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UNIVERSIDADE TECNOLÓGICA FEDERAL DO PARANÁ
PR
UNIVERSIDADE TECNOLÓGICA FEDERAL DO PARANÁ
CAMPUS DE CURITIBA
DEPARTAMENTO DE PESQUISA E PÓS-GRADUAÇÃO
PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM ENGENHARIA MECÂNICA
E DE MATERIAIS - PPGEM
ANDRE DIOGO MOSCHETO
DESENVOLVIMENTO DE UM CONJUNTO DE
DIRETRIZES E FERRAMENTA COMPUTACIONAL
PARA ENDEREÇAR O PARÂMETRO DE
MANTENABILIDADE NO PDP
DISSERTAÇÃO
CURITIBA
2009
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ANDRE DIOGO MOSCHETO
DESENVOLVIMENTO DE UM CONJUNTO DE
DIRETRIZES E FERRAMENTA COMPUTACIONAL
PARA ENDEREÇAR O PARÂMETRO DE
MANTENABILIDADE NO PDP
Dissertação apresentada como requisito parcial
à obtenção do título de Mestre em Engenharia,
do Programa de Pós-Graduação em
Engenharia Mecânica e de Materiais, Área de
Concentração em Engenharia de Manufatura,
do Departamento de Pesquisa e Pós-
Graduação, do Campus de Curitiba, da
UTFPR.
Orientador: Prof. Carlos Cziulik, Ph. D.
CURITIBA
NOVEMBRO - 2009
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TERMO DE APROVAÇÃO
ANDRE DIOGO MOSCHETO
DESENVOLVIMENTO DE UM CONJUNTO DE
DIRETRIZES E FERRAMENTA COMPUTACIONAL
PARA ENDEREÇAR O PARÂMETRO DE
MANTENABILIDADE NO PDP
Esta Dissertação foi julgada para a obtenção do título de mestre em engenharia,
área de concentração em engenharia de manufatura, e aprovada em sua forma final
pelo Programa de Pós-graduação em Engenharia Mecânica e de Materiais.
_________________________________
Prof. Giuseppe Pinttaúde, Dr. Eng.
Coordenador de Curso
Banca Examinadora
______________________________ ______________________________
Prof. Nelson Back, Ph.D. Prof. Osíris Canciglieri Júnior, Ph. D.
(UFSC) (PUC-PR)
______________________________ ______________________________
Prof. José Aguiomar Foggiatto, Dr. Eng. Prof. Carlos Cziulik, Ph. D
(UTFPR) (UTFPR)
Curitiba, 26 de novembro de 2009
BIOGRAFIA DO AUTOR
Andre Diogo Moscheto, nascido em 1979, é formado como Técnico Mecânico
no CEFET-PR (1999) tendo recebido um Diploma de Menção Honrosa por haver se
distinguido como melhor aluno de curso. Em 2004, formou-se como Engenheiro de
Controle e Automação na PUC-PR, tendo o seu trabalho de conclusão de curso
reconhecido com a terceira colocação na competição internacional XPLORE New-
Automation Award 2005. Trabalha desde 1997 em uma indústria automotiva
multinacional focada na produção e desenvolvimento de veículos comerciais
(caminhões e ônibus), atuando em diversas funções relacionadas ao Suporte ao
Produto (redator técnico, engenheiro de diagnóstico e coordenador de planejamento
de peças de reposição e métodos de serviço). Atualmente, exerce a função de
engenheiro da qualidade na divisão de Powertrain desta companhia focando na
assistência técnica de componentes do trem-de-força de veículos comerciais em
campo e em desenvolvimento de novos produtos.
AGRADECIMENTOS
A
Carlos Cziulik, pela confiança e orientação ao longo da dissertação.
Gustavo Giacomel, por toda a dedicação e ajuda ao longo deste estudo.
Amigos e colegas da vida profissional, por fazerem parte da construção do
conhecimento aqui registrado.
Minha família, pela compreensão nos momentos de ausência.
Meu pai, por dividir as suas experiências que tanto contribuíram para este trabalho.
Minha mãe e sogra, pelo suporte com a filha recém-nascida.
Gabriela e Eduarda, esposa e adorada filha, por estarem sempre presentes.
MOSCHETO, Andre Diogo, Desenvolvimento de um Conjunto de Diretrizes e
Ferramenta Computacional para Endereçar o Parâmetro de Mantenabilidade no
PDP, 2009, Dissertação (Mestrado em Engenharia) - Programa de Pós-graduação
em Engenharia Mecânica e de Materiais, Universidade Tecnológica Federal do
Paraná, Curitiba, 229p.
RESUMO
Apesar da mantenabilidade ser lembrada como um parâmetro importante
dentro do Processo de Desenvolvimento de Produto (PDP), acredita-se que a forma
da realização da manutenção do produto não seja devidamente considerada pelos
engenheiros de desenvolvimento. Quer dizer, embora o tema seja relevante, faltam
subsídios para que a equipe de desenvolvimento esteja capacitada para
compreender e assegurar a entrega de desejos/demandas da mantenabilidade no
produto final. O presente trabalho tem como objetivos a proposição de um conjunto
de diretrizes, um modelo e uma ferramenta que auxiliem a correta inclusão do
parâmetro de mantenabilidade no PDP, guiando o grupo de projeto a tratar
corretamente este tópico durante todo o ciclo de desenvolvimento de um produto. A
metodologia para alcançar estes objetivos está ancorada em três pontos principais: i/
estudo da literatura sobre o tema; ii/ conhecimento da forma como este parâmetro
está sendo aplicado na prática; iii/ conversão da prática e da literatura em um
modelo/ferramenta de endereçamento da mantenabilidade. Com este corpo de
conhecimento, foi possível conceber um modelo que demonstra em que momentos a
mantenabilidade deve ser considerada no PDP, e como as ações devem ser
implementadas através da aplicação de uma ferramenta computacional criada em
ambiente CAD, com o auxílio de um conjunto de diretrizes e uma análise de custo-
benefício que considere aspectos do pós-venda. A proposta da dissertação foi
testada através da apresentação do conceito da ferramenta para um grupo
experiente de profissionais em PDP. Através da coleta de respostas em um
questionário de avaliação proposto, pode-se determinar que os resultados obtidos
indicam que a abordagem utilizada pela ferramenta e modelo possuem grande
potencial para melhorar a consideração da mantenabilidade durante o PDP.
Palavras-chave: Mantenabilidade, PDP, DFMT.
MOSCHETO, Andre Diogo, Development of Directives Set and a Computational
Tool to Address Maintainability Parameter during PDP, 2009, Dissertação
(Mestrado em Engenharia) - Programa de Pós-graduação em Engenharia Mecânica
e de Materiais, Universidade Tecnológica Federal do Paraná, Curitiba, 229p.
ABSTRACT
Although maintainability is regarded as an important design parameter during
Product Development Process (PDP), it is believed that the actual product
maintenance is not properly considered by development engineers. In other words,
even though this topic is relevant, there is lack of subsidies for the development team
in order to comprehend and assure the inclusion of maintainability desires/demands
in the final product. The current research has the objective to propose a set of
directives, a model and a software tool to support a suitable maintainability
consideration during PDP, by guiding the project team to address this matter along
the whole product development cycle. The approach to fulfill these aims is based on
three major areas: i/ study literature available; ii/ get to know how this parameter is
applied in practice; iii/ converge theory and practice into a model/tool to address
maintainability. With this body of knowledge, it was possible to create a model which
declares in which moment maintainability should be considered during PDP, and how
all maintainability actions can be implemented through a computer tool, together with
a directives set and trade-off analysis which considers aftermarket issues. This
research concept was validated through a presentation given to an experienced
group of PDP professionals. By collecting a proposed questionnaire’s answers, it was
possible to infer that results gathered indicate that model/tool have great potential to
enhance maintainability considerations during PDP.
Keywords: Maintainability, PDP, DFMT
LISTA DE FIGURAS
Figura 1.1 – Manutenção de um veículo comercial ...................................................24
Figura 1.2 – Visibilidade do custo total de um produto..............................................27
Figura 1.3 – Desenvolvimento com consideração da mantenabilidade.....................29
Figura 2.1 – Custo do ciclo de vida do produto .........................................................33
Figura 2.2 – Disponibilidade e tipos de manutenções. ..............................................34
Figura 2.3 – Diferentes níveis de intervenção para realizar a manutenção do produto
...........................................................................................................................37
Figura 2.4 – Manutenção organizacional – exemplo de acesso................................38
Figura 2.5 – Manutenção intermediária – troca de filtro (B) com auxílio da ferramenta
especial (A) ........................................................................................................39
Figura 2.6 – Conceito de Disponibilidade / Indisponibilidade ....................................42
Figura 2.7 – Razão da indisponibilidade durante os reparos ....................................43
Figura 2.8 – Mantenabilidade incorretamente endereçada .......................................44
Figura 2.9 – Combinação série/paralelo de confiabilidade........................................46
Figura 2.10 – Alocação de componentes utilizando o método FRCM.......................47
Figura 2.11 – Espaços requerido para uma posição de trabalho ..............................48
Figura 2.12 – Espaço requerido para uso de ferramentas universal em janela de
acesso................................................................................................................49
Figura 2.13 – Espaço requerido para uso de ferramenta universal...........................49
Figura 2.14 – Revisão do protótipo virtual.................................................................53
Figura 2.15 – Evolução da modelagem em CAD ao longo do PDP ..........................54
Figura 2.16 – Proposta esquemática de integração de equipes multidisciplinares via
modelos em CAD ...............................................................................................55
Figura 2.17 – Compressor de veículo comercial .......................................................56
Figura 2.18 – Compressor com rota de saída solidificada (swept volume) ...............56
Figura 2.19 – Manutenção com diversas cabeças de parafusos...............................60
Figura 2.20 – Modelo virtual de ferramenta...............................................................60
Figura 2.21 – Projeto orientado para a Serviçabilidade.............................................62
Figura 2.22 – Projeto orientado para a Suportabilidade ............................................64
Figura 2.23 – Definição dos DFX’s acerca da mantenabilidade................................67
Figura 2.24 – Divisão do tempo de reparo ................................................................69
Figura 2.25 – Ferramenta especial............................................................................71
Figura 2.26 - Processo de Desenvolvimento do Produto ..........................................79
Figura 2.27 - Vida útil de um Produto........................................................................80
Figura 2.28 - Processo de Desenvolvimento do Produto ..........................................81
Figura 2.29 – Evolução da modelagem no PDP........................................................82
Figura 2.30 – Momento de aplicação de ferramentas no PDP..................................91
Figura 2.31 – Troca de óleo de um veículo com a necessidade de remoção do
protetor de cárter (P)..........................................................................................93
Figura 2.32 – Manutenção de compressor de ar – dificuldade na remontagem por
falta de poka-yoke..............................................................................................94
Figura 2.33 – Motor Diesel – ajuste de válvulas na parte inferior dificulta a
manutenção .......................................................................................................95
Figura 2.34 – Exemplo de utilização da lógica Fuzzy na mantenabilidade ...............96
Figura 2.35 – Exemplo de Matriz Semântica.............................................................98
Figura 2.36 – Exemplo de wave propagation..........................................................100
Figura 2.37 – Definição da rota de saída ................................................................100
Figura 2.38 – Influência de remoção no algoritmo de WP.......................................101
Figura 2.39 – Análise de desmontagem..................................................................102
Figura 3.1 – Modelo de consideração do parâmetro de mantenabilidade no PDP .105
Figura 3.2 – Área de foco desta investigação .........................................................106
Figura 3.3 – Área de foco diretamente relacionada ao ganho de acesso ...............107
Figura 3.4 – Brainstorming sobre fatores ligados a acessibilidade..........................108
Figura 3.5 – Mantenabilidade durante a fase de Esclarecimento da Tarefa ...........109
Figura 3.6 – MTTR da troca de uma lâmpada do farol dianteiro .............................112
Figura 3.7 – Mantenabilidade no projeto conceitual ................................................113
Figura 3.8 – Vantagens da padronização................................................................115
Figura 3.9 – Utilização do banco de dados de peças..............................................116
Figura 3.10 – Menu principal da ferramenta de mantenabilidade............................118
Figura 3.11 – Menu de composição do produto ......................................................119
Figura 3.12 – Peças novas sendo selecionadas na ferramenta de mantenabilidade
.........................................................................................................................119
Figura 3.13 – Peças novas sendo selecionadas pela ferramenta de mantenabilidade
para se obter destaque ....................................................................................120
Figura 3.14 – Peças existentes sem reposição selecionadas na ferramenta de
mantenabilidade...............................................................................................120
Figura 3.15 – Peças existentes com reposição selecionadas na ferramenta de
mantenabilidade...............................................................................................121
Figura 3.16 – Diferentes tipos de cabeça de parafusos ..........................................121
Figura 3.17 – Variados tamanhos de parafusos......................................................122
Figura 3.18 – Ferramenta especial (A) e universal (B)............................................123
Figura 3.19 – Menu da ferramenta para iniciar a análise de ferramental ................125
Figura 3.20 – Análise de ferramental baseada na quantidade de elementos de
fixação..............................................................................................................126
Figura 3.21 – Listagem dos elementos de fixação apresentada na ferramenta de
mantenabilidade...............................................................................................127
Figura 3.22 – Lista de componentes em sistemas CAD..........................................128
Figura 3.23 – Menu para análise de componentes-chave na ferramenta de
mantenabilidade...............................................................................................136
Figura 3.24 – Inclusão da taxa de falha global do produto por parte do projetista ..136
Figura 3.25 – Destaque sobre os componentes-chave do projeto ..........................137
Figura 3.26 – Destaque em apenas um componente-chave do produto.................138
Figura 3.27 – Seleção da função de análise de posicionamento ............................138
Figura 3.28 – Analogia com sistemas de elementos finitos.....................................139
Figura 3.29 – Análise de posicionamento de um componente sob o ponto de vista da
mantenabilidade...............................................................................................140
Figura 3.30 – Análise de posicionamento de todos os componentes-chave do
produto.............................................................................................................140
Figura 3.31 – Análise de posicionamento de um rolamento....................................141
Figura 3.32 – Componentes que devem ser desmontados para acessar o
componente-chave...........................................................................................142
Figura 3.33 – Incremento da confiabilidade gerando melhoras no indicador de
mantenabilidade...............................................................................................142
Figura 3.34 – Melhora da acessibilidade gerando melhoras no indicador de
mantenabilidade...............................................................................................143
Figura 3.35 – Tampa traseira não incluída na lista de componentes para a remoção
do rolamento ....................................................................................................144
Figura 3.36 – Indicador de posicionamento incorreto para o rolamento..................145
Figura 3.37 – Camisa modelada com dimensionamento nominal gera dificuldades na
implementação do indicador de posicionamento .............................................146
Figura 3.38 – Passagem do projeto conceitual para preliminar...............................147
Figura 3.39 – Proposta de concepção de um componente a partir de critérios da
mantenabilidade...............................................................................................150
Figura 3.40 – Reservando espaços em 3D para facilitar a manutenção do produto
.........................................................................................................................151
Figura 3.41 – Análise de interferência em reservas de espaços para a
mantenabilidade...............................................................................................152
Figura 3.42 – Reserva de espaço convertida em produto que atende aspectos da
mantenabilidade...............................................................................................153
Figura 3.43 – Necessidade de executar passos prévios em simulações de
mantenabilidade – abertura de tampa de inspeções........................................154
Figura 3.44 – Uso de layers em sistemas CAD para garantir reserva de espaços .155
Figura 3.45 – Estudo no layer de mantenabilidade sendo automaticamente
informado ao projetista.....................................................................................156
Figura 3.46 – Fase do Projeto Detalhado no PDP ..................................................161
Figura 4.1 – Idade dos participantes da validação ..................................................164
Figura 4.2 – Tempo de atuação dos participantes na empresa...............................165
Figura 4.3 – Tempo de atuação dos participantes no mercado...............................166
Figura 4.4 – Formação acadêmica dos participantes..............................................166
Figura 4.5 – Cargos correntes dos participantes na empresa do setor automotivo.167
Figura 5.1 – Inclusão de ferramentas 3D nas reservas de volumes........................177
Figura A.1 – Ciclo de manutenção corretiva ...........................................................187
Figura A.2 – Manutenção do alternador A...............................................................189
Figura A.3 – Detalhe da montagem do alternador A ...............................................190
Figura A.4 – Desmontagem do alternador B ...........................................................193
Figura E.1 – Apresentação para validação da ferramenta de mantenabilidade ......207
Figura E.2 – Apresentação - Agenda ......................................................................208
Figura E.3 – Apresentação – Introdução (Definição de mantenabilidade) ..............208
Figura E.4 – Apresentação – Introdução (Dificuldades na aplicação da
mantenabilidade no PDP) A.............................................................................209
Figura E.5 – Apresentação – Introdução (Dificuldades na aplicação da
mantenabilidade no PDP) B.............................................................................209
Figura E.6 – Apresentação - Objetivo .....................................................................210
Figura E.7 – Apresentação - Justificativa ................................................................210
Figura E.8 – Apresentação – Modelo para aplicação da mantenabilidade no PDP 211
Figura E.9 – Apresentação – Elo entre o modelo e a Ferramenta para aplicação da
mantenabilidade no PDP no ProE....................................................................211
Figura E.10 – Apresentação – Funções da Ferramenta implementadas no ProE...212
Figura E.11 – Apresentação – Análise de reserva de espaço para componentes-
chave................................................................................................................212
Figura E.12 – Apresentação – Primeira etapa na análise de reserva de espaço....213
Figura E.13 – Apresentação – Análise de reserva de espaço salva em um layer de
mantenabilidade...............................................................................................213
Figura E.14 – Apresentação – Ferramenta alertando para a existência de uma
reserva de espaço em um modelo ...................................................................214
Figura E.15 – Apresentação – Análise de interferência contra a reserva de espaço
para a mantenabilidade....................................................................................214
Figura E.16 – Apresentação – Perspectivas futuras no desenvolvimento de melhorias
na ferramenta de mantenabilidade (algoritmo de WP).....................................215
Figura E.17 – Apresentação – Perspectivas futuras no desenvolvimento de melhorias
na ferramenta de mantenabilidade (modularidade)..........................................215
Figura E.18 – Apresentação – Perspectivas futuras no desenvolvimento de melhorias
na ferramenta de mantenabilidade (elementos de fixação)..............................216
Figura E.19 – Apresentação – Aplicação de questionário.......................................216
Figura E.20 – Apresentação – Agradecimento........................................................217
Figura E.21 – Apresentação – Análise de ferramental necessário..........................217
Figura E.22 – Apresentação – Função de elementos de fixação da ferramenta de
mantenabilidade...............................................................................................218
Figura E.23 – Apresentação – Possibilidade de rastrear um único tipo de elemento
de fixação.........................................................................................................218
Figura E.24 – Apresentação – Análise de simplificação..........................................219
Figura E.25 – Apresentação – Fácil visualização da composição do produto.........219
Figura E.26 – Apresentação – Análise de posicionamento de componentes-chave
.........................................................................................................................220
Figura E.27 – Apresentação – Visualização dos componentes-chave....................220
Figura E.28 – Apresentação – Relação de quantidade de peças a serem removidas
(análise de componentes-chave) .....................................................................221
Figura E.29 – Apresentação – Relação de taxa de falhas (análise de componentes-
chave) ..............................................................................................................221
Figura E.30 – Apresentação – Métrica aplicada no indicador de posicionamento ..222
Figura E.31 – Apresentação – Análise de posicionamento de componentes-chave
(visualização) ...................................................................................................222
Figura E.32 – Apresentação – Análise de posicionamento de componentes-chave
(proposta de mudança de conceito).................................................................223
Figura E.33 – Apresentação – Análise de posicionamento de componentes-chave
(proposta de mudança de confiabilidade) ........................................................223
Figura AN.1 – Espaços requeridos para diversas posições de trabalho (cm) .........224
Figura AN.2 – Espaço requerido para uso de ferramentas universais em janelas de
acesso (cm)......................................................................................................225
Figura AN.3 – Espaço requerido para uso de ferramentas universais (cm) ............225
Figura AN.4 – Exemplos de parafusos padrão........................................................226
Figura AN.5 – Exemplo de parafuso com sextavado interno...................................226
Figura AN.6 – Exemplo de parafuso borboleta........................................................226
Figura AN.7 – Exemplos de parafuso de máquina com contra-porca .....................227
Figura AN.8 – Exemplo de porcas ou parafusos.....................................................227
Figura AN.9 – Exemplo de anel-trava .....................................................................227
Figura AN.10 – Exemplo de trava tipo drawhook ....................................................228
Figura AN.11 – Exemplo de trava tipo spring clip....................................................228
Figura AN.12 – Exemplo de trava tipo borboleta.....................................................228
Figura AN.13 – Exemplo de trava tipo lift and turn..................................................229
LISTA DE TABELAS
Tabela 2.1 – Alocação do MTTR usando o método FRCM.......................................47
Tabela 2.2 – Tempo requerido para a desmontagem (1) ..........................................58
Tabela 2.3 – Tempo requerido para a desmontagem (2) ..........................................58
Tabela AP.1 – Conjunto de Diretrizes para a Mantenabilidade...............................195
LISTA DE ABREVIATURAS E SIGLAS
AM - Análise de mantenabilidade
CAD - Computer Aided Design (Projeto Auxiliado por Computador)
DFA - Design For Assembly (Projeto orientado para a Montagem)
DFAM - Design For Aftermarket (Projeto orientado para o Pós-venda)
DFLC - Design For Life-Cycle (Projeto orientado para o Ciclo de Vida)
DFMT - Design For Maintainability (Projeto orientado para a Mantenabilidade)
DFS - Design For Serviceability (Projeto orientado para a Serviçabilidade)
DFS’ - Design For Supportability (Projeto orientado para a Suportabilidade)
DFM - Design for Manufacturability (Projeto orientado para a Manufatura)
DFMA
- Design for Manufacturability and Assembly (Projeto orientado para a
Manufatura e Montagem)
DFR - Design For Reliability (Projeto orientado para a Confiabilidade)
DMU - Digital Mock-Ups (Protótipo virtual)
FMECA
- Failure Mode, Effects, and Criticality Analysis (Análise dos Modos de
Falha, Efeitos, e Análise de Severidade)
FRACAS
- Failure Reporting, Analysis, and Corrective Action System (Sistema
de Reporte de falhas, Análise, e Ações de Correção)
FRCM
- Failure Rate Complexity Method (Método de Complexidade da Taxa
de falha)
FTA - Fault-Tree Analysis (Análise de Árvore de Falhas)
MTBF - Mean Time Between Failure (Tempo Médio entre Falhas)
MTTR - Mean Time To Repair (Tempo Médio de Reparo)
DP - Desenvolvimento de Produto
PDP - Processo de Desenvolvimento de Produto
RCM
- Reliability-Centered Maintenance (Manutenção Centrada na
Confiabilidade)
WP - Wave Propagation method (Método de Propagação de Ondas)
SUMÁRIO
1 INTRODUÇÃO.......................................................................................................21
1.1 DESENVOLVIMENTO DO PRODUTO: ASPECTOS DE MANTENABILIDADE .21
1.2 IDENTIFICAÇÃO DA OPORTUNIDADE .............................................................25
1.1.1. CARACTERIZAÇÃO DA OPORTUNIDADE....................................................26
1.2. OBJETIVOS .......................................................................................................28
1.3. RESULTADOS E BENEFÍCIOS ESPERADOS..................................................28
1.4. JUSTIFICATIVA .................................................................................................29
1.5. ABORDAGEM METODOLÓGICA......................................................................30
1.6. ESTRUTURA DO TRABALHO...........................................................................30
2 A MANTENABILIDADE AO LONGO DO DESENVOLVIMENTO DO PRODUTO 32
2.1 CUSTOS DURANTE O CICLO DE VIDA DE UM PRODUTO.............................32
2.2 O QUE É A MANUTENÇÃO................................................................................32
2.2.1 TIPOS DE MANUTENÇÃO ..............................................................................34
2.2.2 CONCEITO DE SUPORTE PARA MANUTENÇÃO .........................................36
2.2.2.1. NÍVEL DE MANUTENÇÃO...........................................................................37
2.2.2.2. POLÍTICA DE REPAROS.............................................................................39
2.2.2.3. AMBIENTE ...................................................................................................40
2.3 CONFIABILIDADE VERSUS MANTENABILIDADE ............................................40
2.3.1 RELACIONAMENTO DE COMPONENTES.....................................................45
2.3.2 FRCM (FAILURE RATE COMPLEXITY METHOD)..........................................46
2.4 ERGONOMIA ......................................................................................................48
2.5 ENGENHARIA SIMULTÂNEA E O USO DE MODELAGEM EM CAD................49
2.5.1 MODELAGEM EM CAD COMO FERRAMENTA DE ENGENHARIA
SIMULTÂNEA ...........................................................................................................52
2.6 ELEMENTOS DE FIXAÇÃO................................................................................57
2.7 TERMINOLOGIAS DE MANTENABILIDADE......................................................61
2.8 PROJETO ORIENTADO PARA A MANTENABILIDADE ....................................68
2.8.1 MÉTRICAS DA MANTENABILIDADE ..............................................................68
2.8.1.1. MÉTRICAS QUANTITATIVAS .....................................................................68
2.8.1.2. MÉTRICAS QUALITATIVAS ........................................................................69
2.8.2 FERRAMENTAS E EQUIPAMENTOS PARA DIAGNOSE...............................70
2.8.3 TESTABILIDADE..............................................................................................71
2.8.4 PADRONIZAÇÃO.............................................................................................72
2.8.5 MODULARIDADE ............................................................................................72
2.8.6 SIMPLIFICAÇÃO..............................................................................................73
2.8.7 ACESSIBILIDADE............................................................................................73
2.8.8 COLETA DE DADOS DO CAMPO...................................................................74
2.8.8.1. COLETA E ANÁLISE DOS DADOS DE CAMPO .........................................76
2.8.9 FERRAMENTAS DE ENGENHARIA QUE SUPORTAM A
MANTENABILIDADE ................................................................................................77
2.9 PROCESSO DE DESENVOLVIMENTO DO PRODUTO (PDP)..........................78
2.9.1 A MANTENABILIDADE DENTRO DO PROCESSO DE DESENVOLVIMENTO
DO PRODUTO..........................................................................................................79
2.9.2 MANTENABILIDADE NO PDP (PAHL E BEITZ)..............................................80
2.9.3 MANTENABILIDADE – BLANCHARD E FABRYCKY ......................................85
2.9.4 ENDEREÇAMENTO DA MANTENABILIDADE NA PRÁTICA..........................87
2.9.4.1. EXEMPLOS PRÁTICOS DO ENDEREÇAMENTO DA
MANTENABILIDADE ................................................................................................93
2.10 FERRAMENTAS DE MANTENABILIDADE.......................................................95
2.10.1 USO DE LÓGICA FUZZY PARA AVALIAÇÃO DA MANTENABILIDADE ......95
2.10.2 ÍNDICE DE MANTENABILIDADE PARA COMPONENTES MECÂNICOS ....97
2.10.3 MÉTODO DE WP (WAVE PROPAGATION)..................................................98
2.10.4 MÉTODO PARA A DESMONTAGEM ..........................................................101
2.11 IDENTIFICAÇÃO DA OPORTUNIDADE E MOTIVAÇÃO PARA A
INVESTIGAÇÃO .....................................................................................................103
3 MODELO PARA A CONSIDERAÇÃO DO PARÂMETRO DE
MANTENABILIDADE NO PDP...............................................................................104
3.1 ÁREA DE FOCO ...............................................................................................106
3.2 DEFINIÇÃO DE COMPONENTES-CHAVE ......................................................109
3.2.1 LISTA DE COMPONENTES-CHAVE .............................................................109
3.2.2 REQUISITOS RELACIONADOS À MANUTENÇÃO ......................................111
3.3 MANTENABILIDADE NO PROJETO CONCEITUAL ........................................113
3.3.1 ANÁLISE DE SIMPLIFICAÇÃO......................................................................114
3.3.1.1. FUNÇÃO DE ANÁLISE DE SIMPLIFICAÇÃO............................................117
3.3.2 ANÁLISE DE FERRAMENTAL NECESSÁRIO ..............................................121
3.3.2.1. MODELO DE ANÁLISE DE FERRAMENTAL NECESSÁRIO....................124
3.3.3 ANÁLISE DE POSICIONAMENTO DE COMPONENTES-CHAVE
(ACESSIBILIDADE) ................................................................................................127
3.3.3.1. VISUALIZAÇÃO DE COMPONENTES-CHAVE.........................................127
3.3.3.2. INDICADOR DE POSICIONAMENTO DAS PEÇAS ..................................129
3.3.3.3. MODELO DE ANÁLISE DE POSICIONAMENTO DE COMPONENTES-
CHAVE (ACESSIBILIDADE) ...................................................................................135
3.3.3.4. PROBLEMAS NA METODOLOGIA DE WAVE PROPAGATION...............144
3.4 MANTENABILIDADE NA PASSAGEM DO PROJETO CONCEITUAL PARA
PRELIMINAR ..........................................................................................................146
3.4.1 ANÁLISE DE RESERVA DE ESPAÇOS........................................................147
3.4.1.1.ESTUDO DE CASO – RESERVA DE ESPAÇO PARA MELHORAR O
PROCEDIMENTO DE AJUSTE DE VÁLVULAS EM MOTORES DIESEL..............149
3.4.1.2.COLABORAÇÃO ENTRE ENGENHEIRO DE PRODUTO E SERVIÇO
ATUANDO SOBRE A RESERVA DE ESPAÇO......................................................154
3.4.2 APLICAÇÃO DO CONJUNTO DE DIRETRIZES DE REVISÃO DA
MANTENABILIDADE ..............................................................................................156
3.4.2.1.ANÁLISE DE CUSTO-BENEFÍCIO PARA ALTERAÇÕES DE PRODUTO
SUGERIDAS A PARTIR DA APLICAÇÃO DA MANTENABILIDADE......................158
3.4.3 FOLLOW-UP DO DESENVOLVIMENTO DO PRODUTO..............................160
3.5 MANTENABILIDADE NO PROJETO DETALHADO..........................................160
3.6 VALIDANDO A FERRAMENTA DE MANTENABILIDADE ................................162
4 APLICAÇÃO DA FERRAMENTA DE MANTENABILIDADE ..............................163
4.1 REALIZAÇÃO DA VALIDAÇÃO ........................................................................163
4.2 RESULTADOS DA VALIDAÇÃO.......................................................................164
4.2.1 IDENTIFICAÇÃO DOS ENTREVISTADOS....................................................164
4.2.2 AVALIAÇÃO DA ENGENHARIA SIMULTÂNEA.............................................167
4.2.3 AVALIAÇÃO DA FERRAMENTA PARA INCLUSÃO DA
MANTENABILIDADE ..............................................................................................170
4.3 CONSIDERAÇÕES FINAIS SOBRE A VALIDAÇÃO ........................................172
5 CONCLUSÕES E RECOMENDAÇÕES PARA TRABALHOS FUTUROS .........173
5.1 CONCLUSÕES .................................................................................................173
5.2 RECOMENDAÇÕES PARA TRABALHOS FUTUROS .....................................176
PRODUÇÃO CIENTÍFICA NO PERÍODO (2006-2009) ..........................................179
REFERÊNCIAS.......................................................................................................180
APÊNDICE A – CONSIDERAÇÕES DE PROJETO ORIENTADO PARA A
MANTENABILIDADE: UMA COMPARAÇÃO ENTRE DFMT E DFMA ...................184
APÊNDICE B – CONJUNTO DE DIRETRIZES PARA A MANTENABILIDADE......194
APÊNDICE C – ENTREVISTA SOBRE MANTENABILIDADE EM UMA EMPRESA
DE AERONÁUTICA (EMBRAER) ...........................................................................198
APÊNDICE D – QUESTIONÁRIO APLICADO AOS PARTICIPANTES DA
VALIDAÇÃO DA FERRAMENTA DE MANTENABILIDADE....................................202
APÊNDICE E – APRESENTAÇÃO PARA VALIDAÇÃO DA FERRAMENTA DE
MANTENABILIDADE ..............................................................................................207
ANEXO A – ERGONOMIA – ESPAÇOS NECESSÁRIOS PARA REALIZAR
MANUTENÇÃO.......................................................................................................224
ANEXO B – ELEMENTOS DE FIXAÇÃO................................................................226
Capítulo 1 Introdução 21
1 INTRODUÇÃO
1.1 Desenvolvimento do produto: aspectos de mantenabilidade
Na literatura, ou até mesmo durante a criação de novos produtos na prática, a
manufatura tem assumido um papel importante ao integrar as suas demandas ao
longo do processo de desenvolvimento do produto. Porém, com os atuais níveis de
competição nos mercados (sob o efeito da globalização), a margem de lucro nas
vendas do produto está sendo pressionada, forçando as empresas a angariar
dividendos em outros setores ou até mesmo incorporando novas formas de
desenvolvimento de produto que proporcionem maiores lucros. Coubalibaly, Houssin
e Mutel (2008) declaram que o processo de desenvolvimento de produtos atual
chegou no seu limite e que as empresas têm que aprimorar seus conhecimentos em
questões ambientais e do ciclo de vida de produtos se quiserem gerar novas
vantagens competitivas.
Assim, para um produto normalmente apresentar êxito no mercado, faz-se
necessária a correta conversão das novas demandas de um potencial cliente em um
produto que seja capaz de suprir, ou até mesmo superar, estas necessidades. O
procedimento de transformação das demandas em um artigo/serviço/sistema
chama-se Processo de Desenvolvimento do Produto, ou simplesmente PDP.
Nesta sistemática, a equipe de desenvolvimento do produto recebe uma
enorme carga de requisitos a serem atendidos (ZIMMERMAN; BERGSJÖ;
MALMQVIST, 2006), tais como: aspectos de manufatura (como já mencionado),
custo controlado, novas funcionalidades e respeito a padrões de qualidade.
Normalmente, toda essa demanda vem atrelada a uma pressão pela rápida
liberação dos novos desenvolvimentos ao mercado. É exatamente neste contexto
que o setor de DP, eventualmente pode não considerar todos os aspectos
necessários da vida útil do produto, gerando problemas para o Pós-venda
1
.
Um dos fatores que normalmente não é priorizado com a devida relevância ao
longo do desenvolvimento é o suporte ao produto. Dentro desta área, estão incluídas
1
Considera-se Pós-venda todas as funções de uma empresa que estejam direcionadas a suportar o produto no mercado
durante a sua vida útil.
Capítulo 1 Introdução 22
questões-chave, como: suporte ao cliente; disponibilidade de peças de reposição;
tempos de reparo baixos, e diagnósticos assertivos. Por ser o Pós-venda um setor
capaz de devolver à companhia lucros que tenham sido marginalizados na venda, a
não inclusão destes aspectos, pode significar perdas ainda maiores para uma
organização, já que a satisfação do cliente está diretamente atrelada à interface que
este possui com o produto. Logo, uma experiência negativa no Pós-venda pode
significar a perda de vendas futuras.
Portanto, para evitar problemas com suporte após a venda do produto, um item
que não pode deixar de ser considerado no desenvolvimento de novos produtos é a
forma de realização da manutenção. Segundo Blanchard e Fabrycky (2006),
manutenção é a constituição de uma série de ações necessárias para restabelecer
(manutenção corretiva) ou manter um produto (manutenção preditiva e preventiva),
em seu estado operacional. Neste caso, o parâmetro de engenharia a ser
contemplado é a mantenabilidade, enquanto que a manutenção é o resultado
encontrado no produto desenvolvido.
Então, para que a mantenabilidade, assim como outras demandas, cheguem
ao desejado produto final, diversas são as etapas (ou até mesmo, as formas de
realização do PDP) necessárias para desenvolver uma oportunidade. Inicia-se com
pré-estudos e análises conceituais, passa-se pelo desenvolvimento detalhado até
chegar à industrialização, comercialização e follow-up do produto no mercado. Tudo
isso ocorre para que o correto funcionamento do produto seja garantido no momento
da sua utilização.
Porém, por mais que se deseje uma aplicação do produto sem a necessidade
de intervenções ao longo da sua vida útil, isso nem sempre é factível, pois fatores
como, custo do projeto, uso inadequado e restrições tecnológicas, impedem que o
mesmo seja isento de manutenções.
Partindo do pressuposto de que o produto passará por intervenções durante a
sua utilização, fica evidenciada a demanda por contemplar a mantenabilidade ao
longo do desenvolvimento do produto. Para tal, a equipe de desenvolvimento deve
estar capacitada para compreender o quão afetado será o desempenho do produto
por essas intervenções, assim como balizar o seu desenvolvimento por limites
Capítulo 1 Introdução 23
máximos de indicadores de desempenho, considerados como aceitáveis para o
produto em questão, durante a sua aplicação.
Para ilustrar melhor a importância do tema mantenabilidade durante o PDP,
pode-se restringir esta análise a um determinado tipo de produto, os veículos
comerciais (mais especificamente caminhões e ônibus). Neste mercado, a
disponibilidade do produto é um fator preponderante para muitas empresas de
gestão de frota, já que o custo por quilômetro rodado, muitas das vezes, serve como
base para cálculo do faturamento das mesmas. Quer dizer, se o tempo de reparo de
manutenções preventivas for longo e caro, por exemplo, isto terá um impacto direto
no custo por quilômetro rodado já que terá um menor tempo para gerar dividendos,
precisando também desembolsar mais dinheiro para arcar com os reparos
necessários.
Além disso, outro fator relevante neste segmento é o fato do aumento da
competitividade que vem ocorrendo no setor, que degrada a margem de lucro nas
vendas dos produtos, pressionando as empresas a buscarem dividendos em outros
campos, tais como o Pós-venda. Portanto, pode-se afirmar que quanto mais o
produto for mantido em seu estado funcional, maiores serão os lucros assegurados
pela utilização do veículo.
Ainda sob a ótica de veículos comerciais, pode-se afirmar que os clientes deste
segmento têm a ciência de que manutenções diárias, preventivas e até mesmo
corretivas são necessárias para viabilizar a utilização do veículo durante a vida útil
(e.g. troca de óleo e filtros do motor). A questão-chave a ser analisada no PDP é
quanto tempo se demorará a restabelecer e/ou manter este produto em seu
funcionamento original. Para responder a esta pergunta, diversos parâmetros
poderiam ser utilizados para justificar o grau de disponibilidade do veículo, como: i/ a
facilidade de acesso ao componente causador da indisponibilidade (e.g. Figura 1.1);
ii/ massa do componente a ser manipulado (relacionado à ergonomia); iii/ facilidade
de diagnose; iv/ utilização ou não de ferramental exclusivo para realizar o reparo; v/
disponibilidade de peças de reposição e material de apoio; entre outros.
Outra questão que surge é a de se identificar em que momento do PDP tais
parâmetros devem ser considerados, haja vista que as metodologias clássicas de
desenvolvimento do produto apenas abordam o tema de forma muito superficial.
Capítulo 1 Introdução 24
Apesar de Blanchard e Fabrycky (2006), Rozenfeld et al. (2006) e Pahl e Beitz
(1996) ressaltarem a importância da inclusão da mantenabilidade como um
parâmetro de projeto, apresentando de forma sucinta algumas diretrizes e
indicadores (e.g. MTTR), não está clara a forma de se abordar o tema durante o
desenvolvimento do produto tanto quanto hoje a manufatura é endereçada. Quer
dizer, apesar de compreender a importância do tópico, a literatura não traz subsídios
adequados que conduzam um engenheiro de desenvolvimento do produto a
compreender e assegurar a entrega de demandas/desejos de mantenabilidade,
provenientes da fase conceitual, e que sejam incluídos de forma adequada no
produto final.
Figura 1.1 – Manutenção de um veículo comercial
2
Fonte: Manutenção automotiva (2008).
Finalmente, é também importante ressaltar que existe uma mescla muito
grande de termos nesta área, já que dentro dos DFX’s (Projeto orientado para
“Tudo”) estão compreendidas uma gama de metodologias que visam focar em uma
área específica de estudo dentro do processo de desenvolvimento do produto. Mais
especificamente conectados ao tema deste trabalho, o projeto orientado para a
mantenabilidade, suportabilidade, serviçabilidade, confiabilidade e ciclo de vida,
todos acabam por abordar tópicos comuns, com maior ou menor intensidade,
chegando a gerar uma confusão sobre o quê cada metodologia está devidamente
focando.
2
Todas as Figuras e Tabelas sem identificação explícita da fonte foram produzidas pelo autor da dissertação.
Capítulo 1 Introdução 25
1.2 Identificação da oportunidade
Baseado na introdução apresentada, ficam expostos os problemas que podem
ser gerados caso a mantenabilidade, ou até mesmo, de uma forma mais completa, o
suporte ao produto não seja considerado como um parâmetro vital no processo de
desenvolvimento.
Ao não incluir os aspectos de manutenção no PDP de um novo produto, ou de
até mesmo negligenciar fatos reais que ocorrem durante a aplicação de versões
anteriores no campo (e.g. componentes com problema de qualidade e com altos
tempos de reparos), a equipe de projeto pode criar um produto que estará fadado a
desaparecer do mercado, desde que a concorrência se mostre mais eficiente neste
quesito (se tomado como base veículos comerciais concorrentes com preços de
venda similares). Isto ocorre já que além do problema de qualidade prejudicar a
imagem do produto (e uma possível futura venda), a demora de reparo causa ainda
a perda de disponibilidade do mesmo, gerando frustrações ainda maiores para o
cliente final.
Ao aceitar o fato de que o produto vai executar a sua função durante um
período determinado, seguindo condições de uso previamente definidas
(confiabilidade), e que no momento de uma falha, ou até mesmo de uma ação
preventiva sobre este produto, será necessária a manutenção do mesmo para que a
confiabilidade do próximo período seja assegurada, não deixa dúvidas de que a
mantenabilidade deve ser um fator de grande relevância dentro do PDP. Além disso,
um produto mal projetado sobre o aspecto de manutenção pode encarecer em muito
os custos de garantia caso a confiabilidade não seja assegurada.
Outros quesitos de extrema relevância que podem ser afetados caso a
indisponibilidade de um produto, por exemplo um veículo, se torne alta pela falta de
endereçamento de aspectos de mantenabilidade, são a segurança da carga e a
demora de entrega da mesma. Em uma situação de parada não planejada em uma
auto-estrada devido a problemas técnicos, tomando-se como modelo o mercado
brasileiro, pode ser extremamente arriscado deixar sobre a borda da rodovia uma
carga com alto valor agregado. O outro fator mencionado, prazo de entrega, também
está diretamente ligado à mantenabilidade, já que a demora para restabelecer o
Capítulo 1 Introdução 26
veículo a sua condição original, pode acarretar no não cumprimento de prazos de
entrega previamente estabelecidos.
Nota: apesar de utilizar o setor automotivo como referência nas análises ao
longo da dissertação, o conceito da aplicação da mantenabilidade pode ser
facilmente migrado e compreendido em outras áreas de interesse (produtos
manufaturados).
1.1.1. Caracterização da oportunidade
Apesar da mantenabilidade ser considerada como um parâmetro vital no
desenvolvimento de produtos na literatura, diversos aspectos do PDP levam a
acreditar que a forma de se realizar manutenções ao longo da vida útil do produto
não está sendo devidamente contemplada.
Historicamente, o parâmetro de mantenabilidade foi considerado como sendo
de senso comum para a equipe de desenvolvimento (MIL-HDBK-470A, 1997).
Normalmente, dentro da prática do mercado, todas as questões relacionadas ao
suporte ao produto (incluindo a mantenabilidade) são endereçadas tardiamente, em
fases de projetos onde alterações de concepção se tornam praticamente inviáveis
(MARKESET; KUMAR, 2003). Isso ocorre principalmente pelo fato de existir uma
brecha considerável entre o conhecimento do engenheiro de desenvolvimento do
produto e o engenheiro de campo (ZIMMERMAN; BERGSJÖ; MALMQVIST, 2006),
já que a transferência de experiências entre as funções não é tão intensa na grande
maioria das empresas. Este fato também pode ser confirmado através da MIL-
HDBK-470A (1997), que declara: “Desenvolver um produto que seja fácil de operar,
montar, e manter é, normalmente, dificultado pela comunicação ineficiente entre o
time de projeto e o pessoal habilitado para operar, montar ou manter um
equipamento existente ou similar.”
Além disso, os modelos tradicionais de levantamento de custos de projetos
consideram apenas itens relacionados aos processos produtivos e de engenharia,
deixando à parte custos que tenham sido gerados a partir do incorreto
endereçamento de mantenabilidade. Quer dizer, no caso hipotético de um veículo
comercial em que a manutenção seja complexa demandando ferramental novo e
treinamento extensivo de pessoal, todo custo envolvido na tratativa destas questões
Capítulo 1 Introdução 27
durante a introdução deste novo projeto no mercado não é levado em conta dentro
do PDP. Blanchard, Verma e Peterson (1995) relatam que os custos de longo termo
da vida útil de um determinado produto que não são endereçados dentro do PDP
podem chegar até 75%. Isso cria o chamado “efeito iceberg” que está demonstrado
na Figura 1.2.
Figura 1.2 – Visibilidade do custo total de um produto
Fonte: Adaptado de Blanchard, Verma e Peterson (1995).
Portanto, torna-se relevante para o avanço do conhecimento dentro do
processo de desenvolvimento do produto, que a mantenabilidade passe a ser melhor
investigada. Por ser este um parâmetro de projeto que está diretamente ligado à
satisfação do cliente, e por hoje não se dispor uma literatura consistente no
direcionamento das ações necessárias para que o tema seja devidamente abordado
ao longo do PDP, que existem diversas possibilidades de melhoria no conhecimento
científico da área.
Capítulo 1 Introdução 28
1.2. Objetivos
O objetivo do presente trabalho é propor um conjunto de diretrizes, um modelo
e uma ferramenta computacional capaz de auxiliar o engenheiro de desenvolvimento
do produto a incluir corretamente o parâmetro de mantenabilidade ao longo do PDP,
mostrando como e quando este tópico deve ser considerado. Bens de capital da
indústria automotiva, mais especificamente motores em veículos comerciais
(caminhões e/ou ônibus) formaram a base para estudo. Além disso, este projeto tem
como escopo facilitar a análise de custo-benefício entre soluções propostas,
provando se melhorias referentes à manutenção serão ou não vantajosas durante a
aplicação do produto ao longo da sua vida útil.
1.3. Resultados e benefícios esperados
Espera-se que as informações trazidas a partir deste projeto sejam capazes de
clarificar, não somente o que deve ser feito para incluir o parâmetro de
mantenabilidade, como também, como e onde os aspectos de manutenção devem
ser tratados ao longo do PDP.
Outro fator importante a ser esclarecido é o fato de existir uma mescla grande
de terminologias nesta área, já que DFS, DFMT, DFLC , DFR, todos estes DFX’s
abordam de certa forma a mantenabilidade, porém sempre de uma maneira
superficial, gerando confusão durante o uso das diretrizes destas metodologias
(HUANG, 1996).
Além de prover aos engenheiros de desenvolvimento do produto maiores
subsídios para trabalhar com aspectos de manutenção, deseja-se que produtos
desenvolvidos a partir da utilização das diretrizes e da ferramenta criada, sejam
capazes de retornar os produtos ao seu estado original de funcionamento no menor
tempo possível, com a utilização de um número mínimo de ferramentas e
conhecimentos extras necessários.
Com isso, acredita-se que o produto desenvolvido (bens de capital da indústria
automotiva) a partir das contribuições deste projeto serão melhores aceitos no
mercado no que tange as questões de manutenção, contribuindo para uma evolução
da satisfação do cliente dentro do Pós-venda (conforme evidencia a figura 1.3),
Capítulo 1 Introdução 29
gerando assim maiores dividendos para a organização que buscar se beneficiar
destes conhecimentos integrando-os ao seu PDP.
Figura 1.3 – Desenvolvimento com consideração da mantenabilidade.
Fonte: Adaptado de Slavila, Decreuse e Ferney (2005).
1.4. Justificativa
Acredita-se que com a aplicação do modelo e da ferramenta dentro do
desenvolvimento do produto, alguns aspectos do mesmo tendam a evoluir, tais
como:
a) Redução do tempo de reparo;
b) Melhoria da manutenção de componentes-chave (também batizados de
golden components pelo autor do presente trabalho e de componentes
críticos na literatura de confiabilidade – Blanchard, Verma e Peterson, 1995);
c) Melhoria da manutenção preventiva;
d) Diminuição da necessidade de diferentes ferramentas universais/especiais;
e) Maior interação entre engenheiros de desenvolvimento do produto com
diferentes setores da organização (engenharia simultânea);
f) Possibilidade de inspeção dos componentes;
g) Ganho de simplicidade do produto;
h) Diminuição do nível de instrução necessária para reparar o produto.
Capítulo 1 Introdução 30
Logo, ao pesquisar a mantenabilidade trazendo novas informações de como
aplicar este parâmetro no PDP, virá a somar à literatura já existente, podendo então
auxiliar pessoas ligadas ao PDP na compreensão e aplicação de um tema tão
relevante.
1.5. Abordagem metodológica
O presente trabalho envolverá uma abordagem teórico-prática. O foco principal
será a elaboração da ferramenta, do modelo e das diretrizes, os quais estarão
estruturados por meio de um levantamento bibliográfico em conjunto com a
experiência prática do presente autor na indústria de veículos comerciais.
O tipo de pesquisa a ser desenvolvida, do ponto de vista da sua natureza, será
pesquisa aplicada, uma vez que estará destinada à geração de conhecimentos para
aplicação prática, direcionados para a solução de um problema específico –
estabelecer uma ferramenta, modelo e um conjunto de diretrizes para incluir
corretamente o parâmetro de mantenabilidade ao longo do PDP.
1.6. Estrutura do trabalho
No capítulo 1, além de uma breve introdução sobre a mantenabilidade, foram
expostos os objetivos e as justificativas para a realização de um projeto que
considere a mantenabilidade ao longo do PDP.
O próximo capítulo explora a forma como a manutenção vem sendo abordada
na literatura clássica dentro do PDP, a proposta de aplicação deste parâmetro por
outros autores que tenham publicado artigos nesta área, bem como a sua aplicação
na prática em uma empresa do setor de veículos comerciais.
Um conjunto de diretrizes e uma ferramenta (modelo de mantenabilidade) são
apresentadas no terceiro capítulo na busca de atingir o objetivo do presente trabalho
sobre a melhora da inclusão da mantenabilidade dentro do PDP. Além disso, uma
proposta de como tratar o tema durante todo o ciclo de desenvolvimento do produto
é apresentada.
No quarto capítulo, uma aplicação do modelo é executada trazendo à tona as
vantagens e desvantagens da aplicação do modelo de mantenabilidade por
Capítulo 1 Introdução 31
engenheiros com experiência em desenvolvimento do produto em sistemas CAD,
bem como possíveis melhorias que possam ser implementadas.
Finalmente, conclusões sobre o estudo e propostas de futuros trabalhos são
apresentadas.
Capítulo 2 A Mantenabilidade ao Longo do Desenvolvimento do Produto 32
2 A MANTENABILIDADE AO LONGO DO DESENVOLVIMENTO DO
PRODUTO
2.1 Custos durante o ciclo de vida de um produto
O ciclo de vida de um produto incorpora diversos custos, que passam por
(BLANCHARD, VERMA e PETERSON, 1995):
a) Pesquisa e desenvolvimento;
b) Produção e construção;
c) Operação e manutenção;
d) Retirada e descarte.
Blanchard e Fabrycky (2006) vai um pouco além e desmembra estas quatro
classes de custo de vida em maiores detalhes (conforme mostrado na Figura 2.1).
Assim como foi declarado no capítulo 1, o processo de desenvolvimento do
produto tradicional foca na sua grande maioria o custo de aquisição (ver Figura 1.3),
deixando de lado os custos que por ventura possam ser gerados na sua fase de
utilização. Nesta fase, um dos sub-custos declarados é a manutenção do produto.
Sendo a manutenção o objeto de estudo do presente trabalho, nas próximas
seções este termo será detalhado, procurando clarificar o que é, quando é realizado
e como está sendo incorporado no PDP.
2.2 O que é a manutenção
Segundo Pahl e Beitz (1996), sistemas e/ou produtos estão sujeitos a
desgastes e quebras, redução da vida útil, corrosão, contaminação e mudanças nas
propriedades de materiais que alteram ao longo da vida útil. Após um período de
tempo, seja em uso ou não, a condição de utilização do produto pode não ser mais a
desejada.
Portanto, para restabelecer ou manter o produto ao seu estado operacional, um
conjunto de ações e recursos são necessários. Este conjunto é denominado de
manutenção.
Capítulo 2 A Mantenabilidade ao Longo do Desenvolvimento do Produto 33
Figura 2.1 – Custo do ciclo de vida do produto
Fonte: Adaptado de Blanchard e Fabrycky (2006).
Já a mantenabilidade é o parâmetro de engenharia que busca facilitar,
economizar tempo e recursos para que um produto possa ser mantido ou
restabelecido a uma condição especificada quando a manutenção for realizada por
pessoal capacitado, usando procedimentos e recursos definidos (MIL-HDBK-470A,
1997). Quer dizer, a mantenabilidade está diretamente ligada à busca por facilitar e
baratear a manutenção de um produto e/ou sistema.
Deste modo, durante o PDP, ao focar na melhora de mantenabilidade de um
produto atuando sobre este parâmetro de engenharia, o seu resultado final será a
Capítulo 2 A Mantenabilidade ao Longo do Desenvolvimento do Produto 34
própria forma de realizar a manutenção, contemplando todas as ações e recursos
para que a mesma seja conduzida.
2.2.1 Tipos de manutenção
De acordo com Blanchard, Verma e Peterson (1995) a manutenção pode ser
desmembrada em dois principais tipos, a preventiva e a corretiva (assim como
mostra a Figura 2.2).
Figura 2.2 – Disponibilidade e tipos de manutenções.
Fonte: Adaptado de Blanchard, Verma e Peterson (1995).
A manutenção corretiva tem por objetivo restabelecer um produto à sua
condição operacional após um estado de pane (ocorrência de falha). Os seus
passos, descritos na Figura 2.2, são os seguintes:
1. Preparação para a manutenção: busca por ferramentas, computadores de
diagnóstico, manuais de serviço, entre outros;
Capítulo 2 A Mantenabilidade ao Longo do Desenvolvimento do Produto 35
2. Busca e identificação da falha: ao observar o produto, o pessoal envolvido
deve ser capaz de identificar o problema, seja por sintomas que o mesmo
apresenta (relacionados pelo cliente ou por testes operacionais), ou por
meio de análises visuais e/ou códigos de falha (no caso de diagnose
embarcada existente);
3. Desmontagem (ganho de acesso): neste passo o pessoal envolvido deve
retirar ou afastar eventuais peças que estejam interferindo no acesso à(s)
peça(s) defeituosa(s). Nota: deve-se evitar ao máximo a necessidade de
remoção de peças periféricas para a troca de um componente;
4. Reparo do item no local ou remoção do item falhado e substituição por
peças de reposição: dependendo do local e do produto a ser consertado,
bem como da disponibilidade/formatação das peças de reposição, pode-se
optar por realizar a substituição completa e/ou parcial do componente
defeituoso;
5. Remontagem: após corrigir o item falhado, todas as peças precisam ser
retornadas para que o produto volte à sua composição anterior à
desmontagem;
6. Ajuste, alinhamento ou calibração: dependendo do produto, ajustes,
alinhamentos e calibrações podem ser necessários (apesar de não
desejados sob o ponto de vista da mantenabilidade);
7. Verificação final: após retornar o produto à sua condição de trabalho, é
importante validar todo o procedimento de manutenção certificando se o
mesmo executa as suas atribuições da forma desejada pelo cliente.
A manutenção preventiva utiliza manutenções em intervalos determinados,
buscando manter o estado operacional do veículo em um nível desejável. Segundo
Pallerosi (2007), a manutenção preventiva se divide em programada e controlada. A
programada é efetuada de acordo com um programa de intervenções pré-
estabelecido, enquanto que a controlada, também denominada preditiva, utiliza
técnicas de análise por meios de supervisão centralizados ou de amostragem que
são capazes de definir com maior exatidão o momento certo de realizar uma
Capítulo 2 A Mantenabilidade ao Longo do Desenvolvimento do Produto 36
manutenção sem causar perda de disponibilidade. Seguindo a Figura 2.2, a
manutenção preventiva se divide em quatro etapas:
a) Preparação: busca por ferramentas, computadores de diagnóstico,
manuais de serviço, entre outros;
b) Inspeção: inspecionar quanto a possíveis deteriorações do produto ou
prováveis quebras/falhas;
c) Execução do serviço: limpar, lubrificar, realizar trocas de itens preventivos
(e.g.: filtros, óleo, entre outros), realizar ajustes programados (e.g.:
reaplicação de torques) ou executar a manutenção em componentes que
tenham sido encontrados fora do critério especificado (item b);
d) Saída: término da atividade preventiva (provavelmente focada em
questões administrativas).
Nota: conforme foi declarado anteriormente, o objetivo do presente projeto visa
incluir corretamente o parâmetro de mantenabilidade ao longo do PDP, mostrando
como e quando este tópico deve ser endereçado. Porém, o foco deste estudo está
relacionado principalmente aos processos de manutenção relacionados à: inspeção;
desmontagem e montagem; execução do reparo; e ajuste, alinhamento ou
calibração. Não faz parte do escopo deste trabalho investigar melhores soluções
relacionadas a procedimentos de diagnose de produtos com eletrônica embarcada,
ou até mesmo prover métodos capazes de aprimorar a identificação das falhas a
partir de possíveis sintomas. Além disso, questões puramente logísticas
(ferramentas e/ou peças de reposição) e administrativas também não serão
cobertas.
2.2.2 Conceito de suporte para manutenção
Para definir a melhor forma de trabalhar com a manutenção, é importante
compreender como o produto é utilizado, aonde é reparado, qual desempenho é
esperado sobre o aspecto da disponibilidade e com quais peças de reposição o
pessoal envolvido poderá contar. Na seção 2.4, maiores detalhes são apresentados
sobre a forma de endereçar estas questões dentro do PDP. No entanto, é importante
descrever alguns outros pontos que possuem forte influência sobre a forma de
Capítulo 2 A Mantenabilidade ao Longo do Desenvolvimento do Produto 37
pensar o projeto para a mantenabilidade: nível de manutenção; política de reparos; e
ambiente de atuação.
2.2.2.1. Nível de manutenção
Os níveis de manutenção podem ser divididos segundo o local da sua
intervenção (conforme figura 2.3):
Figura 2.3 – Diferentes níveis de intervenção para realizar a manutenção do produto
a) Manutenção organizacional: são manutenções realizadas pelo próprio
cliente, ou que sejam cumpridas no próprio sítio de aplicação do produto.
Neste nível, as intervenções possuem baixo nível de complexidade e
necessitam pouco ferramental sendo, na maioria das vezes, executadas por
pessoal com baixo conhecimento do produto. Estas atividades se limitam a
verificações, inspeções, limpezas e ajustes periódicos, além da remoção e
instalação de componentes completos – considerados neste nível como
caixas pretas (principalmente durante o período de garantia). Neste nível,
inspeções devem possuir acessos diretos e possíveis reparos devem ser
realizados, na medida do possível, sem a utilização de ferramentas.
Ferramentas especiais neste tipo de intervenção devem ser
preferencialmente evitadas. Como exemplo adicional, a figura 2.4 mostra o
acesso facilitado que um motorista de automóvel possui para o tanquinho
de gasolina (A – tanque de gasolina para auxílio na partida de carros flex),
Capítulo 2 A Mantenabilidade ao Longo do Desenvolvimento do Produto 38
tanque do líquido de arrefecimento (B), vareta de nível de óleo (C) e bocal
de enchimento do óleo de motor (D);
A
B
C
D
A
B
C
D
Figura 2.4 – Manutenção organizacional – exemplo de acesso
b) Manutenção intermediária: neste nível as manutenções já contam com
pessoal treinado e com disponibilidade de ferramental capaz de realizar
intervenções que vão além de simples trocas de peças completas, podendo
envolver até o recondicionamento de componentes. Diagnoses mais
precisas são realizadas, pois computadores de diagnósticos estão
disponíveis, assim como um conjunto completo de literatura técnica (e.g.:
concessionárias – ver figura 2.5). Neste modo de intervenção, acesso a
peças passíveis de manutenções freqüentes, seja por trocas preventivas
e/ou de qualidade, devem possuir acesso facilitado bem como um baixo uso
de ferramentas universais/especiais. Trocas de componentes completos
também podem ser consideradas neste nível de intervenção se o projeto
entender que a capacidade de reparo está aquém do necessário;
c) Manutenção do fabricante/fornecedor: neste nível de intervenção, os
melhores ferramentais, as pessoas mais capacitadas, e uma grande
disponibilidade de informações / peças e recursos estão disponíveis.
Normalmente, neste nível o próprio fabricante e/ou fornecedor atuam (e.g.:
montadoras do setor automotivo).
Portanto, um engenheiro de produto deve sempre compreender onde o produto
em desenvolvimento será reparado, já que estes fatos determinam as condições em
Capítulo 2 A Mantenabilidade ao Longo do Desenvolvimento do Produto 39
que a manutenção será realizada. Erros de entendimento sobre os níveis de
intervenção podem causar fortes frustrações no cliente final, bem como gerar custos
desnecessários (e.g.: reparos que deveriam ser simples que acabam por ser
repassados a níveis superiores de intervenção).
Figura 2.5 – Manutenção intermediária – troca de filtro (B) com auxílio da ferramenta especial
(A)
2.2.2.2. Política de reparos
A política de reparos define se um componente de um sistema deve ser
reparado ou não. Blanchard e Fabrycky (2006) dividem peças em três diferentes
classes segundo a possibilidade de manutenção, sendo elas:
a) Item não reparável: composto por itens com baixa possibilidade de falha, custo
relativamente baixo, ou que seja sensível a manutenções no nível organizacional
e/ou intermediário. Neste contexto, é importante garantir a possibilidade de
identificação do item não reparável como peça causadora de uma falha já que a
mesma não pode ser desmembrada (e.g.: diagnose embarcada ou por sintoma) e
prover acesso de remoção e instalação para a peça. Normalmente, a tomada de
decisão por não desmembrar um produto em diversas peças de reposição ocorre
por se tratar de um item de segurança, e/ou pela falta de conhecimento,
ferramental e cuidados durante um possível reparo no nível organizacional e/ou
intermediário;
b) Item parcialmente reparável: dentro de um mesmo componente podem existir
diferenças na forma de desmembrar as suas peças de reposição. Geralmente, as
políticas de reposição se preocupam em dispor somente peças que apresentem
Capítulo 2 A Mantenabilidade ao Longo do Desenvolvimento do Produto 40
desgastes naturais da operação ao longo da vida útil, tendo que somente realizar
uma troca completa em caso de danos com origem externa (e.g. quebra de
carcaça, batida acidental). Outros componentes, além dos habituais relacionados
a uma manutenção preventiva, somente deverão ser desmembrados se o custo
final perante a solução completa for viável financeiramente. Nesta classe, além
de prover acesso ao produto, toda a funcionalidade interna do mesmo deve ser
desenvolvida de acordo com aspectos da mantenabilidade.
Nota: sempre devem ser levados em conta os preços das peças durante a troca,
a mão-de-obra e os riscos da realização de manutenções incorretas
(dependendo da sensibilidade à manutenção que o componente apresente),
antes de se optar por uma política de reparo;
c) Item reparável: todo o desmembramento de peças é disponibilizado para a
reposição. Isto ocorre quando:
c1) existe forte influência da concorrência onde a busca por custos mais baixos
de manutenção se tornam relevantes;
c1) existem problemas de qualidade em componentes internos que acabam
justificando a troca de um item interno ao invés do componentes completo;
c1) existe a necessidade de liberar peças de desgaste natural, e itens externos
pois a peça está sujeita a deteriorações provenientes de agentes externos.
2.2.2.3. Ambiente para realização da manutenção
Além de entender os níveis de intervenção e a provável composição das peças
de reposição, a equipe de DP deve avaliar o ambiente em que a manutenção será
realizada. Quanto mais inóspito for o ambiente de operação, maior será a dificuldade
de remover/mover o produto para análise em níveis de reparo superiores (e.g.:
reparo de um automóvel em uma auto-estrada).
2.3 Confiabilidade versus mantenabilidade
A confiabilidade e a mantenabilidade estão diretamente ligadas, já que são
consideradas disciplinas complementares (MIL-HDBK-470A, 2007).
Capítulo 2 A Mantenabilidade ao Longo do Desenvolvimento do Produto 41
Assim, tem-se que confiabilidade é a capacidade, expressa por uma
probabilidade, de um item desempenhar uma função especificada, sob condições e
intervalo de tempo predeterminado (PALLEROSI, 2007). Portanto, a confiabilidade
pode ser definida pelas equações apresentadas em 2.1, sendo F(t) a probabilidade
que o sistema irá falhar no tempo t.
==
t
dttftFtR )()(1)(
Eq. 2.1
Segundo Blanchard, Verma e Peterson (1995), duas das principais medidas
para se avaliar a confiabilidade de um produto são: taxa de falha (equação 2.2) e
MTBF (equação 2.3 – assumindo uma distribuição exponencial).
operaçãodehorasdetotaln
falhasden
º
º
=
λ
Eq. 2.2
λ
1
=MTBF
Eq. 2.3
Onde:
λ = taxa de falhas
MTBF = Tempo Médio entre Falhas.
Desta forma, se um produto é desenvolvido sob uma expectativa de uma taxa
de falha durante a sua vida útil, existe um momento no tempo t que o mesmo irá
falhar (ou passará por manutenção preventiva). Deste modo, dependendo da forma
como a política de reparo do produto foi definida (seção 2.2.2), o mesmo necessitará
de uma intervenção. A figura 2.6 demonstra um exemplo de um produto em que a
indisponibilidade (downtime) e a disponibilidade (uptime) são declaradas ao longo do
seu uso.
Nos momentos em o produto passa por ações de manutenção
(indisponibilidade), o objetivo deve ser sempre de reparar o produto no menor
intervalo de tempo possível, já que o mesmo deve ser retornado ao seu estado
funcional. A equação 2.4 define o MTTR, onde Mct é a soma de todos os tempos de
Capítulo 2 A Mantenabilidade ao Longo do Desenvolvimento do Produto 42
reparos para cada ciclo de manutenção preventiva/corretiva executado no produto
(ver figura 2.2) e n é o tamanho da amostra de análise.
Figura 2.6 – Conceito de Disponibilidade / Indisponibilidade
Fonte: Adaptado de Blanchard e Fabrycky (2006).
n
Mct
MTTR
n
i
i
=
=
1
Eq. 2.4
Onde,
MTTR = Tempo Médio de Reparo
Mct = soma de todos os tempos de reparos
n = tamanho da amostra
Logo, a equação 2.5 (MIL-HDBK-470A, 2007) procura demonstrar a relação
entre MTBF e MTTR, definindo assim a disponibilidade (A
i
).
MTTRMTBF
MTBF
A
i
+
=
Eq. 2.5
Portanto, se o produto nunca falhar ou se o tempo de reparo for igual à zero, a
disponibilidade seria igual a 100%. Deste modo, para se garantir uma disponibilidade
maior do produto, duas alternativas podem ser utilizadas durante o PDP: melhorar a
confiabilidade ou buscar a redução do tempo de reparo do produto.
Capítulo 2 A Mantenabilidade ao Longo do Desenvolvimento do Produto 43
Assim, durante o desenvolvimento do produto, a equipe deverá ser capaz de
avaliar se para melhorar a disponibilidade o ideal é aumentar a confiabilidade (o que
poderia ser custoso dependendo do desafio tecnológico) ou se a manutenção
poderia ser aprimorada diminuindo o tempo médio de reparo. Normalmente, uma
análise de custo-benefício (trade-off) será necessária para se chegar a uma
conclusão da melhor rota a ser seguida.
Ao escolher o caminho da melhoria da mantenabilidade para aprimorar a
disponibilidade do produto, a equipe de desenvolvimento poderá trabalhar com todos
os passos definidos em um ciclo completo de manutenção corretiva e/ou preventiva
(conforme demonstrados na figura 2.7 – regiões A e B). No contexto deste trabalho,
passos de logística e diagnose não fazem parte do escopo de análise da presente
dissertação e, portanto, devem ser desconsideradas na figura 2.7.
Figura 2.7 – Razão da indisponibilidade durante os reparos
Fonte: Adaptado de Blanchard, Verma e Peterson (1995).
Alguns pontos que podem ser melhor abordados pela equipe de
desenvolvimento são (sendo que os itens abordados a seguir são parte dos
objetivos almejados pelo presente estudo):
Capítulo 2 A Mantenabilidade ao Longo do Desenvolvimento do Produto 44
a) Acesso facilitado: buscar sempre dar acesso direto a componentes
considerados “chave” sem a necessidade da remoção de componentes
periféricos
3
(fato este confirmado na prática – ver entrevista em uma
empresa Aeronáutica no Apêndice C). A Figura 2.8 mostra um exemplo de
motor diesel em que para acessar os parafusos de fixação do cabeçote
(“P”) faz-se necessária a remoção do coletor de admissão (“C”). Este
conceito também é reforçado por Blanchard e Fabrycky (2006);
Figura 2.8 – Mantenabilidade incorretamente endereçada
b) Reparo do item: definir uma política de peças de reposição que viabilize
uma indisponibilidade menor. Ou focar na diminuição de tempo de reparo
criando uma modelagem que considere aspectos de mantenabilidade (e.g.:
menor necessidade de ferramentas universais/especiais);
c) Simplificar o produto diminuindo o nível de instrução necessário para
reparar o item no nível de manutenção organizacional.
Se, ao contrário, a equipe de DP optar pela via da melhoria de confiabilidade,
existe uma literatura extensa que aborda técnicas para se trabalhar com a
confiabilidade. Questões desde a estruturação de componentes do produto em
séries e/ou paralelo, incluindo ou não redundâncias no sistema, bem como métodos
de FMECA e FTA, são facilmente encontrados na literatura vigente podendo ser
utilizado como referência neste tipo de desenvolvimento
4
.
3
Segundo Slavilla, Decreuse e Ferney (2005), o objetivo principal do DFS (Design for Serviceability) é justamente possibilitar o
acesso, a manutenção ou a substituição dos componentes de um produto a partir do seu exterior.
4
Conforme relata a norma MIL-HDBK-470A (1997), que foi mantida em inglês para manter o seu significado original: “The
reliability data, such as failure frequency and failure mode and effects, play a role in maintainability predictions as well, since it is
the failure modes, their effects and frequency of occurrence that ultimately define individual maintenance tasks to be
performed”.
Capítulo 2 A Mantenabilidade ao Longo do Desenvolvimento do Produto 45
No entanto, para o presente trabalho, focado na melhoria da mantenabilidade,
apenas dois aspectos extras da confiabilidade serão abordados: i) o relacionamento
de componentes dentro de um sistema (confiabilidade em série e/ou paralelo); e ii) o
método FRCM (Failure Rate Complexity Method). Ambos os assuntos são utilizados
como base para a proposta de uma das funcionalidades da ferramenta que está
apresentada no capítulo 3.
2.3.1 Relacionamento de componentes
Segundo Smith (2005), os componentes de um sistema podem ser alocados de
forma serial, paralela ou por uma combinação de ambos (conforme visto na figura
2.9). Para alocar a confiabilidade no projeto, a equipe de desenvolvimento do
produto deve:
a) Observar dentro da configuração do produto, componentes que possuam
histórico de falhas e/ou informações disponíveis a partir de seu fornecedor
específico;
b) Identificar as mudanças de design que estão sendo aplicadas no projeto
para mapear áreas que não estejam cobertas por um histórico de taxa de
falhas;
c) A partir da experiência do grupo de projeto, deve-se mapear todo o sistema
determinando o peso de cada componente/sub-sistema perante o produto
completo;
d) Determinar a taxa de falhas desejada para componentes-chave de modo a
alcançar ao final do cálculo o índice de confiabilidade total almejado. Para
determinar quais componentes a equipe de projeto vai buscar reduzir a taxa
de falhas, deve-se buscar sempre a maior confiabilidade com o menor
esforço possível (menos recursos necessários a serem aplicados).
Tendo o trabalho de relacionamento entre os componentes como base, pode-
se discutir o método de FRCM apresentado na seção a seguir.
Capítulo 2 A Mantenabilidade ao Longo do Desenvolvimento do Produto 46
Figura 2.9 – Combinação série/paralelo de confiabilidade
Fonte: Adaptado de Blanchard e Fabrycky (2006).
2.3.2 FRCM (Failure Rate Complexity Method)
Basicamente, este método apresentado na MIL-HDBK-470A (1997)
5
, consiste
em alocar os valores de MTTR mais baixos requeridos nos pré-requisitos para
componentes com menor confiabilidade. Quer dizer, para itens que tenham maior
probabilidade de falhar ao longo da vida útil do produto, deve-se focar esforços na
busca pela diminuição do MTTR, já que desta forma o MTTR global do projeto
diminuirá.
Para aplicar este método os seguintes passos (correlacionados à Tabela 2.1)
devem ser seguidos (MIL-HDBK-470A, 2007):
1. Determinar N
i
: quantidade de cada item dentro do produto;
2. Identificar λ
i
: taxa de falha para cada item;
3. Multiplicar N
i
por λ
i
para encontrar
C
fi
– contribuição para a taxa de falha
total;
4. Expressar o MTTR de cada item (M
i
) como o produto de (λ
h
/ λ
i
) e M
h
sendo h o item que apresenta a maior taxa de falha;
5. Multiplicar o resultado do passo 4 pela taxa de falha correspondente ao item
(C
Mi
);
5
O método de Failure Rate Complexity recebe esta denominação já que, normalmente, as peças que apresentam maior
complexidade também detêm as maiores taxas de falha dentro de um sistema.
Capítulo 2 A Mantenabilidade ao Longo do Desenvolvimento do Produto 47
6. Utilizar a equação 2.6 para calcular o MTTR do item que apresenta a maior
taxa de falha;
fiiMi
i
fi
i
Mi
oduto
CMConde
C
C
MTTR ×==
Pr
Eq. 2.6
7. Calcular o MTTR dos outros itens do produto multiplicando o MTTR do
passo 6 por (λ
h
/ λ
i
) do item em questão.
Tabela 2.1 – Alocação do MTTR usando o método FRCM
Item
Passo 1
N
i
Passo 2
i
(x10
-3
)
Passo 3
C
fi
(x10
-3
)
Passo 4
M
i
Passo 5
C
Mi
A15 5
M
a
5 Ma
B 1 1,111 1,111 4,5 Ma 5 Ma
C 1 0,833 0,833 6 Ma 5 Ma
ΣCfi = 6,944
ΣC
Mi
= 15 M
a
M
C
= 4 horas
MTTR
Produto
=> 1,44 = 15 Ma / 6,944 => Ma = 0,67 horas
Passo 6
Passo 7
M
B
= 3 horas
Fonte: MIL-HDBK-470A (1997).
A composição do produto proposto na tabela 2.1 também pode ser verificada
na Figura 2.10.
Figura 2.10 – Alocação de componentes utilizando o método FRCM
Fonte: MIL-HDBK-470A (1997).
Capítulo 2 A Mantenabilidade ao Longo do Desenvolvimento do Produto 48
Observa-se que este método se utiliza do MTTR global do produto como
premissa para a utilização do mesmo. Como nem sempre dentro do
desenvolvimento do produto se é capaz de assumir um MTTR total do projeto, no
capítulo 3, ao invés de trabalhar com o MTTR, o uso da taxa de falha servirá como
base para implementar a função da ferramenta proposta. Acredita-se que a
possibilidade de angariar dados sobre taxas de falhas de componentes sejam mais
assertivos
6
do que assumir um MTTR global durante a fase de desenvolvimento.
2.4 Ergonomia
Assim como a ergonomia deve ser considerada durante o PDP para que a
interface de utilização entre o ser humano e o produto seja adequada durante a vida
útil, a equipe de desenvolvimento também não pode esquecer da forma como o
produto será reparado sob o ponto de vista ergonômico.
Não é a intenção do presente trabalho abordar profundamente este tema
relevante para a mantenabilidade, porém alguns exemplos sucintos sobre as
posições de trabalho bem como espaços necessários para uso de ferramentas
universais estão mostradas nas figuras 2.11 à 2.13
7
. Ao não contemplar estes
conceitos durante o design, erros como o cometido na figura 2.8 podem se tornar
constantes na solução implementada no produto final.
Figura 2.11 – Espaços requerido para uma posição de trabalho
Fonte: Adaptado de Blanchard, Verma e Peterson (1995).
6
Por contar normalmente com dados de falhas provenientes do campo e/ou assumir taxas de falhas de novos componentes
baseados na experiência do grupo de projeto e histórico de produtos semelhantes. Smith (2005), por exemplo, traz um lista de
taxas de falhas genéricas a serem utilizadas como referência caso o projeto não tenha o histórico de alguns componentes do
produto.
7
Todas as medidas são expressas em cm. Para maiores detalhes ver o Anexo A.
Capítulo 2 A Mantenabilidade ao Longo do Desenvolvimento do Produto 49
Figura 2.12 – Espaço requerido para uso de ferramentas universal em janela de acesso
Fonte: Adaptado de Blanchard, Verma e Peterson (1995).
Figura 2.13 – Espaço requerido para uso de ferramenta universal
Fonte: Adaptado de Blanchard, Verma e Peterson (1995).
2.5 Engenharia simultânea e o uso de modelagem em CAD
Outro fator preponderante da aplicação da mantenabilidade no PDP é a forma
como ocorre a transmissão de informações entre a equipe de desenvolvimento e a
própria aplicação dos produtos correntes no mercado (doravante o mercado de
aplicação também poderá ser denominado de “campo”).
Segundo Smith (1997), os quatro fundamentos que servem de base para a
engenharia simultânea são: i) a importância crescente da manufatura nas decisões
tomadas ao longo do desenvolvimento do produto; ii) a criação de equipes
multifuncionais durante o PDP; iii) o foco nas demandas dos clientes; e iv) o uso do
prazo de entrega (lead-time) como uma fonte de vantagem competitiva. Apesar de
considerar as equipes multifuncionais como um dos fundamentos, fica muito claro no
estudo detalhado sobre a engenharia simultânea realizado por este autor, que a
Capítulo 2 A Mantenabilidade ao Longo do Desenvolvimento do Produto 50
manufatura, historicamente, foi o primeiro processo que começou a impor suas
demandas ao longo do PDP (como comentado no capítulo 1). Ele também declara
que o grande problema que sempre existiu, seja na manufatura, no marketing ou
mesmo para a manutenção de campo, foi que a engenharia do produto acabava
“jogando o produto pronto por sobre o muro” (throwing the design over the wall),
fazendo com que outros processos da empresa tivessem que se ajustar ao conceito
entregue (e.g.: criando custos desnecessários para a manutenção e/ou manufatura).
Afirma também que ao criar equipes multidisciplinares, o engenheiro do produto
acaba por compreender diferentes demandas provenientes de outras funções da
empresa. Isto torna o produto mais ajustável ao parque industrial corrente e/ou os
equipamentos/conhecimentos já existentes para realizar a manutenção do produto
no campo.
Para reforçar ainda mais a importância da engenharia simultânea, a MIL-
HDBK-470A (1997) declara que a mantenabilidade é realmente um parâmetro a ser
considerado no design já que qualquer tentativa para aprimorar a mantenabilidade
herdada após o “congelamento” do desenvolvimento do produto será cara e
ineficiente (fato este confirmado na figura 1.3). Quer dizer, a comunicação entre
engenheiros de serviço (que lidam com questões de aplicação do produto
diariamente) e a equipe de desenvolvimento de novos projetos devem ser constante
para que se assegure o sucesso de novos produtos sob o ponto de vista da
mantenabilidade.
Porém, esta comunicação entre campo e desenvolvimento nem sempre ocorre,
sendo a lista a seguir, um conjunto das prováveis causas:
a) A estrutura organizacional da empresa mantém estas duas funções
afastadas (organização departamental);
b) Falta de tempo para compartilhar experiências (recurso humano);
c) Falta de empatia entre as funções. Quer dizer, o engenheiro de serviço
(campo)/desenvolvimento não demonstra interesse ou compreensão sobre
outras funções;
Capítulo 2 A Mantenabilidade ao Longo do Desenvolvimento do Produto 51
d) Durante o desenvolvimento conceitual e detalhado, os modelos em CAD
não são compartilhados entre as funções dificultando a comunicação entre
as mesmas (item a ser melhor explorado na seção 2.5.1).
Para Blanchard, Verma e Peterson (1995), durante suas explanações sobre
como criar uma estrutura organizacional voltada aos anseios da mantenabilidade, a
comunicação entre as duas funções deve ser baseada em conhecimento técnico
(technical trust). Declara que para o engenheiro de serviço poder contribuir no
processo de desenvolvimento, além de possuir um conhecimento profundo na sua
disciplina, deve ser capaz de compreender todas as tecnologias e práticas na área
de projetos, bem como ser apto a se comunicar com engenheiros de
desenvolvimento (be able to “talk the designer’s language”) se adequando a sua
forma de pensar/atuar. Os autores chegam a listar um conjunto de conhecimentos
que o engenheiro de serviço deve possuir:
a) Preferencialmente formação de engenharia (na área de atuação);
b) Entendimento do PDP;
c) Compreender os sistemas acerca do desenvolvimento do produto (e.g.:
CAD, sistemas de elementos finitos);
d) Entendimento dos relacionamentos existentes entre diferentes funções da
empresa.
No entanto, os autores deixam de mencionar o lado reverso, em que o
engenheiro de desenvolvimento, apesar de ser o maior responsável pelo produto da
origem ao descarte (from cradle to grave), também deve se atualizar e buscar
compreender como este produto será utilizado assim que sair da produção. No
conhecimento prático do presente autor desta dissertação, fica evidenciado a falta
de entendimento por parte de engenheiros de desenvolvimento sobre a forma como
é realizada a manutenção de produtos correntes (esta falta de conhecimento acaba
por gerar produtos como o apresentado na figura 2.8). Como pode então, a equipe
de desenvolvimento conceber uma modelagem de um produto sem ao menos
conhecer a forma (conhecimentos, ferramentas e local de atuação) como o seu
produto é reparado?
Capítulo 2 A Mantenabilidade ao Longo do Desenvolvimento do Produto 52
Assim, falta de conhecimento da equipe de desenvolvimento sobre a aplicação
do produto no campo será utilizada como premissa para o endereçamento de
algumas funções da ferramenta do capítulo 3. Isto ocorre com intuito de dar maior
independência à equipe de desenvolvimento durante a fase conceitual podendo-se
utilizar de conhecimentos de campo que possam ser registrados e recuperados em
modelagens CAD.
Portanto, para se assegurar que a mantenabilidade será corretamente
endereçada no DP, ambas as funções devem estar aptas a compreender as funções
correlatas (desenvolvimento versus manutenção/serviço). Assim sendo, uma
ferramenta que atualmente é utilizada para integrar estas funções é a modelagem
em sistemas CAD. Na próxima seção maiores detalhes sobre esta ferramenta serão
abordados.
2.5.1 Modelagem em CAD como ferramenta de engenharia simultânea
Para Pahl et al. (2005), “um modelo digital do produto também é pré-condição
para o trabalho em paralelo no processo de um produto (Simultaneous Engineering,
Concurrent Engineering)”. A chamada “realidade virtual” de modelagem 3D trazida
ao desenvolvimento do produto pelos sistemas CAD possibilitam que o parâmetro de
mantenabilidade seja averiguado antes mesmo que um modelo ou um protótipo real
sejam construídos (HAO; YU e XUE, 2002), evitando assim custos desnecessários e
melhorando o prazo de entrega do produto.
A revisão dos modelos 3D podem ocorrer durante revisões de protótipos
virtuais (design reviews – ver figura 2.14), verificações em tempo real por parte dos
engenheiros de serviço para se inteirar do andamento das atividades de um projeto
(como poderá ser constatado na seqüência desta seção) ou simplesmente como
uma ferramenta para exemplificar uma provável solução em discussão entre a
equipe de desenvolvimento e os representantes do pós-venda em um projeto.
Normalmente, o engenheiro de serviço se utilizará da realidade virtual para
analisar os seguintes tópicos (MIL-HDBK-470A, 2007):
a) Acessibilidade;
b) Visão de campo (field of view);
Capítulo 2 A Mantenabilidade ao Longo do Desenvolvimento do Produto 53
c) Ergonomia (e.g.: seção 2.4);
d) Verificação de diretrizes sobre a mantenabilidade;
e) Verificação de tempos padrões.
Figura 2.14 – Revisão do protótipo virtual
Fonte: Rozenfeld (2007).
Vale salientar que a verificação de tempos-padrão normalmente ocorre pela
experiência elevada do engenheiro de serviço sobre o produto corrente e a
capacidade de compreender as alterações que estão sendo propostas no sistema
CAD para o projeto em questão. Quer dizer, uma previsão de quanto o tempo
padrão irá aumentar ou diminuir é utilizado para dar a realimentação à equipe de
desenvolvimento. Apesar de possíveis ferramentas existirem para auxiliar o
projetista (seção 2.10), nenhuma delas é capaz de suprir por completo todo o
conhecimento de um experiente engenheiro de serviço que seja capaz de interpretar
os tópicos relatados acima e os pontos somados a seguir:
a) Verificação de seqüências de reparo;
b) Verificação da padronização e simplificação do produto;
c) Modularidade;
d) Uso de ferramentas especiais e universais existentes;
e) Análise de custo-benefício (em conjunto com outras funções do projeto).
Capítulo 2 A Mantenabilidade ao Longo do Desenvolvimento do Produto 54
Para que o engenheiro de serviço possa fazer uso dos protótipos virtuais, este
deve ter a consciência sobre quais momentos irá atuar sobre o projeto bem como se
a modelagem em uso está em um nível de maturidade suficiente para que se
comece a dedicar recursos nas análises relevantes para a mantenabilidade. Durante
o desenvolvimento, o leiaute dos modelos em CAD sofre diversas alterações.
Inicialmente os componentes nascem como uma pura alocação de espaço, passam
por uma “metamorfose” até chegar a seu leiaute definitivo, sendo por último
disponibilizados o detalhamento de todos os seus componentes para que então
sejam produzidos (conforme demonstrado na figura 2.15).
Figura 2.15 – Evolução da modelagem em CAD ao longo do PDP
Fonte: Barreto (2007).
É justamente neste contexto que Zimmerman e Malmqvist (2007) relatam não
só a importância da modelagem em CAD (DMU – protótipo virtual) como forma de
garantir o compartilhamento entre diferentes funções de uma empresa ao longo do
PDP, mas também a necessidade de se assegurar a distribuição e uso de
visualizações em 3D de uma forma confiável.
Para o engenheiro de serviço, além de ter a certeza que o seu estudo está
baseado em modelos que correspondam à realidade do projeto no presente
momento, também deve ser garantido que a sua análise será levada em conta pela
equipe de desenvolvimento (realimentação do processo). A figura 2.16 ilustra os
passos propostos pelos autores para se trabalhar de uma forma simultânea com
sistemas CAD. O passo 5 neste processo demonstra justamente a realimentação
entregue pelo engenheiro de serviço na análise da troca de um compressor de ar
para a equipe de desenvolvimento.
Capítulo 2 A Mantenabilidade ao Longo do Desenvolvimento do Produto 55
No entanto, apesar do engenheiro de serviço estar alocando este estudo de
mantenabilidade e disponibilizando ao grupo de projeto, Zimmerman e Malmqvist
(2007) não deixam claro como o engenheiro de desenvolvimento será avisado sobre
uma nova mudança e/ou proposta de melhoria sob a ótica da manutenção. Apesar
de alertarem que o compartilhamento dos modelos deve possibilitar o rastreamento
das alterações, não está explicito quando e nem como o engenheiro de
desenvolvimento deve atuar.
Figura 2.16 – Proposta esquemática de integração de equipes multidisciplinares via modelos
em CAD
Fonte: Zimmerman e Malmqvist (2007).
É exatamente nesta lacuna que o estudo do capítulo 3 será focado, buscando
clarificar e propor uma forma com que os engenheiros de produto e serviço deverão
se comunicar por modelos virtuais. Este tópico se torna ainda mais relevante se for
levada em conta a carga de requisitos com os quais a equipe de projeto deve estar
atuando. Portanto, somente análises em componentes-chave deverão ser
consideradas, e não toda e qualquer simulação/análise realizada para averiguar
questões relacionadas ao suporte ao produto.
Indo além, para explorar uma forma de repassar uma análise de
mantenabilidade para a equipe de desenvolvimento, que será utilizada como
exemplo ao longo do capítulo 3, a figura 2.17 mostra um compressor de ar (o mesmo
do passo 5 da figura 2.16) de um veículo comercial.
Capítulo 2 A Mantenabilidade ao Longo do Desenvolvimento do Produto 56
Figura 2.17 – Compressor de veículo comercial
Fonte: Distribution of 3D Visualization data for aftermarket (2009).
A rota de saída deste compressor foi solidificada (Figura 2.18) simulando a
forma como este componente seria removido em caso de manutenção no campo.
Neste caso, o que o engenheiro de serviço está buscando é a reserva de espaço
para que nenhuma peça obstrua a remoção deste componente no caso de uma
eventual intervenção. O objetivo desta rota é possibilitar uma análise de
interferência entre o caminho de saída solidificado e outros possíveis componentes
que possam por ventura ser adicionados ao conjunto de modelos CAD ao longo do
PDP.
Figura 2.18 – Compressor com rota de saída solidificada (swept volume)
Fonte: Distribution of 3D Visualization data for aftermarket (2009).
Capítulo 2 A Mantenabilidade ao Longo do Desenvolvimento do Produto 57
Outra forma de se trabalhar com sistemas CAD (realidade virtual em 3D)
atualmente é utilizando manequins virtuais que simulam a participação de um
mecânico realizando a execução ou até mesmo validando a acessibilidade de
componentes sob o aspecto ergonômico. Apesar de todo o potencial deste tipo de
tecnologia, de nada adianta usar um manequim virtual se o usuário do sistema CAD
não possuir a competência necessária para compreender e representar a forma de
atuação de um mecânico. Uso de ferramentas, posição de reparo, disponibilidade ou
não de elevador para elevação de um automóvel formam, por exemplo, fatores
essenciais na pré-composição do ambiente de manutenção antes de se iniciar a
simulação virtual com o auxílio de um manequim 3D.
Maiores detalhes sobre a forma de atuar na análise de modelos virtuais serão
contemplados no capítulo 3.
2.6 Elementos de fixação
Durante a desmontagem de um produto para se ganhar acesso ao componente
desejado, diversos passos podem ser seguidos até que se chegue ao item almejado.
Em componentes mecânicos (foco do estudo do presente trabalho) o procedimento
de desmontagem e montagem está repleto de elementos de fixação que fazem o elo
entre dois ou mais componentes do produto. Parafusos, travas, contra-pinos, rebites,
montagens por interferência são algumas das formas com que os componentes
podem ser unificados.
Para Coulibaly, Houssin e Mutel (2008), os elos de montagem existentes entre
os componentes em uma modelagem CAD trazem informações relevantes sobre a
dificuldade e a facilidade com que a remoção destes elos pode ocorrer. Dentro da
metodologia apresentada por estes autores, sugere-se o uso de um fator de tempo
em relação a dificuldade de se realizar a desmontagem do elo de fixação (Tabela
2.2).
Da mesma forma, a MIL-HDBK-470A (1997) reforça algumas ações
elementares de manutenção para elementos de fixação disponibilizando inclusive
tempos aproximados em minutos conforme pode ser verificado na Tabela 2.3
correlacionada as Figuras AN.4 à AN.13.
Capítulo 2 A Mantenabilidade ao Longo do Desenvolvimento do Produto 58
Tabela 2.2 – Tempo requerido para a desmontagem (1)
Tipo de elo de fixação Tempo requerido
Sem contato 0
Contato 1
Clipping
2
Roscamento 3
Parafuso/Porca 4
Encapsulamento 7
Cola 8
Dobradiça 3
Solda 10
Fonte: Coulibaly, Houssin e Mutel (2008).
Nota: alguns exemplos desta literatura de elementos de fixação não foram
apresentados por estarem fora do escopo deste trabalho.
Tabela 2.3 – Tempo requerido para a desmontagem (2)
Descrição
Remoção / instalação
(
min
)
Figura
Parafusos padrão 0,42 AN.4
Parafusos com sextavado interno 0,60 AN.5
Parafuso borboleta 0,14 AN.6
Parafuso de máquina com contra-porca 0,67 AN.7
Porcas ou parafusos 0,78 AN.8
Anel trava 0,27 AN.9
Trava tipo
drawhook
0,06 AN.10
Trava tipo spring clip 0,07 AN.11
Trava tipo borboleta 0,10 AN.12
Trava tipo
lift and turn
0,07 AN.13
Fonte: MIL-HDBK-470A (1997).
Logo, pela analogia de tempos padrões propostos para elementos de fixação
(seja em minutos ou na forma de um fator), fica evidenciado que a equipe de DP ao
decidir a forma de criar um elo entre dois ou mais componentes, possui uma
responsabilidade quanto ao tempo que será dedicado a remoção dos mesmos. Quer
dizer, dependendo do tipo e da quantidade de elementos de fixação escolhidos, o
tempo de manutenção será fortemente influenciado. Pode-se concluir que fixações
mais rígidas como a soldagem e a por rebites, assim como sistemas de “parafuso e
contra-porca” devem ser preferencialmente evitados.
Capítulo 2 A Mantenabilidade ao Longo do Desenvolvimento do Produto 59
Basicamente, além da escolha do elemento de fixação, por uma questão
puramente técnica (baseado em cálculos que garantam a fixação desejada), a
equipe de DP deverá fazer uma escolha entre a facilidade da montagem produtiva
versus a dificuldade da manutenção (e.g.: rebitar uma chapa lateral de proteção ao
calor em um motor de ônibus pode ser rapidamente executado na produção, porém,
extramente complicado de se trabalhar na manutenção). Além disso, deve-se levar
em conta a disponibilidade do produto em campo, bem como a sua imagem caso
manutenções consideradas freqüentes se tornem complicadas por utilizar elementos
de fixação inadequados para a função do item.
Outro fator relevante na escolha do elemento de fixação diz respeito ao tipo de
ferramenta utilizada para realizar a remoção/instalação do mesmo. Diversos tipos de
parafusos e porcas podem ser selecionados no desenvolvimento do produto. Este
universo de alternativas acaba por gerar produtos como o mostrado na Figura 2.19,
onde diversos modelos de cabeças de parafusos foram aplicadas (neste exemplo,
tem-se cabeça multidentada interna/externa, sextavado interno e cabeça sextavada).
Portanto, para trabalhar com o trem de força do veículo de passeio da figura 2.19,
em apenas três fotos, seriam necessárias no mínimo quatro chaves diferentes para
se realizar a manutenção. No entanto, é importante lembrar que para alguns tipos de
parafusos, apesar de possuírem cabeças diferentes, ainda é possível utilizar o
mesmo conjunto de ferramentas (e.g.: cabeça de fenda e fenda cruzada).
Nota: uma das razões para se observar vários parafusos/porcas dentro de um
mesmo produto seriam as diferenças de componentes entre fornecedores quando se
selecionam produtos de “prateleira”
8
para evitar aumentos de custos em projetos.
Ou, até mesmo, uma busca de vanguarda da manutenção do veículo na procura por
proteção contra o mercado paralelo (ao escolher parafusos/porcas não usais).
Além de garantir um número reduzido de ferramentas e elementos de fixação
levando em conta o tempo de reparo que isto pode acarretar, a equipe de DP
também deve ser capaz de analisar a necessidade de espaços para que as
ferramentas possam acessar os componentes objetivados. Com os sistemas CAD, já
comentados na seção anterior, também é possível incluir análise de mantenabilidade
8
Componentes de prateleira são produtos que são oferecidos por fornecedores sem qualquer alteração do seu conceito
original. Ao propor uma adaptação do produto original para atender demandas de um projeto, estas alterações podem significar
aumento no custo de produto.
Capítulo 2 A Mantenabilidade ao Longo do Desenvolvimento do Produto 60
que observem se existe ou não espaço para aplicação de ferramentas universais e
especiais utilizando modelos virtuais como o mostrado na figura 2.20. Maiores
detalhes de como aplicar este conceito no PDP serão abordados no capítulo 3.
Figura 2.19 – Manutenção com diversas cabeças de parafusos
Figura 2.20 – Modelo virtual de ferramenta
Capítulo 2 A Mantenabilidade ao Longo do Desenvolvimento do Produto 61
2.7 Terminologias de mantenabilidade
Durante a revisão da literatura sobre a mantenabilidade no PDP, foi observado
que existe uma variação de termos dentro desta área de estudo (o que pode gerar
confusões), principalmente relacionados às nomenclaturas definidas para alguns
DFX’s. Esta seção tem como objetivo clarificar estas terminologias trazendo à tona
as diferentes visões dos autores na busca pela padronização destes termos. Sendo
eles:
DFMT: Design For Maintainability: Projeto orientado para a
Mantenabilidade;
DFS: Design For Serviceability: Projeto orientado para a Serviçabilidade
(GLOSSÁRIO ON-LINE, 2009);
DFS’: Design For Supportability: Projeto orientado para a Suportabilidade.
Para Dhillon (1999), as definições de alguns termos desta área são as
seguintes:
a) Mantenabilidade: referente aos aspectos do produto que melhoram a
serviçabilidade (serviceability) e a reparabilidade, aumentando a relação
custo benefício da manutenção, e assegurando que o produto atenda todos
os requisitos ao qual foi projetado;
b) Reparabilidade: é a probabilidade de que um produto falhado será reparado
e retornado ao seu estado funcional dentro de um tempo ativo
de reparo
definido;
c) Serviçabilidade: é o grau de dificuldade com que um produto falhado é
retornado ao seu estado funcional ao passar por um reparo;
d) Tempo ativo de reparo: é o tempo dentro da indisponibilidade de um
produto durante um procedimento de manutenção preventiva e/ou corretiva
(ver figura 2.7) em que o mecânico está realmente executando o reparo;
e) Tempo logístico: é o tempo dentro da indisponibilidade de um produto
durante um procedimento de manutenção preventiva e/ou corretiva (ver
figura 2.7) em que peças e/ou ferramentas estão sendo aguardadas.
Capítulo 2 A Mantenabilidade ao Longo do Desenvolvimento do Produto 62
Analisando o trabalho de Huang (1996), este define o DFS como um
procedimento de análise que abrange as operações de desmontagem e montagem
comumente executadas em reparos de produtos. Basicamente, o DFS procura
propor uma metodologia em que os componentes do produto são revisados quanto
os seguintes critérios:
a) A peça/módulo (no sentido de sub-montagem) removida é/ou contém o item
a ser reparado?
b) A peça/módulo removida é uma tampa/capa que deve enclausurar o
componente a ser reparado ou proteger o mecânico do mesmo?
c) A peça/módulo deve ser removida para isolar o componente a ser reparado
ou o módulo que o contém?
Como esta metodologia na verdade segue alguns conceitos do DFA, os
critérios acima estão, na verdade, avaliando a real necessidade da existência de
cada peça proposta pelo engenheiro de desenvolvimento. A figura 2.21 mostra a
transformação de um gravador de pressão após ser reavaliado sob a ótica do DFS,
notando-se claramente que a mudança do conceito do produto seguiu uma das
diretrizes básicas do DFA, a simplificação.
Figura 2.21 – Projeto orientado para a Serviçabilidade.
Fonte: Adaptado de Huang (1996).
Capítulo 2 A Mantenabilidade ao Longo do Desenvolvimento do Produto 63
Partindo para a MIL-HDBK-470A (1997), esta define a mantenabilidade como o
parâmetro de engenharia que busca facilitar, economizar tempo e recursos para que
um produto possa ser mantido (manutenção preventiva) ou restabelecido a uma
condição operacional especificada (manutenção corretiva) quando a manutenção for
realizada por pessoal capacitado, usando procedimentos e recursos definidos.
Apesar desta norma não definir o termo de serviçabilidade, ela acrescenta que
a consideração do tempo logístico (também definido por HUANG, 1996), somado ao
DFMT (Design for Maintainability), compõe o chamado DFS’ (Design for
Supportability). Fazendo então uma analogia com os termos apresentados até aqui,
o que a norma propõe é que a melhora da serviçabilidade seria uma parte
constituinte do parâmetro de mantenabilidade, já que este abrange não só a melhora
da facilidade com que se repara um produto, mas também todo o conceito de
manutenção, desde o seu endereçamento como um requerimento de projeto
(partindo do histórico de reparos/problemas no campo), passando pelo
desenvolvimento do conceito do produto com listas de verificações (check lists),
analisando-o e testando-o sob este aspecto, até chegar a execução da manutenção
do produto final nas mãos do cliente.
A definição de mantenabilidade por Blanchard e Fabrycky (2006) segue a
mesma linha da MIL-HDBK-470A (1997), porém focando na abordagem das
métricas quantitativas (MTTR, MTBF, entre outros). No entanto, estes mesmos
autores reservam um capítulo completo para o Projeto orientado para a
Suportabilidade e definem este DFX como: toda a “logística associada com a
aquisição inicial, produção, e distribuição do sistema/produto e seus elementos a
base operacional de seu cliente; e a subseqüente sustentação da manutenção e
suporte durante toda a vida útil do produto”.
No entanto, apesar da figura 2.22 demonstrar claramente toda a abrangência
do Projeto orientado para a Suportabilidade, Blanchard e Fabrycky (2006) também
denominam este DFX como Projeto orientado para a Serviçabilidade, contrariando a
forma como o DFS é compreendido por Huang (1996).
Capítulo 2 A Mantenabilidade ao Longo do Desenvolvimento do Produto 64
Figura 2.22 – Projeto orientado para a Suportabilidade
Fonte: Adaptado de Blanchard e Fabrycky (2006).
Rozenfeld et al. (2006), é sucinto ao relatar algumas definições de DFX’s:
a) “Projeto orientado para Serviço (Design for Service, DFS): compreende na
adequação do produto para a operação, manutenção, fácil acesso a
componentes, de maneira a garantir a performance contra conflitos entre
diferentes serviços que possam ser executados no produto.” – esta
abordagem converge com a de Huang (1996);
b) “Projeto orientado para a Mantenabilidade (Design for Maintainability,
DFMt): concentra-se no projeto para manter o produto em funcionamento
durante o seu ciclo de vida, levando em conta a manutenção, inspeção,
reparo, padronização, entre outros. Tem forte relacionamento com métodos
que tratam da ergonomia, estética, confiabilidade e montagem”;
c) “Projeto orientado para o Auxílio na Logística (Design for Supportability):
consiste no gerenciamento dos recursos, suprimentos, instalações,
equipamentos, etc, compondo todas as considerações necessárias para o
projeto com um efetivo e econômico auxílio durante todo o ciclo de vida”. -
Aqui, o autor foi de certa forma confuso ao expressar a definição do DFS’.
Porém, é explícito sobre a inclusão de questões logísticas o que, segundo
outros autores, forma parte do conteúdo deste DFX. No entanto, questões
Capítulo 2 A Mantenabilidade ao Longo do Desenvolvimento do Produto 65
como treinamentos e suporte ao produto foram esquecidas ou mal
endereçadas na definição.
Para Pahl e Beitz (1996), a forma de declarar o DFX é ligeiramente diferente,
tratando a mantenabilidade como Design for Ease of Maintenance (Projeto orientado
a facilidade de realizar manutenção). Entretanto, apesar da diferença na
nomenclatura, estes autores estão em linha com a forma de tratar o Projeto
orientado para a Mantenabilidade, já que aplicam a forma como a mantenabilidade é
definida na MIL-HDBK-470A (1997). Assim como na norma, não definem claramente
o conceito de serviçabilidade e consideram o “serviço” como a simples ação de
manter um item operacional (e.g. lubrificação, limpeza, entre outros). O conjunto de
diretrizes apresentados se resume a: i) simplificar o produto e procedimentos; ii)
possibilitar a verificação dos reparos executados; iii) utilizar poka-yokes, simplificar
acessos e inspeções; iv) evitar calibrações e ajustes se possível; v) aplicar o
conceito de modularidade; e vi) otimizar o uso de ferramentas. Pelas diretrizes e o
que já foi abordado nesta seção até aqui, pode-se notar que para Pahl e Beitz
(1996), o Projeto orientado para a Serviçabilidade proposto por Huang (1996) está
contemplado no Design for Ease of Maintenance, ao objetivar a simplificação da
desmontagem e montagem do produto. Além disso, parte do Projeto orientado para
a Suportabilidade também estaria sendo examinado pela busca da simplificação dos
procedimentos de reparo.
Para finalizar esta seção, é necessário concluir qual é, na realidade, a
abrangência de cada um dos DFX’s estudados. Para tal, é importante agregar
algumas argumentações do autor da presente dissertação. São elas:
a) Durante todo o ciclo de vida do produto, iniciando no PDP e
acompanhando-o durante o seu uso, todo o trabalho realizado para dar
suporte ao produto no mercado com a edição de literatura técnica (catálogo
de peças de reposição e manuais de serviço), endereçamento da
mantenabilidade em projetos, definição de tempos de reparo padrões,
preparação de treinamentos e seus materiais de descrição e
funcionamento, definição das peças de reposição e composições de
inventários, criação de ferramentas especiais e ferramentas de diagnósticos
são, normalmente, acompanhados por um setor denominado de Suporte ao
Capítulo 2 A Mantenabilidade ao Longo do Desenvolvimento do Produto 66
Produto (Product Support) – podendo variar de
denominação/responsabilidades de empresa para empresa. A
responsabilidade desta área, focada em questões de suporte ao Pós-venda,
não abrange questões logísticas da produção, por exemplo;
b) Dentro da literatura revisada, Blanchard e Fabrycky (2006) foram os únicos
a abordar o Projeto de Suportabilidade como Projeto orientado para a
Serviçabilidade;
c) Apesar de alguns autores não mencionarem ou não reconhecerem, o termo
serviçabilidade (serviceability) é usualmente utilizado na indústria
automotiva como a facilidade com que o reparo pode ser realizado;
d) Apesar da importância do Projeto orientado para a Serviçabilidade, o
mesmo representa apenas parte do escopo do Projeto para
Mantenabilidade;
e) O Projeto orientado para a Mantenabilidade (que será detalhadamente
abordado na próxima seção), objetiva diversas das responsabilidades do
suporte ao produto, conforme apresentado anteriormente. Enquanto a
tratativa da mantenabilidade visa facilitar a diagnose de falha e diminuir o
número de ferramentas especiais/universais simplificando o produto, o
Suporte ao Produto/Projeto orientado para a Suportabilidade visam a forma
de declarar e disponibilizar estas informações/ferramentas para o campo;
f) Mesmo que o DFMT esteja diretamente ligado ao tempo ativo de reparo, a
aplicação do parâmetro de mantenabilidade durante o PDP garante ganhos
substanciais na melhoria da suportabilidade, já que fatores como a redução
do número de peças, a simplificação do produto, a diminuição da
quantidade de ferramentas irão ter efeito positivo sobre os tempos
logísticos;
g) Para atender o preceito da mantenabilidade, onde a manutenção é
realizada por pessoal capacitado, usando procedimentos e recursos
definidos, o Projeto orientado para a Suportabilidade deve correr em
paralelo durante o PDP para garantir que o suporte ao produto esteja
adequado no momento de lançamento do produto;
Capítulo 2 A Mantenabilidade ao Longo do Desenvolvimento do Produto 67
h) O Suporte ao Produto representa essencialmente a fatia de atividades do
Projeto orientado para a Suportabilidade destinadas ao suporte do produto
no campo, não se importando com questões internas como logísticas para a
produção ou o desenvolvimento de fornecedores.
Logo para concluir, a figura 2.23 busca sintetizar a opinião do autor do presente
trabalho baseado na revisão bibliográfica realizada sobre DFS, DFS’ e DFMT.
Lembrando que o DFS’ é o único DFX (dos abordados na dissertação) que possui
alguma responsabilidade pela produção, sendo os demais focados em ações no
pós-venda. Acredita-se ser relevante esta revisão para que estes DFX’s passem a
ser melhor compreendidos na sua totalidade.
Figura 2.23 – Definição dos DFX’s acerca da mantenabilidade
Estas considerações podem auxiliar a evitar situações como a apresentada por
Wani e Gandhi (2002), que alegam que a melhora do endereçamento da tribologia
do produto (desgaste e fricção) garante melhora da mantenabilidade de sistemas
mecânicos. Voltando a relembrar a Figura 2.6, pode-se concluir que a melhora do
desgaste e fricção, garantindo um aumento no intervalo de trocas de óleos ou
lubrificação de um componente mecânico, gerará uma disponibilidade maior do
produto, portanto aumentando a sua confiabilidade e não melhorando a
mantenabilidade como afirmam os autores.
Capítulo 2 A Mantenabilidade ao Longo do Desenvolvimento do Produto 68
2.8 Projeto orientado para a Mantenabilidade
No início do capítulo 2, uma visão geral sobre a mantenabilidade foi
formalizada, começando com a definição da manutenção e os seus tipos,
entendendo a forma como é suportada (ambiente, política de reposição e nível de
suporte), declarando o relacionamento próximo com a confiabilidade e a ergonomia,
passando pelo entendimento da comunicação entre engenharia de campo e produto
(utilizando a realidade virtual), compreendendo a influência dos elementos de
fixação nesta área até chegar as terminologias acerca da mantenabilidade.
Tudo isto serviu para que a base de conhecimento sobre o Projeto orientado
para a Mantenabilidade fosse formalizada. Além destes tópicos, esta seção traz
maiores detalhes que devem ser observados quando da aplicação do parâmetro de
mantenabilidade no desenvolvimento do produto. No entanto, o exame deste tópico
ao longo das fases do PDP (que será tratado nas próximas seções) será melhor
abordado como uma proposta no capítulo 3.
Para reforçar a revisão bibliográfica sobre a mantenabilidade, o Apêndice B
apresenta um conjunto de diretrizes compiladas a partir de diversos autores.
Complementos da vivência prática do autor do presente trabalho e conceitos
abordados ao longo do capítulo 3 também fazem parte do conteúdo das diretrizes
deste apêndice.
2.8.1 Métricas da mantenabilidade
As métricas sobre a mantenabilidade podem ser divididas entre quantitativas e
qualitativas. Estas métricas normalmente são utilizadas para guiar o trabalho da
engenharia, servindo de requisitos de projeto durante o PDP.
2.8.1.1. Métricas quantitativas
As diversas métricas quantitativas são amplamente abordadas na literatura. As
principais delas, já apresentadas na seção 2.3, são o MTTR (utilizado para a
manutenção corretiva) e a disponibilidade do produto. Outras métricas propostas
circulam sobre mão-de-obra por reparo, tempo médio de manutenção preventiva,
máximo tempo ativo de manutenção corretiva, entre outros.
Capítulo 2 A Mantenabilidade ao Longo do Desenvolvimento do Produto 69
Tomando novamente como exemplo o mercado de veículos comerciais, onde a
disponibilidade do produto representa um forte requerimento do cliente, basicamente
o que se deve assegurar é a disponibilidade prometida. Para tal, além de garantir a
confiabilidade mínima esperada do produto, deve existir um foco intenso em
operações de manutenção corretiva que tenham uma freqüência de falha
conhecida/esperada e desenvolver produtos que possuam o menor tempo de
manutenção preventiva garantindo uma maior disponibilidade dos mesmos.
Normalmente, baseados em dados de campo, objetivos quantitativos de máximo
tempo de reparo ativo são endereçados em componentes considerados “chave”. É
sobre o tempo ativo de reparo que a engenharia normalmente irá direcionar esforços
para melhorar o tempo de reparo padrão. Esta prioridade pode ser confirmada na
Figura 2.24 já que 84% do tempo total do reparo está focado na desmontagem e
montagem do produto, segundo Huang (1996).
Divisão do tempo de reparo (%)
35%
49%
6%
5%
5%
Desmontagem do produto Montagem do produto Busca pela ferramenta
Busca pelas peças Devolão das ferramentas
Figura 2.24 – Divisão do tempo de reparo
Fonte: Adaptado de Huang (1996).
2.8.1.2. Métricas qualitativas
Segundo a MIL-HDBK-470A (1997), as métricas qualitativas formam o conjunto
de demandas que asseguram que o produto a ser desenvolvido seja manutenível.
Exemplos destas métricas são:
a) Nenhuma nova ferramenta especial será criada para dar suporte ao novo
produto;
Capítulo 2 A Mantenabilidade ao Longo do Desenvolvimento do Produto 70
b) A composição do novo produto deve ser de no mínimo 85% das peças já
previamente existentes no inventário da empresa;
c) O acesso a componentes considerados “chave” (lista de componentes
disponível ao grupo de projeto) deve ser livre – fica vedada a remoção de
qualquer peça periférica nestes itens.
Apesar de não possuírem uma fórmula específica (predeterminada, como o
MTTR), estas métricas normalmente expressam desejos/demandas de clientes
internos (outros setores da empresa)/externos podendo significar ganhos
importantes para a empresa dentro da suportabilidade do produto.
2.8.2 Ferramentas e equipamentos para diagnose
Para realizar a manutenção de qualquer produto, o ideal é sempre manter o
número de ferramentas para realizar a desmontagem, a montagem, o diagnóstico,
testes em bancadas, e equipamentos de segurança no menor nível possível.
Deixando de lado equipamentos de teste e diagnóstico mais orientados a
produtos com eletrônica embarcada, pode-se compilar as ferramentas em dois
grupos principais:
a) Ferramentas universais: são ferramentas comumente encontradas no
mercado tais como uma chave de fenda, chave torx, chave allen, catracas,
sacadores universais, entre outros (Figura 2.20 é um exemplo de
ferramenta universal);
b) Ferramentas especiais: são ferramentas especialmente desenvolvidas pelo
fabricante para atender ao design do seu produto. Estas ferramentas visam
realizar o trabalho de manutenção de forma segura, rápida e funcional (e.g.:
copos para montagem de retentores, cavaletes específicos para segurar
motores, caixa de câmbio ou diferenciais para procedimentos de
recondicionamento fora de veículo, caixa de pinos para testes de sinais
elétricos de módulos eletrônicos e/ou sensores, entre outros).
As ferramentas especiais também podem ser categorizadas por outros dois
fatores clássicos:
Capítulo 2 A Mantenabilidade ao Longo do Desenvolvimento do Produto 71
a) Proteção de mercado: criam-se empecilhos sobre o uso de ferramentas
universais para se garantir que o cliente só repare o produto dentro da rede
de assistência técnica do fabricante;
b) Não consideração da mantenabilidade ao longo do PDP: ao não conhecer a
forma, o local, o ferramental e o nível de conhecimento em que a
manutenção está inserida, problemas conceituais sérios do produto podem
ser gerados:
b1) Aumento do MTTR do item em virtude da dificuldade em se realizar a
manutenção;
b2) Geração de custos no desenvolvimento e distribuição de ferramental
exclusivo. A Figura 2.25 mostra um exemplo em que uma ferramenta
especial foi criada para a tubulação de alta pressão de um sistema
common rail que foi concebida de forma a cobrir um erro conceitual do
projeto do produto;
b3) Cobrir lacunas de projeto para garantir a correta montagem/ajuste de
componentes.
Figura 2.25 – Ferramenta especial
2.8.3 Testabilidade
Para que a diagnose de um produto seja facilitada, é sempre importante
compor o produto com possibilidades de testes para verificação, antes e após o
reparo. Em veículos, por exemplo, são necessários pontos reservados para a
Capítulo 2 A Mantenabilidade ao Longo do Desenvolvimento do Produto 72
instalação de nípeis de verificação da pressão de óleo do motor ou da pressão de
um sistema de ar comprimido, janelas de inspeção para análise de desgaste e
montagem de um sistema de freio a disco, acesso livre a conectores de sensores e
módulos eletrônicos, entre outros, formam exemplos de como a testabilidade deve
ser considerada.
2.8.4 Padronização
A MIL-HDBK-470A (1997) afirma que a padronização encoraja o uso de itens
comuns (não se referindo apenas a peças, mas também a processos, sistemas,
softwares, ferramentas, entre outros).
A padronização de um produto com mais itens de “prateleira” (e.g.: filtro de ar,
filtros de combustível e óleo, parafusos, porcas, anéis elásticos, bujões de drenagem
de óleo, entre outros) sob a ótica do parâmetro de mantenabilidade pode acarretar
nos seguintes benefícios:
a) Menor uso de diferentes ferramentas especiais/universais;
b) Menor risco de montagem de peças incorretas durante reparos;
c) Diminuição da necessidade de treinamento caso a família de produtos da
mesma empresa se utilize de componentes padronizados.
A não padronização normalmente ocorre pela falta de conhecimento da equipe
de desenvolvimento sobre a gama de itens disponíveis dentro da própria empresa e
pelo não endereçamento da padronização com fornecedores-chave do projeto.
No entanto, Dhillon (1999) alerta para o fato de que a padronização não pode
se tornar uma busca excessiva ao ponto de barrar a entrada de novas tecnologias
bloqueando os avanços naturais de desenvolvimento do produto.
2.8.5 Modularidade
A modularização de um produto significa a separação das funcionalidades do
mesmo em componentes/sub-montagens diferenciadas, podendo ser
removidas/instaladas como entidades independentes.
As vantagens da modularização são:
Capítulo 2 A Mantenabilidade ao Longo do Desenvolvimento do Produto 73
a) menor necessidade de conhecimento necessária na assistência técnica do
produto – pode-se dividir o reparo por especialidades (e.g. elétrica,
pneumática, hidráulica, entre outros);
b) menor número de ferramentas;
c) reconhecimento, isolamento e substituição de componentes defeituosos é
simplificado;
d) agilidade no reparo já que módulos são normalmente facilmente
intercambiáveis;
e) minimização da possibilidade de contaminar outras peças durante o reparo
(e.g. soldagem para soltar peças podendo danificar o produto – ver exemplo
de desmontagem de um alternador no Apêndice A);
f) Ao definir interfaces padronizadas entre diferentes módulos pode-se
aprimorar/adequar (substituir por componentes disponíveis no momento do
reparo) o produto ao longo da vida útil (e.g. a troca de um diferencial “curto”
para “longo” mudando a aplicação de um caminhão de construção para
rodoviária ou a mudança de um compressor de ar com menor para um de
maior capacidade).
2.8.6 Simplificação
A simplificação do produto (já demonstrada na Figura 2.21) deve ser sempre
perseguida pelos desenvolvedores do produto. Assim como a concepção do produto
leva em conta a forma de pensar e atuar do cliente final, o
engenheiro/desenvolvedor deve ser capaz de compreender a forma com que o
projeto será reparado. Entender as capacidades do pessoal da assistência técnica,
bem como o ambiente e as ferramentas disponíveis, já formam um grande passo
para que o produto seja desenvolvido para estes fins – normalmente levando a
simplificação do design.
2.8.7 Acessibilidade
Dhillon (1999) referencia uma norma do exército americano para definir a
importância da acessibilidade no desenvolvimento de um produto: “Obter acesso a
um equipamento é, provavelmente, a segunda tarefa que mais consome tempo,
Capítulo 2 A Mantenabilidade ao Longo do Desenvolvimento do Produto 74
perdendo apenas para a isolação da falha, e quando existe um sistema de detecção
automática de falhas, com certeza obter acesso passa a ser a tarefa mais
demorada”.
A facilidade de se acessar um módulo ou um componente do produto se torna
primordial sempre que a freqüência com que o item será verificado (preventiva) ou
corrigido (corretiva) for relevante na determinação da disponibilidade do produto.
Acesso a elementos de fixação, a troca de componentes-chave sem a necessidade
de remoção de outros itens (a partir do seu exterior), a possibilidade de visualizar o
resultado do reparo/ajuste executado ou se o desgaste de um determinado
componente vai levar ou não a uma intervenção, formam valores básicos do
endereçamento da acessibilidade no PDP (maiores detalhes serão repassados no
conjunto de diretrizes para a mantenabilidade).
Este parâmetro deve ser um dos focos básicos dos desenvolvedores do
produto/serviço ao endereçar a mantenabilidade com a realidade virtual (assim como
mostrado nas figuras 2.17 e 2.18). A modelagem em sistemas CAD possibilita que o
projeto seja verificado quanto aos seus respectivos acessos de manutenção, seja
sobre o ponto de vista ergonômico ou de ferramental pré-existente.
Além disso, este termo não deve ser utilizado somente sob o conceito de
espaço, mas também sob a forma de dificuldade em acessar algo. Por exemplo, ao
compor uma tampa de inspeção com um número elevado de parafusos, isso trará
um aumento excessivo no tempo de acesso ao item almejado. Nesta mesma linha, o
engenheiro do produto deve estar atento a possíveis conflitos entre as vantagens de
uma montagem empilhada sugerido pelo DFMA e as suas possíveis conseqüências
para a manutenção de um produto. Na manutenção, parafusos que podem ser
facilmente apertados e soldados por processos de sub-montagens na produção,
podem não ser acessados na composição final do produto (ver estudo de caso sobre
alternadores no Apêndice A para maiores informações).
2.8.8 Coleta de dados do campo
A vivência da aplicação real dos produtos no campo possibilita que uma carga
imensa de conhecimentos seja gerada para uma empresa. Ao tomar ciência de
problemas de qualidade provocados por aplicação indevida, erros de projetos, ou
Capítulo 2 A Mantenabilidade ao Longo do Desenvolvimento do Produto 75
por manufatura incorreta, as áreas de suporte acabam por conhecer a fundo o
comportamento de um produto durante a sua vida útil. Suas vantagens e
desvantagens, como corrigir os problemas de forma rápida (com uma ação de
contenção), endereçar soluções definitivas após a engenharia ter solucionado a
questão, ou até mesmo conviver com o item já que o defeito foi concebido desta
forma no projeto, são atribuições que o engenheiro de serviço vivencia diariamente.
Voltando a seção 2.5, que retrata a comunicação entre o engenheiro de
produto e serviço (engenharia simultânea), pode-se afirmar (pela experiência prática
do presente autor e pela revisão da literatura) que boa parte da carga de
conhecimento concebida no campo não retorna às equipes de desenvolvimento para
a próxima geração de produtos. Casos conhecidos de problemas críticos no campo
(com alta taxa de falha) são normalmente tratados via qualidade, sendo o problema
corrigido ainda na versão atual do produto. No entanto, questões mais subjetivas
como serviçabilidade ruim são contornadas com operações de reparo mais longas,
ferramentas adaptadas, sugestões técnicas formalmente encaminhadas para a
assistência técnica no nível da manutenção organizacional ou intermediária, não
sendo devidamente examinadas junto aos engenheiros ligados diretamente e
exclusivamente ao desenvolvimento do produto.
Informações de campo também podem ser coletadas em testes de protótipos
reais já que representam uma fonte importante de conhecimentos sobre a aplicação
do produto, e portanto, se bem retro-alimentados, eventuais problemas na
concepção da manutenção podem ser melhorados antes do lançamento final do
item.
Mesmo assim, por mais que se trabalhe dentro dos conceitos ideais da
engenharia simultânea durante o desenvolvimento, convertendo problemas de
protótipos em melhorias de produto, seguindo fielmente todos os passos do PDP,
existirão sempre problemas que somente serão notados após o lançamento do
produto durante a sua aplicação real no campo
9
. Isto decorre do maior número de
situações que o produto estará exposto em diferentes ambientes, momentos e
usuários (WECKMAN; SHELL; MARVIN; 2001).
9
Conforme declara a MIL-HDBK-470A (1997), que teve seu texto mantido no idioma original para repassar fielmente o seu
conteúdo: “Despite our best efforts to design properly and to validate the design through development testing, some problems
may not evidence themselves until the product has been fielded”
Capítulo 2 A Mantenabilidade ao Longo do Desenvolvimento do Produto 76
2.8.8.1. Coleta e análise dos dados de campo
Ao coletar e analisar os dados sobre a aplicação do produto no campo, pode-
se compreender os seguintes aspectos do produto:
a) desempenho;
b) problemas com altas taxas de falhas/defeitos segundo o momento da
montagem e/ou momento do reparo;
c) tempos-padrão de reparo insuficientes para execução do reparo;
d) dificuldades na compreensão/execução do procedimento de reparo;
e) uso incorreto por parte dos usuários;
f) manutenção incorreta do produto no nível organizacional e/ou intermediário;
g) configuração de reposição insuficiente para atender os anseios do campo.
Para que estes dados sejam coletados de uma maneira segura, além de definir
um conjunto de informações fundamentais (sugerido por Smith, 2005) a serem
registradas durante a intervenção do produto no campo, é necessário que se tenha
um sistema capaz de coletar/armazenar todo este banco de dados para o uso no
momento apropriado por parte da equipe de desenvolvimento ao longo do PDP. A
fonte destas informações podem ser as seguintes:
a) sistema de garantia;
b) sistema de vendas de peças para reposição;
c) sistema de qualidade: registro de problemas e soluções para casos de
campo e produção;
d) sistemas de assistência técnica: histórico dos problemas relatados e
solucionados entre os diferentes níveis de manutenção (do organizacional
até o nível do fabricante);
e) histórico de serviços ao longo da vida útil: para fabricantes automotivos
normalmente é possível levantar fichas de todos os reparos e trocas de
peças executados em concessionárias;
f) registro de visitas técnicas executadas por engenheiros de serviço no nível
intermediário ou organizacional abordando problemas singulares que não
Capítulo 2 A Mantenabilidade ao Longo do Desenvolvimento do Produto 77
se enquadrem no sistema da qualidade (e.g. erros de aplicação, falta de
conhecimento do produto, conceitos da mantenabilidade endereçados
erroneamente durante o desenvolvimento);
g) desempenho e aplicação do produto – caso o mesmo possua registro
interno de diferentes fatores da sua utilização (produtos com eletrônica
embarcada). Neste caso, pode-se ter: horas do produto em atividade, horas
de utilização do produto em cada tipo de função previamente definida,
temperatura ambiente, pressão atmosférica durante o uso, entre outros.
A intenção com a coleta destes dados é prover informações confiáveis e
relevantes à equipe de desenvolvimento do produto. Com todas as informações na
mão poderão ser definidos quais itens prioritários devem ser melhorados/abordados
durante o melhoramento do produto corrente ou futuro.
Nota: além de utilizar bancos de dados, a experiência constituída na equipe de
desenvolvimento deve ser capaz de discernir e utilizar sempre que necessário
conhecimentos empíricos formados tanto no âmbito de campo (engenheiro de
serviço) quanto no desenvolvimento de produtos (engenheiro do produto), que por
ventura não tenham sido formalmente registrados.
2.8.9 Ferramentas de engenharia que suportam a mantenabilidade
Existem diversas metodologias dentro do PDP, que se não foram concebidas
única e exclusivamente para tratar o parâmetro de mantenabilidade, ao menos suas
análises e resultados servem como base para a melhora da manutenção de um
produto final.
Não é a intenção do presente trabalho trazer os detalhes de cada uma destas
ferramentas. No entanto, faz-se necessário lembrar a existência das mesmas na
literatura e compreender o que pode ser retirado destas técnicas que possa resultar
em avanços na aplicação da mantenabilidade.
O FMECA (Failure Mode, Effects, and Criticality Analysis) ajuda a melhorar
o produto já que auxilia na determinação de pontos de testes, no desenvolvimento
de sistemas de diagnósticos, na percepção de possíveis componentes-problemas
que não sejam fáceis de ser acessados, entre outros.
Capítulo 2 A Mantenabilidade ao Longo do Desenvolvimento do Produto 78
O FTA (Fault Tree Analysis) determina para cada modo de falha trabalhado
toda a gama de possíveis eventos que podem resultar no problema estudado. Assim
como o FMECA, o método de FTA pode trazer importantes identificações de
problemas para a manutenção do produto, podendo-se tratá-las antes do
“congelamento” da modelagem do projeto.
O diagrama de causa e efeito também pode ser utilizado para se buscar
compreender as potenciais causas de um modo de falha.
O processo de alocação da mantenabilidade, segundo a MIL-HDBK-470A
(1997), consiste na divisão de requisitos de manutenção para os sub-níveis de uma
montagem. Quer dizer, se um sistema possui um objetivo global de MTTR a ser
atingido, este objetivo deve ser rateado entre sub-sistemas, equipamentos e
componentes, para que se monitore e alcance o requerimento de manutenção
desejado ao longo do PDP. Um exemplo de alocação da mantenabilidade já
anteriormente abordado nesta dissertação e que reflete bem a intenção destes
procedimentos é o FRCM (para maiores detalhes ver a seção 2.3.2).
O RCM (Reliability-Centered Maintenance) é um método analítico utilizado
para identificar quais peças devem passar por manutenções preventivas em uma
relação custo benefício assegurando a confiabilidade do sistema entre as
intervenções planejadas.
2.9 Processo de desenvolvimento do produto (PDP)
Para transformar uma idéia em um produto de sucesso no mercado,
normalmente faz se necessária a aplicação de um processo de desenvolvimento do
produto (PDP). Para Rozenfeld et al. (2006), o PDP contêm as seguintes fases:
Planejamento do Projeto, Projeto Informacional, Projeto Conceitual, Projeto
Detalhado, Preparação para Produção e Lançamento do produto (conforme pode ser
visto na Figura 2.26). Já para Pahl e Beitz (1996), o PDP envolve Clarificação da
Tarefa, Projeto Conceitual, Projeto Preliminar e Projeto Detalhado.
Apesar da metodologia variar de autor para autor, seja no número de fases
e/ou na composição de cada uma delas, basicamente pode-se afirmar que a
“espinha dorsal” do PDP é a mesma. Inicia-se com a transformação das
necessidades do cliente (após um estudo de mercado) em uma especificação de
Capítulo 2 A Mantenabilidade ao Longo do Desenvolvimento do Produto 79
produto (e.g. com o auxílio da Casa da Qualidade). Com isso, buscam-se os
problemas essenciais para compor uma estrutura funcional do produto e a partir
desta, geram-se diversas alternativas que possam solucionar os problemas
existentes (e.g. uso do brainstorming e matriz morfológica). Então, após uma
avaliação das alternativas geradas (e.g. uso da matriz de avaliação absoluta),
escolhe-se um conceito com o qual a equipe de desenvolvimento de projeto irá se
aprofundar e detalhar até que se chegue ao desejado produto final.
Figura 2.26 - Processo de Desenvolvimento do Produto
Fonte: Rozenfeld et al. (2006).
2.9.1 A mantenabilidade dentro do processo de desenvolvimento do produto
Ao longo de todo o PDP, pode-se afirmar que o engenheiro de
desenvolvimento do produto recebe uma forte influência de diferentes setores da
organização, que demandam a consideração de diversos requisitos durante a
criação da concepção do produto (ZIMMERMAN; BERGSJÖ; MALMQVIST, 2006).
Tipicamente, tais demandas incluem aspectos da manufaturabilidade, qualidade,
cumprimento de custos e a inserção de funcionalidades requisitadas pelo marketing.
E é exatamente por haver esta disputa pelas soluções geradas a partir dos
engenheiros de DP que, normalmente, coexiste com recursos limitados, e em função
da pressão pela rápida entrega do produto ao mercado, que requisitos como a
mantenabilidade e o suporte ao cliente podem ser preteridos, pois sucumbem a
outras necessidades.
Capítulo 2 A Mantenabilidade ao Longo do Desenvolvimento do Produto 80
Porém, sabendo que tanto a manutenção quanto o suporte ao cliente ocorrem
após a introdução do produto ao mercado, e que é justamente no pós-
desenvolvimento que os lucros são revertidos a empresa (ver Figura 2.27), não é
difícil compreender que um projeto mal desenvolvido sob estes aspectos poderá
causar sérios danos a lucratividade do produto ao longo da sua vida útil.
Figura 2.27 - Vida útil de um Produto
Fonte: Adaptado de Pahl e Beitz (1996).
Portanto, para compreender melhor como o parâmetro de mantenabilidade está
atualmente inserido no PDP, uma revisão foi realizada sobre duas referências
consideradas clássicas pelo presente autor deste estudo na compreensão do
processo de desenvolvimento do produto. Na seção 2.9.2 uma revisão sobre o
trabalho de Pahl e Beitz (1996) e em 2.9.3 Blanchard e Fabrycky (2006) são
analisados sob a ótica da mantenabilidade. Para Blanchard e Fabrycky (2006),
apenas uma revisão sobre a forma de atuar sobre as métricas que envolvem a
mantenabilidade é utilizada, enquanto para Pahl e Beitz, uma análise fase a fase
sobre os aspectos da mantenabilidade é trazida a tona. Já na seção 2.9.4, a vivência
do autor desta dissertação no desenvolvimento de produtos sob o aspecto da
mantenabilidade é explorada.
2.9.2 Mantenabilidade no PDP (Pahl e Beitz)
Para Pahl e Beitz (1996), as fases do desenvolvimento do produto podem ser
resumidas conforme apresentado na Figura 2.28.
Capítulo 2 A Mantenabilidade ao Longo do Desenvolvimento do Produto 81
Antes de entrar em cada fase proposta por estes autores vale observar que
dentro dos fundamentos de sistemas técnicos que propõem, eles declaram que além
de satisfazer a funcionalidade e o inter-relacionamento entre os componentes, deve-
se também garantir que uma solução atenda os aspectos da mantenabilidade,
garantindo a conservação, a possibilidade de inspeção e reparo do produto.
Aconselham ainda que este parâmetro seja já endereçado na fase conceitual, pelo
menos na sua essência.
Figura 2.28 - Processo de Desenvolvimento do Produto
Fonte: Adaptado de Pahl e Beitz (1996).
Resumidamente, pode-se afirmar que as fases são compostas pelas seguintes
definições:
Capítulo 2 A Mantenabilidade ao Longo do Desenvolvimento do Produto 82
a) Esclarecimento da Tarefa: fase responsável pela compilação das
necessidades dos clientes convertendo-as em uma especificação do produto;
b) Projeto Conceitual: fase responsável pela definição dos problemas existentes
para se atingir a especificação do produto e pela criação de uma estrutura
funcional. É nesta etapa que se elaboram e se avaliam diversos princípios
funcionais para se chegar a um conceito do produto;
c) Projeto Preliminar: fase responsável pela transformação do conceito em um
leiaute definitivo da solução técnica (desenhos em escala e disposição do
produto no espaço definidos);
d) Projeto Detalhado: fase responsável pelo detalhamento do leiaute da solução
técnica (e.g. inclusão de dimensões, propriedades superficiais, material e do
detalhamento do processo produtivo).
Pode-se mesclar as Figuras 2.15 e 2.28 para que fique mais clara a evolução
da modelagem do produto ao longo do andamento nas fases de Pahl e Beitz (1996),
conforme apresentado na Figura 2.29.
Esclarecimento
da Tarefa
Projeto
Conceitual
Projeto
Preliminar
Projeto
Detalhado
Leiaute
preliminar
Leiaute
preliminar
Leiaute
Definitivo
Leiaute
Definitivo
Desenho p/
Produção
Desenho p/
Produção
Figura 2.29 – Evolução da modelagem no PDP
Dentro da primeira fase, Esclarecimento da Tarefa, os autores demonstram
como construir uma especificação do produto. Nela, a mantenabilidade aparece
como um item de uma lista de verificações trazendo exemplos da empregabilidade
da manutenção (e.g. intervalos de troca, inspeções, reparo, troca de componentes,
Capítulo 2 A Mantenabilidade ao Longo do Desenvolvimento do Produto 83
pintura e limpeza), servindo como um guia de sugestões a serem analisadas nesta
fase. Assim como qualquer outro requerimento da lista de verificações (check list), o
tópico manutenção não é aprofundado, já que os autores se dedicam mais a
demonstrar como gerar uma lista de verificações ao invés de detalhar diferentes
áreas de interesse. No entanto, através da explicação da criação do formato da lista
e de exemplos práticos, deixam evidente a necessidade de se gerar requisitos claros
e que possam ser quantificados (e.g. intervalo de manutenção do componente “x”
deve ser maior do que 12 meses). Outro fato relevante na formatação dos requisitos
é a demarcação dos itens entre “desejos” ou “demandas”, sendo este primordial e
aquele um requerimento a ser considerado.
Ao passar para a fase do Projeto Conceitual, primeiramente os problemas
essenciais são identificados. Uma análise funcional é criada e convertida em
princípios funcionais, que na seqüência são transformados em uma estrutura
funcional. Com a combinação destas estruturas, geram-se diferentes soluções que
devem ser sabatinadas por diferentes ferramentas que validam ou não os conceitos
contra aspectos técnicos e econômicos do projeto. Novamente, a mantenabilidade é
lembrada em uma lista de verificações que serve de auxílio para a avaliação do
projeto na fase conceitual. Neste guia, a simplicidade, a limpeza, a fácil inspeção e
reparo são mencionados, para que o possível conceito escolhido ao final desta
etapa do PDP não deixe de contemplar aspectos da manutenção.
Já dentro do Projeto Preliminar, onde o conceito selecionado passará por uma
metamorfose até chegar a um leiaute definitivo, outra lista de verificações é
apresentada como um conjunto de regras básicas para esta etapa. Uma pergunta
chave é colocada buscando identificar se a manutenção, inspeção e
recondicionamento podem ser executados/verificados de uma forma simples. Logo
na seqüência, Pahl e Beitz (1996), reforçam abaixo das seções sobre “Clareza” e
“Simplicidade” que além do que já fora mencionado nas fases anteriores, outros
aspectos da mantenabilidade devem ser seguidos, sendo eles:
a) Utilização mínima de ferramentas, equipamentos e informações complexas no
processo de reparo;
b) Criação de uma planilha que defina o escopo e a programação de como
ocorrerá a manutenção do produto;
Capítulo 2 A Mantenabilidade ao Longo do Desenvolvimento do Produto 84
c) Viabilidade de certificação de que o reparo recém realizado foi devidamente
conduzido ou não;
d) Falhas devem ser encontradas de uma forma rápida e fácil;
e) E que a manutenção deve ser simplificada e com baixo tempo de reparo.
Somente mais ao final da fase do Projeto Preliminar que os autores dispõem-se
a entrar ligeiramente no DFMT (Design for Maintainability ou Design for Ease of
Maintenance conforme denominado na literatura em questão). As seguintes
questões são endereçadas:
a) Sistemas devem ser preferencialmente isentos de ajustes ou regulagens;
b) Poucas peças devem ser utilizadas visando a simplificação do produto;
c) Componentes-padrão devem ser selecionados sempre que possível;
d) Permitir livre acesso;
e) Providenciar fácil desmontagem e montagem;
f) Aplicar princípios de modelagem modular;
g) Novamente reforçam o aspecto de utilizar o menor número de ferramentas
possível.
Nesta seção, fica clara a influência do engenheiro de desenvolvimento do
produto na composição dos custos de manutenção e nas formas de execução da
mesma quando da escolha de princípios funcionais ao longo da fase conceitual e
seu desenrolar durante a fase preliminar.
Além disso, os autores afirmam que o tipo de manutenção a ser desenvolvida
durante a vida útil do produto decorre das premissas do projeto, como a
disponibilidade, confiabilidade, segurança e tipo de sistemas (e sua funções
específicas). Quer dizer, a manutenção será realizada de forma corretiva, preventiva
ou preditiva dependendo das necessidades impostas pelo projeto do produto
(entenda-se necessidades dos clientes). Alegam também que durante o Projeto
Preliminar é importante considerar a acessibilidade e o Projeto orientado para a
Montagem (DFA – Design for Assembly).
Capítulo 2 A Mantenabilidade ao Longo do Desenvolvimento do Produto 85
Apesar de, idealmente considerarem que uma solução técnica deva ser isenta
da necessidade de manutenção, através da composição do produto com
componentes de confiabilidade similar, Pahl e Beitz (1996) entendem que esta
decisão pode não ser viável tecnicamente ou até a mesmo proibitiva se levado em
conta o custo do projeto. Logo, voltam a listar diversos objetivos dentro da
mantenabilidade que são necessários para assegurar o rápido retorno do produto a
sua funcionalidade original.
Passando para o Projeto Detalhado, os autores são sucintos ao descrever esta
fase declarando apenas que a mesma é responsável pelo detalhamento do leiaute
da solução técnica escolhida. No que tange a mantenabilidade, a importância desta
fase no desenvolvimento se faz pela documentação da forma de operação e
manutenção do produto ao longo da sua vida útil.
Basicamente, desde o momento que um conceito é definido até se chegar a um
leiaute definitivo existe uma “luta por espaço”
10
no projeto. E é exatamente nestas
fases em que o parâmetro de mantenabilidade tem que ser aplicado e
cuidadosamente revisado, passando desde verificações visuais com auxílio da
realidade virtual até chegar a averiguações físicas em protótipos reais. Apesar de
Pahl e Beitz (1996) lembrarem da manutenção na descrição de todas as fases,
trazendo listas de verificações sucintas e pontualmente mencionando o parâmetro
de mantenabilidade, não são claros sobre como atuar ao longo do PDP para que os
espaços necessários tanto para a manutenção quanto para a produção sejam
assegurados. Além disso, não declaram muitas métricas acerca do assunto, e nem
como monitorar requisitos de manutenção desde o esclarecimento da tarefa até o
projeto detalhado.
2.9.3 Mantenabilidade – Blanchard e Fabrycky
Blanchard e Fabrycky (2006) incluem o tema de mantenabilidade
constantemente durante todo o desenvolvimento do produto. Um resumo das ações
que devem ser tomadas sobre este aspecto dentro de cada fase é encontrado a
seguir:
10
Espaços em um modelo 3D são disputados pois existem diversas necessidades a serem atendidas. Sendo que muitas
destas demandas podem ser até conflitantes, sendo necessário aplicar modelos de análise de custo-benefício.
Capítulo 2 A Mantenabilidade ao Longo do Desenvolvimento do Produto 86
1 Projeto conceitual: definição do conceito de manutenção, requisitos da
mantenabilidade (qualitativos e quantitativos) e planejamento da
manutenção do produto;
2 Projeto do sistema preliminar: alocação dos requisitos da mantenabilidade,
análises de custo-benefício, suporte ao desenvolvimento do produto sob a
ótica do parâmetro da mantenabilidade e revisões virtuais do produto. É
nesta fase que os DFX’s são sucintamente apresentados;
3 Projeto e desenvolvimento detalhado: as mesmas ações do passo acima,
porém incluindo a demonstração do conceito de manutenção implementado
na verificação em produtos físicos;
4 Produção/construção: avaliação e teste da mantenabilidade do produto
através da verificação da cadeia de suporte ao produto como um todo,
aquisição e análise de dados referentes à mantenabilidade durante os
testes focando em ações corretivas no projeto caso necessário;
5 Utilização do produto e suporte durante o ciclo de vida: aquisição e análise
de dados referentes a mantenabilidade durante a vida útil focando em
modificações do produto caso necessário (novos projetos).
A própria composição de fases de PDP utilizadas pelos autores já demonstra
claramente um cuidado a mais, se comparado a Pahl e Beitz (1996), pois o ciclo de
vida completo do produto é contemplado no desenvolvimento. Assim como na seção
2.9.2, propostas de listas de verificações (check lists), requisitos e análises de custo-
benefício são apresentados para se considerar aspectos da mantenabilidade.
Os autores propõem também capítulos exclusivos para alguns DFX’s, dois dos
quais diretamente relacionados ao escopo desta dissertação: i) Projeto orientado
para a Mantenabilidade; e ii) Projeto orientado para a Serviçabilidade (abordado e
questionado na seção 2.7 por ser na realidade um Projeto orientado para a
Suportabilidade).
Porém, apesar de estarem considerando a vida útil do produto ao longo de todo
o desenvolvimento, seja na fase virtual ou nas fases de teste e validação, para
Blanchard e Fabrycky (2006), o Projeto orientado para a Mantenabilidade
basicamente está focado em métricas (e.g. MTTR e MTBF). Os autores são
Capítulo 2 A Mantenabilidade ao Longo do Desenvolvimento do Produto 87
minuciosos em trazer diversas métricas para se acompanhar ou propor objetivos
relacionados à mantenabilidade, porém são omissos ao tentar aliar estas métricas à
forma de se atuar ao longo do projeto para que o produto final seja desenvolvido
para atendê-las. Acabam retratando o que deve ser alcançado em termos de
mantenabilidade, mas não são capazes de converter estes objetivos em ações
claras de atuação no PDP.
Assim como na seção referente a Pahl e Beitz, Blanchard e Fabrycky apenas
mencionam os sistemas CAD sem descrever de uma forma clara como os projetistas
podem se beneficiar destas poderosas ferramentas para incorporar questões do pós-
venda (ou mesmo da produção) na modelagem virtual de produtos em 3D.
2.9.4 Endereçamento da mantenabilidade na prática
Como se pode notar, a mantenabilidade possui, dentre outras áreas, uma
posição de destaque na literatura. Ela é referenciada ao longo do processo de
desenvolvimento do produto inúmeras vezes - conforme pode ser visto em Pahl e
Beitz (1996). Porém, apesar de mencionada, a forma como a mesma é geralmente
apresentada não condiz com a sua importância durante a vida útil do produto.
Basicamente, a literatura traz um conjunto de diretrizes e objetivos a serem
alcançados ao longo do PDP acerca da mantenabilidade. Porém, a forma de
implementá-los não está declarada, dificultando aos engenheiros de
desenvolvimento compreender melhor o tema.
Ao se tomar a acessibilidade de um componente como exemplo, pode-se
afirmar que tanto Pahl e Beitz (1996), Rozenfeld et al. (2006) e Dhillon (1999)
compreendem que quanto mais rápido o produto voltar ao seu funcionamento
original melhor será para o cliente em questão. Portanto, o acesso ao componente
passível de reparo deve ser facilitado, e este parâmetro é demonstrado como um
dos objetivos dentro da mantenabilidade. No entanto, a literatura pouco acrescenta
sobre como identificar componentes passíveis de manutenção. Além disso, no caso
específico da acessibilidade, pouco se apresenta sobre a forma de reservar espaços
necessários para executar a manutenção de componentes chaves durante o PDP.
Logo, para melhorar a mantenabilidade dentro do PDP, se faz necessário
apresentar como os objetivos e as diretrizes devem ser aplicados no processo,
Capítulo 2 A Mantenabilidade ao Longo do Desenvolvimento do Produto 88
auxiliando assim o grupo de projeto a entregar os requisitos dos produtos
pertinentes ao suporte ao cliente/manutenção.
Para aliar a literatura à prática de mercado, pode-se utilizar da experiência do
autor do presente trabalho, mais especificamente em uma multinacional do setor de
veículos comerciais (caminhões e ônibus), destacando-se a existência de uma
metodologia de desenvolvimento do produto própria da empresa em questão. Não
fugindo ao que é apresentado na literatura, o PDP desta companhia é dividido nas
seguintes fases:
a) Pré-estudo: nesta fase o escopo do projeto é definido pela composição de
requisitos de projetos e desenvolvimento de diferentes conceitos que possam
atendê-los;
b) Estudo conceitual: é realizada uma análise dos conceitos gerados na fase
anterior escolhendo-se aquele com o qual o projeto dará continuidade. Gera-
se uma documentação mais específica do produto para que as próximas
fases possam ser executadas com diretrizes/objetivos bem definidos;
c) Desenvolvimento detalhado: é realizada a definição de todas as soluções que
serão implementadas no produto. Nesta fase, a solução é congelada, não
podendo mais ser alterada nas próximas fases;
d) Desenvolvimento final: é nesta fase que o produto é construído, verificado e
validado. As soluções de Pós-venda, Manufatura e Montagens são
monitoradas;
e) Industrialização e comercialização: todo o sistema industrial é testado para
validar a produção em série do novo produto. O produto é então lançado ao
mercado;
f) Acompanhamento: o grupo de projeto entrega o produto as áreas
competentes, que a partir deste momento têm a responsabilidade de suportá-
lo no mercado. Um acompanhamento é realizado para verificar se os
objetivos de projeto foram ou não alcançados. Um resumo das experiências
positivas e negativas ao longo do desenvolvimento do produto em questão é
registrado de forma que sirva como base para futuros projetos similares. O
projeto é oficialmente fechado.
Capítulo 2 A Mantenabilidade ao Longo do Desenvolvimento do Produto 89
Além das diretrizes já apresentadas até aqui para tratar o tema de
mantenabilidade dentro do PDP, a aplicação prática desta teoria dentro da
multinacional ocorre através da definição clara de requisitos de processo ao longo
de todas as fases acima citadas. Algumas das ferramentas utilizadas para tratar
este tema encontram-se descritas a seguir (ver também a Figura 2.30 - neste
exemplo, o modelo de Rozenfeld foi mesclado ao modelo de Pahl e Beitz, já que
estes são sucintos ao retratar as fases de preparação para a produção e lançamento
do produto):
a) QFD (Quality Function Deployment, ou casa da qualidade): é aplicada durante
a fase de pré-estudo para definir a especificação do produto. Diferentes áreas
são normalmente envolvidas na aplicação da mesma dependendo sempre do
escopo do projeto em questão. Assim como anteriormente mencionado, a
manutenção diária, preventiva e corretiva são considerados objetivos-chave a
serem trabalhados. No entanto, as áreas de Suporte ao Produto e Qualidade
de Campo, responsáveis pela definição da forma de execução do reparo e
pelo suporte ao cliente final, nem sempre participam ativamente desta fase.
Além disso, vale salientar a prévia existência de diversos requisitos de
produto que auxiliam a composição da casa da qualidade de novos projetos.
Para exemplificar, pode-se adotar o compressor de ar como modelo de
estudo. Em um desenvolvimento de um novo compressor para um veículo
comercial, acesso aos parafusos de fixação, tempo de remoção e instalação e
possibilidade de diagnose já são previamente definidos, de forma a não
permitir que alterações no produto venham prejudicar a instalação de um
componente chave como este;
b) Revisão de protótipo virtual (Design Review): é aplicado durante a utilização
de modelos virtuais e/ou protótipos. Mandatoriamente ocorre na interseção
das fases conceitual, de desevolvimento detalhado e de
industrialização/comercialização. Porém, a sua periodicidade real é na
verdade definida pela necessidade de análise gerada pelas alterações que
serão introduzidas no produto. Nesta ferramenta, uma gama variada de
participantes julga o desenvolvimento do produto direcionando ou não para
novas soluções/alterações sempre respeitando a especificação previamente
Capítulo 2 A Mantenabilidade ao Longo do Desenvolvimento do Produto 90
definida. Diversas listas de verificações são utilizadas para suportar as
análises a serem aplicadas, sendo um deles relacionado ao Pós-venda. No
que tange ao aspecto de mantenabilidade, nenhum dos tópicos existentes
foge do que já foi apresentado até o presente instante neste trabalho. Outro
fator relevante a ser considerado, é a disponibilização de modelos virtuais a
priori da revisão de protótipo virtual. Isto facilita a investigação, através do uso
de digital mock-ups, da instalação/acesso, necessidade de ferramentas
especiais e intercambiabilidade entre produtos fazendo com que as revisões
do produto se tornem mais produtivas. A participação de áreas de suporte ao
produto/Pós-venda nestas reuniões tem se mostrado extremamente útil na
entrega de produtos de fácil manutenção ao mercado;
c) Design For Assembly: aqui ocorre um fato interessante que é a
obrigatoriedade da participação de uma pessoa ligada ao Pós-venda,
evitando assim que soluções de produção afetem tempos de reparo ou a
inclusão de ferramentas especiais na tratativa do produto no campo;
d) Design For Aftermarket (DFAM): neste momento, novamente um grupo
multifuncional é reunido para analisar uma modificação e/ou um novo produto
sobre o ponto de vista de Pós-venda. Uma lista de verificações detalhada
aborda questões vitais tais como: disponibilidade, mantenabilidade,
demandas locais e a estrutura do veículo. Normalmente, ocorre entre as fases
de Desenvolvimento Detalhado e Final. Os resultados das análises são
revertidos ao grupo de projeto que delibera sobre possíveis alterações na
forma/instalação do produto. Comparando esta análise contra a literatura,
pode-se considerar que o conceito do DFAM seria similar ao Design for
Supportability e Maintainability;
e) Análise de mantenabilidade (AM na Figura 2.30): é uma ferramenta de análise
da mantenabilidade de um produto perante a manutenção diária, preventiva,
corretiva e preditiva de componentes e operações-chave ao longo da sua vida
útil. Nela, um grupo de referência multifuncional, analisa as operações de
manutenção do produto em questão, seja por meio de uma experiência prévia
ou pela própria execução da operação. Verifica-se através de diferentes
parâmetros e uma metodologia embutida em uma planilha (como tempo de
Capítulo 2 A Mantenabilidade ao Longo do Desenvolvimento do Produto 91
reparo, quantidade de ferramentas especiais e universais necessárias, entre
outros) se o item possui uma boa mantenabilidade ou não. A necessidade do
uso de ferramentas especiais, de duas pessoas para realizar o reparo,
remoção de componentes desnecessários, estar com os pés fora do chão no
momento da manutenção, bascular a cabine, entre outros constituem
penalidades no momento de graduar a facilidade de manutenção de um
determinado componente. Esta ferramenta pode ser utilizada desde a fase
conceitual (uso de modelos em CAD até após a fase de entrada na
produção);
f) FMEA: ocorre no mesmo formato do que o apresentado na literatura clássica.
Figura 2.30 – Momento de aplicação de ferramentas no PDP
Dentro de todas as ferramentas abordadas ao longo do PDP, seja nesta, ou em
qualquer outra grande multinacional do setor, o uso de ferramentas virtuais é cada
vez mais freqüente e vital para a verificação da mantenabilidade. Sem a
possibilidade de se avaliar conceitos num mundo virtual, os custos para se reverter
leiautes em virtude de necessidades do Pós-venda seria praticamente proibitivo
(seguindo a forma em que os projetos eram/são administrados). Nesta empresa, os
conceitos de produtos passam de uma simples alocação de espaço para um produto
preliminar com fronteiras bem definidas até finalmente chegarem ao produto final. E
Capítulo 2 A Mantenabilidade ao Longo do Desenvolvimento do Produto 92
é justamente ao longo desta “metamorfose virtual”, que aspectos da
mantenabilidade devem ser assegurados antes que o produto seja “congelado”
11
.
Vale ressaltar, no entanto, que pessoas ligadas diretamente à assistência
técnica por estarem constantemente “apagando incêndios” (tratando com problemas
de campo), possuem pouco tempo ou mesmo agendas imprevisíveis que dificultam a
sua participação com demandas ao longo de projetos para definir requisitos ou
acompanhar o desenvolvimento virtual do produto durante o PDP. Como já fora
mencionado anteriormente, problemas reconhecidos de qualidade acabam sendo
corretamente tratados. Porém, questões como a acessibilidade nem sempre surgem
na pauta de discussões de novos projetos para compreender as soluções incorretas
que estão no campo.
Além disso, a realidade virtual, apesar de bem disseminada, não possui um
fluxo claro de registro de análises de mantenabilidade, sendo o conhecimento
restrito às vontades individuais para se avançar neste parâmetro de engenharia.
Também, é importante salientar que as demandas de pós-venda estão
começando a serem vistas como incômodos para a engenharia de desenvolvimento,
já que geram trabalho e exigem a entrada em uma nova área de conhecimento onde
engenheiros de produto nem sempre se sentem confortáveis
12
.
Outro aspecto relevante a ser mencionado é a dependência destas ferramentas
ao conhecimento empírico de pessoas de grupos multifuncionais. Não se pode
negar que a experiência é importantíssima nestes tipos de atividades. Porém, basear
as decisões somente no empirismo pode ser perigoso, já que aspectos técnicos
relevantes podem ser sub-julgados em benefício de vontades individuais.
Além disso, deve ficar claro que, apesar das ferramentas listadas formarem um
conjunto de instrumentos relevantes que auxiliam na inclusão da mantenabilidade no
PDP, nem sempre as mesmas são devidamente aplicadas pois sucumbem a outros
requisitos e/ou pressões de entrega.
11
Congelar um produto na linguagem do PDP (na prática) significa não possibilitar a partir de uma determinada fase do projeto que alterações
conceituais sejam aplicadas ao produto.
12
Similar a situação declarada na Embraer na última frase do Apêndice C.
Capítulo 2 A Mantenabilidade ao Longo do Desenvolvimento do Produto 93
2.9.4.1. Exemplos práticos do endereçamento da mantenabilidade
Alguns exemplos de produtos do mercado são trazidos nesta seção com intuito
de ilustrar os efeitos negativos que o endereçamento da mantenabilidade pode
trazer, caso este parâmetro não seja aplicado durante o PDP.
Como já foi demonstrado na Figura 2.8, que traz um exemplo de motor diesel,
em que para acessar os parafusos de fixação do cabeçote faz-se necessária a
remoção do coletor de admissão, a acessibilidade foi esquecida durante o
desenvolvimento gerando a necessidade de remoção de componentes periféricos
que em nada se relacionam com o componente objetivado.
Outro exemplo já abordado é o da Figura 2.19 que retrata o uso indiscriminado
de diferentes cabeças de parafusos no mesmo produto, esquecendo do conceito de
padronização, ou mesmo o da Figura 2.25 onde uma ferramenta especial
desnecessária foi criada para arcar com a modelagem ruim que foi criada para os
tubos de alta pressão de um sistema de combustível common rail.
Na Figura 2.31 encontra-se o exemplo de uma operação para esgotamento de
óleo de um automóvel. Ao invés de providenciar uma furação no protetor de cárter
para dar acesso direto ao bujão de escoamento do óleo, o design proposto obriga o
mecânico a retirar a proteção de cárter para poder executar uma das operações
mais freqüentes no produto. Quer dizer, a acessibilidade ficou prejudicada na
solução deste produto. Além deste exemplo, o Apêndice A também traz um
alternador que não considera a questão de acessibilidade de forma adequado para
seus componentes que requerem manutenção freqüente.
Figura 2.31 – Troca de óleo de um veículo com a necessidade de remoção do protetor de
cárter (P)
Fonte: O mecânico - cárter (2009).
Capítulo 2 A Mantenabilidade ao Longo do Desenvolvimento do Produto 94
Já na Figura 2.32, tanto no passo da remoção da camisa do cilindro, quanto da
desmontagem do flange do bloco, faz-se necessária a marcação das peças para
identificar a forma de realizar a remontagem posteriormente. Ao invés de garantir um
poka-yoke, o projeto deste compressor repassa a responsabilidade da montagem
correta ao mecânico.
Figura 2.32 – Manutenção de compressor de ar – dificuldade na remontagem por falta de
poka-yoke
Fonte: O mecânico – compressor (2009).
Na Figura 2.33, para executar o ajuste de válvulas deve-se utilizar um ponto na
região inferior do volante do motor diesel. Com isto, faz-se necessário a utilização de
duas pessoas para realizar o ajuste do motor, sendo que um dos mecânicos precisa
estar necessariamente deitado em um carrinho de oficina para girar o motor com
uma ferramenta universal. Fazendo uma relação com a ferramenta de Análise de
Mantenabilidade da empresa do ramo de veículos comerciais, este design seria
penalizado em dois aspectos: necessidade de mais de um mecânico e posição
ergonômica não ideal.
Os exemplos práticos de considerações ruins de mantenabilidade em projetos
recém apresentados servem para demonstrar a necessidade de se aplicar
corretamente o conceito de mantenabilidade no PDP. Para evitar estes erros, a
próxima seção traz algumas ferramentas propostas na literatura que tentam
melhorar a forma com este parâmetro de engenharia é utilizado PDP.
Capítulo 2 A Mantenabilidade ao Longo do Desenvolvimento do Produto 95
Figura 2.33 – Motor Diesel – ajuste de válvulas na parte inferior dificulta a manutenção
2.10 Ferramentas de mantenabilidade
Nesta seção, algumas ferramentas que são propostas em artigos para o
endereçamento da mantenabilidade são apresentadas.
2.10.1 Uso de lógica fuzzy para avaliação da mantenabilidade
Slavilla, Decreuse e Ferney (2005) propõem o uso da lógica fuzzy para realizar
a avaliação do desenvolvimento do produto sob o aspecto da mantenabilidade
durante as fases iniciais do projeto. Alegam que a lógica fuzzy pode ser aplicada
justamente por conseguir tratar dados imprecisos e incertos da fase conceitual do
desenvolvimento.
Os autores utilizam o motor de aeromodelo da Figura 2.34 para a aplicação da
sua abordagem. Ao simular a desmontagem do produto, reforçam a importância de
um engenheiro de manutenção interagir com o engenheiro do produto para criticar a
modelagem. Basicamente, a ferramenta proposta é alimentada pela equipe de
desenvolvimento, seja na definição dos pesos entre cada fator da mantenabilidade
(neste exemplo a padronização, a modularidade e a facilidade de montagem foram
selecionados) ou na escolha de valores lingüísticos entre baixo, médio e alto para
Capítulo 2 A Mantenabilidade ao Longo do Desenvolvimento do Produto 96
cada fator de mantenabilidade avaliado. Ao final, a ferramenta devolve um valor
índice que gradua o modelo entre 0 e 1 (número um sendo o valor ideal).
Figura 2.34 – Exemplo de utilização da lógica Fuzzy na mantenabilidade
Fonte: Slavilla, Decreuse e Ferney (2005).
Ao realizar a desmontagem e montagem do produto utilizando o DMU (Digital
mock-up) do software CATIA, um grupo de desenvolvimento já é capaz de concluir
se a modelagem satisfaz ou não os critérios de mantenabilidade. Na Figura 2.34,
para remover um componente-chave como o rolamento que sustenta o virabrequim,
era necessário remover o pistão, cilindro e o cabeçote. Após a revisão do design a
equipe sugeriu a divisão do cárter em duas peças, facilitando assim o acesso ao
rolamento sem a necessidade de remoção das peças mencionadas logo acima.
Capítulo 2 A Mantenabilidade ao Longo do Desenvolvimento do Produto 97
A ferramenta fuzzy teve então a única função de formalizar o sentimento da
equipe de projeto em um valor numérico nos dois modelos propostos. Além disso, a
ferramenta mostrou-se incapaz de auxiliar o engenheiro de desenvolvimento sem a
presença do conhecimento do engenheiro de campo. Pode-se concluir então que, o
simples uso de uma revisão de protótipo virtual eficaz seria suficiente para sobrepor
qualquer benefício que esta ferramenta pudesse oferecer.
2.10.2 Índice de mantenabilidade para componentes mecânicos
Da mesma forma que os autores da ferramenta da lógica fuzzy (seção 2.10.1),
Wani e Gandhi (1999) buscaram criar uma métrica de avaliação da mantenabilidade
de componentes mecânicos.
Estes autores propuseram 12 diferentes requisitos de manutenção (e.g.
acessibilidade, padronização, necessidade de ferramental, entre outros) relacionado-
os entre si, através de graus de interação (forte, médio, fraco ou nenhuma ligação).
A métrica proposta, além de contemplar a interação entre os atributos utiliza tabelas
de classificação para graduar os diferentes atributos conforme a avaliação do
projetista da modelagem em questão. Todas estas avaliações são então
sumarizadas em matrizes que afunilarão para um índice de mantenabilidade do
produto proposto.
Além de extremamente trabalhosa, a métrica novamente auxilia somente na
comparação de uma possível análise custo-benefício entre duas ou mais soluções
sob o ponto de vista da mantenabilidade. A ferramenta nada acrescenta para o
engenheiro de desenvolvimento no contexto de auxiliá-lo a produzir um produto
melhor durante o próprio ato da modelagem e sequer utiliza de dados de sistemas
CAD nas suas interações matemáticas. Toda a métrica se baseia única e
exclusivamente no sentimento que a equipe de projeto formaliza nas classificações e
interações escolhidas em relação ao produto em análise.
Indo um pouco além, Coulibaly, Houssin e Mutel (2008) já passam a utilizar
uma métrica que utiliza informações provenientes de sistemas CAD para angariar
informações sobre os componentes inclusos em uma modelagem bem como suas
interações entre si (elementos de fixação – ver Tabela 2.2). Utiliza estes dados em
conjunto com avaliações do projetista sobre movimentos relativos entre as peças (o
que pode indicar possíveis desgastes durante a vida útil), confiabilidade e criticidade
Capítulo 2 A Mantenabilidade ao Longo do Desenvolvimento do Produto 98
de componentes para compor uma matriz semântica do produto (conforme pode ser
visto na Figura 2.35). No entanto, como a ferramenta não é capaz de avaliar quais
são as peças a serem removidas ao escolher um componente a ser trocado em
conjunto, esta sistemática se mostra também muito trabalhosa. A equipe de
desenvolvimento tem que definir a seqüência de reparo para só então chegar ao
índice de manutenção multiplicando os tempos de remoção dos elementos de
fixação pelas peças a serem removidas.
Figura 2.35 – Exemplo de Matriz Semântica
Fonte: Coulibaly, Houssin e Mutel (2008).
2.10.3 Método de WP (Wave Propagation)
O método de Wave Propagation (WP - “Propagação de Ondas”) foi elaborado e
proposto por Srinivasan e Gadh (1998 e 1999) e Gadh et al. (1998) para contribuir
no planejamento da seqüência de desmontagem de produtos com o uso de um
algoritmo geométrico.
A partir da definição de um produto (montagem) e um componente pré-
selecionado a ser removido, o método objetiva determinar uma seqüência otimizada
de desmontagem com o menor número de componentes possíveis a serem
removidos. Os autores consideram este método relevante para aplicações como a
manutenção, reciclagem e reuso de produtos. Propõem até a formação de métricas
para avaliar a mantenabilidade de diferentes modelagens em CAD ao comparar: i/ o
número de peças removidas; ii/ a acessibilidade; iii/ o volume dos componentes; ou
iv/ o tipo de material.
Capítulo 2 A Mantenabilidade ao Longo do Desenvolvimento do Produto 99
Vale ressaltar que existem três premissas básicas para se aplicar este método,
sendo elas (SRINIVASAN e GADH, 1998):
a) O movimento relativo entre as peças na composição de rotas de saídas não
considera o uso de ferramentas ou qualquer outro dispositivo para auxiliar
na remoção das mesmas;
b) As montagens são assumidas como rígidas (sem-deformações durante uma
eventual remoção), sem atrito e com valores dimensionais nominais (sem
tolerâncias) com componentes firmemente montados (Tightly fitted);
c) Componentes são desmontáveis um a um.
Basicamente, o método pode ser resumidamente demonstrado a partir da
Figura 2.36:
a) A partir de um conjunto de peças que formam um produto, existe a
demanda para se remover um componente-chave sob a ótica da
manutenção (Cx);
b) Este componente forma o centro de ondas de propagação que só param ao
alcançar as extremidades do produto (Cb). Cada onda Τ representa os
componentes que a peça chave a ser removida está em contato, ou
componentes que estejam na rota de saída da mesma até que Cx alcance
Cb e possa, finalmente, ser removido. No exemplo da Figura 2.36, Cx é
representado por C16. A primeira onda Τ
1
(peças com que C16 está em
contato) é representada por C15, C10, C17 e C22. A segunda onda T
2
(peças que estão em contato com os componentes da onda T
1
) é
representada por C4, C9, C11, C14, C18, C21, C23 e C28. Quer dizer,
componentes da onda Τ
a
só podem ser sacados quando os componentes
adjacentes de Τ
a+1
forem removidos;
c) Neste exemplo, foram necessárias apenas duas ondas para que se
chegasse a Cb. C4 e C18 formam o grupo de peças das extremidades a
partir de Cx.
d) Portanto, a seqüência ótima de remoção de Cx seria C18, C17 e C16 ou
C4, C10 e C16.
Capítulo 2 A Mantenabilidade ao Longo do Desenvolvimento do Produto 100
Figura 2.36 – Exemplo de wave propagation
Fonte: Gadh et al. (1998).
Para se aplicar o método, algumas informações são necessárias ou devem ser
determinadas:
a) Os contatos entre os componentes devem ser adquiridos a partir do sistema
CAD em questão;
b) Originalmente como o método foi aplicado, determina-se as faces de
contato entre as peças do produto e através da utilização de um algoritmo
esférico deve-se encontrar a possível rota de saída da peça (acessibilidade
- representado por AC 1 para 2 na Figura 2.37) – para compreender melhor
esta função ver Woo (1994) e Shyamsundar e Gadh (1999).
Nota: com as evoluções dos sistemas CAD desde a proposição deste método,
atualmente pode-se utilizar análises de interferência para se determinar um possível
rota de saída de um componente em relação a outro;
Figura 2.37 – Definição da rota de saída
Fonte: Shyamsundar e Gadh (1999).
c) Ao determinar e registrar com valores binários a possibilidade de
movimentações entre peças conforme discutido acima, chega-se aos
Capítulo 2 A Mantenabilidade ao Longo do Desenvolvimento do Produto 101
componentes das extremidades (Cb) já que são os únicos que podem se
mover inicialmente;
d) Determina-se, também, a influência de remoção de cada peça em relação a
um sub-conjunto de componentes (conforme ilustrado na Figura 2.38).
Neste exemplo, C
i
só poderá ser removido caso C
j
ou C
k
sejam removidos
primeiramente.
Figura 2.38 – Influência de remoção no algoritmo de WP
Fonte: Srinivasan e Gadh (1998).
Com todos estes dados disponíveis, o algoritmo de WP pode ser aplicado
determinando-se a quantidade de peças a serem removidas até que seja possível
realizar a extração do componente almejado. O algoritmo permanecerá em ciclo até
que se chegue em um componente de extremidade (Cb) determinando assim a
menor rota possível que viabilize a saída de Cx.
Nota: o algoritmo completo de WP pode ser verificado em Srinivasan e Gadh
(1998).
2.10.4 Método para a desmontagem
Chung e Peng (2005) já dão um salto na busca por facilitar a vida do projetista
diminuindo consideravelmente o esforço que o mesmo terá que realizar para
determinar uma seqüência ótima de desmontagem dos componentes de um
conjunto. Neste artigo, ao invés de objetivar a mantenabilidade, o foco na verdade
está no fácil design para a desmontagem.
Os autores criticam o método de WP por não considerar dois aspectos
importantes: acessibilidade de ferramentas e desmontagem de sub-montagens
completas para facilitar o acesso de um componente almejado.
O método abordado utiliza dados diretamente extraídos de sistemas CAD para
construir as seguintes matrizes:
Capítulo 2 A Mantenabilidade ao Longo do Desenvolvimento do Produto 102
a) Conectividade entre peças e elementos de fixação;
b) Acessibilidade relacional entre peças - análises de colisão (interferência);
c) Acessibilidade de ferramentas modeladas no sistema CAD.
Outras matrizes são então propostas para identificar sub-montagens (visando
eliminar um dos pontos fracos do WP) e definir a melhor seqüência de desmontagem
(utilizando o conceito de WP).
Apesar da matemática proposta se dizer capaz de otimizar e determinar a
melhor seqüência de desmontagem, no exemplo proposto na Figura 2.39, pode-se
contra-argumentar que a métrica não é 100% segura já que determina uma
seqüência de desmontagem incorreta. Como o sistema não foi capaz de considerar
que as fixações das peças P2 e P6 eram formadas por parafuso e contra-porca, o
sistema propôs uma ordem de desmontagem que não é factível, já que para acessar
P2 seria somente possível ao desmontar P3, por exemplo. Portanto, uma das
críticas ao método de WP relacionadas a não consideração da acessibilidade de
ferramentas acabou sendo minimizada já que o própria ferramenta proposta não foi
capaz de avançar neste aspecto.
Apesar disso, o artigo tenta agregar ao conceito de WP novos aspectos que
podem auxiliar no PDP diminuindo a dependência do engenheiro do produto em
conhecimentos relacionados a desmontagem/mantenabilidade.
Figura 2.39 – Análise de desmontagem
Fonte: Chung e Peng (2005)
Capítulo 2 A Mantenabilidade ao Longo do Desenvolvimento do Produto 103
2.11 IDENTIFICAÇÃO DA OPORTUNIDADE E MOTIVAÇÃO PARA A
INVESTIGAÇÃO
Durante o capítulo 2, além de formalizar o conceito de mantenabilidade, foram
abordados tópicos que declaram a forma como a literatura e a prática aplicam este
parâmetro de desenvolvimento de produto.
Apesar de sugerir diretrizes básicas sobre como aplicar a mantenabilidade no
PDP, ficou evidente que este parâmetro não é devidamente analisado na literatura
clássica, já que foca na sua grande maioria em métricas e na manufatura sem
realizar a junção das mesmas ao desenvolvimento do produto da forma como
atualmente ocorre - por meio do uso de sistemas CAD.
Enquanto que na prática, apesar de existirem diversas propostas de aplicação
deste parâmetro, ainda falta uma visão aprimorada que contemple as dificuldades de
interações entre os conhecimentos das equipes de desenvolvimento do produto e de
campo, contextualizando a comunicação através de ferramentas CAD.
Portanto, no próximo capítulo os conhecimentos e as dificuldades
apresentadas ao longo do capítulo 2 serão sumarizados por uma proposição de um
conjunto de diretrizes e uma ferramenta (modelo para aplicação da mantenabilidade)
que visam aperfeiçoar a forma como o parâmetro de mantenabilidade deve ser
aplicado durante todo o PDP. Em paralelo, sempre ocorrerá a conexão entre as
etapas do desenvolvimento do produto mostrando como e quando a ferramenta e as
diretrizes deverão ser utilizadas. Além disso, sugestões de análises de custo-
benefício entre soluções propostas serão sugeridas para comprovar se melhorias
referentes a manutenção serão ou não vantajosas durante a aplicação do produto ao
longo da sua vida útil.
Capítulo 3 Modelo para a Consideração do Parâmetro de Mantenabilidade no PDP 104
3 MODELO PARA A CONSIDERAÇÃO DO PARÂMETRO DE
MANTENABILIDADE NO PDP
Conforme pode ser confirmado durante o capítulo 2, a mantenabilidade ainda
não é, na maioria das vezes, devidamente endereçada durante o processo de
desenvolvimento de produtos. Este fato ocorre já que:
a) Tem se observado, com frequência, uma falta de conhecimento e de
empatia entre as funções da equipe de DP e o pessoal de campo que
acaba por gerar dificuldades de comunicação e transferência de
informações vitais;
b) A acessibilidade de componentes-chave não é devidamente priorizada,
causando transtornos e remoções de peças desnecessárias em processos
de manutenção;
c) A falta de visão sobre aplicação do produto durante a sua vida útil leva ao
acréscimo desnecessário de componentes, aumentando a complexidade de
produtos e, por conseqüência, levando a maior necessidade de ferramentas
e elementos de fixação;
d) A não consideração da ergonomia pode gerar aumentos significativos no
tempo total de reparo;
e) Muitas métricas são propostas, porém poucas são as literaturas que
demonstram como converter um objetivo de tempo de reparo de um
componente (e.g.: MTTR) em melhorias tangíveis na modelagem do
produto no PDP;
f) O uso de sistemas CAD, apesar de constantemente mencionados na
literatura clássica e utilizados na vida real, raramente são
incluídos/debatidos nas discussões sobre a melhor forma de abordar o
parâmetro de mantenabilidade no PDP;
g) Apesar de entender que o número excessivo de peças novas pode elevar a
complexidade de um produto (maior necessidade de ferramental e
conhecimento em campo), ainda assim pouco se utiliza das facilidades de
Capítulo 3 Modelo para a Consideração do Parâmetro de Mantenabilidade no PDP 105
sistemas CAD em utilizar bancos de dados para compor verificações
automáticas que monitorem o desenvolvimento de novos conceitos contra a
estrutura de materiais pré-existentes.
Por todas as razões descritas acima, é que se faz necessário propor
melhoramentos a aplicação do parâmetro de mantenabilidade durante o Processo
de Desenvolvimento de Produtos. O modelo, conforme pode ser visto na Figura 3.1,
foi gerado de forma que pudesse ser clara a área de foco no endereçamento da
mantenabilidade e que ao mesmo tempo ficassem evidenciadas algumas
responsabilidades de atuação durante as fases do PDP, bem como as atividades-
chave que devem ser executadas.
O conceito do modelo foi desenvolvido a partir da proposta de fases de Pahl e
Beitz (1996). A correlação de cores das fases remetem às propostas de evolução da
modelagem em CAD sugerida na Figura 2.29.
Figura 3.1 – Modelo de consideração do parâmetro de mantenabilidade no PDP
Capítulo 3 Modelo para a Consideração do Parâmetro de Mantenabilidade no PDP 106
3.1 Área de foco
O foco deste estudo está direcionado principalmente aos processos de
manutenção relacionados à: i) inspeção e execução do serviço (manutenção
preventiva); ii) desmontagem e montagem; iii) execução do reparo; iv) remontagem e
v) ajuste, alinhamento ou calibração (conforme demonstrado na Figura 3.2).
Figura 3.2 – Área de foco desta investigação
Nota: apesar da Figura 3.2 incluir dois processos de manutenção preventiva
que não foram inclusos na área de foco da Figura 3.1, que representa o modelo de
endereçamento da mantenabilidade, subentende-se que tanto a inspeção quanto a
execução de serviço já fazem parte do escopo da manutenção corretiva. Sendo
assim, ambos os processos foram omitidos do modelo principal da dissertação.
Basicamente, pode-se afirmar que todos os procedimentos da área de foco
estão relacionados diretamente a um termo: acessibilidade (Figura 3.3). Para
inspecionar, desmontar/montar, reparar e ajustar objetivando garantir a correta
aplicação do parâmetro de mantenabilidade, mandatoriamente a acessibilidade terá
que ser considerada
13
.
13
Investigações sobre procedimentos de diagnose de produtos (diagnose embarcada ou por sintomas), assuntos puramente
logísticos/administrativos (ferramentas e/ou peças de reposição) e verificações finais não serão cobertas por entender que
fazem parte de outras áreas de estudo não correlata a acessibilidade.
Capítulo 3 Modelo para a Consideração do Parâmetro de Mantenabilidade no PDP 107
Figura 3.3 – Área de foco diretamente relacionada ao ganho de acesso
Portanto, para se chegar ao componente almejado em um procedimento de
manutenção tem-se que ganhar acesso
14
. Logo, quanto menor for o tempo para se
reparar o componente defeituoso, menor será a indisponibilidade do produto.
Retornando a definição de mantenabilidade já abordada ao longo do capítulo 2,
define-se que este parâmetro de engenharia busca facilitar, economizar tempo e
recursos para que um produto possa ser mantido ou restabelecido a uma condição
especificada quando a manutenção for realizada por pessoal capacitado, usando
procedimentos e recursos definidos. Assim sendo, pode-se afirmar que o ganho
rápido de acessibilidade em um produto vai garantir que o parâmetro de
mantenabilidade tenha sido bem aplicado ao longo do PDP.
Para esmiuçar o termo acessibilidade, propõe-se a análise da Figura 3.4. A
partir da Área de Foco, um brainstorming foi realizado visando identificar quais
fatores estariam fortemente ligados ao ganho de acessibilidade de um produto.
Pode-se concluir a partir da ilustração que praticamente todas as seções de estudo
do capítulo 2 tem vínculo direto na determinação de espaços necessários para
realizar a manutenção.
Uma das principais ramificações da Figura 3.4 está relacionada à definição de
componentes-chave, sendo este melhor abordado na próxima seção.
14
A desmontagem realizada para se alcançar o componente a ser reparado é denominada de ganho de acesso.
Capítulo 3 Modelo para a Consideração do Parâmetro de Mantenabilidade no PDP 108
Figura 3.4 – Brainstorming sobre fatores ligados a acessibilidade
Capítulo 3 Modelo para a Consideração do Parâmetro de Mantenabilidade no PDP 109
3.2 Definição de componentes-chave
A definição de componentes-chave sob o ponto de vista da manutenção inicia-
se na fase de esclarecimento da tarefa e transcorre o PDP (conforme pode ser
conferido na Figura 3.5). A lista destes componentes serve como uma fonte de
referência para a definição dos requisitos relacionados à manutenção que serão
almejados durante o transcorrer do desenvolvimento do produto.
Figura 3.5 – Mantenabilidade durante a fase de Esclarecimento da Tarefa
3.2.1 Lista de componentes-chave
Basicamente, para se compor uma lista de componentes-chave, deve-se
operar em duas frentes distintas: i/ uma relacionada ao histórico de produtos
similares já aplicados em campo; e ii/ outra que enderece a possibilidade de defeitos
e manutenções necessárias de novos conceitos de desenvolvimento.
Para o primeiro item, a coleta de dados de campo pode ocorrer conforme já foi
discutido na seção 2.8.8. É importante salientar, no entanto, que o histórico da
aplicação de componentes-chave não está simplesmente direcionado a problemas
de qualidade, mas também às manutenções freqüentes e/ou componentes que
gerem dividendos garantidos ao fabricante (itens que sejam fornecidos para
Capítulo 3 Modelo para a Consideração do Parâmetro de Mantenabilidade no PDP 110
reposição em exclusividade
15
- e.g. protegidos por patente ou por alta aplicação de
know-how).
Peças que não sejam normalmente trocadas na reposição, mas que estejam
diretamente relacionadas à manutenção também devem ser priorizadas (e.g. i/
carcaça do volante do motor diesel necessária para a operação de ajustes de
válvulas – Figura 2.33; e ii/ bujão do cárter de óleo do motor para evitar conceitos
como o apresentado na Figura 2.31).
Para os novos conceitos de produto sendo desenvolvidos, ferramentas
sugeridas no capítulo 2 podem representar uma boa fonte de discussões entre
equipes multifuncionais para se determinar novas prioridades para a manutenção do
produto. Apesar de não serem aplicadas desde o início da fase conceitual (ver
Figura 2.30), pode-se antecipar as suas execuções para novos desenvolvimentos
assim que o conceito do produto estiver mais maduro (não necessariamente
esperando até o início da fase de projeto preliminar).
Testes e validações que transcorrem ao longo do PDP também devem ser
monitorados constantemente no projeto, já que formam uma excelente fonte de
informações para a composição de requisitos futuros sob a ótica da mantenabilidade
e para antecipar a compreensão sobre a forma como o produto poderá se comportar
em campo.
Outra forma de angariar informações acerca de componentes-chave para a
manutenção, que não estejam devidamente mapeados por um histórico de taxa de
falhas, pode ocorrer a partir do uso de listas genéricas de taxas de falha disponíveis
no mercado/literatura (conforme proposto por Smith, 2005).
Por último, se nenhuma das alternativas anteriores puder auxiliar na
determinação dos componentes-chave, deve-se relegar a definição dos mesmos a
experiência constituída na equipe de desenvolvimento
16
.
Ao compor a lista é importante definir se o item está relacionado à manutenção
diária, preventiva ou corretiva. Estas definições serão utilizadas na seção 3.3.3 e na
aplicação das diretrizes de mantenabilidade.
15
Sem competição com o mercado paralelo. Nota: entende-se por mercado paralelo todos os pontos de venda de peças e
serviços que não sejam pertencentes ao fabricante produtor do produto em análise.
Capítulo 3 Modelo para a Consideração do Parâmetro de Mantenabilidade no PDP 111
3.2.2 Requisitos relacionados à manutenção
Ao se formar a lista de componentes-chave, outro fator importante dentro dos
dados de entrada da fase de esclarecimento da tarefa é a incorporação de requisitos
com objetivos relacionados aos aspectos da mantenabilidade, podendo estar
divididos entre métricas qualitativas e quantitativas (assim como definido na seção
2.8.1).
A composição destes requisitos (não só os relacionados à mantenabilidade)
formará a especificação do produto a ser entregue ao final do projeto. Logo, para
incorporar a manutenção no conceito do produto, a manutenção diária, preventiva e
reparos corretivos deverão ser considerados objetivos chaves a serem
desenvolvidos. Além disso, o QFD também pode formar uma importante ferramenta
para classificar os requisitos de clientes finais sob a ótica da mantenabilidade.
Portanto, para definir quais serão os requisitos da manutenção em um projeto,
prioritariamente deve-se selecionar a lista de componentes-chave criada a partir da
seção anterior, já que estes possuem: i/ histórico de falhas; ii/ importância comercial;
ou iii/ alta relevância determinada pela experiência da equipe de projeto. Quer dizer,
todos estes itens são originalmente componentes passíveis de reparo com maiores
freqüências, tendo que ser priorizados em qualquer análise de mantenabilidade, na
busca pela diminuição de tempos de reparo que garantirão a disponibilidade
desejada do produto.
Os quantitativos, como o MTTR, apesar de constantemente mencionados na
literatura não são normalmente compreendidos e devidamente aplicados na prática.
No setor automotivo, não se aplica, por exemplo, um MTTR global para o motor. Mas
sim, objetivos de redução nos tempos de reparos aplicados isoladamente para
componentes considerados “chave” (e.g.: bomba de óleo, bomba de água, filtros,
troca de óleo, entre outros). O quão desafiante serão os objetivos dos MTTR de
componentes ficará a critério das definições de projeto (e.g.: para garantir a
disponibilidade mínima do produto demandada, para acompanhar ou superar os
tempos de reparo praticados pela concorrência definidos por um benchmarking,
entre outros).
16
Conhecimentos empíricos formados tanto no âmbito de campo (engenheiro de serviço) quanto no desenvolvimento de
produtos (engenheiro do produto), que por ventura não tenham sido formalmente registrados.
Capítulo 3 Modelo para a Consideração do Parâmetro de Mantenabilidade no PDP 112
No exemplo da Figura 3.6, um complexo procedimento de reparo para a troca
da lâmpada de um farol é demonstrado. Na passagem de um produto para um novo
projeto, tendo a equipe de desenvolvimento conhecimento sobre a dificuldade de
serviçabilidade da lâmpada do farol (ver seção 2.7), um MTTR menor para esta
operação de reparo pode ser incluído como um objetivo quantitativo na
especificação do novo produto.
Figura 3.6 – MTTR da troca de uma lâmpada do farol dianteiro
Fonte: Huang (1996).
Outros requisitos qualitativos também podem ser utilizados para melhor definir
o conceito de manutenção desejado. Demandas para diminuição do uso de
ferramentas especiais e universais, máxima utilização de componentes já existentes
no quadro de peças da empresa ou livre acesso aos componentes de manutenção
preventiva e diária formam exemplos de requisitos que podem ser aplicados na
especificação do produto.
Finalmente, desta seção, deve-se angariar a lista de componentes-chave e
seus respectivos objetivos, sejam eles qualitativos e/ou quantitativos. Para a
aplicação no modelo, no entanto, é fundamental a definição da lista com as
nomenclaturas corretas das peças almejadas seguindo as terminologias já aplicadas
no banco de dados de peças da empresa (e.g.: se o banco de dados estiver todo
Capítulo 3 Modelo para a Consideração do Parâmetro de Mantenabilidade no PDP 113
formalizado na língua inglesa, deve-se definir a lista seguindo as nomenclaturas já
utilizadas nas peças que serão alimentadas ao sistema CAD). Maiores detalhes
sobre o uso da lista de componentes-chave serão abordados nas próximas seções.
3.3 Mantenabilidade no projeto conceitual
Para aplicar parte dos conceitos de mantenabilidade sugeridos ao longo de
todo o capítulo 2, são propostas nesta seção três formas distintas de se endereçar
este parâmetro durante o início da modelagem em sistemas CAD na fase conceitual,
sendo eles (conforme ressaltado na Figura 3.7):
a) Análise de simplificação;
b) Análise de ferramental necessário;
c) Análise de posicionamento de componentes-chave (acessibilidade).
Figura 3.7 – Mantenabilidade no projeto conceitual
Pode-se notar no modelo (Figura 3.7) que no início da fase conceitual, onde a
modelagem em CAD passa de um leiaute preliminar para um definitivo (conforme
sugerido na Figura 2.29), que a responsabilidade pelas execuções das funções
sugeridas acima são da equipe de desenvolvimento do produto. Isto ocorre, pois,
Capítulo 3 Modelo para a Consideração do Parâmetro de Mantenabilidade no PDP 114
nestas ferramentas visa-se diminuir a dependência deste profissional para com os
conhecimentos sobre a aplicação do produto no campo. Assim, a participação do
engenheiro de serviço nesta fase de modelagem do produto passa a ser opcional.
Outro fator relevante a ser mencionado é referente à dificuldade de utilização
destas ferramentas. Por saber em antemão os desafios que um projetista passa para
contemplar todos os anseios/desejos de diferentes áreas de uma companhia
(marketing, produção, pós-venda, entre outros), as funções foram idealizadas e
aplicadas de forma que a sua implementação pelo usuário do sistema CAD seja
realizada da forma mais simples e objetiva possível, servindo como uma referência
de base e rápida para suportar análises sobre o endereçamento do parâmetro de
mantenabilidade no projeto.
3.3.1 Análise de simplificação
Assim como foi discutido na seção 2.8.4 e 2.8.6, a padronização e a
simplificação do produto podem trazer diversos benefícios quando bem utilizadas.
Além de melhorias do ponto de vista da mantenabilidade (menor necessidade de
treinamento, montagens mais assertivas, menor necessidade de ferramentas
universais/especiais, entre outras vantagens – ver Figura 3.8), através da
padronização pode-se também usufruir da melhora da suportabilidade do produto, já
que a gama de peças de reposição ficará limitada a um menor número de itens (a
diversidade dos estoques é atenuada – conforme já mencionado na seção 2.5.1.1).
Além disso, a política de reparos (seção 2.2.2.2), já aplicada em produtos
correntes, poderá ser automaticamente migrada para os novos produtos diminuindo
a necessidade de inchar toda a estrutura administrativa para lidar com estoques
muito diversificados.
Na prática, podem existir requisitos de projeto que demandem, a partir de
métricas qualitativas, que estes parâmetros sejam observados. Como exemplo tem-
se:
a) O número de novos componentes para o projeto A não poderá ser maior ou
igual a 10% da composição do produto corrente (padronização);
Capítulo 3 Modelo para a Consideração do Parâmetro de Mantenabilidade no PDP 115
b) Os conhecimentos empregados pela assistência técnica atualmente para
dar suporte aos produtos correntes deverão ser suficientes para lidar com o
novo conceito em desenvolvimento (simplificação).
Figura 3.8 – Vantagens da padronização
Fonte: Dhillon (1999).
Porém, estas métricas raramente vêm acompanhadas de sistemas ou
ferramentas de apoio que auxiliem o projetista a empregar estas diretrizes de uma
forma rápida e objetiva.
Nota: por exemplo, normalmente planilhas são utilizadas para realizar revisões
de liberação de peças onde diferentes setores são envolvidos para criar e atualizar
listas que declaram para auditores de fases de projetos se os requisitos referentes a
padronização de componentes estão sendo seguidos.
E é exatamente neste contexto, que pode-se sugerir a introdução de um novo
processo de análise de simplificação em modelagens de produto em sistemas CAD.
Ao compreender que, na transferência do produto corrente para um eventual produto
futuro, normalmente muitas das peças já existentes no banco de dados da empresa
Capítulo 3 Modelo para a Consideração do Parâmetro de Mantenabilidade no PDP 116
serão reutilizadas, pode-se empregar os registros correntes destes itens para auxiliar
na identificação do índice de peças novas de um novo desenvolvimento.
Suponha que A, na Figura 3.9, seja a plataforma de produtos correntes
disponibilizados ao mercado por uma empresa. E que BD (banco de dados)
contemple todas as peças presentes em A já devidamente disponibilizadas em
extensões de arquivos válidos para utilização em sistemas CAD. Ao propor um novo
produto a ser desenvolvido (B), pode-se facilmente monitorar o seu conteúdo de
peças novas (N), seja por ainda não existir um número de identificação (fase
conceitual) ou por controlar a data de introdução / código de projeto no momento da
criação de novas peças (fase preliminar e/ou detalhada). Sendo N a diferença entre
o que pré-existia no banco de dados (E) versus o conteúdo proposto para B, pode-
se facilmente gerar a composição de novas peças que estão sendo empregadas no
novo desenvolvimento.
Figura 3.9 – Utilização do banco de dados de peças
Ao informar automaticamente ao projetista o conteúdo de peças novas,
sabendo dos objetivos definidos na especificação do produto, tanto a verificação
quanto a revisão da composição da modelagem acaba sendo simplificada. O retorno
passa a ser imediato, pois a área de desenvolvimento poderá trabalhar com o
objetivo definido desde a fase conceitual, não tendo que receber críticas em revisões
de projeto como retro-alimentação para modificar o produto com a inclusão de peças
já existentes.
Pode-se também utilizar este procedimento na identificação visual das novas
peças podendo questionar a sua utilidade sob o ponto de vista do DFS – Design For
Capítulo 3 Modelo para a Consideração do Parâmetro de Mantenabilidade no PDP 117
Service (ver seção 2.7), colocando-se em dúvida a eventual necessidade da
existência de algumas peças visando a simplificação do produto.
Entre as peças já existentes no banco de dados, pode-se propor a divisão entre
peças válidas para reposição ou não. Esta visualização fará com que o projetista
entenda a importância do item para o pós-venda, uma vez que a peça estará
liberada ou não na comercialização de peças de reposição para o campo.
3.3.1.1. Função de análise de simplificação
Antes de entrar na função do modelo que trata do aspecto de simplificação do
produto, é importante relatar como e em qual software de CAD a ferramenta para a
aplicação da mantenabilidade no PDP foi implementada.
O software CAD utilizado na criação do modelo foi o ProE (Pro/Engineer). O
mesmo foi escolhido por se tratar de uma das ferramentas CAD aplicada na indústria
automotiva de veículos comerciais na qual o presente autor desta dissertação dispõe
de acesso.
Através de seu respectivo conjunto de bibliotecas (Pro/TOOLKIT), a ferramenta
para aplicação da mantenabilidade foi toda programada na linguagem C, integrando-
se ao ambiente do software já conhecido pelos projetistas. A intenção com a
integração da ferramenta ao ProE era de que o projetista não tivesse o seu
“ambiente” ou sua forma de trabalho alterado profundamente. Com isso, possíveis
rejeições a outras ferramentas/sistemas podem ser evitadas.
Na tratativa de informações da empresa, apesar de existir um formato padrão
para se trabalhar com banco de dados no ProE (Pro/Intralink), este não foi abordado
já que a UTFPR não possui uma licença que viabilizasse o seu uso. Logo, para
representar um banco de dados, um simples arquivo “.txt” foi utilizado para
representar o conteúdo dos registros das peças viabilizando as analogias que serão
abordadas na ferramenta proposta.
Para demonstrar a ferramenta, um motor de aeromodelo gentilmente cedido
por Slavilla será utilizado ao longo de todo o capítulo 3 (ver SLAVILLA; DECREUSE;
FERNEY, 2005). O modelo em CAD disponibilizado pelo autor é o mesmo
Capítulo 3 Modelo para a Consideração do Parâmetro de Mantenabilidade no PDP 118
apresentado por Slavilla, Decreuse e Ferney (2005) para validar a utilização da
lógica fuzzy para endereçar a mantenabilidade.
Sendo assim, para iniciar a ferramenta desenvolvida, após o programa ter sido
instalado, basta selecionar uma das opções apresentadas na Figura 3.10.
Figura 3.10 – Menu principal da ferramenta de mantenabilidade
Voltando ao modelo de análise de simplificação e utilizando o conceito
proposto na seção anterior, seleciona-se a opção “Composição do produto”
(conforme demonstrado na Figura 3.10). Uma tela se abre dando a possibilidade ao
projetista selecionar e visualizar as seguintes composições (Figura 3.11):
a) Peças novas: não existentes no banco de dados;
b) Peças existentes com reposição: peças já presentes no banco de dados
estando disponíveis para reposição;
c) Peças existentes sem reposição: peças já presentes no banco de dados
não estando disponíveis para reposição.
Ao selecionar o conjunto do produto que contempla as novas peças em
desenvolvimento (ver Figura 3.12), o projetista pode destacar todos os componentes
com esta classificação tornando-os facilmente identificáveis na tela. A ferramenta
Capítulo 3 Modelo para a Consideração do Parâmetro de Mantenabilidade no PDP 119
ainda apresenta a porcentagem de peças novas sendo projetadas perante o
conteúdo total do produto.
Figura 3.11 – Menu de composição do produto
Figura 3.12 – Peças novas sendo selecionadas na ferramenta de mantenabilidade
Capítulo 3 Modelo para a Consideração do Parâmetro de Mantenabilidade no PDP 120
Caso existam diversas peças novas e o projetista deseje dar maior foco em uma
peça em específico, pode-se selecionar a lista de decomposição do produto o
componente almejado para análise (conforme demonstrado na Figura 3.13).
Figura 3.13 – Peças novas sendo selecionadas pela ferramenta de mantenabilidade para se
obter destaque
A mesma analogia pode ser aplicada tanto para peças existentes sem (Figura
3.14) ou com reposição (Figura 3.15).
Figura 3.14 – Peças existentes sem reposição selecionadas na ferramenta de
mantenabilidade
Capítulo 3 Modelo para a Consideração do Parâmetro de Mantenabilidade no PDP 121
Figura 3.15 – Peças existentes com reposição selecionadas na ferramenta de
mantenabilidade
3.3.2 Análise de ferramental necessário
A padronização e a simplificação de um produto também conduzem a menor
necessidade do uso de ferramentas, sejam estas especiais ou universais.
Isto ocorre, pois, ao simplificar um produto (conforme mostra o exemplo da
Figura 2.21), normalmente a nova solução acaba reduzindo a necessidade de
elementos de fixação. Além disso, pode-se também padronizar o produto
selecionando elementos de fixação do mesmo tipo e, preferencialmente, do mesmo
tamanho. Deve-se evitar a mescla de elementos de fixação como sugere a Figura
3.16 ou diversos tamanhos conforme ilustrado na Figura 3.17.
Figura 3.16 – Diferentes tipos de cabeça de parafusos
Capítulo 3 Modelo para a Consideração do Parâmetro de Mantenabilidade no PDP 122
Figura 3.17 – Variados tamanhos de parafusos
Logo, além da quantidade, variedade e tamanhos dos elementos de fixação,
deve-se somar a isso a discussão da seção 2.6, que ressalta que quanto maior for a
dificuldade em desmontar o elo de fixação maior será o tempo requerido para
desmontá-lo e remontá-lo.
Portanto, ao propor uma nova modelagem de produto a equipe de
desenvolvimento deve ser capaz de:
a) Manter o número de elementos de fixação ao mínimo possível;
b) Ao selecionar os elementos deve-se priorizar a manutenção do mesmo
padrão e tamanho, diminuindo assim a necessidade por diferentes
ferramentas universais;
c) Levar em conta o grau de dificuldade em se trabalhar com o elemento de
fixação selecionado (e.g.: leva menos tempo para soltar um parafuso
simples do que um com contra-porca).
Por outro lado, as ferramentas especiais são mais complexas de serem
endereçadas por um engenheiro que não tenha conhecimento profundo dos
procedimentos correntes que demandem as mesmas. Portanto, para este tipo de
ferramental normalmente o auxílio do engenheiro de serviço será necessário
(durante a fase conceitual e preliminar).
Capítulo 3 Modelo para a Consideração do Parâmetro de Mantenabilidade no PDP 123
A Figura 3.18 mostra um exemplo da aplicação em conjunto de uma ferramenta
especial (A) e uma ferramenta universal (B) durante a remoção do eixo de entrada
de uma caixa de câmbio de um veículo comercial, apenas servindo de exemplo para
ilustrar a complexibilidade da consideração de ferramentas especiais no PDP.
Figura 3.18 – Ferramenta especial (A) e universal (B)
Logo, pode-se sugerir um novo procedimento de análise em sistemas CAD que
auxilie a equipe a compreender como estão sendo aplicados os elementos de
fixação na modelagem em desenvolvimento.
Assumindo que um parafuso padrão sempre irá demandar uma chave
específica no momento da manutenção, pode-se concluir que quanto maior for a
variedade de elementos de fixação, seja pelos seus diferentes tipos ou tamanhos,
maior será a necessidade de ferramentas universais para removê-los ou instalá-los.
Portanto, bastará rastrear os diferentes tipos/tamanhos de cabeças de parafusos
para se determinar a quantidade de ferramentas necessárias para realizar uma
intervenção completa no produto.
Outra função correlata que pode auxiliar no desenvolvimento é o fato de
relacionar um tempo de remoção/instalação para cada tipo de elemento de fixação
existente no produto (assim como sugere a Tabela 2.3). Ao multiplicar o tempo
sugerido pela quantidade de elementos no produto, somando-os ao final, se terá o
tempo total necessário para remover e instalar todos os elementos de fixação do
modelo proposto.
Deve-se observar que o tempo sugerido pela Tabela 2.3 se refere somente a
remoção/instalação manual do produto. Quer dizer, a tabela não trata do auxílio de
Capítulo 3 Modelo para a Consideração do Parâmetro de Mantenabilidade no PDP 124
ferramentas pneumáticas. No entanto, por mais que os tempos de
remoção/instalação fossem drasticamente reduzidos ao utilizar pistolas pneumáticas,
deve-se sempre levar em conta o ambiente em que o produto será reparado (nível
organizacional, intermediário ou fabricante), já que nem sempre uma rede
pneumática com pressão de ar comprimido constante estará disponível ao ser
executada uma manutenção. Além disso, por mais que ferramentas pneumáticas
sejam utilizadas, o número de movimentos que o mecânico terá que realizar será tão
maior quanto maior for a quantidade de elementos de fixação.
Com estes valores em mãos, quantidade de ferramentas universais e tempo
total para remoção e instalação dos elementos de fixação, o projetista terá a real
noção de quão impactante é a sua proposta do ponto de vista da mantenabilidade.
Por mais que a equipe de desenvolvimento não tenha nenhuma vivência da
manutenção do produto em campo, ao ser indicado em um sistema CAD o alto
número de ferramentas a serem utilizadas, ou um tempo relativamente elevado para
se desmontar/montar um conjunto de parafusos, a mensagem das possíveis
dificuldades que um mecânico irá passar para realizar a manutenção será
certamente transmitida ao projetista. Esta retro-alimentação, poderá resultar na
mudança da modelagem para um conceito mais simples e mais padronizado no que
se refere aos elementos de fixação.
3.3.2.1. Modelo de análise de ferramental necessário
Apenas para relembrar, a função de análise de ferramental (“Elementos de
fixação”) tem como objetivo principal evitar conceitos de produtos como o
apresentado na Figura 2.19. Partindo então para a ferramenta desenvolvida para
realizar a análise de ferramental necessário, deve-se selecionar na ferramenta de
mantenabilidade a opção “Elementos de fixação” (conforme demonstrado na Figura
3.19).
Basicamente, o que o procedimento de elementos de fixação executa é
determinado pelos seguintes passos:
a) A partir da nomenclatura da peça, o sistema capta as suas características
principais. O elemento de fixação mandatoriamente precisa possuir a
terminação _Y_MDXC, onde Y é o caractere que indica o tipo da cabeça
Capítulo 3 Modelo para a Consideração do Parâmetro de Mantenabilidade no PDP 125
do parafuso, D representa o diâmetro da rosca, e C o comprimento do
parafuso (e.g.: SCREW_F_M12X8.prt representa um parafuso tipo fenda,
rosca M12 e comprimento igual a 8 mm);
Figura 3.19 – Menu da ferramenta para iniciar a análise de ferramental
b) Para o cálculo do número de ferramentas, apenas os caracteres Y e D são
considerados para compilar todas as possíveis diferentes cabeças de
parafusos/porcas no modelo. A quantidade encontrada nesta pesquisa
resultará na proposição da quantidade de ferramentas universais
necessárias para reparar o produto;
c) O tempo estimado para remover e instalar os parafusos/porcas de fixação
é calculado a partir da multiplicação do tempo proposto na Tabela 2.3 pela
quantidade de cada elemento encontrado no modelo.
Na composição atual da ferramenta apenas alguns elementos de fixação foram
considerados para justificar somente modelos utilizados para testes funcionais do
capítulo 4. No entanto, não existiriam dificuldades em se implantar uma gama maior
de elementos (além de parafusos e porcas) caso o banco de dados da empresa
seguisse um rigoroso padrão de registros dos diferentes elementos de fixação (ver
alguns diferentes tipos de elementos de fixação nas Figuras 2.19 até 2.28).
Capítulo 3 Modelo para a Consideração do Parâmetro de Mantenabilidade no PDP 126
A tela “Elementos de fixação” é apresentada na Figura 3.20. Nela pode-se
observar o total de ferramentas universais necessárias (A) para se trabalhar com os
elementos de fixação do produto vigente (destacados na imagem - botão C). Outra
função da ferramenta de mantenabilidade é a indicação do tempo necessário (B)
para remover e instalar todos os elementos de fixação do modelo em análise.
Figura 3.20 – Análise de ferramental baseada na quantidade de elementos de fixação
Caso o projetista deseje selecionar apenas um tipo de elemento de fixação, isto
pode ser realizado na caixa de combinação (breakdown list - conforme demonstrado
na Figura 3.21). A seleção de apenas um elemento de fixação poderá ser
visualmente verificada ao se utilizar o botão “Destacar componentes”. O tempo
estimado também é reapresentado indicando apenas o tempo necessário para
realizar a remoção e instalação do tipo de elemento de fixação selecionado.
Esta função de seleção individual serve para auxiliar o projetista a focar em um
tipo de elemento de fixação específico, podendo obter uma imagem mais limpa (com
menos componentes selecionados) para julgar a quantidade ou mesmo o tipo de
elemento selecionado.
A
B
C
Capítulo 3 Modelo para a Consideração do Parâmetro de Mantenabilidade no PDP 127
Figura 3.21 – Listagem dos elementos de fixação apresentada na ferramenta de
mantenabilidade
3.3.3 Análise de posicionamento de componentes-chave (acessibilidade)
Voltando ao que foi ressaltado na seção 2.5.1, a definição de uma lista
prioritária de componentes-chave a serem trabalhados auxilia a equipe a
compreender com o que se deve trabalhar e que objetivos (pré-requisitos da
especificação) deverão ser alcançados.
Conforme dito anteriormente, a diversidade de requisitos de diversas áreas
acaba dificultando a compreensão completa da especificação do produto por parte
da equipe de desenvolvimento. Ao focar somente nas peças relevantes para a
aplicação da mantenabilidade, uma “mensagem” clara é transmitida a equipe de
projeto, que poderá desenvolver soluções convenientes aos anseios dos clientes
neste mérito.
3.3.3.1. Visualização de componentes-chave
Portanto, durante a montagem de um novo conceito é importante que o
projetista já tenha em mãos a lista de componentes-chave que deverão ser
cuidadosamente analisados sob a ótica da mantenabilidade (definida na seção 3.2).
Capítulo 3 Modelo para a Consideração do Parâmetro de Mantenabilidade no PDP 128
Com as nomenclaturas das peças almejadas, pode-se em um sistema CAD
executar uma pesquisa contra a lista de componentes presentes na modelagem
sendo desenvolvida – conforme demonstrado na Figura 3.22. Caso componentes-
chave sejam encontrados na procura executada, bastará colocar as peças em
destaque para que o projetista compreenda quais componentes ele deverá colocar
um maior foco sobre o aspecto da mantenabilidade.
Figura 3.22 – Lista de componentes em sistemas CAD
Para componentes já existentes no banco de dados (componentes carry-over)
suas nomenclaturas já seguirão o padrão aplicado na empresa. Para novas peças
em desenvolvimento, é vital que seus registros sigam a mesma linha na definição
das peças. Outra forma de executar a pesquisa para componentes existentes é
utilizando o número de identificação da peça (part number).
Capítulo 3 Modelo para a Consideração do Parâmetro de Mantenabilidade no PDP 129
3.3.3.2. Indicador de posicionamento das peças
Além de identificar e visualizar como os componentes-chave estão alocados na
modelagem de um novo produto, é importante compreender se a posição proposta
condiz com a importância da peça em relação a dificuldade em acessá-la.
Ao recordar os conceitos de confiabilidade abordados no capítulo 2, sabe-se
que o relacionamento dos componentes determina, ao se estudar a composição de
fatores como a taxa de falha, quando e como o produto poderá sofrer uma pane.
Utilizando a determinação da taxa de falha de um componente considerado
chave, seja pela coleta de dados de campo (ver seção 2.8.8) ou pela sugestão de
uma probabilidade de falha baseada na experiência da equipe de projeto, é
essencial entender se a taxa proposta estaria dentro dos objetivos do DP, ou se a
mesma estaria aquém, podendo se tornar uma fonte de problemas para a aplicação
do produto em campo.
Portanto, sob o ponto de vista da mantenabilidade, quanto mais problemático
for o componente, melhor deverá ser endereçada a sua posição no produto. Quer
dizer, tendo-se um componente-chave em mãos com uma alta probabilidade de
falha deve-se sempre buscar dar acesso direto sem a necessidade da remoção de
componentes periféricos.
Assim sendo, pode-se obter dois aspectos de fundamental relevância na
mantenabilidade nos últimos dois parágrafos:
1. A relação da taxa de falhas do componente almejado versus a taxa
desejada para o produto completo;
2. O número de peças a serem removidas para se alcançar o componente
objetivado.
A) Relação de taxa de falhas
A taxa de falha do componente-chave em estudo versus a taxa global proposta
no projeto determina qual é o fator relacional entre as mesmas (conforme proposto
na Equação 3.1).
Capítulo 3 Modelo para a Consideração do Parâmetro de Mantenabilidade no PDP 130
p
cc
lação
λ
λ
=Re
Eq. 3.1
Onde:
λ
cc
= taxa de falha do componente-chave;
λ
p
= taxa de falha do produto.
Nota: É importante salientar que a taxa de falha do componente é coletada a
partir de versões correntes do produto e/ou previsões da equipe de projeto,
enquanto que a taxa de falha do produto representa um requisito determinado pelo
projeto em andamento.
Se λ
cc
for inferior a taxa global esperada do produto (λ
p
) a relação será menor
que 1. Isto indica que, apesar de possuir uma taxa de falha, a mesma não será
relevante a ponto de ser considerada prioritária, já que a probabilidade do
componente apresentar um defeito extrapola a expectativa do projeto.
Caso contrário, a relação será tão maior quanto maior for a diferença entre a
probabilidade de falha do componente-chave versus o produto estudado. Assim, a
posição do componente pode ser considerada crítica para o DP.
Voltando ao exemplo da Figura 2.10, pode-se extrair as seguintes conclusões:
a) A relação de A perante o sistema (λ
a
/ λ
sistema
) é igual a 0,72;
b) A relação de B perante o sistema (λ
b
/ λ
sistema
) é igual a 0,16;
c) A relação de C perante o sistema (λ
c
/ λ
sistema
) é igual a 0,12.
Quer dizer, A seria o componente a ser prioritariamente abordado sob a ótica
da mantenabilidade, apesar de configurar um valor de taxa de falha inferior ao
designado para o sistema em que está inserido.
No exemplo da Figura 2.10 a taxa de falha do sistema foi calculada sobre as
taxas apresentadas para A, B e C. Em um projeto na sua fase embrionária
(conceitual), normalmente todos os encadeamentos entre componentes e suas
respectivas taxas de falhas podem não estar tão claros/evidentes. Neste contexto,
pode-se ter em mãos a taxa de falha objetivada do sistema (requisito), e o registro
de qualidade do componente-chave da forma que vem sendo aplicado no produto
Capítulo 3 Modelo para a Consideração do Parâmetro de Mantenabilidade no PDP 131
corrente. Portanto, isto pode significar que a taxa de falha real do componente em
estudo esteja realmente superior à taxa desejada como requisito de projeto para o
produto completo.
Ao recordar a metodologia de FRCM abordada na seção 2.3.2, esta tenta
converter a relação entre os componentes para verificar os mais problemáticos
usando o conceito de MTTR a partir do relacionamento das taxas de falhas
propostas para cada componente contra a taxa de falha do pior componente do
sistema. Apesar de considerar a teoria da relação de taxas de falha interessante
para compor uma listagem de prioridades, ao propor um relacionamento entre a taxa
de falha de um componente contra a pior taxa existente no sistema, sem considerar
o objetivo do projeto, uma equipe de desenvolvimento pode estar gastando recursos
desnecessariamente caso o pré-requisito de projeto esteja devidamente alcançado
com as taxas de falhas correntes.
Deste modo, a equação 3.1 retira á idéia de relacionamento de taxas de falha
entre componentes do sistema, propondo simplesmente a relação entre o
componente em estudo contra o objetivo do projeto sendo mais assertiva a sua
implementação.
B) Quantidade de peças a serem removidas
Outro fator relevante na avaliação de um componente-chave é a forma como o
mesmo está montado no modelo em CAD. Justamente por ser prioritário, não é
aceitável que diversas peças tenham que ser removidas para que a manutenção do
mesmo seja executada.
Para isso, deve-se buscar contabilizar a quantidade de peças durante o
procedimento de manutenção criando a compreensão completa do posicionamento
do componente.
Para tornar esta análise menos complexa, levando em conta o conhecimento
normalmente não abrangente do engenheiro de produto sobre aspectos da
manutenção, pode-se usufruir da metodologia de Wave Propagation (WP - conforme
declarado na seção 2.10.3) para automaticamente calcular o número de peças a
serem removidas para se alcançar o componente-chave desejado na manutenção.
Capítulo 3 Modelo para a Consideração do Parâmetro de Mantenabilidade no PDP 132
Com a quantidade de peças determinada, pode-se criar uma nova relação
definindo-se a porcentagem de peças a serem removidas considerando o total de
itens presentes no produto completo (conforme demonstra a equação 3.2).
100×=
p
cc
Q
Q
TP
Eq. 3.2
Onde:
TP = Taxa de peças a serem removidas para alcançar componente-chave;
Qcc = Quantidade de peças a serem removidas para acessar o componente-
chave;
Qp = Quantidade de peças totais do produto.
Somando-se a isso, a relação de taxa de falhas da equação 3.2, pode-se
chegar a análise de posicionamento proposto na equação 3.3:
100××=
p
cc
p
cc
MC
Q
Q
AP
λ
λ
Eq. 3.3
Onde:
APMC = Análise de Posicionamento – manutenção corretiva;
λcc = taxa de falha do componente-chave;
λp = taxa de falha do produto;
Qcc = Quantidade de peças a serem removidas para acessar o componente-
chave;
Qp = Quantidade de peças totais do produto.
Quer dizer, a porcentagem da relação do número de peças que
necessariamente devem ser removidas é agravada ou abrandada de acordo com a
relação da taxa de falhas do componente-chave em estudo. Para exemplificar a
equação 3.3, suponha que para remover o componente A da Figura 2.10 fosse
necessário remover quatro componentes do produto de um total de 150 peças no
sistema. A equação 3.3 funcionaria da seguinte forma (eq. 3.4):
Capítulo 3 Modelo para a Consideração do Parâmetro de Mantenabilidade no PDP 133
%92,167,272,0100
150
4
0069,0
005,0
=×=××=
MC
AP
Eq. 3.4
Quer dizer, a relação de taxas de falha (0,72) abrandou em 28% a
representatividade relacional que as quatro peças exerciam em um conjunto de 150
componentes.
Portanto, para aplicar o conceito da equação 3.3, trazendo-o na forma de um
indicador de posicionamento do componente-chave, e lembrando que quanto maior
for à quantidade de peças a serem removidas pior será a solução apresentada sob a
ótica da mantenabilidade, pode-se propor os seguintes critérios de avaliação:
1. Até 3% de peças removidas: solução ótima;
2. De 3% à 10% de peças removidas: solução intermediária que requer
atenção do projetista podendo justificar novas análises de melhorias sob o
aspecto da mantenabilidade;
3. Acima de 10% de peças removidas: solução ruim exigindo uma revisão
profunda na modelagem, seja no conceito do produto ou na melhora da
confiabilidade do componente.
Para suportar os critérios acima, pode-se utilizar o Apêndice C, já que na
indústria Aeronáutica, fortemente atrelada à confiabilidade, deve-se evitar ao
máximo a remoção de outros componentes que não sejam ligados à própria peça
almejada no reparo. Isto ocorre, já que a confiabilidade de cada componente
removido precisa ser garantida para o próximo período de utilização (testada após a
instalação). Portanto, o projetista deve sempre buscar o índice de remoção de peças
próximo à zero (solução ótima – sem contar com peças flexíveis e elementos de
fixação).
Nota: Em produtos com alto número de peças, 3% dos itens para serem
removidos pode representar, na verdade, uma solução ruim. No entanto, deve-se
salientar que a proposição destes critérios serve apenas como um guia inicial ao
projetista que está desenvolvendo uma nova modelagem, que posteriormente será
revisada por especialistas em mantenabilidade. Durante a seção “5.2
Capítulo 3 Modelo para a Consideração do Parâmetro de Mantenabilidade no PDP 134
Recomendações para trabalhos futuros”, um dos tópicos abordados é justamente a
forma de trabalhar com produtos complexos (elevados números de peças).
O critério de avaliação intermediário está alocado entre 3% e 10% justamente
para alertar o engenheiro de desenvolvimento sobre a necessidade para se revisar a
confiabilidade ou a posição do componente no modelo. Como existem componentes
que para se alterar o seu posicionamento podem exigir altos investimentos e
grandes alterações na modelagem, pode ser mais vantajoso investir na diminuição
da taxa de falha do que propor um conceito completamente novo (e.g. para remover
a bomba d’água em muitos automóveis é necessário remover componentes
periféricos – O MECÂNICO – BOMBA D’ÁGUA, 2009).
Voltando ao exemplo da figura 2.10, exemplificado na equação 3.4, poderia se
afirmar que a solução estaria ótima. Porém, se o número de peças a serem
removidas ou a taxa de falha de A fosse pior do que o declarado no exemplo
poderia-se migrar de uma solução ótima para intermediária ou ruim. Se ao invés de
0,005, a taxa de falha de A fosse igual 0,01 (1%), o indicador passaria de 1,92%
para 3,87% sendo enquadrado na classificação intermediária mesmo contendo o
mesmo número de peças a serem removidas.
O indicador proposto acima serve apenas como um balizador da forma como a
instalação do componente-chave está sendo proposta. Apesar de estar relacionado
ao número de peças a serem removidas, fator relevante na análise do
posicionamento de um componente, existem circunstâncias em que poucas peças
podem representar um grau elevado de complexidade durante o procedimento de
manutenção. Para tal, deve-se confiar a análise de mantenabilidade ao trabalho
conjunto a ser realizado com o engenheiro de serviço entre as fases conceitual e
preliminar do projeto (fazendo uso de diretrizes e reserva de espaços apresentado
nas próximas seções).
C) Manutenção preventiva
Recordando o conceito da manutenção preventiva, sabe-se que a mesma
utiliza manutenções em intervalos determinados para manter o estado operacional
do produto em um nível desejável. Portanto, as operações de manutenção e trocas
de peças já ocorrem em um intervalo que garantirá a disponibilidade do produto.
Capítulo 3 Modelo para a Consideração do Parâmetro de Mantenabilidade no PDP 135
Logo, estes intervalos são definidos em momentos otimizados para não sub-utilizar
peças ou permitir uma falha não planejada. Com isso, para componentes inseridos
na manutenção preventiva, o fator de relação de taxas de falha da equação 3.3
perde a sua função. Deste modo, para a manutenção preventiva apenas a equação
3.5 deverá ser utilizada.
100×=
p
cc
MP
Q
Q
AP
Eq. 3.5
Onde:
APMP = Análise de Posicionamento – manutenção preventiva;
Qcc = Quantidade de peças a serem removidas para acessar o componente-
chave;
Qp = Quantidade de peças totais do produto.
3.3.3.3. Modelo de Análise de posicionamento de componentes-chave
(acessibilidade)
A análise de posicionamento de componentes-chave passa primeiramente pela
identificação desta lista de componentes vitais sob a ótica da mantenabilidade e a
sua fácil visualização em um sistema CAD auxiliando o projetista a compreender
quais são as prioridades (como propõe a Figura 3.22). Esta lista, para o sistema
proposto a partir da Figura 3.23 (opção – “Componentes-chave”), deve estar alocada
em alguma posição no banco de dados da empresa para que a ferramenta possa
buscar as nomenclaturas/peças (part numbers) priorizadas para confrontá-las ao
modelo em desenvolvimento.
Antes de utilizar a lista, no entanto, a ferramenta de mantenabilidade solicita ao
usuário que a taxa de falhas objetivo do modelo seja inserida (ver Figura 3.24). Este
valor servirá como base para que a equação 3.3 seja devidamente aplicada na
ferramenta de mantenabilidade.
Capítulo 3 Modelo para a Consideração do Parâmetro de Mantenabilidade no PDP 136
Figura 3.23 – Menu para análise de componentes-chave na ferramenta de mantenabilidade
Figura 3.24 – Inclusão da taxa de falha global do produto por parte do projetista
Após inserir a taxa de falha global, a tela “Componentes-chave” é apresentada
ao usuário (ver Figura 3.25). Ao pressionar o botão “Destacar todos os
componentes-chave” (Figura 3.25 detalhe A), o sistema busca a lista de
componentes prioritários (i.e. golden components) e compara suas nomenclaturas
contra todas as peças presentes no modelo em CAD (lista de materiais – bill of
material). Assim, ao encontrar qualquer peça que esteja registrada com a mesma
nomenclatura, a ferramenta modifica a coloração deste componente-chave para
dourado, deixando o restante do módulo com aspecto transparente. Isto ocorre com
o intuito de externar a importância das peças em qualquer posição do produto (assim
como demonstrado na Figura 3.25).
Capítulo 3 Modelo para a Consideração do Parâmetro de Mantenabilidade no PDP 137
Figura 3.25 – Destaque sobre os componentes-chave do projeto
Caso o projetista tenha interesse em visualizar/priorizar momentaneamente a
análise de apenas um componente-chave, pode-se realizar esta busca através da
caixa de combinação (breakdown list) existente na tela de “Componentes-chave”
(conforme mostrado na Figura 3.26 detalhe B).
A partir de um componente, pode-se analisar seu posicionamento utilizando a
métrica abordada na seção 3.3.3.2. Para tal, basta o usuário confirmar a intenção de
analisar o posicionamento do componente-chave selecionando a caixa de seleção
(check-box) no campo “Analisar posicionamento” (ver Figura 3.27 detalhe C).
Ao selecionar a intenção de análise do posicionamento, o sistema aplicará o
indicador proposto em 3.3.3.2 da seguinte forma:
a) Solução ótima = alteração da coloração da peça para verde;
b) Solução intermediária = alteração da coloração da peça para amarelo;
c) Solução ruim = alteração da coloração da peça para vermelho
A
Capítulo 3 Modelo para a Consideração do Parâmetro de Mantenabilidade no PDP 138
Figura 3.26 – Destaque em apenas um componente-chave do produto
Figura 3.27 – Seleção da função de análise de posicionamento
Esta escala de cores alterando a coloração do componente em análise foi
proposta a partir de uma analogia com a visualização sugerida por sistemas de
elementos finitos (como o demonstrado na Figura 3.28). O objetivo deste conceito de
visualização é dar a real noção ao projetista de como o componente está sendo
implementado, sem que o mesmo tenha que realizar cálculos extras para definir se a
B
C
Capítulo 3 Modelo para a Consideração do Parâmetro de Mantenabilidade no PDP 139
forma como o posicionamento dos componentes-chave está ou não adequada sob o
ponto de vista da mantenabilidade.
Figura 3.28 – Analogia com sistemas de elementos finitos
Fonte: SOLIDWORKS OFFICE PREMIUM (2007)
Assim, considerando a aplicação do indicador de posicionamento, a Figura
3.29 traz o exemplo de destaque de um componente com uma solução ótima já que
o índice de mantenabilidade demarca 0% de peças para serem removidas.
No módulo desenvolvido ao assinalar o campo “Analisar posicionamento”, dois
novos campos são ativados na ferramenta. Um indicando o índice de
mantenabilidade e o outro declarando a escala de cores e suas respectivas
porcentagens referentes ao mesmo índice (conforme demonstrado na Figura 3.30 –
tela de “Componentes-chave”).
Caso o projetista deseje, também é possível realizar a análise conjunta de
posicionamento de todos os componentes-chave do produto, bastando para isso
apertar o botão “Destaca todos os Componentes-chave” mantendo o campo
“Analisar posicionamento?” selecionado (conforme mostra a Figura 3.30).
Para dar maior ênfase à métrica desenvolvida no indicador proposto, pode-se
estudar melhor o posicionamento do rolamento assinalado com a seta (em
vermelho) na Figura 3.30. Utilizando a taxa de falha global de 0,0069 (conforme
mostrado na Figura 3.24), e sabendo que a taxa de falha atual deste rolamento é
Capítulo 3 Modelo para a Consideração do Parâmetro de Mantenabilidade no PDP 140
igual a 0,0070, o indicador desta peça é considerado ruim, já que o índice atingido
foi de 30,4% (ver Figura 3.31).
Figura 3.29 – Análise de posicionamento de um componente sob o ponto de vista da
mantenabilidade
Figura 3.30 – Análise de posicionamento de todos os componentes-chave do produto
Capítulo 3 Modelo para a Consideração do Parâmetro de Mantenabilidade no PDP 141
Figura 3.31 – Análise de posicionamento de um rolamento
Isto ocorre, pois para remover o elemento em destaque (Rolamento_L_Solid), é
necessária a remoção de seis componentes (eixo, biela, pino, pistão, camisa,
tampa_S) conforme ilustrado na Figura 3.32, num total de 20 peças (sem considerar
os elementos de fixação).
Portanto, ao observar a situação de projeto do Rolamento_L_Solid, o projetista
poderia optar por duas possibilidades (seguindo o conceito abordado na seção 2.3):
a) Melhorar a confiabilidade da peça;
b) Trabalhar em conjunto com o engenheiro de serviço para melhorar o
posicionamento do componente.
Supondo que a alternativa “a” fosse a escolhida, e que a confiabilidade da peça
melhorasse ao ponto de possuir uma taxa de falha que baixasse de 0,0070 para
0,0020 (mantendo a taxa global do produto em 0,0069, re-balanceando as taxas
com outros componentes periféricos). O indicador passaria de 30,4% para 8,7%,
Capítulo 3 Modelo para a Consideração do Parâmetro de Mantenabilidade no PDP 142
conforme demonstra a Figura 3.33. Quer dizer, a peça deixaria de ter uma
classificação ruim para se tornar intermediária (entre 3% e 10%, cor amarela).
Figura 3.32 – Componentes que devem ser desmontados para acessar o componente-chave
Figura 3.33 – Incremento da confiabilidade gerando melhoras no indicador de
mantenabilidade
Capítulo 3 Modelo para a Consideração do Parâmetro de Mantenabilidade no PDP 143
Caso se opte por “b”, o grupo de projeto poderia sugerir a modificação do
modelo, melhorando a acessibilidade do Rolamento_L_Solid ao separar o cárter em
duas peças distintas, A e B (assim como sugere a Figura 3.34). Neste caso, para
acessar o Rolamento_L_Solid bastaria separar a sub-montagem A, remover o eixo
(árvore de manivelas) e, finalmente, sacar o rolamento. Com isso, ao invés da
remoção de seis peças, bastaria a remoção de dois itens para que se chegasse ao
componente almejado. Logo, o indicador diminuiria de 30,4% para 10,14% (ainda
considerado ruim).
Nota: a ferramenta, ao utilizar a metodologia de WP, não é capaz de
considerar sub-conjuntos na sua análise. Portanto, a possibilidade “b” não foi
examinada a partir da ferramenta criada no ProE, sendo simplesmente abordada de
forma teórica.
Figura 3.34 – Melhora da acessibilidade gerando melhoras no indicador de mantenabilidade
Fonte: Adaptado de Slavilla, Decreuse e Ferney (2005).
Caso uma análise custo-benefício fosse utilizada para definir a melhor rota a
seguir, nada impediria que uma composição das duas possibilidades pudesse ser
proposta. Uma ligeira melhora de confiabilidade do rolamento somada a melhoria de
Capítulo 3 Modelo para a Consideração do Parâmetro de Mantenabilidade no PDP 144
posicionamento do componente poderia se tornar um caminho viável caso a relação
custo-benefício fosse vantajosa.
3.3.3.4. Problemas na metodologia de Wave Propagation
Durante o emprego da metodologia de WP, na composição da ferramenta de
mantenabilidade proposta neste trabalho, alguns problemas foram verificados. São
eles:
a) Definição incorreta do número de peças a serem removidas: retomando ao
exemplo da Figura 3.31 e 3.32, pode-se notar que o método falhou em
determinar o número exato de peças a serem removidas, já que a tampa
traseira junto ao cárter (Figura 3.35 - T) não foi listada como um dos
componentes necessários para que a remoção do rolamento fosse
possível. Isto ocorre já que a metodologia de WP se baseia nos mapas de
contato, verificando apenas o movimento relativo entre componentes ao se
sugerir a não existência de uma peça para verificar se o componente sob
análise pode ou não se movimentar na direção da mesma. Como para
remover o rolamento, em um cárter inteiriço, a única forma seria através
da remoção do Eixo E da Figura 3.35, não existiria forma de se executar o
reparo sem que a tampa traseira fosse deslocada para a retirada do eixo;
Figura 3.35 – Tampa traseira não incluída na lista de componentes para a remoção do
rolamento
Capítulo 3 Modelo para a Consideração do Parâmetro de Mantenabilidade no PDP 145
b) Interpretação incorreta da possibilidade de remoção de uma peça: como
normalmente o projetista insere valores nominais em sistemas CAD para
componentes que apresentam interferência na sua instalação real, pode-
se gerar distúrbios nas análises da ferramenta como as apresentadas na
Figura 3.36 e 3.37. Na Figura 3.36, por ser modelado na sua dimensão
nominal, o sistema declara que o rolamento tem acesso livre para o
exterior do modelo 3D sendo considerado uma peça periférica. Todavia,
na realidade, uma desmontagem de vários itens do motor deveria ser
realizada para se possibilitar que um sacador pudesse ser instalado e o
rolamento então ser devidamente extraído. Para a Figura 3.37, o mesmo
conceito se repete, já que o sistema considera que para remover a Camisa
– “C” (marcada em verde) apenas a Tampa Superior do modelo
(destacada em vermelho). Para remover a camisa, se montada com
interferência, mandatoriamente deve-se sacar o pistão e a biela para
existir um espaço mínimo que permita a extração da camisa utilizando um
sacador.
Figura 3.36 – Indicador de posicionamento incorreto para o rolamento
Capítulo 3 Modelo para a Consideração do Parâmetro de Mantenabilidade no PDP 146
Figura 3.37 – Camisa modelada com dimensionamento nominal gera dificuldades na
implementação do indicador de posicionamento
3.4 Mantenabilidade na passagem do projeto conceitual para preliminar
Após a aplicação de conceitos de mantenabilidade no início da fase conceitual
(análises de simplificação, ferramental necessário e posicionamento de
componentes-chave) por parte do projetista, inicia-se o período entre a fase
conceitual e preliminar onde a sinergia da atuação da equipe de desenvolvimento do
produto e o engenheiro de serviço deve começar a ocorrer (engenharia simultânea –
conforme propõe a seção 2.5).
A Figura 3.38 traz o resumo das atividades propostas para a junção destas
duas fases sob o aspecto da mantenabilidade.
C
Capítulo 3 Modelo para a Consideração do Parâmetro de Mantenabilidade no PDP 147
Figura 3.38 – Passagem do projeto conceitual para preliminar
3.4.1 Análise de reserva de espaços
Apesar de a primeira atividade “Análise de reserva de espaços para a
manutenção em componentes-chave” estar alocada em um segundo momento no
fluxo proposto para o endereçamento da mantenabilidade no PDP, deve-se observar
(ver Figura 3.1) que a mesma possui uma ligação direta ao processo de modelagens
iniciais em CAD.
Ao relembrar a forma como as modelagens evoluem em um projeto (Figura
2.15), bastará a equipe de projeto compreender que o nível de maturidade do projeto
já se encontra em um formato de leiaute definitivo para que o engenheiro de serviço
comece a analisar a reserva de espaços para a manutenção em componentes
prioritários.
Nesta atividade, no entanto, é de extrema relevância não só trabalhar com o
nível de maturidade correto, mas também ter a segurança que os modelos em CAD
compartilhados no desenvolvimento multidisciplinar (engenheiro de serviço e
produto) sejam os mais atuais possíveis. Para isso, dependendo do tamanho da
Capítulo 3 Modelo para a Consideração do Parâmetro de Mantenabilidade no PDP 148
empresa, pode-se aplicar metodologias completas de compartilhamento de arquivos
como a proposta por Zimmerman e Malmqvist (2007) – ver Figura 2.16, ou
simplesmente disponibilizar acesso a pasta de arquivos de projetos a todos
envolvidos no desenvolvimento do novo produto (gerenciando níveis de acesso).
Para compreender então a importância de alocar uma atividade exclusiva para
a reserva de espaço, faz necessário trazer à tona novamente o grande volume de
demandas e informações por que o engenheiro de produto tem que administrar. A
produção, o pós-venda, o marketing, quer dizer, todas as diferentes funções de uma
empresa buscam uma representatividade maior no desenvolvimento de um novo
produto visando influenciar o conceito para que as suas respectivas prioridades
sejam atendidas.
É justamente nesta briga por “espaços virtuais” no conceito do produto que o
parâmetro de mantenabilidade se encaixa. Anteriormente, já foi comentado neste
estudo que para componentes-chave normalmente não é admissível a remoção de
componentes periféricos para que a sua manutenção seja devidamente realizada.
Logo, com tantas demandas conflitantes e com engenheiros de produto não tendo o
conhecimento total da forma como a manutenção é executada, quem garantirá que
espaços necessários para se reparar componentes prioritários não sejam invadidos
por chicotes elétricos, tubulações pneumáticas, suportes e/ou qualquer outro
componente que sirva na rota de saída de uma peça vital para o pós-venda?
Logo, para os componentes priorizados na seção 3.2.1, faz-se mandatória uma
análise de espaços disponíveis salvaguardando rotas necessárias para que a
manutenção destas peças possam ser devidamente operacionalizadas.
O exemplo demonstrado nas Figuras 2.17 e 2.18 ilustra o procedimento de
como a análise de espaços para componentes-chave deve ser executada:
a) Em primeiro lugar, deve-se priorizar o componente a ser estudado.
Mandatoriamente todos os componentes-chave devem ser examinados;
b) Com a modelagem representativa do produto completo, criam-se análises
ergonômicas virtuais em um sistema CAD (acesso de montadores,
pessoal de manutenção e ferramentas) que validem a
desmontagem/reparo do componente no local, ou mesmo que se garanta
Capítulo 3 Modelo para a Consideração do Parâmetro de Mantenabilidade no PDP 149
acesso a elementos de fixação que livrarão o produto a ser reparado
isoladamente em bancada;
c) Uma rota de saída do componente-chave pode ser solidificada para
comprovar que nada o impede de ser removido (ver Figura 2.18), ou
mesmo servir de referência para trazer à tona as possíveis interferências
que o engenheiro do produto terá que eliminar (caso um estudo de custo-
benefício assim o solicite).
3.4.1.1. Estudo de caso – reserva de espaço para melhorar o procedimento de
ajuste de válvulas em motores diesel
Ao se observar a Figura 2.33, verifica-se que o ponto de acesso para girar o
motor em um procedimento de ajuste de válvulas de um motor diesel comercial se
encontra na parte inferior do volante. O posicionamento é considerado ruim, pois
gera a demanda de dois mecânicos para realizar a operação de serviço: i/ um
desempenhando o ajuste propriamente dito; ii/ e outro girando o motor com o auxílio
de uma ferramenta especial e uma catraca (ver Figura 2.20) para girar a roda
dentada que encobre o volante do motor (e.g. a mesma roda dentada utilizada pelo
motor de partida).
Analisando a carcaça do volante do motor por si só, normalmente não deveria
ser considerada um componente-chave. Se a peça for bem desenvolvida, tanto sob
o ponto de vista comercial como no de qualidade ela nunca seria determinada como
um componente prioritário. No entanto, ao recordar que as peças que estejam
diretamente relacionadas a procedimentos de manutenção também devem ser
priorizadas (seções 3.2.1 e 3.2.2), automaticamente ao se incluir o tempo da
operação de ajuste de válvulas como um pré-requisito, a equipe de desenvolvimento
terá que considerá-la como vital no desenvolvimento.
Para o exemplo da carcaça do volante do motor, normalmente o engenheiro de
serviço já teria o pré-conhecimento que o produto vigente não possuía um
procedimento satisfatório de ajustes de válvulas. Sendo assim, esta operação de
serviço seria incorporada no escopo de pré-requisitos durante a fase de
esclarecimento da tarefa.
Capítulo 3 Modelo para a Consideração do Parâmetro de Mantenabilidade no PDP 150
Seja a partir da disponibilidade/compartilhamento dos modelos em CAD ou
pela comunicação entre engenheiro de serviço/produto em revisões de protótipos
virtuais (design reviews), dois aspectos fundamentais sob o ponto de vista da
mantenabilidade deveriam ser considerados na criação do novo conceito da
carcaça: i/ posicionamento da furação considerando questões ergonômicas (Figura
3.39 “a” - necessidade de apenas um mecânico trabalhando de pé); ii/ padronização
da furação com ferramentas já existentes (como sugere a Figura 3.39 “f ”).
Figura 3.39 – Proposta de concepção de um componente a partir de critérios da
mantenabilidade
No entanto, o simples fato de modificar o modelo não garante que o espaço
para realizar a operação de serviço esteja assegurado. No desenvolvimento de um
produto, normalmente, busca-se reduzir ao máximo custos desnecessários.
Portanto, qualquer redução de comprimento de uma tubulação
pneumática/hidráulica ou de um chicote elétrico de um produto seriado (exemplo do
setor automotivo), gera grandes economias no sistema produtivo da empresa.
Porém, isto nem sempre é positivo no pós-venda. Caso o espaço necessário para
montar e girar a catraca na Figura 2.33/3.39 fosse utilizado para outro fim, e que,
portanto, para realizar o ajuste de válvulas fosse necessário desmontar um
componente periférico, ou esvaziar o sistema de ar comprimido para a
desmontagem de uma tubulação ou até mesmo realizar a desconexão de um chicote
elétrico (desligando primeiramente o cabo de baterias), com certeza, o objetivo de
redução do tempo de reparo almejado em um pré-requisito não seria mais
Capítulo 3 Modelo para a Consideração do Parâmetro de Mantenabilidade no PDP 151
alcançado. E, dependendo do momento do projeto que esta falha de acesso seja
descoberta, a relação custo-benefício de se alterar o projeto (ver Figura 1.3 –
Desenvolvimento clássico) poderia não ser mais viável.
Logo, para melhorar a acessibilidade no procedimento de ajustes de válvulas
faz-se necessário reservar espaços. Como em uma modelagem 3D em sistemas
CAD, os projetistas sempre prestam atenção em possíveis interferências entre
peças, nada melhor, então, que alocar volumes na modelagem assegurando a
reserva de espaço necessária para realizar a manutenção do componente
objetivado.
Para tal, pode-se, por exemplo, simular a aplicação do ferramental necessário
(Figura 3.40 A e B, posições da ferramenta representada em C) para realizar a
manutenção. Esta simulação deve seguir conceitos ergonômicos estabelecidos
(Figura 3.40 D) para gerar volumes de reservas de espaços (Figura 3.40 E).
Figura 3.40 – Reservando espaços em 3D para facilitar a manutenção do produto
O espaço reservado na Figura 3.40 E servirá para proteger a região que o
pessoal de manutenção necessita para realizar o giro do motor sem que se tenha
Capítulo 3 Modelo para a Consideração do Parâmetro de Mantenabilidade no PDP 152
que desmontar qualquer outro componente do produto. Uma vez reservado pelo
engenheiro de serviço, mesmo um projetista sem experiência em mantenabilidade
poderá facilmente compreender possíveis regiões de interferências como a sugerida
pela Figura 3.41.
Ressalta-se que existiu uma mudança de conceito da tubulação F apresentada
na Figura 3.40 se comparada ao formato G da Figura 3.41. Caso o engenheiro de
serviço/projetista não tivesse alocado espaço de reserva para o ajuste de válvulas, a
nova solução poderia ter sido implementada prejudicando o tempo da manutenção
ou necessitando de um novo tipo de ferramental.
Figura 3.41 – Análise de interferência em reservas de espaços para a mantenabilidade
Na Figura 3.42 já pode-se então conferir que a proposta de reserva do espaço
para assegurar uma melhora na mantenabilidade no procedimento de ajuste de
válvulas atingiu o status de protótipo físico. Logo, a partir do momento que o projeto
alcançar a fase de “congelamento” do produto, o volume passará a estar
devidamente assegurado para todos os produtos em série.
Capítulo 3 Modelo para a Consideração do Parâmetro de Mantenabilidade no PDP 153
Figura 3.42 – Reserva de espaço convertida em produto que atende aspectos da
mantenabilidade
Observa-se que a reserva de espaço é normalmente utilizada para
componentes periféricos (ver exemplo do compressor na Figura 2.18). Possíveis
interferências que possam existir em componentes necessários para habilitar a
função do componente almejado são consideradas normais (e.g.: tubulações de óleo
e ar comprimido que chegam e saem do compressor da Figura 2.18). No entanto,
deve estar claro para o projetista que alguns passos podem ser necessários antes
de habilitar um layer
17
de mantenabilidade. Dois exemplos são tratados a seguir:
a) Em um compressor de um veículo comercial (Figura 2.18), a rota de saída
do compressor só estará acessível com a cabina basculada ou o capô
levantado (dependendo do tipo de veículo);
b) Manutenções preventivas em motores de aviões só estarão acessíveis
após a abertura da tampa de inspeção (exemplificado na Figura 3.43).
Assim, ao se construírem sólidos a partir da rota de saída de um componente-
chave que não seja periférico, tanto o projetista quanto o engenheiro de serviço
terão que possuir experiência para compreender que a existência de interferência
com outros componentes é normal (para um possível modelo proposto), sendo que o
objetivo de se criar a rota solidificada de saída é proteger o espaço necessário para
remover o componente imediatamente após a remoção dos componentes
interferentes.
17
Diferentes layers (camadas) podem ser utilizados em sistemas de modelagem em CAD para separar formas do modelo de
acordo com o desejo do projetista. E.g. separar as cotas dimensionais em um layer pode facilitar a modelagem do produto já
que o projetista pode ativar ou não a sua visualização de acordo a sua necessidade.
Capítulo 3 Modelo para a Consideração do Parâmetro de Mantenabilidade no PDP 154
Figura 3.43 – Necessidade de executar passos prévios em simulações de mantenabilidade –
abertura de tampa de inspeções
Fonte: Manutenção em avião (2009)
3.4.1.2. Colaboração entre engenheiro de produto e serviço atuando sobre a
reserva de espaço
O exemplo da carcaça do volante do motor da seção anterior retrata
exatamente como a alocação de volumes deve ser tratada para salvaguardar
espaços necessários para executar procedimentos de manutenção em componentes
prioritários.
No entanto, se ao examinar a seção 2.5.1, um dos problemas a ser elucidado
pelo presente trabalho seria formalizar a comunicação entre análises de engenheiros
de serviço e de produto ao longo do PDP utilizando-se modelos virtuais, não
deixando brechas para que problemas de comunicação se transformem em produtos
mal sucedidos no ponto de vista da mantenabilidade.
Caso o trabalho de análise de reserva de espaço não seja executado em
conjunto, as seguintes formas de atuação podem ser consideradas para que a
comunicação seja garantida:
a) A partir da disponibilidade dos modelos em 3D, o engenheiro de serviço
estaria habilitado a incluir reservas de espaço em um layer pré-definido
(Figura 3.44 A). O engenheiro de desenvolvimento do produto, por força
de um processo assegurado nas fases conceitual e preliminar, seria então
Capítulo 3 Modelo para a Consideração do Parâmetro de Mantenabilidade no PDP 155
obrigado a habilitar este layer e realizar análises de interferência (como
ilustrado na Figura 3.44) ao menos na lista de componentes e operações-
chave definidos na fase de esclarecimento da tarefa. Em situações de
disputa por espaços, uma análise de custo-benefício deve ser utilizada em
casos que os engenheiros não entrem em comum acordo;
Figura 3.44 – Uso de layers em sistemas CAD para garantir reserva de espaços
b) Outra forma de atuar sobre a reserva de espaço seria a partir da criação,
por parte do engenheiro de serviço, de uma peça dummy
18
atrelada ao
componente-chave em estudo. A vantagem desta forma de atuação seria
a existência permanente na modelagem do espaço reservado, não
permitindo ao projetista a chance de não ativar o layer da opção proposta
no passo anterior. A desvantagem deste formato, no entanto, seria de
assegurar que este espaço não fosse confundido com peças reais
podendo até ser documentados e/ou manufaturados por engano;
c) Uma última alternativa seria a de trabalhar com o layer proposto no passo
“a”, porém adicionando uma facilidade a mais com a ferramenta de
mantenabilidade proposta nesta dissertação. Caso o componente-chave
18
Uma peça dummy seria apenas uma peça sem atribuição do ponto de vista funcional ou de manufatura. Ela seria criada
simplesmente para reservar um volume 3D que garantisse a proteção de um espaço para a execução de um procedimento de
manutenção considerado prioritário.
Capítulo 3 Modelo para a Consideração do Parâmetro de Mantenabilidade no PDP 156
em estudo já possua uma reserva de espaço salva no layer específico de
mantenabilidade pelo engenheiro de serviço, a ferramenta
automaticamente alertaria o projetista sobre a existência da análise no
layer (conforme proposto na Figura 3.45 na frase “Camada SURFACES
encontrada! Favor verificar.”).
Figura 3.45 – Estudo no layer de mantenabilidade sendo automaticamente informado ao
projetista
3.4.2 Aplicação do conjunto de diretrizes de revisão da mantenabilidade
A aplicação do conjunto de diretrizes no processo de revisão do parâmetro de
mantenabilidade ocorre durante as fases conceitual e preliminar do PDP. Assim
como declara o modelo proposto na Figura 3.1, tanto o engenheiro do produto
quanto o de serviço devem estar trabalhando em conjunto durante a utilização da
lista de verificações de mantenabilidade, já que muitas das diretrizes que serão
propostas têm força suficiente para mudar o conceito da modelagem em CAD.
Não é por acaso, que o modelo de mantenabilidade proposto nesta fase
(Figura 3.38) sugere que o alinhamento de atividades entre engenheiro de produto e
serviço sejam executados durante as revisões de protótipo virtuais (design reviews).
Isto ocorre já que a possibilidade de influenciar a modelagem do produto pode
acabar afetando outras áreas (e.g. produção).
Capítulo 3 Modelo para a Consideração do Parâmetro de Mantenabilidade no PDP 157
Ao se examinar algumas ferramentas da seção 2.9.4, a vivência do PDP
sugere que as avaliações do produto sejam executadas com representantes de
diversos setores da empresa. A ausência de representatividade da mantenabilidade
ou da produção pode acabar resultando em falhas grosseiras em uma destas áreas
ao final do projeto. Portanto, quanto maior for à sinergia entre engenheiros de
manufatura, produto e mantenabilidade durante as revisões de protótipos virtuais
(design reviews), melhor será o resultado comum para a empresa no produto final.
Seguindo a norma MIL-HDBK-470A (1997), uma das formas de se capturar as
lições aprendidas por sucessos e erros cometidos em projetos/produtos anteriores é
a proposição de diretrizes de projeto.
Blanchard e Fabrycky (2006) sugerem uma lista com 14 perguntas/tópicos para
serem aplicadas em revisões de protótipos virtuais para contemplar a
mantenabilidade de forma adequada no PDP. Basicamente, o check list cobre os
itens propostos na revisão de literatura durante a seção 2.8 e inclui questões como
análise de elementos de fixação, ergonomia e diminuição na medida do possível de
ajustes e calibrações desnecessárias.
Para Blanchard, Verma e Peterson (1995) a lista de verificações de
mantenabilidade é mais completa e extensa, cobrindo não somente aspectos da
mantenabilidade, mas também conceitos de suportabilidade e confiabilidade. Os
tópicos não diferem do que foi relatado no parágrafo anterior. Porém, diversas
perguntas são alocadas abaixo de cada um dos itens, entrando mais a fundo em
cada tema da mantenabilidade e suportabilidade.
Já a norma MIL-HDBK-470A (1997) vai um pouco além, e propõe a sua lista de
diretrizes de projeto de duas formas distintas, uma que categorizando o check-list
dentro de características do produto (e.g. acessibilidade, elementos de fixação,
ergonomia, entre outros) e outra que aloca as mesmas diretrizes abaixo de tipos de
equipamentos, subsistemas ou áreas de aplicação comuns (e.g. motores diesel,
diretrizes de componentes mecânicos, entre outros).
O conjunto de diretrizes proposto por Blanchard, Verma e Peterson (1995) ou
pela norma MIL-HDBK-470A (1997) formam um grande potencial de revisão de
produto no que tange o parâmetro de mantenabilidade. No entanto, acredita-se o
Capítulo 3 Modelo para a Consideração do Parâmetro de Mantenabilidade no PDP 158
seu uso contínuo em projetos pode acabar caindo em descrédito, uma vez que são
extensos e podem tornar seu uso enfadonho. Uma forma consciente de utilizá-los
seria, para a empresa que busca aplicar a mantenabilidade pela primeira vez,
possuir uma referência de verificação deste parâmetro durante as primeiras revisões
de protótipos virtuais. Logo, a partir do momento em que o grupo de projetos
amadurecer neste quesito, sugere-se que uma composição de diretrizes se torne
mais simples (como a sugerida por BLANCHARD e FABRYCKY, 2006) e que passe
a contemplar a vivência dos produtos/projetos desenvolvidos pela própria empresa.
Portanto, a partir do conjunto de diretrizes observadas na literatura, o Apêndice
B foi sugerido considerando também a vivência do autor da presente dissertação na
área de veículos comerciais. O check list foi proposto de uma forma sumarizada, que
possa ser aplicado em um gama maior de produtos de forma simples e sucinta. Para
maiores detalhes, ver Apêndice B.
3.4.2.1. Análise de custo-benefício para alterações de produto sugeridas a
partir da aplicação da mantenabilidade
A análise de custo-benefício deve ser aplicada sempre que uma proposição de
uma alteração no conceito do produto gerar algum tipo de conflito entre diferentes
áreas da empresa. Estas alterações podem surgir, por exemplo, em revisões virtuais
durante a aplicação/revisão de um conjunto de diretrizes como o apresentado no
Apêndice B.
O conceito de análise de custo-benefício abordado nesta seção, busca
considerar tanto aspectos internos de um empresa (e.g. custo de desenvolvimento e
produção) quanto aspectos externos (e.g. tempo de reparo e ferramental para
manutenção em campo). Ao propor isso, a análise entre diferentes conceitos sendo
propostos em um desenvolvimento passa a ser mais real, já que aspectos da vida
útil do produto passam a ser contemplados.
Portanto, ao tratar de sugestões de alterações sob a ótica da mantenabilidade,
os seguintes aspectos devem ser analisados entre os diferentes conceitos sugeridos
para o produto:
a) Taxa de falha – Tf: averiguar se existe diferença na confiabilidade entre as
sugestões;
Capítulo 3 Modelo para a Consideração do Parâmetro de Mantenabilidade no PDP 159
b) Prazo de retorno de investimento – Pr: compreender qual é o prazo
esperado de retorno de investimento do projeto para compor o tempo de
análise de custo-benefício;
c) Volume de vendas – Vv: obter o volume de vendas esperado dentro do
prazo de retorno de investimento;
d) Quantidade e preço de peças na reposição – Cr: verificar a quantidade de
peças a serem trocadas em uma eventual intervenção e seus respectivos
custos;
e) Mão-de-obra Mo: certificar qual seria o tempo de reparo e seu respectivo
custo necessário para realizar a manutenção do componente almejado;
f) Investimento Inv: verificar qual é o investimento a ser realizado para
implementar a alteração (mão-de-obra, desenvolvimento de ferramental,
aumento no número de peças, alterações no processo de montagem na
produção, entre outros);
g) Ferramentas Fer: certificar se existem diferenças nos conceitos
propostos que levem a um aumento de ferramental para a manutenção;
h) Treinamento Tr: mudanças de conceitos podem demandar altos
investimentos em novos treinamentos, portanto deve-se procurar manter o
nível de complexidade do produto o mais simples possível;
i) Imagem - Im: verificar os conceitos quanto a imagem perante ao cliente
em caso de soluções ruins sob o conceito da mantenabilidade.
Para verificar a relação custo-benefício entre duas ou mais soluções deve-se
aplicar a equação 3.6 para cada proposta envolvida:
(
)
(
)
[
]
I
m
×
+
+
+
+
×
×
×
=
TrFerInvMCPVTA
orrvfXCB
Eq. 3.6
Onde:
A
CB-X
= análise custo-benefício do conceito X;
Tf = porcentagem de taxa de falha do produto (dentro de garantia);
Capítulo 3 Modelo para a Consideração do Parâmetro de Mantenabilidade no PDP 160
Vv = volume de vendas anual do produto (produtos/ano);
Pr = prazo de retorno em anos;
Cr = custo total de peças de reposição (R$);
Mo = custo de mão-de-obra necessário para se realizar a manutenção
do componente almejado (R$);
Inv = custo total para se realizar o investimento (R$);
Fer = custo total para confecção e distribuição de ferramentas especiais
para os pontos de assistência técnica (R$);
Tr = custo para desenvolver e ministrar novos treinamentos (R$);
Im = fator de multiplicação determinado pela experiência da equipe de
projeto para ajustar conceitos que prejudiquem a imagem do produto por
falhar no aspecto de mantenabilidade.
A proposta que apresentar o menor custo se mostrará mais vantajosa para a
empresa, portanto devendo ser a selecionada entre os diferentes conceitos
propostos.
3.4.3 Follow-up do desenvolvimento do produto
Após passar por todas as etapas anteriores, o follow-up do desenvolvimento do
produto sob o ponto de vista da mantenabilidade deve ser realizado. Basicamente, o
engenheiro de serviço deve continuar monitorando qualquer alteração proposta na
modelagem do produto, buscando incluir sempre aspectos da mantenabilidade no
PDP.
Caso alguma alteração gere efeitos negativos para manutenção, o engenheiro
de serviço deverá alertar para o fato e se necessário provar, em uma análise custo-
benefício, que a alteração pode ser maléfica para a aplicação do produto durante a
sua vida útil.
3.5 Mantenabilidade no projeto detalhado
Assim como já fora mencionado anteriormente, a fase de Projeto Detalhado
(Figura 3.46) é responsável pelo detalhamento do leiaute da solução técnica (e.g.
Capítulo 3 Modelo para a Consideração do Parâmetro de Mantenabilidade no PDP 161
inclusão de dimensões, propriedades superficiais, material e do detalhamento do
processo produtivo).
Figura 3.46 – Fase do Projeto Detalhado no PDP
Nesta fase então, o leiaute do produto já está praticamente definido (conforme
sugerido pela Figura 2.29), podendo ocorrer na prática alterações de pequeno porte
que também devem ser monitoradas pelo engenheiro de serviço.
Muitas questões que possuem impacto direto na manutenção do produto em
campo começam a ser executadas nesta fase, tais como: i/ composição da literatura
técnica; ii/ definição das peças de reposição e criação do catálogo de peças; iii/
confecção do material de treinamento; entre outros. No entanto, estas atividades
estão mais atreladas ao Projeto orientado para a Suportabilidade do que para a
Mantenabilidade e não serão abordadas neste estudo.
Deve ser ressaltada também a participação da equipe de DP na orientação da
área de suporte ao produto quanto a editoração de procedimentos de serviço para
que sigam os conceitos aplicados/estudados ao longo do desenvolvimento do
produto. Assim, se garante que conceitos de mantenabilidade aplicados sejam
devidamente documentados e utilizados em campo. Além disso, a equipe de projeto
Capítulo 3 Modelo para a Consideração do Parâmetro de Mantenabilidade no PDP 162
deve estar disponível para eventuais revisões da documentação técnica caso se
julgue necessário.
3.6 Validando a ferramenta de mantenabilidade
Dentro do capítulo 3, um modelo e uma ferramenta foram propostos para se
aplicar adequadamente o parâmetro de mantenabilidade durante o PDP.
No capítulo 4, tanto o modelo quanto a ferramenta são apresentados a um
grupo de técnicos e engenheiros como forma de validação da proposta deste
estudo, visando receber uma retro-alimentação da real utilidade desta pesquisa para
se aprimorar a aplicação da mantenabilidade no PDP.
Capítulo 4 Aplicação da ferramenta de Mantenabilidade 163
4 APLICAÇÃO DA FERRAMENTA DE MANTENABILIDADE
Neste capítulo será validado o modelo e a ferramenta computacional que
endereçam a inclusão da mantenabilidade durante o desenvolvimento do produto.
O objetivo principal desta validação foi verificar o comportamento de pessoas
diretamente ligadas ao desenvolvimento ou a atividades de suporte ao produto em
campo frente a proposta de melhoria do endereçamento da mantenabilidade no
PDP.
A validação do modelo e da ferramenta computacional ocorreu através da
apresentação dos mesmos (conforme pode ser visto no Apêndice E) para um grupo
de experientes profissionais da área de PDP. Por meio da coleta de respostas, a
partir da aplicação de um questionário (Apêndice D), foi possível captar as
percepções destes participantes podendo-se concluir se as propostas sugeridas pelo
presente estudo atendem ou não as necessidades do endereçamento da
mantenabilidade no PDP.
A estratégia ideal seria desenvolver um produto ou sua concepção na íntegra a
partir do modelo e ferramenta aqui sugeridos. Porém, por mais que não tenha
existido tempo hábil e oportunidade para tal, acredita-se que a apresentação e a
coleta de dados realizada com este experiente grupo de engenheiros/técnicos, já
seja capaz de determinar a usabilidade das propostas de inclusão da
mantenabilidade defendidas nesta dissertação.
4.1 Realização da validação
A validação em questão ocorreu nos dias 14 e 15 de outubro de 2009 em uma
indústria do setor automotivo de veículos comerciais, tendo os eventos duração de
aproximadamente duas horas cada.
No total, 12 pessoas compareceram para participar da validação. Os
participantes convidados tinham um perfil profissional diretamente relacionado ao
desenvolvimento do produto ou a áreas de suporte ao produto em campo.
Primeiramente, o material do Apêndice E foi apresentado aos grupos com
intuito de uniformizar o conhecimento dos participantes sobre o parâmetro de
mantenabilidade. Em paralelo à apresentação, a ferramenta de mantenabilidade
desenvolvida no ambiente de ProE era demonstrada na prática utilizando-se do
Capítulo 4 Aplicação da ferramenta de Mantenabilidade 164
exemplo do motor de aeromodelo (constantemente abordado nas Figuras ao longo
deste estudo).
Ao término da apresentação, o questionário do Apêndice D foi distribuído aos
participantes que puderam registrar as suas percepções sobre a proposta de
endereçamento da mantenabilidade no PDP a partir do modelo e da ferramenta
sugeridos. Sendo que os resultados dos questionários podem ser conferidos na
seção a seguir.
4.2 Resultados da validação
Assim como foi proposto no questionário, os resultados da validação serão
divididos em três áreas distintas, sendo elas: i/ identificação dos entrevistados; ii/
avaliação da engenharia simultânea; iii/ avaliação da ferramenta para inclusão da
mantenabilidade.
4.2.1 Identificação dos entrevistados
Assim como já fora mencionado anteriormente, todos os participantes fazem
parte do quadro de funcionários de uma indústria do setor automotivo focada em
veículos comerciais.
Como pode ser conferido na Figura 4.1, o grupo de participantes era composto
na sua maioria por pessoas acima dos 30 anos de vida. O que denota a experiência
das pessoas que participaram do processo de validação.
Idade dos participantes (anos)
0%
25%
58%
17%
até 20 de 20 a 30 de 30 a 40 mais de 40
Figura 4.1 – Idade dos participantes da validação
Capítulo 4 Aplicação da ferramenta de Mantenabilidade 165
O questionamento relacionado ao tempo de empresa tinha como objetivo
conferir se o participante estaria ou não totalmente integrado aos processos da
empresa. Quer dizer, quanto maior fosse o tempo de casa, maiores seriam as
possibilidades das pessoas compreenderem o fluxo de informações e todos os
processos relacionados ao desenvolvimento e suporte ao produto dentro da
companhia. Logo, com base na Figura 4.2 pode-se afirmar que os participantes
possuíam tempo suficiente na companhia para estarem integrados aos seus
respectivos processos, já que todos possuíam no mínimo três anos de atuação nesta
indústria de veículos comerciais.
Tempo de empresa (em anos)
0%
41%
17%
42%
de 0 a 3 de 3 a 6 de 6 a 10 acima de 10
Figura 4.2 – Tempo de atuação dos participantes na empresa
Quanto ao tempo de atuação no mercado (Figura 4.3), os participantes também
demonstraram uma experiência além do âmbito da empresa de atuação corrente, já
que 73% deles possuíam um tempo de atuação superior a dez anos.
A formação acadêmica dos participantes ficou distribuída conforme demonstra
a Figura 4.4, sendo que na sua grande maioria os grupos eram formados por
engenheiros mecânicos. Como a dissertação foca nos ciclos de manutenção
corretiva/preventiva (ver Figura 2.7), principalmente no que tange a modelagem para
se ganhar o acesso aos componentes de forma facilitada (sem considerar questões
de diagnóstico), um público de engenheiros mecânicos se torna ideal para se validar
os conceitos defendidos no estudo.
Capítulo 4 Aplicação da ferramenta de Mantenabilidade 166
Tempo atuando no mercado (em anos)
0%
9%
18%
27%
46%
de 0 a 3 de 3 a 6 de 6 a 10 de 10 a 15 acima de 15
Figura 4.3 – Tempo de atuação dos participantes no mercado
Formação acadêmica dos participantes
7
1
1
1
1
1
Engenharia Mecânica Engenharia Elétrica Tecnólogo em Mecânica
Desenho Industrial Economia Técnico em mecânica
Figura 4.4 – Formação acadêmica dos participantes
No que se refere aos cargos vigentes dos participantes, a Figura 4.5 revela que
o grupo estava polarizado em três funções principais:
a) Analista/Engenheiro de serviço: responsáveis por suportar concessionárias
em problemas técnicos/comerciais representando as mesmas dentro da
organização da empresa;
b) Analista/Engenheiro de suporte ao produto: responsáveis por acompanhar o
desenvolvimento do produto garantido as necessidades do pós-venda em
novos produtos. Na prática, são os cargos responsáveis por monitorar o
parâmetro de mantenabilidade dentro do PDP, representando um papel
fundamental junto aos engenheiros de produto;
Capítulo 4 Aplicação da ferramenta de Mantenabilidade 167
c) Engenheiro de desenvolvimento do produto: responsáveis pelo
desenvolvimento do produto como um todo. Seus três representantes no
grupo de participantes estavam divididos entre dois projetistas e um líder de
projeto.
Os outros cargos que participaram da validação estavam divididos da seguinte
forma:
d) Gerente, coordenador e engenheiro da qualidade: todos representando
funções de qualidade e satisfação de clientes, atuando nos problemas de
qualidade de campo junto à engenharia de produto focada na manutenção
de produtos correntes;
e) Engenheiro de produção: participante assíduo de revisões virtuais do
produto representando a produção nestes fóruns.
Cargo exercido pelos participantes
1
3
2
3
1
1
1
Eng. da Qualidade
Eng. de DP
Analista/Eng de Servo
Analista/Eng de Suporte ao
Produto
Coordenador
Analista de produção
Gerente
Figura 4.5 – Cargos correntes dos participantes na empresa do setor automotivo
Portanto, acredita-se que a multifuncionalidade dos participantes durante a
validação aliada a experiência, tanto de empresa quanto de atuação no mercado,
formou um grupo de participantes experiente o suficiente para analisar o modelo e a
ferramenta de mantenabilidade propostos, podendo retro-alimentar o estudo com
possíveis melhorias ou até mesmo eventuais correções.
4.2.2 Avaliação da engenharia simultânea
Esta seção, visa trazer a tona à forma como os participantes percebem a
engenharia simultânea na empresa em questão. Na verdade, o foco principal foi
Capítulo 4 Aplicação da ferramenta de Mantenabilidade 168
verificar como a comunicação transcorre entre pessoas ligadas ao DP e outras
funções mais relacionadas ao suporte de campo.
No primeiro questionamento da seção de engenharia simultânea, 58% dos
participantes disseram que atuam em todo o desenvolvimento do produto, 17% em
revisões virtuais (chamado de Design reviews no questionário), 17% somente após o
lançamento do produto e por último 8% selecionaram a opção “Outros”. Isto
demonstra claramente que a maioria do grupo tem relação direta em
desenvolvimentos de projeto (75%).
Na pergunta: “Você acredita que a transferência de informações entre as
equipes de desenvolvimento de produto e as áreas da empresa mais atuantes em
campo seja aceitável?”, houve uma divisão já que 58% das repostas disseram
acreditar que a comunicação é aceitável. No entanto, algumas das respostas
positivas vieram atreladas a comentários que mencionavam a necessidade de se
oficializar as demandas geradas a partir desta comunicação bem como realizar o
follow-up das mesmas.
Indo mais a além nesta questão, pode-se ressaltar que:
a) Para 100% dos engenheiros de desenvolvimento do produto a comunicação
é aceitável (todos com perfil de atuação mais interno);
b) Para os engenheiros de serviço (com atuação externa freqüente), houve
uma divisão entre os dois participantes. Na resposta negativa, foi
comentado que ainda falta muita consulta aos problemas de campo e
oficina que não são considerados no desenvolvimento do produto.
Para outras funções exercidas que atuam como ponte entre campo e setores
de desenvolvimento do produto as respostas foram definidas da seguinte forma:
c) Para os engenheiros de suporte ao produto, duas das três respostas foram
negativas. Os problemas principais percebidos foram a dificuldade de se
atuar em tempo real com novas demandas e a existência de problemas de
campo em produtos anteriores que ainda persistem em produtos correntes;
d) Duas das três pessoas ligadas ao departamento de qualidade de campo
também alegaram que a comunicação é ineficiente. O distanciamento entre
Capítulo 4 Aplicação da ferramenta de Mantenabilidade 169
as funções de campo e DP, e a falta de processos que regulem a
comunicação foram utilizados como argumentos. Além disso, foi
mencionado que análises de custo-benefício são normalmente decididas
pela a engenharia de produto sem levar em conta aspectos do pós-venda
(fato este debatido na seção 3.4.2.1).
Em resumo, pode-se concluir que todos os cargos com atuação interna
acreditam que a comunicação seja aceitável (engenheiros de produto e manufatura).
Ao excluir este grupo de participantes, levando-se em conta apenas aqueles que
atuam em campo ou servem como ponte nesta comunicação, o índice de respostas
negativas sobe para 63% das respostas.
Para apenas 42% dos participantes, os novos desenvolvimentos refletem as
necessidades de mercado no que se refere aos aspectos da mantenabilidade. Para
aqueles que acreditam que o produto não reflete estes aspectos, alguns de seus
argumentos estão transpostos a seguir:
a) Conhecimentos adquiridos pelas áreas de manutenção em campo não são
endereçados ao grupo de projetos (remetendo a falta de comunicação entre
as equipes);
b) Custos de manutenção e facilidade de montagem na produção são
considerados com prioridade perante a mantenabilidade no PDP.
No último questionamento da seção B, 58% dos participantes acreditam que
existe tempo hábil para assegurar o intercâmbio de informações entre a aplicação
real do produto fomentando o desenvolvimento de novos produtos. Porém, os
seguintes comentários/sugestões surgiram nesta área:
a) Apesar de existir recursos, se faz necessário automatizar a disponibilidade
de dados para que mais tempo possa ser utilizado no desenvolvimento do
produto;
b) Faltam ferramentas para disponibilizar informações de campo sob
demanda;
c) Três participantes sugeriram a formação de um processo ou uma nova
função para assegurar a entrega destas informações entre os setores.
Capítulo 4 Aplicação da ferramenta de Mantenabilidade 170
4.2.3 Avaliação da ferramenta para inclusão da mantenabilidade
Esta seção do questionário objetivava captar a percepção dos participantes
quanto ao tema de mantenabilidade, bem como validar os conceitos propostos pelo
presente estudo sobre o modelo e ferramenta de mantenabilidade sugeridos.
Para iniciar, 83% dos participantes entendem que os aspectos da
mantenabilidade não são avaliados no desenvolvimento de produto da empresa em
que trabalham. Desenvolvedores sem conhecimento prático, falta de análise sobre
acessos e ferramentas especiais, desconhecimento de tempos de reparo padrão
foram levantados como fatos para justificar a resposta negativa nesta área.
No entanto, um comentário reportado por um engenheiro de produto chamou a
atenção. Este engenheiro alega que todos os componentes prioritários (respaldados
por requisitos) são avaliados. Porém, os parâmetros utilizados na sua avaliação são
“mais qualitativos do que quantitativos”. Quer dizer, existe uma dificuldade natural de
se realizar a comunicação do conhecimento prático de campo com a forma de se
trabalhar de um engenheiro de produto (algo já abordado na seção 2.5).
Para 58% dos participantes, os aspectos da mantenabilidade são aplicados a
partir da experiência de poucos, sem um processo robusto que suporte o
endereçamento da mantenabilidade. Situação que confirma o motivo pelo qual 83%
das respostas na questão anterior foram negativas. Para outros 33%, a
mantenabilidade é aplicada de forma sistemática, com acompanhamentos em
revisões virtuais (Design Reviews). Para apenas 8% a mantenabilidade é aplicada
de forma empírica aliada ao design review, sendo classificada como “Outros” na
pesquisa.
No questionamento sobre a facilidade de utilização da ferramenta da
mantenabilidade proposta pelo estudo, 92% dos usuários disseram considerar a
ferramenta de fácil manuseio. No entanto, ressaltaram a importância da
confiabilidade das informações armazenadas no banco de dados para se obter
sucesso com o uso desta ferramenta. A única resposta negativa atribuiu esta
posição a dificuldade de se elaborar a lista de componentes-chave. Para este
participante, deve existir a retro-alimentação de novos dados, que passam a estar
disponíveis durante o desenvolvimento do produto, para complementar a lista de
itens prioritários. Além disso, os fatores levantados sobre as ineficiências do
Capítulo 4 Aplicação da ferramenta de Mantenabilidade 171
algoritmo de WP e o fato de falhas sem histórico não poderem ser consideradas pela
ferramenta, auxiliaram este participante a determinar a resposta negativa.
Todos os participantes consideraram que a ferramenta pode auxiliar a equipe
de desenvolvimento a gerar produtos melhores e que o indicador de posicionamento
serve como uma forma de avaliar o posicionamento do componente sob a ótica da
mantenabilidade. Durante a apresentação foi interessante notar que ao iniciar a
explicação do indicador das relações individuais de quantidade de peças a serem
removidas e taxa de falhas (Figuras E.28 e E.29), houve comentários reticentes
sobre a praticidade de seu uso. Porém, ao propor a fórmula de aplicação final do
indicador (Figura E.30), boas retro-alimentações surgiram indicando que a métrica
proposta era realmente aplicável.
Todos os participantes acreditam que a aplicação da ferramenta de
mantenabilidade no dia a dia venha a facilitar a comunicação entre projetistas e
engenheiros de serviço/suporte ao produto. Podendo até reverter parte das
respostas negativas angariadas ao longo da aplicação deste questionário no que se
refere a comunicação entre diferentes setores da empresa.
Para finalizar, 75% das respostas avaliaram que a ferramenta da
mantenabilidade seria muito útil na melhora da inclusão de aspectos da
mantenabilidade no desenvolvimento do produto. Os outros 25% consideraram a
ferramenta como sendo essencial para o PDP, justificando todo esforço empenhado
no desenvolvimento do modelo e da ferramenta durante o estudo da presente
dissertação.
Para 58% das pessoas presentes no processo de validação, existem outras
necessidades não cobertas pela ferramenta/modelo e que poderiam ser abordadas.
As idéias ou áreas de interesse que surgiram durante a apresentação ou a partir da
pergunta 12 do questionário para que futuramente pudessem ser abordadas foram:
a) Incluir o tema de diagnóstico na análise da mantenabilidade;
b) Considerar o peso ou o volume dos componentes do produto como fatores
de avaliação nos processos de desmontagens;
c) Análise para ferramentas especiais;
d) Criar um indicador de tempo de reparo versus tempo máximo de reparo
aceitável;
Capítulo 4 Aplicação da ferramenta de Mantenabilidade 172
e) Melhorar o processo de transmissão de informações entre engenheiros de
serviço e produto ao criar a função de engenheiro de requisitos;
f) Incluir o tempo padrão nas análises de mantenabilidade;
g) Considerar o fator custo na ferramenta;
h) Retro-alimentar a lista de componentes-chave ao longo do PDP.
4.3 Considerações finais sobre a validação
O processo de validação aplicado buscou concentrar a demonstração da
ferramenta de mantenabilidade em um grupo de participantes experientes e que
vivenciam o suporte ou o desenvolvimento de produto no seu dia a dia. Além disso,
foi focado no perfil de engenheiros mecânicos justamente por este profissional estar
mais alinhado com os desenvolvimentos propostos no presente estudo.
A avaliação da engenharia simultânea na empresa automotiva teve com foco
respaldar diversos pontos da dissertação ao comprovar que existem espaços para
melhoria na comunicação entre engenheiros de desenvolvimento de produto e
serviço. Assim, ficou provado que o diálogo ineficiente, que gera reflexos negativos
sob o ponto de vista da mantenabilidade no produto, não foi formado simplesmente
através da visão do presente autor sobre este tópico, mas sim como a forma que a
mantenabilidade é aplicada na prática do PDP (confirmada também na literatura
referenciada ao longo do capítulo 2).
Por último, na etapa de avaliação da ferramenta para a inclusão da
mantenabilidade, ficou demonstrado que a ferramenta/modelo propostos, que
buscam unir a prática de PDP ao que recomenda a literatura sobre o parâmetro da
mantenabilidade, podem representar uma melhora significativa nos conceitos de
manutenção entregues em produtos desenvolvidos a partir do presente estudo. No
entanto, assim como foi declarado na própria apresentação do Apêndice E, existem
diversas possibilidades/necessidades/anseios de melhoria, seja no modelo ou na
ferramenta proposta, que poderão ser considerados em estudos futuros.
Capítulo 5 Conclusões e Recomendações para Trabalhos Futuros 173
5 CONCLUSÕES E RECOMENDAÇÕES PARA TRABALHOS
FUTUROS
5.1 Conclusões
O presente estudo possibilitou o entendimento da forma como a
mantenabilidade é declarada na literatura clássica e seus reflexos na aplicação
prática, já que a vivência do presente autor e outros artigos que tratam deste tema
apontam diversas falhas no endereçamento da mantenabilidade ao longo do PDP.
Com a existência desta lacuna no desenvolvimento de produtos, buscou-se
mapear, a partir da literatura vigente, quais seriam os aspectos a serem
considerados para que um produto pudesse ter sucesso no âmbito da manutenção.
Além disso, foi utilizado o conhecimento prático para entender como esta lacuna
poderia ser preenchida, para que se saísse dos objetivos e métricas propostos na
literatura e se chegasse à forma de atuação para implementar corretamente o
parâmetro de mantenabilidade.
Como a engenharia simultânea tem um peso fundamental para a melhora da
aplicação deste parâmetro, e os sistemas CAD propiciam grandes possibilidades de
interações entre diferentes setores de uma companhia através do compartilhamento
de banco de dados ou das revisões virtuais ao longo do desenvolvimento, foi
proposto durante a dissertação, um modelo e uma ferramenta baseada em sistema
CAD para aplicar a mantenabilidade no PDP. O que o modelo e a ferramenta trazem
de novidade, é o direcionamento das atividades para componentes-chave utilizando-
se de um sistema, tornando mais evidente onde o trabalho de desenvolvimento deve
ser focado. Além disso, a partir de três funções programadas na ferramenta alocada
no sistema ProE, mesmo um projetista inexperiente tem a capacidade de aplicar
muitos dos aspectos vitais da mantenabilidade de forma fácil e clara (simplificação,
análise de ferramental e indicador de posicionamento de componentes-chave). Estas
funções acabam por liberar recursos, já que o projetista passa a ter uma
independência maior de modelagem, permitindo que engenheiros de serviço atuem
em problemas de clientes em produtos correntes.
Capítulo 5 Conclusões e Recomendações para Trabalhos Futuros 174
Outro aspecto relevante e inédito do estudo foi à proposição de uma fórmula
que evidencia se o posicionamento de um componente-chave em relação aos
demais itens pertencentes ao produto é ou não aceitável. Ao mesclar um indicador
de quantidade de peças removidas com uma relação de taxa de falhas, a ferramenta
passa a realmente dar foco aos componentes que estiverem pior posicionados e/ou
com uma taxa de falha ruim perante os anseios requisitados no projeto. Quer dizer, o
parâmetro da mantenabilidade só será exaustivamente trabalhado, se a relação de
peças removidas e taxa de falha for ruim, podendo significar um problema para a
utilização do produto após a sua venda ao cliente final.
Com isso, tanto a ferramenta como o modelo garantem que a maturidade da
modelagem do produto em revisões virtuais seja maior, já que questões básicas da
mantenabilidade como a diminuição de elementos de fixação e ferramental
necessário, a composição do produto mais próxima possível as peças já existentes
em estoque da empresa, e o posicionamento de componentes-chave já estarão
melhor examinados pelo projetista antes da revisão. Assim, se permitirá aos
participantes de revisões virtuais, utilizar o seu tempo em análises mais complexas
do projeto.
A dissertação também trouxe à tona uma nova forma de se proteger áreas
necessárias para a realização da manutenção. Ao propor a solidificação de volumes
3D em sistemas CAD, em camadas (layers) destinadas a mantenabilidade, o
engenheiro de serviço passou a fazer parte das análises de interferências tão usuais
durante a modelagem em sistemas 3D. Com isso, o conhecimento, muitas vezes
restrito a pessoas com relacionamento forte ao suporte de campo, passou a ser
tangível também ao desenvolvimento virtual do produto nas fases conceitual e
preliminar do PDP.
Por último, mas também com um grau de importância de extrema relevância, o
estudo propõe um conjunto de diretrizes para auxiliar a equipe de projeto na revisão
dos modelos sob a ótica da mantenabilidade nas fases iniciais do PDP. Estas
diretrizes foram compiladas ao fazer a junção de listas de verificações propostas por
autores renomados da literatura e somadas a questões vivenciadas pelo autor desta
dissertação na realidade do desenvolvimento de produto de uma empresa
automotiva do ramo de veículos comerciais. Além disso, para que solicitações de
Capítulo 5 Conclusões e Recomendações para Trabalhos Futuros 175
modificações na modelagem para melhorar a manutenção de produto, surgidas a
partir da aplicação destas diretrizes, não sejam sucumbidas a fatores de produção
e/ou custos na fase de desenvolvimento, uma análise de custo-benefício é proposta
para que se passe a contemplar os impactos das mudanças solicitadas em toda a
vida útil do produto.
Ao final, todo este trabalho foi devidamente validado por um grupo experiente
de pessoas com alto envolvimento no desenvolvimento de produto e/ou suporte ao
produto em campo. Tanto o modelo, que sugere os momentos de atuação do
parâmetro da mantenabilidade no PDP, quanto à ferramenta elaborada foram
amplamente aceitos pelos participantes da validação, que consideraram o resultado
deste estudo muito útil ou essencial para a melhoria da aplicação deste parâmetro
de engenharia no desenvolvimento de produtos.
Apesar de todos os avanços propostos neste estudo para a correta aplicação
da mantenabilidade em desenvolvimento de novos produtos, existem ainda áreas de
melhorias ou de atenção que deverão ser focadas em possíveis pesquisas futuras.
Ao se tratar da confiabilidade, apesar de ser um tema de grande importância no
PDP, poucas empresas demonstram utilizá-la de uma forma estruturada. Portanto,
algumas das funções sugeridas na ferramenta podem perder a sua utilidade, caso
não existam informações consistentes de taxa de falhas de produtos correntes do
produto em análise. Outra questão relevante, é a criação e o gerenciamento de
banco de dados robustos, que garantam a correta identificação de componentes pré-
existentes e elementos de fixação registrados adequadamente. Por fim, um
algoritmo mais eficaz deverá ser desenvolvido, já que o método de WP não é capaz
de atender todas as necessidades de análises da mantenabilidade que uma
modelagem de produtos em ambiente CAD necessita.
Com isso, pode-se concluir que apesar de algumas possíveis melhorias, a
ferramenta e o modelo proposto, têm condições de serem utilizados na prática do
PDP para produtos mecânicos, pois auxiliam e direcionam a equipe de
desenvolvimento de produto a gerar produtos melhores no âmbito da
mantenabilidade. Sendo assim, considera-se que todos os objetivos propostos no
capítulo 1 foram atingidos e devidamente endereçados ao longo de toda a
dissertação.
Capítulo 5 Conclusões e Recomendações para Trabalhos Futuros 176
Por fim, pode-se afirmar que a abordagem apresentada neste estudo é inédita
e, apesar da aplicação da ferramenta ter ocorrido com uma amostragem reduzida,
acredita-se que por a validação ter sido realizada em uma multinacional do setor
automotivo, e por esta empresa representar um ambiente real e muito similar a
outras empresas que trabalham com desenvolvimentos virtuais, que o estudo esteja
embasado em elementos que asseguram sua credibilidade.
5.2 Recomendações para trabalhos futuros
Esta seção visa destacar pontos a serem aprimorados na ferramenta e no
modelo sugeridos em possíveis investigações futuras, bem como sugerir áreas de
atuação que podem auxiliar no avanço da aplicação da mantenabilidade durante o
processo de desenvolvimento de produtos.
Para o indicador de posicionamento, que baseia o cálculo da quantidade de
peças a serem removidas no algoritmo de WP, deve-se aprimorar a matemática de
suporte a esta função, para que se passe a contemplar possíveis espaços entre
peças e também movimentos relativos entre as mesmas. Além disso, o algoritmo
desta função deve ser melhorado para atuar sobre componentes que apresentem
interferências na utilização prática do produto, mas que sejam modelados nas suas
dimensões nominais.
Ainda tratando do tema sobre a quantidade de peças a serem removidas para
se alcançar um componente almejado, uma área a ser melhor explorada na
ferramenta é a modularidade de produtos. O sistema deve ser capaz de
compreender que através da remoção de módulos (como o sugerido na Figura 3.34),
pode-se sacar o item desejado com uma quantidade menor de ações de remoção
sobre o produto.
Em produtos mais complexos, ainda existe uma incógnita sobre a forma de
considerar a quantidade total de componentes do produto. Ao tomar um carro de
passeio como exemplo, o que deve ser considerado como produto completo na
análise da troca de um filtro de óleo do motor? O veículo completo, o motor e a caixa
de câmbio, ou apenas o entorno do filtro? Para aplicar corretamente o indicador de
posicionamento em produtos de maior complexidade, respostas para estas
perguntas deverão ser mandatoriamente respondidas.
Capítulo 5 Conclusões e Recomendações para Trabalhos Futuros 177
No que se refere aos bancos de dados, empresas que tenham interesse em
utilizar este ferramenta deverão ser capazes de registrar adequadamente todos os
seus componentes, desde um simples parafuso até peças mais complexas. Isto
ocorre, pois as funções da ferramenta que retratam a composição do produto e a
verificação de ferramental necessário são baseadas fortemente no banco de dados
de empresa em questão.
Quanto ao modelo, um fator fortemente ressaltado no processo de validação
(além da confiabilidade do banco de dados) foi a importância da retro-alimentação
da lista de componentes-chave durante todo o processo de desenvolvimento de um
novo produto. Para isso, além de sugerir uma alteração na forma de visualizar o
modelo, que deveria contemplar esta retro-alimentação, uma nova função poderia
ser criada na ferramenta, onde algum usuário (com autoridade definida em projeto)
teria a autonomia de incluir novos itens na lista de componentes-chave ao longo do
desenvolvimento.
No que se refere à reserva de espaços, uma nova proposta que pode ser
adotada seria a permanência das ferramentas especiais/universais juntamente aos
volumes que forem criados para proteger espaços necessários para realizar a
manutenção do produto em desenvolvimento. Com isso, o engenheiro de produto
passaria a ter acesso ao modelo 3D da ferramenta que gerou o volume para tratar
de questões ergonômicas, podendo utilizá-la em possíveis novas modelagens.
Figura 5.1 – Inclusão de ferramentas 3D nas reservas de volumes
Capítulo 5 Conclusões e Recomendações para Trabalhos Futuros 178
Por último, uma melhoria de processo, mais focada na engenharia simultânea
poderia ser estudada. Para alguns participantes da validação, é de extrema
importância se disponibilizar recursos que sirvam como ponte entre os problemas de
serviçabilidade vivenciados com a aplicação do produto em campo e os
desenvolvimentos correntes ou futuros de produtos (engenheiro de requisitos).
Referências 179
PRODUÇÃO CIENTÍFICA NO PERÍODO (2006-2009)
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Apêndice A Considerações de Projeto para Mantenabilidade: uma comparação entre DFMT e DFMA 184
APÊNDICE A – CONSIDERAÇÕES DE PROJETO ORIENTADO PARA
A MANTENABILIDADE: UMA COMPARAÇÃO ENTRE DFMT E DFMA
A.1. Introdução
Durante o desenvolvimento de produto, além de buscar atingir os anseios dos
clientes, questões fundamentais tais como a redução do tempo de desenvolvimento,
a melhoria da qualidade, a consideração de impactos no meio ambiente, redução do
tempo de montagem e/ou de manutenção são preponderantes para transformar uma
idéia em um produto de sucesso.
Para auxiliar no processo de desenvolvimento, diversos pesquisadores
publicaram estudos referentes a questões-chave, que guiam o projeto a atingir
objetivos específicos. Duas destas técnicas são denominadas de DFMT (Design for
Maintainability) e DFMA (Design for Manufacturability and Assembly). Enquanto a
primeira enxerga o desenvolvimento de produto sob a ótica da manutenção, a
segunda busca concentrar-se no processo de manufatura e no projeto para a
montagem em uma linha de produção.
Com o intuito de demonstrar que é possível existir sinergia entre o DFMT e o
DFMA, este apêndice apresenta no primeiro tópico conceitos e diretrizes do DFMA
somente (já que o DFMT está amplamente discutido ao longo da dissertação).
Após, descreve-se o produto escolhido e a demonstração do fluxo de realização de
uma manutenção corretiva. Logo em seguida, avaliam-se os itens de conflito entre
os conceitos das duas metodologias referente ao estudo de caso. E por último,
mostra-se uma proposta de um segundo alternador, analisando a viabilidade da
integração de aspectos de manutenção.
A.2. DFMA
O Projeto orientado para a Manufatura e Montagem (DFMA) engloba dois
outros DFX’s denominados de DFM (Design for Manufacturability) e DFA (Design for
Assembly). O sucesso da aplicação do DFM está na conciliação de um produto de
baixo custo sem prejudicar a qualidade. Basicamente, esta abordagem demonstra
Apêndice A Considerações de Projeto para Mantenabilidade: uma comparação entre DFMT e DFMA 185
que “o projeto do produto e o projeto do processo não podem de modo algum ser
tratados como entidades separadas” (ROZENFELD et al., 2006), já que esta
metodologia visa incluir aspectos referentes à manufatura durante todo o ciclo de
desenvolvimento do produto. Já o DFA, tem por objetivo a diminuição do custo do
produto a partir da simplificação do projeto, da redução do tempo de montagem e
conseqüentemente da facilitação do processo da manufatura, conforme pode ser
conferido no estudo de caso apresentado por Kovalchuk (2006).
Portanto, a aplicação do DFMA pode ser resumidamente definida utilizando-se
a aplicação das seguintes diretrizes:
1. Reduzir ao máximo o número de componentes;
2. Usar materiais, processos e componentes de prateleira (padronizados);
3. Projetar componentes para serem multifuncionais;
4. Possibilitar alterações/compartilhamento entre plataformas de produtos
(modularidade);
5. Buscar a mesma especificação entre produtos similares (normalização);
6. Minimizar as direções de montagem buscando uma montagem empilhada;
7. Facilitar o alinhamento e a inserção das peças reduzindo assim a
possibilidade de erros na montagem;
8. Integrar as áreas de manufatura e montagem com a de desenvolvimento do
produto para alcançar uma produção de qualidade;
9. Evitar tolerâncias estreitas além da capacidade natural do processo de
manufatura;
10. Avaliar a possibilidade do uso da automação no processo produtivo;
11. Projetar de acordo com o volume de produção estimado para o produto em
questão;
12. Reduzir ao mínimo necessário operações secundárias (e.g. acabamentos,
inspeções);
13. Projetar para a fácil fabricação por meio da seleção de processos
compatíveis com os materiais;
14. Utilizar as características especiais dos processos;
15. Limitar a diversidade de tecnologias empregadas na produção, utilizando
sempre na medida do possível as soluções de processo já existentes na
Apêndice A Considerações de Projeto para Mantenabilidade: uma comparação entre DFMT e DFMA 186
empresa;
16. Projetar o produto com robustez, para compensar incertezas na
manufatura, testes e uso do produto;
17. Possibilitar acesso fácil à montagem;
18. Projetar uniões e fixações eficientes, eliminando o uso de parafusos, rodas
e roldanas.
É com base nestas diretrizes que o grupo de projeto deve ser capaz de
identificar possíveis modificações no produto, visando a definição de alternativas que
facilitem a otimização do sistema de manufatura e montagem, simplificando e
diminuindo custos (BRALLA, 1986).
A.3. Estudo de caso
Para ilustrar uma comparação entre considerações de manufatura e de
mantenabilidade, faz-se necessário o estudo de um ciclo de manutenção corretiva
de um produto utilizado atualmente no mercado de veículos comerciais.
O produto escolhido foi um alternador, mais especificamente o regulador de
carga deste componente.
A.3.1. Descrição funcional do alternador
Basicamente, a função principal do alternador é recarregar as baterias. Após a
partida do motor, o alternador começa a ser movido por uma correia ligada à árvore
de manivelas. O rotor, que é o eixo do alternador, gira numa rotação algumas vezes
superior a do motor. O campo magnético produzido por esse movimento de rotação
atravessa as bobinas de fios de cobre existentes no estator e começa a gerar tensão
elétrica. Portanto, quanto maior a rotação, maior será a tensão elétrica gerada. Para
evitar que um “excesso” de tensão chegue a causar danos ao veículo, a tensão
precisa ser controlada, função que é executada pelo regulador de carga. É no
regulador que são encontradas as escovas, que são as peças que sofrem desgaste
ao longo do uso do produto.
Por se tratar de um componente que demanda trocas ao longo da sua vida útil,
a operação de troca do regulador de carga do alternador foi escolhida para auxiliar
no estudo prático das considerações de mantenabilidade.
Apêndice A Considerações de Projeto para Mantenabilidade: uma comparação entre DFMT e DFMA 187
A.3.2. Ciclo de manutenção corretiva
O ciclo de manutenção corretiva ocorre conforme a Figura A.1.
Figura A.1 – Ciclo de manutenção corretiva
A. Detecção da falha: a primeira fase dentro de um procedimento de
manutenção corretiva é justamente identificar que existe um problema. Esta
identificação (diagnose) pode ocorrer de variadas formas, através de
indicadores eletro/eletrônicos como sinais luminosos e/ou mensagens em
visores, pela piora do desempenho do equipamento ou até mesmo pela
interrupção de seu funcionamento. A identificação pode ocorrer também via
sistemas modernos de diagnósticos computadorizados ou a partir da
verificação de sintomas que conduzam a análises do comportamento irregular
do produto. No caso prático de alternadores, o acendimento de uma luz
indicadora no painel, variações de intensidade na iluminação interna ou dos
faróis do veículo podem indicar um possível problema no regulador do
alternador;
B. Preparação para a manutenção: com a confirmação do problema, e já
sabendo como deve-se atuar para sanar a falha, algumas preparações são
Apêndice A Considerações de Projeto para Mantenabilidade: uma comparação entre DFMT e DFMA 188
realizadas, tais como: busca pelas ferramentas e peças de reposição
necessárias;
C. Localização e isolamento: nesta fase são realizados todos os procedimentos
para chegar ao ponto imediatamente anterior ao da desmontagem, quer dizer,
ações como bascular uma cabina e desligar a chave geral formam um
conjunto de atividades necessárias para se chegar ao alternador em questão
em um veículo comercial;
D. Desmontagem: é nesta fase que o presente apêndice está focado, já que visa
comparar aspectos da montagem em produção com considerações de
mantenabilidade dando ênfase a questões de acessibilidade. Nela,
demonstra-se o passo a passo da desmontagem do alternador para se chegar
ao componente supostamente defeituoso, o regulador de carga. A Figura A.2
ilustra os procedimentos de desmontagem do alternador A (descritos a seguir)
necessários para se chegar ao regulador de carga:
1. Desconectar os cabos do alternador;
2. Desapertar os parafusos de fixação e remover o alternador do veículo;
3. Com um marcador, marcar a posição das tampas traseira e frontal em
relação ao núcleo do estator para posterior montagem;
4. Retirar os quatro parafusos que unem as tampas traseira e dianteira.
Aquecer externamente a tampa traseira (se necessário) na região do
compartimento do rolamento, em torno de 60°C;
5. Com o auxílio de uma chave de fenda, fazer uma "alavanca" entre o
estator e a tampa dianteira, separando o conjunto "tampa dianteira - rotor -
polia" do conjunto "tampa traseira - estator", sempre cuidando para não
danificar a resina dos fios e o núcleo do estator com a chave de fenda;
6. Para separar o estator do retificador e da tampa traseira, remover a solda
das fases do estator da ponte retificadora. Usar ferro de solda com
potência de 180 a 270 W por no máximo cinco segundos, já que os diodos
podem ser danificados se sobreaquecidos;
7. Para separar a ponte retificadora e o regulador de carga da tampa traseira,
remover as porcas B+, A e W externas à tampa, e os dois parafusos
internos à mesma;
Apêndice A Considerações de Projeto para Mantenabilidade: uma comparação entre DFMT e DFMA 189
8. Remover a solda do regulador da ponte retificadora para soltá-lo;
Figura A.2 – Manutenção do alternador A
E. Remoção do componente problemático: nesta etapa chega-se ao
componente defeituoso causador da perda de desempenho do equipamento.
Outra via (G) de prosseguimento do reparo seria o próprio conserto do
regulador, caso não fosse necessário realizar trocas de peças. O que guia se
o fluxo de reparo segue na rota E ou G (ver Figura A.1) é normalmente a
complexidade do reparo e/ou política de peças de reposição. No caso do
alternador em questão, a troca do regulador completo (rota E para F) foi
escolhida;
F. Troca pela peça de reposição: neste momento ocorre a troca do componente
com falha. Um novo regulador é utilizado;
G. Reparo do equipamento: esta etapa ocorre sempre que for possível corrigir a
falha sem a necessidade de troca de peças de reposição;
H. Montagem: na montagem, normalmente ocorrem os passos inversos da
desmontagem tomando-se o cuidado de seguir especificações específicas
(e.g. aplicação de torque, montagem cruzada de parafusos diametralmente
opostos, entre outros). No exemplo corrente do alternador, o único detalhe
diferente do já explanado é atentar para o fato de que antes de encaixar o
Apêndice A Considerações de Projeto para Mantenabilidade: uma comparação entre DFMT e DFMA 190
rotor na tampa traseira, deve-se empurrar as escovas em seu alojamento e
inserir um arame pela parte externa da tampa traseira para mantê-las na
posição correta (ver Figura A.3). Após encaixar o rotor na tampa traseira não
deve-se esquecer de remover o arame de retenção das escovas;
Figura A.3 – Detalhe da montagem do alternador A
I. Alinhamento e ajuste: dentro da etapa de alinhamento e ajustes executam-se
passos necessários para validar a correta montagem do componente em
questão. Para assegurar o correto posicionamento do componente no veículo
comercial, foram seguidos um conjunto de tarefas necessárias para que isto
aconteça, aplicados no estudo de caso deste apêndice:
9. Após o alternador ter sido corretamente e completamente montado,
verificar manualmente se a polia gira livremente;
10. Montar o alternador no veículo;
11. Alinhar a correia na polia do alternador;
12. Ajustar o tensionador (suporte do alternador) e apertar os parafusos de
fixação do alternador de acordo com o torque especificado;
J. Verificação final: por último, deve-se validar que o produto realmente retorna a
sua condição original/ideal. Para o alternador, os seguintes passos são
necessários:
13. Conectar os cabos do alternador;
14. Retornar a cabine à posição de condução;
15. Ligar a chave geral do veículo e verificar se o alternador está carregando
normalmente.
Apêndice A Considerações de Projeto para Mantenabilidade: uma comparação entre DFMT e DFMA 191
A.4. Comparação entre DFA e DFMT
Uma comparação entre os métodos de DFA e DFMT (mais especificamente
diretrizes que geraram conflito entre as metodologias) é apresentada como resultado
da análise realizada sobre o estudo deste alternador.
Durante a apresentação do ciclo de manutenção corretiva do alternador A
foram observadas as seguintes diferenças entre as metodologias:
A. Reduzir número de componentes: similar no DFMT, porém deve-se cuidar
para que esta redução não venha acarretar em aumento do custo de reparo
(e.g. fazer a junção do regulador com a ponte de diodos);
B. Montagem empilhada / Possibilitar acesso fácil à montagem: a acessibilidade
do regulador, que é considerado uma peça de uptime (disponibilidade) do
alternador, não foi levada em consideração. Para a produção, não é uma
questão relevante. Porém para a manutenção ao longo da vida útil é de
extrema importância;
C. Facilitar o alinhamento e a inserção das peças / Evitar tolerâncias estreitas:
considerando componentes novos e dentro de um ambiente controlado
(ambiente produtivo), a montagem do estator e da tampa dianteira pode não
representar uma dificuldade. Porém, após o uso do alternador no campo, esta
operação pode ficar prejudicada (ver passo 5 do ciclo de manutenção
corretiva) e resultar em danos ao produto;
D. Integrar as áreas de manufatura e montagem com a de desenvolvimento do
produto: sem a inclusão de um engenheiro de serviço, problemas vivenciados
na aplicação de produtos anteriores podem não ser considerados no
desenvolvimento do projeto;
E. Projetar para a fácil fabricação / Limitar a diversidade de tecnologias
empregadas na produção: o uso da soldagem entre o regulador e a ponte
retificadora, gera problemas não somente para a produção mas para a
manutenção;
F. Projetar o produto com robustez: o regulador, dentro de um alternador,
representa um componente que pode afetar a disponibilidade do produto. Ao
não considerar a facilidade de realizar a manutenção do mesmo (como pode
Apêndice A Considerações de Projeto para Mantenabilidade: uma comparação entre DFMT e DFMA 192
ser visto pela complexidade do procedimento de reparo), a robustez não foi
corretamente endereçada;
G. Projetar uniões e fixações eficientes: além do problema da soldagem já
comentado, outra possibilidade para melhorar o projeto do alternador seria
avaliar uma otimização do número de ferramentas universais.
Além das diretrizes do DFMT já comentadas acima, outras definições da
metodologia que não foram utilizadas na avaliação deveriam ter sido consideradas
no projeto do alternador. Estas análises podem ser encontradas a seguir:
A. Projetar soluções simples: no projeto do alternador pode-se notar que o
componente precisa ser removido do veículo para que o reparo possa ser
realizado, o que dentro de um projeto de um veículo comercial não é
aceitável, já que a disponibilidade deve ser sempre garantida. Quer dizer, se o
alternador falhar com o veículo em trânsito, muito provavelmente o
componente completo será trocado, ao invés de apenas o regulador. Além
disso, procedimentos que necessitam soldagem e pistola de ar quente vão
contra um projeto que leva em consideração aspectos de mantenabilidade;
B. Considerar aspectos ergonômicos: não foram levados em conta neste projeto,
pois uma atividade simples como a troca do regulador, faz com que o
mecânico/eletricista tenha que executar diversos passos para corrigir a falha;
C. Melhorar a acessibilidade / Reduzir o tempo médio de reparo: a peça de
uptime (disponibilidade) do alternador não possui acesso facilitado
prejudicando o tempo de reparo. O ciclo completo para reparar o regulador do
alternador apresentado no estudo de caso leva duas horas;
D. Evitar uso de ferramentas especiais: o uso de equipamentos como pistola de
ar quente e ferro de soldagem são pontos negativos na manutenção do
alternador;
E. Considerar na fase de projeto o ciclo de manutenção preventiva do produto:
como o regulador (mais precisamente as escovas) é considerado o
componente de desgaste do alternador, pode-se garantir que o ciclo de
manutenção preventiva não foi considerado no projeto;
Apêndice A Considerações de Projeto para Mantenabilidade: uma comparação entre DFMT e DFMA 193
F. Minimizar a possibilidade de contaminar outras peças durante o serviço: os
procedimentos de solda necessários para a troca do regulador representam
um risco principalmente para a ponte retificadora, já que o aquecimento
excessivo durante a soldagem pode levar também este componente ao
descarte;
G. Possibilitar o diagnóstico: a criação de uma “janela” de inspeção ou outra
forma de averiguar o desgaste das escovas possibilitaria a identificação de
possíveis problemas com antecedência.
A.5. Apresentação de um alternador alternativo
Para mostrar que é possível fazer a inclusão de aspectos de mantenabilidade
no desenvolvimento de produtos, um segundo alternador (B) também utilizado em
veículos comerciais, mas que aborda a troca do regulador (escovas) de uma forma
extremamente simples foi escolhido.
Neste produto, além do reparo ocorrer no local (não existe necessidade da
remoção do alternador do veículo), o ciclo de manutenção corretiva não utiliza
aparelhos de solda ou aquecimento, somente chaves universais. A Figura A.4
demonstra claramente a facilidade de realizar esta manutenção, já que basta
desconectar os chicotes C e soltar os parafusos e porcas P para acessar e trocar o
regulador R. O tempo do ciclo de reparo leva apenas 24 minutos, enquanto o
alternador A do estudo de caso são necessárias duas horas para a conclusão do
conserto. Além disso, neste reparo não existem riscos de danos a outros
componentes já que a operação é simplificada.
Figura A.4 – Desmontagem do alternador B
Apêndice B Conjunto de diretrizes para a mantenabilidade 194
APÊNDICE B – CONJUNTO DE DIRETRIZES PARA A
MANTENABILIDADE
O conjunto de diretrizes para contemplar e aplicar o parâmetro de
mantenabilidade em sistemáticas de revisão de projetos foi constituído a partir de
listas de verificações propostos por Blanchard e Fabrycky (2006), Blanchard, Verma
e Peterson (1995) e pela norma MIL-HDBK-470A (1997). Soma-se a isso, alguns
pontos adicionados utilizando-se a experiência prática do autor desta dissertação.
As diretrizes para a inclusão do parâmetro de mantenabilidade não consideram
aspectos relativos exclusivamente a diagnóstico por eletrônica embarcada ou
suportabilidade por não fazerem parte do escopo da dissertação. No entanto, caso
estes tópicos tenham influência direta na mantenabilidade, estarão listados nas
diretrizes (e.g.: acesso ao conector de diagnóstico do produto).
O conjunto de diretrizes sugerido é apresentado na Tabela AP.1:
Apêndice B Conjunto de diretrizes para a mantenabilidade 195
Tabela AP.1 – Conjunto de Diretrizes para a Mantenabilidade
(continua)
Item Descrição Análise
1
Requisitos da mantenabilidade (aplicado na fase de
esclarecimento da tarefa e conceitual)
Sim
Não
Comentário
1.1.
Todos os requisitos qualitativos e quantitativos da
mantenabilidade foram definidos?
1.1.1.
Os requisitos são realistas e poderão ser atingidos e verificados
com os recursos alocados para validação da mantenabilidade?
1.1.2.
Eles cobrem todos os aspectos negativos do produto na sua
versão corrente (sob o ponto de vista da mantenabilidade)?
1.1.3.
Os conceitos inovadores do produto foram modelados levando-
se em conta os aspectos da mantenabilidade?
2. Acessibilidade
2.1.
Existe acesso aos componentes considerados “chave” no
projeto sem a eventual necessidade de remoção de
componentes periféricos?
2.1.1.
Componentes abaixo da manutenção preventiva e/ou diária
possuem livre acesso para execução do procedimento de
serviço ou para simples inspeções?
2.1.2.
Foram reservadas (solidificadas) as rotas de saída de
componentes-chave (no sistema de modelagem em 3D)
assegurando o espaço necessário para realizar a manutenção?
2.2.
Existem tampas de acesso condizentes com o tamanho e a
forma de acessar o componente no caso de uma eventual
substituição?
2.3. O acesso aos seguintes componentes está assegurado:
2.3.1. Todos os elementos de fixação;
2.3.2. Conectores, sensores e unidades de controle;
2.3.3.
Pontos de testabilidade e/o ajuste (e.g. nípel para verificação da
pressão de óleo do motor).
3. A padronização do produto foi incorporada ao máximo?
3.1.
O conteúdo de peças novas sendo propostas está dentro do
limite imposto pelo projeto?
3.2.
O número de diferentes variedades de elementos de fixação foi
reduzido ao máximo?
3.3.
Foi padronizada a variedade de conectores sem que isso
represente nenhum risco ao produto (e.g. possíveis inversões na
remontagem)?
4. Elementos de fixação
4.1.
Na medida do possível, os elementos de fixação escolhidos são
os que levam menor tempo para ser removidos?
4.1.1.
Os parafusos/porcas escolhidos possuem o menor comprimento
possível?
4.1.2.
Em caso de uso de porcas de fixação, foram aplicadas porcas
soldadas?
4.2 A quantidade de elementos de fixação foi minimizada?
4.3.
Foi minimizada a necessidade de aplicação de torques
controlados nos elementos de fixação?
Apêndice B Conjunto de diretrizes para a mantenabilidade 196
Tabela AP.1 – Conjunto de Diretrizes para a Mantenabilidade
(continua)
4.4. Para tampas de acesso:
4.4.1.
Foram utilizados sistemas mola-gás ou travas como elemento de
fixação para tampas de uso diário?
4.4.2.
Foram utilizados elementos de fixação de um quarto de volta (ou
equivalente) para tampas de acesso de uso semanal?
4.4.3. Foram utilizados parafusos e porcas para outros casos?
4.5.
A conexão de sistemas pneumáticos e hidráulicos é do tipo de
engate rápido?
4.6. As braçadeiras escolhidas minimizam o tempo de reparo?
4.6.1.
Possuem braçadeiras com torque-definido evitando sobre-
torque?
5. Simplificação
5.1. A complexibilidade do sistema foi mantida em nível aceitável?
5.2. Todas as peças são absolutamente necessárias?
5.3.
As conexões entre diferentes módulos foram facilitadas,
evitando-se ajustes/regulagens/calibrações desnecessárias?
6. Ferramentas
6.1.
Os elementos de fixação foram escolhidos de forma a evitar uso
de ferramentas?
6.1.1.
Caso não, foram definidos priorizando o uso de ferramentas
universais ao invés de especiais?
6.2.
As ferramentas universais/especiais existentes para produtos
anteriores foram consideradas antes de se propor um novo
conceito que por ventura necessite de uma nova ferramenta?
7. Modularidade
7.1.
O produto foi modularizado viabilizando trocas rápidas de
componentes?
7.2. Existe possibilidade de contaminação entre diferentes módulos?
7.3. Existem guias para facilitar a montagem entre módulos?
7.4.
O número de diferentes variantes de um mesmo produto foi
mantida ao mínimo?
8. Poka-yokes
8.1.
Para evitar erros de montagem/desmontagem, foram utilizados
poka-yokes?
9. Testabilidade
9.1
Pontos de testes foram disponibilizados para facilitar a diagnose
do produto?
9.1.1.
Os pontos de testes foram funcionalmente alocados e
demarcados para facilitar a manutenção?
9.2
Áreas de inspeção foram disponibilizadas para assegurar
inspeção e ajustes?
9.3.
Chicotes elétricos foram projetados com comprimentos
suficientes para possibilitar a diagnose (e.g. para montagem de
caixa de pinos e cabos break-out)?
10. Ergonomia
10.1 A massa dos componentes foi minimizada?
10.1.1
.
Em caso de componentes pesados, foram disponibilizadas
formas de levantar os componentes (e.g. olhais de elevação)?
10.2.
Os acessos foram devidamente planejados para garantir que
exista espaço tanto para o mecânico quanto para a ferramenta?
Apêndice B Conjunto de diretrizes para a mantenabilidade 197
Tabela AP.1 – Conjunto de Diretrizes para a Mantenabilidade
(conclusão)
10.3.
Posições inadequadas de reparo foram evitadas (pés fora do
chão, deitado, entre outros)?
10.4.
Reparos foram planejados para serem executados por uma só
pessoa?
11. Serviço e lubrificação / manutenção preventiva
11.1. A lubrificação foi minimizada?
11.2.
O tempo de manutenção preventiva foi minimizado ao máximo
garantindo maior disponibilidade?
12. Ambiente
12.1
O ambiente de execução da manutenção no nível organizacional
e intermediário foi considerado para desenvolver conceito do
produto?
13. Ajustes, regulagens e calibrações
13.1. Ajustes, regulagens e calibrações foram evitados ao máximo?
13.2.
O intervalo de intervenção para ajustes, regulagens e
calibrações foi intercalado de forma a somente ocorrerem em
manutenções preventivas pré-programadas?
Apêndice C Entrevista sobre mantenabilidade em uma empresa de aeronáutica (EMBRAER) 198
APÊNDICE C – ENTREVISTA SOBRE MANTENABILIDADE EM UMA
EMPRESA DE AERONÁUTICA (EMBRAER)
Por representar uma área de desenvolvimento virtual de ponta, a entrevista
relatada a seguir, teve o intuito de compreender como o parâmetro de
mantenabilidade é aplicado ao longo de todo o PDP em uma indústria Aeronáutica.
A entrevista foi realizada no dia 03 de setembro de 2009 dentro do
estabelecimento da Embraer – Empresa Brasileira de Aeronáutica S.A. localizada
em São José dos Campos-SP, com a participação do Especialista em
Mantenabilidade da empresa, o Senhor José M. Duarte Filho.
Primeiramente, o especialista em mantenabilidade buscou trazer à tona
diversos fatores que tornam a aplicação do parâmetro de mantenabilidade
indispensável durante o desenvolvimento do produto, sendo eles:
a) Alto custo de mão-de-obra: como existe a necessidade de mão-de-obra
extremamente especializada, altos tempos de reparo prejudicam a
imagem do produto por encarecer o custo de vôo;
b) Concorrência acirrada: existem apresentações internacionais no setor
aeronáutico e que de uma forma simples pode-se realizar benchmarkings
em produtos concorrentes no que se refere à mantenabilidade;
c) Compreensão da aplicação do produto: deve-se desde o início
compreender se o avião em desenvolvimento servirá para atividades
comerciais, executivas ou militares. Isto ocorre, pois a forma de se realizar
a manutenção muda radicalmente de aplicação para aplicação (conforme
comentado na seção 2.2.2.1);
d) Despachabilidade: tempo total de manutenções realizadas entre viagens
de aviões comerciais em aeroportos. Este tópico é considerado vital na
aplicação comercial, pois determina o quão rapidamente o avião poderá
ser reposto a sua situação de operacionalidade (maior disponibilidade).
Durante o desenvolvimento do produto o especialista em mantenabilidade
declarou que as suas atribuições já começam no ante-projeto, pois os requisitos de
Apêndice C Entrevista sobre mantenabilidade em uma empresa de aeronáutica (EMBRAER) 199
clientes e análise da concorrência no aspecto da manutenção fazem parte dos
objetivos que são traçados para os projetos que estão por vir. Todas estas
informações são extraídas de pesquisas de mercado realizadas pela empresa.
A seleção de parceiros no desenvolvimento de produto (fornecedores) está
diretamente atrelada à mantenabilidade, já que características de manutenção e
confiabilidade dos produtos fornecidos são garantidos via contrato.
Durante o desenvolvimento do produto, existem três níveis de revisões virtuais
principais:
a) Preliminary Design Review: fase mais conceitual;
b) IDR – Intermediary Design Review;
c) CDR – Critically Design Review: análise do produto detalhado.
Em todas as revisões virtuais, segundo o entrevistado, a experiência de quem
defende a manutenção do produto é essencial. Apesar de existirem regras e/ou
diretrizes, a presença de um analista de mantenabilidade defendendo o ponto de
vista do pós-venda é primordial para se assegurar que a manutenção do produto
seja fácil durante a sua vida útil. Segundo ele, é justamente nas revisões virtuais que
o espaço é disputado acirradamente, pois na aviação, pela confiabilidade e
segurança (redundância) terem uma importância ainda maior, o espaço é ainda mais
escasso se comparado aos veículos comerciais.
Durante as revisões virtuais, os acessos a componentes-chave são
classificados em bom, aceitável e inaceitável. Acessos considerados inaceitáveis
são aqueles que para acessar um componente desejado faz-se necessária a
remoção de outros itens periféricos. Como na aviação a confiabilidade é
extremamente importante, ao se remover componentes, todos terão que ser
revalidados após a instalação garantindo a sua funcionalidade. Quer dizer, quanto
mais componentes forem removidos, maior será o trabalho de validação que terá
que ser realizado e, como conseqüência, maiores serão os tempos de reparo.
Portanto, o objetivo é sempre modelar o produto simplificando ao máximo a
manutenção (e.g.: utilizar porca soldada ao invés de contra-porcas).
Apêndice C Entrevista sobre mantenabilidade em uma empresa de aeronáutica (EMBRAER) 200
O entrevistado apresentou o centro de desenvolvimento virtual da empresa
Aeronáutica onde as revisões virtuais ocorrem. O software utilizado é o CATIA, que
a partir das suas extensões, para aplicação de análises ergonômicas (por meio de
manequins virtuais) e visualizações em 3D, facilitam ainda mais a análise de
modelagens em desenvolvimento de novos produtos. Caso seja necessário, o
especialista em manutenção pode solicitar ao grupo de projeto uma simulação de
procedimento de manutenção, com o auxílio de um manequim virtual, manipulado
através da experiência de um mecânico, em ambiente 3D.
Saindo do ambiente virtual e passando para o produto físico, já na forma de um
protótipo, o analista relatou que é importante validar tudo o que foi
planejado/projetado ao longo do desenvolvimento virtual, “pois alguma coisa pode
ter saído errada”.
Passando para os testes de produto em campo (na aviação, chamado de
Campanha de ensaio em vôo), a equipe de manutenção da empresa passa a ser o
primeiro cliente do produto pois realizam uma completa revisão do avião na busca
pelo amadurecimento do projeto sob a ótica da mantenabilidade.
Segundo o entrevistado, desta fase em diante, o produto só será verificado ou
trabalhado sob o aspecto da mantenabilidade caso algo tenha ocorrido de errado no
projeto. Foi utilizado como argumento que alterações tardias no projeto só geram
custos desnecessários, tornando ainda mais evidente a necessidade de atuação nas
fases iniciais de desenvolvimento (conforme demonstra a Figura 1.3).
Ao final da entrevista foi questionado ao especialista de mantenabilidade da
Embraer qual seria o perfil de um engenheiro de mantenabilidade. Segundo o
entrevistado, as atribuições seriam as seguintes:
a) Conhecer o cliente em campo;
b) Ter experiência da aplicação do produto em campo;
c) Conhecer os concorrentes profundamente;
d) Conhecer profundamente a sua empresa – pessoas, processos, políticas,
entre outros;
e) Ter contato direto e irrestrito a engenharia de projeto;
Apêndice C Entrevista sobre mantenabilidade em uma empresa de aeronáutica (EMBRAER) 201
f) Contar com o apoio da direção;
g) Ter credibilidade do chão de fábrica até a direção, podendo se comunicar
em qualquer nível da empresa;
h) Aprender com erros do passado (lessons learnt).
Ao final, para encerrar a entrevista, o senhor Duarte deixou registrada uma
frase que resume bem a forma de atuar do engenheiro de mantenabilidade ao longo
de projetos: “Toda mudança vai gerar reação, isto já é esperado.”
Apêndice D Questionário Aplicado aos Participantes da Validação da Ferramenta de Mantenabilidade 202
APÊNDICE D – QUESTIONÁRIO APLICADO AOS PARTICIPANTES
DA VALIDAÇÃO DA FERRAMENTA DE MANTENABILIDADE
Este questionário teve como objetivo coletar a percepção dos participantes
sobre a validação da ferramenta de mantenabilidade. Está estruturado em três
seções:
a) Seção de identificação dos entrevistados: com foco na definição do perfil
dos participantes;
b) Seção de avaliação da engenharia simultânea: que verifica se a
comunicação entre diferentes áreas do PDP transcorre de forma adequada;
c) Seção de avaliação da ferramenta para inclusão da Mantenabilidade: que
busca captar as percepções dos participantes sobre o uso e a utilidade da
ferramenta computacional de endereçamento da mantenabilidade no PDP.
Apêndice D Questionário Aplicado aos Participantes da Validação da Ferramenta de Mantenabilidade 203
Ministério da Educação
Universidade Tecnológica Federal do Paraná
Pós-Graduação em Engenharia Mecânica e de Materiais
A - Seção de identificação dos entrevistados
Idade: _____________Departamento: _____________________________________
Cargo:
Engenheiro de Qualidade
Engenheiro de Desenvolvimento de Produto
Analista / Engenheiro de Serviço
Analista / Engenheiro de Suporte ao Produto
Outro: _______________________________________________________
Formação: __________________________________________________________
Tempo de empresa: __________ Tempo atuando no mercado: _________________
Departamento atual: ___________________________________________________
Além do cargo atual, já exerceu algum dos outros cargos listados acima? Qual?
R: _________________________________________________________________
B - Seção de avaliação da engenharia simultânea
1. Qual é o seu grau de atuação em Projetos de Desenvolvimento do Produto?
Nenhum.
Somente nas fases iniciais na concepção do produto.
Atuo em todo o desenvolvimento do produto representando os interesses da
função que desempenho.
Somente em Design Reviews.
Atuo somente após o lançamento do produto no mercado.
Outro: _______________________________________________________
Apêndice D Questionário Aplicado aos Participantes da Validação da Ferramenta de Mantenabilidade 204
2. Você acredita que a transferência de informações entre as equipes de
desenvolvimento de produto e as áreas da empresa mais atuantes em campo
seja aceitável?
Sim.
Não. Por quê?_________________________________________________
___________________________________________________________________
3. Em sua opinião, novos desenvolvimentos de produto refletem as necessidades
de mercado no que se refere aos aspectos da mantenabilidade?
Sim.
Não sei.
Não. Por quê?_________________________________________________
___________________________________________________________________
___________________________________________________________________
4. Dentro da sua função, você acredita que exista tempo suficiente para assegurar o
intercâmbio de informações entre a aplicação real do produto em campo e o
desenvolvimento de novos produtos?
Sim.
Não. Por quê?_________________________________________________
___________________________________________________________________
C - Seção de avaliação da ferramenta para inclusão da Mantenabilidade
5. Você considera que todos os aspectos do parâmetro da mantenabilidade
abordados na apresentação são avaliados no desenvolvimento de produtos
correntes na sua empresa?
Sim.
Não. Quais?_________________________________________________
___________________________________________________________________
Apêndice D Questionário Aplicado aos Participantes da Validação da Ferramenta de Mantenabilidade 205
6. Como os aspectos da mantenabilidade são aplicados na sua empresa?
De forma empírica.
Não são aplicados.
Através da experiência de poucos, sem um processo robusto que suporte o
endereçamento da mantenabilidade.
De forma sistemática, através de acompanhamentos em Design Reviews.
Outros. Como? ________________________________________________
___________________________________________________________________
7. Pelo que foi apresentado, você considera a ferramenta de mantenabilidade de
fácil utilização?
Sim.
Não. Que medidas poderiam ser adotadas para que a ferramenta ficasse
mais “amigável”? ______________________________________________
___________________________________________________________________
___________________________________________________________________
8. Em sua opinião, a ferramenta pode auxiliar a equipe de desenvolvimento a gerar
produtos melhores sob a ótica da mantenabilidade?
Sim.
Não. Por quê? ________________________________________________
___________________________________________________________________
___________________________________________________________________
9. Quanto ao indicador de posicionamento, você acredita que a fórmula abaixo, se
bem alimentada pelos valores de quantidades de peças a serem removidas e
pela taxa de falha objetivada do produto, sirva como uma forma de avaliar o
posicionamento do componente sob a ótica da mantenabilidade?
100××=
p
cc
p
cc
MC
Q
Q
AP
λ
λ
Apêndice D Questionário Aplicado aos Participantes da Validação da Ferramenta de Mantenabilidade 206
Sim.
Não. Por quê? ________________________________________________
___________________________________________________________________
___________________________________________________________________
10. Você acredita que a ferramenta proposta possa facilitar a comunicação entre
projetistas e engenheiros de serviço/suporte ao produto?
Sim.
Não. Por quê? ________________________________________________
___________________________________________________________________
___________________________________________________________________
11. Qual seria o grau de utilidade desta ferramenta na melhora da inclusão de
aspectos da mantenabilidade no desenvolvimento do produto?
[1] Inútil
[2] Pouco útil
[3] Útil
[4] Muito útil
[5] Essencial
[ ]. Por quê? ________________________________________________________
___________________________________________________________________
12. Existe alguma função adicional que deva ser desenvolvida para contemplar a
mantenabilidade no desenvolvimento conceitual do produto?
Sim. Qual?___________________________________________________
Não.
Caso você deseje fazer algum comentário adicional, críticas ou sugestões, utilize este
espaço:
______________________________________________________________________
______________________________________________________________________
______________________________________________________________________
______________________________________________________________________
_____________________________________________________________________
Apêndice E Apresentação para validação da ferramenta de mantenabilidade 207
APÊNDICE E – APRESENTAÇÃO PARA VALIDAÇÃO DA
FERRAMENTA DE MANTENABILIDADE
Andre D. Moscheto
13/10/2009
1
VALIDAÇÃO DE UM MODELO E DE UMA FERRAMENTA
COMPUTACIONAL PARA ENDEREÇAR O PARÂMETRO DE
MANTENABILIDADE NO PDP
Programa de Pós-Graduação em
Engenharia Mecânica e de Materiais - PPGEM
Figura E.1 – Apresentação para validação da ferramenta de mantenabilidade
Apêndice E Apresentação para validação da ferramenta de mantenabilidade 208
Andre D. Moscheto
13/10/2009
2
AGENDA
Introdução sobre a mantenabilidade
Objetivo e justificativa de atuação
Proposta de um modelo e ferramenta
computacional para endereçar a
mantenabilidade no PDP
Considerações finais
Aplicação de questionário
Figura E.2 – Apresentação - Agenda
Andre D. Moscheto
13/10/2009
3
INTRODUÇÃO
Definição de mantenabilidade:
é o parâmetro de engenharia
que busca facilitar,
economizar tempo e recursos
para que um produto possa
ser mantido ou restabelecido
a uma condição especificada
quando a manutenção for
realizada por pessoal
capacitado, usando
procedimentos e recursos
definidos (MIL-HDBK-470A,
1997)
Figura E.3 – Apresentação – Introdução (Definição de mantenabilidade)
Apêndice E Apresentação para validação da ferramenta de mantenabilidade 209
Andre D. Moscheto
13/10/2009
4
INTRODUÇÃO
Dificuldades na aplicação da mantenabilidade no PDP:
Carga excessiva de requerimentos dificultam a introdução da
avaliação de aspectos do ciclo de vida;
Parâmetro de mantenabilidade considerado como senso comum;
Falta de conhecimento prático da manutenção do produto por
parte da equipe de desenvolvimento;
Figura E.4 – Apresentação – Introdução (Dificuldades na aplicação da mantenabilidade no
PDP) A
Andre D. Moscheto
13/10/2009
5
INTRODUÇÃO
Dificuldades na aplicação da
mantenabilidade no PDP:
Literatura de DP omissa no
aspecto da mantenabilidade;
Falta de conhecimento da
aplicação do produto no
mercado (peças mais
vendidas, problemas de
qualidade, entre outros);
Comunicação ineficiente
entre o time de projeto e
pessoal de suporte de
campo;
Falta de suporte
computacional para auxiliar a
inclusão da mantenabilidade
no PDP.
Figura E.5 – Apresentação – Introdução (Dificuldades na aplicação da mantenabilidade no
PDP) B
Apêndice E Apresentação para validação da ferramenta de mantenabilidade 210
Andre D. Moscheto
13/10/2009
6
Objetivo e justificativa de atuação
Objetivo:
propor um conjunto de
diretrizes e uma ferramenta
capaz de auxiliar o
engenheiro de
desenvolvimento do
produto a incluir
corretamente o parâmetro
de mantenabilidade ao
longo do PDP, mostrando
como e quando este tópico
deve ser endereçado.
Figura E.6 – Apresentação - Objetivo
Andre D. Moscheto
13/10/2009
7
Objetivo e justificativa de atuação
Justificativa:
Redução do tempo de reparo;
Melhoria da manutenção de
componentes-chave;
Melhoria da manutenção preventiva;
Diminuição da necessidade de
ferramentas;
Maior interação entre engenheiros
de produto e serviço (eng.
simultânea);
Ganho de simplicidade do produto;
Possibilidade de inspeção dos
componentes;
Diminuição do nível de instrução
necessária para reparar o produto;
Entre outros.
Figura E.7 – Apresentação - Justificativa
Apêndice E Apresentação para validação da ferramenta de mantenabilidade 211
Andre D. Moscheto
13/10/2009
8
PROPOSTA DE UMA FERRAMENTA
Modelo para aplicação
da mantenabilidade no
PDP
Executado pelo
projetista através
de uma ferramenta
desenvolvida no
ProE (programada
em C)
Figura E.8 – Apresentação – Modelo para aplicação da mantenabilidade no PDP
Andre D. Moscheto
13/10/2009
9
PROPOSTA DE UMA FERRAMENTA
Modelo e ferramenta para aplicação da mantenabilidade no PDP
Figura E.9 – Apresentação – Elo entre o modelo e a Ferramenta para aplicação da
mantenabilidade no PDP no ProE
Apêndice E Apresentação para validação da ferramenta de mantenabilidade 212
Andre D. Moscheto
13/10/2009
10
PROPOSTA DE UMA FERRAMENTA
Modelo e ferramenta para aplicação da mantenabilidade no PDP
Figura E.10 – Apresentação – Funções da Ferramenta implementadas no ProE
Andre D. Moscheto
13/10/2009
11
PROPOSTA DE UMA FERRAMENTA
Modelo para aplicação
da mantenabilidade no
PDP
Análise de reserva de
espaço para
manutenção em
componentes-chave.
Figura E.11 – Apresentação – Análise de reserva de espaço para componentes-chave
Apêndice E Apresentação para validação da ferramenta de mantenabilidade 213
Andre D. Moscheto
13/10/2009
12
PROPOSTA DE UMA FERRAMENTA
Análise de reserva de espaço
1. Análise e reserva do espaço necessário para a mantenabilidade
(realizado pelo engenheiro de serviço/suporte ao produto)
Figura E.12 – Apresentação – Primeira etapa na análise de reserva de espaço
Andre D. Moscheto
13/10/2009
13
PROPOSTA DE UMA FERRAMENTA
Análise de reserva de espaço
2. O componente-chave em
estudo possui uma reserva
de espaço salvo no layer
específico de
mantenabilidade pelo
engenheiro de
serviço/suporte ao produto.
Figura E.13 – Apresentação – Análise de reserva de espaço salva em um layer de
mantenabilidade
Apêndice E Apresentação para validação da ferramenta de mantenabilidade 214
Andre D. Moscheto
13/10/2009
14
PROPOSTA DE UMA FERRAMENTA
Análise de reserva de espaço
3. A ferramenta automaticamente alerta o
projetista sobre a existência da análise
no layer
Figura E.14 – Apresentação – Ferramenta alertando para a existência de uma reserva de
espaço em um modelo
Andre D. Moscheto
13/10/2009
15
PROPOSTA DE UMA FERRAMENTA
Análise de reserva de espaço
4. Ao propor um novo design o projetista passa considerar espaços
necessários para a manutenção para os componentes-chave.
Figura E.15 – Apresentação – Análise de interferência contra a reserva de espaço para a
mantenabilidade
Apêndice E Apresentação para validação da ferramenta de mantenabilidade 215
Andre D. Moscheto
13/10/2009
16
Considerações Finais
Perspectivas futuras:
Melhorar algoritmo de WP e incrementar outros algoritmos para
análise de posicionamento;
Figura E.16 – Apresentação – Perspectivas futuras no desenvolvimento de melhorias na
ferramenta de mantenabilidade (algoritmo de WP)
Andre D. Moscheto
13/10/2009
17
Considerações Finais
Perspectivas futuras:
Capacitar o sistema para incorporar conceitos de modularidade;
Figura E.17 – Apresentação – Perspectivas futuras no desenvolvimento de melhorias na
ferramenta de mantenabilidade (modularidade)
Apêndice E Apresentação para validação da ferramenta de mantenabilidade 216
Andre D. Moscheto
13/10/2009
18
Considerações Finais
Perspectivas futuras:
Aprimorar a ferramenta ampliando a variedade de elementos de
fixação reconhecidos;
Entre outras melhorias.
Figura E.18 – Apresentação – Perspectivas futuras no desenvolvimento de melhorias na
ferramenta de mantenabilidade (elementos de fixação)
Andre D. Moscheto
13/10/2009
19
Aplicação de questionário/Conclusão
Aplicação de questionário/
Este instrumento de coleta de informações é parte do projeto de
pesquisa científica relacionado ao Desenvolvimento de um
Conjunto de Diretrizes e Ferramenta Computacional para
Endereçar o Parâmetro de Mantenabilidade no PDP;
Aos respondentes é resguardada a confidencialidade de suas
respostas;
–As informações/conclusões coletadas serão sumarizadas e
incluídas na etapa de Validação do projeto de pesquisa científica.
As suas percepções sobre o modelo proposto para se melhorar a
inclusão do parâmetro de mantenabilidade serão de vital
importância para direcionar possíveis novos desenvolvimentos
nesta área de pesquisa.
Obrigado pela sua participação!!!
Figura E.19 – Apresentação – Aplicação de questionário
Apêndice E Apresentação para validação da ferramenta de mantenabilidade 217
Andre D. Moscheto
13/10/2009
20
Fim!!
Obrigado pela sua participação!!!
Figura E.20 – Apresentação – Agradecimento
Andre D. Moscheto
13/10/2009
21
PROPOSTA DE UMA FERRAMENTA
Análise de ferramental necessário:
Manter o número de elementos de
fixação ao mínimo possível;
Priorizar a manutenção do mesmo
padrão e tamanho de elementos
de fixação, diminuindo assim a
necessidade por diferentes
ferramentas universais;
Levar em conta o grau de
dificuldade em se trabalhar com o
elemento de fixação selecionado
(e.g.: leva menos tempo para
soltar um parafuso simples do que
um com contra-porca).
Figura E.21 – Apresentação – Análise de ferramental necessário
Apêndice E Apresentação para validação da ferramenta de mantenabilidade 218
Andre D. Moscheto
13/10/2009
22
PROPOSTA DE UMA FERRAMENTA
Análise de ferramental necessário:
Captura do elemento de
fixação pela nomenclatura
(e.g.: SCREW_F_M12X8);
Filtragem para determinar o
nº de ferramentas
universais necessárias;
Estimativa de tempo para
remover e montar
elementos de fixação.
Figura E.22 – Apresentação – Função de elementos de fixação da ferramenta de
mantenabilidade
Andre D. Moscheto
13/10/2009
23
PROPOSTA DE UMA FERRAMENTA
Análise de ferramental necessário:
Possibilidade de seleção e análise de um elemento de fixação específico.
Figura E.23 – Apresentação – Possibilidade de rastrear um único tipo de elemento de fixação
Apêndice E Apresentação para validação da ferramenta de mantenabilidade 219
Andre D. Moscheto
13/10/2009
24
PROPOSTA DE UMA FERRAMENTA
Análise de simplificação:
Reduzir a necessidade de treinamento;
Garantir montagens mais precisas;
Diminuir necessidade de novos ferramentais;
Migração da política de reparo entre produtos;
Entre outros.
Figura E.24 – Apresentação – Análise de simplificação
Andre D. Moscheto
13/10/2009
25
PROPOSTA DE UMA FERRAMENTA
Análise de simplificação:
Possibilidade de rápida identificação visual da composição do produto.
Figura E.25 – Apresentação – Fácil visualização da composição do produto
Apêndice E Apresentação para validação da ferramenta de mantenabilidade 220
Andre D. Moscheto
13/10/2009
26
PROPOSTA DE UMA FERRAMENTA
Alise de posicionamento de componentes-chave:
Focar nos componentes
relevantes (relacionados
a requisitos de projeto
componentes com
histórico de problemas de
qualidade, alto volume de
vendas, manutenção
preventiva, etc);
Auxiliar o projetista na
verificação do
posicionamento dos
componentes-chave.
Figura E.26 – Apresentação – Análise de posicionamento de componentes-chave
Andre D. Moscheto
13/10/2009
27
PROPOSTA DE UMA FERRAMENTA
Alise de posicionamento de componentes-chave:
Componentes-chave (apelidados de Golden components).
Figura E.27 – Apresentação – Visualização dos componentes-chave
Apêndice E Apresentação para validação da ferramenta de mantenabilidade 221
Andre D. Moscheto
13/10/2009
28
PROPOSTA DE UMA FERRAMENTA
Alise de posicionamento de componentes-chave:
Relação de quantidade de peças a serem removidas
100×=
p
cc
Q
Q
RP
• RP = Relação de peças a serem
removidas para alcançar componente-
chave;
• Qcc = Quantidade de peças a serem
removidas para acessar o componente-
chave;
• Qp = Quantidade de peças total do
produto.
Figura E.28 – Apresentação – Relação de quantidade de peças a serem removidas (análise
de componentes-chave)
Andre D. Moscheto
13/10/2009
29
PROPOSTA DE UMA FERRAMENTA
Alise de posicionamento de componentes-chave:
Relação de taxa de falhas
• ?cc = taxa de falha do componente-
chave;
• ?p = taxa de falha do produto.
p
cc
lação
λ
λ
=Re
Figura E.29 – Apresentação – Relação de taxa de falhas (análise de componentes-chave)
Apêndice E Apresentação para validação da ferramenta de mantenabilidade 222
Andre D. Moscheto
13/10/2009
30
PROPOSTA DE UMA FERRAMENTA
Alise de posicionamento de componentes-chave:
Indicador de posicionamento:
uma métrica que contempla taxas de
falhas e a quantidade de peças a serem removidas formam um
indicador visual para o projetista compreender se o posicionamento
do componente sob a ótica da mantenabilidade está adequado.
100××=
p
cc
p
cc
MC
Q
Q
AP
λ
λ
Wave
Wave
Propagation
Propagation
Banco de
Banco de
Dados
Dados
Figura E.30 – Apresentação – Métrica aplicada no indicador de posicionamento
Andre D. Moscheto
13/10/2009
31
PROPOSTA DE UMA FERRAMENTA
Análise de posicionamento de componentes-chave:
100××=
p
cc
p
cc
MC
Q
Q
AP
λ
λ
Figura E.31 – Apresentação – Análise de posicionamento de componentes-chave
(visualização)
Apêndice E Apresentação para validação da ferramenta de mantenabilidade 223
Andre D. Moscheto
13/10/2009
32
PROPOSTA DE UMA FERRAMENTA
Análise de posicionamento de componentes-chave:
100××=
p
cc
p
cc
MC
Q
Q
AP
λ
λ
Melhora no
conceito
Melhora a
acessibilidade
Resultando em
um indicador
melhor!!
Figura E.32 – Apresentação – Análise de posicionamento de componentes-chave (proposta
de mudança de conceito)
Andre D. Moscheto
13/10/2009
33
PROPOSTA DE UMA FERRAMENTA
Análise de posicionamento de componentes-chave:
100××=
p
cc
p
cc
MC
Q
Q
AP
λ
λ
Melhora na
confiabilidade
Resultando em
um indicador
melhor!!
Figura E.33 – Apresentação – Análise de posicionamento de componentes-chave (proposta
de mudança de confiabilidade)
Anexo A – Ergonomia – Espaços necessários para realizar manutenção 224
ANEXO A – ERGONOMIA – ESPAÇOS NECESSÁRIOS PARA
REALIZAR MANUTENÇÃO
Figura AN.1 – Espaços requeridos para diversas posições de trabalho (cm)
Fonte: Blanchard, Verma e Peterson (1995).
Anexo A – Ergonomia – Espaços necessários para realizar manutenção 225
Figura AN.2 – Espaço requerido para uso de ferramentas universais em janelas de acesso (cm)
Fonte: Blanchard, Verma e Peterson (1995).
Figura AN.3 – Espaço requerido para uso de ferramentas universais (cm)
Fonte: Blanchard, Verma e Peterson (1995).
Anexo B Elementos de fixação 226
ANEXO B – ELEMENTOS DE FIXAÇÃO
Figura AN.4 – Exemplos de parafusos padrão
Fonte: Adaptado de MIL-HDBK-470A (1997).
Figura AN.5 – Exemplo de parafuso com sextavado interno
Fonte: Adaptado de MIL-HDBK-470A (1997).
Figura AN.6 – Exemplo de parafuso borboleta
Fonte: Adaptado de MIL-HDBK-470A (1997).
Anexo B Elementos de fixação 227
Figura AN.7 – Exemplos de parafuso de máquina com contra-porca
Fonte: Adaptado de MIL-HDBK-470A (1997).
Figura AN.8 – Exemplo de porcas ou parafusos
Fonte: Adaptado de MIL-HDBK-470A (1997).
Figura AN.9 – Exemplo de anel-trava
Fonte: Adaptado de MIL-HDBK-470A (1997).
Anexo B Elementos de fixação 228
Figura AN.10 – Exemplo de trava tipo drawhook
Fonte: Adaptado de MIL-HDBK-470A (1997).
Figura AN.11 – Exemplo de trava tipo spring clip
Fonte: Adaptado de MIL-HDBK-470A (1997).
Figura AN.12 – Exemplo de trava tipo borboleta
Fonte: Adaptado de MIL-HDBK-470A (1997).
Anexo B Elementos de fixação 229
Figura AN.13 – Exemplo de trava tipo lift and turn
Fonte: Adaptado de MIL-HDBK-470A (1997).
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