O Brasil foi descoberto por Portugal num contexto histórico marcado pela competição
de nações entre si por maiores riquezas e pela descoberta do caminho para as Índias,
no auge da expansão mercantilista (FAORO, 1989, p. 99)
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. O Estado português atuava
como patrocinador de atividades comerciais, confundindo-se com o empresário:
A descoberta do Brasil entrelaça-se na ultramarina expansão comercial
portuguesa. Episódio, bem verdade, perturbador e original, incapaz de
se articular totalmente nas navegações africanas e asiáticas. Diante do
português emergiu não apenas um mundo novo, mas também um
mundo diferente, que deveria, além da descoberta, suscitar a invenção
de modelos de pensamento e de ação. O primeiro golpe de vista,
embaraçado com a realidade exótica, irredutível aos esquemas
tradicionais, apenas revelou a esperança de novos caminhos dentro do
pisado quadro mercantilista. O descobridor, antes de ver a terra, antes
de estudar as gentes, antes de sentir a presença da religião, queria
saber de ouro e prata. (FAORO, 1989, p. 99)
Os primeiros anos após o descobrimento são tempos de povoação; tempos de
conquista, de posse da terra; da venda da imagem de terra dos sonhos àquela “gente,
desprezada, faminta, esfarrapada, expulsa dos campos, não aquinhoada pelos nobres
altivos ou pelos comerciantes, [...] para ela era necessário, em favor da tranqüilidade de
todos, um escoadouro” (FAORO, 1989, p. 101). E o escoadouro foi a nova terra,
carente de gente que a povoasse. A expansão da população significava assegurar a
posse e a defesa do território, mas na medida em que crescia a população fazia-se
necessária a criação de uma estrutura colonizadora, representativa do reino. A Coroa
não confiou este papel aos mercantilistas e sim às pessoas próximas ao trono,
burocratas e militares, mantendo assim as mesmas características presentes na Corte.
Formou-se então, no Brasil, uma estrutura social semelhante à da Corte, dividida lá
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Para descrever esse início da ação do Estado no Brasil, utiliza-se aqui a obra de Raymundo Faoro, “Os Donos do Poder”. FAORO,
Raymundo. Os donos do poder: formação do patronato político brasileiro. 8a. Ed. Rio de Janeiro, Globo, 1989
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