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dado “naturalmente”, inerte, isto é, conformado pelas leis mercantis, sendo apenas o receptor
de decisões individuais” (BRANDÃO, 2003, p. 26). Segundo Brandão, foi essa concepção
que norteou o perfil dos estudos da chamada ciência regional, com foco no tamanho do
mercado e nas distâncias e que teve como expoentes, Von Thunen, Alfred Weber, Walter
Christaller, entre outros.
Existem duas grandes correntes teóricas que assumem o desenvolvimento espacial
como essencialmente desequilibrado. A primeira delas surgiu na década de 1950 com Myrdal
e Perroux, que criticavam a abordagem clássica sem, contudo, abandoná-la completamente.
Com inspiração Keynesiana, tais autores assumiram um perfil reformista, propondo ao Estado
capitalista soluções voltadas ao planejamento do território com vistas à redução das
disparidades espaciais neles existentes. Tanto Myrdal como Perroux, acreditavam que o
desenvolvimento é um processo de desequilíbrio ou equilíbrio instável, determinando a
existência de centros e áreas que exercem efeitos propulsores ou de impulsão, de um lado, e
regressivos ou de frenagem, de outro
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(TAVARES, 1987; DINIZ, 2001; PERROUX, 1977,
BRANDÃO, 2003). Segundo Brandão (2003), a riqueza destes autores
reside na perspectiva avançada do tratamento analítico destas macrodecisões por um
agente privilegiado – o Estado ou outra unidade dominante (a grande empresa, por
exemplo) – em um contexto ou ambiente econômico resultante da interação de uma
pluralidade de decisões cruciais. Seria o Estado o agente privilegiado para avaliar e
realizar a síntese das inúmeras cadeias de reações provocadas pelas múltiplas
decisões (BRANDÃO, 2003, p. 33)
Para Myrdal e Perroux, a intervenção estatal seria necessária para conter esses
últimos efeitos negativos, diminuindo as desigualdades espaciais. Os dois autores convergem,
portanto, na crença do aprimoramento do capitalismo mediante a atuação do Estado
4
. No
entanto, Tavares (1987, p. 27) alerta para o fato de que o “Estado, nessas visões, aparece
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Segundo Myrdal, o jogo das forças de mercado tende, em geral, a aumentar e não a diminuir as desigualdades
regionais, uma vez que o desenvolvimento é um processo de equilíbrio instável. Para ele, o equilíbrio seria
somente possível mediante interferências políticas planejadas Já para Perroux, o desenvolvimento é
conseqüência de uma sucessão de desequilíbrios, provocados por atividades dinâmicas (motrizes), que
constituem centros ou pólos de desenvolvimento, cabendo ao Estado a função de intervir para evitar o aumento
das disparidades (TAVARES, 1987). Segundo Perroux (1977), “o fato, rude mais verdadeiro, é o seguinte: o
crescimento não aparece simultaneamente em toda a parte. Ao contrário, manifesta-se em pontos ou pólos de
crescimento, com intensidades variáveis, expande-se por diversos canais e com efeitos variáveis sobre toda a
economia” (PERROUX, 1977, p. 146).
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Apesar de ressaltar a importância do Estado na redução das desigualdades espaciais, Perroux (1977) aponta o
conflito existente entre espaços econômicos e espaços politicamente organizados, criticando os entraves
impostos pelo Estado Nação: “enquanto persistirem políticas nacionais e nacionalistas em um mundo em que são
sobrepujadas pela técnica e pelo desdobramento da vida econômica, subsistirão dissipações que constituem,
mesmo na ausência de conflitos violentos, entraves ao crescimento” (PERROUX, 1977, p. 156).