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né... E tomara Deus que não seja mais uma criança de SASE né...Tudo leva a crer que daqui a
alguns anos os filhos delas entrem para o SASE.
Ent:Como tu percebes a relação do SASE com a escola, família e comunidade?
M: Eu acho que há duas situações. Aquela família que é um pouco mais estruturada, que os
pais vêm ao SASE justamente como uma forma de ajuda ,de melhora pra essa família, que
são famílias que também vão ver como o filho está na escola... E por outro lado tem aquela
família que não tem interesse nem pelo SASE nem pela escola. Quanto à escola, eu vejo que
a gente tem que correr atrás, ela é parceira desde que a gente procure ela, não é uma parceira
que procura agente. Muitas vezes a gente encontra dificuldades na comunicação, a gente vê
que tem crianças que precisariam de uma atenção maior e isso não existe, os professores
estão lá pra dar aula e não para o lado humano. É difícil ver alguém que trabalhe realmente
com o lado humano sabe... A gente tem que abraçar escutar, conversar.
Ent:E tu não vês isso no professor de escola?
M: Com certeza não. A gente vê só o professor preocupado com conteúdo, as crianças com
pilhas de tema que não conseguem dar conta, um monte de conta pra fazer e o olhar sobre as
crianças não há. Aqui a gente tem turmas de 15 a 20 e não é fácil dar conta, mas chegar só
passando a matéria não dá. A gente vê que é no SASE o lugar que eles mais tem freqüência
na chamada porque aqui dentro a gente escuta eles, deixamos que eles sejam crianças,
adolescentes, porque em casa não tem esse espaço de escuta, lazer e carinho. Em casa é a mãe
reclamando do pai, o filho tendo que buscar irmão na escola e assumir responsabilidades da
casa e ele em si fica desassistido. A escola é o lugar que ele tem que ir porque senão o
Conselho vai cobrar a família, mas ele vai de corpo presente só. Aqui a gente procura ter um
acompanhamento muito forte na questão escolar. Não só no tema, mas no boletim também e
saber realmente se está indo na escola e, se não, o porquê não e tentar estar cada vez mais
detectando o porquê daquilo ali. Muitas vezes são crianças com baixa auto-estima, forte
necessidade de chamar a atenção, acabam sendo os mais bagunceiros, que mais incomodam,
são as crianças que mais precisam estar aqui.
Ent: E como tu vês a relação do SASE com a comunidade?
M: Olha, eu fico imaginando essa comunidade sem essa obra aqui. Quando eu cheguei aqui
há 4 anos já estava praticamente pronta , apesar da invasões. Mas é uma comunidade que não
tem uma praça, não tem campo de futebol, área de lazer, o que leva cada vez mais as crianças
estarem na rua, subindo lomba abaixo, lomba acima, pelas bocas de fumo.Mas se não tivesse
essa entidade a situação seria muito pior do que é...Ainda acho que tem muito o que fazer, a
gente já chamou muitas comunidades aqui, não só a S. mas J. P. e outras ocupações. Talvez
se tivesse em cada comunidade uma creche já seria grande coisa. Como é que tu vai cobrar
que a mãe trabalhe se não tem onde deixar a criança né?O problema é que quando tem
reunião do O.P (orçamento participativo) a maioria dos projetos votados são para
urbanização. O povo, até por uma questão de ignorância, vota para asfaltar a rua ao invés de
construir uma creche. Fora que nunca é priorizado um espaço de lazer pras crianças, como
um esporte uma praça. É priorizado saneamento, habitação, mas as crianças não querem ficar
trancados dentro de casa. Mas na rua não encontram muitas opções. Se tu não tem uma praça
pra sentar, conversar, tu vai sentar em cima do meio fio, aí muita coisa acontece...Eu acho
que as pessoas deveriam ter uma consciência maior, pedir mais SASES e não é tão fácil pois,
para ter um SASE, a instituição já tem que ter um trabalho com crianças para a partir daí
solicitar convênio. No caso aqui as coordenadoras já tinham há dois anos um trabalho com
crianças. Hoje em dia ninguém quer abraçar essa causa, primeiro porque mesmo com
convênio o salário é pouco, a incomodação é grande, só lida com tristeza, com problema, é a