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UNIVERSIDADE FEDERAL DO PARA
ELAINE LOPES PEREIRA NUNES
DESENVOLVIMENTO DO ANDROCEU E GINECEU EM TRÊS ESPÉCIES DE
Potamogeton L. (POTAMOGETONACEAE, ALISMATALES)
CURITIBA
2009
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ELAINE LOPES PEREIRA NUNES
DESENVOLVIMENTO DO ANDROCEU E GINECEU EM TRÊS ESPÉCIES DE
Potamogeton L. (POTAMOGETONACEAE, ALISMATALES)
Dissertação apresentada ao Programa de Pós-
Graduação em Botânica, Área de Concentração
em Estrutura e Fisiologia do Desenvolvimento
Vegetal, Departamento de Botânica, Setor de
Ciências Biológicas, Universidade Federal do
Paraná, como parte dos requisitos necessários
para a obtenção do título de Mestre em Botânica.
Orientadora: Profa. Dra. Alessandra Ike Coan
Co-orientadora: Profa. Dra.Cleusa Bona
Co-orientadora: Profa. Dra. Maria Cecília de Chiara
Moço
CURITIBA
2009
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Ao Gustavo, meu esposo, companheiro e amigo.
Aos meus pais, Leila e Licinio.
Aos meus irmãos, Alexandre, Jéssica e Emmanuel.
Por todo o amor, apoio, por tudo o sou e pelo que alcancei.
AGRADECIMENTOS
A Deus, por toda proteção, força e sorte.
A Alessandra, que apesar de pouco me conhecer e ao projeto, assumiu
minha orientação no último semestre do curso. Sob sua orientação, com extrema
dedicação, confiança e amizade, dados e idéias foram transformados em
dissertação.
A Cleusa, pela co-orientação, amizade e prontidão em resolver os pequenos
problemas que surgiram ao longo do curso.
A Cecília, pela co-orientação, amizade, treinamento e suporte no
desenvolvimento deste trabalho.
A Mariana Cortes de Lima, pelo auxílio no processamento de parte do
material, pela compreensão com a minha inexperiência em orientá-la e amizade.
A professora Edna Scremin-Dias, pelo auxílio na coleta de P. illinoensis,
hospedagem e conselhos.
Aos professores Armando Cervi e Rodrigo Schütz Rodrigues, pela
identificação das espécies.
Ao Prof. Dr. Ciro Alberto de Oliveira Ribeiro e Dra. Monika Barth, pelo
auxílio nas técnicas de microscopia eletrônica de transmissão.
A Makeli, pela amizade, companheirismo e cumplicidade, no laboratório e
fora dele.
A Jenifer, pela amizade, pelos almoços e conversas na cozinha do anexo e
ajuda com a microscopia eletrônica de transmissão.
A todos os amigos, que me apoiaram e acreditaram, às vezes sem
compreender bem do que se tratava este trabalho ou a sua importância.
A Elizabeth, secretária do Programa, por todo o seu auxílio e amizade.
Ao Nilson, por compartilhar sua experiência com os iniciantes no laboratório
e.pelas conversas que amenizaram as atividades diárias.
Aos colegas do curso, pela colaboração e a todos que de alguma forma
contribuíram para a realização deste trabalho.
À CAPES, pelo auxílio financeiro.
Viva como se fosse morrer amanhã, aprenda
como se fosse viver para sempre.
Mahatma Ghandi
RESUMO
Potamogetonaceae (Alismatales) compreende cerca de três gêneros, dos quais
Potamogeton se destaca, com 80-100 espécies e distribuição quase cosmopolita.
Neste gênero, controvérsias em relação à natureza da sua unidade floral,
interpretada como uma inflorescência reduzida ou como uma flor verdadeira. As
informações embriológicas de Potamogeton, na circunscrição atual da família, são
escassas, necessitando complementação. Dentre elas, sabe-se que.o pólen é
inaperturado e foi sugerido que neste tipo de pólen, não haveria restrição no formato
das tétrades de micrósporos, assim como em outros grupos de Monocotiledôneas. O
objetivo deste estudo foi investigar o desenvolvimento do androceu e gineceu em
três espécies de Potamogeton, procurando: relacionar a microsporogênese à
formação do grão de pólen inaperturado; esclarecer a natureza da unidade floral;
verificar se padrões de iniciação dos órgãos florais, e complementar as lacunas
de informações embriológicas. Para tanto, foram coletadas inflorescências em
diversos estágios de desenvolvimento e as amostras destinadas à microscopia de
luz (ML) e microscopia eletrônica varredura (MEV) foram fixadas em glutaraldeído
1% e formaldeído 4%, em tampão fosfato de dio 0,1 M, pH 7,2. Para a ML, o
material foi incluído em hidroxietilmetacrilato, seccionado e corado segundo técnicas
usuais. Para a microscopia eletrônica de transmissão, anteras foram fixadas em
glutaraldeído 2,5% e paraformaldeído 2% em tampão fosfato de sódio 0,1M em pH
7,2, incluídas em resina epóxi, seccionadas e contrastadas. Amostras também foram
processadas para MEV segundo técnicas usuais. Na microsporogênese a citocinese
meiótica é sucessiva, com formação de placas celulares centrifugas e deposição de
calose adicional nestas, simultaneamente, resultando em tétrades de formatos
variados. Durante o desenvolvimento floral, as inflorescências das três espécies
apresentaram características semelhantes, diferindo em número de flores e formato
dos órgãos. A ordem de iniciação dos verticilos florais foi semelhante: palas
laterais, tépalas medianas, seguidas dos estames laterais, estames medianos e
finalmente, dos carpelos. Em P. illinoensis, a formação do carpelo ocorre de maneira
distinta das demais espécies. Os caracteres embriológicos mantiveram-se
constantes entre as espécies estudadas, ressaltando-se: a parede da antera do tipo
monocotiledôneo e os carpelos ascidiados, com apenas um óvulo campilótropo, que
origina um saco embrionário do tipo Polygonum. Os dados levantados indicam,
como provável motivo para a ausência de aberturas no pólen de Potamogeton, a
ausência de pontos específicos de término de deposição de calose adicional nas
placas celulares. A unidade reprodutiva de Potamogeton deve ser interpretada como
uma flor verdadeira, e foram levantados dois padrões de iniciação dos órgãos florais
no gênero, que o se relacionam a clados específicos. Como caracteres potenciais
para a taxonomia de Potamogeton foram identificados a forma do estigma e a
posição e forma da abertura carpelar. Informações inéditas e complementares
acerca da embriologia de Potamogeton foram fornecidas, contribuindo para um
melhor conhecimento da embriologia de Potamogetonaceae como um todo,
podendo auxiliar no esclarecimento de divergências ocasionadas pela utilização de
circunscrições antigas da família.
Palavras-chave: Desenvolvimento floral. Microsporogênese. len. P. illinoensis. P.
polygonus. P. pusillus.
ABSTRACT
Potamogetonaceae (Alismatales) comprises about three genera, including
Potamogeton, a near cosmopolitan genus of about 80-100 species. The
understanding of its floral unit is quite controversial, being interpreted as a reduced
inflorescence or a true flower. In the current circumscription of Potamogetonaceae
there is scarce embryological information of Potamogeton and complementation of
data is needed. It is known that the pollen in this genus is inaperturate and it has
been suggested by some authors that in this type of pollen there is a release of
constraint on tetrad shape, as in other Monocotyledons. The aims of the present
study were to investigate the development of the androecium and the gynoecium in
three Potamogeton species in order to: understand the relationship between
microsporogenesis features and inaperturate pollen formation; elucidate the nature of
the floral unit; verify whether organ initiation patterns occur in the flower or not; and
complement the embryological data. Inflorescences at various developmental stages
were collected and fixed in 1% glutaraldehyde and 4% formaldehyde in 0.1 M sodium
phosphate buffer, pH 7.2. for both light (LM) and scanning electron microscopy
(SEM). The samples for LM were embedded in hydroxyethyl methacrylate, then
sectioned, stained and mounted according to standard procedures. Samples for SEM
were also processed according standard procedures. For TEM examination, anthers
were fixed in 2.5% glutaraldehyde and 2% paraformaldehyde in 0.1 M sodium
phosphate buffer, pH 7.2, then embedded in epoxy resin, sectioned and stained. At
microsporogenesis, cytokinesis is successive and the callosic cell wall formation was
achieved by centrifugal cell plates, with simultaneous deposition of additional callose.
The resulting tetrads were of various shapes. The inflorescences of the three species
studied were similar, varying only in flower number and shape of the floral organs.
The initiation order of floral organs was similar: lateral tepals, median tepals, followed
by lateral stamens, median stamens and carpels. The carpels of P. illinoensis
developed in a different way compared to the other species. The embryological
characters were constant among the three species and some of them are as follows:
anther wall of the monocotyledonous-type, and ascidiate carpels with a single
campylotropous ovule that develop a Polygonum type of embryo sac. The present
data indicate that the lack of specific points of additional callose deposition during
microsporogenesis is the probable reason to the lack of apertures in the
Potamogeton pollen. The floral unit of Potamogeton should be interpreted as a true
flower. Moreover, two patterns of floral organ initiation were pointed out, which are
not correlated to specific clades. The stigma shape, and both position and shape of
carpel opening were identified as potential characters to taxonomy. This study
presented some new and complementary information for the embryology of
Potamogeton. The data also contribute to a better understanding of the embryology
of Potamogetonaceae as a whole and shed light on conflicting information caused by
the use of old circumscription of the family.
Key words: Flower development. Microsporogenesis. Pollen. P. illinoensis. P.
polygonus. P. pusillus.
SUMÁRIO
1. INTRODUÇÃO.....................................................................................................8
2. CAPÍTULO I - MICROSPOROGÊNESE EM Potamogeton
(POTAMOGETONACEAE, ALISMATALES) E CONSIDERAÇÕES SOBRE A
AUSÊNCIA DE ABERTURAS NO PÓLEN...............................................................13
2.1. INTRODUÇÃO............................................................................................13
2.2. MATERIAL E MÉTODOS............................................................................15
2.3. RESULTADOS............................................................................................16
2.4. DISCUSSÃO...............................................................................................20
3. CAPÍTULO II - DESENVOLVIMENTO FLORAL E MORFOLOGIA DO
ANDROCEU E GINECEU EM TRÊS ESPÉCIES DE Potamogeton
(POTAMOGETONACEAE, ALISMATALES)............................................................23
3.1. INTRODUÇÃO............................................................................................23
3.2. MATERIAL E MÉTODOS............................................................................25
3.3. RESULTADOS............................................................................................26
3.4. DISCUSSÃO...............................................................................................32
4. CAPÍTULO III - CONTRIBUIÇÃO À EMBRIOLOGIA DE Potamogeton
(POTAMOGETONACEAE, ALISMATALES)............................................................36
4.1. INTRODUÇÃO............................................................................................36
4.2. MATERIAL E MÉTODOS............................................................................37
4.3. RESULTADOS............................................................................................38
4.3.1. Organogênese da antera, microsporogênese e microgametogênese .38
4.3.2. Organogênese do óvulo, megasporogênese e megagametogênese...43
4.4. DISCUSSÃO...............................................................................................46
5. CONCLUSÃO....................................................................................................49
REFERÊNCIAS.........................................................................................................51
DOCUMENTOS CONSULTADOS............................................................................57
8
1. INTRODUÇÃO
Potamogetonaceae Reichenbach está atualmente incluída em Alismatales,
ordem considerada basal dentre as Monocotiledôneas (APG II, 2003; CHASE,
2004). As Alismatales representam o maior grupo monofilético de angiospermas
aquáticas (LES; HAYNES, 1995), atualmente com 14 famílias (APG II, 2003;
CHASE, 2004): Alismataceae Vent., Aponogetonaceae J. Agardh, Araceae Juss.,
Butomaceae Mirb., Cymodoceaceae N. Taylor, Hydrocharitaceae Juss.,
Juncaginaceae Rich., Limnocharitaceae Takht. ex Cronquist, Posidoniaceae Hutch.,
Potamogetonaceae Rchb., Ruppiaceae Horan., Scheuchzeriaceae F. Rudolphi,
Tofieldiaceae Takht. e Zosteraceae Dumort.
Segundo Haynes e Holm-Nielsen (2003), Potamogetonaceae é
subcosmopolita, com a maioria das espécies distribuídas em regiões temperadas,
especialmente no Hemisfério Norte. Atualmente, compreende os gêneros
Groenlandia J. Gay, Stuckenia Börner e Potamogeton L., totalizando cerca de 100
espécies (HAYNES E HOLM-NIELSEN, 2003). Além desses três gêneros,
Zannichellia L. é também incluída na família segundo alguns autores, com suporte
molecular (LES; CLELAND; WAYCOT, 1997; APG II, 2003; LINDQVIST et al., 2006).
Groenlandia possui apenas uma espécie e distribuição restrita ao
Hemisfério Norte. Stuckenia, com distribuição quase cosmopolita e seis espécies,
era considerado até recentemente como subgênero Coleogeton de Potamogeton,
mas sua elevação à categoria genérica recebeu suporte morfológico (LES;
HAYNES, 1996) e molecular (LES; CLELAND; WAYCOT, 1997; LINDQVIST et al.,
2006). Potamogeton compreende cerca de 95 espécies, com distribuição quase
cosmopolita (HAYNES; HOLM-NIELSEN, 2003). Este gênero é considerado um dos
mais importantes no ambiente aquático, especialmente como alimento ou habitat
para animais aquáticos (HAYNES, 1974; RODRIGUES; IRGANG, 2001), ocorrendo
em águas tropicais à temperadas (WIEGLEB; KAPLAN, 1998).
Potamogeton é herbáceo, propagado por sementes, turions ou rizomas,
com caule cilíndrico ou comprimido (HAYNES; HOLM-NIELSEN, 2003); pode
apresentar folhas homófilas submersas ou heterófilas submersas e flutuantes
(RODRIGUES; IRGANG, 2001); suas inflorescências são espigas capitadas ou
cilíndricas ou ainda panículas de espigas, com 1-20 verticilos de flores, formados por
1-4 flores em cada (HAYNES; HOLM-NIELSEN, 2003); as flores são imersas ou
9
emersas, com quatro tépalas livres, quatro estames livres, um ou quatro carpelos
livres (HAYNES; HOLM-NIELSEN, 2003); os frutos são drupas abaxialmente
arredondadas ou quilhadas (HAYNES; HOLM-NIELSEN, 2003).
No tratamento da família feito por Haynes e Holm-Nielsen (2003) na Flora
Neotropica são citadas oito espécies para o Brasil, todas de Potamogeton.
Rodrigues e Irgang (2001), em seu tratamento sobre Potamogetonaceae no Rio
Grande do Sul, encontraram nove espécies de Potamogeton: P. illinoensis Morong,
P. pectinatus L., P. pusillus L., P. gayi A. Benn., P. polygonus Cham. e Schltdl, P.
spirilliformis Hagstr., P. ulei K. Schum., P. montevidensis A. Benn. e P. ferrugineus
Hagstr. Dentre estas, Potamogeton pectinatus atualmente encontra-se circunscrita
em Stuckenia (S. pectinata Börner) e P. ulei foi sinonimizada com P. polygonus
(HAYNES; HOLM-NIELSEN, 2003).
Devido à plasticidade fenotípica (geográfica e sazonal), hibridização,
poliploidia e aneuploidia, a delimitação de Potamogeton s.l. tem sido discutida
(HAYNES, 1974; KAPLAN, 2002; LINDQVIST et al., 2006), o que resultou em uma
classificação infragenérica complexa (LINDQVIST et al., 2006). Tradicionalmente, o
gênero foi dividido nos subgêneros Coleogeton (atualmente gênero Stuckenia) e
Potamogeton, dos quais, o segundo foi separado em dois grupos morfológicos: o
das espécies de folhas largas e o das espécies de folhas lineares (RAUNKIÆR,
1896). Diversas hipóteses tentam explicar o surgimento destes dois grupos no
subgênero Potamogeton, bem como a homofilia e heterofilia apresentada por grande
parte das espécies de folhas largas (HAGSTRÖM, 1916; LES, 1983; LES;
SHERIDAN, 1990).
Recentemente, análises filogenéticas moleculares têm corroborado, em
grande parte, a tradicional divisão do subgênero Potamogeton nos dois grupos
morfológicos, bem como a hipótese de que o seu ancestral era provavelmente
homófilo com folhas lineares (IIDA; KOSUGE; KADONO, 2004; LINDQVIST et al.,
2006; ZHANG et al., 2008). Desta forma, as espécies homófilas de folhas largas
teriam surgido uma única vez e a heterofilia diversas vezes por paralelismo (IIDA,
2004; LINDQVIST et al., 2006; ZHANG et al., 2008). Mas, apesar dos recentes
esforços, as relações inter e infragenérica ainda carecem de melhor resolução
(LINDQVIST et al., 2006).
Dentre as espécies que ocorrem no Brasil, foram selecionadas três
utilizando-se como critérios sua distribuição (endêmica da América do Sul,
10
cosmopolita e endêmica da América, respectivamente), tipo de inflorescência
(emersa ou imersa e apenas emersa), e inclusão em análises filogenéticas
moleculares (duas inclusas e outra não). Potamogeton polygonus, endêmica na
América do Sul, e P. pusillus, cosmopolita, apresentam inflorescências emersas ou
imersas (RODRIGUES; IRGANG, 2001), enquanto que P. illinoensis, encontrada em
todo o continente americano, emite suas inflorescências em ambiente aéreo
(RODRIGUES; IRGANG, 2001).
Em diversos grupos de angiospermas, inúmeros trabalhos associaram
caracteres florais a estudos filogenéticos para inferir a evolução dos mesmos. No
caso das monocotiledôneas basais, tais estudos morfológicos com enfoque evolutivo
têm se mostrado importantes inclusive na compreensão da evolução das
angiospermas em geral (ENDRESS, 2005). Para Potamogeton, o único estudo que
aborda a evolução desses caracteres foi o de Posluszny e Charlton (1993), baseado
apenas em estudos morfológicos clássicos, sem análise filogenética.
Os demais estudos sobre desenvolvimento e morfologia floral em
Potamogeton ficaram restritos às tentativas em esclarecer a natureza da unidade
floral e da inflorescência do gênero (SATTLER, 1965; SINGH, 1965; POSLUSZNY;
SATTLER, 1973, 1974; POSLUSZNY, 1981; POSLUSZNY; CHARLTON, 1986). Tais
estudos discutiram a hipótese de que a unidade floral seria o resultado da redução
de uma inflorescência composta por quatro flores pistiladas circundadas por quatro
flores estaminadas (KUNTH, 1841). Porém, enquanto alguns trabalhos sustentaram
a hipótese de inflorescência reduzida (MIKI, 1937; UHL, 1947; POSLUSZNY;
SATTLER, 1973), outros consideraram a unidade floral como uma flor simples
(SINGH, 1965; SATTLER, 1965; POSLUSZNY; SATTLER, 1974; POSLUSZNY;
CHARLTON, 1986).
Recentemente, têm-se demonstrado a relação entre o tipo de citocinese, o
tipo de tétrade de micrósporos que se forma ao final da microsporogênese, e a
determinação dos padrões de abertura no grão de pólen (FURNESS; RUDALL,
1999a; FURNESS; RUDALL; SAMPSON, 2002; PENET et al., 2005; NADOT et al.,
2006; SANNIER et al., 2006). Nadot et al. (2006), estudando diversas
monocotiledôneas, observaram que em espécies de Strelitzia (Strelitziaceae) que
também apresentam pólen inaperturado, ocorrem tipos variados de trades e estes
autores lançaram a hipótese de que para este tipo de pólen não restrição do tipo
de tétrade.
11
Potamogeton possui pólen inaperturado (SORSA, 1988; FURNESS;
RUDALL, 1999b), caráter este que surgiu diversas vezes independentemente nas
Monocotiledôneas (FURNESS; RUDALL, 1999b), relacionando-se principalmente a
táxons hidrófilos (ZAVADA, 1983; FURNESS; RUDALL, 1999b) e a grupos com
polinização altamente especializada (ZAVADA, 1983).
A formação da parede do grão de pólen ocorre em três etapas: pré-meiótica,
durante o estágio de tétrade e na fase de micrósporos livres (HESLOP-HARRISON,
1971). Esta parede divide-se em intina, a camada interna, formada por
polissacarídeos, e exina, a camada externa, formada por esporopolenina (KNOX,
1984). Com base em caracteres morfológicos, a exina pode ser adicionalmente
dividida em nexinas 1 e 2, que são camadas mais internas sem ornamentação, e
sexinas 1, 2 e 3, que são camadas mais externas correspondentes à camada de
columelas, teto e elementos do teto, respectivamente (ERDTMAN, 1952, 1966).
Durante o estágio de tétrade, uma parede precursora da sexina é depositada entre o
protoplasto do micrósporo e a parede de calose, a primexina (FAHN, 1990).
Subsequentemente, precursores da esporopolenina são acumulados em locais
específicos da primexina, formando os principais componentes da sexina (HESLOP-
HARRISON, 1968).
As informações embriológicas para Potamogeton são fragmentadas
(HAYNES; HOLM-NIELSEN, 2003), muitas vezes levantadas de estudos muito
antigos (por exemplo WIEGAND, 1899; WIEGAND, 1900). Tal afirmação pode ser
verificada ao se consultar à bibliografia clássica de embriologia (JOHRI;
AMBEGAOKAR; SRIVASTAVA, 1992), em que os autores baseiam diversas
descrições em gêneros que foram reposicionados em outras famílias (por exemplo
Syringodium - Cymodoceaceae, Zostera - Zosteraceae e Ruppia - Ruppiaceae) e
fornecem poucas informações sobre Potamogeton.
Com base no exposto, este trabalho teve por objetivo esclarecer as
seguintes perguntas a partir das três espécies amostradas: 1) relação entre o
tipo de tétrade formada na microsporogênese e o pólen inaperturado? 2) A unidade
floral de Potamogeton representa uma inflorescência reduzida? 3) padrões na
iniciação dos órgãos florais no gênero? 4) uniformidade nos caracteres
embriológicos no gênero, independente do posicionamento em diferentes clados?
Para uma melhor compreensão dos assuntos abordados e clareza nas
discussões, este trabalho foi dividido em três capítulos: o primeiro tratando da
12
microsporogênese e sua relação com o pólen inaperturado; o segundo tratando do
desenvolvimento floral, e o terceiro da embriologia do gênero.
13
2. CAPÍTULO I - MICROSPOROGÊNESE EM Potamogeton
(POTAMOGETONACEAE, ALISMATALES) E CONSIDERAÇÕES SOBRE A
AUSÊNCIA DE ABERTURAS NO PÓLEN
2.1. INTRODUÇÃO
A microsporogênese pode ser definida como o processo que resulta na
produção de quatro micrósporos haplóides a partir de um microsporócito diplóide,
através de meiose e citocinese (FURNESS; RUDALL; SAMPSON, 2002). Dois tipos
de citocinese são tradicionalmente caracterizados - sucessiva e simultânea. No
primeiro tipo, uma placa celular é formada imediatamente após a meiose I e outra é
formada em cada um dos micrósporos após a meiose II. Por outro lado, na
citocinese simultânea, as placas celulares que separam os micrósporos são
formadas apenas ao final da segunda divisão meiótica (MAHESHWARI, 1950). Nas
monocotiledôneas, a citocinese é predominantemente do tipo sucessiva (FURNESS;
RUDALL, 1999a; FURNESS; RUDALL; SAMPSON, 2002; RESSAYRE, 2001;
FURNESS; RUDALL; SAMPSON, 2002; PENET et al., 2005; NADOT et al., 2006)
através de placas celulares centrífugas (PENET et al., 2005; NADOT et al., 2006).
Caracteres como o tipo de citocinese e a formação das placas celulares têm
apresentado significado sistemático em alguns grupos de monocotiledôneas, como
Dioscoreales, Asparagales e Poales (FURNESS; RUDALL, 1999a). Além disso,
sabe-se que o tipo de citocinese influencia o tipo de trade que se forma ao final da
meiose e que estas características podem determinar os padrões de abertura no
grão de pólen (FURNESS; RUDALL, 1999a; FURNESS; RUDALL; SAMPSON, 2002;
PENET et al., 2005; NADOT et al., 2006; SANNIER et al., 2006).
As Angiospermas apresentam grande diversidade de padrões de abertura
polínica (WALKER; DOYLE, 1975), definidos pela forma, estrutura, número e
distribuição das aberturas (RESSAYRE et al., 2002). Nas Monocotiledôneas, o
padrão básico é o de uma única abertura distal, enquanto nas Eudicotiledôneas, o
padrão mais comum é o de três aberturas equatoriais (RESSAYRE et al., 2002).
Em Monocotiledôneas, não é rara a ocorrência de pólen do tipo
inaperturado, tendo surgido diversas vezes, independentemente, na história do
grupo (FURNESS; RUDALL, 1999b). A ausência de abertura é geralmente
acompanhada pela redução na espessura e complexidade da exina (ZAVADA,
14
1983), podendo ser apenas uma fina camada sem estruturação e ornamentação ou
estar ausente (PETTITT; JERMY, 1975; ZAVADA,1983; FURNESS; RUDALL,
1999b). São reconhecidos dois tipos de pólen inaperturado nas Monocotiledôneas:
omniaperturado (THANIKAIMONI, 1984), em que qualquer local da parede pode
funcionar como abertura para a germinação do tubo polínico; e funcionalmente
monoaperturado (FURNESS; RUDALL, 1999b), em que uma região claramente
definida para o crescimento do tubo, marcada por um espessamento localizado da
intina.
Para explicar a ontogenia do padrão de abertura polínica, Ressayre et al.
(2002) propuseram que, para espécies de Angiospermas com seis ou menos
aberturas, o progresso na citocinese durante a microsporogênese define os locais
em que as aberturas irão se localizar nas tétrades de micrósporos. Em muitos casos,
a redução ou perda de aberturas no pólen e redução na espessura e complexidade
da exina ocorre em táxons hidrófilos (ZAVADA, 1983; FURNESS; RUDALL, 1999b)
ou em grupos com polinização altamente especializada (ZAVADA, 1983). Nestes
grupos, fatores ambientais que influenciem as relações hídricas do len são
reduzidos e reduções na exina podem ser esperadas (ZAVADA, 1983).
Nas Alismatales, o pólen inaperturado caracteriza Potamogetonaceae e as
demais famílias, particularmente aquáticas, onde está associado à hidrofilia
(FURNESS; RUDALL, 1999b). Em Potamogeton, o pólen é inaperturado (PETTITT;
JERMY, 1975; FURNESS; RUDALL, 1999b) e as espécies foram descritas como
anemófilas ou hidrófilas (polinização) e hidroautogâmicas (sistema em que a
polinização é mediada por uma bolha de ar sob a água) (PROCTOR; YEO, 1973;
PHILBRICK, 1988; GUO; COOK, 1989).
Dentre as espécies de Potamogeton ocorrentes no Brasil foram
selecionadas três: Potamogeton pusillus L., que apresenta inflorescências emersas
ou imersas (RODRIGUES; IRGANG, 2001) e polinização hidroautogâmica
(PHILBRICK; ANDERSON, 1987), Potamogeton illinoensis Morong, com
inflorescências exclusivamente emersas (RODRIGUES; IRGANG, 2001) e modo de
polinização desconhecido, e Potamogeton polygonus Cham. et Schltdl, com
inflorescências emersas ou imersas (RODRIGUES; IRGANG, 2001) e polinização
também desconhecida. O objetivo deste estudo foi investigar a microsporogênese, a
microgametogênese e a estrutura da parede do grão de pólen nessas três espécies
15
de Potamogeton, para entender a formação do len e contribuir para a biologia da
família em Alismatales.
2.2. MATERIAL E MÉTODOS
As amostras de cada espécie foram coletadas nos municípios de Iretama
(Potamogeton. pusillus L), General Carneiro e Palmas (P. polygonus Cham. et
Schltdl.), no Estado do Paraná, e Bonito (P. illinoensis Morong), no Estado do Mato
Grosso do Sul. O material testemunho encontra-se depositado no Herbário do
Departamento de Botânica da Universidade Federal do Paraná (UPCB), aguardando
número de registro.
Inflorescências em diversos estágios de desenvolvimento foram fixadas em
glutaraldeído 1% e formaldeído 4%, em tampão fosfato de sódio 0,1 M, pH 7,2
(MCDOWELL; TRUMP, 1976), para processamento e análise em microscopia de luz
(ML) e eletrônica de varredura (MEV). O material destinado à microscopia de luz foi
incluído em hidroxietilmetacrilato (GERRITS; SMID, 1983) e seccionado com
espessura de 2-5 m. As secções foram coradas com Azul de Toluidina O 0,05% 0,1
M em tampão fosfato de sódio pH 6,8 (O´BRIEN; FEDER; MCCULLY, 1965).
Para a microscopia de epifluorescência, anteras fixadas foram selecionadas
e lavadas em tampão fosfato (cinco vezes de 15 minutos). Em seguida, cada antera
foi aberta sobre lâmina e coberta com uma gota de azul de anilina 0,05%. Após
cinco minutos, o excesso do reagente foi retirado e a antera foi coberta por uma gota
de gelatina glicerinada e lamínula. As lâminas foram deixadas em repouso, por uma
noite, em refrigerador. As análises foram realizadas no microscópio de fluorescência
Zeiss Axiophot.
Para a análise em microscopia eletrônica de varredura, as amostras foram
lavadas em tampão fosfato de sódio 0,1 M, pH 7,2 e desidratadas em série etílica
até etanol 70%. As inflorescências foram dissecadas, desidratadas em série de
propanona e então submetidas a ponto crítico, no aparelho BAL-TEC CPD 030 e
metalizadas com ouro no equipamento SCD 030 Balzers Union FL 9496. As
observações foram realizadas em microscópio eletrônico de varredura Jeol JSM
6360LV.
O material destinado à microscopia eletrônica de transmissão (MET) foi
fixado sob vácuo em glutaraldeído 2,5% e paraformaldeído 2% em tampão fosfato
16
de dio 0,1M em pH 7,2 por 12-24 horas (KARNOVSKY, 1965, com modificação).
Após a fixação, as amostras foram pós-fixadas em tetróxido de ósmio 0,2%,
infiltradas e incluídas em resina epóxi (SPURR, 1969). Foram obtidas secções ultra-
finas em ultramicrótomo Leica Ultracut. As análises das amostras e os registros
eletromicrográficos foram efetuados no microscópio eletrônico de transmissão JEOL
JEM-1200EXII.
2.3. RESULTADOS
Durante a microsporogênese em Potamogeton illinoensis, P. polygonus e P.
pusillus, a epiderme da antera é unisseriada, com células alongadas em corte
transversal, apresenta cutícula fina e armazena amido até a fase de micrósporos
livres (Fig. 1a). O endotécio apresenta células grandes, poliédricas e também
armazena amido na forma de grandes grânulos até a fase de micrósporos livres (Fig.
1a). As camadas médias, em número de dois ou três, são constituídas por células
alongadas e justapostas, que são obliteradas ao longo do processo (Fig. 1a). É
também durante a microsporogênese que as células do tapete tornam-se
binucleadas, perdem sua parede celular, e seus protoplastos migram para o interior
do lóculo, unindo-se em um sincício, característico do tapete plasmodial (Fig. 1a).
Em Potamogeton polygonus, os microsporócitos apresentam depósito
pequeno de calose em seus vértices (Fig. 1b), característica não observada nas
demais espécies. A citocinese meiótica é sucessiva (Fig. 1c-m). Após a meiose I,
uma parede delgada de calose é formada através de placas celulares centrífugas,
originando díades de micrósporos (Fig. 1c-e). Ao final da meiose II, são formadas
tétrades predominantemente tetragonais (regulares e irregulares) (Fig. 1f-g) e
decussadas (Fig. 1h), ocorrendo em menor proporção tétrades em T” (Fig. 1i),
lineares (Fig. 1j) e em outras formas não definidas. Em Potamogeton pusillus, não foi
possível caracterizar a formação das paredes entre os micrósporos, nem foram
observadas díades de micrósporos, entretanto, os microsporócitos apresentaram um
anel de calose conspícuo (Fig. 1k). Nesta mesma espécie, as paredes de calose são
mais finas (Fig. 1k-n) e houve predomínio de tétrades decussadas (Fig. 1l) e
tetragonais (Fig. 1m), com ocorrência esporádica de tétrades de formas não
definidas (Fig. 1n).
17
A microgametogênese ocorre através de duas divisões mitóticas sucessivas
(Fig. 1o-p), resultando em grãos de pólen tricelulares. O grão de pólen é apolar,
esférico a oval, inaperturado, com exina reticulada (Figs 1q, 2a-b) e intina pécto-
celulósica. O padrão de reticulação da exina é diferente nas três espécies, sendo
compacto em P. illinoensis (Fig. 1q), aberto em P. pusillus (Fig. 2a) e intermediário
em P. polygonus (Fig. 2b). Em anteras que ainda não tinham sofrido deiscência,
eventualmente, foi observada uma estrutura semelhante a tubo polínico na
superfície do grão de pólen, com ruptura da exina. Tais estruturas podem ser
ramificadas e formar redes complexas que interconectam grãos de len (Fig. 2c),
não correspondendo a tubos polínicos verdadeiros, mas provavelmente a hifas de
fungos aquáticos.
A exina é formada pela sexina, de estrutura tectada (sexina 2) e columelada
(sexina 1) e com uma camada fina de nexina 1 (Fig. 2d-i). Em P. illinoensis a
densidade de elementos da sexina 1 é superior às das demais espécies (Fig. 2d-e);
P. pusillus, por sua vez, apresenta a menor densidade de sexina 1 (Fig. 2f-g) e P.
polygonus apresenta densidade intermediária (Fig. 2h-i). A intina não foi observada
em P. illinoensis, mas é relativamente espessa e apresenta estrutura fibrilar nas
demais espécies (Fig. 2g-i). A intina eventualmente parece mais espessa em uma
porção do grão de pólen (Fig. 2h-i).
FIGURA 1 - Microsporogênese, microgametogênese e morfologia do pólen em (a)
Antera em corte transversal com microsporócitos em fase pré-meiótica. (b) Microsporócitos com
depósitos de calose em seus vértices. (c) Primeira divisão meiótica, através de placas celulares
centrífugas. (d) Placa celular centrífuga em microsporócito com depósitos de calose nos vértices. (e)
Microsporócitos com placa celular centrífuga e sem depósitos de calose nos vértices. (f) Tétrade
tetragonal regular. (g) Tétrades tetragonais irregulares. (h) Tétrade decussada. (i) Tétrade em “T”. (j)
Tétrade linear. (k) Microsporócito com anel de calose. (l) Tétrade decussada. (m) Tétrade tetragonal.
(n) Tétrade em forma não definida. (o) Início da microgametogênese. (p) Grão de pólen em estágio
bicelular. (q) Grãos de pólen com exina reticulada.
cm. camadas médias; cg. célula generativa; ei. epiderme; ed. endotécio; MC.
microsporócito; nv. núcleo da célula vegetativa; tp. tapete. Barras de escala= 10 m.
Potamogeton.
P. polygonus P. illinoensis
P. pusillus
em a-d, f , i,o-p; em e, g, h,
j e q; em k-n.
m
20
2.4. DISCUSSÃO
Em Potamogeton polygonus e P. illinoensis aqui estudadas, a citocinese é
sucessiva com placas celulares centrífugas. Esta é a seqüência de desenvolvimento
mais difundida nas monocotiledôneas (FURNESS; RUDALL, 1999a; FURNESS;
RUDALL; SAMPSON, 2002; PENET et al., 2005; NADOT et al., 2006). Entretanto,
variações nesses padrões pré-estabelecidos têm sido observadas, como a co-
ocorrência de citocinese simultânea e sucessiva em microsporócitos de lóculos
diferentes de um mesmo estame (SANNIER et al., 2006), ocorrência de citocinese
intermediária - em que formação de uma parede celular efêmera (FURNESS;
RUDALL; SAMPSON, 2002), formação da parede interespórica centripetamente
(PENET et al., 2005; NADOT et al., 2006), bem como a ocorrência de mais de um
tipo de tétrade de micrósporos (PETTITT, 1981; HARDY; STEVENSON, 2000;
HARDY; STEVENSON; KISS, 2000; RESSAYRE, 2001; PENET et al., 2005; NADOT
et al., 2006; SANNIER et al., 2006).
Em P. pusillus, não foram observadas díades de micrósporos, nem foi
possível caracterizar a formação das placas celulares, indicando que talvez a
citocinese pudesse ser simultânea. Além disso, foi observado um anel de calose no
microsporócito, e menor variabilidade no tipo de tétrades (tetragonal, decussado e
poucas formas não definidas), característica também observada em algumas
Iridaceae (PENET et al., 2005), e relacionadas à citocinese simultânea. Uma das
hipóteses para explicar tal fenômeno é que esta seria uma forma de restringir os
tipos de tétrades àqueles semelhantes aos da citocinese sucessiva, canalizando,
dessa forma, a morfologia do pólen (PENET et al., 2005).
A variação no tipo de trades de Potamogeton está sendo descrita pela
primeira vez neste trabalho, com tétrades: tetragonais, decussadas, lineares, em “T”
e em formas não definidas. Variabilidade semelhante relacionada à formação de
pólen inaperturado foi relatada em espécies de Strelitzia (Strelitziaceae) por Nadot et
al. (2006), e nossos dados corroboram a hipótese desses autores de que em
espécies com pólen inaperturado ocorre a liberação da restrição no tipo de tétrade
formada, uma vez que nenhuma abertura será formada.
Em Potamogeton, como aqui verificado, a microsporogênese é um processo
muito rápido, o que dificulta a visualização de todas as suas etapas. Entretanto, a
formação das paredes entre os micrósporos parece ser um processo único, no qual
21
tanto a formação das placas celulares quanto a deposição de calose adicional
nestas ocorre simultaneamente, não sendo, portanto, observados pontos específicos
em que a deposição de calose é completada. Se esta observação se confirmar em
outras espécies, seria uma possível explicação para a ausência de aberturas no
pólen de Potamogeton.
A irregularidade na espessura da intina eventualmente observada no len
de Potamogeton polygonus e P. pusillus permitiria classificá-lo em funcionalmente
monoaperturado, como proposto por Furness e Rudall (1999b), e observado por
Wodehouse (1935) e Cranwell (1953) em outras espécies do gênero. Porém, Pettitt
e Jermy (1975), ao estudar a ultraestrutura da parede polínica de P. natans e P.
pectinatus não relatam tal espessamento. Nas espécies aqui estudadas, acredita-se
que esta característica seja um artefato de processamento, que causa a
desestruturação da estrutura fibrilar da intina.
Ainda que tal espessamento seja legítimo, este parece ocorrer em uma
grande área da intina e não apenas em um determinado ponto, de modo que talvez
o tubo polínico tenha uma ampla área de germinação. Esta observação indica que o
pólen de Potamogeton não se enquadra em nenhum dos subtipos atuais -
funcionalmente monoaperturado e omniaperturado -, e reforça a afirmação de
Furness e Rudall (1999b), de que o pólen inaperturado parece representar mais de
um caráter. Outra hipótese a ser explorada em relação a esta característica é a
possibilidade de que o espessamento ocorra em algumas espécies e em outras não,
relacionando-se aos diferentes modos de polinização.
A causa, durante o desenvolvimento, para a ausência de aberturas no grão
de pólen permanece desconhecida, e as hipóteses levantadas sugerem que seria
devido à redução ou ausência de exina (ZAVADA, 1983; FURNESS; RUDALL,
1999b). Como a formação de aberturas pode relacionar-se a mecanismos que
interrompem a deposição da primexina (HESLOP-HARRISON, 1963; WATERKEYN;
BIENFAIT, 1970; ROWLEY, 1975), é provável que estes mecanismos estejam
ausentes na formação da parede dos grãos de len inaperturados. Além disso, o
fato de o pólen inaperturado ter surgido várias vezes independentemente nas
Monocotiledôneas (FURNESS; RUDALL, 1999b) indica que a maneira como ele é
formado pode ser diferente em cada grupo e talvez esta seja a dificuldade em se
discutir o caráter inaperturado.
22
Os dados aqui apresentados para Potamogeton polygonus, P. pusillus e P.
illinoensis, sustentam a hipótese de que em grãos de pólen inaperturados uma
liberação na restrição ao tipo de tétrade. Além disso, os dados sugerem que a
ausência de aberturas no pólen de Potamogeton deve-se à deposição de calose
como um processo de apenas um passo nas paredes dos micrósporos durante a
microsporogênese, contribuindo para o conhecimento deste processo em
Potamogetonaceae e também para as demais Alismatales e monocotiledôneas.
23
3. CAPÍTULO II - DESENVOLVIMENTO FLORAL E MORFOLOGIA DO
ANDROCEU E GINECEU EM TRÊS ESPÉCIES DE Potamogeton
(POTAMOGETONACEAE, ALISMATALES)
3.1. INTRODUÇÃO
Potamogetonaceae Reichenbach está atualmente incluída em Alismatales,
ordem considerada basal dentre as Monocotiledôneas e que agrega a maior parte
das angiospermas aquáticas (APG II, 2003). Dentre as sinapomorfias florais que
sustentam a ordem, destacam-se: anteras extrorsas, carpelos com canais
completamente não fusionados e estiletes separados (STEVENS, 2008).
Tradicionalmente, a família compreende dois gêneros: Groenlandia J. Gay.,
monotípico, e Potamogeton L., com 80-100 espécies (LINDQVIST et al., 2006). Mais
recentemente, a inclusão dos gêneros Stuckenia Börner - antes considerado
subgênero Coleogeton de Potamogeton - e Zannichellia L. tem recebido suporte
morfológico (LES; HAYNES, 1996) e molecular (LES; CLELAND; WAYCOTT, 1997;
APG II, 2003; LINDQVIST et al., 2006). Outros gêneros, tradicionalmente inclusos
em Zannichelliaceae também são citados como representantes de
Potamogetonaceae (por exemplo APG II, 2003; LES; CLELAND; WAYCOTT, 1997).
Segundo Endress (2005), estudos morfológicos nas monocotiledôneas
basais têm se mostrado importantes na compreensão da evolução das
angiospermas em geral. Para Potamogetonaceae, foram realizados diversos
estudos do desenvolvimento floral em espécies de Potamogeton na tentativa de
esclarecer a natureza da unidade floral e da inflorescência do gênero (SATTLER,
1965; SINGH, 1965; POSLUSZNY; SATTLER, 1973, 1974, 1986; POSLUSZNY,
1981). A discussão foi iniciada por Kunth (1841), que considerou a unidade floral de
Potamogeton como resultado da redução de uma inflorescência composta por
quatro flores pistiladas circundadas por quatro flores estaminadas. Esta
interpretação recebeu suporte de alguns autores que consideraram como
evidências: a natureza das tépalas (interpretadas como apêndices do conectivo), os
estames opostos às tépalas, a grande distância entre as tecas da antera e a origem
bi-primordial dos estames laterais em algumas espécies - cada estame é iniciado
como dois primórdios separados, que se fundem durante o desenvolvimento
24
(KUNTH, 1841; MIKI, 1937; UHL, 1947; SINGH, 1965; POSLUSZNY; SATTLER,
1973).
Por outro lado, outros autores interpretaram a unidade floral como uma flor
simples (SINGH, 1965; SATTLER, 1965; POSLUSZNY; SATTLER; 1974;
POSLUSZNY; CHARLTON, 1986), devido ao surgimento do perianto anterior ao do
androceu, ausência de modificações na vascularização floral e origem uni -
primordial dos estames nas espécies estudadas - cada estame é iniciado com um
único primórdio.
Em Potamogeton, o androceu é constituído por quatro estames sésseis,
opostos às tépalas e com anteras extrorsas (POSLUSZNY; SATTLER, 1974;
POSLUSZNY, 1981; SUN et al., 2000). O gineceu é formado por quatro (um ou dois
em algumas espécies) carpelos livres e ascidiados, irrigados por um feixe vascular
dorsal e um ventral, e apresentando um único óvulo por carpelo (HEGELMAIER,
1870; POSLUSZNY; SATTLER, 1974; POSLUSZNY, 1981; CHARLTON;
POSLUSZNY, 1991; SUN et al., 2000). Os óvulos foram descritos como anátropos
(POSLUSZNY; SATTLER, 1974; POSLUZNY, 1981), ortótropos (IGERSHEIM;
BUZGO; ENDRESS, 2001) ou orto-campilótropos (TAKASO; BOUMAN, 1984).
O objetivo deste estudo foi estudar o desenvolvimento floral e a morfologia do
androceu e gineceu em três espécies de Potamogeton, procurando levantar
características que possam auxiliar na definição da unidade floral no gênero e na
sua taxonomia. Dentre as espécies que ocorrem no Brasil, foram selecionadas três,
utilizando-se como critérios sua distribuição e inclusão ou não em análises
filogenéticas moleculares disponíveis: Potamogeton pusillus L. é cosmopolita, P.
illinoensis Morong é endêmica do continente americano e P. polygonus Cham. et
Schltdl. é endêmica da América do Sul . Destas, apenas P. pusillus e P. illinoensis
foram incluídas nas análises filogenéticas de Lindqvist et al. (2006).
25
3.2. MATERIAL E MÉTODOS
As amostras de cada espécie foram coletadas nos municípios de Iretama
(Potamogeton. pusillus L), General Carneiro e Palmas (P. polygonus Cham. et
Schltdl.), no Estado do Paraná, e Bonito (P. illinoensis Morong), no Estado do Mato
Grosso do Sul. O material testemunho encontra-se depositado no Herbário do
Departamento de Botânica da Universidade Federal do Paraná (UPCB), aguardando
número de registro.
Inflorescências em diversos estágios de desenvolvimento foram fixadas em
glutaraldeído 1% e formaldeído 4%, em tampão fosfato de sódio 0,1 M, pH 7,2
(MCDOWELL; TRUMP, 1976), para processamento e análise em microscopia de luz
e eletrônica de varredura.
O material destinado à microscopia de luz (ML) foi incluído em
hidroxietilmetacrilato (GERRITS; SMID, 1983) e seccionado com espessura de 2-5
m. As secções foram coradas em Azul de Toluidina O 0,05% 0,1 M em tampão
fosfato de sódio pH 6,8 (O´BRIEN; FEDER; MCCULLY, 1965).
Para a análise em microscopia eletrônica de varredura (MEV), as amostras
foram lavadas em tampão fosfato de sódio 0,1 M, pH 7,2 e desidratadas em série
etílica até etanol 70%. Em seguida, as inflorescências foram dissecadas sob
estereomicroscópio e desidratadas em série de propanona e então submetidas a
ponto crítico, no aparelho BAL-TEC CPD 030. As amostras foram montadas em
suporte metálico e metalizadas com ouro no equipamento SCD 030 Balzers Union
FL 9496. As observações foram realizadas em microscópio eletrônico de varredura
Jeol JSM 6360LV.
Para a determinação do número médio de flores por inflorescência de cada
espécie foram selecionadas cinco inflorescências de cada, das quais o número de
flores foi contado com auxílio de estereomicroscópio.
26
3.3. RESULTADOS
Será apresentada uma única descrição para as três espécies estudadas,
uma vez que, em linhas gerais, estas seguiram o mesmo padrão de
desenvolvimento floral. As diferenças existentes serão salientadas ao longo do texto.
Cada inflorescência, do tipo espiga, pode apresentar número variável de
flores, em média três em Potamogeton pusillus (Fig. 1a), sete em P. polygonus (Fig.
1b) e mais de 40 em P. illinoensis (Fig. 1c). As flores são sésseis e arranjadas
compactamente, não precedidas por estruturas similares a brácteas (Fig. 1a-d), com
exceção da flor proximal, que eventualmente apresenta um primórdio diminuto, com
não mais que três camadas de lulas (Fig. 1a, e seta). O eixo da inflorescência e
as tépalas são preenchidos por aerênquima (Fig. 1d-e).
No eixo da inflorescência, os primórdios florais surgem de maneira acrópeta
e espiralada (Fig. 1f-h). No meristema floral, simultaneamente surgem os dois
primórdios de tépalas laterais, seguidos dos dois primórdios de tépalas medianas
(Fig. 1i-j). Apesar do atraso na iniciação das tépalas medianas, estas passam a
apresentar tamanho semelhante àquele das laterais ao longo do desenvolvimento
(Figs. 1k-l, 2a-c). Cada tépala é irrigada por um único feixe vascular (Fig. 2d) e se
abre na antese, expondo o androceu e gineceu (Fig. 2e).
A ordem de surgimento dos primórdios de estames segue a mesma ordem
das tépalas (Fig. 1i-j). Os estames surgem de primórdios individualizados, opostos
aos primórdios de palas (Fig. 1j-l), em dois verticilos. O verticilo externo é oposto
às tépalas laterais e, o interno oposto às tépalas medianas. Inicialmente, cada
estame uni-primordial apresenta formato alongado (Fig. 1j-k) e, posteriormente,
adquire formato bilobado (Figs 1k – seta, l, 2a).
No estágio seguinte, inicia-se a diferenciação dos microsporângios (Fig. 2a,
c). Cada estame apresenta um único feixe vascular, derivado daquele que irriga a
tépala (Fig. 2d seta). Quando maduros, os estames possuem anteras bitecas e
tetrasporangiadas, que atingem seu tamanho final antes da completa formação dos
carpelos (Fig. 2f-g). Cada estame é adnato à tépala oposta, suas anteras são
extrorsas e as tecas unidas apenas pela região mediano-basal do conectivo (Fig.
2g).
Após a iniciação dos estames, o ápice floral torna-se quadrangular e, em
seguida, são iniciados os primórdios carpelares em cada vértice (Figs 1l, 2a). Os
27
primórdios são individualizados, circulares e alternados aos primórdios estaminais
(Fig. 2a-b). Um único óvulo é formado em cada carpelo, na parede ventral, antes da
delimitação do culo do ovário (Fig. 2b seta). O carpelo é ascidiado, uma vez que
o primórdio surge como uma concavidade no meristema floral e com as margens
congenitamente fusionadas; sua parede cresce e forma a cavidade do lóculo, o
estilete curto e o estigma, sem fusão pós-genital (Fig. 2b-c, e-f, h). Após o
fechamento do carpelo, resta uma abertura em forma de fenda, mais apical em P.
pusillus e mais voltada para a porção ventral em P. polygonus (Fig. 2c, e-f, h-i).
Os carpelos maduros são livres, com estigma papiloso, que começa a
formar-se nas margens da fenda e estende-se dorsalmente (Fig. 2i-j). O tecido de
transmissão conecta a abertura em fenda do estilete ao lóculo do ovário e é pouco
diferenciado (Figs 2j, 3a). Um único feixe irriga o carpelo, bifurcando-se e originando
um ventral e outro dorsal (Fig. 2j seta). O feixe ventral irriga o óvulo, enquanto que
o dorsal termina abaixo da região estigmática (Fig. 2 j).
As papilas estigmáticas apresentam conteúdo, mas não foi observada
secreção externamente ao estigma. O estigma apresenta formato diferente em cada
espécie: em P. pusillus apresenta uma superfície ampla, com a maior razão
largura/comprimento e abertura carpelar apical e localizada no centro de uma
depressão (Fig. 3b); em P. polygonus a área superficial tem razão
largura/comprimento intermediária, com o maior diâmetro no sentido dorso-ventral e
abertura carpelar ventral localizada no centro de uma depressão profunda (Fig. 3c).
Em ambas as espécies, os estigmas são fendidos (Fig. 3d). Em P. illinoensis, no
entanto, o estigma é estreito e alongado do ápice em direção à porção ventral do
carpelo, e seu desenvolvimento será detalhado a seguir.
O desenvolvimento carpelar de P. illinoensis é similar ao das outras
espécies até o momento em que o óvulo é iniciado. O fechamento do carpelo e a
formação do estigma ocorrem de maneira distinta. A parede ventral altera-se pouco
em forma e dimensão (Fig. 3e). Por outro lado, a parede dorsal, desenvolve-se
pronunciadamente, sobrepondo-se à ventral, sendo a responsável pelo formato final
do carpelo (Fig. 3e). Como resultado desta sobreposição, a maior parte da porção
ventral do carpelo é formada pela parede dorsal (Fig. 3e). Em MEV é possível
observar que uma abertura circular é delimitada nesta região (Fig. 3f-g seta). Em
corte longitudinal do carpelo, esta abertura localiza-se logo acima da placenta (Fig.
3e).
28
A formação do estigma de P. illinoensis é iniciada no ápice do carpelo (Fig.
3f), com a diferenciação das células desta região em papilas. Tal diferenciação se
estende do ápice até a abertura, resultando em um estigma em forma de crista,
posicionado ventralmente e formado exclusivamente pela parede dorsal do carpelo
(Fig. 3g-h).
A flor das espécies de Potamogeton estudadas apresenta uma organização
simples, com filotaxia verticilada, perigônio e androceu dímeros e carpelos
tetrâmeros. Os carpelos são alternados aos estames, que por sua vez são opostos e
adnatos às tépalas (Fig. 3i). Não foi observada variação de número e posição no
perigônio ou androceu. Porém, os carpelos surgiram eventualmente opostos aos
estames e apresentaram alguma variação em número, especialmente em flores
distais na inflorescência. Em P. polygonus, apenas uma flor com cinco carpelos foi
observada e em P. pusillus, flores com três e cinco carpelos foram observadas com
baixa freqüência. Potamogeton illinoensis apresentou maior freqüência de variações
na ordem e no número dos carpelos, variando de um a cinco; por vezes uma mesma
inflorescência apresentou flores com um a quatro carpelos.
Os carpelos encontram-se próximos uns aos outros (Figs 2e, 3j), de modo
que seus estigmas podem tornar-se contíguos. Logo após a antese, os carpelos
divergem e tal contato é desfeito (Fig. 3c). Em P. illinoensis, devido à proximidade
dos carpelos (Fig. 3j) e a forma dos estigmas o contato entre os últimos é maior e se
dá na porção mais ventral de cada carpelo.
Foram observados grãos de len nos estigmas de flores em antese, com
tubos polínicos desenvolvidos, indicando a receptividade do estigma (Fig. 3k). A
deiscência das anteras é longitudinal e ocorre concomitante à receptividade dos
estigmas (Fig. 3c).
32
3.4. DISCUSSÃO
Nas inflorescências de Potamogeton illinoensis, P. polygonus e P. pusillus
aqui estudadas, a ordem de iniciação dos primórdios nas flores foi a mesma: tépalas
laterais simultaneamente, seguidas das palas medianas, estames laterais,
estames medianos e finalmente, quatro primórdios carpelares. Este padrão foi
também observado em Potamogeton richardsonii, P. zosteriformis e P. distinctus
(POSLUSZNY; SATTLER, 1974; POSLUSZNY, 1981; SUN et al., 2000). Segundo
Charlton e Posluszny (1991), em P. berchtoldi, P. compressus, P. epihydrus e P.
lucens, após o surgimento simultâneo dos primórdios laterais, a tépala adaxial surge
antes da abaxial, bem como o estame adaxial surge antes do abaxial. Esta variação
é resultante de atraso na iniciação dos órgãos abaxiais e também pode estar
relacionada à organização compacta das flores no eixo da inflorescência.
Em Potamogeton, apesar de os dados moleculares (LINDQVIST et al.,
2006) mostrarem que o gênero se divide em dois clados maiores, que correspondem
em grande parte às espécies de folhas lineares e às de folhas largas de Raunkiær
(1896), as relações dentro desses grupos ainda não estão bem resolvidas. Uma vez
que ambos os padrões de iniciação dos órgãos florais descritos em Potamogeton
encontram-se distribuídos tanto no clado I como no II de Lindqvist et al. (2006), não
foi possível correlacionar nenhum dos padrões a quaisquer subgrupos dentro do
gênero, indicando que ambos são conservados . Porém, o número de espécies de
que se m disponíveis dados de desenvolvimento floral é reduzido se comparado
ao número que compõe o gênero. Potamogeton polygonus e P. berchtoldii
(CHARLTON; POSLUSZNY, 1991), de que se têm disponíveis tais dados, não foram
incluídas em análises moleculares até o momento, o que dificulta uma comparação
mais acurada.
Em Groenlandia densa (L.) Fourr. (=Potamogeton densus, POSLUSZNY;
SATTLER, 1973) também foi observado o surgimento simultâneo dos primórdios de
tépalas laterais, bem como dos estames laterais, mas o padrão de iniciação difere
dos relatados para os demais representantes de Potamogetonaceae. Em
Groenlandia, o primeiro órgão a surgir é a tépala abaxial, seguida das duas laterais
e, finalmente da adaxial; os estames seguem a mesma ordem. Uma vez que G.
densa apresenta uma posição ancestral em relação à Potamogeton (LINDQVIST et
al., 2006), o surgimento simultâneo das tépalas laterais e dos estames laterais nos
33
dois gêneros é uma característica interessante e aparentemente conservada na
família. Isto também foi observado nas espécies do presente estudo e em P. crispus,
P. richardsonii, P. zosteriformis, P. berchtoldi, P. compressus, P. epihydrus, P.
lucens e P. distinctus (HEGELMAIER, 1870; POSLUSZNY; SATTLER, 1974;
POSLUSZNY, 1981; CHARLTON; POSLUSZNY, 1991; SUN et al., 2000). A ordem
diferente de iniciação dos órgãos florais em Potamogeton e Groenlandia fornece
suporte morfológico adicional à separação de ambos em gêneros diferentes.
Dentre os gêneros que podem ser incluídos em Potamogetonaceae,
destaca-se Zannichellia, que têm sido incluído na família principalmente com base
em análises moleculares (LES; CLELAND; WAYCOTT, 1997; APG II, 2003;
LINDQVIST et al., 2006), mas sua morfologia floral difere muito da apresentada por
Potamogeton e Groenlandia, de modo que os dados de desenvolvimento floral
disponíveis ainda são insuficientes para subsidiar comparações.
A interpretação da filotaxia floral de Potamogeton aqui descrita, com
perigônio e androceu formado por dois verticilos dímeros e gineceu formado um
verticilo tetrâmero implica na possibilidade de Potamogeton possuir primariamente
uma flor completa, hipótese aparentemente não levantada por autores anteriores
para este gênero. Dessa forma, cada verticilo surge alternadamente ao anterior. O
primeiro verticilo de tépalas corresponderia ao lice dímero e alternado a este, o
segundo verticilo de tépalas corresponderia à corola dímera. Na seqüência,
alternado à corola, surge o verticilo de estames externos, e alternadamente a este,
surge o verticilo de estames internos. A adnação entre os estames e tépalas ocorre
pós-genitalmente. Interpretação semelhante foi dada por Chen et al. (2007) para o
merisma de Tetracentron sinense (Trochodendraceae), em que a flor apresenta
morfologia e ordem de iniciação dos verticilos semelhante à apresentada por
Potamogeton, entretanto estes autores não especularam a natureza das tépalas
naquela espécie.
A filotaxia floral observada no presente estudo favorece a interpretação da
unidade floral de Potamogeton como uma flor (SATTLER, 1965; POSLUSZNY;
SATTLER, 1973, 1974; CHARLTON; POSLUSZNY, 1991). Vale ressaltar como
outras características observadas também em favor desta hipótese: a origem uni-
primordial de todos os estames, a ausência de apêndices iniciados antes dos
carpelos (bractéolas) e a vascularização de tépalas e estames. Estes dados somam-
se aos de outros estudos de desenvolvimento floral que também levantaram fortes
34
evidências de que a unidade floral de Potamogeton é realmente uma flor. Por
exemplo, Singh (1965), em estudo realizado com oito espécies de Potamogeton,
observou que a vascularização floral é a de uma flor, com as tépalas recebendo um
único e exclusivo feixe, como um membro de perianto.
Em Groenlandia densa (POSLUSZNY; SATTLER, 1973) e P. zosteriformis
Fern. (POSLUSZNY, 1981) os estames laterais surgem como dois primórdios
independentes que se fundem rapidamente, originando um primórdio alongado como
nas demais espécies. Este fenômeno também foi relatado por Hegelmaier (1870) em
Potamogeton crispus, porém Posluszny e Sattler (1973) afirmaram que os estames
não eram claramente bi-primordiais nas imagens apresentadas por Hegelmaier
(1870). Posluszny e Sattler (1973) consideraram que os estames bi-primordiais
poderiam ser uma evidência para corroborar a hipótese de que o estame seria uma
flor estaminada reduzida. Entretanto, a vascularização de P. densus e P.
zosteriformis é semelhante àquela das demais espécies. E, nas demais espécies
estudadas, todos os estames são iniciados como primórdios individualizados
(POSLUSZNY; SATTLER 1974; CHARLTON; POSLUSZNY, 1991; SUN et al.,
2000).
Potamogeton illinoensis apresenta características que o distinguem das
duas outras espécies estudadas, tais como maior número de inflorescências por flor,
maior freqüência de variação no número e posição dos carpelos, bem como
fechamento do carpelo e formação do estigma de maneira distinta. Vale ressaltar
que a forma como o carpelo se fecha, a posição da abertura carpelar e formação do
estigma não foram relatadas nas demais espécies de Potamogeton estudadas até o
presente. Estas características assemelham-se às apresentadas por Troll (1932)
para Thalictrum flavum (Ranunculaceae), mas em P. illinoensis, a posição da
abertura carpelar é tal que a distância da abertura até o óvulo é muito reduzida.
No presente estudo foi constatada uma contigüidade entre os estigmas de
cada carpelo na flor, que pode ocorrer com maior (P. illinoensis) ou menor
freqüência (P. pusillus e P. polygonus). Esta organização assemelha-se ao
compitum extragynoecial, definido por Endress (1980) como uma zona externa ao
carpelo onde os tubos polínicos podem cruzar de um carpelo ao outro. Esta
estrutura é relativamente comum nas Angiospermas basais (Amborellaceae,
Austrobaileyaceae, Schisandraceae, Illiciaceae e algumas Nympheaceae;
ENDRESS; IGERSHEIM, 2000) e se diferencia de maneiras variadas. Ainda que tal
35
continuidade entre os estigmas ocorra eventualmente em P. polygonus e P. pusillus,
a proximidade entre eles e a maior área estigmática, em comparação à P. illinoensis,
provavelmente favorecem a captura de um maior número de grãos de pólen,
refletindo estratégias diferentes de potencializar a polinização.
A partir dos resultados aqui apresentados para Potamogeton pusillus, P.
illinoensis e P. polygonus, foram identificados como caracteres potenciais para a
taxonomia de Potamogeton: a forma do estigma e a posição e forma da abertura
carpelar. Além disso, a posição da abertura carpelar e interação entre os estigmas
em Potamogeton illinoensis são dados inéditos para a família que podem auxiliar no
conhecimento e futuros estudos de biologia reprodutiva da espécie. Os resultados
também corroboram e aprofundam a hipótese de que a unidade floral de
Potamogeton é uma flor.
36
4. CAPÍTULO III - CONTRIBUIÇÃO À EMBRIOLOGIA DE Potamogeton
(POTAMOGETONACEAE, ALISMATALES)
4.1. INTRODUÇÃO
Alismatales é uma ordem de Monocotiledôneas que contem a maior parte
das angiospermas aquáticas (LES; HAYNES, 1995). É constituída por 14 famílias
(APG II, 2003; CHASE, 2004) e como sinapomorfias embriológicas destacam-se:
tapete do tipo plasmodial formado por células uninucleadas, endosperma do tipo
helobial e embrião grande e clorofilado (JUDD et al., 2008; STEVENS, 2008).
Dentre as Alismatales, destaca-se Potamogetonaceae Reinchenbach,
família subcosmopolita, constituída pelos gêneros Groenlandia J. Gay, Stuckenia
Börner e Potamogeton L., que juntos somam cerca de 100 espécies distribuídas
principalmente em regiões temperadas do Hemisfério Norte (HAYNES; HOLM-
NIELSEN, 2003). A família é tradicionalmente associada à Ruppiaceae Horan.,
Zannichelliaceae Dumort., e Zosteraceae Dumort. (HAYNES; HOLM-NIELSEN,
2003).
Potamogeton L. contém aproximadamente 95 espécies, das quais oito
(HAYNES; HOLM-NIELSEN, 2003) são citadas para o Brasil. São características
florais do gênero: flores emersas ou imersas com quatro tépalas, quatro estames e
um ou quatro carpelos (HAYNES; HOLM-NIELSEN, 2003).
Segundo a circunscrição de Potamogetonaceae adotada na compilação de
Johri, Ambegaokar e Srivastava (1992), foram descritas como características
embriológicas da família: parede da antera constituída por epiderme persistente e
com taninos, endotécio com ou sem espessamentos fibrosos e tapete
periplasmodial; a microsporogênese é sucessiva e resulta em trades lineares; os
grãos de pólen são inaperturados ou tricolpados, podendo ser filiformes,
aparentemente sem exina e dispersos com duas ou três células; o óvulo é anátropo,
ortótropo, campilótropo ou ainda orto-campilótropo, bitégmico e crassinucelado, e o
saco embrionário é do tipo Polygonum. No entanto, nesta circunscrição estavam
incluídos gêneros atualmente posicionados em Cymodoceaceae e Zosteraceae.
Haynes e Holm-Nielsen (2003) acrescentaram ainda que o tipo de formação da
parede da antera é aparentemente desconhecido.
37
Como caracteres embriológicos de Potamogeton, são citados: endotécio
com espessamentos fibrosos (JOHRI; AMBEGAOKAR; SRIVASTAVA, 1992);
células do tapete predominantemente uninucleadas (HAYNES; HOLM-NIELSEN,
2003); microsporogênese sucessiva, com tétrades geralmente isobilaterais
(HAYNES; HOLM-NIELSEN, 2003); pólen tricelular (HAYNES; HOLM-NIELSEN,
2003); primórdio ovular trizonado (TAKASO; BOUMAN, 1984); óvulo orto-
campilótropo (TAKASO; BOUMAN, 1984), ortótropo (DAVIS, 1966; IGERSHEIM;
BUZGO, 2001) ou anátropo (POSLUSZNY; SATTLER, 1974; POSLUZNY, 1981),
bitegumentados e crassinucelados (TAKASO; BOUMAN, 1984; JOHRI;
AMBEGAOKAR; SRIVASTAVA, 1992); megásporos arranjados em tétrades lineares
ou em T” (JOHRI; AMBEGAOKAR; SRIVASTAVA, 1992); saco embrionário
Polygonum (TAKASO; BOUMAN, 1984); e endosperma do tipo helobial (JOHRI;
AMBEGAOKAR; SRIVASTAVA, 1992).
O presente estudo teve por objetivo acompanhar a organogênese da antera
e do óvulo, com ênfase na microsporogênese e microgametogênese e na
megasporogênese e megagametogênese de três espécies de Potamogeton
ocorrentes no Brasil: Potamogeton illinoensis, P. polygonus e P. pusillus. Espera-se,
com isso, contribuir para o conhecimento da embriologia do gênero e da família
como um todo.
4.2. MATERIAL E MÉTODOS
As amostras de cada espécie foram coletadas nos municípios de Iretama
(Potamogeton. pusillus L), General Carneiro e Palmas (P. polygonus Cham. et
Schltdl.), no Estado do Paraná, e Bonito (P. illinoensis Morong), no Estado do Mato
Grosso do Sul. O material testemunho encontra-se depositado no Herbário do
Departamento de Botânica da Universidade Federal do Paraná (UPCB), aguardando
número de registro.
Inflorescências em diversos estágios de desenvolvimento foram fixadas em
glutaraldeído 1% e formaldeído 4%, em tampão fosfato de sódio 0,1 M, pH 7,2
(MCDOWELL; TRUMP, 1976), para processamento e análise em microscopia de luz
e eletrônica de varredura.
O material destinado à microscopia de luz (ML) foi incluído em
hidroxietilmetacrilato (GERRITS; SMID, 1983) e seccionado com espessura de 2-5
38
m. As secções foram coradas em Azul de Toluidina O 0,05% 0,1 M em tampão
fosfato de sódio pH 6,8 (O´BRIEN; FEDER; MCCULLY, 1965).
Foram realizados os seguintes testes histoquímicos em secções de anteras
maduras: reação com IKI, para amido (JOHANSEN, 1940); Coomassie Brilliant Blue
0,25% em ácido acético 7%, para detecção de proteínas totais (SOUTHWORTH,
1973); Vermelho de Rutênio, para detecção de ácidos pécticos (JENSEN, 1962);
Calcofluor White, sob fluorescência, para identificação de celulose (RUZIN, 1999);
Azul de Anilina, sob fluorescência, para identificação de calose. As observações em
microscópio de epifluorescência foram realizadas no equipamento Zeiss Axiophot,
com filtro Dapi (excitação em 365 nm, emissão em 420 nm).
Para os testes com Sudan III, para a identificação de lipídeos totais
(O´BRIEN; MCCULLY, 1981), e com Floroglucinol acidificado, para identificação de
lignina (JOHANSEN,1940), as anteras fixadas foram lavadas em tampão fosfato 0,1
M, pH 7,2 e maceradas entre lâmina e lamínula com o reagente.
4.3. RESULTADOS
4.3.1. Organogênese da antera, microsporogênese e microgametogênese
Em corte longitudinal da flor das espécies de Potamogeton estudadas,
observa-se que o primórdio de estame surge como uma pequena expansão de
células indiferenciadas, logo acima da tépala (Fig. 1a-b). A protoderme sofre
divisões anticlinais acompanhando o crescimento do órgão e suas células se
diferenciam, diretamente, na epiderme (Fig. 1b–e). O meristema fundamental origina
o tecido parenquimático do conectivo da antera e a células arquesporiais (Fig. 1b-d),
enquanto o procâmbio fica limitado a um grupo de células de citoplasma mais denso
na região central do primórdio e daorigem a um feixe vascular no conectivo (Fig.
1c).
A diferenciação do tecido do conectivo inicia nas células centrais, mais
próximas ao procâmbio, com a formação de vacúolos e o aumento em seu volume
(Fig. 1c). Neste mesmo estágio, ocorre a vacuolação das células medianas para a
formação dos septos que separam os microsporângios de cada teca (Fig. 1c-e). A
formação das camadas da parede de cada microsporângio inicia-se com a
diferenciação das células arquesporiais em camada esporogênica e camada parietal
39
primária (Fig. 1d-e). As lulas da camada parietal primária dividem-se
periclinalmente, originando duas camadas parietais secundárias (Fig. 1f-g); a
externa diferencia-se em endotécio, e a interna divide-se periclinalmente, originando
duas camadas (Fig. 1g), das quais a interna diferencia-se em tapete (Figs 1h, 2a) e
a externa divide-se novamente para formar duas a três camadas dias (Figs 1h,
2a). As células do tecido esporogênico, após alguns ciclos de divisões mitóticas,
diferenciam-se nos microsporócitos (Figs 1e-h, 2a).
Durante a meiose dos microsporócitos, as camadas médias, que
inicialmente, possuíam células alongadas e justapostas, são obliteradas (Fig. 2a-b).
O tapete é predominantemente uniestratificado, com lulas de formato irregular e
uninucleadas (Fig. 2a), podendo apresentar dois núcleos (P. polygonus). As células
do tapete desprendem-se umas das outras, adquirem forma amebóide e migram
para o interior do lóculo, caracterizando o tapete do tipo plasmodial (Fig. 2a-d). Em
P. illinoensis, algumas células do tapete sofrem divisões mitóticas adicionais,
formando até quatro camadas celulares em algumas regiões do tecido. Notou-se,
durante a meiose e também na fase de micrósporos livres, a presença de uma
matriz na periferia de cada microsporângio, derivada das células do tapete - o
periplasmódio - que desaparece antes da primeira divisão mitótica do micrósporo
(Fig. 2e).
No início da meiose, os microsporócitos assumem formato arredondado
(Fig. 2a). Dentre as fases da meiose dos microsporócitos, foram observadas prófase
I, anáfase I, telófase I e telófase II (Fig. 2b-d). A citocinese meiótica é sucessiva,
formando, inicialmente, díades com uma parede delgada de calose e após a meiose
II, tétrades predominantemente tetragonais e decussadas e, com menor freqüência
tétrades em “T”, lineares em formatos irregulares (Fig. 2c-e).
Durante a microgametogênese, o endotécio apresenta células grandes,
poliédricas, com espessamentos celulósicos em bandas nas paredes celulares (Fig.
2f). O início da microgametogênese é marcado pela formação de um grande vacúolo
no micrósporo, empurrando o núcleo em direção à parede (Fig. 2f-g). A primeira
divisão mitótica é desigual, originando uma célula generativa lenticular, periférica e
menor que a célula vegetativa, ambas separadas por suas paredes celulares (Fig.
2h). Em um estágio posterior, observa-se que a célula vegetativa engloba a
generativa e, finalmente, a lula generativa sofre divisão mitótica, resultando em
duas células espermáticas (Fig. 2i). O grão de pólen é apolar, esférico a oval,
40
inaperturado (Fig. 2i-j), com exina reticulada e intina pécto-celulósica. Antes da
deiscência, os microsporângios de cada teca coalescem, após a degeneração do
septo (Fig. 2j).
FIGURA 2 -
(a)
. (b) .
(c) (d)
. (e)
. (f) Micrósporos livres. (g)
. (h) Grão de pólen imaturo bicelular. (i) G
. (j)
.
Barras de escala = 20 m em a; 30
Potamogeton.
.
m em j; 10 m nas
demais imagens.
m m m
Microsporogênese e microgametogênese em em a, f;
em e, g, j; nas demais imagens Antera antes da meiose apresentando as
camadas parietais diferenciadas Microsporócitos em anáfase I, células do tapete uninucleadas
Telófase 1, díades de micrósporos separados por parede de calose fina (seta). Tétrades de
micrósporos em telófase II, tapete com células binucleadas migrando para interior do lóculo
Tétrades de micrósporos em intérfase, com perisplamódio derivado das células do tapete ao seu
redor Início da microgametogênese, núcleo do micrósporo foi deslocado
para junto da parede por um vacúolo grande rão de pólen
tricelular, com células espermáticas próximas ao núcleo da célula vegetativa Antera antes da
deiscência, septo entre os esporângios ausente e endotécio com espessamentos em banda cg.
célula generativa; cm. camada média; cv. célula vegetativa; ed. endotécio; ei. epiderme; esp. células
espermáticas; MC. microsporócito; nv. núcleo da célula vegetativa; pr. periplasmódio; td. tétrade
decussada; tp. tapete; tt. tétrade tetragonal.
P. iilinoensis P.
pusillus P. polygonus
43
4.3.2. Organogênese do óvulo, megasporogênese e megagametogênese
O gineceu é tetracarpelar, apocárpico e um único óvulo é iniciado na parede
ventral de cada carpelo (Fig. 3a). O óvulo se inicia como um primórdio trizonado, que
cresce inicialmente no sentido horizontal, preenchendo todo o culo (Fig. 3a-c). o
formados dois tegumentos, constituídos por duas camadas de lulas,
eventualmente três, especialmente na região próxima à calaza (Fig. 3b-d).
À medida que o óvulo se desenvolve, observa-se uma acentuação em sua
curvatura (Fig. 3c-f). Esta curvatura ocorre devido a um maior desenvolvimento da
porção superior do óvulo, bem como devido ao desenvolvimento do carpelo, que, à
medida que cresce, libera espaço na porção superior do lóculo, o que permite que o
óvulo se acomode (Fig. 3c-f). A micrópila é delimitada apenas pelo tegumento
interno, que sofre um espessamento nessa região (Fig. 3g). Em estágios posteriores
observou-se a proliferação do tecido na região mediana da parede ventral do
carpelo, na interface entre a parede e o funículo (Fig. 3h). Esta proliferação
pressiona a região funicular, acentuando a curvatura do óvulo. O óvulo maduro é
campilótropo, crassinucelado e bitegumentado (Fig. 3f-h).
O megasporócito diferencia-se após o início da divisão dos tegumentos e
apresenta um núcleo grande e conspícuo (Fig. 3c). A meiose I resulta em uma díade
de células. A meiose II ocorre normalmente na célula calazal, produzindo dois
megásporos (Fig. 4a). Na díade micropilar, a meiose II é interrompida antes de a
divisão ser completada (Fig. 4a), esta célula degenera-se rapidamente, seguida do
megásporo adjacente (Fig. 4b). O megásporo funcional é o calazal (Fig. 4b).
A megagametogênese constitui-se de três ciclos de divisões mitóticas
sucessivas, que resultam na formação de um saco embrionário do tipo Polygonum
(Fig. 4c-f), com sete células: duas sinérgides (Fig. 4f) e uma oosfera (Fig. 4g) no pólo
micropilar, três antípodas efêmeras no pólo calazal (Fig. 4g) e a célula central, com
dois núcleos polares, que se fundem antes da fertilização (Fig. 4f-g). Devido à
curvatura do óvulo, os núcleos e consequentemente as células do megagametófito
ficam em níveis diferentes, dificultando sua visualização.
Foram observados grãos de pólen germinando na região periférica do
estigma, mas não foi acompanhada a fertilização (Fig. 4i).
46
4.4. DISCUSSÃO
As características da formação da parede da antera nas espécies de
Potamogeton aqui estudadas permitem classificá-la como tipo monocotiledôneo, ou
seja, modelo em que a camada parietal secundária interna divide-se e origina a(s)
camada(s) média(s) e o tapete (DAVIS, 1966). Apesar de Haynes e Holm-Nielsen
(2003) afirmarem que o tipo de parede da antera é desconhecido em Potamogeton,
em 1899, Wiegand descreveu o desenvolvimento desta em P. foliosus, de maneira
distinta da apresentadas aqui: a partir de dois ciclos de divisão em apenas uma
célula hipodermal em cada microsporângio, a partir das quais se originariam, através
de divisões periclinais, três camadas: endotécio, uma camada média e tapete.
No presente estudo foi constatada a formação de espessamentos em
bandas, de origem pécto-celulósica, nas células do endotécio na fase de
micrósporos livres. Apesar da presença e forma dos espessamentos corroborarem
os dados disponíveis para Potamogeton (JOHRI; AMBEGAOKAR;
SRIVASTAVA,1992; HAYNES; HOLM-NIELSEN, 2003), sua natureza não havia sido
esclarecida até o momento.
Devido à perda das paredes celulares e à fusão dos protoplastos, o tapete
nas espécies de Potamogeton aqui estudadas foi classificado como plasmodial, em
concordância com Furness e Rudall (2001). Esse dado corrobora a afirmação de
que todas as Alismatales estudadas apresentam esse tipo de tapete, com exceção
de Tofieldia (Toelfidiaceae Takht.) (FURNESS; RUDALL, 1999a).
As células do tapete de P. polygonus aqui estudadas são binucleadas,
característica também relatada para P. natans por Haynes e Holm-Nielsen (2003).
Estes mesmos autores também afirmam que tapete com células uninucleadas é o
predominante em Potamogeton. Vale ressaltar que Stevens (2008) considera a
presença de células uninucleadas no tapete uma sinapomorfia de Alismatales.
A muito discutida curvatura do óvulo em Potamogeton, aqui foi interpretada
no presente estudo como campilótropa, tendo em vista que o saco embrionário é
curvado no óvulo maduro (CORNER, 1976) e que o tegumento externo desenvolve-
se de maneira semelhante nas regiões da rafe e da anti-rafe. Davis (1966) e
Igersheim, Buzgo e Endress (2001) interpretaram o óvulo de Potamogeton como
ortótropo, mas uma vez que neste tipo de óvulo o funículo, a calaza, o nucelo e a
micrópila encontram-se alinhados em uma reta, esta classificação não é adequada
47
(BOUMAN, 1984). Da mesma forma, a classificação do óvulo de Potamogeton em
anátropo (POSLUSZNY; SATTLER, 1974; POSLUZNY, 1981) não é consistente,
considerando que neste tipo de óvulo, a inversão de 180° do nucelo e conseqüente
curvatura do óvulo é ocasionada apenas pelo crescimento intercalar do funículo, não
afetando o saco embrionário e que o tegumento externo é menos desenvolvido na
região da rafe. Takaso e Bouman (1984) propuseram, para P. natans, classificar o
óvulo como orto-campilótropo, por considerá-lo inicialmente ortótropo e orientado
quase horizontalmente e somente após a megasporogênese curvar-se em direção à
base do carpelo, apesar de recomendar o uso facultativo do prefixo orto-. Nas três
espécies aqui estudadas, a curvatura inicia-se antes da meiose do megasporócito,
com um maior desenvolvimento da porção funicular e calazal.
Na megasporogênese das três espécies de Potamogeton aqui estudadas foi
constatada uma falha da célula micropilar da díade em se dividir, resultando em uma
tríade de megásporos, de modo que a observação de tétrades em “Trelatada por
Johri, Ambegaokar e Srivastava (1992) parece pouco provável. Fenômeno
semelhante também foi relatado em P. natans por Takaso e Bouman (1984) e em
Tofieldia glutinosa (Tofieldiaceae) (HOLLOWAY E FRIEDMAN, 2008), recentemente
posicionada próxima às Alismatales por análises filogenéticas moleculares (APG II,
2003; SOLTIS; GITZENDANNER; SOLTIS, 2007).
Dentre os dados aqui apresentados, os seguintes diferem das informações
fornecidas por Johri, Ambegaokar e Srivastava (1992) para Potamogetonaceae:
endotécio com espessamentos pécto-celulósicos; presença de tétrades
predominantemente tetragonais e decussadas ao final da microsporogênese; grãos
de pólen inaperturados, esféricos a ovais, com exina reticulada e dispersos com três
células; óvulo campilótropo. Tais diferenças se devem à utilização de uma
circunscrição antiga naquele trabalho e a informações embriológicas fragmentadas
para a família após as modificações na circunscrição desta propiciadas por análises
filogenéticas moleculares. Mas ainda não se tem informações sobre aspectos
embriológicos para os demais gêneros de Potamogetonaceae.
Os dados aqui apresentados foram uniformes para as três espécies de
Potamogeton estudadas, podendo-se concluir que os caracteres estudados são
conservados nestas espécies, independente de sua segregação em diferentes
clados nas análises filogenéticas moleculares de Lindqvist et al. (2006). Além disso,
48
uma descrição detalhada da formação da parede antera de Potamogeton é fornecida
pela primeira vez.
49
5. CONCLUSÃO
No capítulo I foi possível verificar que, em Potamogeton, a ocorrência de
tétrades de micrósporos em formatos variados após a microsporogênese, indicando
uma liberação na restrição do formato possivelmente relacionada à ausência de
aberturas no grão de pólen. Além disso, a formação das placas celulares e
deposição de calose adicional nestas ocorre simultaneamente, não deixando pontos
específicos de término de deposição de calose adicional, um provável motivo para a
ausência de aberturas no pólen de nos representantes deste gênero.
Eventualmente, foram observados pontos de espessamento na intina do
pólen das espécies de Potamogeton aqui estudadas, mas este fenômeno foi
interpretado como artefato de processamento, devido a sua baixa ocorrência. Para
verificar os possíveis locais em que o tubo polínico pode germinar em Potamogeton,
análises em MET de grãos de pólen germinados seriam muito úteis. Uma vez que
outras características também apresentam um papel importante no desenvolvimento
de aberturas e ainda se sabe pouco sobre a ausência de aberturas, e este caráter
surgiu diversas vezes na história das Angiospermas, estudos de desenvolvimento e
MET no grupo poderiam fornecer evidências importantes sobre este processo.
No capítulo II, verificou-se que a unidade floral de Potamogeton
corresponde mais provavelmente a uma flor, com filotaxia verticilada: perigônio
dímero, androceu dímero e gineceu tetrâmero. Ao se comparar a ordem de iniciação
dos órgãos florais das três espécies aqui estudadas, com os dados disponíveis na
bibliografia, foi possível distinguir dois padrões e concluir que o surgimento
simultâneo das tépalas laterais é conservado no gênero e em Groenlandia, porém
nenhum dos padrões pôde ser correlacionado a clados específicos dentro de
Potamogeton. Seria interessante estudar a ordem de iniciação dos órgãos florais em
espécies de Stuckenia (anteriormente subgênero Coleogeton de Potamogeton), para
verificar se existem diferenças que possam oferecer suporte morfológico à elevação
deste grupo à categoria de gênero, conforme proposto por alguns autores. Além
disso, a forma do estigma e a posição e forma da abertura carpelar foram
identificados como caracteres potenciais para a taxonomia do gênero.
No capítulo III, foram fornecidas informações inéditas sobre a embriologia
de Potamogeton, como parede da antera do tipo monocotiledôneo; espessamentos
do endotécio de natureza pécto-celulósica; presença de tétrades
50
predominantemente tetragonais e decussadas ao final da microsporogênese; óvulo
campilótropo; falha da célula micropilar da díade de megásporos em se dividir,
resultando em uma tríade. Estas informações foram uniformes para as três espécies
e contribuem para um melhor conhecimento da embriologia de Potamogetonaceae
como um todo e auxiliam no esclarecimento de divergências ocasionadas pela
utilização de circunscrições antigas da família. Contudo, dados sobre a embriologia
dos demais gêneros desta família permanecem incompletos ou desconhecidos.
51
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dissertações, monografias e trabalhos acadêmicos. In: Normas para apresentação
de documentos científicos. 2. ed. Curitiba: Editora UFPR, 2007.
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