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funcionariam como uma empresa, que têm seu plano de negócio, suas atribuições, seus prazos, suas metas. O
empresário que ajuda uma instituição quer ver resultados e cobra isso”.
Porque o interesse em se trabalhar com crianças e adolescentes?
Esse interesse surgiu do meu envolvimento dentro da comunidade bahá’i do Brasil, que visa essa parte
humanitária, de ajuda ao ser humano, principalmente na educação da criança e do adolescente. Nós
acreditamos que a melhora do mundo só pode ser realizada através de ações puras e boas, de uma conduta
louvável e digna. Somente através da educação vamos conseguir essa melhora, com base nos valores
humanos.
Mas seu trabalho vai muito além do Monte Carmelo, não é?
Sim, vai muito além. Meu primeiro trabalho de base foi na Associação Monte Carmelo. Depois, Conselho de
Assistência Social e agora presidente do Conselho da Criança e do Adolescente. Também atuo na Associação
dos Deficientes Portofelicenses, que estava inativa e nós reativamos. São trabalhos em várias frentes. Essa
ação social de desenvolver atividades, captar recursos, de participar em seminários no terceiro setor, tudo isso
vai ajudar de alguma forma as instituições de Porto Feliz a uma melhor articulação em sua auto-
sustentabilidade. Hoje em dia, as ONGs funcionam mais pela parte caritativa do que por serem um
empreendimento social sustentável.
Como seria isso?
As instituições funcionariam como uma empresa, que tem seu plano de negócio, suas atribuições, seus prazos,
suas metas. As ONGs também devem se pautar dessa forma. A visão do terceiro setor é essa, de gerar auto-
sustentabilidade. A ONG desenvolve vários produtos para manter a própria entidade. Um exemplo é a Ação
Criança. Ela vende as camisetas, faz uma marketing em torno disso e capta recursos para manter suas
atividades no terceiro setor, na área social.
Como vocês são recebidos pelos empresários da cidade quando pedem apoio para um projeto social?
Eu reconheço que até falta um melhor preparo para chegar no empresariado. O empresário quer ver
resultados e cobra isso. Quer saber o impacto social que vai geral, o marketing social que ele vai ter, o selo de
determinada fundação que ele vai receber. Isso quando nos atende. Quando não atende, vem recado de que
no momento não dá, a crise está chegando no setor dele, essas coisas. Por outro lado, há muito recurso
dentro do próprio terceiro setor. O que falta são empreendimentos sociais com mais estruturas, com planos de
negócios, planos de trabalhos, para conseguir colaboração.
Como está essa questão dos menores em Porto Feliz? As crianças estão sendo bem tratadas?
A demanda é bem maior do que podemos oferecer para as crianças e adolescentes. Temos um problema que
é a falta de mais atividades para jovens de 7 a 18 anos. Faltam mais iniciativas em Porto Feliz que
proporcionem entretenimento, lazer, mais atividades educacionais e esportiva. Mas há também algumas
frentes que estão sendo trabalhadas. A Promoção Social por exemplo, desenvolve o projeto Agente Jovem,
que atende pré-adolescentes. São projetos que visam que a criança desenvolva algumas habilidades para
entrar no mercado de trabalho, para poder articular como voluntário. Há vários projetos voltados para a
criança e adolescente, nos bairros da cidade, como o Centrinho, na Vila América, que atende a população de
lá também na área de reforço escolar. No Jardim Vante, o Espaço Amigo, que está dentro da política de
Assistência Social. Lá também tem o Crer Ser, que atende às crianças. Mas ainda é pouco. Se analisarmos o
contigente atendido por esses projetos, você que ainda é muito irrisório.
Qual o maior risco para os adolescentes de Porto Feliz?
Ao meu ver é o acesso fácil às drogas, que atinge o núcleo das famílias portofelicenses. Chega perto das
crianças porque está em todos lugares, às vezes, até dentro da própria casa onde os pais são usuários. Isso
não só em Porto Feliz, no mundo. Acho que isso só vai mudar quando tiver uma coesão entre a educação
material, que seria o estudo, a consciência do corpo físico, espiritual, e sua parte humana, seu
desenvolvimento, suas relações. O ECA (Estatuto da Criança e do Adolescente) prevê várias leis e mesmo
assim a sociedade não consegue ter uma articulação para realmente proteger a criança e o adolescente. Você