 exemplifica
estas fases segundo o que foi utilizado pelo sat´elite experimental japonˆes ETS-VII
(OHKAMI; KAWANO, 2003).
´
E interessante notar que, em todas as fases, existe uma
t´ecnica espec´ıfica apropriada para utiliza¸ao na navega¸ao, guiagem e controle do
perseguidor. A utiliza¸ao destas t´ecnicas prevˆe uma determinada precis˜ao na de-
termina¸ao da posi¸ao orbital e da atitude de ambos os ve´ıculos, dependendo da
necessidade e principalmente da distˆancia do perseguidor em rela¸ao ao alvo. Al´em
disso, ainda existe uma metodologia de gerenciamento e opera¸ao associada a cada
uma destas etapas. Isso ´e importante pelo fato de que estas metodologias podem ser
traduzidas em t´ecnicas operacionais implementadas tanto nos softwares de bordo
dos ve´ıculos quanto nos procedimentos computacionais de solo.
Figura 4.1 - Fases dos procedimentos de RVD desde o lan¸camento at´e o acoplamento mos-
trando as tecnologias empregadas em cada uma destas etapas.
Fonte: Ohkami e Kawano (2003)
A figura demonstra que existe uma fase de transferˆencia orbital que o sat´elite perse-
guidor deve realizar para que atinja a ´orbita alvo. Nesta fase podem ser empregadas
45
t´ecnicas de navega¸ao que utilizam alculo de trajet´oria absoluta, ou seja, sem que
seja necess´aria uma referˆencia relativa para orienta¸ao do perseguidor, a que ´e ne-
cess´aria uma precis˜ao da ordem de 1 a 2 km aximos de erro de trajet´oria. No caso
da Figura 4.1, a t´ecnica de navega¸ao utilizada foi navega¸ao absoluta por GPS e
a metodologia de guiagem foi do tipo targeting lambert e controle do tipo Velocity
Increment Cut-of (VIC). A opera¸ao nesta fase normalmente ´e cooperativa com a
esta¸ao de solo.
a na fase de aproxima¸ao relativa, em que o perseguidor se encontra a uma distˆancia
de aproximadamente 50 km do alvo, passa a ser necess´aria uma t´ecnica de guiamento
baseada em um sistema relativo. Este sistema de referˆencia foi proposto inicialmente
por Clohessy e Wiltshire (1960) e possui o seu triedro de eixos centrado no centro de
massa do ve´ıculo alvo. Com isso, pode se fazer uma navega¸ao relativa visando uma
aproxima¸ao relativa entre os ve´ıculos. Nesta fase, al´em da opera¸ao dos sat´elites em
coopera¸ao com o solo, passa a ser necess´aria tamem uma linha de comunica¸ao
entre os ve´ıculos, para que possa haver troca de dados cooperativos entre eles.
Nas fases de aproxima¸ao final e docking (a partir de 10 m de distˆancia), passa a
ser necess´ario o uso de algum tipo de t´ecnica de radar, por exigir maior precis˜ao
no posicionamento relativo entre os ve´ıculos. A guiagem e controle ainda ´e feita
com base no equacionamento da dinˆamica de C-W (CLOHESSY; WILTSHIRE, 1960),
por´em, nesta fase adota-se uma trajet´oria de referˆencia para aproxima¸ao que leva
o perseguidor cautelosamente at´e o alvo, utilizando controle relativo em 6 graus de
liberdade. No que tange ao gerenciamento e procedimentos de opera¸ao desta fase,
al´em da mesma filosofia adotada para as fases anteriores ainda ´e previsto um tipo
de manobra evasiva ativada automaticamente a bordo. Esta manobra, denominada
Collision Avoidance Maneuver (CAM), ´e uma manobra de abortamento do processo
de acoplamento e tem como prop´osito exatamente evitar uma colis˜ao iminente entre
o perseguidor em trajet´oria de aproxima¸ao final e o ve´ıculo alvo. Estas duas fases,
bem como as t´ecnicas empregadas em cada uma delas ser˜ao analisadas ao longo
deste cap´ıtulo.
4.1 Manobras de Transferˆencia Orbital
Usualmente, a espa¸conave perseguidora ´e lan¸cada de forma que seu foguete lan¸cador
deixe-a em uma ´orbita coplanar `a ´orbita alvo, ou seja, o perseguidor deve estar
contido no plano orbital do alvo. Ap´os algumas manobras do ´ultimo est´agio do
46
lan¸cador, o ve´ıculo perseguidor atinje sua ´orbita inicial, circular, coplanar `a ´orbita
alvo, em uma altitude inferior a este. Para o caso do sat´elite SARA, foi escolhida
uma ´orbita 100 km abaixo da altitude da ´orbita alvo, que ´e de 300 km. A partir
deste ponto, ´e necess´aria a inser¸ao do perseguidor para uma ´orbita de transferˆencia
el´ıptica que termine na ´orbita alvo, momento em que ´e realizada uma manobra de
circulariza¸ao.
Todavia, existem duas estrat´egias principais para se efetuar este tipo de manobra
de transferˆencia orbital: uma delas ´e conhecida como “Transferˆencia de Hohmann”
e a outra ´e conhecida como “Transferˆencia apida”.
4.1.1 Transferˆencia de Hohmman
Na transferˆencia de Hohmann, o sat´elite perseguidor sai de sua ´orbita circular ini-
cial e entra em uma ´orbita de transferˆencia el´ıptica, cujo apogeu coincida com um
ponto da ´orbita alvo. Neste ponto, ´e feita a circulariza¸ao da ´orbita para que a
espa¸conave se estabilize em sua nova ´orbita, de maior altitude e tamb´em circular.
A Figura 4.2 descreve os dados referentes `as duas ´orbitas dos ve´ıculos do projeto
SARA e demonstra a trajet´oria percorrida pelo perseguidor na Transferˆencia de
Hohmann. Para este caso, foram adotados os seguintes valores: R
1
= 6578, 14 km,
R
2
= 6678, 14 km, ∆t = 15 horas (tempo de lan¸camento do ve´ıculo perseguidor ap´os
o alvo, para que chegue ao final da Transferˆencia de Hohmman com um x
=
1500
km, distˆancia de seguran¸ca do alvo suficiente para evitar eventuais colis˜oes).
Para calcular os incrementos de velocidade (∆V s) necess´arios para a Transferˆencia de
Hohmann, necessita-se saber a velocidade do sat´elite perseguidor em cada uma das
´orbitas circulares e tamb´em nos ´apices (apogeu e perigeu) da ´orbita de transferˆencia
el´ıptica. As velocidades orbitais nas ´orbitas inferiores e superiores ao dadas pela
Equa¸ao 4.1:
V
1
=
µ
R
1
= 7, 784km/s
V
2
=
µ
R
2
= 7, 726km/s
(4.1)
onde µ = 3, 986012 × 10
5
km
3
/s
2
´e a constante gravitacional da Terra.
O per´ıodo orbital pode ser calculado pela Equa¸ao 4.2:
47
Figura 4.2 - Transferˆencia de Hohmman executada pelo perseguidor para atingir a ´orbita
alvo.
T = 2π
a
3
µ
(4.2)
onde a ´e o semi-eixo maior da ´orbita. Como as ´orbitas inferior e superior ao cir-
culares, pode-se substituir R
1
e R
2
na Equa¸ao 4.2, resultando em: T
1
= 5309 s e
T
2
= 5431 s.
A energia da ´orbita de transferˆencia ´e dada pela Equa¸ao 4.3:
=
µ
R
1
+ R
2
= 30, 069km
2
/s
2
(4.3)
Para calcular as velocidades no apogeu e no perigeu da ´orbita de transferˆencia,
pode-se utilizar a conhecida Equa¸ao da Vis-Viva (HALE, 1994):
V =
2( +
µ
R
) (4.4)
Substituindo os valores de R
1
e R
2
na Equa¸ao 4.4, obt´em-se as velocidades deseja-
das: velocidade no perigeu V
R
1
= 7, 814 km/s e velocidade no apogeu V
R
2
= 7, 769
48
km/s.
Dessa forma, possui-se agora dados suficientes para calcular os V s:
V
1
= V
R
1
V
1
= 0, 0293km/s
V
2
= V
R
2
V
2
= 0, 029km/s
(4.5)
Observa-se na Equa¸ao 4.5 que o valor de V
2
´e negativo. Isso ocorre porque no
apogeu da ´orbita de transferˆencia, ´e necess´ario desacelerar a trajet´oria para que
se possa manter a espa¸conave perseguidora na ´orbita circular externa. Em outras
palavras, o impulso necess´ario para circularizar a ´orbita de transferˆencia (∆V
2
) ´e
maior que a velocidade do perseguidor no momento do apogeu (V
R
2
).
Portanto, para se obter o incremento total de velocidade necess´ario para se realizar a
Transferˆencia de Hohmann, ´e aconselh´avel primeiramente extrair o odulo de V
2
para depois som´a-lo ao V
1
:
V = V
1
+ |V
2
| = 0, 0585km/s (4.6)
4.1.2 Transferˆencia apida
Enquanto a Transferˆencia de Hohmann ´e a manobra de dois impulsos mais eficiente
para se utilizar neste tipo de situa¸ao, ela ´e tamem a mais lenta. Entre outros
fatores, o sat´elite ´e colocado para se mover por toda a extens˜ao da ´orbita de trans-
ferˆencia el´ıptica, incluindo a passagem pelo apogeu, local onde sua velocidade ´e
consideravelmente menor que na por¸ao da ´orbita mais pr´oxima ao perigeu (BATE
et al., 1971). Em algumas situa¸oes, ´e desej´avel reduzir o tempo de oo na ´orbita de
transferˆencia, e este pode ser o caso de uma situa¸ao de rendezvous, primeiramente
devido ao fato de que normalmente existem poucas oportunidades para se intercep-
tar o sat´elite alvo. Assim, os procedimentos de rendezvous devem ser completados
dentro desta janela de oportunidade. Existem ainda outras raz˜oes para se executar
uma transferˆencia orbital com tempo de oo menor, como por exemplo restri¸oes de
visibilidade por esta¸oes de solo. Isso ´e muito comum quando se deseja que a mano-
bra de transferˆencia ou ainda todo o processo de rendezvous seja executado durante
uma ´unica passagem dos ve´ıculos em aproxima¸ao sobre o cone de visibilidade da
antena de rastreio em solo. Este procedimento seria necess´ario caso as equipes de
49
apoio de solo desejassem monitorar todo o processo enquanto tivessem uma linha
de visada constante do seu radar em solo com um ou ambos os ve´ıculos durante as
manobras.
As principais diferen¸cas entre a Transferˆencia R´apida e a Transferˆencia de Hohmann
se devem ao fato de que na primeira, o V
1
, embora aplicado no mesmo ponto, possui
uma magnitude muito mais alta que o ∆V
1
aplicado na segunda. Este impulso maior
coloca o perseguidor em uma trajet´oria tamem mais longa, ou seja, o raio do apogeu
da ´orbita de transferˆencia ´e maior que o pr´oprio raio da ´orbita circular externa. No
entanto, passa a ser necess´ario que a trajet´oria de transferˆencia seja interrompida no
momento em que o ve´ıculo perseguidor atinge o raio final. Isto ser´a feito atraes de
um segundo impulso que ´e tamb´em maior que aquele realizado pela Transferˆencia
de Hohmann. Isso significa que na Transferˆencia apida, haver´a um consumo de
combust´ıvel maior que na anterior. A ilustra¸ao do perfil da Transferˆencia apida ´e
mostrada pela Figura 4.3.
Figura 4.3 - Transferˆencia apida executada pelo perseguidor para atingir a ´orbita alvo.
Para este caso, os valores continuam sendo os mesmos utilizados anteriormente, a
saber:
50
R
1
= 6578, 14km
R
2
= 6678, 14km
t = 15horas
V
i
= V
1
= 7, 784km/s
V
o
= V
2
= 7, 726km/s
(4.7)
O ∆V necess´ario para a Transferˆencia R´apida pode ser calculado partindo-se da Lei
dos Cossenos, dada pela Equa¸ao 4.9 (HALE, 1994):
V
2
=
V
2
o
+ V
2
t
2V
o
V
t
cos α (4.8)
onde V
o
´e a velocidade da ´orbita circular externa, V
t
´e a velocidade da ´orbita de
transferˆencia no ponto em que esta intercepta a ´orbita externa e α ´e o ˆangulo entre
V
o
e V
t
.
A trajet´oria de transferˆencia pode ser uma par´abola ou uma hip´erbole ao inv´es de
um elipse, por´em, a elipse ´e a escolha mais usual. Considerando que para este tipo
de manobra esteja-se utilizando uma elipse de transferˆencia com um semi-eixo-maior
duas vezes maior que aquele utilizado na Transferˆencia de Hohmann, cujo valor era
o mesmo do raio da ´orbita circular externa, 6678, 14 km, a energia da ´orbita de
transferˆencia pode ent˜ao ser calculada:
=
µ
2a
= 15, 034km
2
/s
2
(4.9)
onde a ´e o semi-eixo maior.
Pela equa¸ao da Vis-Viva, encontram-se as velocidades da ´orbita de transferˆencia
em R
1
e R
2
:
V
R
1
=
2( +
µ
R
1
) = 9, 546km/s
V
R
2
=
2( +
µ
R
2
) = 9, 450km/s
(4.10)
Como V
1
= 7, 784 km/s, V
1
pode ser calculado da mesma forma que na Transfe-
rˆencia de Hohmann:
51
V
1
= V
R
1
V
1
= 1, 761km/s (4.11)
Nota-se pela Equa¸ao 4.17 que o V
1
´e maior na Transferˆencia apida que na
Transferˆencia de Hohmann, a que na primeira a elipse de transferˆencia possui um
maior semi-eixo-maior e, conseq
¨
uentemente, uma energia espec´ıfica tamem maior
que na elipse de Hohmann (HALE, 1994).
Antes de se aplicar a Lei dos Cossenos para se determinar V
2
, ´e necess´ario conhe-
cer o ˆangulo α entre o vetor velocidade da espa¸conave na ´orbita de transferˆencia e
seu vetor velocidade ap´os esta ser transferida para sua ´orbita circular externa (Fi-
gura 4.3). Para isso, ser´a ´util aqui (e para o alculo do tempo de oo) obter-se a
excentricidade da elipse da Transferˆencia apida, bem como a anomalia verdadeira
do perseguidor na posi¸ao de intersec¸ao entre a trajet´oria de transferˆencia e a ´orbita
circular externa.
Como a se conhece o raio do perigeu e o semi-eixo-maior da elipse de transferˆencia,
pode-se ent˜ao encontrar sua excentricidade a partir da rela¸ao r
p
= a(1 e):
e = 1
r
p
a
= 0, 5038 (4.12)
O semi-latus-rectum p da elipse ´e obtido pela Equa¸ao 4.13:
p = a(1 e
2
) = 9892, 021km (4.13)
De posse dos elementos e e p, pode-se agora determinar a anomalia verdadeira em
R
2
:
ν
R
2
= cos
1
1
e
p
R
2
1

= 17, 196
(4.14)
Dessa forma, o ˆangulo α entre os vetores
V
2
e
V
t
´e:
α = tan
1
e sin ν
R
2
1 + e cos ν
R
2
= 5, 741
(4.15)
52
Portanto,
V
2
=
V
2
2
+ V
2
R
2
2V
2
V
R
2
cosα = 1, 859km/s (4.16)
O incremento total de velocidade ´e obtido enao pela Equa¸ao 4.17:
V = V
1
+ V
2
= 3, 621km/s (4.17)
4.1.3 Compara¸ao entre a Transferˆencia de Hohmann e a Transferˆencia
apida
Normalmente, a Transferˆencia apida consome mais de 50% em combust´ıvel que a
Transferˆencia de Hohmann para atingir o mesmo reslutado. Por´em, esta ´e tamb´em
quase duas vezes mais apida. Como a Transferˆencia de Hohmann se inicia no peri-
geu e termina no apogeu da ´orbita de transferˆencia el´ıptica, o tempo de oo (TV)
corresponde exatamente `a metade do per´ıodo da elipse. Utilizando a Equa¸ao 4.2,
pode-se determinar o TV:
T V = π
a
3
µ
= 2685s = 44, 75min (4.18)
Para se calcular o tempo de oo da Transferˆencia apida, primeiramente ´e preciso
saber a anomalia excˆentrica da ´orbita el´ıptica, obtida pela Equa¸ao 4.19:
E = cos
1
e + cos ν
1 + e cos ν
= 0, 173rad (4.19)
Aplicando este resultado na Equa¸ao de Kepler (BATE et al., 1971), encontra-se a
anomalia edia:
M = E e sin e = 0, 086rad (4.20)
Finalmente, utiliza-se a anomalia m´edia para calcular o tempo de oo atrav´es da
53
Equa¸ao 4.21:
T V = M
a
3
µ
= 208s
=
3, 5min (4.21)
Novamente, em compara¸ao com a Transferˆencia de Hohmann ( 45 min), esta
´ultima ´e muito mais apida. Isso ocorre porque o perseguidor percorre aproximada-
mente metade do caminho entre o perigeu e o apogeu da ´orbita de transferˆencia.
Neste local da ´orbita (pr´oximo ao perigeu) a velocidade ´e sempre maior. Al´em disso,
na Transferˆencia apida o ve´ıculo perseguidor ao passa pr´oximo ao apogeu da ´or-
bita de transferˆencia, o que acarretaria uma diminui¸ao significativa de velocidade
nessa regi˜ao.
4.2 An´alise das Equa¸oes de Clohessy-Wiltshire
A metodologia utilizada para o c´alculo de guiamento do ve´ıculo perseguidor durante
as manobras de rendezvous foram introduzidas por Clohessy e Wiltshire (1960) e
continuam sendo utilizadas at´e os dias atuais nas miss˜oes que disp˜oem da utiliza¸ao
deste tipo de procedimento. Como o projeto SARA se traduz na primeira tenta-
tiva brasileira em se realizar manobras de RVD, as estrat´egias e t´ecnicas para se
executar este tipo de manobra devem ser as mais simples poss´ıveis, tanto nos re-
quisitos de mecanismos, estruturas, sensores, propulsores, hardware e software de
bordo. Sendo assim, foi utilizado neste trabalho uma metodologia de modelagem da
dinˆamica de vˆoo dos ve´ıculos orbitais envolvendo a solu¸ao anal´ıtica das equa¸oes de
Clohessy-Wiltshire (C-W), tanto para as an´alises dos movimentos e especifica¸oes
de trajet´orias quanto para a defini¸ao da estrat´egia de controle.
Clohessy e Wiltshire (1960) definiram um sistema de eixos de referˆencia para utili-
za¸ao em RVD composto da seguinte forma: sua origem ´e centralizada no centro de
massa do ve´ıculo alvo para que todas as outras coordenadas sejam representadas em
rela¸ao a este ve´ıculo. Dessa forma, quando o ve´ıculo perseguidor estiver na origem
do sistema de referˆencia (ao passo de um determinado offset deste para que ao
hajam colis˜oes) ele ter´a efetivado a manobra de acoplamento. Este sistema de eixos
´e ilustrado pela Figura 4.4 e, al´em do seu centro estar contido no sat´elite alvo e
seu plano de referˆencia estar no plano do horizonte local deste ve´ıculo, seus eixos
possuem a seguinte orienta¸ao: eixo X na dire¸ao da velocidade orbital, por´em com
54
sentido oposto. Isso facilita o entendimento durante a aproxima¸ao do perseguidor
no sentido positivo de X. Esta forma de aproxima¸ao denominada “aproxima¸ao
pela V-Bar”´e bastante utilizada em miss˜oes espaciais devido ao fato de que, quando
a espa¸conave se aproxima do alvo pela “frente”, ou seja, na dire¸ao do vetor veloci-
dade do alvo (V-Bar), ela realiza “saltos” sucessivos na dire¸ao do alvo por meio do
seu levantamento orbital. Sendo assim, quando sua ´orbita aumenta, sua velocidade
orbital diminui, aumentando assim sua velocidade relativa em rela¸ao ao alvo (em
´orbita inferior, portanto mais r´apida). Isso faz com que o perseguidor se aproxime do
alvo sucessivamente com baixas velocidades relativas, exigindo tamem um consumo
menor de combust´ıvel. O eixo Y ´e orientado na dire¸ao radial, ou seja, na dire¸ao do
raio da Terra, perpendicular ao plano do horizonte e no sentido positivo do enite.
Esta abordagem tamb´em ´e ´util quando se deseja realizar uma aproxima¸ao ao alvo
atraes da R-Bar (vetor com origem no alvo, dire¸ao do raio da Terra e sentido para
o nadir). O eixo Z completa o sistema dextr´ogero, orientando-se perpendicularmente
ao plano da ´orbita alvo.
Figura 4.4 - Sistema de referˆencia centralizado no alvo, utilizado em movimento relativo.
Fonte: Adaptado de Clohessy e Wiltshire (1960)
55
A velocidade orbital do sat´elite alvo representado na Figura 4.4 pode ser obtida por:
V
alvo
=
µ
R
(4.22)
O sat´elite perseguidor move-se segundo a equa¸ao diferencial do Problema de Dois
Corpos, dada por:
¨
r(t) =
µ
r(t)
3
· r(t) (4.23)
A taxa orbital do sat´elite alvo ´e calculada pela Equa¸ao 4.24:
ω = ω
ˆz
(4.24)
onde ω =
µ
R
3
Da Figura 4.4, tem-se que:
r =
R + ρ (4.25)
Generalizando a Equa¸ao 4.23 para incluir um termo for¸cante (devido a propuls˜ao,
for¸cas aerodinˆamicas, influˆencia de um terceiro corpo, etc), obt´em-se:
¨
r(t) =
µ
r(t)
3
· r(t) +
f(t) (4.26)
Substituindo-se a Equa¸ao 4.25 na Equa¸ao 4.26:
¨
r(t) +
¨
ρ(t) =
µ
|r(t) + ρ(t)|
3
· [r(t) + ρ(t)] +
f(t) (4.27)
Considerando-se o denominador escalar da Equa¸ao 4.27 e omitindo-se a dependˆen-
cia do tempo para abreviar, tem-se:
56
|
R + ρ|
3
=
[
R + ρ] · [
R + ρ]
3/2
=
[
R ·
R] + 2[
R · ρ] + [ρ · ρ]
3/2
= (1/R
3
)
1 +
2[
R · ρ]
R
2
+
[ρ · ρ]
R
2

x
3/2
(4.28)
Do Teorema Binomial, tem-se que:
(1 + x)
ρ
= 1 + ρx +
ρ(ρ 1)
2!
x
2
+ · · · (4.29)
Portanto:
r
3
= R
3
1 +
2(
R·ρ)
R
2
+
(ρ·ρ)
R
2
3/2
= R
3
1
3
2
2(
R·ρ)
R
2
+
ρ·ρ
R
2
+ · · ·
(4.30)
Considerando que R ρ, a raz˜ao ρ/R 1. Dessa forma, pode-se aproximar a
Equa¸ao 4.30 para um modelo linear (CLIFF, 1998; CLOHESSY; WILTSHIRE, 1960):
r
3
= R
3
1
3[
R · ρ]
R
2
(4.31)
Para o lado esquerdo da Equa¸ao 4.27, pode-se utilizar a representa¸ao da acelera¸ao
inercial como (CLIFF, 1998):
¨
ρ
i
=
¨
ρ
r
+ 2(ω ×
˙
ρ
i
) + ω × (ω × ρ) +
˙
ω × ρ (4.32)
Combinando estes resultados, a Equa¸ao 4.27 se torna:
57
¨
ρ
i
+
¨
ρ
r
+ 2(ω ×
˙
ρ
i
) + ω × (ω × ρ) +
˙
ω × ρ = (4.33)
µ
R
3
r + ρ
3
R
2
(
R · ρ)
R
+
f
Como o sat´elite alvo se move em uma ´orbita Kepleriana, tem-se que
¨
R
i
=
µ
R
3
·
R.
Portanto, o modelo torna-se:
¨
ρ
r
+ 2ω ×
˙
ρ
r
+ ω × (ω × ρ) = (4.34)
µ
R
3
ρ
3
R
2
(
R · ρ)
R
+
f
Da Figura 4.4, pode-se deduzir que:
ω = ω
ˆ
k
(4.35)
R = R
ˆ
j
(4.36)
ρ = x
ˆ
i
+ y
ˆ
j
+ z
ˆ
k
(4.37)
Se ω
2
= µ/R
3
, enao µ = ω
2
R
3
.
Portanto, substituindo todos esses valores na equa¸ao linear vetorial (Equa¸ao 4.34),
o sistema passa a ser um sistema escalar:
¨x 2ω ˙y = f
x
¨y + 2ω ˙x 3ω
2
y = f
y
¨z + ω
2
z = f
z
(4.38)
4.2.1 Solu¸ao das Equa¸oes de Clohessy-Wiltshire
Para o caso em que f
x
= f
y
= f
z
= 0 (ausˆencia de impulsos), a Equa¸ao 4.38 possui
solu¸ao anal´ıtica (CLOHESSY; WILTSHIRE, 1960; KUGA et al., 2005). Nota-se tamb´em
58
pela Equa¸ao 4.38 que os movimentos em x e y ao acoplados e o movimento em
z ´e desacoplado dos demais. Isso significa que o deslocamento do perseguidor em z
ocorre em um plano inclinado que se situa fora do plano x-y, onde se encontra o
alvo. Dessa forma, sob o sistema de coordenadas do alvo, o perseguidor aparenta
descrever um movimento harmˆonico simples na dire¸ao z, o que explica o formato
da Equa¸ao 4.38 em z (CLOHESSY; WILTSHIRE, 1960). A solu¸ao para este tipo de
equa¸ao diferencial ´e bem conhecida na literatura (CLIFF, 1998) e se apresenta sob
a forma:
z(t) = z
0
cos(ωt) +
˙z
0
ω
sin(ωt) (4.39)
O restante das equa¸oes da Equa¸ao 4.38 devem ser analisadas como um sistema aco-
plado, e este ´e um dos casos em que a equa¸ao caracter´ıstica possui ra´ızes repetidas.
Cliff (1998) aponta esta solu¸ao como:
x(t) = x
0
+ 6y
0
[ωt sin(ωt)] +
˙x
0
ω
[4 sin(ωt) 3ωt] (4.40)
+
2 ˙y
0
ω
[1 cos(ωt)]
y(t) = y
0
[4 3 cos(ωt)]
2 ˙x
0
ω
[1 cos(ωt)] (4.41)
+
˙y
0
ω
sin(ωt)
onde x
0
, y
0
, z
0
, ˙x
0
, ˙y
0
, ˙z
0
ao respectivamente as distˆancias e velocidades relativas ini-
ciais do perseguidor no sistema de referˆencia do alvo.
4.3 Defini¸ao da Estrat´egia de Controle
O objetivo principal da modelagem do problema de rendezvous dentro desta abor-
dagem ´e encontrar as velocidades iniciais ˙x
0
, ˙y
0
e ˙z
0
do ve´ıculo perseguidor e um
tempo t, apropriadamente escolhido de forma tal que, no momento do rendezvous
possa ocorrer uma intercepta¸ao do sat´elite alvo nas coordenadas x = y = z = 0. Nos
instantes finais, ao aplicadas sucessivas retro-propuls˜oes para reduzir a velocidade
relativa do perseguidor em rela¸ao ao alvo.
Ignorando o movimento em z por enquanto, as equa¸oes para determina¸ao das
59
velocidades iniciais ser˜ao (CLOHESSY; WILTSHIRE, 1960):
˙x
0
ω
(t) =
x
0
sin(ωt) + y
0
[6ωt sin(ωt) 14(1 cos(ωt))]
3ωt sin(ωt) 8(1 cos(ωt))
(4.42)
˙y
0
ω
(t) =
2x
0
(1 cos(ωt)) + y
0
[4 sin(ωt) 3ωt cos(ωt)]
3ωt sin(ωt) 8(1 cos(ωt))
(4.43)
O valor de t ´e selecionado de forma que com uma corre¸ao razoavelmente pequena
em ˙z
0
(que assim como z
0
deve ser muito pequeno), z atinja 0 em um tempo menor
que t, assim o movimento pode ser estabilizado nesta dire¸ao impulsivamente ao
passo em que z tende a 0. A segunda restri¸ao para a escolha de t ser´a tal que a
velocidade de aproxima¸ao atinja uma edia aproximada de 30 m/s.
Na escolha de t, uma restri¸ao adicional deve ser levada em conta: o impulso total ne-
cess´ario para efetuar as manobras de corre¸ao e retro-propuls˜ao deve ser menor que
o propelente a bordo. Caso contr´ario, o computador rejeita este valor e seleciona um
t maior, que corresponda a uma velocidade de intercepta¸ao de aproximadamente 25
m/s e assim sucessivamente, at´e que se atinja um tempo t razo´avel. Isso demonstra
a necessidade de uma fase de planejamento de manobras a bordo do ve´ıculo per-
seguidor, antes que seja iniciada a seq
¨
uˆencia de rendezvous propriamente dita. Os
valores de ˙x
0
e ˙y
0
calculados ao checados periodicamente com os valores de ˙x e ˙y
(CLOHESSY; WILTSHIRE, 1960).
Possui-se agora dados suficientes para se determinar os parˆametros necess´arios para
as manobras de rendezvous. Reescrevendo a Equa¸ao 4.40 e a Equa¸ao 4.41:
x(t) = x
0
+ 6 [ωt sin(ωt)] y
0
+
4 sin(ωt)
ω
3t
˙x
0
(4.44)
+
2 [1 cos(ωt)]
ω
˙y
0
y(t) = [4 3 cos(ωt)] y
0
2 [1 cos(ωt)]
ω
˙x
0
(4.45)
+
sin(ωt)
ω
˙y
0
60
Derivando-se a Equa¸ao 4.44 e a Equa¸ao 4.45, obt´em-se:
˙x(t) = 6ω[1 cos(ωt)]y
0
+ [4 cos(ωt) 3] ˙x
0
+ 2 sin(ωt) ˙y
0
(4.46)
˙y(t) = 3ω sin(ωt)y
0
2 sin(ωt) ˙x
0
+ cos(ωt) ˙y
0
(4.47)
Dessa forma, para se determinar a velocidade de intercepta¸ao, basta utilizar a
Equa¸ao 4.42 e a Equa¸ao 4.43 para obter os componentes de velocidade iniciais da
trajet´oria e substitu´ı-los na Equa¸ao 4.46 e na Equa¸ao 4.47 respectivamente.
4.3.1 alculo do Impulso Total (V )
Nesta abordagem est´a sendo considerada uma manobra de rendezvous que utiliza
dois impulsos, um para a inje¸ao para a ´orbita alvo (∆V
1
) e um para a retropropuls˜ao
(∆V
2
) (CLOHESSY; WILTSHIRE, 1960; SPARROW; PRICE, 1968). O primeiro impulso ´e
constitu´ıdo pelo vetor diferen¸ca entre a velocidade inicial necess´aria (Equa¸ao 4.42,
Equa¸ao 4.43) para atingir a vizinhan¸ca do sat´elite alvo e a velocidade inicial atual
do sat´elite ca¸cador. Sparrow e Price (1968) descreveram uma forma para calcular este
impulso. Inicialmente, as posi¸oes do alvo e do perseguidor ao definidas no sistema
inercial em coordenadas polares, bem como sua correspondˆencia com o sistema de
referˆencia do alvo:
x = R(ω
a
σ
c
) y = r R
˙x = R(ω ˙σ
c
) ˙y = ˙r
¨x = R ¨σ
c
¨y = ¨r
(4.48)
onde: R ´e o raio do sat´elite alvo a partir do centro da Terra
ω
a
´e o ˆangulo entre R e o vetor x inercial (ω ´e a taxa orbital)
σ
c
´e o ˆangulo entre r e o vetor x inercial
Agora, define-se a magnitude do primeiro impulso em coordenadas polares:
V
1
=
[∆ (r
i
˙σ
c
i
)]
2
+ [∆ ( ˙r
i
)]
2
(4.49)
onde: r
i
´e o raio inicial do sat´elite perseguidor
σ
c
i
´e o ˆangulo entre r
i
e o vetor x inercial
61
(r
i
˙σ
c
i
) ´e a mudan¸ca da velocidade circunferencial do perseguidor
( ˙r
i
) ´e a mudan¸ca na velocidade radial do perseguidor
Ou ainda:
(r
i
˙σ
ci
) = r
i
( ˙σ
c
i
˙σ
c
i
)
( ˙r
i
) = ˙r
i
˙r
i
(4.50)
onde: ˙σ
ci
´e a taxa de varia¸ao de σ
ci
necess´aria para a manobra inicial
˙σ
ci
´e a velocidade angular inicial atual do perseguidor
˙r
i
´e a taxa de varia¸ao de r
i
necess´aria para a manobra inicial
˙r
i
´e a velocidade radial inicial atual do ca¸cador
Substituindo a Equa¸ao 4.48 na Equa¸ao 4.50:
(r
i
˙σ
ci
) = r
i

ω
˙x
0
R
ω
˙x
0
R

=
r
i
R
( ˙x
0
˙x
0
)
( ˙r
i
) = ˙y
0
˙y
0
(4.51)
onde: ˙x
0
e ˙y
0
ao obtidos pela Equa¸ao 4.42 e pela Equa¸ao 4.43 respectivamente
˙x
0
e ˙y
0
ao as velocidades iniciais atuais do perseguidor
Dessa forma, a equa¸ao do primeiro impulso se torna:
V
1
=

1 +
y
0
R
( ˙x
0
˙x
0
)
2
+ ( ˙y
0
˙y
0
)
2
(4.52)
Como a velocidade relativa entre o perseguidor e o alvo deve ser nula ao final do
rendezvous, o segundo impulso ´e simplesmente o vetor diferen¸ca entre a velocidade
nula desejada e a velocidade de intercepta¸ao:
V
2
=
[ ˙x(t)]
2
+ [ ˙y(t)]
2
(4.53)
onde ˙x(t) e ˙y(t) s˜ao obtidos pela Equa¸ao 4.46 e pela Equa¸ao 4.47, respectivamente.
Portanto, o impulso total pode ser agora calculado atrav´es da soma entre a Equa-
62
¸ao 4.52 e a Equa¸ao 4.53:
V = V
1
+ V
2
(4.54)
4.3.2 An´alise do Movimento em Z (Fora do Plano)
De posse do tempo t calculado para a manobra inicial, ´e necess´ario agora calcular
um tempo t
, tal que t
< t, para que o movimento em z se anule. Reescrevendo a
Equa¸ao 4.39 em fun¸ao de t
, tem-se:
z(t
) = cos(ωt
)z
0
+
sin(ωt
)
ω
˙z
0
(4.55)
Igualando a Equa¸ao 4.55 a zero, encontra-se o impulso necess´ario para cessar o
movimento em z:
˙z
0
ω
=
z
0
tan(ωt
)
(4.56)
Para anular as tendˆencias de movimento sobre o eixo z ´e necess´ario tamb´em que
o perseguidor atinja z(t
) = 0 com velocidade nula. Derivando a Equa¸ao 4.55 em
rela¸ao ao tempo, chega-se a:
˙z(t
) = sin(ωt)z
0
+ cos(ωt) ˙z
0
(4.57)
Dessa forma, para encontrar t
basta substituir a Equa¸ao 4.56 na Equa¸ao 4.57 e
resolver para a Equa¸ao 4.57 igual a zero.
Sendo assim, a Equa¸ao 4.52 deve receber mais um termo referente ao ∆V necess´ario
para anular o movimento inicial em z:
V
z
=
( ˙z
0
˙z
0
)
2
(4.58)
onde: ˙z
0
´e calculado pela Equa¸ao 4.56
˙z
0
´e a componente em z da velocidade inicial atual do sat´elite ca¸cador
63
O deslocamento aximo do perseguidor na dire¸ao z ´e dado por (CLOHESSY;
WILTSHIRE, 1960):
Z
max
=
z
2
0
+ ( ˙z
0
)
2
(4.59)
Este valor dever´a estar dentro dos parˆametros para que ao haja tendˆencias residuais
ou oscila¸oes em z. Clohessy e Wiltshire (1960) definem este parˆametro como uma
diferen¸ca axima de 2
entre os planos orbitais do ca¸cador e do alvo. A Figura 4.5
ilustra os parˆametros envolvidos no deslocamento na dire¸ao z entre os dois planos
orbitais. Para fazer a convers˜ao entre o deslocamento linear dado pela Equa¸ao 4.59
para o deslocamento angular, utiliza-se a Equa¸ao 4.60:
θ
max
=
Z
max
R
(4.60)
onde: Z
max
´e dado pela Equa¸ao 4.59
R ´e o raio orbital do sat´elite alvo
Figura 4.5 - Inclina¸ao entre os planos dos ve´ıculos perseguidor e alvo na dire¸ao do eixo-z.
Fonte: Adaptado de Clohessy e Wiltshire (1960)
4.3.3 etodo para Encontrar o Tempo de oo at´e o Alvo - Algoritmo
Corretor Diferencial
Nesta se¸ao ser´a explicado um etodo para se poder encontrar o parˆametro t, des-
crito nas se¸oes anteriores. Este parˆametro consiste no tempo de oo do perseguidor
64
at´e o momento em que este intercepta o alvo. Este m´etodo funciona da seguinte
forma: dada uma fun¸ao F , em que y = F (t), deve-se encontrar valores de t que
satisfa¸cam um valor determinado de y (resultado). Os algoritmos existentes tipi-
camente atribuem valores para t, avaliam F para encontrar y e ao ajustando t
iterativamente at´e y convergir para o valor desejado. Existem diversos algoritmos
para solucionar este tipo de problema. Ser´a analisado aqui o algoritmo denominado
Corretor Diferencial (ANALYTICAL GRAPHICS, INC. (AGI), 2009). Este mesmo algo-
ritmo encontra-se implementado no odulo Astrogator da suite de aplicativos de
software STK (ANALYTICAL GRAPHICS, INC. (AGI), 2008) e, al´em de ter sido utili-
zado em conjunto com a simula¸ao executada neste trabalho, foi ainda implementado
na simula¸ao do software de bordo do ve´ıculo SARA apresentado aqui.
O Corretor Diferencial (CD) funciona da seguinte forma: dado um conjunto espe-
c´ıfico de resultados desejados, as condi¸oes iniciais e vari´aveis intermedi´arias dos
controles ao perturbadas para satisfazer estes resultados. Este ´e um mecanismo
bastante robusto utilizado pelo odulo STK/Astrogator para lidar com condi¸oes
de igualdade. O CD trabalha expressando o problema alvo em termos de uma ex-
pans˜ao em pseudo-s´eries de Taylor dos resultados G em fun¸ao das vari´aveis v. O
problema em quest˜ao pode ser representado pela express˜ao:
G
1
(v
1
) =
G(r, v, t)
= G
0
+
n=1
1
n!
d
n
G
dv
n
|
v=v
0
(v
1
v
0
)
n
(4.61)
onde o termo entre colchetes ´e a expans˜ao em erie de Taylor dos resultados G(v)
expandidos em termos de v.
Como ao existe uma express˜ao anal´ıtica para a solu¸ao de G, uma abordagem
alternativa ´e truncar a expans˜ao em erie de Taylor em um ponto conveniente e
avaliar numericamente a equa¸ao resultante. Dessa forma, truncando a Equa¸ao 4.61
no primeiro derivativo, resta a seguinte equa¸ao:
G
1
(v
1
) G
0
+
dG
dv
(v
1
v
0
) (4.62)
A Equa¸ao 4.62 pode ser re-arranjada para:
65
G
1
=
dG
dv
=
G
1
G
0
v
1
v
0
v
1
v
0
+
G
T
G
0
G
1
= v
0
+ (G
T
G
0
)[G
1
]
1
(4.63)
onde: G
T
´e o resultado desejado
v
0
´e o valor inicial da vari´avel de controle
v
1
´e o valor aproximado do controle que satisfaz G
T
Para encontrar esta aproxima¸ao, ´e necess´ario perturbar cada vari´avel em certa
quantidade v e medir a altera¸ao resultante sobre cada objetivo G.
Pelo Teorema Fundamental do alculo:
G
1
=
dG
dv
= lim
v0
G(v + v) G(v)
v
(4.64)
Em suma, dado um valor inicial de v, o CD perturba este valor e o utiliza na
Equa¸ao 4.64 para determinar G
1
. Depopis, G
1
´e utilizado na Equa¸ao 4.63 para de-
terminar uma nova estimativa da vari´avel v. Este processo ´e repetido iterativamente
at´e que o valor de G
1
(v
1
) caia dentro da tolerˆancia de G definida pelo usu´ario.
4.3.4 alculo do Consumo de Combust´ıvel
Utilizando um modelo de motor com empuxo e impulso espec´ıfico constantes, a
velocidade de exaust˜ao dos gases que saem deste motor pode ser calculada pela
Equa¸ao 4.65:
V
e
= Isp · g (4.65)
onde: Isp ´e o impulso espec´ıfico (impulso por unidade de propelente) em segundos
g ´e a acelera¸ao da gravidade na superf´ıcie da Terra
Utilizando-se a chamada Equa¸ao do Foguete (Equa¸ao 4.66):
66
V = V
e
ln
m
i
m
f
(4.66)
onde: m
i
= massa inicial total do ve´ıculo (incluindo o propelente)
m
f
= massa final total do ve´ıculo
A Equa¸ao 4.66 ´e equivalente a:
m
i
m
f
= e
V
V
e
(4.67)
Dado que m
f
= m
i
m e resolvendo para m, chega-se `a express˜ao da varia¸ao
de massa do ve´ıculo:
m = m
i
1 e
V
V
e
(4.68)
Dessa forma, dado um valor constante de Isp, proveniente das caracter´ısticas de
projeto do ve´ıculo, e conhecendo sua massa inicial, basta utilizar a Equa¸ao 4.68
para saber o combust´ıvel necess´ario para executar aquela determinada manobra
(∆V ) (SUTTON; BIBLARZ, 2001).
Com base nas equa¸oes acima, pode-se tamb´em determinar ainda a taxa de varia¸ao
de massa do motor, atraes da equa¸ao:
˙m =
m
t
=
T
V
e
(4.69)
onde: m ´e calculado pela Equa¸ao 4.68
T ´e o empuxo constante do propulsor
V
e
´e a velocidade de exaust˜ao dos gases (calculada pela Equa¸ao 4.65)
Al´em disso, a partir da Equa¸ao 4.69, pode-se ainda calcular o tempo de abertura
da alvula do propulsor para a manobra da Equa¸ao 4.68, ou seja:
67
t =
m
˙m
(4.70)
68
5 SIMULA ¸C
˜
OES E RESULTADOS
O problema conforme foi modelado no Cap´ıtulo 4 foi simulado em ambiente compu-
tacional utilizando-se diversas ferramentas de software integradas, com a finalidade
de se obter uma representa¸ao o mais fiel poss´ıvel dos sistemas reais. A necessidade
de simular computacionalmente o comportamento de sistemas f´ısicos reais antes de
se implementar tarefas associadas ao desenvolvimento de projetos ´e extremamente
importante e atualmente ´e considerada imprescind´ıvel. Neste sentido, o acil acesso
a equipamentos de computa¸ao sempre desempenha um papel fundamental na si-
mula¸ao de sistemas de tempo real. Os constantes avan¸cos em tecnologias baseadas
em computa¸ao, antes vistas como sistemas isolados, podem agora se interconectar
para formar um complexo “sistema de sistemas” (MC FARLANE, 2004). Nessa refe-
rˆencia, o autor explica que a simula¸ao ao substitui as necessidades fundamentais
de atividades reais de treinamento, por´em, ela permite ao projetista de sistemas se
concentrar em avalia¸oes de verifica¸ao e valida¸ao conferindo alto valor de confi-
abilidade ao sistema real, implementando atividades preparat´orias que podem ser
fielmente representadas em ambientes virtuais. Para tanto, um modelo computacio-
nal deve ser definido para representar as entidades simuladas dentro desse ambiente.
No contexto deste trabalho, esses modelos se referem `as arquiteturas de computador
que representam a dinˆamica de um sistema espacial em ´orbita. Para cumprir deter-
minados requisitos, pode ser necess´ario a utiliza¸ao de um cluster de computadores,
conforme mostrado pela Figura 5.2. Estas arquiteturas de computador ao comu-
mente utilizadas em laborat´orios de integra¸ao e testes de sat´elites (DA FONSECA;
SANTOS, 2000). As simula¸oes computacionais associadas ao processos de repro-
du¸ao do comportamento de certos tipos de sistemas f´ısicos (sistemas espaciais por
exemplo) aproximados por modelos matem´aticos.
Neste contexto, a tecnologia de simula¸ao paralela e distribu´ıda possibilita execu-
tar rotinas de simula¸ao computacional em sistemas de computadores paralelos e
distribu´ıdos, isto ´e, sistemas compostos de m´ultiplos computadores interconecta-
dos. Fujimoto (2000) comenta que os quatro benef´ıcios prim´arios de se executar um
programa de simula¸ao utilizando m´ultiplos computadores ao: tempo de execu¸ao
reduzido, distribui¸ao geogr´afica de aquinas e usu´arios, simuladores integrados que
podem ser executados em aquinas de diferentes fabricantes e tolerˆancia a falhas.
69
5.1 Implementa¸ao do Ambiente de Simula¸ao Distribu´ıdo
O cen´ario descrito no Cap´ıtulo 3 corresponde exatamente aos prop´ositos de simu-
la¸ao em tempo real, paralela e distribu´ıdas introduzidos aqui. O presente traba-
lho pretendeu modelar via computador alguns dos componentes necess´arios para as
opera¸oes de RVD inserindo-os em uma arquitetura de software com dois ambien-
tes principais de simula¸ao. Sendo assim, partiu-se dos pr´e-requisitos de projeto de
software definidos para o sistema real a ser implementado no sat´elite SARA. Al´em
disso, foi feita a defini¸ao de uma arquitetura virtual distribu´ıda que permitisse uma
representa¸ao do cen´ario de oo dos dois ve´ıculos simultaneamente. Dessa forma, foi
poss´ıvel simular este cen´ario em um ambiente computacional distribu´ıdo.
As metodologias empregadas em simula¸ao paralela e distribu´ıda atualmente ofere-
cem uma arquitetura comum para as entidades simuladas (simuladores), capazes de
representar computacionalmente cen´arios reais complexos e dinˆamicos sob ambien-
tes distribu´ıdos. A Figura 5.1 ilustra o modo como a simula¸ao distribu´ıda agrega
diversas outras simula¸oes desenvolvidas independentemente e fornece meios para
combin´a-las de forma a se obter um melhor desempenho aliado a um baixo custo
(computacional e f´ısico), sendo poss´ıvel assim criar um cen´ario de simula¸ao maior
e mais real´ıstico.
Figura 5.1 - Necessidade de se combinar diversas simula¸oes menores em outras maiores e
adapt´aveis.
Fonte: MC FARLANE (2004)
70
Os cen´arios de simula¸ao foram implementados utilizando-se uma arquitetura de
software desenvolvida em um ambiente virtual distribu´ıdo de simulao integrada.
Este ambiente computacional constitui-se em uma suite de aplicativos de software
desenvolvida pela empresa Analytical Graphics, Inc. (AGI) denominada Satellite
Tool Kit (ANALYTICAL GRAPHICS, INC. (AGI), 2010). A vers˜ao utilizada para simu-
lar as situa¸oes levantadas neste trabalho foi o STK v9.1, juntamente com o odulo
de an´alise espec´ıfica Astrogator. O Astrogator ´e um odulo especializado para pla-
nejamento interativo de trajet´orias e manobras orbitais de ve´ıculos espaciais. Este
odulo suporta uma s´erie ilimitada de eventos para modelagem e desenvolvimento
da trajet´oria de uma espa¸conave, incluindo a simula¸ao de manobras de impulso
finito e impulsivo, propagadores de ´orbita de alta precis˜ao e fidelidade que fornecem
modelos customizados de for¸cas perturbativas, modelos de motores e controle de ati-
tude, aem da habilidade de oferecer suporte `a resolu¸ao e otimiza¸ao de parˆametros.
Este odulo trabalha atraes de uma interface na qual ´e definida uma seq
¨
uˆencia de
controle de miss˜ao. Esta seq
¨
uˆencia ´e formada por segmentos que fornecem caracter´ıs-
ticas espec´ıficas da trajet´oria do ve´ıculo, como lan¸camento, manobras, propaga¸ao
no tempo, etc. Estes segmentos ao totalmente configur´aveis e podem ser salvos
juntamente com os cen´arios do STK e editados posteriormente conforme a miss˜ao
prossegue. Durante as opera¸oes de oo, o usu´ario pode refinar o planejamento das
manobras atrav´es dos dados gerados em oo simulado e ajustar os parˆametros do
ve´ıculo e da trajet´oria, como calibra¸ao do motor ou defini¸ao da ´orbita inicial, para
gerar uma nova seq
¨
uˆencia de acionamento dos propulsores em certos per´ıodos de
tempo visando a gera¸ao de comandos de controle. Tudo isso gera tamb´em uma
sa´ıda visual, atraes da representa¸ao em 3-D da miss˜ao espacial, que pode simular
desde ´orbitas baixas terrestres (LEO) at´e trajet´orias interplanet´arias.
A Figura 5.2 ilustra o cen´ario geral de comunica¸ao entre o SARA (perseguidor) e
o ve´ıculo alvo no momento das opera¸oes de RVD.
O procedimento representado na figura adota uma pol´ıtica de tempo quase-real, pois
as rotinas que ao executadas no ambiente de controle e monitoramento possuem
total controle sobre os parˆametros temporais do ambiente STK. Dessa forma, pode-
se fazer com que o tempo passe a cada intervalo pr´e-definido e todos os algoritmos
envolvidos no procedimento ao executados neste exato instante de tempo, at´e que
todos os resultados esperados apare¸cam e o ambiente de controle possa ent˜ao infor-
mar ao ambiente virtual que atualize o seu instante de tempo para uma unidade
71
Figura 5.2 - Cen´ario de simula¸ao indicando o fluxo de dados entre os ve´ıculos executando
as manobras de RVD.
temporal acima.
5.2 Implementa¸ao dos Algoritmos Embarcados no Ambiente de Simu-
la¸ao
As rotinas implementadas no ambiente de controle e monitoramento foram desenvol-
vidas utilizando-se a plataforma MATLAB da Mathworks (MATHWORKS, 2009). A
op¸ao por se utilizar uma ferramenta usual de engenharia neste caso se deu pela sua
facilidade de implementa¸ao dos procedimentos envolvidos na ogica de controle de
RVD presentes em cada ve´ıculo. Al´em disso, esta ferramenta proporciona um meio
comum de comunica¸ao com o ambiente STK, que funciona carregando bibliote-
cas espec´ıficas pr´e-desenvolvidas que instanciam m´etodos de passagem de comandos
STK utilizando o plugin Connect da AGI.
A simula¸ao da l´ogica embarcada no ve´ıculo alvo ´e respons´avel por adquirir os dados
de status do simulador do alvo e envi´a-los ao perseguidor. Este processo simula
uma comunica¸ao via datalink espacial, absolutamente necess´aria em opera¸oes de
RVD cooperativas. Al´em disso, esta rotina (ou thread) tamb´em ´e respons´avel por
manter o controle de atitude do ve´ıculo alvo dentro das especifica¸oes para que o
acoplamento ocorra sem maiores riscos. Estes dados de atitude, bem como outros
parˆametros orbitais do alvo tamem ao enviados ao ve´ıculo perseguidor a fim de
que este ´ultimo possa tomar providˆencias quando algum desses parˆametros divergir
72
acima da tolerˆancia especificada. A providˆencia mais cr´ıtica ocorre no momento da
aproxima¸ao final (abaixo de 10 m de distˆancia do alvo), quando algum parˆametro
sai das especifica¸oes e uma manobra do tipo CAM (Collision Avoidance Maneuver)
deve ser acionada para se evitar uma colis˜ao iminente. Os procedimentos do ve´ıculo
alvo encontram-se ilustrados pelo diagrama de atividades da Figura 5.3
Figura 5.3 - Procedimentos principais da ogica embarcada no ve´ıculo alvo.
A simula¸ao da ogica embarcada no ve´ıculo perseguidor concentra as rotinas mais
complexas do procedimento, em raz˜ao da maior parte do processamento ser reali-
zado neste ve´ıculo. Estas rotinas ao respons´aveis pela execu¸ao do planejamento
das manobras de rendezvous a bordo, alculo do combust´ıvel a ser utilizado pelas
manobras, al´em de prover guiagem e controle autˆonomos. Esta rotina recebe o status
do ve´ıculo alvo e compara com o seu vetor de estados atuais. Caso haja divergˆencia
nos valores, significa que houve algum problema com o datalink ou ent˜ao com um
dos computadores de bordo. Nas simula¸oes realizadas, levou-se em considera¸ao o
fato de que em nenhum dos cen´arios simulados haviam restri¸oes de comunica¸ao
neste datalink. Portanto, caso os dados recebidos estiverem coerentes, o perseguidor
realiza os alculos internos baseados nas equa¸oes do movimento relativo descritas na
Se¸ao 4.2 e calcula as velocidades iniciais necess´arias para lev´a-lo at´e a intercepta¸ao
com o alvo. Estas rotinas calculam tamb´em as velocidades finais de intercepta¸ao e
fazem uma compara¸ao entre estes resultados. Caso estejam acima de uma tolerˆancia
pr´e-definida, comandos de controle ao gerados e enviados ao simulador do ve´ıculo
73
sendo executado no ambiente virtual. Estes comandos de controle tamem ocorrem
compulsoriamente na fase de retropropuls˜ao e acoplamento, reduzindo a velocidade
relativa do perseguidor em rela¸ao ao alvo. Estes procedimentos ao ilustrados pelo
diagrama de atividades da Figura 5.4.
Figura 5.4 - Procedimentos principais da ogica embarcada no ve´ıculo perseguidor.
A simula¸ao do controle de atitude do ve´ıculo perseguidor ocorre da seguinte forma:
durante as fases de transferˆencia orbital e aproxima¸ao inicial, o simulador utiliza os
parˆametros de modelagem de atitude integrados ao odulo STK/Astrogator para
que o ve´ıculo direcione seus propulsores principais (de maior empuxo) na dire¸ao do
74
vetor velocidade da manobra. Abaixo de 50 m de distˆancia do alvo, o software de
bordo do ve´ıculo perseguidor ativa seu modo de controle de atitude, cujo objetivo ´e
receber os dados de atitude do alvo (parˆametros de posi¸ao e velocidades angulares
fixos no sistema de referˆencia inercial) e ajustar os seus pr´oprios parˆametros para
que se auto-sincronizem com os dados de atitude do alvo. A partir deste momento,
o perseguidor tamb´em passar´a a manter seus movimentos de atitude modelados de
forma fixa no sistema inercial. Para isso, o ve´ıculo ir´a chavear seu controle de ma-
nobras para seus propulsores de menor empuxo, exclusivos para controle de atitude,
retro-propuls˜ao e guiamento de baixo ganho.
Tanto as rotinas embarcadas no ve´ıculo alvo quanto no perseguidor tamb´em enviam
seus status e modos de opera¸ao para o procedimento de solo afim de que este rea-
lize as tarefas de monitoramento. Al´em disso, este procedimento ´e respons´avel por
enviar os “telecomandos” aos ve´ıculos de forma que estes possam realizar determi-
nadas oes com base naquilo que for comandado pelo usu´ario operador no solo.
Este procedimento simulador de uma esta¸ao terrena tamem ´e utilizado nesta ar-
quitetura como uma interface entre o operador e o ambiente remoto de simula¸ao.
Atrav´es destas rotinas de interface, o usu´ario pode ter o controle total dos elementos
de simula¸ao, podendo a qualquer momento iniciar, pausar ou reiniciar o cen´ario,
por exemplo. A Figura 5.5 ilustra estes procedimentos executados em solo.
Figura 5.5 - Procedimentos principais da ogica embarcada na esta¸ao de solo.
De maneira geral, a seq
¨
uˆencia de simulao representada na Figura 5.2 ´e executada
75
da seguinte forma:
a) O ambiente virtual distribu´ıdo ´e iniciado e o cen´ario espec´ıfico de
simula¸ao ´e carregado;
b) Inicia-se a execu¸ao do cen´ario dentro do ambiente STK para que o
ve´ıculo perseguidor possa se posicionar adequadamente para o in´ıcio do
rendezvous, ou seja, realizar o lan¸camento, inje¸ao em ´orbita, ´orbita
inicial, transferˆencia orbital, circulariza¸ao para a ´orbita alvo e entrar na
posi¸ao estacion´aria a 200 km do alvo, aguardando o in´ıcio do
rendezvous. Durante esta fase, os procedimentos de RVD embarcados em
ambos os ve´ıculos ainda encontram-se desligados. a o procedimento de
solo a pode ser inicializado para acompanhar o reporte dos modos de
opera¸ao que est˜ao sendo acionados pelo perseguidor, bem como realizar
o monitoramento do status dos dois ve´ıculos;
c) Uma vez que o ve´ıculo perseguidor encontra-se no ponto estacion´ario a
200 km do alvo, o software de bordo do alvo ´e iniciado e a come¸ca a
enviar seus dados de status para o perseguidor. Esta etapa simula o in´ıcio
do funcionamento do datalink espacial entre os ve´ıculos em ´orbita;
d) Assim que o software embarcado no perseguidor detecta o funcionamento
do datalink, ele ´e iniciado, realiza alguns testes e checagens, entra em
modo de opera¸ao assistido e inicia a execu¸ao do planejamento das
manobras;
e) Ao final do planejamento de rendezvous, ´e informado ao usu´ario atrav´es
da interface de solo que o perseguidor est´a pronto para iniciar o
procedimento. Ele mostra na tela o resultado da fase de planejamento,
indica os V s que ser˜ao comandados aos seus propulsores e pede a
confirma¸ao do usu´ario;
f) Quando as rotinas a bordo do perseguidor recebem a confirma¸ao para
in´ıcio das manobras, ao iniciadas sucessivas comunica¸oes com a
simula¸ao em execu¸ao no STK e o algoritmo representado pela
Figura 5.4 passa a ser executado at´e que uma das duas situa¸oes ocorra:
uma manobra CAM seja ativada pelo sistema de controle do perseguidor
ou proveniente da esta¸ao de solo aborte o processo ou ent˜ao o
acoplamento (docking) se confirme. Esta confirma¸ao ocorre quando o
76
perseguidor est´a a menos de 2 m do alvo a uma velocidade de
aproxima¸ao menor ou igual a 0, 6 m/s. Durante toda esta fase, ´e poss´ıvel
acompanhar visualmente a evolu¸ao e execu¸ao da simula¸ao em 3-D pelo
ambiente STK.
Os algoritmos inerentes `as entidades representadas neste cen´ario conseguem dessa
forma serem capazes de prover guiagem, navega¸ao e controle autˆonomos, al´em de
permitirem a comunica¸ao entre os dois ve´ıculos e com o solo durante a aproxi-
ma¸ao simulada. Dessa maneira, os resultados dessa simula¸ao poder˜ao contribuir
para o desenvolvimento de um prot´otipo do software embarcado a ser implemen-
tado nos subsistemas de bordo respons´aveis pela execu¸ao das manobras de RVD
da plataforma orbital recuper´avel SARA.
A arquitetura de simula¸ao distribu´ıda adotada aqui possui diversas vantagens como
o fato de ao ser complicada de ser instalada sobre uma infraestrutura a existente,
exigindo somente uma rede de dados que comporte a largura de banda e latˆencia
necess´arias. Se a simula¸ao puder ser executada efetivamente sobre este ambiente
virtual, se tornaa mais simples transportar o sistema validado para uma plataforma
real de testes incluindo sistemas operacionais de tempo real com suporte a aplica-
¸oes paralelas e distribu´ıdas executando em ambiente de mem´oria compartilhada,
modelos f´ısicos de sensores e atuadores com liga¸oes suscet´ıveis a ru´ıdos (hardware-
in-the-loop, al´em de outras caracter´ısticas inerentes a sistemas f´ısicos de engenharia.
Dessa forma, restaria apenas ap´os a verifica¸ao dos algoritmos em simuladores f´ısicos
a realiza¸ao do embarque de toda a ogica desenvolvida e testada para um conjunto
de hardware micro-controlador. Neste sistema f´ısico residiriam as aplica¸oes futuras
do AOCS dos ve´ıculos do Projeto SARA, gerenciados pelos seus computadores e
sistemas de bordo.
5.3 Cen´arios de Simula¸ao
O primeiro fator a ser levantado no momento da an´alise do problema de rendezvous
simulado neste trabalho, foi a respeito da escolha de qual manobra de transferˆencia
orbital executar. Como demonstrado pela Se¸ao 4.1, a Transferˆencia de Hohmann
consome menos combust´ıvel, por´em ´e muito mais lenta que a Transferˆencia apida.
Acima de tudo, neste cen´ario haviam as restri¸oes de visibilidade da esta¸ao de
rastreio de sat´elites. Este fato foi levado em considera¸ao para os dois cen´arios de
simula¸ao de transferˆencias orbitais e os resultados ao apresentados na Se¸ao 5.4.
77
Para se testar os algoritmos apresentados na Se¸ao 5.2 foram desenvolvidos trˆes
cen´arios de simula¸ao dentro do ambiente distribu´ıdo. Estes cen´arios bem como
suas caracter´ısticas ao descritos a seguir.
5.3.1 Cen´ario Completo de Referˆencia - Implementado via
STK/Astrogator
O primeiro cen´ario foi simulado sem o apoio do ambiente de controle e moni-
toramento, ou seja, foi executado somente pelo ambiente virtual implementado
dentro do STK/Astrogator. Neste cen´ario, foram simulados todos os segmen-
tos da trajet´oria dos ve´ıculos desde a ´orbita inicial do perseguidor at´e o aco-
plamento. Neste caso foram inclu´ıdos diversos pontos estacion´arios sobre a ´or-
bita alvo a fim de se estabelecer um crit´erio de seguran¸ca para as distˆancias
relativas durante a fase de aproxima¸ao do perseguidor. Estes pontos estacio-
arios foram estabelecidos obedecendo `as seguintes distˆancias relativas do alvo:
1200km, 500km, 400km, 200km, 50km, 10km, 2km, 600m, 150m, 50m, 10m. Ap´os o
ponto em 10 m o perseguidor realiza uma ´ultima manobra para uma dist˜ancia de
2 m do alvo. Neste ponto o mecanismo de acoplamento instalado no perseguidor a
poder´a ser ativado, trazendo o ve´ıculo alvo para sua porta de docking. Os pontos
estacion´arios est˜ao representados pelas ´orbitas amarelas circulares da Figura 5.6.
O tempo que o perseguidor permanecia sobre cada ponto estacion´ario era determi-
nado de acordo com as passagens sobre a esta¸ao terrena de rastreio de sat´elites do
INPE em Alcˆantara, MA. Dessa forma, quando as condi¸oes permitiam, o sat´elite
SARA somente iniciava a manobra de salto ap´os estar completamente vis´ıvel pela
esta¸ao de Alcˆantara. Isso facilita o monitoramento das manobras e foi implemen-
tado pois o STK realiza estes alculos muito rapidamente e com muita eficiˆencia. O
tempo total de oo do perseguidor, desde sua ´orbita inicial at´e o acoplamento foi de
aproximadamente 2 dias e 5 horas.
Este cen´ario foi desenvolvido tamb´em utilizando-se segmentos do tipo Targeter den-
tro da seq
¨
uˆencia de controle de miss˜ao do Astrogator. Em compara¸ao com uma si-
tua¸ao real, de posse dos dados orbitais das espa¸conaves em procedimento de RVD,
esta simula¸ao poderia ocorrer nas instala¸oes de solo, a que ´e onde se encontra
instalada a maior parte dos recursos computacionais mais sofisticados, capazes de
gerar resultados precisos atrav´es de modelos matem´aticos, exatamente o que faz o
software STK/Astrogator. Com isso, seria poss´ıvel se ter um planejamento de ma-
nobras bastante confi´avel. Este cen´ario tamem foi utilizado como um cen´ario de
78
Figura 5.6 - Perfil de aproxima¸ao e acoplamento do ve´ıculo perseguidor com o alvo simu-
lado no ambiente STK.
referˆencia te´orica para os outros dois, j´a que esta era a forma mais precisa dispon´ıvel
para uma modelagem robusta que gerou como sa´ıda uma trajet´oria de referˆencia de
boa qualidade para alimentar os modelos de guiagem e navega¸ao.
5.3.2 Cen´ario de Rendezvous com 3 Manobras - Implementado no Am-
biente Completo
Este cen´ario de simula¸ao foi desenvolvido a no ambiente completo de simula¸ao,
isto ´e, foi implementado tanto no ambiente virtual distribu´ıdo quanto no ambiente
de controle e monitoramento, com ambos se comunicando via TCP/IP. As caracte-
r´ısticas principais deste cen´ario foram estabelecidas visando principalmente testar a
eficiˆencia dos algoritmos embarcados na l´ogica de controle e navega¸ao. Neste caso, o
perseguidor inicia a simulao a uma distˆancia de 200 km do alvo, realiza o planeja-
mento das manobras de rendezvous atrav´es dos algoritmos a bordo, como o Corretor
Diferencial (Subse¸ao 4.3.3) implementado em MATLAB por exemplo e executa as
manobras com base em sua pr´opria l´ogica de controle. Numa situa¸ao destas, o apoio
de solo para a navega¸ao ´e m´ınimo, apenas utilizado para monitoramento, teleco-
mandos para ativao/desativao de subsistemas e comandos de abortamento do
procedimento.
79
No caso deste cen´ario, o sistema de software de bordo dos ve´ıculos deveriam se comu-
nicar adequadamente, bem como obter e enviar dados para a simula¸ao no ambiente
distribu´ıdo, a fim de realizar uma trajet´oria de aproxima¸ao com 3 impulsos: o pri-
meiro a 200 km de distˆancia do alvo, o segundo acionando os retrofoguetes a 600
m para redu¸ao da velocidade relativa e o terceiro na iminˆencia do acoplamento,
a 3 segundos do contato, momento em que a velocidade de aproxima¸ao deve ser
reduzida a 0, 6 m/s, assim como previsto pela Figura 5.4.
Para este caso, a simula¸ao ocorre interativamente entre o software de bordo e o
ambiente virtual. Isto ´e, no momento em que a diferen¸ca entre o resultado das ve-
locidades iniciais necess´arias para intercepta¸ao e o resultado das velocidades finais
ficam fora dos limites, um comando de controle ´e enviado ao STK para que o Astro-
gator adicione uma manobra na sua seq
¨
uˆencia de controle de miss˜ao. O software de
bordo do perseguidor tamb´em gerencia o controle de tempo da simula¸ao para que
os propagadores orbitais se ajustem `a nova manobra inserida. Como o processo ´e
todo interativo, pode-se acompanh´a-lo visualmente na janela 3-D do STK em tempo
quase-real. Pela Figura 5.7 ´e poss´ıvel perceber a mudan¸ca de trajet´oria na dire¸ao
y provocada por uma sucess˜ao de manobras enviadas pelo software de bordo do
perseguidor durante o percurso deste em dire¸ao ao alvo.
Figura 5.7 - Corre¸ao intermedi´aria de trajet´oria comandada pelo software de bordo do
perseguidor em dire¸ao ao ve´ıculo alvo.
80
5.3.3 Cen´ario Completo Controlado pelo Ambiente Remoto
Uma outra situa¸ao envolvendo o problema de simula¸ao computacionalmente h´ı-
brida (implementada em dois ambientes de software diferentes) foi levantada e im-
plementada neste terceiro cen´ario. Nesta simula¸ao, o perseguidor foi iniciado a 200
km do alvo e o software de bordo deste ve´ıculo agora obt´em o aximo apoio dos
recursos de solo para o planejamento e execu¸ao das manobras. Em outras pala-
vras, o procedimento de alculo dos parˆametros de controle ao agora realizados
pelo Targeter do Astrogator, por´em ao solicitados ao STK pelo software embar-
cado no perseguidor. Isso simula uma situa¸ao em que o ve´ıculo em ´orbita possui
total suporte dos recursos de solo para alculo e planejamento de trajet´oria.
Neste cen´ario foram inseridos todos os pontos estacion´arios a partir de 200 km, a sa-
ber: em 50km, 10km, 2km, 600m, 150m, 50m, 10m. Assim como no primeiro, a ´ultima
manobra se constitui no impulso para a aproxima¸ao final, levando o perseguidor
para uma distˆancia de 2m do alvo visando o acoplamento. Em cada ponto estacio-
ario, o software de bordo envia um comando remoto para que o STK/Astrogator
recalcule a nova trajet´oria at´e o pr´oximo ponto estacion´ario. O resultado deste al-
culo ´e recebido como os parˆametros de controle que a manobra deve realizar. Estes
parˆametros ao setados para aquela manobra a prevista e inserida previamente na
seq
¨
uˆencia de controle de miss˜ao do Astrogator e assim sucessivamente para todas as
outras manobras. Uma vez calculados e setados todos estes parˆametros, ´e enviado
um novo comando para que a simula¸ao inicie e passe a adotar os valores a calcu-
lados. A Figura 5.8 ilustra o momento do acoplamento entre o perseguidor e o alvo
resultado deste cen´ario de simula¸ao.
5.4 Resultados
Os resultados das simula¸oes descritas previamente foram separados para cada cen´a-
rio testado. Primeiramente, foram avaliados os dois tipos de transferˆencias orbitais
poss´ıveis entre duas ´orbitas circulares. Os valores encontram-se abaixo.
5.4.1 Transferˆencia de Hohmann
As simula¸oes para a Transferˆencia de Hohmann foram realizadas pelo
STK/Astrogator verao 8.1.3 (ANALYTICAL GRAPHICS, INC. (AGI), 2008) e seus re-
sultados foram comparados com os obtidos na Subse¸ao 4.1.1. O propagador orbital
utilizado foi o Earth Full RKF. Este propagador dispon´ıvel no STK/Astrogator
81
Figura 5.8 - Momento do acoplamento entre o SARA e o segmento orbital alvo no cen´ario
de simula¸ao controlado e configurado pelo ambiente remoto (esta¸ao de solo).
possui um integrador num´erico do tipo Runge-Kutta-Fehlberg de 7
a
ordem com
controle de erros de 8
a
ordem. Al´em disso, ele inclui um modelo de geopotencial do
tipo JGM2, um modelo Jacchia-Roberts de arrasto atmosf´erico, um modelo esf´erico
de press˜ao de radia¸ao solar, al´em de perturba¸oes devidas a influˆencia do Sol e da
Lua. As restri¸oes impostas ao Targeter para o alculo do V
1
foram:
Deslocamento no eixo z do sistema C-W = 0 km;
Raio do Apogeu = 6678, 14 km.
a as restri¸oes impostas para o alculo do V
2
foram:
Taxa de deslocamento no eixo z do sistema C-W = 0 km/s;
Excentricidade = 0;
Excentricidade relativa em rela¸ao ao alvo = 0;
Semi-eixo-maior relativo ao alvo = 0 km.
82
Os valores dos resultados, considerando o controle somente no eixo X foram:
V
1
= 0, 0265746km/s (5.1)
V
2
= 0, 0363505km/s (5.2)
V = 0, 0629251km/s (5.3)
T V
=
48min (5.4)
Os valores considerando o controle nos trˆes eixos foram:
V
1
x
= 0, 0264312km/s (5.5)
V
1
y
= 1, 69152 × 10
7
km/s (5.6)
V
1
z
= 0, 00350816km/s (5.7)
V
1
=
V
2
1
x
+ V
2
1
y
+ V
2
1
z
= 0, 026663km/s (5.8)
V
2
x
= 0, 0365849km/s (5.9)
V
2
y
= 4, 45224 × 10
6
km/s (5.10)
V
2
z
= 0, 0119432km/s (5.11)
V
2
=
V
2
2
x
+ V
2
2
y
+ V
2
2
z
= 0, 038485km/s (5.12)
V = 0, 065148km/s (5.13)
T V
=
48min (5.14)
Ap´os comparar os valores obtidos pelo STK/Astrogator com o alculo anal´ıtico
realizado na Subse¸ao 4.1.1, observou-se, como era de se esperar, que os valores ao
divergiram muito uns dos outros. A Figura 5.9 ilustra o procedimento observado a
83
partir do ponto de vista da horizontal local do sat´elite alvo.
Figura 5.9 - Manobra de Transferˆencia de Hohmann executada pelo perseguidor do ponto
de vista da horizontal local do alvo.
5.4.2 Transferˆencia apida
As simula¸oes para a Transferˆencia apida foram implementadas sob o mesmo am-
biente da Transferˆencia de Hohmann, utilizando-se as mesmas configura¸oes. As
restri¸oes impostas ao Targeter para o alculo do V
1
foram:
Deslocamento no eixo z do sistema C-W = 0 km;
Raio do Apogeu = 2(R
1
+ R
2
) R
1
= 19934, 42 km.
a as restri¸oes impostas para o alculo do V
2
foram:
Taxa de deslocamento no eixo z do sistema C-W = 0 km/s;
Excentricidade = 0;
ˆ
Angulo de oo = 0
;
84
Excentricidade relativa em rela¸ao ao alvo = 0.
Os valores dos resultados, considerando o controle somente nos eixos X e Y foram:
V
1
= 1, 75927km/s (5.15)
V
2
=
(1, 65749)
2
+ (1, 04285)
2
(5.16)
= 1, 95827km/s (5.17)
V = 3, 71754km/s (5.18)
T V
=
4min (5.19)
Os valores considerando o controle nos trˆes eixos foram:
V
1
x
= 1, 75887km/s (5.20)
V
1
y
= 8, 53777 × 10
5
km/s (5.21)
V
1
z
= 0, 0730951km/s (5.22)
V
1
=
V
2
1
x
+ V
2
1
y
+ V
2
1
z
= 1, 76039km/s (5.23)
V
2
x
= 1, 65688km/s (5.24)
V
2
y
= 5, 32232 × 10
5
km/s (5.25)
V
2
z
= 1, 04679km/s (5.26)
V
2
=
V
2
2
x
+ V
2
2
y
+ V
2
2
z
= 1, 95985km/s (5.27)
V = 3, 72024km/s (5.28)
T V
=
4min (5.29)
85
Assim como na Transferˆencia de Hohmann, os resultados da simula¸ao num´erica
para a Transferˆencia apida foram bastante pr´oximos daqueles encontrados pelos
alculos anal´ıticos da Subse¸ao 4.1.1.
Como j´a era previsto pelos c´alculos anal´ıticos, apesar da Transferˆencia de Hohmann
ter consumido uma quantidade muito menor de combust´ıvel, ela se realizou em um
per´ıodo de tempo muito maior que a Transferˆencia apida. Nesta ´ultima, o tempo
de oo durante a transferˆencia orbital facilita esta ser acompanhada por uma esta¸ao
de solo. Para verificar a validade desta informa¸ao, foi introduzida na simula¸ao a
esta¸ao de rastreio de sat´elites do INPE em Alcˆantara e o acesso ao sat´elite SARA
(perseguidor) foi calculado pelo STK durante a manobra. De fato, devido a locali-
za¸ao de Alcˆantara e a ´orbita equatorial dos ve´ıculos, a manobra de Transferˆencia
apida ode ser acompanhada por esta esta¸ao durante todo seu percurso. Quanto
ao consumo de combust´ıvel, o ve´ıculo SARA se resume basicamente a um ve´ıculo de
transporte de cargas ´uteis e seu tempo total de vˆoo ´e muito pequeno quando compa-
rado a um sat´elite comum. Sendo assim, ele deve possuir combust´ıvel suficiente para
todas as suas manobras, a planejadas e calculadas a priori. Portanto, os resultados
demonstram que a Transferˆencia apida ´e realmente a melhor op¸ao para o projeto
SARA. A Figura 5.10 ilustra esta passagem do SARA sobre Alcˆantara durante a
transferˆencia orbital (trajet´oria em azul) procedimento observado a partir do ponto
de vista da horizontal local do sat´elite alvo.
5.4.3 Cen´ario Completo de Referˆencia
Os resultados para o cen´ario de simula¸ao completo de referˆencia foram bastante
satisfat´orios e cumpriram os objetivos de acoplamento conforme foi planejado. A
precis˜ao no deslocamento relativo em rela¸ao ao alvo no instante do acoplamento
chegou a 10
8
km no eixo z, o que ´e bastante aceit´avel. A Figura 5.11 comprova
estes resultados ao demonstrar a varia¸ao dos parˆametros orbitais relativos em re-
la¸ao ao sistema de coordenadas do alvo ao longo das manobras de aproxima¸ao e
acoplamento.
5.4.4 Cen´ario de Rendezvous com 3 Manobras
Durante a execu¸ao deste cen´ario, foi necess´ario impor uma determinada restri¸ao
para a atua¸ao das manobras de controle de trajet´oria de rendezvous. Anteriormente,
caso os valores calculados das velocidades iniciais e finais (parˆametros utilizados pelo
86
Figura 5.10 - Manobra de Transferˆencia apida executada pelo perseguidor sobre a esta-
¸ao de Alcˆantara, do ponto de vista da horizontal local do alvo.
controle de trajet´oria) ficassem acima da tolerˆancia pr´e-estabelecida, o controle atu-
ava corretamente. Por´em, ocorria um problema caso estes valores fossem muito altos.
Nestas situa¸oes, o controle tentava corrigir o erro que era significativamente alto
com um controle tamb´em significativamente alto. J´a na pr´oxima itera¸ao do software
de bordo do perseguidor, ele obtinha as entradas de velocidade tamb´em altas deri-
vadas do controle atuado na itera¸ao anterior somado com a alta velocidade relativa
que o ve´ıculo a vinha desenvolvendo anteriormente. Com isso o controle tentava
atuar novamente fazendo com que as velocidades aumentassem ainda mais e assim
sucessivamente, resultando no fato da trajet´oria divergir completamente da espe-
rada em poucos segundos. Sendo assim, foi determinada uma restri¸ao denominada
de “caixas de controle”, limitando o sistema de controle de corre¸ao intermedi´ario
da trajet´oria a atuar somente quando os valores resultantes dessas diferen¸cas de
velocidade estivessem pequenos. A composi¸ao destes fatores limitantes nos trˆes ei-
xos do sistema de coordenadas formava esta “caixa”, indicando ao software de oo
que quando os valores resultantes entrassem dentro desta “caixa”, enao o controle
poderia atuar conforme foi projetado para fazˆe-lo. Como os resultados da fase de
planejamento de rendezvous estavam satisfat´orios (por´em menos precisos que no pri-
meiro cen´ario), a trajet´oria mantinha-se com um bom perfil e uma boa estimativa
inicial at´e o alvo, portanto, as corre¸oes passaram a se tornar necess´arias a partir
87
Figura 5.11 - Varia¸ao dos parˆametros orbitais relativos ao longo do tempo no sistema de
referˆencia do sat´elite alvo para o cen´ario de simula¸ao completo via STK.
do momento em que o perseguidor entrava nas por¸oes da ´orbita mais pr´oximas ao
alvo, ao passo que a precis˜ao da estimativa calculada pela manobra de planejamento
ia diminuindo.
Durante a fase de controle interativo da simula¸ao, aproximadamente 60 manobras
de controle de corre¸ao intermedi´aria da trajet´oria foram necess´arias. O consumo
total de combust´ıvel para este cen´ario de simula¸ao foi de aproximadamente 2, 5 kg
de propelente e o ponto final de contato com o alvo obtido foi de 3, 832 m. Este fato
demonstra a baixa precis˜ao que o sistema de planejamento e execu¸ao de guiagem
autˆonomo apresenta em rela¸ao aos sistemas de solo, muito mais poderosos compu-
tacionalmente. Esta precis˜ao diminui ainda mais quando o perseguidor encontra-se a
maiores distˆancias relativas do alvo. O gr´afico da Figura 5.12 ilustra bem esta impre-
cis˜ao, tanto que ´e vis´ıvel o quanto o sat´elite perseguidor chega ao alvo de forma mais
“direta”, por s´o haver 3 manobras principais de ajustes de parˆametros de velocidade,
al´em das corre¸oes intermedi´arias. Os resultados deste cen´ario comprovam que se
faz necess´aria a utiliza¸ao de mais de trˆes manobras para que o perseguidor possa
desenvolver uma trajet´oria de aproxima¸ao segura, al´em do que a introdu¸ao dos
pontos estacion´arios aumentam ainda mais esta seguran¸ca, conforme comprovado
pelo primeiro cen´ario de simula¸ao. Parte do output do software a bordo do ve´ıculo
88
SARA (perseguidor) foi inclu´ıdo no Apˆendice A.
Figura 5.12 - Varia¸ao dos parˆametros orbitais relativos ao longo do tempo no sistema de
referˆencia do sat´elite alvo para o cen´ario de simula¸ao de rendezvous com 3
manobras via ambiente distribu´ıdo.
5.4.5 Cen´ario Completo Controlado pelo Ambiente Remoto
Conforme exposto na Subse¸ao 5.3.3, era de se esperar que os resultados deste ce-
ario de simula¸ao fossem muito pr´oximos ao do primeiro cen´ario, a que todos os
elementos de simula¸ao ao os mesmos, inclusive o ambiente. A ´unica diferen¸ca ´e
o controle autom´atico do cen´ario de simula¸ao que este ´ultimo implementou para
facilitar o processo interativo de simula¸ao. A Figura 5.13 comprova este fato, pois
as diferen¸cas ao pequenas entre as duas trajet´orias simuladas.
Outra caracter´ıstica importante a ser considerada se deve ao fato de que as restri¸oes
impostas ao STK para que as manobras mais cr´ıticas do processo de aproxima¸ao e
acoplamento fossem executadas de forma que pudessem ser rastreadas pela esta¸ao
terrena de Alcˆantara. Inclusive no momento do acoplamento, ode-se verificar pela
simula¸ao que a linha de acesso entre a esta¸ao e o sat´elite SARA estava ativa,
permitindo que toda a manobra de acoplamento pudesse ser acompanhada pelas
equipes de solo. A Figura 5.14 ilustra este fato de forma clara.
89
Figura 5.13 - Varia¸ao dos parˆametros orbitais relativos ao longo do tempo no sistema de
referˆencia do sat´elite alvo para o cen´ario de simula¸ao completo controlado
pelo ambiente remoto.
Figura 5.14 - Demonstra¸ao da visibilidade da esta¸ao de Alcˆantara durante a manobra
de acoplamento do ve´ıculo SARA com o segmento orbital.
90
6 CONCLUS
˜
OES
Neste trabalho foi analisada uma metodologia de implementa¸ao de algoritmos de
software para controle embarcado atraes do uso de uma arquitetura virtual distri-
bu´ıda em dois ambientes de simula¸ao. Um destes ambientes executa a simula¸ao
distribu´ıda atrav´es do instanciamento de dois simuladores de ve´ıculos espaciais que
interagem com o ambiente virtual e entre si compartilhando dados desta simula¸ao.
O outro ambiente realiza opera¸oes de telemetria, telecomando e monitoramento
simulado via TCP/IP, al´em de concentrar toda a ogica embarcada nos softwares de
bordo de ambos os ve´ıculos e da esta¸ao de solo.
Os sistemas de software que incorporam tecnologias as quais envolvem modelagem,
simula¸ao e controle em tempo real representam atualmente uma crescente novi-
dade em esfor¸cos para engenheiros de software, cujos objetivos est˜ao principalmente
direcionados ao desenvolvimento de arquiteturas de controle e simula¸ao cada vez
mais robustas. Este trabalho foi capaz de implementar uma solu¸ao nesta linha de
pesquisa que comprovou se mostrar eficaz em diversas situa¸oes de procedimentos
envolvidos nas manobras de rendezvous e docking. Al´em disso, esta ´e uma arqui-
tetura que possui uma certa flexibilidade em rela¸ao aos ajustes de parˆametros de
simula¸ao, por ter utilizado ferramentas de software reconhecidas e acess´ıveis no
sentido de facilitar a inclus˜ao de modelagem pr´opria para sistemas e procedimen-
tos que atendam a necessidades espec´ıficas de usu´arios. Portanto, este ´e um passo
importante no sentido de se viabilizar a integrao de sistemas e simuladores em
arquiteturas comuns e adapt´aveis a diversas situa¸oes que envolvam resolu¸oes de
problemas na ´area de tecnologia espacial.
Com base nas solu¸oes apresentadas, ode-se concluir que esta ´e uma metodologia
inovadora para a integra¸ao de ferramentas de simula¸ao de sistemas espaciais, a qual
viabiliza a modelagem e an´alise destes respectivos sistemas e auxilia nas decis˜oes e
planejamentos de miss˜oes de forma simples e apida. Esta arquitetura constitui-se
por si o tamb´em em uma ferramenta de apoio para desenvolvimento de sistemas
de software embarcado para controle de manobras em sat´elites e ve´ıculos espaciais.
Em outras palavras, havendo a defini¸ao da ogica embarcada, pode-se utilizar a
arquitetura aqui descrita pata se formular abordagens de resolu¸ao de problemas
durante o desenvolvimento de subsistemas aeroespaciais.
Como proposta de continuidade das tarefas introduzidas por este trabalho, seria
91
poss´ıvel citar inicialmente uma revis˜ao e refinamento das rotinas que concentram
a representa¸ao da ogica embarcada nos ve´ıculos e na esta¸ao de solo. Adicional-
mente, poderia-se inserir novas entidades no ambiente de simula¸ao distribu´ıdo, tais
como novas esta¸oes de monitoramento, constela¸ao de sat´elites GPS, transmissores,
receptores, antenas, entre outros, e ao mesmo tempo implementar novas rotinas de
gerenciamento e monitoramento no ambiente em que reside toda a l´ogica embarcada
dos cen´arios de simula¸ao. Um exemplo de rotina a ser implementada poderia cons-
tituir em algo que simulasse as restri¸oes de comunica¸ao no meio representado pelo
datalink espacial, tais como ru´ıdos ou interferˆencias. Al´em disso, o trabalho carece
de uma representa¸ao dos conceitos implementados e simulados pela estrat´egia de
controle definidos sob a forma de leis de controle propriamente ditas, em que seria
poss´ıvel executar uma simula¸ao mais fiel dos sensores e atuadores representados
nos ve´ıculos implementados no ambiente virtual. Outra quest˜ao que necessita ser
melhor definida e estudada ´e o fato de como seria implementada a robotiza¸ao en-
tre as duas espa¸conaves para fins de realoca¸ao de cargas ´uteis, inclusive se seriam
considerados os conceitos de teleopera¸ao ou autonomia supervisionada para esta
finalidade. Por fim, a proposta principal de continuidade do trabalho seria a migra-
¸ao da ogica embarcada desenvolvida e simulada, ap´os ser testada e validada, para
uma plataforma pr´opria de tempo real para que pudessem ser analisados fatores de
execu¸ao, desempenho e sincronismo destes algoritmos entre dois computadores de
bordo de controle de navegao, guiamento e atitude. Sendo assim, seria poss´ıvel
implementar toda a simula¸ao desenvolvida em ambiente virtual e fazer com que
esta fosse executada a em ambiente real, inclusive com o hardware de oo.
A respeito dos projetos de miss˜oes espaciais brasileiras atuais, o projeto SARA,
bem como suas respectivas pesquisas para se introduzir simula¸ao computacional
em tempo real e planejamento de controle de manobras de RVD em simuladores dos
seus computadores de bordo, pode absorver grande parte dos conceitos apresenta-
dos neste trabalho. A utiliza¸ao de ecnicas envolvendo autonomia supervisionada
para controle em tempo real, preven¸ao de colis˜oes e simula¸oes utilizando siste-
mas de software paralelos e distribu´ıdos, devem ser levadas em considera¸ao a fim
de que seja poss´ıvel levantar os requisitos de software necess´arios para um correto
desenvolvimento do GNC autˆonomo desta espa¸conave.
92
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ˆ
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98
AP
ˆ
ENDICE A - OUTPUT DAS ROTINAS DE SOFTWARE EXECU-
TADAS A BORDO DO VE
´
ICULO SARA
>> chaser
agiInit has already been run! To run a different version of the STK MATLAB Interface, you must restart MATLAB.
Initializing STK MATLAB Interface with AGIDefault preferences
Initiating chaser vehicle RVD onboard procedures ...
Select the operating mode:
[1] - Supervised Mode
[2] - Autonomous Mode
Input value [1]: 1
Entering in supervised mode ...
============================
Rendezvous Maneuver Planning
============================
Computing deltaV ...
Adopting Values:
Intercept Velocity = 30 m/s
Initial Time Guess = 2711.2047 s
Differential Corrector did not converge in 1000 iterations.
Time to intercept resulted in 3711.2047 s
Intercept speed resulted in 172.2705 m/s
Do you want to run again with initial time guess = 3711.2047 s? Y/N [Y]: Y
Adopting Values:
Intercept Velocity = 30 m/s
Initial Time Guess = 3711.2047 s
Differential Corrector converged in 130 iterations.
Time to intercept resulted in 24409.921 s
Intercept speed resulted in 29.6312 m/s
Interception DeltaV Computation:
Time to intercept = 24409.921 s
99
Assigned intercept velocity = 30 m/s
Computed intercept velocity = 29.6312 m/s
Required initial deltaV to intercept: deltaX = 5.0437 m/s
deltaY = 19.676 m/s
deltaZ = -20.4831 m/s
Total deltaV required to perform interception maneuvers = 48.2027 m/s
Total propellant required to execute maneuvers = 5.6878 Kg
Computing time to null z-motion ...
Adopting Value:
Initial Time Guess = 500 s
Differential Corrector converged in 3 iterations.
Time to null z-motion resulted in 27.8268 s
Zero-z velocity resulted in = -12.6714 m/s
Z-nulling Computation:
Time to null z-motion = 27.8268 s
Assigned zero-z velocity = 0 m/s
Computed zero-z velocity = -12.6714 m/s
Required initial deltaV to null z-motion: deltaZ = -6.6801 m/s
Total deltaV required to perform z-nulling maneuvers = 13.8005 m/s
Total propellant required to execute maneuver = 1.6113 Kg
Chaser maximum orbital plane displacement after calculations = 0.049716 deg
Computing retrothrust maneuver ...
Adopting Values:
Intercept Velocity = 3 m/s
Initial Time Guess = 24409.921 s
Differential Corrector did not converge in 1000 iterations.
Time to intercept resulted in 11844.8186 s
Closing speed resulted in 51.2295 m/s
Do you want to run again with initial time guess = 11844.8186 s? Y/N [Y]: Y
Adopting Values:
Intercept Velocity = 3 m/s
Initial Time Guess = 24409.921 s
Differential Corrector converged in 5 iterations.
100
Time to intercept resulted in 8099.4904 s
Closing speed resulted in 3.8878 m/s
Retrothrust Computation:
Time to reduce speed = 8099.4904 s
Assigned closing speed = 3 m/s
Computed closing speed = 3.8878 m/s
Required deltaV to retrothrust: deltaX = 11.8333 m/s
deltaY = 3.1153 m/s
deltaZ = -2.0391 m/s
Total deltaV required to perform retrothrust maneuvers = 12.4052 m/s
Total propellant required to execute maneuvers = 1.442 Kg
===== Rendezvous Maneuver Planning Summary =====
Total deltaV required to perform all rendezvous maneuvers = 74.4084 m/s
Total propellant required to perform all rendezvous maneuvers = 11.2589 Kg
Chaser vehicle final mass at the end of rendezvous = 341.2589 Kg
Chaser is ready to execute rendezvous maneuvers, initiating by intercept burns.
It will now send these commands to thrusters:
GO/NO-GO FOR RENDEZVOUS? G/N [N]: G
Switching to AUTONOMOUS Operating Mode ...
Maneuver segment added to MCS!
Propagate to tf segment added to MCS!
Initiating animation ...
x0p = 12.3369
y0p = 19.3423
z0p = -21.8893
xfp = -1.8142
yfp = -19.3091
zfp = 23.5531
x0p - xfp = 14.1511
y0p - yfp = 38.6513
101
z0p - zfp = -45.4425
Range = 199657.375
Closing Speed = 13.8205
x0p = 12.3688
y0p = 19.3772
z0p = -24.9424
xfp = -1.8126
yfp = -19.3479
zfp = 26.4084
x0p - xfp = 14.1815
y0p - yfp = 38.7251
z0p - zfp = -51.3508
Range = 199662.212
Closing Speed = 13.8319
x0p = 12.4009
y0p = 19.4123
z0p = -28.9662
xfp = -1.811
yfp = -19.387
zfp = 30.2335
x0p - xfp = 14.2119
y0p - yfp = 38.7994
z0p - zfp = -59.1997
Range = 199667.02
Closing Speed = 13.8434
x0p = 12.4329
y0p = 19.4478
z0p = -34.5115
102
xfp = -1.8094
yfp = -19.4265
zfp = 35.5794
x0p - xfp = 14.2423
y0p - yfp = 38.8743
z0p - zfp = -70.0909
Range = 199671.8
Closing Speed = 13.8549
(...)
x0p = 19.1663
y0p = -1.3414
z0p = 1.1884
xfp = -2.7849
yfp = 0.033695
zfp = -59.3889
x0p - xfp = 21.9512
y0p - yfp = -1.3751
z0p - zfp = 60.5773
Range = 199948.181
Closing Speed = 17.7857
===>>> y-speed is within control box!
Adding control sequence at 220 s
Maneuver segment added to MCS!
Propagate to tf segment added to MCS!
x0p = 19.2316
y0p = -0.89138
z0p = 1.1839
xfp = -2.7633
103
yfp = -0.4252
zfp = -59.7219
x0p - xfp = 21.9949
y0p - yfp = -0.46617
z0p - zfp = 60.9059
Range = 199945.671
Closing Speed = 19.1625
===>>> y-speed is within control box!
Adding control sequence at 221 s
Maneuver segment added to MCS!
Propagate to tf segment added to MCS!
x0p = 19.2975
y0p = -0.45052
z0p = 1.1796
xfp = -2.7422
yfp = -0.875
zfp = -60.0557
x0p - xfp = 22.0397
y0p - yfp = 0.42448
z0p - zfp = 61.2353
Range = 199943.141
Closing Speed = 19.6463
===>>> y-speed is within control box!
Adding control sequence at 222 s
Maneuver segment added to MCS!
Propagate to tf segment added to MCS!
x0p = 19.3612
y0p = -0.038287
104
z0p = 1.1752
xfp = -2.7224
yfp = -1.2961
zfp = -60.3897
x0p - xfp = 22.0836
y0p - yfp = 1.2579
z0p - zfp = 61.5649
Range = 199940.549
Closing Speed = 19.2537
===>>> y-speed is within control box!
Adding control sequence at 223 s
Maneuver segment added to MCS!
Propagate to tf segment added to MCS!
x0p = 19.4198
y0p = 0.32883
z0p = 1.1709
xfp = -2.7048
yfp = -1.672
zfp = -60.7244
x0p - xfp = 22.1246
y0p - yfp = 2.0009
z0p - zfp = 61.8953
Range = 199937.859
Closing Speed = 18.0434
x0p = 19.4777
y0p = 0.68074
z0p = 1.1666
xfp = -2.688
yfp = -2.0327
105
zfp = -61.0595
x0p - xfp = 22.1657
y0p - yfp = 2.7135
z0p - zfp = 62.2261
Range = 199935.13
Closing Speed = 18.0686
x0p = 19.535
y0p = 1.0184
z0p = 1.1624
xfp = -2.6717
yfp = -2.3792
zfp = -61.3951
x0p - xfp = 22.2068
y0p - yfp = 3.3976
z0p - zfp = 62.5575
Range = 199932.362
Closing Speed = 18.0939
x0p = 19.5917
y0p = 1.3426
z0p = 1.1582
xfp = -2.6562
yfp = -2.7123
zfp = -61.7311
x0p - xfp = 22.2479
y0p - yfp = 4.0549
z0p - zfp = 62.8893
Range = 199929.555
Closing Speed = 18.1192
106
PUBLICA¸C
˜
OES T
´
ECNICO-CIENT
´
IFICAS EDITADAS PELO INPE
Teses e Disserta¸oes (TDI) Manuais ecnicos (MAN)
Teses e Disserta¸oes apresentadas nos
Cursos de os-Gradua¸ao do INPE.
ao publica¸oes de car´ater ecnico que
incluem normas, procedimentos, instru-
¸oes e orienta¸oes.
Notas T´ecnico-Cient´ıficas (NTC) Relat´orios de Pesquisa (RPQ)
Incluem resultados preliminares de pes-
quisa, descri¸ao de equipamentos, des-
cri¸ao e ou documenta¸ao de programas
de computador, descri¸ao de sistemas
e experimentos, apresenta¸ao de testes,
dados, atlas, e documenta¸ao de proje-
tos de engenharia.
Reportam resultados ou progressos de
pesquisas tanto de natureza t´ecnica
quanto cient´ıfica, cujo n´ıvel seja compa-
t´ıvel com o de uma publica¸ao em pe-
ri´odico nacional ou internacional.
Propostas e Relaorios de Projetos
(PRP)
Publica¸oes Did´aticas (PUD)
ao propostas de projetos t´ecnico-
cient´ıficos e relat´orios de acompanha-
mento de projetos, atividades e cone-
nios.
Incluem apostilas, notas de aula e ma-
nuais did´aticos.
Publica¸oes Seriadas Programas de Computador (PDC)
ao os seriados t´ecnico-cient´ıficos: bo-
letins, peri´odicos, anarios e anais de
eventos (simp´osios e congressos). Cons-
tam destas publica¸oes o Internacional
Standard Serial Number (ISSN), que ´e
um odigo ´unico e definitivo para iden-
tifica¸ao de t´ıtulos de seriados.
ao a seq
¨
uˆencia de instru¸oes ou o-
digos, expressos em uma linguagem
de programa¸ao compilada ou interpre-
tada, a ser executada por um computa-
dor para alcan¸car um determinado obje-
tivo. Aceitam-se tanto programas fonte
quanto os execut´aveis.
Pr´e-publica¸oes (PRE)
Todos os artigos publicados em peri´odi-
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