8
Isto pode ser bom para um país com histórico inflacionário como o nosso, pois perseguir uma
meta muito conservadora com uma banda muito estreita pode ser considerado ambicioso, e o
público poderia duvidar da capacidade do Banco Central em cumprir a meta, o que
desestabilizaria o regime. Por outro lado, esta flexibilidade mantém o Brasil com uma das
inflações mais altas dentre os países que adotam o regime de metas.
Entretanto, é importante relembrar que no Brasil, diferentemente do que geralmente
acontece nos países desenvolvidos e em muitos dos emergentes de baixa inflação, o Banco
Central não é independente. Apesar de ser comumente alegado que o Banco Central brasileiro
possui “independência operacional”, o fato é que o presidente da autoridade monetária não
possui um mandato fixo e pode ser demitido a qualquer momento pelo Presidente da
República. Assim, é difícil alegar que a política monetária no Brasil está completamente
isenta de pressões políticas.
Ainda assim, segundo seus implementadores, a principal função do regime era
coordenar as expectativas de inflação de forma a ancorá-las na meta estabelecida. Ao longo
destes anos de regime de metas, tivemos alguns episódios de descumprimento e mesmo de
sua alteração em pleno período de vigência. Assim, o regime de metas brasileiro parece ser
caracterizado como um em que o Banco Central segue a meta “fixa, mas ajustável”, ou seja, a
regra se mantém fixa para choques pequenos, mas ajustes podem ocorrer para choques
grandes. No entanto, como se sabe dos modelos de inconsistência dinâmica, esta opção tem
custos para o próprio Banco Central, pois afeta a expectativa de inflação dos agentes privados.
A literatura referente à inconsistência temporal da política monetária é bem conhecida.
Os modelos desenvolvidos nessa área de pesquisa mostram que a autoridade monetária, ao se
comprometer com uma determinada regra, tem fortes incentivos para quebrar o compromisso
uma vez que o público tenha formado suas expectativas inflacionárias de acordo com a regra
anunciada. Entretanto, o público conhece esta característica do Banco Central, e a leva em
consideração ao formar suas expectativas, o que gera o chamado viés inflacionário.
O regime de metas de inflação é visto como solução para este problema de
inconsistência intertemporal na medida em que um dos seus principais sustentáculos é a
coordenação das expectativas, e estas dependem crucialmente da credibilidade do regime.
Mas os regimes de meta de inflação têm se mostrado vulneráveis a choques muito elevados e,
embora não sejam necessariamente abandonados, tais desvios afetam fortemente as
expectativas dos agentes privados e, desta forma, o próprio funcionamento do regime.
Particularmente, muitos países emergentes adotaram o regime na última década, que
de uma forma geral se mostrou uma ferramenta muito bem-sucedida no combate à inflação, a