Depois de retomar o conceito de campo de Kurt Lewin, que diz respeito à
“totalidade de fatos psicológicos que não são reais em sim, mas são reais porque tem
efeitos” (p. 2), o núcleo chegou à reflexão construcionista da linguagem e à
intersubjetividade, o que ampliou os horizontes e permitiu compreender o campo não
como lugar específico, já que o próprio lugar começou a ser visto como produto social.
Agora o campo passa a ser o assunto. Campo, portanto é o argumento no qual
estamos inseridos; argumento que tem múltiplas faces e materialidades, que
acontece em muitos lugares diferentes” (SPINK, 2003, p.6)(grifo meu).
Para designar essa nova versão de campo de pesquisa, adotou-se o termo campo-
tema, que diz respeito a tudo que remete ao tema e que muitas vezes é anterior ao
próprio local geográfico. A partir daí, a noção de matriz (Hacking, 1999) permite pensar
as construções sociais num campo composto por vários aspectos: as materialidades e
socialidades. Assim, àquelas coisas que denominamos objetos são também produtos
sociais lingüísticos, portanto chamadas de materialidades e às relações sociais,
socialidades. De acordo com o autor,
As idéias não existem no vácuo, habitam situações sociais. Vamos chamar
isto a matriz dentro da qual uma idéia ou conceito são criados. A matriz
dentro da qual a idéia de mulher refugiada é formada é um complexo de
instituições, ativistas, artigos de revista, advogados, decisões jurídicas,
procedimentos imigratórios. Para não falar da infra-estrutura material,
barreiras, passaportes, uniformes, balcões de aeroporto, centros de detenção,
tribunais e os campos para crianças refugiadas. Você pode querer considerar
estes como sociais porque são seus sentidos que são importantes para nós,
mas são materiais e sua materialidade faz uma diferença substantiva para as
pessoas. Igualmente, as idéias sobre mulheres refugiadas afetam o ambiente
material (porque mulheres refugiadas não são violentas e não há necessidade
de armas, mas há uma grande necessidade de papel, papel, papel)...
(HACKING, 1999, p. 10)
Nesse sentido, ao optar por essa perspectiva, o pesquisador sai do campo da
pesquisa tradicional e se orienta em direção de algo distinto, tanto nos seus objetivos, no
seu método e na sua maneira de trabalhar com os sentidos que aparecem na pesquisa. É
preciso encará-la com outro olhar, senão as conclusões parecerão frágeis e sem
validade.
Não há dados, mas há, ao contrário, pedaços e fragmentos de conversas:
conversas no presente, conversas no passado; conversas presentes nas
materialidades; conversas que já viraram eventos, artefatos e instituições;
conversas ainda em formação; e, mais importante ainda, conversas sobre
conversas. Não há múltiplas formas de coleta de dados, e sim, múltiplas
maneiras de conversar com socialidades e materialidades em que buscamos
entrecruzá-las, juntando os fragmentos para ampliar as vozes, argumentos e
possibilidades presentes (SPINK, 2003, p.61).