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De volta à Espanha, Brocos freqüentou a Academia de Belas Artes de San
Fernando, em Madri, e o atelier do pintor Federico Madrazo. Com bolsa instituída por
sua cidade natal, viajou a Roma, onde permaneceu de 1883 a 1886, freqüentando
centros artísticos como a Academia Chigi e o Circulo Artístico Internacional; data desta
época sua amizade com os irmãos Rodolfo e Henrique Bernardelli. Retornou ao Brasil
em 1890, e entre 1893 e 1894, substituiu Pedro Weingärtner como professor de desenho
figurado na Escola Nacional de Belas Artes, a convite dos Bernardelli. Em 1897, esteve
novamente em Roma, voltando definitivamente ao Brasil em 1900, quando se
naturalizou brasileiro, passando a lecionar na Escola Nacional de Belas Artes. Pintor,
gravador, ilustrador, desenhista e mestre por décadas, tornou-se professor catedrático
em 1915. Estimulou o desenvolvimento da gravura no país, sendo um dos fundadores
do Liceu de Artes e Ofícios, onde estabeleceu a Oficina de Gravura. A maioria das suas
obras retrata cenas de gênero, como pode ser visto nos quadros
Engenho da Mandioca e
Redenção de Can. No campo didático, deixou alguns clássicos da história da arte
brasileira, como as publicações
Retórica dos Pintores e A Questão do Ensino das Belas
Artes. Executou decorações nos prédio da Biblioteca Nacional e do Jornal do Brasil.
Diversos trabalhos seus participaram, de 1894 até 1917, dos Salões de Belas Artes.
Faleceu no dia 28 de novembro de 1936, aos 84 anos, no Rio de Janeiro [80].
A obra Redenção de Can é baseada num tema bíblico. Can, um dos três filhos de
Noé, fora castigado pelo pai que lhe impôs uma maldição, condenando-o a ser escravo
dos tios e dos irmãos. Transposto para o contexto brasileiro da época da escravidão,
quando ser negro significava ser escravo, a “redenção” pintada por Brocos se
personifica no nascimento de uma criança branca e, portanto, não mais escrava.
Ocupando o centro da composição, ela está sentada ao colo da mãe, uma mulata, e é
observada pelo pai, também mestiço, com traços de caboclo. Em pé, a avó negra ergue
as mãos aos céus em sinal de agradecimento. Nesta obra, Modesto Brocos toma
emprestado um tema bíblico para apresentar o próprio mito do branqueamento da raça.
A cena familiar, cuja composição obedece às normas acadêmicas da pintura religiosa, é
ambientada à porta de uma habitação simples, permanecendo visíveis as roupas no varal
e a falta de reboco nas paredes. As próprias vestimentas dos personagens reafirmam
essa condição [82].
Foram realizadas análises por EDXRF na obra
Redenção de Can. A tensão de foi de
25 kV e a corrente de 100 µA, com um tempo de aquisição de 300 segundos e
colimação de 2 mm. Na figura 4.57 pode ser observado o quadro analisado.