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UNIVERSIDADE FEDERAL FLUMINENSE
INSTITUTO DE CIÊNCIAS HUMANAS E FILOSOFIA
PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM CIÊNCIA POLÍTICA
ANNA CAROLINA ROCHA COSTA PERET
DESENVOLVIMENTO ECONÔMICO COM DEMOCRACIA:
Perspectivas de Desenvolvimento e Análise de Indicadores para os BRICs
NITERÓI
2010
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2
ANNA CAROLINA ROCHA COSTA PERET
DESENVOLVIMENTO ECONÔMICO COM DEMOCRACIA: Perspectivas de
Desenvolvimento e Análise de Indicadores para os BRICs
Dissertação apresentada ao Curso de Pós
Graduação em Ciência Política da
Universidade Federal Fluminense, como
requisito parcial para obtenção do Grau de
Mestre. Área de Concentração: Estudos
Estratégicos.
Orientador: Prof
a
Dr
a
INÊS EMÍLIA DE MORAES SARMENTO PATRÍCIO
Co-orientador: Prof. Dr. LUIZ BEVILACQUA
NITERÓI
2010
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Ficha Catalográfica elaborada pela Biblioteca Central do Gragoatá
P437
Peret, Anna Carolina Rocha Costa.
DESENVOLVIMENTO ECONÔMICO COM DEMOCRACIA:
perspectivas de desenvolvimento e análise de indicadores para os
BRICs / Anna Carolina Rocha Costa Peret. – 2010.
136 f.
Orientador: Inês Emília de Moraes Sarmento Patrício.
Co-orientador: Luiz Bevilacqua.
Dissertação (Mestrado) Universidade Federal
Fluminense, Departamento de Ciência Política, 2010.
Bibliografia: f. 132-136.
1. Desenvolvimento. 2. Desenvolvimento econômico. 3.
Crescimento econômico. 4. Sustentabilidade. 5. Liberdade. 6.
Democracia. 7. Instituição. 8. Indicador. 9. Índice. I. Patrício, Inês
Emília de Moraes Sarmento. II. Universidade Federal Fluminense.
Instituto de Ciências Humanas e Filosofia. III. Título.
4
À Deus, por sempre me dar esperança e nunca me deixar
desistir, dando-me força, coragem e alento para seguir meu caminho.
À minha avó Carolina Terra Rocha,
in memorium, pelo
exemplo de caráter, dignidade e fé, que me faz acreditar que neste mundo
ainda existem pessoas de valor.
À minha mãe, Carolina Rocha Costa, por todo apoio, carinho
e amor que sempre me dedicou. Sem sua ajuda, eu não teria chegado até aqui.
5
AGRADECIMENTOS
À professora Inês Emília de Moraes Sarmento Patrício,
minha orientadora e, acima de tudo, grande amiga.
Ao professor Luiz Bevilacqua, pelo sábio aconselhamento
durante a realização do presente trabalho.
Às professoras Ruth Helena Dweck e Ângela Ganem, por
terem participado do processo de avaliação do meu
trabalho, com muito carinho e dedicação, contribuído para
a sofisticação e engrandecimento do resultado final.
Ao Prof. Eurico de Lima Figueiredo, pelo apoio, pela
paciência e pelo exemplo de disciplina e perseverança, que
levarei para toda minha vida.
Ao PPGEST, Programa de Pós-Graduação em Estudos
Estratégicos, por ter acreditado no meu trabalho, investido
na minha pesquisa e financiado meus estudos.
Às(os) demais professoras(es) deste instituto que fazem
parte dessa jornada em busca do conhecimento que se
inicia sala de aula.
Aos meus amigos de turma que permaneceram comigo,
mesmo com toda a distância provocada pelo estudo, pela
dedicação e pela pesquisa.
Um agradecimento especial ao meu eterno amigo Renan
Almeida de Souza,
in memorian, pelo exemplo de luta e
superação.
Aos funcionários do Instituto de Ciências Humanas e
Filosofia, por todo o suporte de sempre e pelo sorriso no
rosto ao resolver nossos problemas.
6
SUMÁRIO
INTRODUÇÃO, p. 8.
1 – MITO E SUSTENTABILIDADE EM CELSO FURTADO, p. 18.
2.1 – O Mito do Progresso, p. 18.
2.2 – Sustentabilidade, p. 21.
2 – HA-JOON CHANG E OS DEGRAUS DO DESENVOLVIMENTO, p. 34.
2.1 – As Potências Chutando a Escada, p. 34.
2.2 – Chang, List e a Perspectiva Histórica, p. 37.
2.3 – Os PADs e Suas Estratégias de
Catch Up, p. 42.
2.4 – O Desenvolvimento Institucional, p. 44.
2.4.1 – Burocracia e Judiciário, p. 45.
2.4.2 – Direitos de Propriedade e Sociedades Anônimas, p. 47.
2.4.3 – Instituições Financeiras, p. 50.
2.4.4 – A Bem Estar Social e Instituições Trabalhistas, p. 52.
2.4.5 – A Democracia e o Desenvolvimento, p. 55.
3 – AMARTYA SEN, A LIBERDADE E O DESENVOLVIMENTO, p. 59.
3.1 – Um Mundo de Paradoxos, p. 59.
3.2 – A Perspectiva de Liberdade, p. 65.
3.3 – Desenvolvimento: Meios e Fins, p. 70.
3.4 – Os Fundamentos da Justiça, p. 76.
7
4 – FUNDAMENTOS PARA UM INDICADOR DE SUSTENTABILIDADE
PARA OS BRICS, p. 82.
4.1 – Muito Além do PIB, p. 83.
4.2 – Indicadores Alternativos ao PIB, p. 86.
4.2.1 – Indicadores de Desenvolvimento Sustentável, p. 86.
4.2.2 – Indicadores de Desenvolvimento Institucional, p. 90.
4.2.3 – Indicadores de Desenvolvimento Humano, p. 97.
4.2.4 – Indicadores de Felicidade e Progresso, p. 103.
4.3 – Uma Proposta de Indicador para o Futuro, p. 110.
CONCLUSÃO, p. 116.
ANEXO – TABELAS, p 120.
BIBLIOGRAFIA, p. 132.
8
LISTA DE TABELAS
TABELA 1 – Extensão Territorial (em km2), p. 120.
TABELA 2 – População 2009, p. 120.
TABELA 3 – População (em milhares) – Média (1980 - 2010), p. 120.
TABELA 4 – Taxa de Crescimento da População (%), p. 121.
TABELA 5 – PIB Nominal (em US$ bilhões), p. 121.
TABELA 6 – Dívida Externa Bruta (em US$ bilhões), p. 121.
TABELA 7 – Saldo em Conta Corrente (em US$ bilhões), p. 122.
TABELA 8 – Saldo em Conta Corrente (% PIB), p. 122.
TABELA 9 – População Desempregada (em milhões), p. 122.
TABELA 10 – Taxa de Desemprego (%), p. 123.
TABELA 11 – Índice de Desenvolvimento Humano - IDH 2009, p. 123.
TABELA 12 – Índice de Desenvolvimento Humano – IDH Ranking 2009, p. 123.
TABELA 13 Evolução Histórica Índice de Desenvolvimento Humano (IDH),
p. 124.
TABELA 14 – Índice de Performance Ambiental – Índice 2008, p. 124.
TABELA 15 – Índice de Performance Ambiental – Ranking 2008, p. 124.
TABELA 16 – Índice de Sustentabilidade Ambiental – Índice 2005, p. 125.
TABELA 17 – Índice de Sustentabilidade Ambiental – Ranking 2005, p. 125.
TABELA 18 – Pegada Ecológica (em hectares), p. 125.
TABELA 19 – Relatório Anual de Competitividade – Índice 2009-2010, p. 126.
TABELA 20 Relatório Anual de Competitividade Ranking 2009-2010, p.
126.
TABELA 21 – Índice Big Mac, p. 126.
TABELA 22 Ranking da Competitividade Mundial - Competitividade global, p.
127.
TABELA 23 – Competitividade Mundial – Pontuação 2009, p. 127.
TABELA 24 – Índice de Pobreza Humana – IPH1, p. 127.
TABELA 25 – Coeficiente de Gini - Pontuação, p. 128.
TABELA 26 – Coeficiente de Gini - Ranking, p. 128.
TABELA 27 – Índice de Desenvolvimento Ajustado ao Gênero (IDG) – Ranking,
p. 128.
TABELA 28 – Índice de Desenvolvimento Ajustado ao Gênero (IDG) – Valor, p.
129.
TABELA 29 – Esperança de vida ao nascer, p. 129.
TABELA 30 – Taxa de Alfabetização - 2008 (%), p. 129.
TABELA 31 – Índice de Felicidade Planetária - 2009, p. 129.
TABELA 32 – A Cidade Mais Feliz do Mundo (Revista Forbes), p. 130.
TABELA 33 – Índice de Satisfação com a Vida – Índice 2008, p. 130.
TABELA 34 – Índice de Satisfação com a Vida – Ranking 2008, p. 130.
TABELA 35 – Risco País 2009, p. 131.
TABELA 36 – Fazendo Negócios 2009 – Ranking, p. 131.
TABELA 37 – Mortalidade Infantil – 2009, p. 131.
TABELA 38 – Tabela de Potencialidades Humanas, p. 111.
TABELA 39 – Tabela do Modelo Proposto, p. 113.
TABELA 40 – Tabela exemplificativa do Modelo Proposto, p. 114.
9
RESUMO
O objetivo principal do trabalho é discutir, pela perspectiva de três
autores, possíveis formas de mensuração de desenvolvimento que consigam
entender e captar o que é o desenvolvimento de um país, através de um
prisma que inclua, além das variáveis econômicas, variáveis sociais, políticas e
legais. Para isso, um indicador precisa incluir fatores sociais como a
educação e a saúde –, políticos como a democracia –, e legais como as
liberdades e os direitos humanos. A partir dessa perspectiva, pretende-se
discutir os indicadores de desenvolvimento existentes, de forma a compreender
de que forma elas contribuem para medir o real desenvolvimento de uma
nação.
10
ABSTRACT
The main objective is to discuss, from the point of view of three authors,
possible ways of measuring the development, through a prism that includes, in
addition to economic variables, social, political and legal variables. So, an
indicator needs to include social - such as education and health - and political -
like democracy - and legal factors - such as freedom and human rights. From
this perspective, we will discuss the existing indicators to understand how they
contribute to the evaluation of the real development of a nation.
11
INTRODUÇÃO
Muitos caminhos nos levam a um tema de dissertação de mestrado. O
amor pelo assunto, o interesse por determinada matéria, o instinto de
investigação, etc. No caso do presente trabalho, têm-se todos estes
ingredientes juntos. É grande a motivação de analisar e entender realidade
brasileira através de uma perspectiva diferente daquela difundida pelo
pensamento hegemônico.
Durante meses, muito se conversou, pesquisou, analisou e modificou.
Os contornos da idéia inicial estão aqui neste trabalho e serão apresentados
abaixo , no entanto, suas cores estão diferentes. É claro! Impossível seria
não alterar diversas partes. Com as pesquisas e conversas, novidades são
descobertas e surge a necessidade de se fazer alterações na concepção inicial
do projeto.
A grande motivação para escrever esse trabalho veio da sigla BRICSs.
Como sabemos, o Brasil faz parte dos BRICs. Tal termo foi cunhado pelo
economista, integrante do grupo Goldman Sachs Inc.
1
, Jim O'Neill
2
para
denominar o grupo de países composto pelo Brasil, Rússia, Índia e China, os
quais, teriam características semelhantes como um potencial crescimento
futuro, uma expressiva extensão de terra e grandes populações. O próprio
afirma em sua análise que os países que compõe esse grupo têm similaridades
e, obviamente, particularidades. No entanto, recentemente, O’Neill afirmou que,
no que diz respeito ao caso brasileiro, certas características poderiam
desqualificar a posição do Brasil como integrante do grupo supracitado.
Como se pode perceber, o conceito de “desenvolvimento econômico”
adotado pelo “pai” do termo, fez com que ele revisse sua posição, no que diz
respeito á colocação do Brasil no grupo. O país teria, provavelmente, um tipo
1
O grupo Goldman Sachs Inc., a companhia líder de investimentos nos Estados Unidos, é
um dos mais antigos e prestigiosos bancos de investimento do mundo. Fundado em 1869 por
Marcus Goldman, tem sede em Nova Iorque. Atua em três segmentos: Banco de Investimento;
Trading e Investimentos e Administração de Recursos e Securitização.
2
Jim O'Neill é chefe de pesquisa econômica global e economista-chefe do Goldman Sachs
Inc., além de ser o autor do termo BRICs (Brasil, Rússia, Índia e China).
12
de desenvolvimento calcado em algumas variáveis que não as consideradas
tradicionalmente, o que o faria ter um perfil diverso do dos outros componentes
do grupo. E é justamente destas “variáveis” que iremos tratar no presente
trabalho.
O’Neill, ao fazer uma análise da economia brasileira, destacou alguns
elementos que a atravancam: “A dívida externa, a corrupção, a regulamentação
e a estabilidade política são itens nos quais o Brasil precisa trabalhar mais”
3
,
disse em uma entrevista, concedida no mês de junho de 2006, ao jornal Folha
de São Paulo. No entanto, mesmo com a ressalva, O'Neill enfatizou que o país
ainda merece pertencer ao grupo BRICs.
Como se percebe, o Brasil apresenta problemas bastante complexos,
como os apontados acima. Entretanto, ao apontar as fragilidades do caso
brasileiro, o autor não levou em consideração alguns problemas que,
concomitantemente, assolam os outros países componentes do grupo dos
BRICs, como por exemplo, a China e a Índia. De fato, o Brasil encontra-se
muito á frente de ambos os países citados no que diz respeito à democracia e
aos direitos humanos, por exemplo. As desigualdades de renda na Índia e o
sistema de castas podem ser considerados aviltantes para um olhar europeu
imbuído dos ideais difundidos pela Revolução Francesa. E a utilização de mão
de obra quase escrava na China, no setor industrial, assim como muitos outros
níveis de exploração do trabalho? Será que os aspectos sociais e políticos não
deveriam fazer parte do conceito de “desenvolvimento”? Ou será que apenas a
acumulação de taxas de crescimento espetaculares pode mudar o perfil de
uma nação para melhor?
As relações do Brasil com os demais BRICs não é apenas pautada em
semelhanças, ou ainda, simplesmente amistosa. Por detrás de todas as
3
CARDOSO, Cíntia. Brasil tem menor crescimento que Rússia, Índia e China. [online]
Disponível em: http://vestibular.uol.com.br/atualidades/ult1685u244.jhtm
. Arquivo retirado do
Jornal Folha de São Paulo e consultado dia 10 de julho de 2006.
13
características similares, existem questões profundas, como aponta João Paulo
dos Reis Velloso
4
, neste trecho debatido no XVII Fórum Nacional
5
:
(...) China e Índia, como sabido, são países extremamente
complexos, e passaram da condição de países de baixo
crescimento para países de alto crescimento, com enorme
expansão do seu comércio exterior e outras grandes
transformações. Ao mesmo tempo, m seus problemas e
vulnerabilidades. A essência do desafio está nos grandes
avanços competitivos recentes da China e Índia, e no risco de o
Brasil ficar para trás, alijado, em boa medida, dos mercados de
países integrantes da Organização para a Cooperação e o
Desenvolvimento Econômico (OCDE)
6
, Ásia e outras áreas. E
ameaçados no nosso próprio mercado interno. Novo elemento
do desafio é representado pelo fato de que os dois têm
programas de evolução para a Economia do Conhecimento o
novo modelo de desenvolvimento, para o qual temos, também
de evoluir
7
.
A mídia como um todo divulga diariamente a necessidade de se
conseguir um determinado nível de desenvolvimento econômico. Ela mesma
estabelece enormes comparações entre o desenvolvimento econômico dos
países. Podemos citar como exemplo uma reportagem do jornal Estado de São
Paulo, que destaca essa visão quantitativa e restrita do desenvolvimento no
seguinte trecho: “A economia chinesa cresceu 10,7 por cento em 2006, maior
taxa registrada em 11 anos, graças à ampliação de investimentos e
exportações, apesar das medidas do governo para controlar o ritmo da
expansão. (...) O PIB chinês agora soma 2,7 trilhões de dólares, o que dividido
4
João Paulo dos Reis Velloso é Coordenador-geral do Fórum Nacional (INAE), Ex-
Presidente do IBMEC Mercado de Capitais, Professor da EPGE (FGV). Ex-Ministro do
Planejamento.
5
O Fórum Nacional é associação de cerca de cem dos principais economistas, sociólogos e
cientistas políticos do país, iniciada em 1988 com a finalidade de oferecer propostas concretas
para a modernização da sociedade brasileira. Em 1991, o Fórum Nacional foi formalizado e
adquiriu permanência, com a criação do Instituto Nacional de Altos Estudos - Inae, sociedade
civil sem fins lucrativos.
6
A Organização para Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE) é uma
organização internacional e intergovernamental que agrupa os países mais industrializados da
economia do mercado. Na OCDE, os representantes dos países membros se reúnem para
trocar informações e definir políticas com o objetivo de maximizar o crescimento econômico e o
desenvolvimento dos países membros.
7
VELLOSO, João Paulo dos Reis (org.). O Desafio da China e da Índia: a resposta do Brasil
/ coordenação João Paulo dos Reis Velloso... [et al.] Rio de Janeiro: José Olympio Editora,
2005, p.10.
14
pela gigantesca população de 1,3 bilhão de pessoas pela primeira vez uma
renda per capita superior a 2.000 dólares, bem abaixo dos 42 mil dólares dos
EUA.”
8
.
No entanto, o que é preciso observar são as variáveis que se encontram
por detrás dessa “classificação” que se propõe. O fato de simplesmente aceitar
essas comparações como verdades absolutas pode trazer conseqüências
muito duras para a realidade de um povo. Afinal, o conceito de
desenvolvimento econômico, concebido de forma distorcida, pode fazer com
que as políticas públicas de um país sejam construídas dando preferência a um
determinado tipo de gasto e investimento a outro o que pode comprometer a
ordem e o futuro de uma nação.
Exatamente esse aspecto é o que se deseja tratar nesse estudo: quais
seriam as variáveis que poderiam ser detectadas no contexto de um país para
caracterizá-lo como em desenvolvimento? Impõe-se ao Brasil, na atualidade,
que o mesmo tenha como meta as taxas de crescimento anuais chineses e o
desenvolvimento tecnológico indiano. Não seria a hora de se recomendar a
países como a China e a Índia a democracia nacional? Com certeza, o Brasil
teria menos dificuldade para crescer do que a China para transformar a sua
ordem política. Sen contar que alguns autores chegam a considerar a ditadura
ou regimes autoritários funcionais ao crescimento econômico
9
.
Um dos pontos que mais chamaram atenção para a necessidade de se
escrever sobre o tema foi a polêmica possibilidade de “retirada” do nome do
Brasil do hall dos BRICs. Podemos citar, como forte exemplo, o ponto de vista
de Gray Newman
10
. O mesmo pôs em dúvida a colocação do Brasil como
8
A fim de ilustrar esse fato, podemos citar a seguinte reportagem: “China cresce 10,7% em
2006, a maior taxa em 11 anos”
. FONTE: VICENTINI, Paulo. China cresce 10,7% em 2006, a
maior taxa em 11 anos. Estado de São Paulo, São Paulo, 26 jan. 2007, p. B7.
9
Ver a esse respeito: LIMONGI, F. ; CHEIBUB, J. A. ; PRZEWORSKI, A. ; ALVAREZ, M. .
Democracy and Development: political institutions and well-being in the world, 1950-
1990. New York: Cambridge University Press, 2000. 312 p. e também
Ha-Joon Chang.
Chutando a Escada: a estratégia do desenvolvimento em perspectiva histórica. São Paulo:
Editora UNESP, 2004, p.127.
10
Gray Newman é diretor de estudos do Morgan Stanley para a América Latina, analista
sênior e economista-chefe desta empresa, a qual é um banco de investimento global, com
proeminente liderança nos seus vários “core businesses”, como Gestão de Ativos, Operações
sobre Valores Mobiliários e Serviços de Crédito. Mundialmente, os seus recursos expandem-se
por 28 países.
15
membro do BRICs
11
Is it time to pull Brazil out of the BRICs and rename
them the RICs
?” e enumerou diversos fatores que poderiam contribuir para
rebatizar o grupo como sendo os RICS. Para o autor, o problema do Brasil não
seria simplesmente os recordes de baixa de crescimento, mas principalmente
os desafios fiscais que o país teria de enfrentar nos próximos anos, e mais, os
gastos crescentes com a previdência, que inviabilizariam um real impulso de
crescimento da economia.
o empresário e colunista Benjamin Steinbruch
12
trata dos BRICs e da
questão nacional
13
, comparando-os com os países que no século passado
enriqueceram, como o Japão e a Coréia. O autor afirma que esses dois países
apresentam quatro características que os quatro pretendentes a potências em
2050 deveriam apresentar. Primeiramente, a estabilidade macroeconômica,
com baixa inflação, equilíbrio nas contas públicas, juros menores, maior
estímulo aos investimentos e uma taxa de cambio desvalorizada a fim de
fortalecer o comércio exportador. Em segundo lugar, o investimento em
educação. Em seguida, a estabilidade institucional, de uma forma geral, e por
último, a abertura econômica em via de mão dupla, ou seja, “tanto para o
comércio internacional quanto para os investimentos externos”.
Deve-se destacar ainda que, o próprio presidente do Brasil, Luiz Ignácio
Lula da Silva, garantiu que, em sua concepção, seria inconcebível uma
valorização da economia em detrimento da democracia. O mesmo afirmou de
forma concreta que: “A democracia é o ambiente mais saudável para o
crescimento. Pouco me interessaria um aumento expressivo do PIB se isso
implicasse, no mínimo que fosse, redução das liberdades democráticas. Assim
como não adianta crescer sem distribuir, não adianta crescer sem
11
NEWMAN, Gray. Latin America: Emerging Markets: RICs or BRICs? [online] Disponível na
internet via WWW. URL: http://www.morganstanley.com/GEFdata/digests/20061010-tue.html
.
Arquivo consultado em 10 de outubro de 2006.
12
Benjamin Steinbruch, 52 anos, empresário, é diretor-presidente da Companhia Siderúrgica
Nacional, presidente do conselho de administração da empresa e primeiro vice-presidente da
Fiesp (Federação das Indústrias do Estado de São Paulo). As terças-feiras, o mesmo assina a
coluna “Opinião Econômica” publicada no caderno Dinheiro da Folha de São Paulo. Além
disso, Benjamin Steinbruch é formado em administração de empresas pela Fundação Getúlio
Vargas e filho de Mendel Steinbruch que ao lado de Jacks Rabinovich foi fundador do Grupo
Vicunha, maior grupo têxtil da América latina.
13
STEINBRUCH, Benjamin. Colar nos Brics. [online] Disponível na Internet via WWW. URL:
http://clipping.planejamento.gov.br/Noticias.asp?NOTCod=256444
. Arquivo retirado do Jornal
Folha de São Paulo e consultado dia 16 de outubro de 2006.
16
democratizar”
14
. Guido Mantega, ministro da Fazenda no Brasil, em março de
2006, afirmou que o Brasil encontra-se num nível de desenvolvimento mais
avançado que a própria Índia e a China e que por esse motivo o país não
precisaria crescer tanto quanto esses países para conseguir “gerar empregos,
fortalecer o mercado interno e o Brasil se tornar uma das maiores economias
do mundo”
15
.
Na verdade, o que se percebe é uma certa discordância no próprio
conceito de desenvolvimento, no momento em que se confunde este conceito
com o de crescimento econômico. De fato, como conseqüência, a maioria das
publicações a respeito do BRICs enfatizam monogâmicamente a questão do
crescimento econômico. Afirma-se veementemente, que ser desenvolvido é,
pura e simplesmente, uma questão de PIB ou índices conexos. A comparação
entre níveis de desenvolvimento acabou resumindo-se a uma comparação
quantitativa de taxas de crescimento econômico. Ser desenvolvido plenamente
é, no entanto, muito mais do que crescer em larga escala. De fato, a taxa de
crescimento econômico no Brasil pode estar aquém das atuais taxas de
crescimento na China. No entanto, a China poderá incorporar a democracia e o
próprio exercício da cidadania, mais avançados no caso brasileiro, o que
poderá ter reflexo na intensidade do seu crescimento. A questão política e
social e o crescimento econômico não podem ser dissociados, havendo
necessidade de compreender e comparar os diferentes países com base em
denominadores mais complexos que a mera taxa de crescimento.
Será que os indicadores existentes traduzem, da forma mais fidedigna
possível, a realidade, a fim de que fatores sociais, políticos e jurídicos não
sejam banidos de um conceito tão relevante como o de desenvolvimento? O
que se pretende não é responder às questões colocadas impondo verdadeiros
dogmas, mas sim, polemizá-las, como ponto de partida para uma reflexão
14
BRAMATTI, Daniel. democracia embasa crescimento, diz Lula. [online] Disponível na
internet via WWW. URL: http://terramagazine.terra.com.br/interna/0,,OI1362772-
EI6579,00.html. Arquivo retirado do site Terra Magazine e consultado dia 30 de janeiro de
2007.
15
WASSERMANN, Rogério. Mantega: Brasil não precisa crescer como Índia e China.
[online] Disponível na internet via WWW. URL:
http://www1.folha.uol.com.br/folha/bbc/ult272u60436.shtml
. Arquivo retirado do Jornal Folha
Online e consultado dia 30 de janeiro de 2007.
17
teórica sobre desenvolvimento, que permita realizar comparações entre países
de histórias diferentes e culturas diversas.
O objetivo principal do trabalho é, a partir de três perspectivas teóricas
diversas, analisar alguns dos principais indicadores existentes que se propõe a
mensurar o desenvolvimento das nações. Tais perspectivas foram
selecionadas a partir da tentativa de captar três pontos de vista diversos. Três
autores, com objetos de estudo semelhantes, mas com formas de analisar a
realidade diferentes. São eles Celso Furtado, Ha-Joon Chang e Amartya Sen.
O foco que Furtado coloca na sustentabilidade é complementado pela mira
certeira de Chang na sua cautelosa análise das instituições. Da mesma forma,
Sen colabora com sua perspectiva de desenvolvimento onde a liberdade ocupa
um papel primordial. Sustentabilidade ambiental, instituições e liberdade são,
neste trabalho, princípios constitutivos basilares do desenvolvimento e, por
essa razão, procuraremos propor indicadores que incorporem estes
fundamentos.
O que se deseja é analisar se os indicadores existentes são capazes
de entender e captar o que seria o desenvolvimento de um país através de um
prisma que inclua, além das variáveis econômicas, variáveis sociais, políticas e
legais. Sabemos que, em um indicador “perfeito”, devem estar presentes
fatores sociais como a educação e a saúde políticos –, como a democracia
–, e legais como as liberdades e os direitos humanos. O trabalho, dessa
forma, pretende, a partir dos fundamentos indicados, abordar criticamente as
concepções de desenvolvimento econômico hegemônico, da forma com que os
institutos de pesquisa abordam e a imprensa massifica.
O trabalho está estruturado em quatro capítulos, além de uma
introdução e uma conclusão.
No primeiro, analisa-se a perspectiva de Celso Furtado
16
o qual, no livro
O Mito do Desenvolvimento Econômico
17
, introduz o conceito de
16
Celso Furtado (1920-2004), economista paraibano de Pombal e fundador da Sudene, que
lançou as bases para um novo pensamento econômico, baseado na sustentabilidade, sendo
reconhecido como um dos mais importantes economistas do Séc. XX.
17
Furtado, Celso. O mito do desenvolvimento econômico, Rio de Janeiro, Editora Paz e
Terra, 1974.
18
sustentabilidade ambiental e a relação entre esta e o desenvolvimento. Essa
relação, para Furtado, é fundamental, sobretudo para as economias periféricas.
Furtado foi o pioneiro ao apresentar o conceito de sustentabilidade. Para
Furtado, o homem moderno estaria negligenciando um grave problema:
Refiro-me ao caráter predatório do processo de
civilização, particularmente da variante desse processo
engendrada pela revolução industrial. A evidência à qual
não podemos escapar é que em nossa civilização a
criação de valor econômico provoca, na grande maioria
dos casos, processos irreversíveis de degradação do
mundo físico. O economista limita seu campo de
observação a processos parciais, pretendendo ignorar
que esses processos provocam crescente modificações
no mundo físico. (...) Não se trata de especular se
teoricamente a ciência e a técnica capacitam o homem
para solucionar este ou aquele problema criado por nossa
civilização. Trata-se apenas de reconhecer que o que
chamamos de criação de valor econômico tem como
contra-partida processos irreversíveis no mundo físico,
cujas conseqüências tratamos de ignorar
18
.
A visão de sustentabilidade de Furtado é fundamental para o nosso
objetivo, que é propor um indicador de desenvolvimento mais abrangente do
que o PIB, por exemplo.
No segundo capítulo, analisamos a perspectiva do desenvolvimento de
Ha-Joon Chang
19
tomando como ponto de partida o livro Chutando a Escada
20
.
Examinamos suas considerações a respeito da “cartilha” ditada pelos países
Centrais, na qual estes recomendam regras, instituições e políticas públicas
para os Países Periféricos. Perceberemos que estes “conselhos” não são tão
confiáveis, uma vez que não reproduzem a história vivida por esses países,
18
Furtado, Celso. O mito do desenvolvimento econômico, Rio de Janeiro, Editora Paz e
Terra, 1974. p.19.
19
Ha-Joon Chang, economista sul-coreano, é professor da Universidade de Cambridge, na
Inglaterra, desde 1990, e diretor-adjunto do Departamento de Estudos sobre Desenvolvimento.
Chang vem sendo considerado um líder da nova geração de economistas heterodoxos que
tentam revitalizar os trabalhos e debates na área de desenvolvimento econômico.
20
Ha-Joon Chang. Chutando a Escada: a estratégia do desenvolvimento em perspectiva
histórica
. São Paulo: Editora UNESP, 2004. Em 2003, o livro, cujo título original em inglês é
Kicking away the ladder: development strategy in historical perspective, foi o vencedor do
Prêmio Gunnar Myrdal, dado pela EAEPE (European Association for Evolutionary Political
Economy) para a melhor publicação.
19
mas apenas uma estratégia destes em “chutar a escada” que subiram, para
que os demais não subam:
Á luz dessas provas contrárias à visão ortodoxa da
história do capitalismo, cabe indagar até que ponto os
países desenvolvidos não estão procurando esconder o
“segredo de seu sucesso”. (...) Em outras palavras, o que
este livro pergunta é: como os países ricos enriqueceram
de fato?
21
No terceiro capítulo, apresentamos as idéias de Amartya Sen, tomando
como referência seu livro
Desenvolvimento como Liberdade
22
. Neste, o autor
o desenvolvimento como um processo de expansão das liberdades reais
que as pessoas desfrutam. Para Sen, identificar desenvolvimento como um
simples crescimento do Produto Interno Bruto é conservar uma visão
demasiado restrita. O autor não desmerece a necessidade do crescimento do
PIB e das rendas individuais. Porém, é preciso entender esse aumento de
renda como uma forma de expandir as liberdades dos cidadãos:
O desenvolvimento requer que se removam as principais
fontes de privação de liberdade: pobreza e tirania,
carência de oportunidades econômicas e destituição
social sistemática, negligência dos serviços públicos e
intolerância ou interferência excessiva de Estados
repressivos. A despeito de aumentos sem precedentes na
opulência global, o mundo atual nega liberdades
elementares a um grande número de pessoas talvez
até mesmo à maioria
23
.
Ou seja, o crescimento econômico em si não configura desenvolvimento,
mas sim, apenas um meio para se alcançar o desenvolvimento.
21
Ha-Joon Chang. Chutando a Escada: a estratégia do desenvolvimento em perspectiva
histórica
. São Paulo: Editora UNESP, 2004. p. 13.
22
SEN, Amartya Kumar. Desenvolvimento como Liberdade / Amartya Sen; tradução Laura
Teixeira Motta; revisão técnica Ricardo Doniselli Mendes. São Paulo: Companhia das Letras,
2000.
23
SEN, Amartya Kumar. Desenvolvimento como Liberdade / Amartya Sen; tradução Laura
Teixeira Motta; revisão técnica Ricardo Doniselli Mendes. São Paulo: Companhia das Letras,
2000. p. 18.
20
Com essas três perspectivas diversas, temos base para construir a
quarta e última parte do trabalho. Construímos então uma visão panorâmica
dos indicadores de desenvolvimento existentes, observando sua composição e
apontando assim algumas de suas fragilidades e potencialidades. Além disso,
tentamos construir um banco de dados para os BRICs, que permita, ainda que
de forma incipiente, que se estabeleça uma comparação entre os países. A
conclusão da tese é que o indicador que mais se adequaria a uma concepção
de desenvolvimento com equidade, justiça social e liberdade teria de partir dos
fundamentos teóricos apresentados.
21
2. MITO E SUSTENTABILIDADE EM CELSO FURTADO
O objetivo deste capítulo é, a partir da sistematização das idéias de
Celso Furtado
24
expostas no livro “O Mito do Desenvolvimento Econômico”
25
chegar a um conceito de sustentabilidade que possa servir de fundamento
para a construção de um indicador de desenvolvimento.
Na primeira parte do capítulo apresento as idéias do autor relativas à
existência de um mito do progresso, que igualaria países periféricos e países
centrais num mesmo padrão de consumo. Na segunda parte, analiso o modelo
de sustentabilidade de Furtado, para concluir que o padrão de consumo
implícito no que Furtado considera o mito do progresso, caso fosse
generalizado em escala global, teria efeitos catastróficos em termos
ambientais.
2.1. O MITO DO PROGRESSO
Ao iniciarmos a leitura de Celso Furtado, nos deparamos com o conceito
de mito. Furtado faz questão de analisar os mitos e a relação destes com a
realidade humana. De fato, os mitos são responsáveis por certa compreensão
da realidade social. Segundo o autor: “A função do mito é orientar, num plano
intuitivo, a construção daquilo que Schumpeter
26
chamou de visão do processo
social, sem a qual o trabalho analítico não teria qualquer sentido”
27
.
Furtado parte da hipótese de que vivemos um mito, uma ilusão, ao
acreditar que o progresso e o crescimento econômico, de forma isolada e
24
Celso Furtado (1920-2004), economista paraibano de Pombal e fundador da Sudene
(Superintendência do Desenvolvimento do Nordeste), que lançou as bases para um novo
pensamento econômico, baseado na sustentabilidade, sendo reconhecido como um dos mais
importantes economistas do Séc. XX.
25
FURTADO, Celso. O Mito do Desenvolvimento Econômico. Rio de Janeiro: Paz e Terra,
1974. p.7
26
Joseph Alois Schumpeter (1883-1950) foi um dos economistas mais importantes do último
século. Procurou compreender os movimentos gerais da economia do modo particular de
produzir em sociedade: o capitalismo. Mas, diferente dos economistas clássicos, Schumpeter
não considerava o crescimento da população, o aumento da produção e o acúmulo de recursos
como os fatores determinantes do desenvolvimento econômico. Nesse assunto, estava mais
próximo de Karl Marx conferindo papel relevante ao progresso técnico na dinâmica capitalista.
27
FURTADO, Celso. op. cit., p. 7.
22
estática podem constituir um avanço social. O “mito do progresso”, como o
autor coloca, é uma forma de visão da realidade bastante estreita e simplista, a
qual infelizmente perpassa toda a literatura sobre desenvolvimento econômico
contemporânea, fundada na idéia de que o desenvolvimento econômico, tal
como praticado pelos países que lideraram a revolução industrial, possa ser
universalizado.
O autor acredita ser inconcebível a hipótese de que os padrões de
consumo da minoria da humanidade venham a se tornar acessíveis às
crescentes populações dos países subdesenvolvidos. Por esta razão é que o
autor trata o “progresso” de forma mítica.
Furtado afirma que o padrão de consumo dos países industrializados é
“exportado” aos países em desenvolvimento, tornando-se também a lógica
destes. Dessa forma, a ideologia burguesa margem à atual mentalidade da
sociedade industrial. Furtado explica o “mito do progresso” como sendo parte
da filosofia capitalista intrínseca à vida da sociedade contemporânea:
“elemento essencial na ideologia diretora da revolução burguesa, dentro da
qual se criou a atual sociedade industrial”
28
.
Para Furtado, os economistas tendem a conceber a realidade através de
complexos esquemas de acumulação de capital, os quais, juntamente com o
progresso tecnológico, constituiriam a mola propulsora da sociedade industrial,
fora de qualquer contexto social. Crer que o desenvolvimento econômico,
concebido desta forma, possa ser universalizado gerando benefícios para
todos é uma falácia.
O autor expressa um descontentamento com a rasa concepção de
progresso dos modelos de desenvolvimento, a qual não leva em conta o meio
ambiente, a cultura, enfim, questões que, á primeira vista, não estão
diretamente ligadas à acumulação de capital, ao lucro, a valores capitalistas.
Mas que, por outro lado, tratam do futuro, das próximas gerações, dentro de
uma perspectiva mais igualitária e humanitária do Planeta:
Pouca ou nenhuma atenção foi dada às conseqüências, no
plano cultural, de um crescimento exponencial do estoque de
capital. As grandes metrópoles modernas, com seu ar
28
FURTADO, Celso. op. cit., p. 8.
23
irrespirável, crescente criminalidade, deterioração dos serviços
públicos, fuga da juventude na anticultura, surgiram como um
pesadelo no sonho do progresso linear em que se embalavam
os teóricos do crescimento. Menos atenção ainda se havia
dado ao impacto no meio físico de um sistema de decisões
cujos objetivos últimos são satisfazer interesses privados
29
.
Além disso, a forma excludente de um consumo que é cópia do padrão
dos países afortunados o qual se tornou possível graças aos aumentos de
produtividade revertidos em benefício de escassa minoria explicaria o
agravamento das desigualdades sociais como função do próprio avanço na
acumulação.
Furtado deixa claro que a idéia do desenvolvimento como um mito, uma
fantasia, algo inalcançável no arcabouço de um sistema que destrói recursos
naturais, agrava disparidades de renda e tende ainda a produzir uma
homogeneização cultural danosa. Para Furtado, os mitos têm exercido grande
influência na
“mente dos homens que se empenham em compreender a
realidade social
30
, como, por exemplo, no caso de Rousseau
31
e o bon
sauvage
32
, e no de Malthus
33
e o seu “princípio populacional”
34
ou no de
Walras
35
e o “equilíbrio geral”
36
. Afinal, todos esses enunciados têm como
29
FURTADO, Celso. op. cit., p. 9.
30
FURTADO, Celso. op. cit., p. 15.
31
Jean-Jacques Rousseau (1712 - 1778) foi um filósofo, escritor e teórico político suíço. Uma
das figuras marcantes do Iluminismo francês, que é também um precursor do romantismo.
Defendia que todos os homens nascem livres, e a liberdade faz parte da natureza do homem e,
com esta máxima inspirou todos os movimentos que visavam uma busca pela liberdade.
32
"Bon sauvage", ou seja, bom selvagem, teve origem em Rousseau que defendia que sem a
sociedade a corrompe-lo, o Homem era naturalmente bom, ou seja, “o homem nasce bom e a
sociedade o corrompe”.
33
Thomas Robert Malthus (1766 - 1832) foi um economista britânico cuja fama decorre dos
estudos sobre a população, uma vez que para ele o excesso populacional era a causa de todos
os males da sociedade. Em síntese, de acordo com Malthus, apopulação cresce em
progressão geométrica e alimentos em progressão aritmética.
34
Princípio Populacional conferiu grande fama a seu autor, Malthus, e decorreu dos seus
estudos sobre a população. Para ele o excesso populacional era a causa de todos os males da
sociedade (população cresce em progressão geométrica e alimentos em progressão
aritmética). Malthus realizou ensaios sobre esta questão. Um deles denominado "Um ensaio
sobre o princípio da população na medida em que afeta o melhoramento futuro da sociedade,
com notas sobre as especulações de Mr. Godwin, M. Condorcet e outros escritores" (1798) e
um outro chamado "Um ensaio sobre o princípio da população ou uma visão de seus efeitos
passados e presentes na felicidade humana, com uma investigação das nossas expectativas
quanto à remoção ou mitigação futura dos males que ocasiona" (1803).
35
Marie-Ésprit-Léon Walras (1834 - 1910) foi um economista e matemático francês associado com a
criação da Teoria do Equilíbrio Geral. Foi considerado por Joseph Schumpeter como “o maior de todo os
economistas”.
24
sustentáculo algum postulado cujo sistema de valores é raramente explicitado.
No caso do mito do progresso, tem sido uma idéia de grande utilidade para
explicar e fazer compreender a necessidade de destruir o meio físico e para
justificar formas de dependência que reforçam o caráter predatório do sistema
produtivo.
Dessa forma, podemos inferir que a palavra mito, na obra do autor, é a
forma de que o mesmo se vale para desmascarar a falsa idéia de que o
progresso seria conseqüência do crescimento econômico como se fosse
este, a correta e única forma de se alcançar a prosperidade. Ledo engano.
Serão desastrosos os efeitos colaterais do mero crescimento econômico.
Fechar os olhos para as conseqüências do crescimento econômico tem um
preço muito alto: impacto catastrófico na natureza e mazelas sociais terríveis.
Ou seja, o resultado de ‘tamanha riqueza’ será um desenvolvimento em nada
sustentável, como veremos no próximo tópico.
2.2. SUSTENTABILIDADE
O mito do desenvolvimento econômico, como Furtado o apresenta, está
intimamente ligado à tese de que este não é capaz de assegurar
sustentabilidade ao próprio sistema.
Furtado começa a tratar de sustentabilidade citando o estudo “The Limits
to Growth”
37
. Tal documento, apresentado no Clube de Roma
38
, em 1972,
gerou enorme polêmica, pois colocou em xeque a ideologia do crescimento
econômico, ou seja, a idéia de que era possível continuar a produzir e a
36
Teoria do Equilíbrio Geral é um conjunto de teoremas microeconômicos. Ela procura explicar a
produção, o consumo e os preços numa economia completa.O Equilíbrio Geral tenta nos fazer entender
uma economia completa utilizando uma abordagem próxima, iniciando com mercados e agentes
individuais. O modelo do equilíbrio geral geralmente refere-se à uma multidão de diferentes mercados
de bens. O equilíbrio geral walrasiano refere-se à noção de equilíbrio na qual igualdade entre oferta
agregada e demanda agregada nos mercados de bens e de fatores. Esse equilíbrio é garantido por um
vetor de preços responsável pela igualdade.
37
Os Limites do Crescimento (The Limits to Growth) foi um livro publicado em 1972 como resultado do
trabalho de investigação realizado por uma equipa do Massachusetts Institute of Technology (MIT),
coordenada por Dennis Meadows, a pedido do Clube de Roma. Tal documento informa que, com o
ritmo de crescimento conhecido à época (o qual era infinitamente inferior ao autal), ao final do séc. XXI
a humanidade correria sérios riscos de sobrevivência.
38
Clube de Roma (The Club of Rome) foi criado em 1968, no intuito de discutir questões
relacionadas à política, à economia internacional e, sobretudo, analisar os limites do
crescimento econômico, sempre considerando o uso crescente dos recursos naturais e o
impacto dessa pratica no meio ambiente. É comporto por cientistas, industriais e políticos.
25
consumir recursos, com elevado desperdício, sem que esta prática pudesse
gerar conseqüências devastadoras. A idéia de que não existiriam limites para a
capacidade de regeneração e assimilação, dos resíduos produzidos pela
Natureza, foi completamente descartada. A errônea impressão de que a
população do planeta poderia suportar tais estragos acabou. A concepção de
que riquezas como os minerais, os combustíveis, a água potável e o solo
produtivo iriam durar para sempre, enfim, essa crença do
“ad eterno” caiu por
terra.
Furtado apresenta o estudo com muito entusiasmo, pois, de acordo com
ele, trata-se de um documento precursor, que proporcionou bases científicas
para questões globais. O autor, ao final de sua análise, apresenta o problema
dos países subdesenvolvidos:
Pela primeira vez dispomos de um conjunto de dados
representativos de aspectos fundamentais da estrutura e de
algumas tendências gerais daquilo que se começa a chamar de
sistema econômico planetário. Mais ainda: dispomos de um
conjunto de informações que nos permitem formular algumas
questões de fundo relacionadas com o futuro dos chamados
países subdesenvolvidos
39
.
Para Furtado, o que existia em abundância era a feitura de
prognósticos momentâneos, modelos representativos da estrutura econômica e
do seu funcionamento no curto prazo. Para ilustrar a idéia, Furtado cita os dois
séculos improdutivos no que tange à questão da consciência do meio
ambiente entre o
tableau économique
40
dos fisiocratas
41
e as matrizes de
39
FURTADO, Celso. op. cit., p. 10.
40
"Tableau économique" foi o primeiro modelo do sistema econômico, publicado em 1758 e
elaborado pelo fisiocrata francês François Quesnay. Tal modelo se propunha a explicar como o
produto total de uma sociedade circula entre grandes grupos sociais, representados por
proprietários de terra, agricultores arrendatários, mercadores e artífices. Desejava mostrar
também como o produto nacional se produzia anualmente. Baseava-se na idéia de
que somente a agricultura seria capaz de produzir superavit.
41
A fisiocracia surgiu no século XVIII e é considerada a primeira escola de economia científica.
Os
fisiocratas consideram o sistema econômico como um "organismo" regido por leis
intrínsecas, ou seja, pela ordem natural das coisas, sendo elas assim, cientificamente
relevantes. Para os fisiocratas, toda riqueza provém da terra, a indústria apenas diversifica o
produto e o comércio distribui.
26
Leontieff
42
. Durante esses duzentos anos, para o autor, algo se aprendeu sobre
a interdependência das atividades econômicas.
Furtado afirma ainda que foi apenas no último quarto do século que
modelos complexos de economias nacionais de dimensões reduzidas porém,
amplamente abertas ao mundo exterior, como a Holanda foram construídos.
Ou modelos de economias nacionais de amplas dimensões e mais
autocentradas, como a dos Estados Unidos. Tais modelos proporcionaram
então, uma perspectiva a mais longo prazo de certas variáveis, principalmente
a demanda de produtos estratégicos. Para ilustrar essa questão, o autor cita o
exemplo dos Estados Unidos, um país que está ciente da interdependência
entre os países e da necessidade de estreitar laços na economia mundial:
Esses estudos puseram em evidência o fato de que a economia
norte-americana tende a ser crescentemente
dependente de
recursos não renováveis produzidos fora do país. É esta,
seguramente, uma conclusão de grande importância, que está
na base da política de crescente
abertura da economia dos
Estados Unidos e de fortalecimento das grandes empresas
capazes de promover a exploração de recursos naturais em
escala planetária
43
.
Furtado constata que, nas projeções a mais longo prazo, feitas no
quadro dos estudos sobre o desenvolvimento, anteriores ao trabalho
The Limits
to Growth
existia a idéia, mesmo que implícita, de que a fronteira externa do
sistema seria ilimitada. A hipótese sobre o progresso das técnicas e o conceito
de reservas dinâmicas tranqüilizava os espíritos inquietos. O estudo feito para
o Clube de Roma abandonou a hipótese de um sistema aberto para a fronteira
de recursos naturais. E é graças ao desenvolvimento e a propagação destas
idéias que temos, hoje, debates cada vez mais fortes sobre a questão
ambiental (como aqueles promovidos pela UNFCCC
44
), protocolos (como o ex-
42
Wassily Leontief (1905 - 1999) foi um economista soviético-estadunidense, professor da
Harvard University. Ganhador do ganhador do Prêmio Nobel de Economia, em 1973, por
desenvolver uma teoria de planejamento econômico através da análise de um sistema do tipo
insumo-produto, a
Matriz de Leontief, e por sua aplicação em importantes problemas
econômicos.
43
FURTADO, Celso. op. cit., p. 11. Grifos do autor.
44
UNFCCC (United Nations Framework Convention on Climate Change ou, em português,
Convenção Quadro das Nações Unidas So
bre Alterações Climáticas) é composta por 198 países que se juntaram num acordo
internacional que estabelece objetivos genéricos e regras para se enfrentar a questão das
alterações climáticas.
27
protocolo e atual Tratado de Kyoto
45
) e acordos supranacionais (Tratado de
Maastricht
46
), visando um controle mais rígido da degradação dos recursos
naturais.
Para Furtado, a grande contribuição do texto “The Limits to Growth” é ter
deixado claro que, no que diz respeito à proteção da natureza, não adianta
nenhum país agir sozinho. É, sem sombra de dúvidas, uma questão global e,
por assim ser, providências deste porte devem ser tomadas. A preocupação do
autor está na própria “filosofia” de vida dos países desenvolvidos a qual,
como foi dito, é exportada para os países subdesenvolvidos e rapidamente
absorvida por estes e que, se fosse efetivamente concretizada geraria
impactos inimagináveis. Furtado explica:
(...) que acontecese o desenvolvimento econômico, para o
qual estão sendo mobilizados todos os povos da terra, chegar
efetivamente a concretizar-se, isto é, se as atuais formas de
vida dos povos ricos chegarem efetivamente a universalizar-
se? A resposta a essa pergunta é clara, sem ambigüidades: se
tal acontecesse, a pressão sobre os recursos não renováveis
e a poluição do meio ambiente seriam de tal ordem (ou
alternativamente, o custo do controle da poluição seria tão
elevado) que o sistema econômico mundial entraria
necessariamente em colapso
47
.
Deve-se inferir, diante da citação, que estes efeitos podem tomar uma
proporção maior, que a sociedade mundial caminha para um crescimento
desordenado onde a civilização, caso não sejam tomadas providências, tende
a intensificar o processo predatório dela mesma. Afinal, são negligenciadas
medidas de ações sustentáveis que visem reequilibrar o planeta. Em geral,
45
Protocolo de Quioto comumente denominado dessa forma, porém, atualmente,
constitui um tratado internacional versa sobre compromissos mais rígidos para a redução da
emissão dos gases que provocam o efeito estufa, considerados, de acordo com a maioria das
investigações científicas, como causa do aquecimento global. As metas de redução estipuladas
não são homogêneas a todos os países, colocando níveis diferenciados para os 38 países que
mais emitem gases. Países em franco desenvolvimento (como Brasil, México, Argentina e
Índia) não receberam metas de redução, pelo menos momentaneamente.
46
Tratado de Maastricht, também conhecido como Tratado da União Europeia (TUE) foi
assinado em 1992 na cidade holandesa que lhe deu nome. No corpo do tratado, mais
recisamente no seu artigo 174, I, constam objetivos referentes a preservação, a proteção e a
melhoria da qualidade do ambiente (visão ecocentrista, a ecologia como um fim em si mesma)
a utilização prudente e racional dos recursos naturais.
47
FURTADO, Celso. op. cit., p. 12. Grifos do autor.
28
coloca-se em segundo plano a política de meio ambiente, em prol da
aceleração do crescimento.
O texto de Furtado nunca esteve tão atual. O fato dos Estados Unidos
não ter assinado o Tratado de Kyoto, por exemplo, é um sinal de que um dos
maiores poluidores do planeta não quer abrir mão de sua riqueza financeira
para aumentar a qualidade de vida na Terra. Afinal, trata-se de efeitos
colaterais intrínsecos a lógica capitalista: aquecimento global, efeito estufa,
perda de biodiversidade, extinção de animais, etc. Tais problemas, sem uma
devida precaução, tomam rumos preocupantes, uma vez que, quanto maior for
o movimento em busca da acumulação de capital, mais urgentes se tornam as
decisões, afim de que sejam corrigidos ou, simplesmente, minimizados os
atos oriundos de um passado desprovido de consciência ecológica.
Como bem infere Furtado, quando o economista limita seu campo de
observação a processos parciais, ele age ingenuamente. Afinal,
conseqüências, como as que agridem a natureza, não tardam a aparecer,
provocando efeitos na própria produção capitalista. Furtado afirma que:
A atitude ingênua consiste em imaginar que problemas dessa
ordem serão solucionados necessariamente pelo progresso
tecnológico, como se a atual aceleração do progresso
tecnológico não estivesse contribuindo para agravá-las. Não se
trata de especular se teoricamente a ciência e a técnica
capacitam o homem para solucionar este ou aquele problema
criado por nossa civilização. Trata-se apenas de reconhecer que
o que chamamos de criação de valor econômico tem como
contrapartida processos irreversíveis no mundo físico, cujas
conseqüências tratamos de ignorar. (...) Na civilização industrial
o futuro está em grande parte condicionado por decisões que
foram tomadas no passado
48
.
Furtado passa em seguida a uma crítica ao modelo do Clube de Roma,
centrada no irrealismo deste, o qual, ao fazer projeções para a economia
mundial, não levou em consideração as fronteiras nacionais nem a
desigualdade na distribuição dos alimentos, dos recursos e do capital. O
modelo fundou-se na observação das economias que lideraram o processo de
industrialização e que controlaram grande parte dos recursos não-renováveis
48
FURTADO, Celso. op. cit., p. 14. Grifos do autor.
29
dos países subdesenvolvidos. O processo de industrialização caminha de
forma bastante diversa em países que estão em diferentes graus de
desenvolvimento. Ele mesmo propõe a reflexão:
Como admitir que um modelo baseado na observação do
comportamento histórico das atuais economias industrializadas e
na presente estrutura destas possa servir para projetar as
tendências a longo prazo do processo de industrialização em
escala planetária?
49
.
Á frente, quando analisamos o desenvolvimento sob a ótica de Ha-Joon
Chang
50
vamos compreender como Furtado, muitas anos antes, antecipa a
discussão que surgirá no livro “Chutando a Escada”
51
. De fato, não existe como
medir ou prever o futuro dos países subdesenvolvidos, simplesmente
contemplando o passado dos desenvolvidos. É pura ilusão. Na verdade, como
bem coloca Furtado é uma observação inadequada da realidade, portanto, não
é apropriada para projetar qualquer tendência. Simplificar o devir das nações
subdesenvolvidas a ponto de concebê-las futuramente como meras cópias da
atualidade norte-americana é ignorar as múltiplas características do
desenvolvimento, como explica Furtado:
(...) não é possível aceitar a tese, esposada pelos autores do
estudo, segundo a qual ‘à medida em que o resto da economia
mundial se desenvolver economicamente, ela seguirá
basicamente os padrões de consumo dos Estado Unidos’. A
aceitação dessa doutrina implica ignorar a especificidade do
fenômeno do subdesenvolvimento. A ela se deve a confusão
entre economia subdesenvolvida e ‘país jovem’; e a ela se deve
a concepção do desenvolvimento como uma seqüência de fases
necessárias, á la Rostow (...)
52
.
49
FURTADO, Celso. op. cit., p. 16.
50 50
Ha-Joon Chang (n. 1963), economista sul-coreano, é professor da Universidade de
Cambridge, na Inglaterra, desde 1990, e diretor-adjunto do Departamento de Estudos sobre
Desenvolvimento. Chang vem sendo considerado um líder da nova geração de economistas
heterodoxos que tentam revitalizar os trabalhos e debates na área de desenvolvimento
econômico.
51
Ha-Joon Chang. Chutando a Escada: a estratégia do desenvolvimento em perspectiva
histórica
. São Paulo: Editora UNESP, 2004. Em 2003, o livro, cujo título original em inglês é
Kicking away the ladder: development strategy in historical perspective, foi o vencedor do
Prêmio Gunnar Myrdal, dado pela EAEPE (European Association for Evolutionary Political
Economy) para a melhor publicação.
52
FURTADO, Celso. op. cit., p. 17.
30
Torna-se pertinente ressaltar que não foi o liberalismo que fez com que
os Países Centrais, se desenvolvessem, mas sim uma política concebida para
esse fim. Não existe, portanto, uma cartilha liberal a ser cumprida. Na verdade,
tais princípios liberalizantes vão contribuir para tornar o Central cada vez
mais forte e o Periférico cada vez mais excluído.
Como bem coloca Furtado, não é fácil captar a natureza do
subdesenvolvimento. De certo, sabe-se que o subdesenvolvimento nada tem a
ver com a idade de uma sociedade ou de um país. Furtado faz uma importante
consideração sobre a forma de estigmatizar um país através de sua
classificação:
E também sabemos que o parâmetro para medi-lo é o grau de
acumulação de capital aplicado aos processos produtivos e o
grau de acesso ao arsenal de bens finais que caracterizam o que
se convencionou chamar de estilo de vida moderno. Mesmo para
o observador superficial parece evidente que o
subdesenvolvimento está ligado a uma maior heterogeneidade
tecnológica, a qual reflete a natureza das relações externas
desse tipo de economia
53
.
O autor salienta duas grandes transformações ocorridas na economia
mundial durante o século XIX mais especificamente na segunda metade a
fim de que a lógica capitalista seja compreendida juntamente com os danos
que ela acarreta. De fato, neste período, percebeu-se considerável aceleração
na acumulação de capital nos sistemas de produção e, concomitantemente,
uma intensificação do comercio mundial. Esses dois processos levaram a
aumentos da produtividade do trabalho e a um crescimento exponencial do
excedente, financiando a expansão e diversificação do consumo público e
privado.
Para ficar mais clara a análise, Furtado cita fatos históricos. Na
primeira fase da Revolução Industrial, a Inglaterra consolidou o sistema de
divisão do trabalho, cunhando o derradeiro avanço do capitalismo industrial e,
com isso, favoreceu a concentração geográfica de capital, aproveitando as
economias de escala e as economias externas da aglomeração industrial.
53
FURTADO, Celso. op. cit., p. 16.
31
Posteriormente, numa segunda fase, e como reação contra o projeto inglês de
economia mundial, uma maior centralização das decisões e a conseqüente
consolidação dos sistemas econômicos nacionais o que formaria, na
verdade, o ‘clube’ de países desenvolvidos do século atual.
Como descreve Furtado:
Em algumas partes, essa maior centralização seria obtida por
meio da preeminência do sistema bancário, o qual conheceria
importante evolução estrutural; em outras, o Estado nacional
assumiu funções mais amplas na direção do processo de
acumulação. Por toda parte essa orientação levou a alianças de
classes e grupos sociais burguesias industrial, comercial,
financeira, proprietários, rurais, burocracia estatal em torno de
um “projeto nacional”, com repercussões significativas na
evolução do capitalismo industrial
54
.
Nesta segunda fase, o comércio mundial passa a crescer menos
rapidamente que a produção, nos países do centro, e a evolução dos termos
de intercâmbio tende a ser desfavorável á periferia do sistema, produtora de
produtos primários. A acumulação continua a concentrar-se no centro e a maior
centralização de decisões no plano nacional facilita a emergência de grandes
empresas, que controlam os mercados internacionais na forma de cartéis.
De fato, Furtado afirma que os motivos que fizeram com que um país,
neste momento, atravessasse “a linha demarcatória” e entrasse para o
supracitado ‘clube’ dos desenvolvidos, podem ser mais bem explicados com
uma análise histórica do que com uma econômica. Porém, o que o autor quer
deixar claro é que, sejam quais forem os motivos, a questão é que a linha
demarcatória que divide este dois
grupos de países se acentuou. Muitos,
atualmente, denominam tal ‘linha’ como sendo um verdadeiro fosso de
desigualdades.
Após tecer estes comentários sobre a divisão entre desenvolvidos e
subdesenvolvidos, Furtado centra a análise no segundo grupo. Ele afirma que
as economias subdesenvolvidas têm sua história pautada no processo de
“substituição de importações”. Na sua maioria, são países que integraram o
54
FURTADO, Celso. op. cit., p. 16.
32
sistema capitalista internacional na fase da hegemonia britânica e
permaneceram como exportadores de produtos primários, quando,
posteriormente o sistema se expandiu. Para Furtado o grande problema está
na perspectiva destes países. Ao invés de entender incremento de
produtividade como resultado de um processo de acumulação de capital e
avanços tecnológicos, tais nações entenderam esta como expansão das
exportações de produtos primários. E, assim como afirma o economista David
Ricardo, tratava-se apenas de uma questão de “vantagem comparativa”
55
, para
que – dentro da doutrina liberal, calcada na divisão internacional do trabalho
56
o fosso entre os países aumentasse cada vez mais.
Furtado sintetiza que a diferença fundamental que origem à linha
divisória entre os países desenvolvidos e os subdesenvolvidos – é a orientação
dada à utilização do excedente engendrado pelo incremento de produtividade.
Segundo o autor:
A atividade industrial tende a concentrar grande parte do
excedente em poucas mãos e a conservá-lo sob controle do
grupo social diretamente comprometido com o processo
produtivo. Por outro lado, como o capital investido na indústria
está sendo constantemente renovado, a porta fica
permanentemente aberta para a introdução de inovações. Dessa
forma, um sistema industrial tende a crescer por suas próprias
forças, a menos que seja submetido à insuficiência de demanda
efetiva
57
.
Além disso, o autor afirma que os países que procuraram criar um
sistema econômico nacional na segunda fase da evolução capitalista
protegeram suas atividades agrícolas – as quais não contavam com “vantagens
55
Teoria (ou princípio) das vantagens comparativas explica que o que importa no comércio
entre dois países, regiões ou pessoas, não é o custo absoluto de produção, mas a razão de
produtividade que cada país, região ou pessoa possui. Na vantagem absoluta, cada país se
concentra em um nicho baseado nestas vantagens, beneficiando-se com a especialização em
setores nos quais é mais eficiente, e comercializando os seus produtos com outros países.
Pela teoria das vantagens comparativas, mesmo que um país não possua vantagem absoluta,
ele pode especializar-se nos setores em que apresenta vantagem comparativa. Esta teoria
ricardiana recebeu críticas da escola cepalina por desconsiderar a dinâmica de longo prazo dos
preços dos bens cuja produção foi especializada pelos países.
56
Divisão internacional do trabalho é um reflexo da solidificação do capitalismo, o qual, ao
longo dos anos, vem favorecendo a especificação das funções econômicas de cada país. Os
países em desenvolvimento, exportadores de matéria-prima, possuem mão-de-obra barata e
industrialização tardia, de modo que sejam alvo fácil dos interesses das grandes economias.
57
FURTADO, Celso. op. cit., p. 24.
33
comparativas”. Dessa forma, eles asseguravam demanda ao setor industrial,
compensando com incrementos de produtividade na indústria, tudo o que eles
perdiam nos seus setores “protegidos”. Por outro lado, nos países em que as
vantagens comparativas conduziam a uma especialização na exportação de
produtos primários, o incremento do excedente gerava um aumento das
importações, principalmente de bens de consumo, sem implicar modificações
nos métodos produtivos. Foi pelo lado da demanda de bens finais de consumo
que a periferia se inseriu na civilização industrial, o que é crucial para entender
o sentido que nesses países assumiu o processo de industrialização. A
industrialização por substituição de importações tendeu a reproduzir um
sistema industrial apoiado em processos de acumulação de capital de muito
maiores dimensões. Neste processo instalaram-se na periferia subsidiárias de
empresas dos países centrais, reforçando a tendência para reproduzir os
padrões de consumo de sociedades de muito mais elevado nível de renda
médio e a concentração de renda típica dos países subdesenvolvidos.
A esta rápida industrialização da periferia do capitalismo, sob a direção
das empresas dos países centrais, a partir da segunda guerra mundial,
corresponde um processo de integração das economias nacionais do centro,
que se materializou em iniciativas como a criação do GATT ou o mercado
comum europeu. A criação de um mercado internacional de capitais ampliou
este processo de integração, permitindo que as empresas se liberassem das
limitações dos sistemas financeiros nacionais, adquirissem maior flexibilidade e
se organizassem internacionalmente como oligopólios, operando através de
centros de decisão que escapam ao controle dos governos nacionais. As
relações comerciais entre países centrais e periféricos transformaram-se em
operações internas das grandes empresas. Este processo abriu caminho para
intensificar o crescimento no centro, ao mesmo tempo em que agravou as
disparidades entre os países da periferia e os países centrais. A
industrialização substitutiva de importações que no início enfrentava obstáculos
consideráveis criados pela falta de capitais, acesso á tecnologia e pequenez do
mercado interno, passa a realizar-se com rapidez, com a colaboração das
empresas oligopólicas internacionais. Enquanto a industrialização do centro
tem o seu dinamismo assegurado por inovações, fluxo de novos produtos e
34
elevação dos salários reais, permitindo a expansão do consumo de massa, o
capitalismo periférico caracteriza-se pelo mimetismo cultural e requer
permanente concentração de renda, para que minorias reproduzam as formas
de consumo dos países centrais.
Muito do que Chang aborda em “Chutando a Escada” foi tratado por
Furtado no “Mito do Desenvolvimento Econômico”. Este último procura deixar
claro que os países periféricos têm características próprias, particulares e que
não são meras “cópias” atrasadas e imperfeitas dos países desenvolvidos.
Dessa forma, reproduzimos aqui todo este contexto para reforçar a
conclusão de Furtado, quando o mesmo afirma que a má distribuição de renda,
a desigualdade social, o fosso de diferenças entre os países, enfim, os
problemas sociais apenas colaboram para que haja maior pressão sobre os
recursos não reproduzíveis ou seja, a lógica contrária à questão da
sustentabilidade:
(...) se pode afirmar que a crescente concentração da renda no
centro do sistema, isto é, a ampliação do fosso que separa a
periferia desse centro, constitui fator adicional do aumento da
pressão sobre os recursos não reprodutíveis. Com efeito, se
fosse mais bem distribuído no conjunto do sistema capitalista, o
crescimento dependeria menos da introdução de novos produtos
finais e mais da difusão do uso de produtos mais conhecidos, o
que significaria um mais baixo desperdício. A capitalização tende
a ser tanto mais intensa quanto mais o crescimento esteja
orientado para a introdução de novos produtos finais, vale dizer,
para o encurtamento da vida útil de bens incorporados ao
patrimônio das pessoas e da coletividade
58
.
Como é possível observar, quanto mais concentrada está a renda
maior pressão é feita em cima dos recursos naturais do planeta. Ou seja, o
próprio fato de apenas alguns países gozarem de alto nível de consumo, faz
com que haja maior degradação do meio ambiente.
O resultado a que se chega é que, em uma civilização como a nossa
tão submetida à força da economia, principalmente no que diz respeito à
criação de valor, utilizando recursos brutos e transformando-os em bens e
serviços –, a maioria das pessoas não percebe o que de fato ocorre nesses
58
FURTADO, Celso. op. cit., p. 81.
35
processos, ou seja, nem se dá conta dos danos irreversíveis ao planeta trata-
se, na verdade, da destruição ambiental intrínseca ao capitalismo.
Furtado afirma ainda que a tentativa de fazer com que o paradigma do
desenvolvimento dos países ricos se imponha de forma generalizada a todos
pode culminar em um verdadeiro colapso do ecossistema. Ou seja, o
processo que é modernamente perseguido por todas as nações (a “glória” do
crescimento econômico) – é calcado num crescimento predatório, insustentável
e causador de danos irreversíveis – quiçá, fatais à humanidade.
No que tange as economias subdesenvolvidas, Furtado defende que se
procure uma taxa de crescimento econômico elevada, porém critica o fato de a
mesma não ser acompanhada de uma filosofia de sustentabilidade. Ou seja, é
lógico que, dentro do sistema capitalista, a noção de sobrevivência está
intimamente ligada a necessidade de crescimento econômico e, por este
motivo, este fim deve ser perseguido. No entanto é necessário que esse
desenvolvimento seja, de fato, durável e realizável. O autor deixa claro que, o
processo de civilização provoca danos irreversíveis ao mundo, e que o
economista, em geral limitado a um campo de observação restrito a variáveis
quantitativas, na maioria das vezes, não leva em conta, como vimos acima,
as crescentes modificações sofridas pela natureza – que no fundo, nada mais é
do que o ‘palco’ onde se apresentam os ‘atores-predadores’ capitalistas.
A expansão do sistema, no centro, depende cada vez mais do acesso
ás fontes de recursos naturais localizadas na periferia. Dentro desse quadro
estrutural, Furtado sugere que as burocracias que dirigem a maior parte dos
países periféricos, e avançaram consideravelmente na auto-identificação com
os “interesses nacionais” respectivos, defendam a autonomia dos estados
periféricos em face das grandes empresas, no que diz respeito ao uso de
recursos naturais não-renováveis.
A conclusão de Furtado é que a hipótese de generalização das formas
de consumo dos países centrais, ao conjunto do sistema capitalista, não é
possível dentro das possibilidades evolutivas do sistema. A civilização
insaciavelmente consumista que sempre deseja mais produtos e mais
36
serviços é depredadora e contribui para o empobrecimento da biosfera
59
. É
necessário, a partir de tal conclusão, começar a conceber o mercado e a
sociedade (com seu quadro agudo de exclusão social) como ordens distintas,
para tentar, então, construir um prognóstico positivo para o futuro.
Podemos concluir então que a maior contribuição do pensamento de
Celso Furtado foi a de compreender de forma profunda as principais
peculiaridades da sociedade contemporânea, apontando suas mazelas, seus
erros, suas imperfeições. O progresso técnico, ao contrário do que sugeria a
tese ricardiana, não se difundiu de maneira linear no centro e na periferia da
economia mundial com base em vantagens comparativas provindas da
divisão internacional do trabalho. Muito pelo contrário. Afinal, forte
deterioração dos termos de intercâmbio entre as matérias-primas, produzidas
na periferia, e as manufaturas, originadas dos países desenvolvidos. Nota-se
então que o desenvolvimento, assim concebido, é um processo gerador de
desigualdades e propulsor de inúmeros danos ambientais. O custo, em termos
de depredação do mundo físico, de se adotar o estilo de vida criado pelo
capitalismo industrial é altíssimo e põe em risco a sobrevivência da espécie
humana. A adoção de padrões de consumo alternativos, a defesa dos recursos
não-renováveis pelos Estados Nacionais, a redução das disparidades de renda,
são em si pré-condições da sustentabilidade.
59
FURTADO, Celso. op. cit., p. 63.
37
2. HA-JOON CHANG E OS DEGRAUS DO DESENVOLVIMENTO
O objetivo deste capítulo é, a partir da abordagem institucionalista de
Ha-Joon Chang
60
exposta no livro “Chutando a Escada: a estratégia do
desenvolvimento econômico em perspectiva histórica”
61
–, discutir a questão do
subdesenvolvimento e suas peculiaridades além de apontar as variáveis
qualificadoras de desenvolvimento econômico, inferidas a partir dos conceitos
do autor. Numa primeira parte apresenta-se a crítica do autor ao Consenso de
Washington e á cartilha de políticas e instituições liberais recomendadas aos
países em desenvolvimento. Em seguida, dá-se conta da abordagem histórica
que Chang faz das estratégias dos países desenvolvidos na fase de
industrialização e por último apresenta-se a abordagem de Chang sobre as
instituições e a democracia, enquanto resultado ou conseqüência do
desenvolvimento.
2.1. AS POTÊNCIAS CHUTANDO A ESCADA
Existe uma cartilha, uma “receita de bolo” para um país se tornar
desenvolvido? É bem possível que exista uma estratégia ou atitudes que
tenham levado os países hegemônicos a ganhar espaço no cenário
internacional. No entanto, com certeza, esses fatores não são congruentes aos
citados pelas nações desenvolvidas. Como bem coloca Chang, logo no início
de seu livro, as políticas prescritas pelo Consenso de Washington
62
seriam
60
Ha-Joon Chang (n. 1963), economista sul-coreano, é professor da Universidade de
Cambridge, na Inglaterra, desde 1990, e diretor-adjunto do Departamento de Estudos sobre
Desenvolvimento. Chang vem sendo considerado um líder da nova geração de economistas
heterodoxos que tentam revitalizar os trabalhos e debates na área de desenvolvimento
econômico.
61
HA-JOON CHANG. Chutando a Escada: a estratégia do desenvolvimento em
perspectiva histórica
. São Paulo: Editora UNESP, 2004. Em 2003, o livro, cujo título original
em inglês é
Kicking away the ladder: development strategy in historical perspective, foi o
vencedor do Prêmio Gunnar Myrdal, dado pela EAEPE (European Association for Evolutionary
Political Economy) para a melhor publicação.
62
O Consenso de Washington foi criado em 1989, através de um encontro conhecido como
Latin American Adjustment: How Much has Happened. Nesse evento, reuniram-se diversos
economistas latino-americanos de perfil liberal, funcionários do Fundo Monetário Internacional
(FMI), Banco Mundial e Banco Interamericano de Desenvolvimento (BID) e do governo norte-
38
consideradas apropriadas, segundo seus formuladores, para elevar uma nação
à categoria de país desenvolvido. Mas será mesmo que políticas
macroeconômicas restritivas, liberalização do comércio internacional e dos
investimentos, privatização e desregulamentação fariam um país crescer e
progredir? Dificilmente, como bem mostrará o autor:
Atualmente, os países em desenvolvimento estão
sofrendo uma enorme pressão, por parte das nações
desenvolvidas e das políticas internacionais de
desenvolvimento controladas pelo establishment, para
adotar uma série de ‘boas políticas’ e ‘boas instituições’
destinadas a promover o desenvolvimento econômico.
(...) ‘Instituições boas’ são, essencialmente, as existentes
nos países desenvolvidos, sobretudo nos anglo-
saxônicos. Entre as instituições-chaves, incluem-se a
democracia, a burocracia ‘boa’, o Judiciário
independente, a forte proteção aos direitos de
propriedade privada (inclusive intelectual) e uma
governança empresarial, transparente e orientada para o
mercado, assim como instituições financeiras (inclusive
um banco central politicamente independente)
63
.
Chang questiona se as políticas e instituições recomendadas são
realmente as devidas para gerar o desenvolvimento. Porém, o interessante não
é o questionamento em si, mas sim a forma com que o autor propõe esse
debate. Para ele, não basta inferir que a ‘cartilha’ está incorreta. É preciso, na
verdade, demonstrar que, na época em que estavam se desenvolvendo, os
Países Centrais da atualidade não fizeram uso dessas medidas que eles
profetizam como necessárias. Afinal, essa é a melhor forma de provar que esse
‘método’ – por eles imposto – não dá certo.
Faz-se mister diferenciar, assim como Chang o faz em seu livro, política
e instituição. Para o autor, as instituições são mais duradouras e permanentes,
enquanto as políticas são mais moldáveis, adaptáveis, cambiáveis. A política é
a arte de dirigir as relações entre os Estados, através de princípios que
orientam a atitude administrativa de um governo. Dessa forma, podemos
americano. Por decisão do Congresso norte-americano, as medidas do Consenso de
Washington foram adotadas como imposições na negociação das dívidas externas dos países
latino-americanos. Acabaram se tornando o modelo do FMI e do Banco Mundial para todo o
planeta. De outro lado, movimentos nacionalistas e de esquerda criticam essa política e
protestam contra sua aplicação.
63
CHANG, Ha-Joon. op. cit., p. 11.
39
entender a política como sendo o conjunto de objetivos que servem de base à
execução das atividades de responsabilidade do Estado. Paralelamente, o
conceito de instituição vem do ato de instituir, ou seja, denota uma fundação,
um estabelecimento, um instituto e, até mesmo as leis fundamentais que regem
uma sociedade.
Chang vai questionar se realmente foram as políticas de laissez-faire e o
estado mínimo completamente contrários a Lei de Wagner
64
, por exemplo
que ajudaram o desenvolvimento da Grã-Bretanha – e, em contrapartida, se foi
a falta delas que atrasou a França. Irá perguntar também se os Estados Unidos
passaram pela Crise de 1929 porque aplicou o protecionismo e se a lei de
patentes é realmente tão importante para o desenvolvimento das atividades
intelectuais, das pesquisas e das exportações. Os estudos históricos de Chang
apresentados ao longo do livro, demonstraram que as políticas “boas”
recomendadas aos países em desenvolvimento não fizeram parte do processo
de desenvolvimento dos países desenvolvidos:
Mesmo em termos superficiais, não faltam indícios e evidências
históricas fragmentárias sugerindo o contrário. É possível que
alguns saibam que, contrariamente à sua natureza nos séculos
XVIII ou XX, o Estado francês do século XIX foi essencialmente
conservador e não-intervencionista. Também é provável que
estejam informados sobre as elevadas tarifas praticadas pelos
Estados Unidos, pelo menos a partir do fim da Guerra de
Secessão. Uns poucos terão ouvido dizer que o banco central
norte-americano, o Federal Reserve Board, foi criado bastante
tardiamente, nada menos que em 1913. E é possível que uma
ou duas pessoas saibam até que, no século XIX, a Suíça se
alçou à categoria de líder mundial em tecnologia sem contar com
uma só Lei de Patentes
65
.
Como é possível constatar durante a leitura, Chang faz usa da história
de diversos países, hoje considerados desenvolvidos – os PADs quando
estes estavam em suas fases de desenvolvimento. A partir de tais exemplos,
constata que estas nações, à época, não tinham nem políticas e nem
64
Cabe lembrar aqui a famosa Lei de Wagner (Adolph Wagner), de acordo com a qual, há uma
tendência natural ao aumento do tamanho relativo do governo com o desenvolvimento da sociedade
humana.
65
CHANG, Ha-Joon. op. cit., p. 12.
40
instituições boas, pelo contrário. Chang deixa claro também que, grande parte
dos PADs, no passado, foram verdadeiras ditaduras e aplicaram políticas
contrárias ao que historicamente afirmam ter usado. Além disso, estes mesmos
países investiram maciçamente em pesquisas, educação, infra-estrutura e
concessão de terras, o que nos faz perceber que a “cartilha” redigida por eles,
de fato, é um contra-senso ao próprio exemplo que eles dão.
Na verdade, o que Chang deseja saber é “o segredo do sucesso” que,
de acordo com ele, os países desenvolvidos escondem. São diversos
elementos de informação histórica compilados pelo autor, o qual deseja provar
as contradições entre o que os desenvolvidos fizeram (e fazem) e o que eles
‘mandam’ fazer. E fica então a questão: como os países ricos enriquecem
realmente? De fato, a melhor resposta para essa pergunta é “eles não seriam o
que são hoje se tivessem adotado as políticas e as instituições que agora
recomendam às nações em desenvolvimento”
66
. Os países recorreram
ativamente às políticas comerciais e industriais tão condenadas por eles
atualmente. Eles protegeram à industria nascente e raramente possuíam
instituições como os bancos centrais e a responsabilidade limitada.
Como se pode perceber, ao que parece, as nações desenvolvidas estão
apenas tentando dificultar o acesso dos países em desenvolvimento às
políticas e instituições que elas implementaram no passado e que garantiram
deu real desenvolvimento econômico. Sim, as potências estão tentando “chutar
a escada”.
2.2 CHANG, LIST E A PERSPECTIVA HISTÓRICA
Chang utiliza o pai do argumento da “indústria nascente”, Friedrich List,
para dar continuidade a sua linha de raciocínio. De acordo com List, em face
dos países desenvolvidos, os mais atrasados não conseguem desenvolver
novas indústrias sem que haja a intervenção estatal através, principalmente,
de tarifas protecionistas. Ou seja, para List, as empresas nacionais não
conseguiriam se desenvolver se o mercado já estivesse tomado por empresas
de países estrangeiros economicamente mais fortes. Nesses casos, torna-se
66
CHANG, Ha-Joon. op. cit., p. 13.
41
importante um protecionismo educador, o qual teria como objetivo proteger
temporariamente o mercado nacional para assegurar a consolidação das
indústrias nacionais. Com isso, em médio prazo, as empresas nacionais
estariam aptas a concorrer, com maiores chances de sucesso, num ambiente
de livre concorrência, sem a possibilidade de serem rapidamente esmagadas
pelas indústrias de outros países. Contata-se que, tal teoria tem aplicação nos
países em desenvolvimento, pois trata-se de uma estratégia fundamental para
o fortalecimento de suas indústrias e, conseqüentemente, de suas economias.
É possível perceber a influência das idéias de List em diversos países da Ásia
e nos Dragões Econômicos, de forma bastante enfática. Obviamente que, na
época que estavam se desenvolvendo, vários países europeus e também os
Estados Unidos, fizeram uso dessa tática de protecionismo seletivo dos seus
setores estratégicos.
Após este panorama sobre a obra de List e suas aplicações, vale afirmar
que, em sua principal obra (The National System of Political Economy), este
autor fez um longo exame das políticas comercial e industrial dos países mais
importantes do mundo ocidental daquele momento (List viveu entre 1789 e
1846). List faz uma análise apurada do “mundo liberal” e afirma que a Grã-
Bretanha, por incrível que pareça, foi o primeiro país a aperfeiçoar a arte de
promover a indústria nascente. O autor destaca que é preciso estudar a história
da indústria inglesa para entender que o desenvolvimento não se deu a partir
do livre comércio, pois esta prática não permite o crescimento das indústrias
locais nascentes.
Para List, o livre-comércio é benéfico apenas entre países de nível
semelhante de desenvolvimento industrial. No entanto, entre aqueles que têm
diferentes níveis de desenvolvimento, este tipo de prática é devastadora para
os menos favorecidos. Vale reproduzir um trecho de List citado por Chang, no
qual o primeiro mesmo usa então a expressão “chutando a escada” que intitula
a obra do segundo:
É um expediente muito comum e inteligente de quem chegou ao
topo da magnitude chutar a escada pela qual subiu a fim de
impedir os outros de fazerem o mesmo. Não é outro o segredo
da doutrina cosmopolita de Adam Smith e das tendências
cosmopolitas de seu grande contemporâneo William Pitt, assim
como de todos os seus sucessores do governo britânico.
42
Qualquer nação que, valendo-se de tavas protecionistas e
restrições à navegação, tiver levado sua capacidade industrial e
sua navegação a um grau de desenvolvimento que impeça as
outras de concorrerem livremente com ela não pode fazer coisa
mais sábia que chutar a escada pela qual ascendeu à grandeza,
pregas os benefícios do livre-comércio e declarar, em tom
penitente, que até recentemente vinha trilhando o caminho
errado, mas acaba de descobrir a grande verdade
67
.
Chang destaca que durante o século XIX, muitos europeus ainda
concordavam com a visão de Smith, porém, os norte-americanos passaram a
proteger suas indústrias incipientes com grande sucesso a partir de 1816 fato
que podemos constatar pois, no século seguinte, os EUA se tornaram o maior
praticante do protecionismo, tornando-se assim o líder mundial da indústria.
Além disso, os norte-americanos, de forma bastante astuta, souberam fazer
uso do livre-comércio quando, para eles, esta prática se colocava bastante
rentável: no Pós-Segunda Guerra Mundial, quando o restante dos países do
mundo estavam na miséria e, enquanto isso, eles estavam fortalecidos
economicamente.
Como bem aponta Chang, List não se limita simplesmente a catalogar
fatos históricos. Na verdade, ele trabalha com modelos históricos, fazendo uma
verdadeira construção de teorias que expliquem questões contemporâneas
obviamente, levando em conta as inovações em termos tecnológicos,
institucionais e políticos.
Chang ressalta que, após o fim da Segunda Guerra Mundial, a
abordagem histórica prosperou. Neste momento, surgem teses importantes
como a do historiador econômico russo-americano Alexander Gerschenkron
68
.
Sobre ele, Chang afirma:
(...) prestigiosa foi a tese do “desenvolvimento tardio do
historiador econômico russo-americano Alexander
Gerschenkron, que, com base na experiência da industrialização
européia, argumentava que o ritmo continuamente crescente do
desenvolvimento tecnológico impunha aos países que estavam
empreendendo a industrialização a criação de veículos
67
CHANG, Ha-Joon. op. cit., p. 17.
68
Alexander Gerschenkron (1904 - 1978) foi um historiador econômico russo-americano,
professor da Universidade de Harvard, formado na Escola Austríaca de Economia. Ficou
conhecido pelos seus estudos pioneiros sobre as condições do desenvolvimento econômico
tardio.
43
institucionais mais eficazes para mobilizar o financiamento
industrial
69
.
Porém, Chang ressalta que, nas últimas décadas a predominância da
escola neoclássica abafou diversos subcampos da economia como a
economia do subdesenvolvimento e a história econômica pois ignora-se o
estilo de raciocínio indutivo firmado por ela. Em função disso, perdeu-se a
perspectiva histórica das discussões acerca do desenvolvimento econômico.
Como o autor coloca, poucas são as discussões fundamentadas na
experiência histórica dos países atualmente desenvolvidos, os PADs – em
geral, as referências ficam restritas à Grã-Bretanha e aos Estados Unidos,
sendo sempre citações altamente estilizadas. Além disso, os autores se valem
dos momentos de práticas de livre-comércio destas nações para então propor
caminhos para o desenvolvimento, completamente infundadas e ilusórias.
Como se pode perceber a partir da leitura, Chang se empenha em
estudar o maior número de nações possíveis. No entanto, também aborda
exemplos que vão além do grupo das nações mais “importantes” como Grã-
Bretanha, Estados Unidos, França e Japão a fim de esboçar lições mais
gerais.
Chang faz primeiro uma abordagem histórica das políticas industrial,
comercial e tecnológica (as chamas políticas ICT) de vários países. Em outro
momento da obra, o autor se concentra nas instituições (a democracia, a
burocracia, o Judiciário, os direitos de propriedade, as instituições financeiras,
trabalhistas, sociais, etc.) e, para compreendê-las melhor, usa então as nações
como exemplo. Afinal, Chang nas instituições, uma forte forma de “chutar a
escada”:
(...) também se pode dizer que o preponderante discurso do
desenvolvimento com base no
upgrading institucional traz em
seu bojo um elemento da atitude de “chutar a escada” à medida
que muitas instituições impostas aos países em
desenvolvimento, além de custosas, são irrelevantes ou mesmo
prejudiciais, tendo em vista o estágio em que eles se
encontram
70
.
69
CHANG, Ha-Joon. op. cit., p. 20.
70
CHANG, Ha-Joon. op. cit., p. 27. Grifo do autor.
44
De fato, um dos pontos altos do livro de Chang é o questionamento que
o mesmo faz acerca desta aura mitológica liberal que cerca os países
desenvolvidos. Chang consegue provar fazendo uso inclusive de tabelas que
incorpora no livro
71
que os PADs “mentem” afirmando que usaram políticas
liberalizantes no momento em que estavam solidificando suas indústrias e
constituindo seus mercados. De fato, fizeram exatamente o contrário. Adotaram
políticas altamente protecionistas para defender a sua indústria nascente.
O autor fala sobre as praticas consideradas “ruins” nos dias de hoje,
exemplificando-as, citando a utilização de espionagem industrial patrocinada
pelo Estado e a cooptação de trabalhadores da Inglaterra, assim como também
analisa as políticas de ICT adotadas pela Alemanha, como é possível ver no
seguinte trecho:
É provável que o mais importante deles tenha sido Graf Von
Reden, que, entre o fim do século XVIII e começo do XIX,
conseguiu introduzir tecnologias avançadas dos países mais
desenvolvidos, especialmente Grã-Bretanha (onde obteve a
tecnologia da siderurgia, o forno a coque e o motor a valor),
mediante uma combinação da espionagem industrial patrocinada
pelo Estado com a cooptação de operários especializados
72
.
Como é possível perceber, trata-se realmente de uma questão de “faça
o que eu digo e não o que eu faço”, por parte dos países desenvolvidos. Todas
as políticas por eles aplicadas em prol do desenvolvimento são por eles
mascaradas. Em contrapartida, propagam-se idéias falsas de que a
liberalização da economia levaria os países subdesenvolvidos a um estágio de
progresso. Ledo engano.
2.3 OS PADs E SUAS ESTRATÉGIAS DE CATCH UP
Chang apóia-se bastante no argumento de que são pouquíssimas as
tentativas de aproveitamento das lições históricas dos países desenvolvidos.
71
Como a tabela mostrada no CHANG, Ha-Joon. op. cit. p. 36, no primeiro tomo do capítulo 2.
Nela, Chang demonstra a “taxa tarifária média dos produtos manufaturados em países
desenvolvidos selecionados nos primeiros estágios de desenvolvimento”. Comprova-se,
claramente, a partir desta simples tabela, a forte presença de protecionismo.
72
CHANG, Ha-Joon. op. cit., p. 66.
45
Ao invés de tentar solucionar os problemas contemporâneos do
desenvolvimento observando o passado dos PADs, faz-se o que eles mandam
em suas “recomendações”, as quais estão de acordo com as premissas do
Consenso de Washington. Ou seja, não se faz referência a tais experiências
concretas, espalhando apenas mitos que corroboram a versão do senso
comum de que os PADs se beneficiaram do livre-comércio e da política
industrial do laissez-faire. Lendas propagadas pelos PADs para, literalmente,
chutar a escada.
Para esclarecer estas e outras questões, Chang faz uso do conceito de
catch up. A idéia de catch up compreende a capacidade dos países em
desenvolvimento absorverem técnicas e conhecimentos gerados nos países
desenvolvidos, de forma a lhes permitir alcançar níveis de produtividade mais
elevados, reduzindo o hiato tecnológico, as disparidades no que diz respeito ao
desenvolvimento econômico e também a aproximação desses países em
termos de renda per capita como recentemente se viu em países como
Coréia do Sul e Taiwan.
Chang ressalta que todos os PADs fizeram uso de políticas
intervencionistas industrial, comercial e tecnológica as ICTs para promover
a indústria nascente durante seus períodos de
catch up. Além disso, Chang
ressalta que, não apenas no período em que estavam se desenvolvendo os
PADs fizeram uso de tais recursos:
Um país, quando se adianta aos outros, sente-se naturalmente
estimulado a se valer de seu poder político e econômico par se
adiantar ainda mais. As políticas britânicas, especialmente as
dos séculos XVIII e XIX, são o melhor exemplo disso. O
desconcertante é que tais políticas tenham tantos paralelos com
as atualmente praticadas pelos países desenvolvidos com
relação aos seus análogos em desenvolvimento
73
.
Na verdade, estes países continuam a praticar o catch up como forma
de manter o fosso, o hiato, a distância que os separa dos subdesenvolvidos.
Trata-se de uma forma de assegurar seus lugares Centrais na economia
mundial, garantindo lucro e prosperidade, mesmo que apenas para um grupo
73
CHANG, Ha-Joon. op. cit., p. 94.
46
ínfimo de cidadãos do Primeiro Mundo. Trata-se de uma forma cruel de se
sustentar como potência preponderante e influente: mantendo “o mundo
subdesenvolvido aos seus pés”, dificultando ao máximo seu progresso e sua
evolução.
Alguns outros se valeram ativamente de políticas ICT mesmo
depois de haver concluído o
catch up com sucesso (a Grã-
Bretanha no começo do século XIX, os Estados Unidos no limiar
do XX). É obvio que a proteção tarifária foi um instrumento
importantíssimo no pacto de políticas ICT implementadas pelos
PADs, mas, como demonstraremos a seguir, não foi o único
recurso usado nem necessariamente o mais importante
74
.
Chang ressalta que, a fim de estimular a exportação, os PADs fizeram
uso de subsídios e reembolsos aduaneiros aos insumos. Além disso, os
governos destes países, bastante atuantes, chegavam a subsidiar não a
indústria, mas também recorriam a programas de investimento público,
sobretudo os de infra-estrutura e manufatura. Era o Estado quem financiava as
aquisições de tecnologia estrangeira, seja por métodos legais (bancando
viagens de estudo e treinamento) ou ilegais (espionagem industrial,
contrabando de maquinário e o não-reconhecimento de patentes estrangeiras).
Era também o Estado que financiava o desenvolvimento da capacidade
tecnológica interna, bancando pesquisas, educação e treinamento.
O que o Brasil e diversos outros países em desenvolvimento
experimentam atualmente, os governos dos PADs incentivavam: as Parcerias
Público Privadas
75
(comumente chamadas de ‘PPPs’, como as joint ventures
público-privadas e associações industriais intimamente ligadas ao Estado).
74
CHANG, Ha-Joon. op. cit., p. 35.
75
A Parceria Público Privada constitui modalidade de contratação em que os entes públicos e
as organizações privadas, mediante o compartilhamento de riscos e com financiamento obtido
pelo setor privado, assumem a realização de serviços ou empreendimentos públicos. No
Brasil, em 30 de dezembro de 2004, o Presidente da República sancionou a Lei Federal
11.079, que instituiu normas gerais para licitação e contratação de parcerias público-privadas,
no âmbito da Administração Pública. Esta Lei Federal tratou, em diversos artigos, de normas
gerais de Direito Administrativo a serem observadas pelos entes da Federação, além de
normas específicas direcionadas à União. O Governo Federal está considerando a PPP como
um instrumento fundamental para garantir os investimentos em portos, rodovias, ferrovias,
necessários para impulsionar e garantir o crescimento da economia brasileira, sem abandonar,
evidentemente, os projetos de concessão já existentes.
47
Chang afirma que, ao contrário do que o Consenso de Washington
preceitua e os PACs difundem, os países em desenvolvimento precisam, mais
do que nunca, fazerem uso das chamadas políticas “ruins” para fortalecerem
suas indústrias e declararem uma verdadeira independência econômica. De
acordo com o autor, a defasagem entre os países desenvolvidos e
subdesenvolvidos nunca esteve tão monstruosa e, por esta razão, caso os
países subdesenvolvidos não pratiquem estratégias de catch up, estes não
mudaram sua situação frente ao status quo:
O problema é que hoje, a defasagem de produtividade entre os
países em desenvolvimento e os desenvolvidos é muito maior do
que a existente entre os PADs mais e menos desenvolvidos de
outrora. Isso quer dizer que os atuais países em
desenvolvimento precisam impor níveis tarifários muito mais
elevados do que os aplicados pelas nações industrializadas, no
passado, se quiserem oferecer às suas indústrias o mesmo grau
de proteção de que antigamente gozaram as indústrias dos
PADs. Em outras palavras, diante da defasagem muito maior
hoje enfrentada pelos países em desenvolvimento, se quiserem
obter os mesmos efeitos, eles têm de praticar tarifas muito mais
elevadas do que as outrora praticadas pelos PADs
76
.
Como foi colocado acima, após atingirem a fronteira tecnológica, os
PADs recorreram a uma série de medidas para ficar à frente dos competidores
reais (os outros países desenvolvidos) ou potenciais (as nações em
desenvolvimento). E, de fato, o que Chang realmente quer demonstrar com
essa vasta exemplificação é que muitas das políticas de
catch up, tão utilizadas
por países dos PADs, são seriamente condenadas hoje em dia.
2.4 O DESENVOLVIMENTO INSTITUCIONAL
No que diz respeito ao desenvolvimento institucional dos PADs, a lógica
que foi vista “chutando a escada” se repete. Nos primórdios de seus
processos de desenvolvimento, estes países não tinham sequer as ditas
76
CHANG, Ha-Joon. op. cit., p. 118.
48
instituições "básicas" como, por exemplo, o funcionalismo público profissional,
o Banco Central ou as leis de patentes.
Abaixo, faremos um panorama sobre as instituições destacadas por
Chang, a fim de entender melhor as suas relações específicas com os
processos de desenvolvimento.
2.4.1 BUROCRACIA E JUDICIÁRIO
Quem acredita que a burocracia é sempre negativa é porque não
entende exatamente o que ela é, mas sim, apenas contempla uma deturpação
da mesma. Na verdade, usa-se muito, de forma inapropriada, o vocábulo
burocracia no sentido pejorativo. Para a maioria da população, a burocracia é
maléfica, pois ela carrega a idéia da demora em processos administrativos, da
lentidão das instituições, das regras e procedimentos redundantes, enfim, todo
um ranço de ineficiência que não está lidada à ela, mas sim, ao seu mau uso.
Vale ressaltar que Max Weber elaborou um conceito de burocracia
tendo como base elementos jurídicos do século XIX no qual ele denominava
as funções da administração pública, guiadas por normas, atribuições
específicas, esferas bem delimitadas de competências e uma criteriosa forma
de seleção de funcionários. Dessa forma, a democracia pode e deve ser
entendida como um verdadeiro aparato técnico-administrativo, constituído por
profissionais capacitados para seus cargos através de formação técnica pré-
requisito para a ocupação de tais funções -, selecionados através de critérios
racionais e que são encarregados das mais relevantes tarefas dentro de um
sistema. Além disso, de acordo com Weber, todos os funcionários estariam
sujeitos a regras hierárquicas e códigos disciplinares, os quais estabeleceriam
as relações de autoridade.
Como se pode extrair dessa definição, caso a burocracia fosse assim
entendida não existiriam motivos para se deturpar seu sentido. Afinal, a
burocracia pura é constituída de medidas positivas, que coíbem práticas ilegais
como o nepotismo, o sistema de favorecimento e também a venda de cargos
públicos. Questões danosas que favorecem uma notória falta de
profissionalismo na burocracia da maioria dos países em desenvolvimento e
nos PADs, pelo menos até o fim do século XIX.
49
Chang afirma que a burocracia, quando proba, é o ingrediente essencial
para o desenvolvimento de uma nação. Podemos entender a democracia como
sendo um conceito administrativo, caracterizado principalmente por um sistema
hierárquico, dentro do qual grande divisão de responsabilidade. Além disso,
seus membros executam estão subordinados às regras e procedimentos
padrões, para garantir certa uniformidade. Como afirma o autor:
Pouca gente, nem mesmo quem vê com restrições o ativismo do
Estado, discordaria de que uma burocracia eficiente e limpa é
decisiva para o desenvolvimento econômico. Entretanto, hoje se
discute muito a questão de como definir exatamente eficiência e
limpeza e como elaborar um sistema de incentivos burocráticos
para atingir essas características
77
.
Chang alerta para a urgência (e, na verdade, grande desafio) de fazer
com que a burocracia, na maioria dos países em desenvolvimento, consiga
chegar ao mais elementar dos “weberianismos”. Desafio que os PADs tiveram
que enfrentar outrora, quando de seu desenvolvimento.
No que diz respeito ao judiciário, Chang faz restrições ao discurso
contemporâneo. O autor deixa claro que deve ser vista com restrição a idéia do
Judiciário politicamente independente como o alemão e o japonês pois este
carece de legitimidade democrática. Por este motivo, ressalta Chang, que
alguns países chegam a eleger seus funcionários judiciais como os Estados
Unidos.
No entanto, não se trata apenas de um problema de legitimidade. Na
verdade, existem outras questões, tão importantes quanto, que devem ser
analisadas com cautela. De fato, é preciso verificar o grau de profissionalismo
dos funcionários judiciais, assim como a qualidade de seus julgamentos. Não
se trata apenas da aplicabilidade da lei, de forma seca hermética, mas também
de contemplar a realidade na qual a lei está sendo aplicada, a fim de que as
questões sejam entendidas de um ponto de vista societário mais amplo. Além
disso, trata-se de um sistema custoso.
77
CHANG, Ha-Joon. op. cit., p. 136.
50
Desta forma, Chang ressalta que os países em desenvolvimento devem
atentar para tais questões, a fim de que não sofram os mesmos males vividos
pelos PADs outrora, como a excessiva influência política, a corrupção nas
nomeações, manobras político-partidárias além da “justiça de classes”.
2.4.2 DIREITOS DE PROPRIEDADE E SOCIEDADES ANÔNIMAS
Até que ponto os direitos de propriedade são benéficos? Para quem eles
são benéficos? A melhor resposta é que eles beneficiam o dono da
propriedade, e mais ninguém. Afinal, é o direito de propriedade que tem trazido
tantos problemas para a sociedade, pois ele é um direito excludente, que ao
favorecer uma pessoa, ignora o resto da sociedade.
Um exemplo bastante contemporâneo, de quanto excludente e amargo é
o direito de propriedade, é o direito de propriedade intelectual. É por causa de
ele que, em países como o Brasil, durante muitos anos, pouco se desenvolveu
em termos de software. Fomos inundados pelos sistemas operacionais e
produtos norte-americanos como o Windows, por exemplo de forma que
não desenvolvemos a nossa própria indústria. Além disso, por força contratual,
comercializamos e adquirimos computadores usando os programas
estrangeiros. Respeitamos os direitos alheios de propriedade intelectual e, em
contrapartida, nos desrespeitam fortemente, explorando um país em que a
maioria das pessoas nem sequer tem acesso à informação e à informática e
ainda tem que pagar direitos de utilização dos programas para outras nações:
O discurso da “boa governança” considera decisiva a “qualidade”
dos regimes de direito de propriedade, já que se acredita que ela
é um determinante-chave do incentivo ao investimento e,
portanto, à criação de riqueza
78
.
Após tal franca explicação de Chang, cabe a pergunta: criação de
riqueza para quem? Quem são, então, os beneficiados? E o próprio autor,
alguns parágrafos depois, responde esta questão:
78
CHANG, Ha-Joon. op. cit., p. 142.
51
No discurso ortodoxo atual, acredita-se amplamente que quanto
mais forte for a proteção aos direitos de propriedade, tanto
melhor para o desenvolvimento econômico, já que essa proteção
estimula a criação de riqueza. (...) A segurança dos direitos de
propriedade não pode ser encaradas como algo bom em si. A
história é pródiga em exemplos de preservação desses direitos
que resultou nociva para o desenvolvimento econômico, assim
como de violações dos direitos de propriedade existentes (com a
criação de outros novos) que foram benéficas para o
desenvolvimento econômico
79
.
Segundo Chang é preciso contemplar a perspectiva da função social da
propriedade. Se grupos capazes de utilizar certas propriedades melhor que
seus proprietários, é possível que convenha mais à sociedade não proteger o
direito de propriedade vigente e criar outro, transferindo então o patrimônio
aquele grupo. Um exemplo clássico onde este tipo de filosofia deve nortear as
decisões é quando o assunto envolve as questões de concentração de terra e
a reforma agrária.
No que tange a lei de patentes, quando tratava-se de interesses
internos, a mesma era imensamente burlada. O patenteamento de invenções
de países estrangeiros foi permitido até o fim do século XIX. Diversos são os
exemplos dos legítimos “roubos” de invenções que as legislações
acobertavam. Porém, cabe ressaltar que tudo era feito, como foi discutido,
sob o ideal do
catch up, na tentativa de desenvolver, de progredir, de copiar o
outro para seguir em frente, melhorar e não depender mais de outras nações. A
Suíça e Holanda, por exemplo, se recusavam a introduzir uma lei de patentes
apesar da pressão internacional. em 1907 e 1912, respectivamente, que
conseqüentemente tais leis foram promulgadas nestes países. Contudo, elas
permitiam livremente a apropriação de tecnologia estrangeira
80
. Como bem
coloca Chang:
(...) apesar da emergência de um regime internacional de DPI,
mesmo os PADs mais desenvolvidos seguiam violando
rotineiramente o DPI dos cidadãos dos outros em plenos século
XX. (...) como eram falhos os regimes de DPI dos PADs (quando
estes eram países em desenvolvimento). Mesmo nos mais
avançados deles, houve sérias e generalizadas violações até o
79
CHANG, Ha-Joon. op. cit., p. 144.
80
CHANG, Ha-Joon. op. cit., p. 148.
52
fim do século XIX e depois, principalmente quando se tratava de
proteger o DPI de estrangeiros
81
.
No que diz respeito a governança empresarial, sabe-se que nos últimos
séculos, provou-se reiteradamente que a responsabilidade limitada fornece um
dos mecanismos mais poderosos de socialização de riscos. Aliais, é
exatamente esta característica das sociedades de responsabilidade limitada
que as fizeram prosperar tanto, afinal, possibilitou investimentos de escala sem
precedentes.
Adam Smith dizia que a responsabilidade limitada poderia
levar os administradores à vadiagem. John McCulloch, o
influente economista do começo do século XIX, alegava que ela
tornaria os proprietários negligentes no monitoramento dos
administradores contratados. Também acreditava, não sem
razão, que era uma causa importante da especulação financeira.
Foi com base nisso que a Inglaterra, mediante o Bubble Act de
1720, proibiu a formação de novas sociedades de
responsabilidade limitada, se bem que voltou a autorizá-la em
1825, com a revogação dessa lei
82
.
Chang também dedica parte de seu livro para falar das leis de falência,
sobre auditoria, relatório financeiro, transparência de informação denominado
disclosure
83
e também sobre a lei da concorrência. De acordo com ele, é
apenas a partir da década de 80 que as leis de falência têm chamado mais
atenção. Afinal, viu-se neste período a bancarrota de grandes conglomerados,
juntamente com grandes crises econômicas. Dessa forma, notou-se a
necessidade de mecanismos eficazes para reconciliar reivindicações
concorrentes, transferências de ativos e a preservação do emprego.
Até por se tratar de uma questão recente, ainda não se sabe ao certo
qual seria a melhor lei de falência. Como Chang exemplifica, a dos Estados
Unidos favorece o devedor, a da Inglaterra beneficia a credor e a da França
81
CHANG, Ha-Joon. op. cit., p. 149.
82
CHANG, Ha-Joon. op. cit., p. 149 e 150.
83
Pode-se definir disclosure, em Finanças, como sendo qualquer divulgação deliberada de
informação da empresa para o mercado, seja quantitativa ou qualitativa, requerida ou
voluntária, via canais formais ou informais. O
disclosure tem, dentre outros objetivos, a
finalidade de maximizar o valor para os acionistas, ao colocar ao alcance do investidor todos os
fatores necessários à avaliação racional do valor das ações, levando-se em conta o custo de
oportunidade e o prêmio pelo risco.
53
favorece o empregado. No entanto, independente da corrente, não se pode
discordar que uma lei de falência eficaz é desejável.
Ninguém nega também a importância da auditoria e da disclosure
financeiras. Porém, é preciso comparar o custo financeiro e em recursos
humanos no desenvolvimento dessas instituições com seu benefício,
principalmente nas nações em que os recursos são escassos. É muito fácil
para os investidores estrangeiros se queixarem da opacidade da contabilidade
das empresas, da frouxa regulamentação da auditoria e da disclosure. No
entanto, todas essas queixas devem ser interpretadas com restrição:
Uma restrição óbvia a tais argumentos é que, mesmo antes da
crise, aceitava-se amplamente que, nesses países, a informação
no âmbito da empresa apresentasse os ditos problemas; em
semelhante situação, a atitude natural e sensata do emprestador
seria a de não emprestar. Nesse contexto, o argumento de ‘falta
de informação’ apresentado pelos emprestadores parece
bastante tendencioso
84
.
É possível constatar, a partir de uma observação histórica criteriosa, que tais
países, em pleno século XX, possuíam instituições de regulamentação da
obrigatoriedade do relatório e da
disclosure financeiros de péssima qualidade. Dessa
forma, podemos concluir mais uma vez que tais instituições – que constam da “cartilha
em prol do desenvolvimento” proposta pelos PADs – não estiveram, necessariamente,
associadas ao desenvolvimento de tais nações.
2.4.3 INSTITUIÇÕES FINANCEIRAS
Uma instituição tão querida aos economistas do livre mercado
contemporâneo, o banco central, sequer existia nos países mais ricos até o
começo do século XX - não apenas por causa da condenação dos economistas
do livre mercado da época, que diziam ser um mecanismo que injustamente
assegurava pagamentos de emprestadores imprudentes. De fato, o banco
central dos EUA o chamado Federal Reserve Board foi criado apenas em
1913. na Itália, o banco central não tinha sequer o monopólio para emissão
84
CHANG, Ha-Joon. op. cit., p. 155.
54
de cédulas até 1926. Chang faz uma descrição do papel do banco central na
contemporaneidade:
Atualmente, o banco central com o monopólio da emissão de
dinheiro, da intervenção no mercado financeiro e da função de
emprestador de último recurso é considerado uma pedra
angular da economia capitalista estável. É acalorada a polêmica
sobre até que ponto ele deve ser politicamente independente,
assim como sobre as metas, os alvos e os instrumentos que lhe
são mais adequados. Todavia, por inflamado que seja esse
debate, pouca gente discute a necessidade de um banco central.
Mas não era bem assim na aurora do capitalismo
85
.
Muitos dos bancos centrais como os entendemos hoje
86
se constituíram
gradativamente a partir das necessidades sociais geradas. Podemos tomar como
exemplo o caso inglês e o norte-americano. Os grandes estabelecimentos bancários
desses países, a partir do século XVIII, eram obrigados a cumprir o papel de
emprestadores de último recurso, nos momentos de severas crises financeiras. Foi
então que a capacidade dessas instituições de lidar com o pânico financeiro sistêmico
em curto prazo e a estabilidade que isso ajudava a gerar no longo prazo fez com
que, naturalmente, houvesse a criação de um banco central, de fato, amadurecido.
Deve-se afirmar que, no século XVIII, acreditava-se que a criação de um banco
central geraria efeitos danosos a sociedade como: estimular assunção de riscos
excessivos e protegeria devedores inconseqüentes. Por essa razão, o
desenvolvimento do banco central foi um processo bem lento nos PADs. Por mais que
a criação de alguns date do século XVII como no caso da Suécia, que fundou o
Riksbank em 1688, e da Inglaterra, que fundou o Bank of England em 1694 –, a
maioria deles conseguiu realmente funcionar com características como o
monopólio da emissão de moedas – a partir do início do século XX.
Cabe ressaltar ainda que, na aurora do desenvolvimento, os PADs tinham
capacidade fiscal muito limitada poder de tributação, enquanto se desenvolviam, era
bastante restrito –, assim como escassas instituições que visavam à regulamentação
85
CHANG, Ha-Joon. op. cit., p. 163.
86
Banco Central é uma instituição financeira – que pode ser independente ou ligada ao Estado
cuja função é gerir a política econômica a fim de garantir a estabilidade e o poder de compra
da moeda do respectivo país e seu sistema financeiro. Pode-se destacar que o Banco Central
tem como objetivos principais definir as políticas monetárias (tais como taxa de juros, câmbio,
entre outras) e aquelas que regulamentam o sistema financeiro local. O banco faz isso
interferindo mais ou menos no mercado financeiro, vendendo papéis do tesouro, regulando
juros e avaliando os riscos econômicos para o país.
55
efetiva do mercado de capitais. Sem dúvida, trata-se de instituições importantes
ainda mais no mundo moderno onde os mercados se tornaram grande fonte extra de
instabilidade financeira nos países em desenvolvimento. Porém, os PADs
conseguiram conceber uma resolução para estas questões de forma gradativa,
através da história e da evolução de seus povos. Como resultado, surgiram formas
inteligentes de elevar a capacidade tributária do estado – com o imposto de renda, por
exemplo e de regulação dos mercados de títulos e capitais com legislação rígida
que controlava e sancionava os infratores.
2.4.4 BEM ESTAR SOCIAL E INSTITUIÇÕES TRABALHISTAS
No caso norte-americano, foi somente após a Lei Pendleton
87
, que data
de 1883, que o governo federal começou a recrutar empregados através de
processos seletivos.
Chang começa a dissertar sobre a liberalização e a desregulamentação
das relações trabalhistas afirmando que todo este processo – somado ao
aumento da freqüência de crises econômicas – fez com que crescesse a
preocupação em proporcionar, nos países em desenvolvimento, meios de
sustento para as pessoas mais vulneráveis, ou seja, para os hiposuficientes. É
preciso ressaltar que os padrões exigidos internacionalmente são baixos,
porém, mesmo assim, os países em desenvolvimento estão sendo
praticamente obrigados pelo FMI e o Banco Mundial, por exemplo a adotar
algumas instituições mínimas de bem-estar social.
De fato, Chang não nega todos os benefícios que as instituições de
bem-estar social podem trazer como, por exemplo, o crescimento da eficiência
87
Em 1883, uma lei federal americana instituía a Comissão Norte-Americana de Serviço Civil.
Esta lei, conhecida como
Lei Pendleton, procurava acabar com o clientelismo e o
empreguismo que existiam no serviço público. Para tanto, estabelecia que somente poderiam
ser contratados candidatos que passassem por seleção mediante concurso, e somente
poderiam haver promoções por mérito. Esses funcionários eram protegidos contra demissão
motivada por perseguição política e, no intuito de evitar o aparelhamento, havia a proibição de
que esses funcionários públicos prestassem serviços políticos ou fizessem doações a partidos
e candidatos. O resultado dessas medidas foi simples: eliminou os apadrinhados e melhorou
substancialmente a qualidade dos funcionários públicos.
56
e da produtividade, melhorias na qualidade da força de trabalho, redução de
tensões sociais e aumento da legitimidade do sistema político, criando assim
um ambiente mais estável para investimentos de longo prazo.
Porém, qualquer benefício esconde um custo, o qual precisa ser
computado e medido. O autor consegue listar três fortes problemas
desencadeados:
Primeiro, essas instituições têm efeito potencialmente corrosivo
sobre a ética do trabalho e o senso de auto-estima dos que
recebem os benefícios. Segundo, questões aparentemente
técnicas podem determinar significativamente a eficiência e a
legitimidade de tais instituições. Isso inclui avaliar se o benefício
e a contribuição estão adequadamente fixados, se a
administração do sistema é considerada justa e eficiente e se há
um mecanismo efetivo para detectar fraudes no sistema.
Terceiro, tentar criar mais impostos para financiar um programa
de bem-estar social, num contexto em que a legitimidade política
não está firmemente estabelecida, pode levar a “greves de
investimento” por parte dos ricos ou até mesmo ao apoio a um
retrocesso violento, como no caso do Chile de Allende
88
.
Seja qual for o resultado encontrado após pesar e ponderar os
benefícios e seus respectivos custos, vale ressaltar que na maioria dos PADs
essas instituições apareceram num estágio de desenvolvimento bastante
tardio. Em geral, o surgimento destas instituições foi estimulado pela crescente
demonstração de força das classes populares, principalmente após significativa
ampliação do sufrágio e de manifestações sindicais.
a controvérsia gerada pelo trabalho infantil questão que tem
levantado sérios debates deste os primórdios da industrialização tem ganho
uma maior dimensão internacional. grande polêmica devido as pressões
feitas sobre os países em desenvolvimento para que estes eliminem o trabalho
infantil, estipulando sanções comerciais, pela OMC, aos países que não
cumprirem os padrões internacionalmente impostos. Tal medida pode ocultar
88
CHANG, Ha-Joon. op. cit., p. 175.
57
um protecionismo velado, por exemplo. Além disso, Chang deixa claro que
questões como a regulamentação do trabalho infantil não devem, em hipótese
alguma, ser objeto de sanção internacional. De fato, os PADs demoraram
séculos para abolir completamente o trabalho infantil. Chang, então, questiona,
por quais motivos, então, os países atualmente em desenvolvimento devem
passar por essa transformação de forma brusca, de uma hora para outra.
Percebe-se, no entanto, que o autor está longe de defender o trabalho infantil.
A intenção de Chang é mostrar como todo o processo de criação das
instituições é gradativo, conforme o avanço social, e não impositivo como
os PADs desejam estabelecer.
Conclui-se que, no que tange a história do desenvolvimento institucional,
percebe-se que, os PADs levaram anos para adotar as medidas que sugerem.
Instituições, em geral, levam décadas para se desenvolver. Elas surgem
conforme a necessidade dos países e não a partir de um pré-requisito imposto
por influências externas. O progresso das instituições deve ser concomitante
ao desenvolvimento do país, de forma lenta e gradual, a fim de que estas
instituições, ao invés de se tornarem um peso pois, em geral, elas
representam um alto custo – ou um freio – pois, podem se tornar um verdadeiro
obstáculo ao avanço científico, por exemplo –, sejam o que se realmente
espera delas: ao mesmo tempo conseqüência do desenvolvimento e
desencadeadoras de prosperidade.
2.4.5 A DEMOCRACIA E O DESENVOLVIMENTO
Chang analisa a democracia tanto como parte integrante do caminho
que leva ao desenvolvimento ou seja, precondição ao desenvolvimento
quanto como conseqüência deste. Como bem coloca o autor, quando foi
instituído o sufrágio nos PADs, este ficou restrito a uma ínfima parte dos
proprietários do sexo masculino ou seja, foram levados em consideração
critérios como raça, gênero, patrimônio, nível de instrução e idade. Chang
ainda promove a seguinte ressalva:
58
Posto que a maioria dos PADs tivesse adotado o sufrágio universal
masculino quando do fim da Primeira Guerra Mundial, dificilmente se
poderia chamar esses países de democracias no sentido puramente
formal da palavra, pois as mulheres e as minorias étnicas estavam
excluídas. Não foi senão em 1946 que a maior parte dos PADs, (...),
chegaram ao sufrágio universal
89
.
Neste momento, Chang cita o exemplo francês, onde durante muitos
anos mais precisamente entre 1815 e 1847 houve diversas limitações no
que diz respeito ao voto, como por exemplo, a idade (restrito aos maiores de
trinta anos) e a renda, chegando ao ponto de apenas aproximadamente 0,3%
da população francesa (que neste momento chegava a 32 milhões de pessoas)
comparecer às urnas. Apenas em 1848, a França instituiu o sufrágio universal
masculino, mas, como se pode perceber, trata-se ainda de uma forma muito
limitada de democracia, pois as mulheres continuavam excluídas. Aliás, na
França, o voto feminino só foi aceito depois da Segunda Guerra Mundial, assim
como em diversos países da Europa:
Posto que a maioria dos PADs tivesse adotado o sufrágio
universal masculino quando do fim da Primeira Guerra Mundial,
dificilmente se poderia chamar esses países de democracias no
sentido puramente formal da palavra, pois as mulheres e as
minorias étnicas estavam excluídas. (...) A Austrália e a Nova
Zelândia foram os primeiros países a dar o direito de voto à
mulher (respectivamente em 1903 e 1907), se bem que em
1962 a Austrália o estendeu aos não-brancos. A Noruega
concedeu-o às mulheres contribuintes ou casadas com
contribuintes em 1907, conquanto o sufrágio universal tenha
sido instituído em 1913. (...) Em muitos outros países (por
exemplo, Alemanha, Itália, Finlândia, França e Bélgica), se
outorgou o direito eleitoral às mulheres depois da Segunda
Guerra Mundial. No caso da Suíça, o voto feminino foi
permitido quase cem anos depois da instituição do sufrágio
universal (1971 e 1879)
90
.
Países, que hoje brandem a bandeira democrática, há bem pouco tempo
negavam o direito ao voto à grande parte de sua população. Os Estados
Unidos, por exemplo, permitiu em 1970 que os homens negros votassem – pois
a Quinta Emenda à Constituição proibiu os Estados de negarem esse direito a
89
CHANG, Ha-Joon. op. cit., p. 131.
90
CHANG, Ha-Joon. op. cit., p. 132.
59
quem quer que fosse “por conta da raça, da cor ou da condição servil”. No
entanto, como ressalta Chang este direito não foi realmente cumprido:
Posteriormente, no entanto, os Estados do Sul voltaram a retirar-
lhes o direito de voto entre 1890 (Misissipi) e 1908 (Geórgia).
Não podendo tomar medidas abertamente racistas, adotaram
métodos como os impostos eleitorais e as exigências de
propriedade (que também prejudicavam alguns brancos pobres),
assim como os testes de alfabetismo (aplicados com extrema
indulgência aos brancos). Com isso, não mais do que um
punhado de negros podia votar nos Estados Unidos sulistas. (...)
Ademais, a ameaça de violência impedia grande parte dos
poucos eleitores qualificados negros de se inscreverem e, dos
que se inscreviam, de votar. Esse estado de coisas durou até o
Voting Rights Act de 1965, sancionado depois do Movimento
pelos Dirietos Civis
91
.
Chang demonstra ainda que, quando os PADs estabeleceram a
democracia na letra da lei, em geral, tratava-se de uma democracia que, como
ele mesmo coloca, “era de péssima qualidade” – devido às suas inúmeras
limitações, ou seja, o que era para ser universal acabava não o sendo:
Mesmo quando os PADs estabeleceram a democracia formal,
esta geralmente era de péssima qualidade, como no caso de
muitos países em desenvolvimento da atualidade.
mencionamos o problema da ‘qualidade’ no tocante ao direito ao
direito eleitoral conforme a raça, o gênero e o patrimônio
92
.
Além disso, Chang denuncia outros problemas existentes como, por
exemplo, o voto secreto (“em primeiro lugar, o voto secreto não chegou a ser
comum antes do século XX”
93
), a compra de votos e a fraude eleitoral, como
percebemos nestes trechos:
Segundo, também muito comuns eram a compra de votos e a
fraude eleitoral. Por exemplo, o suborno, as ameaças e as
promessas de emprego para os eleitores disseminaram-se nas
91
CHANG, Ha-Joon. op. cit., p. 131.
92
CHANG, Ha-Joon. op. cit., p. 133.
93
CHANG, Ha-Joon. op. cit., p. 132.
60
eleições britânicas até o fim do século XIX. Com eleições tão
caras, não era de admirar que os políticos eleitos fossem
corruptos. No fim do século XIX, a corrupção legislativa no país,
principalmente nas assembléias estaduais, agravou-se (...). A
essa luz, o caminho da democracia, nos PADs, mostrou-se
áspero e pedregoso. Foi à custa de décadas e décadas, de
campanhas políticas (por exemplo, pelo sufrágio feminino e o
negro) e de reformas eleitorais que esses países adquiriram até
mesmo os penduricalhos mais elementares da democracia o
sufrágio universal e o voto secreto –, e, mesmo assim, sua
prática foi conspurcada pela fraude eleitoral, pela compra de
votos e pela violência
94
.
Chang afirma que, em comparação com os PADs em seus estágios
iniciais os países que atualmente atravessam o período de desenvolvimento,
parecem estar na frente no quesito democracia. Deve-se ressaltar que, no
entanto, muitos desses países tiveram retrocessos em seus processos rumo à
implementação da democracia quando viveram seus regimes militares. No
entanto, deve-se deixar claro que mesmo passando por supressão eleitoral,
nenhum dos atuais países em desenvolvimento reintroduziu o direito seletivo
ou seja, usando como critérios fatores como patrimônio, gênero ou raça fato
comum nos PADs durante seus respectivos processos de desenvolvimento.
Dessa forma, podemos concluir que a idéia de sufrágio universal é muito
mais aceita nos países em desenvolvimento de hoje do que à época em que os
PADs encontravam-se em semelhante estágio.
Conclui-se, neste capítulo, que Chang dissecou algumas das principais
estratégias utilizadas pelos PADs para chutar a escada dos países em
desenvolvimento. Através da imposição da implementação de diversas
instituições, como as apontadas acima, desenvolveu-se uma verdadeira
“cartilha” a ser adotada a qual os países desenvolvidos, durante a fase de
desenvolvimento, não utilizaram – pelos países em desenvolvimento. Podemos
afirmar, através de toda esta explanação de Chang, que alguns países hoje em
desenvolvimento, estão à frente dos PADs – quando estes estavam crescendo.
Isto porque divergências como a democracia, os direitos trabalhistas e o
acesso a justiça são hoje questões pacíficas em alguns subdesenvolvidos
94
CHANG, Ha-Joon. op. cit., p. 134.
61
como o Brasil, por exemplo. Desta forma, é preciso deixar claro que a ênfase
de Chang é demonstrar que essas instituições foram criadas gradativamente
nos PADs. No entanto, é preciso lembrar que tais instituições são responsáveis
por um desenvolvimento não quantitativo, mas qualitativo dos países em
desenvolvimento.
Sendo assim, podemos concluir que existe uma estratégia dos PADs
em desacelerar o crescimento e o surgimento da concorrência no cenário
global dos países em desenvolvimento. Porém, é preciso fazer a ressalva de
que, o foco dos países subdesenvolvidos não deve ser crescer a qualquer
custo, mais sim, crescer com qualidade, ou seja, se desenvolver.
O próximo capítulo analisará o ponto de vista de Amartya Sen quanto a
desenvolvimento e liberdade e infere variáveis qualificadoras de
desenvolvimento econômico, a partir dos conceitos do autor.
62
3. AMARTYA SEN, A LIBERDADE E O DESENVOLVIMENTO
O objetivo deste capítulo é, a partir das idéias de Amartya Sen
95
expostas no livro “Desenvolvimento Como Liberdade”
96
–, compreender suas
perspectivas de liberdade e de desenvolvimento, entendendo também seus
fundamentos de justiça e da importância da democracia.
3.1. UM MUNDO DE PARADOXOS
Um dos grandes autores contemporâneos, entre os que discutem a
questão das disparidades socioeconômicos em países em desenvolvimento
com características especiais como aqueles que compõem o BRICs – é
Amartya Kumar Sen. Em seu livro lançado em 2000, “Desenvolvimento como
Liberdade”, Sen discute quais os reais problemas do mundo atual e as
melhores formas para o exercício do desenvolvimento. De acordo com Sen, a
ação individual é essencial para que o desenvolvimento ocorra. No entanto, o
autor observa que, a ação individual é condicionada, ou seja, limitada pelas
oportunidades sociais, políticas e econômicas. Nesse momento então, o autor
conclui que existe uma complementaridade entre ação individual e
agenciamentos sociais.
Para Sen, o mundo atual passa por um momento de abundancia jamais
vista, com governos democráticos e participativos, onde se discute os direitos
humanos e também a liberdade política. Além disso, presencia-se uma
elevação da expectativa de vida, assim como a dinamização dos meios de
95
Amartya Sen é um economista indiano, ganhador do prêmio Nobel de Economia em 1998,
que lecionou e Oxford e Harvard. Além disso, é um dos fundadores do Instituto Mundial de
Pesquisa em Economia do Desenvolvimento (Universidade da ONU).
96
SEN, Amartya Kumar. Desenvolvimento como Liberdade / Amartya Sen; tradução Laura
Teixeira Motta; revisão técnica Ricardo Doniselli Mendes. São Paulo: Companhia das Letras,
2000.
63
comunicação tem permitido uma maior interação entre as pessoas dos mais
longínquos locais da Terra. No entanto, essa mesma realidade é composta por
uma outra face, bastante cruel. Por maior que seja a abundância, ela existe
para alguns e não para todos. A pobreza e a falta de condições mínimas de
sobrevivência digna persistem lado a lado com a opulência. Da mesma forma,
a fome e a desnutrição continuam a matar milhares de pessoas todos os anos.
Deve-se observar ainda que, por mais debatidos que alguns temas políticos
estejam, continuam existindo violações às liberdades políticas e às liberdades
individuais. Um dos principais focos de violação da liberdade é a mulher, que
continua a tendo seus interesses e suas atividades desvalorizadas. E o pior:
trata-se de um mundo que ainda não parou para agir pelo futuro. As
campanhas existentes, de acordo com Sen, não passam para a fase de
execução, e uma verdadeira ameaça á sustentabilidade da vida econômica
e social.
Dentro desse contexto é que Sen discute os conceitos de liberdade e
desenvolvimento, a fim de encontrar uma forma de explicar e mudar a
realidade. Para o autor, desenvolvimento e liberdade são dois fatores que
estão juntos e precisam um do outro para existir, como em uma simbiose. O
desenvolvimento, para ele, teria como fim prioritário a expansão da liberdade,
porém, ao mesmo tempo, a liberdade é o meio principal do desenvolvimento.
Dessa forma, Sen aponta a liberdade como sendo o meio e o fim do
desenvolvimento, ou seja, essencial para sua existência.
Além disso, o autor define desenvolvimento como sendo a remoção de
vários tipos de restrições que fazem com que as pessoas tenham pouca
escolha e ínfimas oportunidades para exercerem a sua ação racional. Sen
afirma ainda que algumas liberdades têm um papel instrumental na promoção
de liberdades de outras espécies. As liberdades econômica e política reforçam-
se uma à outra. Da mesma forma, oportunidades sociais de educação e saúde
complementam as oportunidades individuais de participação econômica e
política, e estimulam as nossas iniciativas no sentido de superar privações.
Nota-se, conseqüentemente, que o economista deseja, a todo momento,
reforçar a posição da liberdade como o principal objeto do desenvolvimento.
Para ele, o alcance da análise política consiste em estabelecer um raciocínio
64
que torne este ponto de partida viável para a discussão do desenvolvimento.
Por esse motivo, surge a necessidade de uma análise conjunta das atividades
econômicas, sociais e políticas, principalmente da interação entre algumas
liberdades instrumentais cruciais, das quais Sen destaca a oportunidade
econômica, a liberdade política, as garantias de transparência e os serviços
sociais.
Ao tentar se aprofundar na explicação da necessidade de unir os
conceitos de liberdade e desenvolvimento, o autor esclarece que o
desenvolvimento pode ser encarado como um processo de alargamento das
liberdades reais de que uma pessoa dispõe. Algumas perspectivas bastante
restritas de desenvolvimento – que atrelam desenvolvimento ao crescimento do
produto nacional bruto, ao aumento das receitas pessoais, à industrialização,
ao progresso tecnológico ou à modernização social são colocadas de lado
nesse momento.
Considerar o desenvolvimento como expansão das liberdades
substantivas orienta a ação para os fins que tornam o desenvolvimento algo
importante, mais do que para os meios que desempenhem papéis de relevo.
Devemos ressaltar sempre, porém, que a liberdade substantiva existe
quando cada pessoa tem condições efetivas de acesso a um conjunto de bens
e serviços que garantam o exercício da liberdade formal.
Podem ser destacados em Sen dois motivos pelos quais a liberdade é
essencial no processo de desenvolvimento. Primeiro, pela avaliação, pois a
apreciação do progresso tem de ser feita em termos do alargamento das
liberdades das pessoas. E em segundo, pela eficácia, pois o resultado depende
da ação livre das pessoas. Porém, o que Sen realmente ressalta é que toda e
qualquer ação a ser realizada por uma pessoa é influenciada pelas
oportunidades econômicas, pelas liberdades políticas, pelos poderes sociais e
por condições de possibilidade como a boa saúde, a educação básica, e o
incentivo e estímulo às suas iniciativas.
Por mais radical que pareça, o autor prova que sua concepção de
“desenvolvimento como liberdade” fica clara em alguns exemplos elementares.
É freqüentemente questionado se certas liberdades políticas e sociais (como a
liberdade de participação ou discordância políticas, ou as oportunidades de
receber educação básica) são, ou não, “indutoras de desenvolvimento”. Esta
65
forma de colocar as questões se aproxima da compreensão capital de que
estas liberdades são constituintes do desenvolvimento. Estas liberdades são
eficazes como contribuições para o progresso econômico, mas essa
justificativa das liberdades vem depois de e sobre o papel diretamente
constitutivo destas liberdades para o desenvolvimento. De fato, o rendimento e
a liberdade de viver bem e por muito tempo divergem,como destaca Sen:
Por exemplo, os cidadãos do Gabão, África do Sul,
Namíbia ou Brasil podem ser muito mais ricos em termos
de PNB per capita do que os do Sri Lanka, China ou do
Estado de Kerala, na Índia, mas neste segundo grupo de
países as pessoas têm expectativas de vida
substancialmente mais elevadas do que no primeiro
97
.
Freqüentemente, discute-se a condição dos afro-americanos nos EUA,
pois, sendo relativamente pobres, são muito mais ricos do que os povos do
terceiro mundo. No entanto, têm absolutamente menos hipóteses de alcançar
uma idade avançada do que povos de muitas sociedades do terceiro mundo,
como a China, o Sri Lanka, ou algumas partes da Índia.
A capacidade dos mecanismos de mercado para contribuírem para um
elevado crescimento econômico e para um progresso econômico global tem
sido largamente, e corretamente, reconhecido na literatura contemporânea
sobre o desenvolvimento. Mas esta liberdade não é apenas um meio. Como
Adam Smith salientou, a liberdade de troca e transação é, em si mesma, parte
e porção das liberdades básicas a que as pessoas, justificadamente, atribuem
valor.
A não aceitação da liberdade de participar no mercado de trabalho como
uma liberdade fundamental é uma das maneiras de conservar as pessoas em
servidão e cativeiro, e a luta contra a exploração do trabalho forçado em muitos
países do terceiro mundo é, hoje, importante por razões semelhantes às que
tornaram imperiosa a guerra civil americana.
97
SEN, Amartya Kumar. op. cit., p. 20.
66
O elogio do capitalismo em Karl Marx e a caracterização que, em “O
Capital”, faz da guerra civil americana, “aquele grande acontecimento da
história contemporânea”, estão relacionados com a importância da liberdade de
contrato de trabalho, em oposição à escravatura. A liberdade de participar nas
trocas econômicas tem um lugar básico na vida social. A abordagem do
“desenvolvimento como liberdade” proporciona uma perspectiva mais ampla e
mais inclusiva dos mercados do que a que é freqüentemente invocada quando
se defendem ou quando se tripudiam os mecanismos do mercado, como se
percebe em:
(...) entre os desafios cruciais do desenvolvimento em muitos
países atualmente inclui-se a necessidade de libertar os
trabalhadores de um cativeiro implícito que nega o acesso ao
mercado de trabalho aberto. De modo semelhante, a negação do
acesso aos mercados de produtos freqüentemente está entre as
privações enfrentadas por muitos pequenos agricultores e
sofridos produtores sujeitos À organização e restrições
tradicionais. A liberdade de participar do intercâmbio econômico
tem um papel básico na vida social
98
.
A visão do desenvolvimento como um processo integrado de expansão
de liberdades concretas, ligadas umas nas outras permite a apreciação
simultânea do papel vital de muitas instituições diferentes, incluindo mercados
e organizações relacionadas, governos e autoridades locais, partidos políticos
e instituições cívicas, sistemas educacionais, meios de comunicação, etc.
Tal abordagem permite-nos reconhecer o papel dos valores sociais e
dos valores dominantes, que influenciam as liberdades de que as pessoas
gozam e resguardam. Normas partilhadas influem nas realizações sociais,
como a igualdade dos gêneros, a natureza dos cuidados infantis, o
planejamento familiar e os modelos de procriação, ou o modo como se lida com
o meio ambiente.
A corrupção e a confiabilidade nas relações econômicas, sociais e
políticas são diretamente influenciados pelos valores vigentes numa
98
SEN, Amartya Kumar. op. cit., p. 22.
67
determinada sociedade. Por esse motivo, o exercício da liberdade perpassa a
questão dos valores, da mesma forma que os valores também são afetados
pela interação social e pelo debate público, ou seja, pelas liberdades de
participação.
Sen destaca a existência de cinco espécies de liberdade, todas elas
vistas sob uma perspectiva instrumental. liberdades políticas, facilidades
econômicas, oportunidades sociais, garantias de transparência e serviços
sociais. De fato, na perspectiva do “desenvolvimento como liberdade”,
destacada no livro, as liberdades instrumentais ligam-se umas às outras e com
os fins de plenitude da liberdade em geral.
Ao conceituar liberdade como sendo, concomitantemente, o fim e o meio
principal para se alcançar o desenvolvimento, percebe-se o quanto as
liberdades políticas, por exemplo, alavancam e colaboram na conquista da
estabilidade e da segurança econômica. Da mesma forma, as oportunidades
sociais, materializadas em uma educação ao alcance de todos e em uma
saúde de qualidade, facilitam a participação na economia. De fato, os
dispositivos econômicos, visíveis na oportunidade de participar do comércio e
da produção, podem gerar riqueza individual e também recursos públicos e
serviços sociais. Sendo assim, percebe-se que as liberdades, em suas
diferentes espécies, fortalecem umas as outras:
As liberdades não são apenas os fins primordiais do
desenvolvimento, mas também os meios principais. Além de
reconhecer, fundamentalmente, a importância avaliatória da
liberdade, precisamos entender a notável relação empírica que
vincula, umas às outras, liberdades diferentes. Liberdades
políticas (na forma de liberdade de expressão e eleições livres)
ajudam a promover a segurança econômica. Oportunidades
sociais (na forma de serviços de educação e saúde) facilitam a
participação econômica. Facilidades econômicas (na forma de
oportunidades de participação no comércio e na produção)
podem ajudar a gerar a abundância individual, além de recursos
públicos para os serviços sociais. Liberdades de diferentes tipos
podem fortalecer umas as outras
99
.
3.2. A PERSPECTIVA DE LIBERDADE
99
SEN, Amartya Kumar. op. cit., p. 26.
68
Uma perspectiva clara de liberdade, permite ver que os ganhos e a
riqueza são meios genéricos de perseguir o tipo de vida que razoavelmente se
valoriza. Nesse aspecto, é
sine qua non reconhecer o papel central da riqueza
na determinação das condições e da qualidade de vida como compreender a
natureza específica e o que por detrás dessa relação. O crescimento
econômico não pode ser tratado como um fim em si mesmo. Ele deve sempre
fazer referência à ascensão da vida que construímos e às liberdades de que
usufruímos:
A utilidade da riqueza está nas coisas que ela nos permite fazer
as liberdades substantivas que ela nos ajuda a obter. Mas
essa relação não é exclusiva (...) nem uniforme (...). Uma
concepção adequada de desenvolvimento deve ir muito além da
acumulação de riqueza e do crescimento do Produto Interno
Bruto e de outras variáveis relacionadas à renda. Sen
desconsiderar a importância do crescimento econômico,
precisamos enxergar muito além dele
100
.
Dessa forma, é fundamental pontuar as diversas formas de privação de
liberdade. Sen afirma que a maioria da população mundial sofre de diversos
tipos de privação, e que para muitos é recusada até a liberdade básica de
sobreviver. a privação de alimentos, de uma nutrição adequada, de
cuidados de saúde, de saneamento básico ou água potável, de uma educação
eficaz, de um emprego rentável, de segurança econômica e social e de
liberdades políticas e direitos civis.
Perante a todas essas privações sofridas por tantas pessoas ao redor do
mundo, o autor deixa clara a importância da liberdade para uma possível
solução desses problemas. Para Sen, o desenvolvimento econômico inclui a
dimensão da segurança econômica, que está ligada aos direitos democráticos
e às liberdades. O funcionamento da democracia e dos direitos políticos pode
ajudar a prevenir fomes e outras calamidades econômicas. Ele destaca um
dado histórico de imensa relevância: na história do mundo, nunca houve uma
epidemia de fome numa democracia efetiva, rica ou pobre.
100
SEN, Amartya Kumar. op. cit., p. 28.
69
A liberdade política e as liberdades civis são fundamentais em si
mesmas e não precisam de ser indiretamente justificadas pelos seus efeitos
na economia. Afinal, pessoas sem liberdade política ou direitos civis estão
privadas de liberdades importantes para a construção das suas vidas e não
participam de decisões cruciais referentes à vida pública.
A liberdade, como concebida por Sen, assume a perspectiva dos
processos que proporcionam a liberdade de ação e de decisão e as condições
reais das pessoas. A diferença entre o processo da liberdade e a condição da
liberdade compreende uma diferença substancial, e ambas as perspectivas
estão relacionadas com a consideração do desenvolvimento como liberdade.
Sen ressalta também a relação de “mão dupla” entre as capacidades
exercidas pelas pessoas e as políticas públicas. Para o autor:
Essas capacidades podem ser aumentadas pela política pública,
mas também, por outro lado, a direção da política pública pode
ser influenciada pelo uso efetivo das capacidades participativas
do povo
101
.
Existem duas razões pelas quais a liberdade é fundamental no conceito
de desenvolvimento: a avaliação e a eficácia. De fato, o sucesso de uma
sociedade deve ser avaliado pelas liberdades concretas de que gozam os seus
membros. No entanto, esta perspectiva se difere das que se centram na
utilidade, na liberdade de procedimentos ou ainda no rendimento real. Sendo
assim, liberdade é não a base da avaliação do sucesso e do fracasso, mas
também a principal determinante da iniciativa individual e da eficácia social.
É preciso atentar, contudo, para os diferentes sistemas de avaliação. De
fato, esta análise de Amartya é diferente da fixação “economicista” que foca no
rendimento e na riqueza, da mesma forma que está longe tanto do foco
“utilitarista” como também da preocupação “libertária”, com seus procedimentos
em prol da liberdade. Contudo, Sen não nega a relação existente entre
101
SEN, Amartya Kumar. op. cit., p. 32.
70
rendimentos escassos e a privação das potencialidades individuais. O autor
reconhece que, de fato, baixo nível de renda pode ser a razão fundamental do
analfabetismo, das péssimas condições de saúde de saúde, da fome e da
subnutrição, assim como uma melhor educação e saúde ajudam a obter rendas
mais elevadas.
O papel do rendimento e da riqueza tem de ser integrado numa
descrição mais ampla e complexa do sucesso e da privação, como destaca
Sen:
Se a nossa atenção for desviada de uma concentração exclusiva
da privação de capacidade, poderemos entender melhor a
pobreza das vidas e liberdades humanas com uma base
informacional diferente (envolvendo certas estatísticas que a
perspectiva da renda tende a desconsiderar como ponto de
referência para a análise de políticas). O papel da renda e da
riqueza – ainda que seja importantíssimo, juntamente com outras
influências tem de ser integrado a um quadro mais amplo e
completo de êxito e privação
102
.
Ao tratar exclusivamente sobre pobreza e desigualdade, Sen afirma que
a mortalidade infantil, acentuada subnutrição, analfabetismo e outras carências,
podem ser efeitos colaterais da privação das potencialidades elementares.
A relação entre renda e mortalidade é bastante discutida por Sen. O
autor faz questão de comprar um grupo de afro-americanos que vive nos
Estados Unidos com o de pessoas nascidas nas economias muito mais pobres
da China, do estado indiano de Kerala, do Sri Lanka, da Jamaica ou da Costa
Rica. O que se percebe é que a carência de grupos particulares nos países
muito ricos pode ser comparada às do chamado terceiro mundo. Mesmo tendo
renda per capita mais alta, o grupo de afro-americanos tem menor chance de
chegar a idades avançadas. Os contrastes entre rendimentos e longevidade
são função de dispositivos sociais e relações comunitárias como a assistência
102
SEN, Amartya Kumar. op. cit., p. 35.
71
médica, cuidados de saúde pública, educação escolar, lei e ordem, níveis de
violência, etc.
Além da liberdade de sobreviver driblando a feroz mortalidade, há outras
liberdades. Deve-se observar, contudo, que a abrangência extensiva de
liberdades é vista, por vezes, como um problema para a obtenção de uma
abordagem operativa do desenvolvimento centrado na liberdade. Porém, é
necessário atentar para a grande tendência em se deslocar o foco da liberdade
para a utilidade. Porém, um preço a ser pago por esse deslocamento: o
menosprezo do valor da própria liberdade em si
103
.
Por existirem diversas espécies de liberdades, torna-se necessário pesos
diferentes, ou seja, valores específicos para cada um dos tipos de liberdades. A
valorização explícita é criticada, mas apresenta a vantagem de ser aberta à
crítica e a opinião pública. Um dos argumentos mais poderosos a favor da
liberdade política reside no fato de dar aos cidadãos a oportunidade de discutir
e debater valores para eleger as prioridades.
Sen destaca também que a questão da participação é fundamental para
alguns dos problemas emergentes que têm enfraquecido a força e o alcance da
teoria do desenvolvimento. Se um modo de vida tradicional tiver de ser
sacrificado para escapar a uma pobreza esmagadora ou a uma esperança de
vida mínima, é o povo que será diretamente afetado por essa questão que
deve ter a oportunidade de participar e se pronunciar quanto a decisão do
caminho a ser tomado.
O conflito real se entre uma vertente que prega a inclusão-
participativa e uma outra que, contrário senso, insiste que o que foi
estabelecido deve permanecer. Ou seja, de um lado, o valor básico,
segundo o qual deve ser permitido às pessoas decidir livremente que tradições
desejam, ou não, seguir. Do outro lado, insiste-se na idéia de que as tradições
estabelecidas devem ser acatadas e, dessa forma, que as pessoas devem
obedecer às decisões das autoridades, religiosas ou laicas, que tutelam as
tradições, sejam essas reais ou imaginários.
Acreditar que a escolha depende da participação de cada um, ou seja,
no primeiro preceito é fortificar a idéia da liberdade humana que, uma vez
103
SEN, Amartya Kumar. op. cit., p. 39.
72
aceita, tem grandes conseqüências sobre o que pode ou não ser feito em nome
da tradição. A liberdade de todos para participarem na decisão relativa às
tradições a respeitar não pode ser normalizada pelos “guardiões” nacionais ou
locais. Nesse momento, esbarra-se na força das autoridades religiosas, dos
ditadores, e de outros “poderosos” que teimam em querer decidir sozinhos o
que todos deveriam escolher juntos. O rumo a tomar, em qualquer conflito
estabelecido entre a preservação da tradição e as vantagens da modernidade,
requer uma resolução participativa. Uma vez que a participação requer
conhecimento educacional e instrução básica, negar a oportunidade de
escolarização a algum grupo é negar a ele condições elementares da liberdade
participativa e Sen deixa isso claro quando afirma que:
(...) como a participação requer conhecimentos e um grau de
instrução básico, negar a oportunidade da educação escolar a
qualquer grupo por exemplo, às meninas é imediatamente
contrário às condições fundamentais da liberdade participativa.
Embora esses direitos tenham sido muitas vezes contestados
(um dos ataques mais violentos vem sendo desferido pelos
líderes do Taliban no Afeganistão), não se pode escapa desse
requisito elementar em uma perspectiva orientada para a
liberdade
104
.
Sendo assim, torna-se imprescindível se estabelecer um pensamento no
sentido de remover as privações possibilitando o desenvolvimento, que
prescinde das liberdades concretas para existir de forma sustentável. Não
significa dizer, porém, que um único critério de desenvolvimento. Trata-se
de um conceito que traz bastante heterogeneidade em seus componentes. No
entanto, o que Sen salienta em todo o seu texto é a participação essencial das
liberdades no processo de desenvolvimento.
3.3. DESENVOLVIMENTO: MEIOS E FINS
104
SEN, Amartya Kumar. op. cit., p. 48.
73
No livro “Desenvolvimento como Liberdade”, Amartya faz uma
abordagem do desenvolvimento, de uma perspectiva “amigável”. Para ele, a
naturalidade do processo de desenvolvimento tem como base trocas
mutuamente benéficas, liberdades políticas e desenvolvimento social. De
acordo com o autor, trata-se, principalmente, de “uma tentativa de ver o
desenvolvimento como um processo de expansão das liberdades reais que as
pessoas desfrutam”
105
.
Essa visão se diferencia bastante de outra que ele apresenta, a qual tende a
entender o desenvolvimento como um processo “violento”, podendo ser
traduzido como “doa a quem doer”, onde cabe apenas muito “rigor e disciplina”.
Posicionando-se na corrente alternativa e amigável, Sen concebe o
desenvolvimento como um processo de expansão das liberdades reais
experimentadas por cidadãos participativos e atuantes. Sendo assim, aumentar
a liberdade é, ao mesmo tempo, fim primordial e o principal meio do
desenvolvimento.
Dessa forma, é possível dividir e denominar como sendo dois os papes
da liberdade no desenvolvimento: o “papel constitutivo” e o “papel
instrumental”. O papel constitutivo diz respeito à importância das liberdades
concretas para o enriquecimento da vida humana. As liberdades concretas
dizem respeito às questões basilares, como o combate à fome e à desnutrição,
ao combate às doenças, à diminuição da mortalidade infantil, à luta contra o
analfabetismo, à ampliação da participação política, à consolidação da
liberdade de expressão, etc.
Sen destaca que, em algumas concepções de desenvolvimento,
principalmente as mais quantitativas, questiona-se se a participação política é
ou não “indutora de desenvolvimento”, ou seja, se a ampliação dos direitos
políticos da sociedade implica em alguma resposta positiva na seara
econômica. Porém, de acordo com a perspectiva do desenvolvimento como
liberdade, essa indagação carece de procedência, uma vez que a participação
e a oposição políticas são partes constitutivas do próprio desenvolvimento. A
questão ponderava apenas o papel instrumental dessas liberdades, não
considerando o papel constitutivo.
105
SEN, Amartya Kumar. op. cit., p. 52.
74
o papel instrumental da liberdade se refere à forma como os diversos
tipos de direitos, oportunidades e habilitações colaboram para o aumento da
liberdade humana em geral, gerando com isso o desenvolvimento. Afinal, um
tipo de liberdade pode alavancar os outros tipos de liberdade, fortalecendo um
ao outro, mutuamente.
Podemos destacar cinco importantes tipos de liberdades instrumentais.
São elas as liberdades políticas, as facilidades econômicas, oportunidades
sociais, as garantias de transparência e a segurança protetora. Estas
liberdades reforçam-se reciprocamente e Sen tece uma observação cautelosa
quanto à relação existente entre elas:
Essas liberdades instrumentais tendem a contribuir para a
capacidade geral de a pessoa viver mais livremente, mas
também têm o efeito de complementar umas às outras. Embora
a análise do desenvolvimento deva, por um lado, ocupar-se dos
objetivos e anseios que tornam essas liberdades instrumentais
conseqüencialmente importantes, deve ainda levar em conta os
encadeamentos empíricos que vinculam os tipos distintos de
liberdade um ao outro, reforçado sua importância conjunta. (...)
O argumento de que a liberdade não é apenas o objetivo
primordial do desenvolvimento, mas também seu próprio meio,
relaciona-se particularmente a esses encadeamentos
106
.
As liberdades políticas referem-se às possibilidades que as pessoas têm
de decidir quem e segundo quais princípios devem ser governadas, e isso
inclui a possibilidade de vigiar, criticar e destituir as autoridades, gozando
assim da liberdade de expressão política e de uma imprensa sem censura
prévia, podendo escolher entre diferentes partidos políticos, etc.
As
facilidades econômicas respeitam as oportunidades de que os
indivíduos dispõem para utilizar os recursos econômicos para consumo,
produção ou troca. Na relação entre rendimento e riqueza, por um lado, e
capacidades econômicas dos indivíduos, por outro, as preocupações
distributivas também são importantes.
106
SEN, Amartya Kumar. op. cit., p. 55.
75
As oportunidades sociais estão relacionadas aos dispositivos que as
sociedades criam em favor da educação, dos cuidados com a saúde, etc.
Esses dispositivos têm influência na liberdade concreta que os indivíduos têm
de viver melhor. O analfabetismo pode ser uma grande barreira à participação
nas atividades econômicas ou até mesmo à participação política.
A sociedade funciona com base numa presunção básica de confiança.
As
garantias de transparência dizem respeito à necessidade de abertura e
visibilidade que os atos governamentais estão submetidos e que os eleitores
pessoas podem esperar. Estas têm um papel evidente na prevenção da
corrupção, da irresponsabilidade financeira e nas transações ilícitas.
ainda a necessidade da existência da segurança protetora
(adaptando para a realidade nacional, podemos denomina-la de
Previdência
Social
) para proteger as pessoas da miséria. Essa liberdade inclui dispositivos
como subsídio de desemprego ou bancos alimentares. Sen destaca:
A esfera da segurança protetora inclui disposições institucionais
fixas, como benefícios aos desempregados e suplementos de
renda regulamentares para os indigentes, bem como medidas
ad
hoc
, como distribuição de alimentos em crises de fome coletiva
ou empregos públicos de emergência para gerar renda para os
necessitados
107
.
Após descrever as liberdades, é importante ressaltar que elas reforçam
as capacidades das pessoas, mas também se completam umas às outras,
trazendo-se mutuamente um reforço suplementar.
Seguindo esse raciocínio, temos que o crescimento econômico além de
aumentar os rendimentos privados, faz com que haja também o aumento dos
serviços sociais. Da mesma forma, as questões sociais basilares, como a
educação pública ou os serviços de saúde cooperam para o desenvolvimento
econômico.
107
SEN, Amartya Kumar. op. cit., p. 57.
76
Muito relevante é a comparação que Sen estabelece, levando em conta
a China e a Índia. Ambos os países buscam, de alguma forma, deixar suas
economias mais abertas, internacionalizadas e voltadas para o mercado. No
entanto, Sen aponta para uma questão curiosa: os resultados ocorridos na
China não foram os mesmos na Índia. O autor explica que a China estava
muito mais preparada em termos de educação elementar e também no que diz
respeito à infra-estrutura de saúde, como destaca nesse trecho:
Um fator importante desse contraste reside no fato de, do ponto
de vista do preparo social, a China estar muito adiante da Índia
na capacidade de fazer uso da economia de mercado. Embora a
China pré-reforma se mostrasse profundamente cética com
respeito aos mercados, não houve ceticismo em relação à
educação básica e ao fornecimento amplo de serviços de
saúde.
108
.
Quando a China mercantilizou sua economia em 1979, possuía um
povo com alto índice de alfabetismo. a Índia, em 1991, quando se abriu ao
mercado, tinha ainda uma população semi-analfabeta e, de acordo com Sen,
até hoje essa situação não mudou expressivamente. Por esse motivo, a
comparação em termos das condições de educação favorece a China. Da
mesma forma, no setor de saúde, como coloca Sen no trecho a seguir:
As condições de saúde na China também eram muito melhores
do que as encontradas na Índia devido ao compromisso social
do regime pré-reforma tanto com os serviços de saúde quanto
com os de educação. Singularmente, esse compromisso,
embora sem nenhuma relação com seu papel propício no
crescimento econômico orientado para o mercado, criou
oportunidades sociais às quais foi possível das um
aproveitamento dinâmico depois de o país adotar a orientação
para o mercado. O atraso social da Índia, com sua concentração
elitista na educação superior, sua vasta negligência com relação
à educação elementar e o descaso substancial para com os
108
SEN, Amartya Kumar. op. cit., p. 59.
77
serviços básicos de saúde, deixou o país despreparado para
uma expansão econômica amplamente compartilhada.”
109
No entanto, o autor não esquece de ressaltar que a China sofre de séria
limitação em termos de liberdades democráticas. Essa questão de direito torna-se
muito relevante quando leva-se em conta que a China sofreu a fome coletiva que
quase certamente foi a maior de toda a história, contabilizando 30 milhões de pessoas
mortas na fome que sucedeu o malogro do Grande Salto Adiante (1958-1961).
Quando comparada à Índia nesse aspecto, a China chega em certa desvantagem,
uma vez que desde 1947, quando de sua independência, a Índia não passa por fomes
coletivas.
Sen destaca ainda que o impacto dos dispositivos sociais na liberdade de
prolongar a existência pode ser muito forte e ser influenciado por relações
instrumentais muito diversas. Nota-se que a esperança de vida tem uma ligação direta
e positiva com o custo de vida, mas esta correlação é oriunda do impacto do produto
nacional bruto sobre os rendimentos dos pobres e sobre a despesa pública,
principalmente no que tange os investimentos na saúde.
Por esse motivo, o autor faz uma comparação bastante interessante entre o
caso brasileiro e o de alguns países da Ásia. Para o autor, no Leste e Sudeste
Asiático, a ampla participação econômica foi muito mais fácil de se obter, uma vez
que, historicamente, tratava-se de países que davam ênfase na educação elementar,
na assistência à saúde e na reforma agrária. Diferentemente, no Brasil, na Índia e no
Paquistão, a criação de oportunidades sociais tem sido muito mais lenta, atravancando
um pleno desenvolvimento econômico:
A expansão de oportunidades sociais serviu para facilitar
o desenvolvimento econômico com alto nível de emprego,
criando tamm circunstâncias favoráveis para a redução
das taxas de mortalidade e para o aumento da
expectativa de vida. O contraste é nítido com outros
países de crescimento elevado como o Brasil que
apresentam um crescimento de PNB
per capita quase
comparável, mas também têm uma longa história de
grave desigualdade social, desemprego e descaso com o
serviço público de saúde. As realizações dessas outras
109
SEN, Amartya Kumar. op. cit., p. 60.
78
economias de crescimento elevado no que diz respeito à
longevidade têm aparecido com lentidão bem maior
110
.
Conclui-se que, conseguir aumentar a liberdade humana é, ao mesmo
tempo, o fim e o meio do desenvolvimento. Isso acontece, pois, as
potencialidades individuais dependem fundamentalmente dos dispositivos
econômicos, sociais e políticos. Devem ser considerados os papéis
instrumentais dos diferentes tipos de liberdade, e as suas inter-relações. Mais
uma vez, Sen esclarece:
Os fins e os meios do desenvolvimento exigem que a
perspectiva da liberdade seja colocada no centro do
palco. Nessa perspectiva, as pessoas m de ser vistas
como ativamente envolvidas dada a oportunidade na
conformação do seu próprio destino, e não apenas como
beneficiárias passivas dos frutos de engenhosos
programas de desenvolvimento. O Estado e a sociedade
têm papéis de sustentação, e não de entrega sob
encomenda. A perspectiva de que a liberdade é central
em relação aos fins e aos meios do desenvolvimento
merece toda a nossa atenção
111
.
3.4. OS FUNDAMENTOS DA JUSTIÇA
Sen faz um rico panorama sobre as bases informacionais e os juízos
avaliatórios, e a respectiva relação com algumas teorias tradicionais de ética e
justiça social.
Porém, o que merece real destaque para o tema em pauta é a reflexão,
realizada ao final do capítulo três do livro, em que o autor aborda as diversas
concepções possíveis sobre as necessidades básicas para a vida. Ou seja,
Sen analisa as rendas e as mercadorias que são usadas para o bem-estar e as
diferenças que podem existir entre as rendas reais as vantagens extraídas das
mesmas. O autor deseja incluir critérios como a
heterogeneidade das pessoas
(como todos são diferentes, consomem e aproveitam seus bens de forma
110
SEN, Amartya Kumar. op. cit., p. 62.
111
SEN, Amartya Kumar. op. cit., p. 71.
79
variada), a diversidade ambiental (o próprio local em que as pessoas vivem
influencia no consumo), as
variações no clima social (os serviços públicos
oferecidos pelo Estado, a existência de violência e de poluição, enfim, a
condição social também influi na relação entre rendas e vantagens obtidas), as
diferenças de
perspectivas relativas (de forma comparativa, a diferença do
padrão de vida entre as pessoas que vivem numa mesma localidade, também
influem nessa relação) e as
distribuições na família (como a família é uma
unidade básica em relação às rendas, do ponto de vista do uso, ela está ligada
aos diferentes níveis de benefícios auferidos das mercadorias)
112
.
O que o autor pretende provar com tal subdivisão é que a opulência – no
sentido de renda elevada, riqueza – é um indicador bastante bitolado para
avaliar bem-estar e qualidade de vida. Além disso, quer mostrar também que
existem outras formas de se realizar essa avaliação.
Porém, outras ressalvas devem ser feitas quando se estuda a pobreza.
Deve-se, por exemplo, procurar informações sobre a distribuição de
rendimentos, especialmente os baixos rendimentos reais. É nesse momento
que Sen cita a análise clássica de John Rawls
113
sobre os “bens primários
114
”,
a qual proporciona um quadro mais vasto dos recursos de que as pessoas
necessitam, sejam quais forem as suas finalidades. Os bens primários são
meios para fins genéricos e abrangem “direitos, liberdades e oportunidades,
rendimento e riqueza e a base social do auto-respeito”. Se alguém, tendo o
mesmo conjunto de bens primários, acaba por ser menos feliz que um outro,
não que misturar a injustiça com esta diferença de utilidade. Para Rawls,
uma pessoa tem de assumir a responsabilidade pelas suas preferências.
Logo após discutir a importância que cada bem teria na vida de pessoas
distintas, dependendo do valor que esta deposita no bem, Sen começa a
dissertar sobre a liberdade concreta de cada um de realizar combinações
112
SEN, Amartya Kumar. op. cit., p. 90 – 91.
113
John Rawls (21 de Fevereiro de 1921 - 24 de Novembro de 2002) foi um professor de
Filosofia Política na Universidade de Harvard, autor de ‘Uma Teoria da Justiça’ (
A Theory of
Justice
, 1971), ‘Liberalismo Político’ (Political Liberalism, 1993), e ‘O Direito dos Povos’ (The
Law of Peoples
1999).
114
Bens primários são aquilo que as pessoas livres e iguais precisam como cidadãos, pois a
justiça como eqüidade elabora um sistema eqüitativo de cooperação social, tendo, como
conseqüência, a existência de bens primários eqüitativos para que cidadãos livres e iguais
possam desenvolver uma vida com dignidade.
80
alternativas de funcionamento
115
, ou seja, é o que se pode chamar, mais
coloquialmente de “levar diferentes estilos de vida”. Depois de apresentar o
funcionamento, o autor traz o termo “potencialidade”. A “potencialidade” de
uma pessoa respeita às diferentes combinações de funcionamentos cuja
realização está ao seu alcance. É, também, a liberdade concreta de levar seu
próprio estilo de vida. Dessa forma, cada funcionamento seria um vetor, e o
tamanho deste representaria a quantidade desse funcionamento. Surge, então,
o “leque de capacidades” que seriam os vetores de funcionamento alternativos
entre os quais a pessoa teria a possibilidade de escolher, caracterizando a
liberdade. Sendo assim, os funcionamentos efetuados informam sobre as
realizações, enquanto o leque de capacidades informa sobre as coisas que
uma pessoa é, de fato, livre para realizar.
A partir desses conceitos, entendemos que, para se estabelecer uma
comparação interpessoal com base nesses dados, requer-se a inclusão de
alguns itens heterogêneos, pois a perspectiva da liberdade é pluralista. Vale
dizer, inicialmente, que funcionamentos mais importantes que outros. Em
segundo lugar, é importante a realização de uma ponderação, no que diz
respeito a importância das liberdades concretas, representadas aqui pelo leque
de capacidades, contrastando-a com as realizações efetivas. Além disso,
ainda a questão de se saber que ponderação deve ser atribuída às
capacidades em comparação com as outras considerações significativas.
Dessa forma, fica bastante complexo estabelecer como serão escolhidos esses
valores, pois a escala de valores é uma questão de valoração e de juízo
racional, não de qualquer tecnologia impessoal.
Ao final do capítulo três, Sen reafirma que não há uma via real para a avaliação
de políticas econômicas ou sociais. O estudo procurou debater diferentes vias
de utilização da perspectiva baseada na liberdade:
115
O conceito de “funcionamento”, com as suas raízes claramente aristotélicas, reflete as
várias coisas cujo exercício ou posse uma pessoa pode valorizar. Os funcionamentos variam
desde os elementares, como alimentar-se convenientemente e estar ao abrigo das doenças
evitáveis, até atividades muito complexas ou a condições pessoais, como tomar parte na vida
social e ter auto-estima.
81
Procuramos demonstrar aqui que as prioridades que são aceitas,
muitas vezes implicitamente, nas diferentes abordagens da ética,
economia do bem-estar e filosofia política, podem ser
evidenciadas e analisadas identificando-se os informações que
servem de base para os juízos avaliatórios nas respectivas
abordagens. (...) procurou particularmente mostrar como
funcionam essas ‘bases informacionais’ e como diferentes
sistemas éticos e avaliatórios empregam bases informacionais
muito diversas. (...) Em conformidade com a idéia de que não
existem estradas régias para a avaliação, revelou-se que há
méritos distintos em cada uma dessas estratégias bem
estabelecidas, mas que cada uma também sofre limitações
significativas
116
.
No quarto capítulo, tem-se a análise sobre o subdesenvolvimento
entendido como carência de liberdades – e o desenvolvimento visto como um
processo de remoção de carências da liberdade e expansão de vários tipos de
liberdades concretas. Sen afirma que a pobreza pode ser vista de uma forma
diferente da que se costuma, uma vez que ela configura uma privação de
capacidade e não apenas um baixo nível de renda, conforme se percebe em:
(...) a pobreza deve ser vista como privação de capacidades
básicas em vez de meramente como baixo nível de renda, que é
o critério tradicional de identificação da pobreza. A perspectiva
da pobreza como privação de capacidades não envolve
nenhuma negação da idéia sensata de que a renda baixa é
claramente uma das causas principais da pobreza, pois a falta
de renda pode ser uma razão primordial da privação de
capacidades de uma pessoa
117
.
Sen entende a renda baixa como uma questão instrumental. Ela seria,
na verdade, mais um dos muitos fatores que restringem a capacidade do
indivíduo. O autor cita, por exemplo, a idade da pessoa, a localização onde
esta mora, a violência a que ela está exposta, as condições precárias de
saúde, entre outras, como fatores que também colaboram para a diminuição
116
SEN, Amartya Kumar. op. cit., p. 106.
117
SEN, Amartya Kumar. op. cit., p. 109.
82
das liberdades. Desta forma, perceber a pobreza como instrumental da
liberdade e não apenas como baixo nível de renda, para Sen, é fundamental:
O que a perspectiva da capacidade faz na análise da pobreza é
melhorar o entendimento da natureza e das causas da pobreza e
privação desviando a atenção principal dos
meios (e de um meio
especifico que geralmente recebe atenção exclusiva, ou seja, a
renda) para os
fins que as pessoas têm razão para buscar e,
correspondentemente, para as
liberdades de poder alcançar
esses fins
118
.
Sen aproveita o tema e fala também da abordagem que os economistas
fazem no que diz respeito à desigualdade. O autor afirma de que não há
dúvidas de que o tema é amplamente abordado pelos economistas. Porém,
para Sen, o problema está em o foco ser restrito, pois os economistas tendem
a falar univocamente sobre a desigualdade de renda, o que gera
conseqüências negativas, como coloca em:
Essa limitação tem o efeito de contribuir para que se
negligenciem outros modos de ver a desigualdade e a equidade,
modos que influenciam de maneira muito mais abrangente a
elaboração das políticas econômicas. Os debates sobre políticas
realmente têm sido distorcidos pela ênfase excessiva dada à
pobreza e à desigualdade medidas pela renda, em detrimento
das privações relacionadas à outras variáveis como
desemprego, doença, baixo nível de instrução e exclusão social.
Lamentavelmente, a identiicação de desigualdade econômica
com desigualdade de renda é muito comum em economia, e as
duas muitas vezes são efetivamente consideradas a mesma
coisa
119
.
O autor confere grande importância à distinção entre desigualdade de
renda e desigualdade econômica, pois para ele, pois muitas das críticas ao
igualitarismo econômico como um valor ou objetivo aplicam-se muito mais
118
SEN, Amartya Kumar. op. cit., p. 112 (grifos do autor).
119
SEN, Amartya Kumar. op. cit., p. 132.
83
facilmente ao limitado conceito de desigualdade de renda do que às
concepções mais amplas de desigualdade econômica. Sen, então, exemplifica:
Por exemplo, dar uma fatia maior de renda a uma pessoa que
tem mais necessidades – digamos, devido a uma incapacidade –
pode ser visto como contrário ao princípio de igualar as
rendas,
mas isso não contesta os preceitos mais amplos da igualdade
econômica, uma vez que a maior necessidade de recursos
econômicos devido à incapacidade deve ser levada em conta ao
julgarem-se os requisitos da igualdade econômica
120
.
Vale lembrar também que Sen faz referência assim como Chang à
importância das instituições para as liberdades. Como bem destaca, “nossas
oportunidades e perspectivas dependem crucialmente de que instituições
existem e do modo como elas funcionam”
121
. O autor afirma também que as
instituições devem ser entendidas conjuntamente, pois é a interação dessas
instituições que pode ou não gerar uma maior liberdade. Sen critica aqueles
que abordam instituições isoladamente, tratando, por exemplo, apenas do
mercado, ou somente do sistema democrático ou da mídia. Pois, para o autor,
é a combinação das instituições, ou seja, na perspectiva integrada “que as
instituições podem ser avaliadas e examinadas racionalmente”
122
.
Neste capítulo, abordou-se a perspectiva de liberdade de Amartya Sen,
objetivando entender, de forma mais profunda, a ligação desse conceito com a
idéia de desenvolvimento. Comecei tomando como base o entendimento do
autor no que diz respeito à liberdade e á capacidade, para então compreender
a sua diferente definição de desenvolvimento a qual mostra, a partir de um
ângulo diverso, um tema discutido desde o primeiro capítulo do presente
trabalho. Em seguida, procurei sistematizar o conceito de justiça desenvolvido
por Sen, além de abordar também questões bastante discutidas pelo autor
como a pobreza, a desigualdade e as instituições.
120
SEN, Amartya Kumar. op. cit., p. 132 (grifos do autor).
121
SEN, Amartya Kumar. op. cit., p. 168.
122
SEN, Amartya Kumar. op. cit., p. 169.
84
4. FUNDAMENTOS PARA UM INDICADOR DE SUSTENTABILIDADE PARA
OS BRICS
O objetivo deste capítulo é, a partir das análises teóricas desenvolvidas
nos capítulos anteriores, abordar criticamente alguns dos indicadores de
desenvolvimento mais utilizados e difundidos, suas utilidades, aplicabilidades,
particularidades e limitações.
Na primeira parte, abordarei o Produto Interno Bruto, sua história, suas
características e suas restrições. Já na segunda parte, farei a análise de
diversos indicadores, a partir da perspectiva dos autores tratados neste
trabalho. Primeiramente, abordarei os indicadores que estão alinhados a temas
ligados a sustentabilidade, correlacionados à perspectiva de desenvolvimento
de Furtado. Num segundo momento, tratarei de indicadores que mensurarão
questões abordadas por Chang, no segundo capítulo. E, por fim, tecerei
comentários sobre os indicadores que fazem referência aos assuntos
discutidos por Sen, e relatados no terceiro capítulo. Por último, tratarei dos
indicadores que visam uma compreensão mais completa do desenvolvimento
e, em seguida, sugerirei um indicador alternativo, que incorpore os preceitos
fundamentais de sustentabilidade ambiental, instituições em favor do
desenvolvimento e liberdades democráticas.
O propósito deste trabalho não é o de esgotar a discussão acerca dos
indicadores de desenvolvimento, muito menos o de sugerir o indicador perfeito.
Deseja-se pesquisar dentre os indicadores existentes aqueles que realmente
buscam entender a realidade de forma mais sensível e mais profunda. O
indicador aqui proposto nasce como fruto do presente trabalho, ou seja, trata-
se de um indicador que nascerá desta confluência de idéias, dessa comunhão
de informações colhidas através da pesquisa.
Diversas são as tentativas de elaborar um indicador capaz de captar a
realidade, de forma a espelhar o que de fato acontece. Na minha perspectiva
deveria ser este dotado de sensibilidade, de forma a que conseguisse captar as
nuances da democracia, os pilares das instituições de desenvolvimento e o
grau de liberdade e democracia de uma sociedade. Mas como fazer isso?
4.1 MUITO ALÉM DO PIB
85
Em primeiro lugar, analisaremos o PIB, Produto Interno Bruto (a Tabela
05 mostra o PIB para os BRICs nos últimos sete anos), indicador muito simples
e eficiente. Utilizando a definição divulgada pelo IBGE, o PIB consiste em “um
indicador que mede a produção de um país. Ele permite examinar o
desempenho da economia do país com detalhes. O PIB leva em conta três
grupos principais: a agropecuária, a indústria e os serviços”
123
.
O PIB é utilizado como um indicador base para diversas teorias e
constatações científicas e, no meu entender, de forma muito limitada, como se
depreende da análise dos autores estudados. E é exatamente isto que se quer
pôr em pauta, pois trata-se de um indicador limitado.
O PIB, como foi dito, é um indicador raso e direto. Não foi criado para
medir o progresso, nem o bem estar, nem a qualidade de vida. Criado na
década de 1930, por Simon Kuznets
124
, continua sendo um indicador
importante do desenvolvimento econômico de um país. Como foi dito, o PIB
visa medir o crescimento econômico. Obviamente, é possível entender o
crescimento econômico como meio para se obter estes outros fins. Como se
viu, o desenvolvimento econômico, por outro lado, não garante que esses fins
sejam alcançados. Ele é apenas um dos ingredientes, mas nem sempre tem
impactos no bem comum. De fato, na atmosfera em que foi criado entre as
Grandes Guerras Mundiais – sua concepção continha bastante relevância:
medir a produção de mercadorias e capital fixo, permitindo, desta forma, a
comparação entre as produtividades nacionais.
Muitos são os questionamentos que podem ser suscitados com base na
superficialidade do PIB, como por exemplo, as críticas feitas por Hazel
Henderson
125
:
123
IBGE - Vocabulário. [online] Disponível em:
<http://www.ibge.gov.br/7a12/voce_sabia/vocabulario/vocabulario.php?id_vocabulario=92
>.
Acesso em: 15 de outubro de 2009.
124
Simon Smith Kuznets foi um economista russo naturalizado americano que, na década de
930, criou o Produto Interno Bruto – PIB – o que lhe rendeu o Prêmio Nobel de Economia.
125
Hazel Henderson é autora de várias obras, entre as quais Building a Win-Win
World
Construindo um mundo em que todos ganhem”. Foi uma das criadoras dos
Indicadores Calvert-Henderon de Qualidade de Vida. Integrou o Comitê Organizador
da conferência “Além do PIB
- Beyond GDP -, do Parlamento Europeu.
86
Cresce em todo o mundo a crítica a um cálculo que
equipara o "desenvolvimento" ao valor monetário das
mercadorias produzidas. E se dinheiro não for sinônimo
de bem-estar? E se tiverem importância fatores ignorados
pelo índice, como preservação da natureza, educação e
busca da igualdade?
126
Nesta consideração de Henderson, percebe-se a preocupação com o
uso do PIB como indicador base para qualquer perspectiva. Henderson deixa
claro que o desenvolvimento não pode ser visto por uma perspectiva
reducionista, pois é muito mais do que o valor somado dos produtos e serviços
produzidos. Segundo a autora, desenvolvimento diz respeito aos cidadãos de
um país, à qualidade de vida deles, ao Estado a que são submetidos, à
legislação que os rege e à sustentabilidade das suas futuras gerações.
Pode-se afirmar então que o PIB “erra” quando não monitora, por
exemplo, a dilapidação do planeta e quando não leva em conta as condições
de vida da população. Levando em consideração um maior número de
variáveis, para mensurar o bem-estar dos povos, será possível realmente ter
noção da verdadeira dimensão do progresso, criando assim novos critérios de
decisão para a sociedade sustentável.
O PIB vem sendo questionado e debatido cada vez mais. Foi assim em
Palermo, no Fórum “Estatísticas, Conhecimento e Políticas”, em novembro de
2004; em Milão, no Fórum “Medindo Bem-Estar e Progresso das Sociedades”,
em junho de 2006; em Istambul no Fórum “Medindo e Fomentando o Progresso
das Sociedades”, em junho de 2007, na OCDE; e em Bruxelas, na Conferência
da União Européia “Além do PIB: Medindo Progresso, Verdadeira Riqueza e o
Bem-Estar”, em novembro de 2007. Inclusive, este último rendeu um grande
movimento, o
Beyond GDP (que pode ser traduzido como “Além do PIB”).
Trata-se de uma iniciativa da Comissão Européia
127
, do Parlamento Europeu,
126
HENDERSON, Hazel. PIB: Um Indicador Anacrônico. Le Monde diplomatique, Rio
de Janeiro, dez. 2007. Disponível em: <
http://diplo.uol.com.br/2007-12,a2026> Acesso
em: 01 set. 2009.
127
Comissão Européia é a instituição politicamente independente que representa e defende
os interesses da União Européia (UE) na sua globalidade, propõe a legislação, política e
programas de ação e é responsável por aplicar as decisões do Parlamento Europeu (PE) e o
Conselho da União Européia (CUE). A Comissão Européia materializa e defende o interesse
geral da Comunidade Européia. O presidente e os membros da Comissão são nomeados pelo
Conselho da União Européia, por maioria qualificada, após aprovação pelo Parlamento
Europeu.
87
do Clube de Roma
128
, da OECD
129
e do WWF
130
. O movimento visa encontrar
instrumentos mais eficientes para medir o progresso, a riqueza e o nível de
bem-estar. Deseja-se uma forma de mensuração que conte não apenas
questões econômicas, mas que computem também uma perspectiva social e
ambiental, abrangendo assuntos como saúde, mudanças climáticas, pobreza e
diminuição dos recursos naturais.
Vale ressaltar que as recentes conferências internacionais citadas acima
ajudaram a esclarecer quais índices eram mais adequados para medir o
progresso e como poderiam ser integrados ao processo de tomada de decisão
e retomados pelo debate público. Estas conferências sempre reuniram
especialistas de alto nível e políticos influentes para resolver essas questões
críticas. Mais de 500 pessoas, das esferas econômica, social e ambiental,
compareceram. Numerosas propostas foram desenvolvidas. A rede
ambientalista WWF, por exemplo, propõem, em geral, planos de ação mundial
conjunta para garantir que o mundo evite um colapso e assegure um futuro
com água para todos. A WWF está preocupada com o ecossistemas de áreas
úmidas e também com os acordos entre os governos e as agências
financiadoras para a implementação de práticas que respeitem o meio
ambiente.
Porém cabe aqui uma análise crítica. Apesar de todas essas iniciativas,
nenhuma medida pessoal e nenhum conjunto de indicadores goza de amplo
reconhecimento dentro do contexto do debate político e para o público em
geral. Talvez devido à existência de divergências no que diz respeito aos
fundamentos conceituais, ou pela falta da simplicidade analítica que havia
assegurado o sucesso do PIB.
128
Clube de Roma é um grupo, constituído em 1968, composto por cientistas, industriais e
políticos, que tinha como objetivo discutir e analisar os limites do crescimento econômico
levando em conta o uso crescente dos recursos naturais.
129
OECD (Organisation for Economic Co-operation and Development) ou OCDE (Organização
para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico) é uma organização internacional dos
países comprometidos com os princípios da democracia representativa e da economia de livre
mercado. A sede da organização fica em Paris, na França.
130
WWF é uma das mais conhecidas ONGs ambientalistas do planeta, tendo iniciado suas
atividades em 1961, por iniciativa de um grupo de cientistas da Suíça preocupados com a
devastação da natureza. A sigla WWF eram as iniciais de "World Wildlife Fund".
88
Na próxima seção, introduziremos alguns indicadores cujas qualidades nos
parecem poder ajudar a mensurar a realidade de forma mais eficiente do que o
PIB.
4.2) INDICADORES ALTERNATIVOS AO PIB
Primeiramente, abordarei indicadores que estão alinhados a temas
desenvolvidos no primeiro capítulo, dedicado a Furtado. Numa segunda
subseção, analisarei indicadores que mensurarão questões abordadas por
Chang, no segundo capítulo. E, por fim, tecerei comentários sobre os
indicadores que fazem referência aos temas discutidos por Sen, e relatados
aqui no terceiro capítulo.
4.2.1) INDICADORES DE DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL
Um dos autores que mais tratou o problema da sustentabilidade no
desenvolvimento foi Celso Furtado. Nesta subseção, introduziremos alguns
indicadores de sustentabilidade, analisando suas abrangências e limitações.
Em toda sua obra, Furtado analisa, numa perspectiva estruturalista,
tanto o desenvolvimento, quanto temas a este relacionados. Aborda
constantemente conceitos como o de dependência, subdesenvolvimento,
concentração de renda, relações assimétricas centro-periferia, mercado
interno, tecnologia e outros mais. Entretanto, é no livro
O Mito do
Desenvolvimento Econômico
que ele trata dos impactos do processo
econômico no meio físico, na natureza. De fato, é inegável que Celso Furtado
foi um dos precursores em tocar num tema completamente alheio ao núcleo do
pensamento tradicional na economia. Percebemos, a partir dos estudos de
Celso Furtado, a importância do meio ambiente, da sustentabilidade. Dentro
desta perspectiva, encontramos também diversos indicadores que se
preocupam exatamente com a questão da sustentabilidade.
Escolhi alguns indicadores que parecem relacionar-se a análise de
Furtado por terem como ponto central a questão ambiental.
Em primeiro lugar, podemos citar como exemplo o Índice de
Performance Ambiental (no original, em inglês, ‘Environmental Performance
89
Index’, ou EPI)
131
. O EPI (as Tabela 14 e 15 mostram o resultado e o ranking
do EPI para os BRICs) é entendido como um método para quantificar e
classificar numericamente o desempenho ambiental de um conjunto de países.
Trata-se de uma tentativa de avaliar os países em relação a um conjunto de 16
metas específicas de política ambiental. Para o seu cálculo o qual é feito
pelas Universidades de Yale e de Columbia computou-se, na edição de
2008, vários indicadores ambientais de 149 países.
Vale ressaltar que, o EPI pode ser considerado como uma ferramenta
poderosa para auxiliar o desenvolvimento de políticas e modificar as decisões
ambientais, pois aparentemente tem base em fundamentos analíticos sólidos.
Este índice se concentra em dois objetivos amplos de proteção ambiental, que
são, em primeiro lugar, a redução de estresses ambientais sobre a saúde
humana e, em segundo lugar, a proteção da vitalidade do ecossistema. Estes
dois objetivos espelham as prioridades expressadas pela dimensão ambiental
das Metas de Desenvolvimento do Milênio
132
, da ONU. A idéia é identificar
metas de desempenho ambiental e medir em que grau cada país está se
aproximando dessas metas. Para isso, utilizam-se os melhores dados
disponíveis, o que fornece padrões de avaliação para os atuais resultados
nacionais em controle de poluição e gerenciamento de recursos naturais. O EPI
facilita comparações entre países comparações que podem ser realizadas
tanto globalmente quanto dentro de grupos relevantes com características
semelhantes. O EPI exclui de suas pesquisas os países com dados
incompletos. Por este motivo, em 2006, 60 países ficaram de fora da avaliação.
O EPI revela que nações em todos os níveis de desenvolvimento econômico
enfrentam sérios desafios ambientais. É possível afirmar que os países
industrializados freqüentemente sofrem com poluição e ecossistemas
degradados. Já os países em desenvolvimento têm de enfrentar o desafio
adicional de lidar com estresses ambientais à saúde, como doenças
131
Environmental Performance Index - A collaboration between Yale and Columbia Universities.
Disponível em: <http://epi.yale.edu/Home
> Acessado em: outubro de 2009.
132
As oito Metas de Desenvolvimento do Milênio (MDMs) são o resultado da Cúpula do
Milênio das Nações Unidas, realizada em setembro de 2000. No evento, líderes mundiais
acordaram uma agenda ambiciosa para reduzir a pobreza e melhorar vidas. Cada uma dessas
oito Metas tem seus próprios objetivos para monitorar o progresso social, econômico e
ambiental.
90
transmissíveis pela água e poluição do ar em ambientes fechados. Os países
presentes nas primeiras colocações dedicam recursos e esforços significativos
à proteção ambiental, com bons desempenhos na maioria das categorias. A
Nova Zelândia foi a primeira colocada do ranking EPI, seguida,
respectivamente, da Suécia, da Finlândia, da República Checa e do Reino
Unido. O Brasil é o 34º no ranking, tem pontuações bastante altas em relação à
água, mas baixos indicadores em relação à biodiversidade.
Outro índice, calculado também pelas Universidades de Yale e Columbia
é o ESI (Índice de Sustentabilidade Ambiental, ou, em inglês, Environmental
Sustainability Index
133
) que classifica os países de acordo com as suas
capacidades para proteger o ambiente durante as próximas décadas. Cabe
ressaltar que o ESI (as Tabelas 16 e 17 mostram o resultado e o ranking do
ESI para os BRICs) não pode e nem deve ser entendido como uma derivação
do EPI, e sim uma nova tentativa de avaliar os países em relação a um
conjunto de 16 metas específicas de política ambiental. No entanto, vale
lembrar que o ESI possui mais indicadores básicos, sendo, por este motivo, um
indicador que pode completar o anterior. O ESI existe para cerca de 140 países
e consiste na pesagem de 21 indicadores básicos, cada um deles com duas a
oito variáveis que permitem caracterizar a sustentabilidade ambiental em
escala nacional, entre elas a qualidade do ar e da água, a biodiversidade e a
gestão dos recursos naturais. O ESI estabelece meios de comparação entre
diferentes países à partir das condições ambientais (qualidade do ar, da água,
quantidade de água, etc.), redução do estresse ambiental (redução da
poluição, menor estresse no ecossistema, etc.), redução da vulnerabilidade
humana (saneamento básico), capacitação social e institucional (governança
corporativa, ciência e tecnologia), condições econômicas globais (acordos
internacionais, cooperação em acordos ambientais, etc.).
A EF (Ecological Footprint, em português, Pegada Ecológica
134
) também
deve ser lembrada. O EF (a Tabela 18 mostra o resultado do EF para os
133
The Environmental Performance Measurement Project. Center for International Earth
Science Information Network (CIESIN) at Columbia University, and the World Economic Forum,
the project produces a periodically updated Environmental Sustainability Index (ESI). Disponível
em: <http://sedac.ciesin.columbia.edu/es/esi/ESI2005_policysummary.pdf
Acessado em:
outubro de 2009.
134
Fonte: Ecological Footprint Global Footprint Network. Disponível em:
<http://www.footprintnetwork.org/en/index.php/GFN/
> Acessado em: outubro de 2009.
91
BRICs) foi desenvolvido, em 1993, pela equipe de Mathis Wackernagel e
William Rees, da University of British Columbia. Desde a sua criação, a
metodologia da ‘Pegada Ecológica’ se sofisticou bastante. Atualmente, o
desenvolvimento deste indicador é feito pela Global Footprint Network, fundada
em 2003, junto com suas 50 organizações parceiras. A Global Footprint
Network foi fundada no intuito de estimular o surgimento de um mundo no qual
todas as pessoas tenham oportunidade de viver satisfeitas, dentro das
possibilidades da capacidade ecológica da Terra. Trata-se de uma ferramenta
de gerenciamento do uso de recursos naturais por indivíduos, cidades, nações
e pela humanidade em geral. A EF mede em que grau a humanidade está
usando os recursos da natureza com mais rapidez do que eles podem se
regenerar. Ou seja, trata-se de uma forma de mensuração de excessos
cometidos pela raça humana, e que estão degradando o Planeta. A EF mede o
grau em que as demandas ecológicas das economias humanas respeitam ou
ultrapassam a capacidade da biosfera de fornecer bens e serviços. Trata-se de
um cálculo realizado para ajudar indivíduos, organizações e governos a
estruturar políticas, definir metas e acompanhar o progresso em direção à
sustentabilidade. Do ponto de vista da sustentabilidade, se a Pegada
Ecológica Universal ultrapassa a quantidade de biocapacidade renovável, é
preciso realizar uma diminuição do capital natural, e isso é considerado
insustentável. De acordo com dados da Global Footprint, relativas aos últimos
40 anos, há uma tendência de crescimento ao longo de 25 anos, muito além da
quantidade de biocapacidade renovável. Dessa forma, a Pegada Ecológica da
humanidade parece ter rompido os limites ecológicos e é, portanto,
insustentável. Acompanhar o efeito acumulado do consumo humano de
recursos naturais e da geração de resíduos é uma das chaves para alcançar a
sustentabilidade.
Em suma, é oportuno ressaltar que estes indicadores dependem das
condições de recursos naturais de cada país para gerar um resultado mais
aproximado dos esforços ambientais, uma vez que a distribuição destes
recursos é desigual. O Japão, por exemplo, tem reduzidos recursos hídricos
em termos de água potável e precisa de energia nuclear para a sua
produção. Além disso, o meio ambiente por si não é condição
sine qua non
de desenvolvimento.
92
Nesta subseção analisei, dentro da perspectiva de Celso Furtado,
indicadores de sustentabilidade. Na próxima subseção, abordarei alguns
indicadores sob a perspectiva das instituições que promovem o crescimento, a
partir da concepção de Chang.
4.2.2) INDICADORES DE DESENVOLVIMENTO INSTITUCIONAL
Nesta subseção, trataremos de alguns indicadores cuja abordagem está
ligada aos temas debatidos no capítulo referente a Ha-Joo Chang. Em seu livro
“Chutando a Escada”, Chang deseja esclarecer a forma correta de promover o
desenvolvimento econômico em países em desenvolvimento. Chang mostra
que a cartilha dos Organismos Internacionais, como o Banco Mundial e o FMI,
está incorreta. O autor promove uma verdadeira volta ao passado, fazendo
uma revisão histórica do processo de desenvolvimento econômico e
institucional dos países hoje considerados ricos ou desenvolvidos. Com isso,
Chang consegue mostrar que as políticas atualmente prescritas por essas
instituições aos países em desenvolvimento contrariam as lições do passado.
Ou seja, o verdadeiro intento é impedir que esses países em desenvolvimento
realmente tomem a direção correta.
Chang analisa as ditas "boas políticas" e as “boas instituições”, que
constam dos discursos dos países desenvolvidos. Chang afirma que a
estabilidade monetária, equilíbrio fiscal, livre comércio, exemplos de “boas
políticas” não são garantia de desenvolvimento e prosperidade. Da mesma
forma, as tidas "boas instituições”, como o banco central autônomo, o judiciário
independente, as eleições livres e a proteção legal da propriedade, são
equivocadas.
Como se viu no capítulo dedicado exclusivamente ao autor, o mesmo faz
uma revisão da história econômica dos países desenvolvidos, com o intuito de
mostrar o que estes países fizeram na época em que estavam se
desenvolvendo. Chang constata que as políticas que hoje os países
desenvolvidos condenam foram as que eles mais usaram como o próprio
protecionismo, protegendo seus mercados internos.
Conforme discutido no segundo capítulo, o autor deixa claro que muitas
das instituições políticas e econômicas que atualmente são consideradas
93
indispensáveis para o desenvolvimento são, na verdade, conseqüência desse
desenvolvimento. Essas instituições são fruto de um processo histórico e
político, ou seja, elas são “fim” e não “meio”. Surgem como conseqüência de
uma lógica histórica, através da uma real demanda para a sua constituição.
Esse caminho de construção institucional não pode ser completamente
“pulado” pelos países em desenvolvimento copiando-se os países
desenvolvidos. É preciso perceber que existem a cultura e a tradição desses
países, e estas influem no bom funcionamento e no sucesso dessas
instituições, dessas políticas.
Vale frisar mais uma vez que, - por mais que seja redundante Chang,
no próprio título de seu livro acusa os países ricos de "chutarem a escada", ou
seja, de tirarem do alcance dos países em desenvolvimento a fórmula de seu
sucesso, por meio das pressões políticas e das prescrições econômicas
impostas a estes pelas instituições internacionais.
Sendo assim, a partir do que foi apresentado no capítulo dois e revisado
acima, podemos compreender a abordagem, desenvolvida por Chang, de um
problema inerente a toda nação que almeja maior progresso e projeção
sustentável em ambiente regional ou internacional.
A questão é que existem formas de mensurar a realidade de um país, de
forma a deixar com que esses dados fiquem claros, possibilitando uma análise
ao longo do tempo, verificando seus progressos e seus percalços, seus
avanços e seus retrocessos. Não vamos propor formas de mensurar a
atratividade de capital e investimentos para uma determinada nação como, por
exemplo, fazem as agências internacionais de risco. Nem proporemos
mensurar a eficiência da burocracia que, de acordo com o discurso liberal,
obstrui o livre desenvolvimento, a competitividade de uma nação, o grau de
valorização do dinheiro nacional perante a moeda hegemônica mundial, ou as
perspectivas de empreendedorismo, entre outras questões que fazem parte
das pautas de desenvolvimento dos economistas liberais. Podemos citar
diversos indicadores que têm sido utilizados para estabelecer comparações
entre países, como o Risco País, o Relatório Anual de Competitividade, o
Índice BigMac, o
Doing Business, entre outros. Darei conta destes indicadores
difundidos pelo
mainstream para depois introduzir aqueles que considero
verdadeiramente relativos ao desenvolvimento de uma nação.
94
O Risco País
135
(a tabela 35 traz os valores do risco país, para os
componentes do BRICs), por exemplo, trata-se de um conceito econômico e
financeiro que faz referência às chances existentes de mudanças nos negócios
de um país específico. Tais mudanças impactariam de forma negativa o valor
dos ativos dos indivíduos ou empresas estrangeiras naquele país, assim como
os lucros ou dividendos que esperam obter dos investimentos que
realizaram. Este conceito de risco-país engloba diversas categorias de risco
que podem ser associadas a um país, como aqueles referentes à seara
política, mercadológica e geográfica. O risco político em inglês,
“political risk”
se refere à possibilidade de que o governo do país, através do seu poder
soberano, tomar medidas contrárias aos investimentos realizados. Algumas
alterações realizadas no que diz respeito à regulação e a tributação podem
interferir e afetar negócios estrangeiros no país. No entanto, risco como os de
desapropriação, nacionalização, golpes de Estado, terrorismo ou guerra civil
também estão inclusos neste indicador. O risco mercadológico em inglês,
“market risk” faz referência à possibilidade de questões de mercado
influenciarem nos valores ou preços de forma a alterar os investimentos
realizados. Caso os valores dos ativos financeiros, do câmbio, dos insumos,
dos juros, entre outros, se alterarem em função das forças de mercado
exógenas ao investimento em questão, isso afetará negativamente o risco-país.
o risco geográfico se refere à possibilidade de questões geopolíticas,
climáticas e geológicas de influírem negativamente nos investimentos
estrangeiros. Desastres naturais e conflitos internacionais são bons exemplos.
São as agências de risco que analisam o risco-país associado a investimentos
em ativos financeiros, como títulos e ações. As agências produzem
classificações os famosos
ratings que indicam a segurança oferecida pelo
governo e pelas empresas de cada país aos investidores externos. O que é
necessário ressaltar é a especificidade deste indicador. É apenas uma forma
de mensurar riscos visando o investidor externo. Trata-se, pois, de um
indicador que visa informar o mercado externo das condições de estabilidade e
135
Country Risk Classifications - Organização para a Cooperação e Desenvolvimento
Económico (OCDE). Disponível em: <http://www.oecd.org/trade/xcred/crc/
> Acessado em:
dezembro de 2009.
95
rentabilidade interna e nada diz sobre o bem estar da população do país
diretamente, nem é o seu objetivo.
ainda outras formas de mensurar questões econômicas que afetam
diretamente o ‘bolso’ dos investidores. Como exemplo, podemos citar o
indicador apurado pelo Fórum Econômico Mundial
136
, chamado Relatório Anual
de Competitividade. Este combina números relativos a instituições, infra-
estrutura, macroeconomia, saúde, educação primária, superior e técnica,
eficiência do mercado, competência tecnológica, sofisticação empresarial e
inovação. Os dados referentes aos BRICs estão disponíveis nas Tabelas 19 e
20. Embora os países nórdicos despontem na frente do ranking deste
Relatório, é a Suíça que lidera a lista do Fórum Mundial. Vale ressaltar que,
dentre os 50 países mais competitivos, o Chile é o único latino-americano.
Além disso, os dez primeiros colocados, ou seja, os dez países mais
competitivos de acordo com o relatório são Suíça, EUA, Cingapura, Suécia,
Dinamarca, Finlândia, Alemanha, Japão, Canadá e Holanda.
O Índice BigMac
137
(Big Mac Index) é um outro indicador bastante
utilizado. É calculado, desde 1986, pela revista The Economist, com base no
preço do Big Mac em mais de 100 países, tendo como objetivo medir o grau de
valorização (ou desvalorização) de uma moeda em relação ao dólar americano.
Os dados para do Índice Big Mac para os últimos oito anos estão disponíveis
na Tabela 21. A pesquisa é simples, pois apenas comparam-se os preços do
sanduíche Big Mac nos Estados Unidos com o preço do mesmo hamburguer
no país no qual se pretende comparar a moeda. Este indicador é possível,
pois os procedimentos operacionais da cadeia de fastfood McDonald's são os
mesmo em todos os países em operação, inclusive a margem de contribuição
por produto.
136
O Fórum Econômico Mundial (FEM) é uma organização sem fins lucrativos baseada em
Genebra, é mais conhecido por suas reuniões anuais em Davos, Suíça nas quais reúne os
principais líderes empresariais e políticos, assim como intelectuais e jornalistas selecionados
para discutir as questões mais urgentes enfrentadas mundialmente, incluindo saúde e meio-
ambiente.
137
The Economist's Big Mac index. The Economist, Estados Unidos, Agosto 2009. Disponível
em: <http://www.economist.com/markets/bigmac/
> Acesso em: 01 set. 2009.
96
Outro indicador bastante utilizado é o calculado pelo ‘World
Competitiveness Center’
138
, do Instituto Internacional de Desenvolvimento de
Gestão (IMD), localizado na Suíça. Trata-se de um indicador destinado a medir,
pura e simplesmente, a eficiência das economias desses países. Todo ano é
editado um ‘World Competitiveness Scoreboard’ que apresenta a classificação
geral para 57 economias abrangidas pelo WCY (World Competitiveness
Yearbook), avaliadas com base em 329 critérios ao todo. As economias são
classificadas da mais para a menos competitiva, sendo que a mais competitiva
recebe nota 100 no ranking. Os dados referentes aos BRICs estão disponíveis
nas Tabelas 22 e 23. Os fatores considerados para se alcançar essa
mensuração envolvem, em linhas gerais, o desempenho econômico, a atuação
do governo, a infra-estrutura principalmente a científica e tecnológica e a
atuação empresarial no que diz respeito à produtividade, valores e práticas
de gestão.
Além deste indicador, há o “Doing Business”
139
que pode ser traduzido
como ‘Fazendo Negócios’, que é calculado pelo Banco Mundial. Este indicador
foi criado para medir as condições para o empreendedorismo. Pode ser
caracterizado como o mais pragmático de todos os indicadores. O próprio
nome traduz esta perspectiva. O Banco Mundial o constrói a partir da
compilação de dez importantes requisitos do ambiente empresarial de cada
país. São levados em conta questões como a facilidade para abrir e fechar
empresas, a dificuldade de obter crédito, as relações com sindicatos e a
burocracia que fiscaliza e tributa. Os resultados do Doing Business referentes
aos BRICs estão disponíveis na Tabela 36.
Porém, o que se pretende é analisar os indicadores que realmente irão
contribuir para uma análise do ponto de vista desenvolvimentista. Os
indicadores analisados acima como Risco País, o Relatório Anual de
Competitividade, o Índice BigMac e o
Doing Business não são capazes de
retratar o desenvolvimento institucional sustentável de uma nação. Chang
afirma como vimos no segundo capítulo que empreendedorismo e
138
IMD World Competitiveness Yearbook. International Institute for Management Development,
Suiça, mai. 2009. Disponível em: <http://www.imd.ch/research/publications/wcy/World-
Competitiveness-Yearbook-Results.cfm> Acesso em: 01 set. 2009.
139
Doing Business - The World Bank Group. Disponível em:
<http://www.doingbusiness.org/economyrankings/
> Acessado em: janeiro de 2010.
97
atratividade de capitais são conseqüências do desenvolvimento e não pré-
requisitos para este.
Por outro lado, podemos citar outros indicadores que dão conta desta
análise, como a taxa de investimento (formação bruta de capital fixo / PIB), a
renda per capita, o nível das reservas internacionais, os índices de inflação, as
taxas de desemprego, os níveis de salário, etc. Na perspectiva de Chang, são
estes os dados que fornecem as informações necessárias para uma real
análise sobre a situação do país.
A taxa de investimento ou também conhecida a formação bruta de
capital fixo (FBKF) é o registro da ampliação da capacidade produtiva futura de
uma economia por meio de investimentos correntes em ativos fixos, ou seja,
bens produzidos factíveis de utilização repetida e contínua em outros
processos produtivos por tempo superior a um ano sem, no entanto, serem
efetivamente consumidos pelos mesmos.
a renda per capita é um indicador que ajuda a calcular o grau de
desenvolvimento de um país ou região e consiste na divisão da renda nacional
(produto nacional bruto menos os gastos de depreciação do capital e impostos
indiretos) pela sua população. Em alguns casos, utiliza-se o próprio PIB para
fazer o cálculo. Embora seja um índice muito útil, por se tratar de uma média,
esconde várias disparidades na distribuição da renda. De fato, um país pode
ter uma boa renda per capita, mas um alto índice de concentração de renda,
devido a grande desigualdade social. Da mesma forma, é possível que um país
tenha uma baixa renda per capita mas não haja muita concentração de renda,
não existindo assim grande desigualdade entre ricos e pobres.
as taxas de desemprego representam o percentual de pessoas
capazes de exercer uma profissão e que procuram um emprego remunerado,
mas que, por diversas razões, não entram no mercado de trabalho. A taxa de
desemprego ou de desocupação no Brasil é determinada mensalmente pela
Pesquisa Mensal do Emprego, coordenada pelo Instituto Brasileiro de
Geografia e Estatística (IBGE). O IBGE classifica como pessoas
desempregadas ou desocupadas aquelas que não estavam trabalhando,
estavam disponíveis para trabalhar e tomaram alguma providência efetiva para
conseguir trabalho nos trinta dias anteriores à semana em que responderam à
pesquisa. Teoricamente é a parte da população econômica ativa, portanto em
98
idade adulta e em condições saudáveis para exercer alguma atividade na
sociedade, e que infelizmente por circunstâncias devidas, não está podendo
realizar sua função social
140
.
Também podem estar incluídos na taxa de desemprego aqueles que
exercem trabalhos não-remunerados. Percebe-se então que a taxa de
desemprego é o número dos trabalhadores desempregados dividido pela força
de trabalho total. Na prática, medir o número dos trabalhadores
desempregados que procuram emprego é notoriamente difícil. Há diversos
métodos diferentes para medir o número de trabalhadores desempregados.
Cada método utiliza suas próprias polarizações e sistemas diferentes para
fazer e comparar estatísticas do desemprego entre os países, em especial
aqueles com sistemas diferentes, difíceis. Porém, se cada país usa seus
próprios critérios para calcular, a comparação entre esses números será
inócua. Por esse motivo, quando possível, vale consultar dados de órgãos
oficiais que consigam mensurar diversos países, a fim de conseguir dados
confiáveis. No caso do presente trabalho, para colher dados referentes ao
desemprego, consultou-se o site LABORSTA
141
. Este site faz parte da
Organização Internacional do Trabalho (OIT), que é a agência da ONU que
reúne junto aos governos, empregadores e trabalhadores de seus Estados
membros em ação comum para promover o trabalho decente em todo o
mundo.
Nesta subseção, estabeleci uma comparação entre alguns índices de
mercado e outros indicadores que realmente permitem uma análise
desenvolvimentista da conjuntura interna do país quando feita numa série
temporal como também uma análise comparativa entre diversos países. Na
próxima subseção analisarei, a partir da perspectiva de Amartya Sen, alguns
indicadores que contemplam a questão da liberdade.
4.2.3) INDICADORES DE DESENVOLVIMENTO HUMANO
140
IBGE - Vocabulário. [online] Disponível na internet via WWW. URL:
<http://www.ibge.gov.br/7a12/voce_sabia/vocabulario/vocabulario.php?id_vocabulario=92
>.
Arquivo consultado em 15 de outubro de 2009.
141
O LABORSTA é um banco de dados da Organização Internacional do Trabalho (OIT) que
reune informações e estatísticas do trabalho de mais de 200 países ou territórios. Todas as
informações são operadas pelo Departamento de Estatística da OIT. Disponível em:
http://laborsta.ilo.org/default.html Acesso em janeiro de 2010.
99
Dentre os diversos temas debatidos por Sen em seus textos, destaquei,
no capítulo três, a discussão dos conceitos de liberdade e desenvolvimento. A
fim de encontrar uma forma de explicar e mudar a realidade, o autor aborda o
desenvolvimento e liberdade como dois fatores que estão juntos e precisam um
do outro para existir, como em uma simbiose. Enquanto o desenvolvimento,
para Sen, visaria à expansão da liberdade, a liberdade seria o meio principal do
desenvolvimento. Para Sen, a liberdade é o meio e o fim do desenvolvimento
sendo este último a remoção de vários tipos de restrições que fazem com que
as pessoas tenham pouca escolha e ínfimas oportunidades para exercerem a
sua ação racional.
Após compreender um pouco do pensamento de Sen, entende-se
melhor a concepção do IDH afinal Amartya Sem é um de seus criadores.
Preocupado com a influência da liberdade no desenvolvimento, Sen destaca,
através do IDH, a importância da educação. O IDH foi criado por Mahbub ul
Haq
142
, com a colaboração de Sen. A criação do IDH se deu a partir da idéia de
que, para aferir o avanço de uma população não se deve considerar apenas a
dimensão econômica, mas também outras características sociais, culturais e
políticas que influenciam a qualidade da vida humana ou seja, o IDH é um
contraponto ao PIB per capita. Este indicador pretende ser uma medida geral e,
ao mesmo tempo, simples, do desenvolvimento humano. Porém, é limitado,
uma vez que não abrange todos os aspectos de desenvolvimento e nem é uma
representação fiel do bem estar da população. O IDH, além de contabilizar o
PIB per capita após corrigi-lo pelo poder de compra da moeda de cada país,
que elimina as diferenças de custo de vida computa também outros dois
componentes: a educação (composto pelos indicadores Taxa de Alfabetização
de Adultos
143
, com peso de 2/3, e Taxa de Escolarização Bruta Combinada
144
,
142
Mahbub ul Haq foi um influente e renomado economista paquistanês. Haq foi um dos
desenvoltores da Teoria do Desenvolvimento Humano, junto com seu amigo de Amartya Sen -
a quem ele conheceu quando estudava em Cambridge. Junto a Amartya Sen criou o Índice de
Desenvolvimento Humano, o qual viria a ser um dos mais influentes índices, e que tem sido
usado desde 1990 pela Organização das Nações Unidas para seu relatório anual.
143
Taxa de alfabetização de adultos é a porcentagem de pessoas acima de 15 anos de idade
que são alfabetizadas, ou seja, que sabem ler e escrever pelo menos um bilhete simples. Valor
mínimo: 0% Valor máximo: 100%.
144
Taxa de escolarização bruta combinada mede o percentual de alunos matriculados nos
três níveis de ensino (fundamental, médio e superior), independentemente da idade, em
100
com peso de 1/3) e a expectativa de vida
145
. Todas essas três ‘variáveis’ têm a
mesma importância no índice, que varia de zero a um sendo zero (nenhum
desenvolvimento humano) e 1 (desenvolvimento humano total). No critério
educação, considera-se a taxa de alfabetização e a taxa de matrícula; no
critério longevidade considera-se a expectativa de vida ao nascer; e no critério
renda considera-se o PIB per capita (PIB total dividido pelo número de
habitantes do país) medido em dólares.
O IDH, proposto pelo Programa das Nações Unidas para o
Desenvolvimento (Pnud), é importante por combinar esses três indicadores de
base supracitados (a esperança de vida à nascença, o rendimento e o nível de
educação). Como se vê, o IDH é um índice composto, baseado no enfoque das
capacidades: todas as pessoas devem poder desfrutar uma vida longa e
saudável, adquirir conhecimento e ter acesso aos recursos necessários a um
padrão de vida decente. Apesar de ter sido publicado, pela primeira vez, em
1990, o índice foi recalculado para os anos anteriores, a partir de 1975. Aos
poucos, o IDH tornou-se referência mundial. Os valores do IDH referentes aos
BRICs estão nas Tabelas 11, 12 e 13.
Além do IDH, existem outros indicadores alternativos ao PIB, que foram
criados a partir da filosofia do IDH. A maioria deles é mais sofisticada,
almejando, cada vez mais, medir a realidade a partir da situação da população
e menos de uma medida quantitativa inócua, que pouco representa a
verdadeira situação – como é o caso do PIB.
Outro indicador é o Índice de Pobreza Humana (IPH)
146
que é derivado
do IDH. De forma sucinta, podemos afirmar que o IPH mede as privações no
desenvolvimento humano. Ou seja, mede as carências no desenvolvimento
humano básico em termos do percentual de pessoas cuja expectativa de vida
não atinge os 40 anos, do percentual de adultos analfabetos e do
estabelecimento de condições econômicas para um padrão de vida aceitável,
do percentual de pessoas sem acesso a serviços de saúde e água potável e do
relação ao número total de pessoas na faixa etária que oficialmente corresponde a cada um
desses níveis de ensino. Valor mínimo: 0% Valor máximo: 100%
145
A Expectativa de vida é calculada pelo número de anos que uma criança recém-nascida
viveria, se os padrões de mortalidade existentes no tempo de seu nascimento se mantivessem
os mesmos ao longo de sua vida. Valor mínimo: 25 anos Valor máximo: 85 anos.
146
Human Development Report 2009 - Overcoming Barriers: Human Mobility and Development.
Disponível em: <http://hdr.undp.org/en/statistics/data/hdi2008/
> Acessado em: novembro de
2009.
101
percentual de crianças menores de 5 anos com peso insuficiente. Assim,
enquanto o IDH mede o progresso global de um país na realização do
desenvolvimento humano, o IPH reflete a distribuição do progresso e mede o
acumulado de privações que ainda existe. O IPH é construído de duas formas:
para os países em desenvolvimento (IPH-1) e para os países industrializados
(IPH-2). Existe um índice distinto para os países industrializados porque a
privação humana varia com as condições sociais e econômicas da comunidade
e para aproveitar a maior disponibilidade de dados nesses países. O IPH-1 e o
IPH-2 consideram as mesmas dimensões do IDH em seus cálculos (vida longa
e saudável, acesso ao conhecimento e padrão de vida digno), com o acréscimo
de uma quarta dimensão no IPH-2: a exclusão social medida pela taxa de
desemprego de longo prazo. O IPH-1 mede a privação nas mesmas dimensões
básicas que o desenvolvimento humano, como o IDH. Cabe ressaltar que todos
os quatro países do BRICs estão na classificação IPH-1. Os resultados do IPH
para Brasil, Rússia, Índia e China estão na Tabela 24.
Outro bom exemplo de indicador alternativo é coeficiente de Gini
147
.
Trata-se de uma medida de concentração ou desigualdade. É comumente
utilizada para calcular a desigualdade da distribuição de renda. Foi criado pelo
matemático italiano Conrado Gini, foi publicado no documento "Veriabilità e
Mutabilità" (italiano: "variabilidade e mutabilidade"), em 1912. O Índice de Gini
aponta a diferença entre os rendimentos dos mais pobres e dos mais ricos.
Numericamente, varia de "0 a 1", onde o zero corresponde a completa
igualdade de renda – ou seja, todos têm a mesma renda – e 1 que corresponde
à completa desigualdade isto é, uma pessoa detém toda riqueza, e as
demais, nada têm. Dentre os BRICs, o mais desigual é o Brasil, sendo este o
11º. num Ranking composto por 130 países os valores correspondentes aos
demais países estão nas Tabelas 25 e 26. Em geral, o índice de Gini compara
os 20% mais pobres com os 20% mais ricos. O Índice de Gini pode ser
utilizado também na mensuração do grau de concentração de qualquer
distribuição estatística.
147
Nation Master: Massive central data source and a handy way to graphically compare nations.
Disponível em: <http://www.nationmaster.com/graph/eco_gin_ind-economy-gini-index
>.
Acessado em Novembro de 2009.
102
Porém, todos os indicadores falados acima, que tentam ser cada vez
mais fidedignos à realidade, acabam por deixar escapar um detalhe bastante
importante: o gênero. E é exatamente esta questão que o Índice de
Desenvolvimento Ajustado ao Gênero (IDG)
148
vem tentar suprir. Este índice é
calculado desde 1997, pelo Pnud e leva em conta as mesmas dimensões do
IDH, mas penaliza as desigualdades entre homens e mulheres. Sendo assim,
quanto maior a disparidade entre os sexos no desenvolvimento humano básico,
menor o IDG de um país, comparado com o seu IDH. O IDG é simplesmente o
IDH descontado ou ajustado para baixo pela desigualdade entre os sexos. Para
levar em consideração as diferenças entre homens e mulheres, o IDG leva em
consideração dimensões como a expectativa de vida ao nascer, a taxa de
alfabetização de adultos e a taxa de escolarização bruta combinada do
primário, secundário e superior e, também, o rendimento auferido estimado.
Dentre os BRICs, o país que ainda tem mais disparidades de gênero é a Índia,
como se vê nas tabelas 27 e 28.
É preciso ainda tecer comentários sobre índices que, em sua maioria,
estão incluídos nos indicadores acima, mas que, mesmo assim, devem ser
analisados individualmente, pois, através deste olhar aplicado, políticas
públicas podem ser planejadas em prol da solução destas questões. Podemos
citar como exemplo a taxa de Mortalidade Infantil, a Esperança de Vida, a Taxa
de Alfabetização e a Taxa de Desemprego.
A Taxa de Mortalidade Infantil
149
é divulgada pelo The World
Factbook
150
, da CIA. Vale ressaltar que o conceito de mortalidade infantil
consiste no óbito de crianças durante o seu primeiro ano de vida. Dessa forma,
a taxa de mortalidade infantil consiste na mortalidade infantil observada durante
um determinado período de tempo, normalmente um ano, referida ao número
de nascidos vivos do mesmo período. No intuído de comparar mais facilmente
148
Human Development Report 2002 Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento
(ou PNUD) ONU. Disponível em: <http://www.pnud.org.br/hdr/hdr2002/9-Indicadores-
ParteIII.pdf> Acessado em outubro de 2009.
149
Infant Mortality Rate - Country Comparison. CIA - Central Intelligence Agency. Disponível
em: <https://www.cia.gov/library/publications/the-world-factbook/rankorder/2091rank.html
>
Acessado em: janeiro de 2010.
150
The World Factbook é uma publicação anual da Central Intelligence Agency (CIA) dos
Estados Unidos da América com informações de base, em estilo almanaque, sobre os países
do mundo. O livro fornece um resumo de duas a três páginas da demografia, localização,
telecomunicações, governo, indústria, capacidade militar etc, de todos os países e territórios do
mundo reconhecidos diplomaticamente pelos EUA.
103
as taxas dos diversos países, esta taxa é normalmente expressa em número
de óbitos de crianças com menos de um ano, a cada mil nascidos vivos. As
taxas de Mortalidade Infantil referentes aos BRICs estão disponíveis na Tabela
37, onde se nota a Rússia com a menor taxa de mortalidade e a Índia com a
maior. A Esperança de Vida é também divulgada pelo mesmo órgão.
Considera-se como expectativa de vida o número médio de anos que um
indivíduo pode esperar viver, se submetido, desde o nascimento, às taxas de
mortalidade observadas no momento da observação. Pode ser entendido, em
resumo, como o número de anos que em média, uma pessoa terá
probabilidade de viver. Os resultados para os BRICs encontram-se na Tabela
29, onde se pode constatar que Rússia, Brasil e China têm esperanças de vida
bem parecidas (em torno de 72 anos), se comparados à Índia que aparece
com expectativa de aproximada 63 anos. A Taxa de Alfabetização, calculada
pelo PNUD, visa calcular o percentual de pessoas com capacidade de ler e
escrever numa determinada região ou país. Trata-se de um indicador que visa
contribuir para a análise das condições de vida e saúde da população,
utilizando esse indicador como reflexo da condição social. Os resultados da
taxa de alfabetização para os BRICs encontram-se na Tabela 30, onde
podemos observar que a Índia tem quase 40% de sua população analfabeta,
enquanto a Rússia tem menos de 1%.
Além de todos os indicadores expostos acima, podemos citar também o
produzido pela Réseau d’Alerte sur les Inegalités et de la Pauvreté, chamado
de BIP 40 Baromêtre dês Inegalités et de La Pauvreté (em português, Rede
de Alerta sobre Desigualdade e Pobreza). Trata-se de um Indicador sintético
das desigualdades e da pobreza. Divulgado em 2002, abrange várias
dimensões das desigualdades e da pobreza, visando construir, para cada
dimensão, um indicador (ele próprio produto de diversos indicadores) que
permita acompanhar a evolução no tempo das desigualdades correspondentes
e, por fim, somar esses indicadores por dimensões, gerando um índice
global. São, ao todo, seis dimensões, que somam 58 indicadores. Estas seis
dimensões são: emprego e trabalho; renda; saúde; educação; moradia; e
justiça. Para se construir este indicador, são necessárias duas etapas.
Primeiramente, é preciso dar uma nota, compreendida entre o intervalo 0-10,
para cada indicador. Ao valor mais baixo observado sobre o período é atribuída
104
nota 0, e, obviamente, nota 10 é atribuída ao valor mais elevado. Conclui-se
então que um aumento do índice significará um agravamento da desigualdade
ou da pobreza. Só depois se inicia a segunda etapa, que consiste em agregar
aos índices uma ponderação diferente entre as seis dimensões. O BIP 40
atribui maior importância aos índices renda e emprego, que têm um peso de
um quarto cada um, enquanto os outros índices representam, cada um, um
oitavo. Depois, calcula-se a soma ponderada desses indicadores citados,
compondo um índice que traduz a tendência observada, ano após ano, na
evolução das desigualdades e da pobreza. Como se percebe, é possível
calcular um BIP 40 próprio, particular, trocando apenas a ponderação que é
dada a cada critério.
Nesta subseção analisei, sob a perspectiva de Amartya Sen, alguns
indicadores de desenvolvimento que envolvem seu conceito de liberdade.
Afinal, para o autor, desenvolvimento com a remoção de vários tipos de
restrições que fazem com que as pessoas tenham pouca escolha e ínfimas
oportunidades para. Donde se conclui que, para Sen, desenvolvimento
com a remoção das barreiras à liberdade.
Na próxima seção, abordarei indicadores mais amplos de
desenvolvimento preocupados com as mais diversas áreas da vida humana,
inclusive a felicidade - além de sugerir uma nova forma de mensurar o
verdadeiro progresso de uma nação.
4.2.4) INDICADORES DE FELICIDADE E PROGRESSO
Nesta sessão, abordarei alguns indicadores de desenvolvimento
sustentável que já existem e que dentro de minha pesquisa, considerei
abrangentes e relevantes – e também um sugerido por mim dentro desta
perspectiva. Após analisar indicadores relevantes para cada um dos autores
estudados durante o trabalho, pude observar que, a maioria deles tinha um
foco apenas, não sendo realmente abrangentes. Ao se especializarem em
captar apenas um nicho, perde-se a idéia do ambiente complexo e interativo
que compõe a vida.
105
Contrario senso, cito o Genuine Progress Indicator
151
, o GPI (em
português, Índice de Mensuração do Progresso de Nações) calculado pela
Redefining Progress, que é uma organização de políticas públicas sem fins
lucrativos, que foi fundada em 1994.
Este indicador, ao considerar os parâmetros de bem-estar e meio
ambiente, tem como objetivo assim como tantos outros supracitados
substituir o Produto Interno Bruto. Afinal, o GPI é uma forma de medir o
crescimento econômico de um país atrelado ao aumento do bem-estar de seus
habitantes. O índice propõe uma comparação com o PIB, buscando mostrar em
que medida o crescimento econômico tradicional está comprometendo o futuro
da vida no planeta. Ou seja, trata-se de um índice preocupado em mensurar a
consciência da sustentabilidade. Utiliza, para isso, a mesma metodologia de
cálculo do PIB, mas, diferentemente deste, subtrai custos decorrentes de
fatores como criminalidade, poluição, degradação ambiental e
comprometimento dos recursos e sistemas naturais, como fornecimento de
água, por exemplo. Além disso, acresce ao cálculo itens como trabalho
doméstico e voluntário.
A fim de possibilitar comparações entre as nações e também entre os
próprios índices, entre si ambos, PIB e GPI, são mensurados em termos
monetários. Com o intuito de retratar o progresso econômico de modo mais
real e acurado, o índice é atualizado anualmente.
A organização Redefining Progress, a fim de explicar a lógica do GPI de
forma mais didática, como exemplo o uso do petróleo para produção de
energia. Seu consumo crescente faz aumentar o PIB, porém, reduz o GPI.
Afinal, para o calculo do GPI, leva-se em conta o fato de que, além de não ser
renovável, o petróleo polui o ambiente e gera problemas de saúde, entre outros
fatores negativos ao bem-estar.
Além do GPI, outros indicadores têm chamado minha atenção,
principalmente, por tentarem captar algo que os outros não visam. Afinal, a
partir dos índices vistos acima, constata-se a possibilidade de mensuração dos
mais diversos quesitos. Questões financeiras, ambientais, institucionais, etc. E
151
Redefining Progress - Genuine Progress Indicator (GPI). Disponível em:
<http://www.rprogress.org/sustainability_indicators/genuine_progress_indicator.htm
> Acessado
em: janeiro de 2010.
106
quando o quesito em questão é permeado de subjetividade. Como medir a
felicidade de uma pessoa? Parto do princípio de que a felicidade não pode ser
medida por um índice de desenvolvimento econômico pois ser feliz não é,
simplesmente, ter dinheiro – nem de desenvolvimento humano – pois, da
mesma forma, ser feliz não é apenas ter acesso a educação.
Por mais difícil que seja medir a felicidade, talvez seja possível afirmar
que não haja nada mais importante do que ser feliz. Busca-se o
desenvolvimento econômico, em última análise, para proporcionar às pessoas
uma vida mais digna, mais abundante, enfim, mais feliz. Da mesma forma,
busca-se preservar o mundo para as próximas gerações para que estas
também sejam felizes, tendo acesso a uma biodiversidade preservada e a um
planeta bem cuidado. Busca-se a democracia, a liberdade de expressão e os
direitos humanos para garantir que as pessoas consigam se expressar e fazer
suas próprias escolhas, além de assegurar a todas elas o poder de exercer
esses direitos. E tudo isso para que estas conquistem a felicidade.
Sendo assim, a pergunta permanece: como medir a felicidade? Partindo
da idéia exposta acima de que a felicidade seria o primordial diversas
instituições têm buscado medir, ou pelo menos identificar, onde existe
felicidade. Afinal, a ligação entre os outros indicadores de desenvolvimento e a
felicidade é a fundamental para traçar qualquer tipo de perspectiva para o
futuro, uma vez que um índice baseado na felicidade pode contribuir para que
os Estados desenhem políticas públicas e avaliem suas gestões. A felicidade
das pessoas deve ser o objetivo principal de qualquer governo.
A discussão sobre a mensuração da felicidade teve início na década de
1970. O Rei do Butão, Jigme Singye Wangchuck, vinha sofrendo graves
críticas no que dizia respeito ao crescimento de seu país. A crítica, no entanto,
por mais pertinente que fosse, não estava coberta de razão. De fato, o
compromisso de Wangchuck era o de construir uma economia adaptada à
cultura do país, baseada nos valores espirituais budistas. Não havia interesse
em limitar o desenvolvimento do país a questões econômicas. A felicidade para
o Rei era o mais importante.
107
Felicidade Interna Bruta (FIB)
152
originalmente Gross National
Happiness (GNH) é um indicador sistêmico desenvolvido no Butão, um
pequeno país do Himalaia. O conceito nasceu em 1972. Desde então, o reino
de Butão, com o apoio do PNUD (Programa das Nações Unidas para o
Desenvolvimento), começou a colocar esse conceito em prática, e atraiu a
atenção do resto do mundo com sua nova fórmula para medir o progresso de
uma comunidade ou nação. Assim, o cálculo da “riqueza” deve considerar
outros aspectos além do desenvolvimento econômico, como a conservação do
meio ambiente e a qualidade da vida das pessoas.
Felicidade é levada a sério no país - único do mundo a ter a Felicidade
Interna Bruta como política pública. Ao Estado cabe prover as condições
necessárias para que a população possa se concentrar na busca da felicidade,
por meio dos ensinamentos do budismo.
E que lição tiramos disso? Bem, a de que realmente precisamos
valorizar a felicidade. Ela é muito mais do que um estado de espírito ou um
valor budista. Tanto que existem mais de cinco indicadores
153
além do FIB
almejando captar e calcular a felicidade. Citaremos os principais.
Assim como diversos outros valores morais, o conceito de Felicidade
Interna Bruta (FIB) é mais facilmente entendido a partir de comparações e
exemplos do que definido especificamente. Enquanto os modelos tradicionais
de desenvolvimento têm como objetivo primordial o crescimento econômico, o
conceito de FIB baseia-se no princípio de que o verdadeiro desenvolvimento de
uma sociedade humana surge quando o desenvolvimento espiritual e o
desenvolvimento material são simultâneos, assim se complementando e
reforçando.
São nove os indicadores que compõem a FIB: bom padrão de vida
econômica, boa governança, educação de qualidade, boa saúde, vitalidade
comunitária, proteção e conservação ambiental, acesso à cultura, gestão
equilibrada de tempo e bem-estar psicológico. A renda não é buscada pelo seu
bem em si, mas para aumentar a qualidade de vida, para obter a felicidade
152
The Centre for Bhutan Studies - Gross National Happiness (GNH). Disponível em:
<http://grossnationalhappiness.com
> Acessado em: janeiro de 2010.
153
Além do Índice Felicidade Interna Bruta (FIB), teremos, por exemplo, Happy Planet Index,
Happy Planet Index (HPI), Index of sustainable economic welfare (ISEW), Living Planet Index,
Quality-of-life Index, Life Quality Index, Legatum Prosperity Index, Satisfaction with Life Index,
entre outros.
108
baseada na ética, em cultivar relacionamentos entre a diversidade populacional
e com a natureza.
Hoje a humanidade consome 30% a mais do que a capacidade de
renovação da Terra, o que inviabiliza a sustentabilidade do planeta. Entretanto,
mesmo com tamanha devastação dos recursos naturais, os conflitos entre as
nações se multiplicam e a insatisfação da humanidade é cada vez mais
evidente. Provavelmente, se os custos ambientais na produção de bens forem
levados em conta, a prosperidade individual aumentará, assim como o bem
estar e a felicidade, mesmo que haja diminuição do capital social individual e
coletivo.
Ladislau Dowbor
154
, professor da PUC-SP e consultor das Nações
Unidas em gestão econômica descentralizada, enfatizou a viabilidade da FIB:
O medo do desemprego não nos permite enxergar a depredação
de bens e da dignidade humana causadas, principalmente, pelas
negociações desiguais entre as partes. Os indicadores da FIB
têm esse alcance. O PIB mundial é US$ 55 trilhões por ano. Se
a distribuição de renda fosse igualitária entre todos os
habitantes, cada família de quatro pessoas poderia ter uma
remuneração mensal de R$ 5.000. Estaremos mais perto das
soluções dos problemas quando todos nos questionarmos sobre
o que produzimos, para quem produzimos e, principalmente, a
que custo produzimos
155
.
Além do FIB, devemos tratar do Happy Planet Index
156
(HPI, que pode
ser traduzido como Índice de Felicidade Planetária). Trata-se de um índice de
bem-estar humano e ambiental, desenvolvido pela New Economics Foundation
154
Ladislau Dowbor, formado em economia política pela Universidade de Lausanne, Suiça;
Doutor em Ciências Econômicas pela Escola Central de Planejamento e Estatística de
Varsóvia, Polônia (1976). Atualmente é professor titular no departamento de pós-graduação da
Pontifícia Universidade Católica de São Paulo, nas áreas de economia e administração.
Continua com o trabalho de consultoria para diversas agencias das Nações Unidas, governos e
municípios, bem como do Senac. Atua como Conselheiro na Fundação Abrinq, Instituto Polis e
outras instituições.
155
Felicidade Interna Bruta (FIB) - Iniciativas inspiradoras mostram caminhos para um futuro
mais humano. Acesso em setembro de 2009. Disponível em:
<www.dhnet.org.br/direitos/indicadores/.../felicidade_interna_bruta_fib.pdf
> Acesso em: dez.
2009.
156
New Economics Foundation (NEF) The Happy Planet Index 2.0. Disponível em:
<http://www.happyplanetindex.org/explore/historical.html
> Acessado em janeiro 2010.
109
(NEF)
157
, em Julho de 2006. O que motivou a criação do HPI foi a
possibilidade de criar um índice que fizesse frente aos bem estabelecidos
índices de desenvolvimento dos países, como o Produto Interno Bruto (PIB) e
o Índice de Desenvolvimento Humano (IDH) – que, no entanto, são vistos como
indicadores incompletos pois não levam em conta a sustentabilidade. Em
particular, o PIB é visto como inadequado se considerarmos que o objetivo final
das pessoas não é ser rico, mas sim feliz e saudável. Dentro da idéia que
constituiu o HPI, o desenvolvimento exige uma medida dos custos ambientais
de perseguir essas metas.
O HPI pretende ser o primeiro índice a combinar impacto ambiental e
bem estar, a fim de medir, país por país, a eficiência ambiental com a qual as
pessoas vivem vidas longas e felizes. Ou seja, o Happy Planet Index não
pretende ser uma tentativa de quantificar quais os países mais felizes do
mundo. É uma forma de medir a eficiência com que uma nação converte os
seus recursos naturais em vidas longas e felizes para os seus cidadãos.
Para tanto, o HPI incorpora três indicadores separados: a Pegada
Ecológica (Ecological Footprint), a satisfação com a vida e a expectativa de
vida. HPI é calculado pela multiplicação da expectativa de vida pelo nível de
satisfação com a vida. Esse resultado é dividido pelo impacto ambiental de
cada país, fator que inclui as emissões de gás carbônico.
No ranking produzido pelo HPI, os países da América Central
responderam por nove das dez primeiras posições dos países mais felizes. As
economias africanas, entre as quais a Suazilândia e a Guiné Equatorial,
formam o grupo dos dez últimos, segundo o índice. A Tabela 31 traz os valores
do HPI referentes aos BRICs, sendo o do Brasil o índice mais alto. Além disso,
com base nessas descobertas, a NEF propõe um manifesto global por um
planeta mais feliz. A NEF aponta as políticas e áreas nas quais os países com
baixa expectativa de vida, pouca satisfação com a vida ou alta pontuação na
157
A New Economics Foundation (NEF) é uma instituição think tank (expressão
inglesa que significa "depósito de idéias")
instituição que investiga e produz
conhecimento e oferece idéias sobre assuntos relacionados a economia e o bem
estar. Foi fundada em 1986 pelos líderes do The Other Economic Summit (o TOES foi
um organismo que forçava a inclusão de questões como o endividamento internacional
nas agendas de discussão do G-7 e do G-8, grupo de países mais ricos do mundo),
com o objetivo de trabalhar para um "novo modelo de criação de riqueza, baseada na
igualdade, na diversidade e na estabilidade econômica".
110
pegada ecológica devem se concentrar, de modo que todos possam viver
dentro dos limites ambientais da Terra e ampliar o bem-estar para todos.
Além do FIB e do HPI, podemos destacar também o ranking promovido
pela revista de economia Forbes
158
, denominado “The most happy city of the
world"
159
– em português, “A cidade mais feliz do mundo”
160
com dez capitais
de todo o mundo, na tentativa de averiguar em qual delas as pessoas seriam,
de fato, mais felizes. Para chegar a esse resultado a pesquisa realizou
entrevistas. Foram, ao todo, computados os ‘votos’ de dez mil pessoas de 20
países, as quais participaram da pesquisa de mercado, realizada pelo GfK
Custom Research
161
North America e pelo consultor Simon Anholt
162
.
Liderando a lista está a cidade brasileira Rio de Janeiro. Em segundo
lugar ficou a capital australiana, Sydney, seguida de Barcelona, na Espanha.
Em quarto ficou a cargo de Amsterdã, na Holanda. Anholt afirmou que uma
pesquisa de percepção, não da realidade", disse o consultor à revista norte-
americana. A relação completa com todos os países participantes está na
Tabela 32.
Além dos indicadores acima, também outros sobre os quais cabe
mencionar.
O Satisfaction With Life Index (ou, em português, Índice de Satisfação
com a Vida) foi criado por Adrian G. White
163
, Psicólogo da Universidade de
158
Forbes é uma revista de economia, finanças e negócios norte-americana, fundada em 1917
por B. C. Forbes. Seus principais concorrentes a nível nacional são a Fortune, que, assim
como a Forbes, é publicada duas vezes por semana, e a BusinessWeek. A revista é mais
conhecida por suas listas, como a das personalidades e empresas mais ricas do mundo.
159
GREENBURG, Zack O'Malley. The World's Happiest Cities: Ten urban centers closely
associated with unmitigated joy. Acesso em setembro de 2009. Disponível em:
<http://www.forbes.com/2009/09/02/worlds-happiest-cities-lifestyle-cities.html
> Acesso em:
jan.2010.
160
GREENBURG, Zack O'Malley. The World's Happiest Cities: Ten urban centers closely
associated with unmitigated joy
. Disponível em: <http://www.forbes.com/2009/09/02/worlds-
happiest-cities-lifestyle-cities.html> Acesso em: jan.2010.
161
A GfK Custom Research, estabelecida em 1934, é o maior instituto de pesquisa de
mercado. Foi fundado por uma associação de professores universitários. O instituto, com sede
na Alemanha, tem expandido para outros países e em todos os domínios de pesquisa de
marketing.
162
Simon Anholt é um conselheiro do governo britânico especializado nas questões políticas e
no conceito que ele mesmo cunhou, o "nation branding" - em português seria o equivalente a
"marca da nação". Anholt assessorou vários governos e edita a revista Place Branding e Public
Diplomacy. Ele é um membro do governo britânico e aconselha uma série de outros governos
em suas estratégias de marca, vários deles países em desenvolvimento, em colaboração com
as Nações Unidas.
163
Adrian White é psicólogo da Universidade de Leicester e é responsável pela primeira
projeção global das diferenças internacionais no que diz respeito ao bem-estar subjetivo,
111
Leicester. Trata-se de uma tentativa de mensurar a satisfação com a vida da
população em diferentes nações. Para o cálculo deste índice, acredita-se que o
bem-estar subjetivo se correlaciona fortemente com a saúde, a riqueza e com o
acesso à educação básica. No entanto, a forma utilizada para mensurar a
felicidade é que se difere da maioria dos índices existentes. Este é mais um
exemplo de mensuração direta da felicidade. Assim como no caso da pesquisa
da Revista Forbes, o Satisfaction With Life Index é calculado a partir de
perguntas aos participantes, relacionadas com a felicidade e satisfação com a
vida. A análise é baseada nos resultados de mais de 100 estudos diferentes ao
redor do mundo, que interrogou 80.000 pessoas ao todo. Para isso os dados
do estudo também foram analisados em relação à saúde, riqueza e do acesso
à educação. A Tabela 33 traz os dados do Satisfaction With Life Index para o
BRICs, onde se observa Brasil e China empatados na liderança, seguidos de
índia e Rússia.
Diversos outros indicadores de felicidade poderiam ser citados como
Legatum Properity Index, Index of Sustainable Economic Welfare, Living Planet
Index, Quality-of-Life Index, Life Quality Index porém, nos concentramos nos
mais antigos e também naqueles que têm repercutido mais na mídia.
4.3 UMA PROPOSTA DE INDICADOR PARA O FUTURO
Como foi visto em todo o trabalho e principalmente no presente capítulo,
existem diversos tipos de indicadores para mensurar o desenvolvimento. Cada
um deles é constituído por um conjunto de fatores ou componentes que são
escolhidos de modo a pôr em evidência o que cada autor considera como o
foco relevante do conceito de desenvolvimento. Assim alguns enfatizam a
sustentabilidade, outros a industrialização, e mais recentemente ainda outros a
construindo assim o primeiro World Map of Happiness Mapa Mundi da Felicidade, em
português. Este mapa está disponível em:
<http://weber.ucsd.edu/~aronatas/F&S%20Lecture%2013%20Happiness.pdf
>. Acessado em
jan. 2010.
112
liberdade e a felicidade. A apresentação dos vários indicadores foi feita
anteriormente neste trabalho buscando correlacioná-los com os conceitos que
sustentam as idéias fundamentais dos autores apresentados Furtado, Chang
e Sen.
Por último, gostaria de apresentar um possível modelo de mensuração
de desenvolvimento que adiciona aos componentes mais conhecidos outros
fatores que, embora inequivocamente importantes, são freqüentemente
ignorados na maioria dos trabalhos que se propõem a medir o estágio de
desenvolvimento de uma sociedade. Este modelo tem como base o estudo
acima apresentado – que analisou tipos diversos de indicadores e a proposta
apresentada pelo prof.Luiz Bevilacqua
164
no âmbito do projeto GEOMA do
MCT.
Sendo o modelo bastante complexo, não cabe dentro desta tese um
tratamento pormenorizado incluindo uma formulação quantitativa consistente
uma vez que tanto as bases conceituais precisam ser mais elaboradas como
também a definição dos dados mais relevantes com as respectivas
metodologias de prospecção. Analisarei, no entanto, a base conceitual que
sustenta o modelo, ou seja, uma forma a partir da qual podemos pensar o
desenvolvimento.
Se considerarmos que a diferença entre o homem e os animais está na
possibilidade do exercício de suas potencialidades, poderemos inferir que, para
apenas sobreviver o homem precisaria não mais do que respiração, habitação
e alimentação. É explorando outras atividades que o homem se dignifica, se
liberta, se torna um cidadão, um político, um comunicador e, em última
instância, um ser sentimental. As manifestações de vida que propomos estão
apresentadas resumidamente na tabela A abaixo. É uma proposta de
classificação de atividades selecionadas dos seres vivos que habitam o nosso
planeta e as respectivas ocorrências nas diversas espécies. Assim estamos
dizendo que alimentar e reproduzir são atividades presentes em todas as
espécies enquanto que contemplar é próprio apenas à espécie humana. A
164
Luiz Bevilacqua é engenheiro, doutor em Mecânica Teórica e Aplicada pela
Stanford University. Atualmente é coordenador do núcleo de cognição e sistemas da
Fundação Universidade Federal do ABC.
113
espécie humana foi tomada como referência e é a única capaz de exercer
todas as 10 atividades.
TABELA 38
Cada uma dessas atividades deve ser interpretada de uma maneira
abrangente. Reproduzir por exemplo inclui cuidado com a vida, preservar a
vida, o que supõe as reações espontâneas ou deliberadas que um elemento de
uma espécie ou um grupo social toma quando ameaçado. No caso da espécie
humana significa cuidados médicos, saúde pública e coisas semelhantes.
Solidarizar-se inclui trabalho conjunto e organizado que algumas espécies de
insetos, por exemplo, adota para otimizar suas condições de vida ou lutar pela
ocupação de espaço. Recreação inclui repouso, ou estado propício a
recuperação de energia. Certamente será necessária uma revisão detalhada
desses itens, da ordenação segundo a intersecção das ocorrências nas
diversas espécies e a descrição do significado de cada uma das ações.
Posso, desde já, salientar que a principal crítica estará centrada na
grande dificuldade de se obter dados pois, muitos dos itens propostos não
são mensurados em diversos países, o que inviabilizaria a comparação entre
eles e na dificuldade de ponderação ou seja, como determinar o que será
mais ou menos importante para a sociedade, de forma a atribuir pesos diversos
às variáveis escolhidas.
Além disso, dependendo do ponto de vista adotado, as questões
apontadas podem ser entendidas como positivas ou negativas. Por exemplo,
114
se abordamos a questão bélica – associada á conceito de conquista –, o
armamento tanto pode ser visto como necessário para garantir a segurança
dos cidadãos, como também poderá ser entendido como se o país estivesse
mais propenso a conflitos – e também gastando receitas com armas e não com
outras atividades mais importantes. Outro exemplo seria no caso da
potencialidade “conquistar”, que pode também ser interpretada negativamente
ou positivamente no caso de mercados para a venda de mercadorias ou
ainda de territórios.
No entanto, mesmo com tais críticas e muitas outras possíveis o
trabalho, a meu ver, tem pertinência. Diversas variáveis propostas na tabela
possuem indicadores o que pouparia trabalho e, através da união dos
mesmos, enriquecê-lo-ia. Não se trata, porém, de somar o resultado dos
indicadores, mas sim de uma tentativa de unir diversos resultados nas mais
variadas áreas em busca de um entendimento mais completo do
desenvolvimento.
A Tabela abaixo leva em conta essas considerações. De cima para
baixo a Tabela enuncia, na coluna da esquerda, as potencialidades do homem.
Na coluna da direita, colocamos as questões envolvidas e então, propomos
índices existentes que mensurem cada um desses itens. De fato, o modelo
aqui proposto é, por enquanto uma vez que ainda não estou sugerindo uma
formulação quantitativa, apenas uma reflexão uma compilação de índices
atualmente calculados.
TABELA 39
POTENCIALIDADES
QUESTÕES / ÍNDICES
Alimentar % População abaixo da Linha de Pobreza
Expectativa de Vida
Mortalidade Infantil
Habitar Existência de Políticas Governamentais de Crédito à
Habitação (vide “Minha Casa, Minha Vida”)
Moradia fora de zonas de risco (regiões de conflito,
possíveis desabamentos, enchentes, etc.)
Purificar / Sanear Acesso à Água Potável
Acesso à Saneamento Básico / Tratamento de esgoto
na região
Acesso à Energia Elétrica
Acesso às Rodovias Pavimentadas (meios dignos de
115
transporte)
Reproduzir Acesso à Hospitais / Médicos
Acesso à Creche / Escolas
Comunicar Liberdade de Culto Religioso
Inexistência da Censura
Refletir Taxa de Analfabetismo (IDH)
Nível de Instrução
Democracia e Cidadania
Conquistar Instituições governamentais visando implantação e
desenvolvimento industrial interno (subsídios,
protecionismo, quotas de importação, etc. ). Formação
Bruta de Capital Fixo.
Índices de Concorrência
Saldo em Conta Corrente (Balança Comercial)
% do PIB gasto em Material Bélico (gerando queda no
ranking do modelo proposto)
Recrear/Repousar Existência e Eficiência de Legislação Trabalhistas
% do Salário Gasto em Lazer
Solidarizar Número de Ações Sociais promovidas pelo Governo
Número de Ações Sociais promovidas por ONGs
Contemplar / Amar Índices de Felicidade
Para exemplificar a estrutura do modelo que estamos propondo vamos
considerar um caso ideal em que serão considerados apenas cinco grandes
atividades que agregam varias outras. Suponha por exemplo que se adote o
seguinte critério de agregação:
Atividade A: Habitar,alimentar,repousar
Atividade B: Reproduzir, sanear
Atividade C: Conquistar,solidarizar
Atividade D: Refletir, educar
Atividade E: contemplar, amar
Como já foi dito antes algumas dessas atividades podem ser tanto
positivas como negativas portanto este julgamento de valor pode ser feito
através da ponderação de cada uma delas no conjunto de todas as principais
atividades que definem o estado civilizatório de um povo. A proposta vai além
do conceito de desenvolvimento, abrangendo o estágio de civilização no qual
se insere uma determinada sociedade. Considere portanto dois tipos de
parâmetros:
116
W
1
: que indica o valor relativo de cada atividade em relação às outras.
Por exemplo se educar é prioridade em relação a habitação então W
1
para
educação vale digamos 8 e W
1
para habitação seria igual a 5.
W
2
: que indica a qualidade de atendimento. Para certas atividades como
conquistar o indicador de qualidade pode ser positivo ou negativo como
referido.
Supunha dois países ou regiões com os perfis conforme indicado na
tabela abaixo:
TABELA 40
ATIVIDADE PAÍS 1 PAÍS 2
W
1
W
2
W
1
XW
2
W
1
W
2
W
1
XW
2
HABITAÇÃO 5 8 40 5 6 30
SAÚDE 5 8 40 5 6 30
CONQUISTA 10 –9 –90 3 3 9
EDUCAÇÃO 6 8 48 8 8 64
AMAR 5 4 20 10 9 90
58 223
O país 1 é um país bem adiantado do ponto de vista de atendimento de
habitação, saúde e educação, mas violento com objetivos claros de dominação
sobre outras sociedades, o que aliás faz com competência. Esta atividade tem
peso negativo do ponto de vista civilizatório o que faz seu índice de civilização,
58 ser muito inferior ao país 2 que valoriza mais o amor, a solidariedade com
outras sociedades o que o coloca em uma posição muito superior com um
índice 223.
Este é apenas um exemplo para ilustrar o quadro geral em que se insere
a proposta de montar um indicador que além de puras conquistas e ganhos
materiais. Considera homens e mulheres nas suas totais potencialidades.
Ao longo deste capítulo, analisei diferentes indicadores de
desenvolvimento, seus fundamentos e fiz uma crítica às limitações de alguns
que não possuíam, no meu entender, a capacidade de integração exigida pelo
conceito de sustentabilidade. Ao final do capítulo, apresentei algumas
propostas de indicadores e um modelo onde procurei integrar o máximo
117
possível das dimensões de uma existência em condições de sustentabilidade e
felicidade.
CONCLUSÃO
No presente trabalho busquei examinar o conceito de desenvolvimento
econômico e discutir alguns indicadores de desenvolvimento sustentável para
os BRICs. Tal análise foi feita a partir da obra de três autores. Celso Furtado,
Ha-Joon Chang e Amartya Sen tornaram-se verdadeiros pilares que
possibilitaram a análise realizada. Extraí de cada um uma perspectiva diversa
para compreender o desenvolvimento de forma mais plural e abrangente, pois
assim entendo tal conceito. Dediquei, a cada um desses autores, um capítulo
deste trabalho, para assim expor e discutir suas idéias.
Um dos autores estudados foi Celso Furtado. Em seu livro “O Mito do
Desenvolvimento Econômico”, Furtado oferece uma análise do fenômeno do
progresso que não se detém aos seus aspectos econômicos, abrangendo
também os sociais, culturais e políticos. Sua visão é interdisciplinar. Nesta
obra, Furtado aborda duas questões pioneiras no que tange o desenvolvimento
de uma nação. Uma delas diz respeito aos impactos do processo econômico
no meio físico, na natureza. Não como negar que tratava-se de uma
perspectiva vanguardista à época. De fato, a noção contemporânea de
desenvolvimento sustentável comprova a coerência e a relevância do
pensamento de Furtado. Afinal, não é qualquer taxa de crescimento da
economia que pode ser perseguida, uma vez que é preciso avaliar antes se o
que se pretende é ou não ecologicamente sustentável. A segunda se refere à
constatação do caráter de mito moderno do desenvolvimento econômico. Para
Furtado, o processo de acumulação amplia as disparidades entre o centro e as
economias periféricas e nessas periferias, um agravamento das
desigualdades nas formas de vida de uma minoria privilegiada frente à grande
massa da população.
118
Outro autor estudado foi Ha-Joon Chang. Em sua obra “Chutando a
Escada”, Chang faz uma análise histórica e institucional detalhada, mostrando
que as políticas neoliberais que o consenso teria sistematizado não
necessariamente contribuem para o desenvolvimento econômico de um país.
Para este autor, violar quase todas as prescrições neoliberais pode ser o
caminho mais seguro para garantir o desenvolvimento. Chang usa a história
para comprovar seus argumentos, ao afirmar que tanto os EUA como a
Inglaterra, quando ainda estavam se desenvolvendo, não implementaram
nenhuma das políticas de livre comércio que agora preconizam. Muito pelo
contrário. Faziam uso de políticas protecionistas. Por esse motivo, Chang
critica a perspectiva de que existe um conjunto de instituições fundamentais -
como o Banco Mundial, o Fundo Monetário Internacional ou a Organização
Mundial do Comércio imprescindíveis ao desenvolvimento. São, na verdade,
instituições controladas pelos países mais ricos, que pretendem impor aos
países menos desenvolvidos soluções que, na verdade, os seus governos
devem evitar.
Também abordei as idéias do economista Amartya Sen que, em seu
livro “Desenvolvimento como Liberdade”, apresenta uma discussão sobre
desenvolvimento que transcende a idéia de que desenvolvimento é sinônimo
de crescimento ou seja, elevação do PIB , aumento das rendas pessoais,
industrialização, avanço tecnológico ou modernização social. Em uma
abordagem diferenciada, Sen atribui à liberdade papéis fundamentais, sendo
esta, ao mesmo tempo, o fim primordial e o principal meio do desenvolvimento.
Para Sen, a liberdade teria, dessa forma, dois papéis no desenvolvimento. O
papel constitutivo refere-se às liberdades substantivas, que incluem
capacidades elementares como ter condições de evitar privações, ter
participação política e liberdade de expressão. Já o papel instrumental diz
respeito à liberdade global que as pessoas têm de viver do modo como
desejarem.
A partir desse estudo acima relatado, visei analisar alguns dos
indicadores mais importantes dentro do conjunto daqueles que se propõem a
mensurar o desenvolvimento de uma nação. Em um capítulo específico, tentei
relacionar as idéias de cada um dos autores estudados anteriormente com os
mais variados indicadores de desenvolvimento existentes. Percebeu-se, porém,
119
que, por mais importante que cada análise fosse, a grande maioria estava, de
alguma forma, incompleta. Ou abordava profundamente um assunto e
negligenciava outros, ou simplesmente acabava por limitar o conceito de
desenvolvimento igualando-o a crescimento econômico construindo, assim,
uma análise incompleta.
Observou-se também que diversos estudos vêm sendo direcionados a
entender o desenvolvimento como uma questão ligada à felicidade. Além de
mensurar quesitos financeiros, ambientais, institucionais, um indicador que vise
constatar o verdadeiro desenvolvimento de um povo precisa mensurar a
felicidade dos cidadãos. Sem dúvida, trata-se de uma questão permeada de
subjetividade. Porém, parto do princípio de que a felicidade não pode ser
medida por um índice de desenvolvimento econômico nem de desenvolvimento
humano pois, afinal ser feliz não é apenas ter dinheiro nem se resume a ter
acesso a educação e à saúde, por exemplo. Por este motivo, dediquei parte do
trabalho à análise dos principais índices que se propõe a mensurar o nível de
felicidade dos países, a fim de entender como é possível dar contornos
científicos a um tema tão subjetivo.
Propus também um possível novo caminho para se compreender o
desenvolvimento de um país, a partir da combinação de alguns dos índices
estudados. A idéia construída pretende agregar o maior número de informação
relevante possível sobre um determinado Estado, para conseguir, dessa forma,
estabelecer uma análise realmente completa e abrangente do mesmo. Nesta
proposta, incorporei indicadores das mais diversas naturezas para compor
assim um indicador plural, que fornecesse elementos das mais diversas
naturezas (meio-ambiente, institucional, financeira, felicidade, etc.). Acredito
inclusive que, quando mais elementos forem agregados a um indicador, mais
fidedigno será o reflexo que o mesmo compõe da realidade, ou seja, mais
adequado ele estará ao seu fim.
Cabe ressaltar que, além de me dedicar à discussão sobre o
desenvolvimento econômico – e as suas diferenças e semelhanças com o
conceito de crescimento econômico –, procurei, concomitantemente, debater
esse assunto tendo como base os BRICs. Tais países (Brasil, Rússia, Índia e
China) sempre me chamam atenção e têm em mim uma grande entusiasta.
Acredito nos países do futuro e que se mostram cada vez mais como países
120
do presente pois vejo neles potencial de desenvolvimento em larga escala,
num mundo onde tantas outras nações estão, de certa forma, estabilizadas.
Como foi dito durante todo o trabalho, são países com características muito
semelhantes e outras demasiadamente particulares.
Data venia essas
questões, eles são, acima de tudo, gigantes.
Quero deixar claro que não pretendo esgotar aqui quaisquer discussões
a respeito dos temas abordados. Muito pelo contrário. Acredito que, em
respeito à democracia e a liberdade de expressão, tudo o que se pode esperar
de um trabalho é que este suscite dúvidas, discussões e debates. Apresentei,
apenas, a minha perspectiva sobre temas que me motivam o estudo e a
análise. Temas que considero realmente relevantes, tanto na seara política
como na econômica, principalmente se levarmos em conta a vida no nosso
Planeta.
121
ANEXO – INDICADORES
TABELA 01
Extensão Territorial (em km
2
)
Brasil Rússia Índia China
8.514.876 17.075.400 3.287.590 9.596.961
Fonte: Indicators on Population. In United Nations Statistics Division. Demographic
and Social Statistics. Statistical Products and Databases. Social Indicators, 2009.
Disponível em
<http://unstats.un.org/unsd/demographic/products/socind/population.htm
> Acesso em:
jul.2009.
TABELA 02
População 2009
Brasil
Rússia
Índia
China
193.733.795 140.873.647 1.198.003.272 1.345.750.973
Fonte: Indicators on Population. In United Nations Statistics Division. Demographic
and Social Statistics. Statistical Products and Databases. Social Indicators, 2009.
Disponível em
<http://unstats.un.org/unsd/demographic/products/socind/population.htm
> Acesso em:
jul.2009.
TABELA 03
População (em milhares) – Média (1980 - 2010)
Population (thousands) – Medium Variant (1980 - 2010)
Brasil Rússia Índia China
1980 121.618 138.655 692.637 980.929
1985 136.149 143.541 774.775 1.053.219
1990
149.570 148.065 862.162 1.142.090
1995
161.692 148.497 953.148 1.210.969
2000
174.174 146.670 1.042.590 1.266.954
2005 186.075 143.170 1.130.618 1.312.253
2010 195.423 140.367 1.214.464 1.354.146
Fonte: Population Division of the Department of Economic and Social Affairs of the
United Nations Secretariat, World Population Prospects: The 2008 Revision.
Disponível em: <http://esa.un.org/unpp
> Acesso em: jul.2009.
122
TABELA 04
Taxa de Crescimento da População (%)
Population growth rate (%)
Brasil Rússia Índia China
2000 0.94 0.38 1.58 0.9
2001
0.91 0.35 1.55 0.88
2002
0.87 0.33 1.51 0.87
2003
1.15 0.30 1.47 0.6
2004 1.11 0.45 1.44 0.57
2005 1.06 0.37 1.40 0.58
2006 1.04 0.37 1.38 0.59
2007 1.008 0.484 1.606 0.606
2008
1.228 0.474 1.578 0.629
2009
1.199 0.467 1.548 0.655
Fonte: Index Mundi - Internet's most complete country profiles. Disponível em:
<http://www.indexmundi.com/g/g.aspx?v=24&c=ch&l=en
> Acessado em outubro de
2009.
TABELA 05
PIB Nominal (em US$ bilhões)
GDP (Gross Domestic Product)
Brasil
Rússia
Índia
China
2003 553,6 431,4 573,2 1 641,0
2004 663,8 591,9 669,4 1 931,6
2005 882,4 764,3 784,3 2 235,8
2006
1 088,9 989,4 874,8 2 657,8
2007
1 333,8 1 294,4 1 102,4 3 382,4
2008
1 573,3 1 676,6 1 209,7 4 401,6
2009
(estimativa) 1 268,5 1 163,6 1 185,7 4 833,0
2010 (estimativa) 1 317,3 1 329,4 1 234,0 5 302,7
Fonte: World Economic Outlook Database (Abril 2009) FMI e IBGE. Disponível em:
<http://www.bcb.gov.br/?INDECO
> Acessado em Novembro de 2009.
TABELA 06
Dívida Externa Bruta (em US$ bilhões)
External Debt
Brasil
Rússia
Índ
ia
China
2003
235,4 185,7 -- --
2004
220,2 214,5 -- --
2005 188,0 257,4 -- --
2006 199,4 310,6 160,2 --
2007 240,5 465,4 206,0 --
2008
262,9 484,7 230,8 --
Fonte: World Economic Outlook Database (Abril 2009) FMI e IBGE. Disponível em:
<http://www.bcb.gov.br/?INDECO
> Acessado em Novembro de 2009
123
TABELA 07
Saldo em Conta Corrente (em US$ bilhões)
Brasil
Rússia
Índia
China
2002 -7 637 29 116 7 061 35 422
2003 4 177 35 410 8 773 45 875
2004 11 679 59 514 781 68 659
2005
13 985 84 443 -10 285 160 818
2006
13 643 94 340 -9 299 253 268
2007
1 551 76 241 -11 285 371 833
2008 -28 300 102 331 -33 330 440 011
Fonte: World Economic Outlook Database (Abril 2009) FMI e IBGE. Disponível em:
<http://www.bcb.gov.br/?INDECO
> Acessado em Novembro de 2009.
TABELA 08
Saldo em Conta Corrente (% PIB)
Brasil Rússia Índia China
2002
-1,4 6,7 1,2 2,2
2003
0,6 6,0 1,3 2,4
2004
1,3 7,8 0,1 3,1
2005 1,3 8,5 -1,2 6,1
2006 1,0 7,3 -,08 7,5
2007 0,1 4,5 -0,9 8,4
2008
-2,2 8,8 -2,8 9,1
Fonte: World Economic Outlook Database (Abril 2009) – FMI e IBGE. Disponível em:
<http://www.bcb.gov.br/?INDECO
> Acessado em Novembro de 2009.
TABELA 09
População Desempregada (em milhões)*
Unemployed - Total coverage (thousands)
Brasil
Rússia
Índia
China
2001 7853.4 6424 41996 6810
2002 7958.5 5698 41171 7700
2003 8640.0 5959 41389 8000
2004
8263.8 5675 40458 8270
2005
8953.0 5263 39348 8390
2006
8210.0 5312 41466 8470
2007 8059.6 4588 39974 8300
2008 7959.4 4791 39112 8860
*Pessoas com 15 anos ou mais
Fonte: LABORSTA Internet. ILO – International Labour Organization – Bureau of
Statistics. Disponível em: <http://laborsta.ilo.org/data_topic_E.html> Acesso em
setembro de 2009.
124
TABELA 10
Taxa de Desemprego (%)
Unemployment rate (%)
Brasil Rússia Índia China
2001 8.7 8.9 8.7 3.6
2002
9.2 7.9 8.8 4.0
2003
9.7 8.0 8.8 4.3
2004
8.9 7.8 9.5 4.2
2005 9.3 7.2 9.2 4.2
2006 8.4 7.2 8.9 4.1
2007 8.2 6.1 7.8 4.0
2008 7.9 6.3 7.2 4.2
Fonte: LABORSTA Internet. ILO – International Labour Organization – Bureau of
Statistics. Disponível em: <http://laborsta.ilo.org/data_topic_E.html> Acesso em
setembro de 2009.
TABELA 11
IDH – Índice de Desenvolvimento Humano - 2009
*
Human development index (HDI) value
Brasil
Rússia
Índia
China
0.800 0.802 0.619 0.937
* O índice varia de zero (nenhum desenvolvimento humano) até 1 (desenvolvimento
humano total).
Fonte: Human Development Report 2009 Programa das Nações Unidas para o
Desenvolvimento (ou PNUD) ONU. Disponível em:
<http://hdr.undp.org/en/media/hdr_20072008_en_indicator_tables.pdf
> Acessado em
outubro de 2009.
TABELA 12
IDH – Índice de Desenvolvimento Humano – 2009*
HDI RANK - Human development index – Rank Position
Brasil
Rússia
Índia
Ch
ina
70 67 128 21
* Na edição de 2009, o IDH avaliou 182 países, com a inclusão de Andorra e
Liechtenstein pela primeira vez, e a volta do Afeganistão, que havia saído do índice
em 1996.
Fonte: Human Development Report 2009 Programa das Nações Unidas para o
Desenvolvimento (ou PNUD) ONU. Disponível em:
<http://hdr.undp.org/en/media/hdr_20072008_en_indicator_tables.pdf
> Acessado em
outubro de 2009.
125
TABELA 13
Evolução Histórica – Índice de Desenvolvimento Humano (IDH)*
Evolution – Human Development Index Trends (HDI)
Brasil Rússia Índia China
1980 0,685 -- 0,427 0,533
1985
0,694 -- 0,453 0,556
1990
0.710 0,821 0,489 0,608
1995
0,734 0,777 0,511 0,657
2000 0,790 -- 0,556 0,719
2005 0,805 0,804 0,596 0,756
2006 0,808 0,811 0,604 0,763
2007 0,813 0,817 0,612 0,772
* O índice varia de zero (nenhum desenvolvimento humano) até 1 (desenvolvimento
humano total).
Fonte: World Economic Outlook Database (Abril 2009) FMI e IBGE. Disponível em:
<http://www.bcb.gov.br/?INDECO
> Acessado em Novembro de 2009.
TABELA 14
Índice de Performance Ambiental – Índice 2008*
Environmental Performance Index Score - EPI
Brasil
Rússia
Índia
China
82.7 83.9 60.3 65.1
* Em 2008, o Environmental Performance Index (EPI) classificou 149 países em 25
indicadores monitorados através de seis categorias de política estabelecida: saúde
ambiental, poluição do ar, recursos hídricos, biodiversidade e habitat, recursos
naturais produtivos e as Alterações Climáticas Alterações Climáticas. Os países que
obtiverem nota mais próxima à 100 estarão melhores qualificados no ranking.
Fonte: Environmental Performance Index - A collaboration between Yale and
Columbia Universities. Disponível em: <http://epi.yale.edu/Home
> Acessado em:
outubro de 2009.
TABELA 15
Índice de Performance Ambiental – Ranking 2008*
Environmental Performance Index Rank - EPI
Brasil
Rússia
Índia
China
34º. 28º. 120º. 105º.
* Na edição de 2008, o EPI foi calculado para 149 países.
Fonte: Environmental Performance Index - A collaboration between Yale and
Columbia Universities. Disponível em: <http://epi.yale.edu/Home
> Acessado em:
outubro de 2009.
126
TABELA 16
Índice de Sustentabilidade Ambiental – 2005 (último ESI realizado)*
Environmental Sustainability Index – ESI – 2005
Brasil Rússia Índia China
62,2 56,1 45,2 38,6
* O ESI classifica os países de acordo com as suas capacidades para proteger o
ambiente durante as próximas décadas e é calculado para cerca de 140 países.
Fonte: The Environmental Performance Measurement Project. Center for International
Earth Science Information Network (CIESIN) at Columbia University, and the World
Economic Forum, the project produces a periodically updated Environmental
Sustainability Index (ESI). Disponível em:
<http://sedac.ciesin.columbia.edu/es/esi/ESI2005_policysummary.pdf
> Acessado em:
outubro de 2009.
TABELA 17
Índice de Sustentabilidade Ambiental – 2005 (último ESI realizado)*
Environmental Sustainability Index - Non-OECD Rank – ESI – 2005
Brasil Rússia Índia China
11 33 101 133
*Este ranking é composto pelo resultado do ESI que classifica 140 países.
Fonte: The Environmental Performance Measurement Project. Center for International
Earth Science Information Network (CIESIN) at Columbia University, and the World
Economic Forum, the project produces a periodically updated Environmental
Sustainability Index (ESI). Disponível em:
<http://sedac.ciesin.columbia.edu/es/esi/ESI2005_policysummary.pdf
> Acessado em:
outubro de 2009.
TABELA 18
Pegada Ecológica (em hectares)*
Ecological Footprint – EF (hectares)
Brasil
Rússia
Índia
China
439.2 536.4 986.3 786.8
* É uma medida expressada em hectares globais, e é resultado da normalização da
produtividade média mundial. É uma medida usada em diversas escalas, tanto
globalmente quanto em escalas nacionais e regionais. Uma medida de pegada
ecológica de um país representa a capacidade biológica necessária para produzir
bens e serviços consumidos pelos residentes daquele país e bem como a capacidade
daquele local de processar e depurar os resíduos.
Fonte: Ecological Footprint Global Footprint Network. Disponível em:
<http://www.footprintnetwork.org/en/index.php/GFN/
> Acessado em: outubro de 2009.
127
TABELA 19
Relatório Anual de Competitividade – Índice 2009-2010*
Score - Global Competitiveness Index 2009-2010
Brasil Rússia Índia China
4.23 4.15 4.30 4.74
*O último Relatório apurou 140 países. Quanto mais competitivo um país, maior a sua
nota no “
score”, dadas as variáveis apuradas.
Fonte: The Global Competitiveness Report - World Economic Forum. Disponível em:
<http://www.weforum.org/en/initiatives/gcp/Global%20Competitiveness%20Report/inde
x.htm> Acessado em: outrubro de 2009.
TABELA 20
Relatório Anual de Competitividade – Ranking 2009-2010*
Rankings - Global Competitiveness Index 2009-2010
Brasil
Rússia
Índia
China
56 63 49 29
*O último Relatório apurou 140 países. Quanto mais competitivo um país, maior a sua
nota no “
score”, dadas as variáveis apuradas.
Fonte: The Global Competitiveness Report - World Economic Forum. Disponível em:
<http://www.weforum.org/en/initiatives/gcp/Global%20Competitiveness%20Report/inde
x.htm> Acessado em: outrubro de 2009.
TABELA 21
Índice Big Mac
The Economist's Big Mac índex
Brasil Rússia Índia China
2002 US$1,5500 US$1,2500 -- US$1,2700
2003
US$1,4800 US$1,3200 US$1,3400 US$1,2000
2004
US$1,7000 US$1,4500 US$1,4100 US$1,2600
2005
US$2,7800 US$1,4800 US$1,7500 US$1,2700
2006 Real6.40=
US$2,7800
Rouble 48 =
US$1,7700
Rupee 190 =
US$1.8 500
Yuan 10.5 =
US$1.3100
2007 Real6.40=
US$3,0100
Rouble 49 =
US$1,8500
Rupee 190 =
US$1.7500
Yuan 11.0 =
US$1.4100
2008 Real7.50=
US$4.7300
Rouble 59 =
US$2.5400
Rupee 210 =
US$1.8900
Yuan 12.5 =
US$1.8305
2009 Real8.03=
US$4.5509
Rouble 67 =
US$2.2966
Rupee 190 =
US$2.2752
Yuan 12.5 =
US$1.8305
Fonte: Big Mac Index. The Economist. The Purchasing Power Parity (PPP) rate is the
local Big Mac price divided by its price in the United States. Disponível em:
<http://www.oanda.com/products/bigmac/bigmac.shtml
> Acessado em: outubro de
2009.
128
TABELA 22
Ranking da Competitividade Mundial - Competitividade global*
World Competitiveness Rank - Overall Competitiveness
Brasil Rússia Índia China
2005 42 45 33 29
2006 44 46 27 18
2007
49 43 27 15
2008
43 47 29 17
2009
40 49 39 20
* O World Competitiveness Yearbook apresenta perfis e análises de competitividade
de 57 países.
Fonte: “The World Competitiveness Scoreboard 2009”, realizado pelo IMD World
Competitiveness Center. Overall Competitiveness. Disponível em:
<http://www.imd.ch/research/publications/wcy/upload/scoreboard.pdf
> Acessado em
novembro de 2009.
TABELA 23
Competitividade Mundial – Pontuação 2009
World Competitiveness – Score 2009*
Brasil
Rússia
Índia
China
56.865 52.770 66.454 76.595
* O World Competitiveness Yearbook apresenta perfis e análises de competitividade
de 57 países. Quanto mais pontos um país conquista, mais competitivo ele é.
Fonte: “The World Competitiveness Scoreboard 2009”, realizado pelo IMD World
Competitiveness Center. Overall Competitiveness. Disponível em:
<http://www.imd.ch/research/publications/wcy/upload/scoreboard.pdf>
Acessado em
novembro de 2009.
TABELA 24
Índice de Pobreza Humana – IPH1*
Human Poverty Inex (HP1)
Brasil Rússia Índia China
8,6% 7,4% 28% 7,7%
*Os quatro países aqui selecionados Brasil, Rússia, Índia e China são mensurados a
partir do IPH 1 e não to IPH2. O IPH2 inclui apenas os países classificados como
“Very High Human Development” e alguns classificados como “High Human
Development”
.
Fonte: Human Development Report 2009 - Overcoming Barriers: Human Mobility and
Development. Disponível em: <http://hdr.undp.org/en/statistics/data/hdi2008/
>
Acessado em: novembro de 2009.
129
TABELA 25
Coeficiente de Gini - Pontuação*
Gini Coefficient - Score
Brasil Rússia Índia China
0,567 - 2005 0,41 - 2006 0,368 - 2004 0,469 - 2004
* Ele consiste em um número entre 0 e 1, onde 0 corresponde à completa igualdade
de renda (onde todos têm a mesma renda) e 1 corresponde à completa desigualdade
(onde uma pessoa tem toda a renda, e as demais nada têm). O índice de Gini é
expresso em pontos percentuais (é igual ao coeficiente multiplicado por 100)
Fonte: Nation Master: Massive central data source and a handy way to graphically
compare nations. Disponível em: <http://www.nationmaster.com/graph/eco_gin_ind-
economy-gini-index>. Acessado em Novembro de 2009.
TABELA 26
Coeficiente de Gini - Ranking*
Gini Coefficient - Ranking
Brasil
Rússia
Índia
China
11 62 75 34
* O ranking relativo ao Coeficiente de Gini é construído de forma diversa da usual,
onde os primeiros classificados são os melhores pontuados. Neste caso, o “topo do
ranking” agrupa os países mais desiguais. Por exemplo, a 11ª posição do Brasil indica
a existência de uma maior desigualdade quando comparado à Rússia, em sua 62º
posição, dentre os 130 países estudados.
Fonte: Nation Master: Massive central data source and a handy way to graphically
compare nations. Disponível em: <http://www.nationmaster.com/graph/eco_gin_ind-
economy-gini-index>. Acessado em Novembro de 2009.
TABELA 27
Índice de Desenvolvimento Ajustado ao Gênero (IDG)* – Ranking – 2002
Adjusted Development Index (GDI) - Rank
Brasil
Rússia
Índia
China
64 52 105 77
* Quanto maior a disparidade entre os sexos no desenvolvimento humano básico,
menor o IDG de um país, comparado com o seu IDH. O IDG é simplesmente o IDH
descontado ou ajustado para baixo pela desigualdade entre os sexos. Quando mais
alta a posição no ranking, menos disparidade entre os sexos há no determinado país.
Fonte: Human Development Report 2002 Programa das Nações Unidas para o
Desenvolvimento (ou PNUD) ONU. Disponível em:
<http://www.pnud.org.br/hdr/hdr2002/9-Indicadores-ParteIII.pdf
> Acessado em outubro
de 2009.
130
TABELA 28
Índice de Desenvolvimento Ajustado ao Gênero (IDG)* – Valor – 2002
Adjusted Development Index (GDI) - Index
Brasil Rússia Índia China
0,751 0,780 0,560 0,724
* Quanto maior a disparidade entre os sexos no desenvolvimento humano básico,
menor o IDG de um país, comparado com o seu IDH. O IDG é simplesmente o IDH
descontado ou ajustado para baixo pela desigualdade entre os sexos.
Fonte: Human Development Report 2002 Programa das Nações Unidas para o
Desenvolvimento (ou PNUD) ONU. Disponível em:
<http://www.pnud.org.br/hdr/hdr2002/9-Indicadores-ParteIII.pdf
> Acessado em outubro
de 2009.
TABELA 29
Esperança de vida ao nascer (anos)
Life expectancy at birth (years)
Brasil
Rússia
Índia
China
72,0
72,5
63,8
72,8
Fonte: Human Development Report 2009 Programa das Nações Unidas para o
Desenvolvimento (ou PNUD) ONU. Disponível em:
<http://www.pnud.org.br/hdr/hdr2002/9-Indicadores-ParteIII.pdf
> Acessado em outubro
de 2009.
TABELA 30
Taxa de Alfabetização - 2008 (%)
Literacy Rate (%)
Brasil
Rússia
Índia
China
90,0% 99,5 61,0% 93,3
Fonte: Human Development Report 2009 Programa das Nações Unidas para o
Desenvolvimento (ou PNUD) ONU. Disponível em:
<http://www.pnud.org.br/hdr/hdr2002/9-Indicadores-ParteIII.pdf
> Acessado em outubro
de 2009.
TABELA 31
Índice de Felicidade Planetária - 2009*
Happy Planet Index (HPI)
Brasil Rússia Índia China
61.0 34.5 53.0 57.1
*Quanto mais alto o valor, maior o nível de satisfação subjetiva, a esperança média de
vida e a pegada ecológica per capita.
Fonte: New Economics Foundation (NEF) The Happy Planet Index 2.0. Disponível
em: <http://www.happyplanetindex.org/explore/historical.html
> Acessado em janeiro
2010.
131
TABELA 32
A Cidade Mais Feliz do
Mundo* (Revista Forbes)
The most happy city of the world
Ranking
Cidade
s
Países
1
o
Rio de Janeiro Brasil
2
o
Sidney Austrália
3
o
Barcelona Espanha
4
o
Amsterdã Holanda
5
o
Melbourne Austrália
6
o
Madri Espanha
7
o
São Francisco Estados Unidos
8
o
Roma Itália
9
o
Paris França
10
o
Buenos Aires Argentina
*Dados de uma recente pesquisa realizada pelo instituto de pesquisa de mercado GfK
Custom Research North America e pelo consultor Simon Anholt, que reuniu as
respostas de dez mil pessoas em mais de 20 países.
Fonte: GREENBURG, Zack O'Malley. The World's Happiest Cities: Ten urban centers
closely associated with unmitigated joy. Disponível em:
<http://www.forbes.com/2009/09/02/worlds-happiest-cities-lifestyle-cities.html
> Acesso
em: jan.2010.
TABELA 33
Índice de Satisfação com a Vida – Índice 2008*
Satisfaction With Life Index
Brasil
Rússia
Índia
China
210 143.33 180 210
*O último Relatório apurou 178 países. Quanto mais feliz o povo de um país, maior a
sua nota no “
score”, dadas as pessoas entrevistadas e a opinião das mesmas.
Fonte: Wellbeing in Developing Countries Research Group. Disponível em:
<http://www.welldev.org.uk
> Acessado em: janeiro de 2010.
TABELA 34
Índice de Satisfação com a Vida – Ranking 2008*
Satisfaction With Life Rank
Brasil
Rússia
Índia
China
81 167 125 82
*O último Relatório apurou 178 países. Este ranking classifica os países, tendo em
vista a opinião das pessoas entrevistadas nesses locais.
Fonte: Wellbeing in Developing Countries Research Group. Disponível em:
<http://www.welldev.org.uk
> Acessado em: janeiro de 2010.
132
TABELA 35
Risco País 2009*
Country Risk Classification 2009
Brasil Rússia Índia China
3 4 3 2
* Sistema de avaliação de risco do país e classificação dos países em oito categorias
de risco (0 - 7). Quanto maior o valor, maior o risco.
Fonte: Country Risk Classifications - Organização para a Cooperação e
Desenvolvimento Económico (OCDE). Disponível em:
<http://www.oecd.org/trade/xcred/crc/
> Acessado em: dezembro de 2009.
TABELA 36
Fazendo Negócios 2009 - Ranking*
Doing Business 2009 - Ranking
Brasil Rússia Índia China
129 120 133 89
* As economias são classificadas em sua facilidade de fazer negócios. A pesquisa é
feita para 183. O primeiro colocado no ranking foi Cingapura, classificado como melhor
país para se fazer negócios. Já o pior, em 183º posição, é a República Centro
Africana.
Fonte: Doing Business - The World Bank Group. Disponível em:
<http://www.doingbusiness.org/economyrankings/
> Acessado em: janeiro de 2010.
TABELA 37
Mortalidade Infantil - 2009*
Infant Mortality Rate 2009
Brasil Rússia Índia China
22,58 10,56 30,15 20,25
* A mortalidade infantil é definida como o número de óbitos infantis (um ano de idade
ou mais jovens) por 1000 nascidos vivos.
Fonte: Infant Mortality Rate - Country Comparison. CIA - Central Intelligence Agency.
Disponível em: <https://www.cia.gov/library/publications/the-world-
factbook/rankorder/2091rank.html> Acessado em: janeiro de 2010.
133
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. São Paulo: Editora UNESP, IE – Unicamp, 2002.
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Ruy Jungmann. Rio de Janeiro: Jorge Zahar, 1990.
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