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PONTIFÍCIA UNIVERSIDADE CATÓLICA DO PARANÁ
CENTRO DE CIÊNCIAS EXATAS E DE TECNOLOGIA - CCET
PROGRAMA DE PÓS-GRADUÃO EM GESTÃO URBANA - PPGTU
BEATRIZ MARIA DE LOYOLA HUMMELL
DESASTRES NATURAIS E VULNERABILIDADES SOCIOAMBIENTAIS: O CASO
DE CURITIBA/PARANÁ
CURITIBA
2009
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BEATRIZ MARIA DE LOYOLA HUMMELL
DESASTRES NATURAIS E VULNERABILIDADES SOCIOAMBIENTAIS: O CASO
DE CURITIBA/PARA
Dissertação apresentada ao
Programa de Pós-Graduação em Gestão Urbana PPGTU
do Centro de Ciências Exatas e de Tecnologia CCET
da Pró-Reitoria de Graduação, Pesquisa e Pós-Graduação
da Pontifícia Universidade Católica do Paraná PUCPR
Linha de pesquisa:
Planejamento e Projeto em Espaços Urbanos e Regionais
Professor orientador:
Dr. Clovis Ultramari
Curitiba
2009
BEATRIZ MARIA DE LOYOLA HUMMELL
DESASTRES NATURAIS E VULNERABILIDADES SOCIOAMBIENTAIS: O CASO
DE CURITIBA/PARANÁ
Dissertação apresentada ao Programa de Pós-Graduação em Gestão Urbana
PPGTU do Centro de Ciências Exatas e de Tecnologia CCET da Pró-Reitoria de
Graduação, Pesquisa e Pós-Graduação da Pontifícia Universidade Católica do
Paraná PUCPR, como requisito para obtenção do título de mestre.
COMISSÃO EXAMINADORA
_____________________________________
Prof. Dr. Clovis Ultramari
Pontifícia Universidade Católica do Paraná
_____________________________________
Prof. Dra. Letícia Peret Antunes Hardt
Pontifícia Universidade Católica do Paraná
_____________________________________
Prof. Dr. Antônio Marcos Mattedi
Universidade Regional de Bliumenau
Curitiba,___de_________________de 2009.
2
DEDICATÓRIA
À minha mãe, Prof. Rosita Cordeiro de Loyola Hummell.
3
AGRADECIMENTOS
Ao Prof. Dr. Clovis Ultramari pela orientação e por conduzir-me pelo fascinante
caminho da pesquisa.
Às minhas irmãs Anna Helena e Christine e minha mãe Rosita
pelo apoio e compreensão desde sempre.
A todos os meus amigos, principalmente Clineu Uehara, Leticia
Uehara e Margret Engel pelo apoio e companheirismo.
Aos meus colegas que colaboraram ao longo deste estudo.
4
RESUMO
Os desastres naturais representam um perigo para populações de todas as partes
do mundo. Os registros mostram que o número de ocorrência destes fenômenos
sofreu um expressivo aumento desde a década de 1950. As parcelas mais pobres
da população são, em grande parte das vezes, muito afetadas por estes desastres.
Por um lado, os desastres naturais atingem a todos, isto é, são democráticos, não há
distinção entre classes sociais para o seu acontecimento. Por outro lado, acredita-se
na existência de filtros que diminuem os impactos causados pelos desastres em
algumas camadas da população, ou seja, variados fatores sociais podem fazer com
que uma determinada classe seja mais atingida por estes fenômenos do que outras.
Por meio de um estudo de caso, esta pesquisa pretende verificar a hipótese de
trabalho (de que determinadas camadas da população são mais vulneráveis aos
desastres naturais do que outras a condição social e econômica serve como fator
determinante que localiza a vulnerabilidade em grupos específicos da população)
pela análise de duas variáveis e da sua espacialização. O estudo de caso foi
realizado a partir de dados coletados em órgãos públicos, com recorte temporal
entre os anos de 2004 e 2008, no município de Curitiba/Paraná.
Palavras-chave: Vulnerabilidade socioambiental. Desastres naturais. Desastres em
Curitiba/PR.
5
ABSTRACT
Natural hazards represent a threat to populations in all parts of the world.The records
show that the number of these hazards have significantly increased since the 1950`s.
Population`s lower levels are, most times, greatly affected by these hazards. In one
hand, the natural hazards affects all, that is, are democratical, there`s no social
distinction in a hazardous situation. In the other hand, there might be filters that
diminishes the impact of disasters in some levels of the population, that is, some
social factors can make that the lower levels of the population be more affected by
the hazards than others. Through out a case study, this research intents to verify the
working hypothesis (that some levels of the population are more vulnerable to natural
hazards than others the social and economical status are determinating factors for
placing the vunerability in specific levels of the population) by analizing 2 indices and
its distribution throughout the territory. The case study was developed based on data
collected in public agencies and the hystorical timeframe is 2004-2008 in the city of
Curitiba/Paraná.
Key words: Social Vulnerability. Natural Hazards. Hazards in Curitiba/PR.
6
LISTA DE FIGURAS
Figura 1 Mapa do Índice de Desenvolvimento Humano Municipal Estados do
Brasil, 2000 ............................................................................................................... 19
Figura 2 Mapa do Índice de Desenvolvimento Humano Municipal Estado do
Paraná, 2000 ............................................................................................................. 20
Figura 3 Mapa do Índice Sintético de Qualidade de Vida Curitiba, 2000............. 20
Figura 4 Gráfico de Número de Ocorrências de Desastres Naturais Mundo, 1900-
2008 .......................................................................................................................... 21
Figura 5 Representação Esquemática de Relação entre Recursos e Perigos da
Natureza e do Homem .............................................................................................. 36
Figura 6 Mapa de Número de Desastres Naturais por Pais 1974-2003 .............. 38
Figura 7 Fluxograma de Relação entre os Conceitos de Risco, Perigo e Desastre
.................................................................................................................................. 44
Figura 8 Gráfico do Número de Pessoas Mortas de Acordo com a Classe Social
(Renda) e Tipo de Desastre no Mundo de 1973 2002 ........................................... 56
Figura 9 Mapa de Localização dos Bairros do Município de Curitiba ..................... 65
Figura 10 Mapas do Índice de Desenvolvimento Humano Municipal Brasil e
Todos os Municípios da Região Sul 2000 ................................................................. 66
Figura 11 Mapas de Taxa de Crescimento por Municípios e Compartimentos mais
Dinâmicos Demograficamente do Número de Ocorrências de Desastres por
Municípios e Compartimentos de Maior Concentração, e de Pessoas Atingidas por
Município e Compartimentos de Maior Concentração no Estado do Paraná de 2000
a 2007 ....................................................................................................................... 69
Figura 12 Mapa do Índice de Desenvolvimento Humano Municipal (IDH-M) e
compartimento de Situação mais Grave no Paraná, 2000 ........................................ 70
Figura 13 Mapa do Rendimento Médio Mensal das Pessoas com Rendimento
Responsáveis pelos Domicílios Particulares Permanentes em Reais entre 2000 e
2007 em Curitiba ....................................................................................................... 74
Figura 14: Mapa da Taxa Média de Crescimento Anual entre 2000 e 2007 em
Curitiba ...................................................................................................................... 75
Figura 15 Fluxograma de Formulação do índice Sintético de Qualidade de Vida .. 79
7
Figura 16 Mapa do Índice Sintético de Qualidade de Vida em Curitiba com
Manchas de Concentração de Bairros com ISQV Semelhante 2000 ..................... 83
Figura 17 Mapa da Classificação dos Bairros de Curitiba de Acordo com o Número
de Desastres Ocorridos no Período 2004-2008 ........................................................ 88
Figura 18 Mapa Síntese do Número de Desastres Ocorridos em Curitiba de 2004 a
2008 frente ao Índice Sintético de Qualidade de Vida (ISQV) de 2000 ..................... 90
Figura 19 Gráfico das Porcentagens das Somatórias dos Valores Atribuídos às
Variáveis (Número de Desastres e Índice Sintético de Qualidade de Vida) .............. 94
Figura 20 Gráfico das Porcentagens dos Resultados das Somatórias dos Valores
Atribuídos às Variáveis (Número de Desastres e Índice Sintético de Qualidade de
Vida) .......................................................................................................................... 95
Figura 21 Classificação dos Bairros de Curitiba a partir da Somatória dos Valores
Atribuídos ao Número de Desastres Ocorridos em Curitiba de 2004 a 2008 e ao
Índice Sintético de Qualidade de Vida (IQV) de 2000 ............................................... 96
8
LISTA DE TABELAS
Tabela 1 Número de Desastres e Perdas econômicas por Década e Últimos Dez
Anos 1950 - 2002 ................................................................................................... 22
Tabela 2 Número de Desastres no Mundo entre as Décadas de 1900 e 2005 ...... 38
Tabela 3 Comparação de Impacto de Desastres Naturais Sobre o Homem Entre os
10 Países Mais Ricos e os 10 Mais Pobres .............................................................. 39
Tabela 4 Dados Sociodemográficos e Divisão Política dos Estados da Região Sul e
do Brasil de 2000 a 2007........................................................................................... 67
Tabela 5 Número de Desastres Notificados à SEDEC/MI por região do país de
2007 a 2009 .............................................................................................................. 67
Tabela 6 População 2007, Taxa Média de Crescimento Anual 2000-2007 e
Rendimento Médio Mensal das Pessoas com Rendimento Responsáveis pelos
Domicílios Particulares Permanentes em Reais entre 2000 e 2007 segundo os
Bairros de Curitiba ..................................................................................................... 71
Tabela 7 Significado dos Valores Atribuídos às Variáveis...................................... 77
Tabela 8 Combinações Possíveis para Soma dos Valores Atribuídos às Variáveis
.................................................................................................................................. 77
Tabela 9 Índice Sintético de Qualidade de Vida (2000) dos Bairros do Município de
Curitiba e Valores Atribuídos aos Intervalos de ISQV ............................................... 80
Tabela 10 Síntese do Número de Ocorrências dos Desastres Selecionados no
Município de Curitiba de 2004 a 2008 ....................................................................... 85
Tabela 11 Somatória dos Valores Atribuídos às Variáveis Relativas ao Número de
Desastres ocorridos de 2004 2008 e Índice Sintético de Qualidade de Vida por
Bairros de Curitiba ..................................................................................................... 91
9
LISTA DE ABREVIATURAS E SIGLAS
CFC Gás Clorofluorcarbono
CODAR Codificação de Desastres, Ameaças e Riscos
COMDEC Coordenadoria Municipal de Defesa Civil
COPEL Companhia Paranaense de Energia Elétrica
DRC Disasters Research Center
EM-DAT The International Emergency Disasters Database
IPCC Intergovernmental Panel on Climate Change
IPPUC Instituto de Pesquisa e Planejamento Urbano de Curitiba
ISQV Índice Sintético de Qualidade de Vida
MUNICH RE Munich Reinsurance Group
PNDC Política Nacional de Defesa Civil
PNUD Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento
SEDEC/MI Secretaria Nacional de Defesa Civil / Ministério da Integração Nacional
SIMEPAR Sistema Meteorológico do Paraná (SIMEPAR)
SMDS Secretaria Municipal de Defesa Social SMDS
UN/ISDR - Inter-Agency Secretariat of the International Strategy for Disaster
Reduction
UNDP United Nations Development Programme
10
SUMÁRIO
1 INTRODUÇÃO ...................................................................................................... 11
1.1 PROBLEMATIZAÇÃO ......................................................................................... 11
1.2 JUSTIFICATIVAS ................................................................................................ 25
1.3 OBJETIVOS ........................................................................................................ 27
1.4 DESENVOLVIMENTO DA DISSERTÃO ........................................................ 28
2 REFERENCIAL TEÓRICO ................................................................................... 31
2.1 DESASTRES NATURAIS ................................................................................... 31
2.2 VULNERABILIDADE SOCIOAMBIENTAL .......................................................... 46
3 METODOLOGIA DA PESQUISA ......................................................................... 60
3.1 TÉCNICAS DA PESQUISA ................................................................................. 61
3.2 FASES DA PESQUISA ....................................................................................... 61
3.2.1 Recorte geográfico e temporal .................................................................... 63
3.3 REFERENCIAIS DO RECORTE ESPACIAL DO ESTUDO DE CASO ............... 65
3.4 VARIÁVEIS UTILIZADAS NA PESQUISA .......................................................... 76
3.4.1 Índice Sintético de Qualidade de Vida (ISQV) ............................................ 78
3.4.2 Desastres Naturais no Munipio de Curitiba ............................................. 84
4 ESTUDO DE CASO .............................................................................................. 89
5 CONSIDERAÇÕES FINAIS ................................................................................ 100
REFERÊNCIAS....................................................................................................... 104
APÊNDICES.............................................................................................................112
11
1 INTRODUÇÃO
A presente dissertação se insere no Programa de Pós-Graduação em Gestão
Urbana da PUCPR, linha de pesquisa Planejamento e Projeto em Espaços Urbanos
e Regionais, e esta candidata integra a turma de 2008, quinto ano do referido curso.
A temática principal aqui discutida que trata dos desastres naturais frente às
vulnerabilidades socioambientais é fruto de estudos anteriores e interesse
particular da autora. Em outros estudos (referentes à conclusão do curso de
graduação em Arquitetura e Urbanismo) foi abordado o tema que trata da
requalificação urbana de uma área de baixa renda na cidade de Curitiba. Elaborou-
se, então, uma pesquisa sobre o tema e assuntos afins, gerando especial interesse
sobre a discussão das relações de uso do solo, planejamento, monitoramento e
controle em áreas urbanas, principalmente aquelas ocupadas pela população de
baixa renda e ocupações irregulares. Assim, foi possível perceber a importância da
discussão de três principais aspectos relacionados ao tema: sociais, ambientais e
legais. A partir desses estudos foi despertado maior interesse em explorar temas
relacionados a esses três aspectos.
O presente estudo, por sua vez, avança na mesma área de abordagem
temática anteriormente desenvolvida com uma especificidade maior e uma
discussão teórica e conceitual mais específica. A pesquisa conceitual e teórica
apresentada neste estudo teve como base diversos autores que discutem temas
relativos aos desastres naturais e vulnerabilidades socioambientais. Com base nesta
fundamentação teórica buscou-se fazer uma discussão acerca destas temáticas, e
para tanto foi desenvolvido um estudo de caso no município de Curitiba.
1.1 PROBLEMATIZAÇÃO
Este item expõe alguns dos principais problemas acerca do tema deste
trabalho, os quais serão discutidos com mais profundidade nas seções que seguem.
Os principais problemas aqui discutidos são pertinentes ao adensamento
12
demográfico nas cidades e suas diferentes espacializações, à vulnerabilidade
socioambiental a desastres e às mudanças e extremos climáticos.
Aproximadamente até a metade do século XX, o Brasil tinha sua economia
baseada, essencialmente, na produção rural. A partir da década de 1930 o país
começou a sofrer um processo de mecanização rural e de industrialização dos
processos de produção que, somado ao próprio crescimento vegetativo da
população, impulsionou a migração populacional para as cidades, resultando no seu
acelerado crescimento (CARVALHO, 2006). A respeito dessa migração que se
confirma no processo de urbanização brasileira, Santos (1996) aponta dois
momentos importantes: primeiro, a partir da metade do século XIX, a produção do
café impulsionou mudanças no cenário social e econômico; e um segundo momento,
a partir da década de 1930, no qual novas condições políticas possibilitaram o
crescimento da industrialização e do mercado interno, que permitiu uma nova lógica
econômica e territorial
1
Esse processo de urbanização foi cada vez mais confirmado pelo acelerado
crescimento da população urbana ao longo do século XX: nos anos de 1920, apenas
16,6% da população do país residia nas cidades; em 1940, este número cresceu
para 31,2% e nos anos de 1960 a população urbana passou a ser maior que aquela
residente na área rural. Nos anos de 1980, a população urbana passa a representar
67,6%, e em 2000, 81,2% (FARIA, 1976 apud CARVALHO, 2006).
.
A velocidade e complexidade com que ocorre o processo de urbanização,
confirmadas pelos números que o evidenciam, leva a que diversos autores estudem
a urbanização e a influência da industrialização nesse processo. Carvalho (2006,
p.7), por exemplo, afirma que “Com o avanço da industrialização e dos serviços
modernos a estrutura produtiva do país tornou-se mais dinâmica, complexa e
diversificada, com uma expansão e diferenciação do mercado de trabalho, das
1
Num primeiro momento, a partir da produção do café, o Estado de São Paulo se torna um pólo que
abrange os estados mais ao sul, parte do Rio de Janeiro e de Minas Gerais. Traz benefícios como
na implantação de infra-estrutura (estradas de ferro, melhoria dos portos, meios de comunicação
etc.) que “atribuem uma nova fluidez potencial a essa parte do território brasileiro”. A partir daí,
começam a se instalar novas formas capitalistas de produção, trabalho, intercâmbio, consumo,
mesmo que limitadas a uma parcela do território. No segundo momento citado (a partir da década
de 30), a lógica da industrialização prevalece, principalmente a partir dos anos 1940-50: formão
de um mercado nacional, integração do território, expansão do consumo e ativação do processo de
urbanização. A nova base econômica passa a situar-se em escala nacional; “por isso, a partir daí
uma urbanização cada vez mais envolvente e mais presente no território dá-se com o crescimento
demográfico sustentado das cidades médias e maiores [...]” (SANTOS, 1996, p. 26-27).
13
classes e da estrutura social”. Essas mudanças nas estruturas produtivas e o
crescimento acelerado dos centros urbanos caracterizaram um processo desigual,
tanto do ponto de vista social quanto urbanístico.
O modo de produção capitalista exigiu a concentração de infra-estrutura e de
o-de-obra próximas às áreas de produção industrial, privilegiando alguns centros
urbanos, tornando-os “pontos de ancoragem privilegiados” que concentravam sedes
de grandes empresas e estimularam o crescimento de atividades terciárias nesses
centros. Este modelo de desenvolvimento acarretou no surgimento de áreas
metropolitanas que passaram a concentrar grande parte da população brasileira e,
assim, passaram a polarizar o desenvolvimento e a riqueza produzida no país,
principalmente no Centro-Sul (CARVALHO, 2006, p.7).
Esse crescimento se deu de forma desigual não apenas do ponto de vista
geográfico, concentrando-se em regiões específicas dentro do território nacional,
mas também em aspectos intra-urbanos, indicando padrões diferenciados em
termos sociais e econômicos, proporcionando diferentes sistemas de infra-estrutura
e serviços para parcelas da população de uma mesma cidade. De fato, a oferta da
crescente quantidade de mão-de-obra desqualificada (denominada por Marx de
exército industrial de reserva
2
2
A existência de uma reserva de força de trabalho desempregada e parcialmente empregada é uma
característica inerente à sociedade capitalista, criada e reproduzida diretamente pela própria
acumulação do capital, a que Marx chamou de exército de reserva do trabalho ou exército industrial
de reserva (BOTTOMORE, 1988, p.144).
) presente nos centros urbanos possibilitou a baixa
remuneração, condições precárias de trabalho e expansão do trabalho informal. Isso
acarretou no aumento da população de baixa renda que, devido aos altos preços
das terras nos centros urbanos, passou a ocupar áreas periféricas e sem oferta de
infra-estrutura básica. As áreas centrais, dotadas de infra-estrutura, serviços e
próximas aos centros produtivos, eram ocupadas pela população de maior renda. Ao
explicar o processo de urbanização do terceiro mundo (neste caso, o autor cita mais
especificamente América Latina e Índia), Giddens (2000) denomina este processo
de ocupação das áreas periféricas dos centros urbanos pela população de baixa
renda, vinda do campo devido à desintegração do sistema de produção rural como
o desenvolvimento de uma “franja séptica” das áreas urbanas. Com isto, o autor
refere-se à formação de áreas periféricas pela população de baixa renda, onde é
14
comum o surgimento de cortiços e favelas, cenário este vivenciado nas metrópoles
brasileiras.
Apesar de a situação atualmente encontrada nas cidades pobreza,
desigualdade social, formação de cortiços, violência etc. diferenciar-se da imagem
relacionada aos centros urbanos na primeira metade do século XX em diversos
aspectos “possibilidade de avanço e modernidade em relação ao campo que
representava o Brasil arcaico” (MARICATO, 1996, p.29) –, imagem esta que servia
como atrativo para a população expulsa do campo pela mecanização rural, o
processo de desenvolvimento das áreas urbanas continua. Mesmo que as razões
que impulsionaram o surgimento dos centros urbanos industrialização,
modernização do campo, atração da cidade não existam mais, estes continuam a
crescer e a se modificar.
Em relação à situação atual das cidades, Maricato (2003) afirma que as
oportunidades de inserção econômica e melhores condições de vida, presentes no
país nas primeiras décadas do século XX para migrantes e imigrantes, parecem
estar hoje extintas. A segregação espacial e ambiental do meio urbano é expressa
pelas grandes extensões das periferias urbanas, caracterizadas pela concentração
de pobreza. Este cenário configurava uma situação inédita de alta densidade de
ocupação do solo e exclusão social. Acerca desta mesma temática, Santos (1996)
faz uma relação entre a ocupação desigual do território, a especulão imobiliária e
o crescimento acelerado das cidades (entre outros fatores): a especulação do valor
da terra somado à superposição do “sítio social” ao “sítio natural” (ou seja, a forma
de ocupação do território) gera a segregação social encontrada hoje em grande
parte dos centros urbanos brasileiros, além da expansão territorial das cidades
3
3
Santos (1996) aponta que a existência de vazios urbanos contribui para a expansão territorial das
cidades e para a segregação social, pois estes vazios, que se localizam em grande parte das vezes
em locais dotados de infraestrutura ou próximos a locais com esta qualidade (que normalmente se
encontram em áreas próximas ao centro das cidades), conseqüentemente, apresentam um valor de
mercado mais elevado em relação às áreas periféricas.
.
Como conseqüência destes fatores a população de menor renda passa a ocupar as
áreas mais afastadas dos centros das cidades, que apresentam menor valor de
mercado e pouca ou nenhuma infraestrutura básica. Tem-se como resultado dessa
dinâmica a ocupação de novas áreas contribuindo para o crescimento horizontal
da malha urbanae a segregação social da cidade.
15
Em relação à ocupação de áreas menos valorizadas ou de risco pela população
de baixa renda, Maricato (1996, p.30 - 31) afirma:
É nas áreas rejeitadas pelo mercado imobiliário privado e nas áreas
públicas situadas em regiões desvalorizadas que a população trabalhadora
pobre vai se instalar: beira de córregos, encostas dos morros, terrenos
sujeitos a enchentes ou outros tipos de riscos, regiões poluídas, ou áreas de
proteção ambiental (onde a vigência de legislação de proteção e ausência
de fiscalização definem a desvalorização).
Ainda em relação à temática de ocupação de áreas desvalorizadas pela
população menos favorecida, Rolnik (1997), ao discutir sobre leis do final do século
XIX e início do século XX, afirma:
Ao mesmo tempo em que a lei alinhavou os territórios da riqueza, delimitou
também aqueles onde deveria se instalar a pobreza [...] Diga-se de
passagem que a lógica de destinar as lonjuras para os pobres, assim como
a de proteger os bairros dos ricos, atravessou, incólume, o nosso século
(ROLNIK, 1997, p.47).
A partir das considerações feitas acima, é possível afirmar que os locais
ocupados pela população menos favorecida caracterizam-se por apresentar baixos
valores atribuídos pelo mercado imobiliário, de áreas de proteção ambiental ou
daquelas que apresentam risco à ocupação. Pode-se entender, então, que os locais
que não são interessantes do ponto de vista econômico (que não têm interesse no
mercado imobiliário), que não podem ser destinadas à ocupação ou que são
protegidas por leis ambientais e que recebem pouca ou nenhuma fiscalização por
parte do poder público são as áreas prioritárias para a ocupação ilegal.
Em relação à modificação do espaço da cidade e da utilização do tecido
urbano, Beaujeu-Garnier (1997) cita fatores que devem ser observados e que,
quando acontecem de maneira espontânea, são progressivas e relativamente lentas.
[...] os bairros mais antigos, os que pouco a pouco são atingidos por certas
manifestações de vida urbana baixam de categoria, em proveito de zonas
mais distantes; o desenvolvimento dos transportes individuais, ligado, em
parte, ao aperfeiçoamento técnico e, em parte, ao crescente poder de
compra dos cidadãos age no mesmo sentido., pois, uma integração
progressiva da periferia, à medida que a urbanização progride cada vez
para mais longe (BEAUJEU-GARNIER, 1997, p. 209).
16
É possível entender pelo exposto acima que há atualmente um movimento de
ocupação de áreas mais afastadas por parte da população mais rica, diferente
daquele observado no processo de formação das cidades em que as áreas centrais
eram restritas às classes mais altas e as áreas periféricas não possuíam infra-
estrutura para ocupação adequada. Beaujeu-Garnier (1997) afirma ainda que
Este processo de desenvolvimento é acompanhado por uma evolução do
centro: origem da cidade, ele torna-se, ao fim de algum tempo, inadaptado
espacial, arquitectónica e funcionalmente ao crescimento do organismo
urbano. Abandonado, o centro torna-se um local de pardieiros e de
residências pobres. Mas pode ser restaurado [...] Pode também ser
completamente destruído e reconstruído em feição ultramoderna [...] Então
as residências abastadas voltam ao coração da cidade [...], isto é, a quem
quer e pode aproveitar as vantagens de uma situação central, tanto para
empregos como para distracções. Os anglo-saxões dão a este movimento o
nome de “gentrification” (BEAUJEU-GARNIER, 1997, p. 209).
A autora cita, ainda, que a forma de ocupação nas cidades em países de
Terceiro Mundo apresentam condições especiais, em que “face à rapidez actual da
urbanização, os bairros pobres desenvolvem-se em grandes extensões; aí chega a
habitar entre 1/3 e 2/3 da população urbana, conforme o país (BEAUJEU-
GARNIER, 1997, p. 207).
Verifica-se pelo exposto acima que apesar de as modificações sofridas na
forma de ocupação do espaço da cidade (primeiramente, o centro é apenas ocupado
pelas classes mais altas; em seguida, sofre um processo de abandono e torna-se
apto a receber a população mais pobre; eventualmente, a valorização imobiliária
torna novamente o centro local propício para instalação da população mais rica) e a
população de classes mais baixas ocupa as áreas que as classes mais altas rejeitam
e que não são interessantes para o mercado imobiliário.
Alguns autores acreditam que, além dos fatores referentes à forma de
ocupação e distribuição desigual da terra urbana já citados, o modo de produção
capitalista baseado na indústria apresenta como conseqüência diferenciados
padrões de consumo entre as classes sociais, acesso a serviços públicos e
vulnerabilidade socioambiental. Hogan et al. (2000, p.2) aponta que a lógica da
sociedade industrial baseada no consumo produz, ao mesmo tempo, “estresse
ambiental e padrões sócio-espaciais que localizam a vulnerabilidade em grupos
sociais específicos”. Hogan destaca ainda que a distribuição desigual de serviços de
17
infra-estrutura urbana, além de padrões socioeconômicos e demográficos distintos, é
um componente importante da vulnerabilidade (HOGAN et al., 2000).
Ainda em relação à temática que trata a vulnerabilidade como um fator social,
Marandola Jr. e Hogan (2006) ressaltam a existência de “mecanismos locais em
todas as escalas” que servem como filtros antes de chegar aos indivíduos e famílias,
amortecedores dos impactos, isto é, que podem diminuir os efeitos de um desastre.
Apontam a própria condição social como um fator determinante da maneira como i
se enfrentar um risco. Entendem estes elementos amortecedores dos riscos como
“capacidade de resposta”, um dos principais componentes da vulnerabilidade.
Ao descrever a situação pré-impacto do furacão Katrina na cidade americana
de New Orleans em 2005, Zedlewski (2006) relata que a estrutura social local se
apresentava frágil antes do acontecimento do desastre. A população da cidade
contava com grande quantidade de idosos, deficientes e mães solteiras
desempregadas. Dessa maneira, havia pouca o-de-obra para gerar renda, o que
acarretou em uma rede de assistência social precária que, entre outros fatores,
tornava frágil a estrutura social da cidade. A soma dos fatores sociais e dos fatores
naturais (chuvas, rompimento da barragem) resultou em um desastre que atingiu
uma parcela da população mais do que outras: a população mais vulnerável (idosos,
deficientes, mães solteiras desempregadas) foi a mais atingida pelos efeitos do
furacão (ZEDLEWSKI, 2006).
Considerando os fatores expostos acima, entende-se que o fator social
localiza a vulnerabilidade em determinadas parcelas da população: o estrato mais
pobre da população ocupa os locais menos valorizados dentro das cidades, locais
estes que se caracterizam por apresentar menor ou nenhuma condição para
ocupação ou por fazerem parte de áreas de preservação ambiental. Assim, pode-se
constatar que, além de a vulnerabilidade se concentrar com maior força em grupos
sociais específicos, localiza-se em regiões específicas dentro das cidades seja por
fatores sociais (da população que as ocupa), ambientais (características físicas do
local), ou amboscaracterizando, assim, uma segregação espacial da cidade.
Além dos fatores que influenciam a vulnerabilidade de diferentes estratos
sociais da população na situação anterior aos desastres (formas de ocupação, locais
de fragilidade ambiental etc.) é importante ressaltar que, na situação após a
18
ocorrência do desastre tamm existem diferenças relacionadas às classes sociais
que podem influenciar na vulnerabilidade dessas populações.
Em relação ao enfrentamento de situação de risco por diferentes populações,
Cardoso (2006 apud MOURA; ANDRADE E SILVA, 2008, p.63) afirma que a noção
de risco é fruto de uma construção social, ou seja, há percepções diferentes que
integram “visões de mundo, culturas e estruturas de sociabilidade específicas a
determinados grupos sociais”. Ou seja, a percepção do risco é relativa, na medida
em que “as vivências urbanas são diferenciadas segundo as classes sociais e as
opções ideológicas dos diferentes grupos” (CARDOSO, 2006, p.45 apud MOURA;
ANDRADE E SILVA, 2008, p.63).
Até mesmo as pessoas pobres têm investimentos imobiliários e reservas
que são tiradas em tempos de stress ambiental. Os domicílios mais pobres
são tipicamente forçados a se desfazerem de mais bens antes, pois têm
menos opções do que os domicílios mais favorecidos (KASPERSON;
KASPERSON; DOW, 2001, p.256).
Do exposto acima, é possível verificar que a situação social pode contribuir
para o enfrentamento da situação pós-desastres à medida que, para as classes mais
ricas, de maneira geral, existem mecanismos que podem amenizar os impactos
causados por estes fenômenos (seja a possibilidade de deslocamento para outros
locais, a posse de uma segunda residência, ou mesmo a possibilidade de alocar-se
em habitações temporárias como hotéis). Numa mesma situação, para a populão
de classes mais pobres, o seu deslocamento, assistência e permanência em locais
temporários, após o acontecimento de desastres, depende inteiramente de órgãos e
entidades públicas que, em grande parte das vezes, não possuem a estrutura
necessária para o atendimento satisfatório das demandas.
A análise das figuras adiante apresentadas permite entender de que maneira
as questões social e econômica se diferenciam geograficamente, em diferentes
escalas: nacional, estadual e municipal. É possível ainda perceber que indicadores
se diferenciam regionalmente e no aspecto intra-urbano: na Figura 1, a análise da
distribuição espacial do Índice de Desenvolvimento Humano Municipal (IDH-M) nos
diferentes estados do Brasil possibilita entender que algumas regiões possuem
padrão social e econômico mais elevado que outras. Na Figura 2, a análise do IDH-
M permite entender que o mesmo ocorre com os municípios do estado do Paraná,
19
ou seja, a análise desse índice permite apontar que determinados municípios ou
regiões do estado são mais favorecidas no aspecto social e econômico do que
outros. A Figura 3, por sua vez, permite analisar, por meio do Índice Sintético de
Qualidade de Vida (ISQV), que os bairros da cidade de Curitiba possuem padrões
sociais e econômicos distintos.
Além de considerar que os diferentes indicadores socioeconômicos
proporcionam análises distintas em escalas diferenciadas, no que diz respeito aos
desastres naturais, tema central desta dissertação, as espacializações tamm são
intra-urbana e regionalmente diferenciadas, complexificando ainda mais a leitura de
qualquer índice socioambiental.
Figura 1 – Mapa do Índice de Desenvolvimento Humano Municipal Estados do Brasil, 2000
Fonte: PNUD, 2000.
20
Figura 2 Mapa do Índice de Desenvolvimento Humano Municipal Estado do Paraná, 2000
Fonte: PNUD, 2000.
Figura 3 – Mapa do Índice Sintético de Qualidade de Vida Curitiba, 2000
Fonte: Elaborado com base em IPPUC, 2003.
21
Além dos aspectos já analisados referentes ao adensamento populacional
nas cidades e a vulnerabilidade socioambiental, destaca-se o aumento do número
de ocorrências de desastres naturais como um fator importante para análise neste
trabalho.
Segundo dados apresentados pelo The International Emergency Disasters
Database (EM-DAT, 2008), o número de desastres naturais aumentou nas últimas
décadas em relão ao início do século XX. Como é possível observar na Figura 4,
que ilustra o número de desastres naturais ocorridos entre o ano de 1900 e junho de
2008, o aumento do número de desastres se dá de maneira mais significativa a partir
dos anos 1950, e ainda mais acentuada na década de 1980 (EM-DAT, 2008;
MARCELINO; NUNES; KOBIYAMA, 2006).
Figura 4 – Gráfico de Número de Ocorrências de Desastres Naturais Mundo, 1900-2008
Fonte: EM-DAT, 2009.
Tais análises, que demonstram e que alertam para o incremento do número
de desastres, chegando-se mesmo a poder nomear a atual sociedade como uma
sociedade de risco, são recorrentes na literatura que discute a problemática
contemporânea urbana. Outro exemplo são os relatos da United Nations
22
Development Programme (UNDP), os quais mostram que, nos últimos 25 anos, não
foi apenas o número de desastres naturais registrados que aumentou, mas seus
impactos no desenvolvimento humano econômico aumentaram anualmente. “É
preocupante que o risco de desastres e seus impactos aumentem durante um
período de crescimento da economia global
4
(UNDP, 2004, p.11). Além dos danos
físicos causados por esses desastres que, em grande parte das vezes, podem ser
notados durante ou pouco tempo após o seu acontecimento, pode-se contar ainda
com os prejuízos econômicos trazidos por estes fenômenos. Ao se analisar os dados
de ocorrências e as perdas econômicas causadas por desastres naturais na Tabela
1, pode-se observar que esses dois números apresentaram um aumento nas últimas
décadas (1980 e 1990), em comparação com as anteriores (1950 e 1960).
Tabela 1 – mero de Desastres e Perdas econômicas por Década e Últimos Dez Anos 1950 -
2002
Década
1950-
1959
1960-
1969
1970-
1979
1980-
1989
1990-
1999
1992-2002
(últimos 10 anos)
Número 20 27 47 63 91 70
Perdas econômicas
(em US$ bn)
42,1 75,5 138,4 213,9 659,9 550,9
Fonte: Adaptada de Munich Re Group (2003).
Segundo os registros analisados, pode-se observar que ao longo do século
XX houve um aumento do número de desastres e que, atualmente, este número é
superior ao registrado nos anos anteriores, bem como os seus impactos na
economia. Este fator levar à constatação de que deve haver uma maior preocupação
com o enfrentamento dessas situações.
Ao comparar os dados da Figura 4 (número de ocorrências dos desastres
naturais) e da Tabela 1 (números dos desastres e perdas econômicas) pode-se
observar que, da década de 1950 até o início do século XXI, tanto o número de
acontecimentos de desastres como as perdas econômicas causadas por estes
cresceram. Contudo, é importante ressaltar que a elaboração destas estatísticas
pode ter sido influenciada por outros fatores, como o sistema de coleta de dados
4
Tradução livre.
23
(que pode ter sido ampliada ao longo dos anos), a delimitação por parte dos órgãos
de defesa civil do que é considerado desastre natural ou não, o aumento da
população e da densidade de construções e a própria expansão econômica e bom
momento financeiro por que passaram alguns países após a segunda metade do
século XX, entre outros. A despeito de todas essas ressalvas, da perspectiva do
cotidiano da gestão das cidades, é possível arriscar dizer que há uma complexidade
crescente que resulta da maior pressão destes fenômenos sobre os espaços
urbanos. Além disso,uma pressão concentrada em áreas de risco ambiental que
sujeita a quase totalidade dos moradores urbanos a situações de vulnerabilidade,
ainda que com níveis diferenciados de gravidade e de resposta para diferentes
parcelas da população.
É importante ressaltar que ao se discutir o aumento do número de desastres
naturais e suas conseqüências, estes fatores não devem ser apresentados
isoladamente. Segundo Marcelino, Nunes e Kobiyama (2006) o aumento deste
número se deve a diversas causas, tais como crescimento populacional, segregação
sócio-espacial, acumulação de capital em zonas perigosas, avanço das
comunicações e das mudanças globais. Além disso, este fenômeno pode estar
ligado ao aquecimento global e a mudanças climáticas (IPCC, 2007).
Tobin e Montz (1997) citam três principais motivos possíveis para o aparente
aumento da freqüência e gravidade dos desastres naturais:
a) em alguns locais é possível que a atividade humana tenha contribuído para
o aumento desses fenômenos. Fatores como a urbanização, o
desflorestamento e a canalização e alteração de corpos hídricos sugerem o
aumento da possibilidade de pequenas inundações. Por outro lado, os
autores acreditam ser improvável que a atividade humana tenha alguma
influência em outros tipos de desastres, tais como a atividade vulcânica,
grandes terremotos, ciclones tropicais e outros eventos de grande
magnitude (mesmo enchentes). Nestes casos, o fator humano apenas
agrava a situação, pelo fato de colocar um grande número de pessoas em
risco, aumentando a sua vulnerabilidade;
b) o aumento da população, que coloca um maior número de pessoas em
áreas de risco. Somado a este fator, a crescente urbanização aumenta
ainda mais o número de pessoas em áreas de alta densidade populacional.
24
Além disso, os autores apontam a urbanização como um complicador em
situação sem planejamento e na expansão de áreas de ocupação irregular
(como as favelas), que em grande parte dos casos, ocupam áreas
inapropriadas para a ocupação e cujas construções de baixa qualidade
oferecem pouca proteção contra eventos naturais;
c) a mudança de padrões espaciais e temporais (referentes às informações
sobre desastres naturais) é reflexo de uma melhora na coleta de dados.
Com os avanços tecnológicos da atualidade, é possível comunicar com
facilidade o acontecimento dessas situações quase instantaneamente.
Contudo, os autores apontam que a divulgão desses dados por parte da
mídia pode ser a explicação para uma parte do aumento do número de
mortes e gravidade dos desastres, mas não sua totalidade (TOBIN;
MONTZ, 1997).
Além desses fatores, Tobin e Montz (1997) apontam que o aumento da
temperatura global e regional pode impulsionar condições mais voláteis do tempo e
situações extremas, como, por exemplo, o aquecimento das águas do mar pode
aumentar a temporada de furacões nos trópicos. O crescimento populacional em
áreas urbanas, principalmente nos países mais pobres, e o não reconhecimento da
gravidade desses fatores atmosféricos pelos governos locais podem agravar a
situação, contribuindo para o aumento das situações adversas.
Apesar de o aumento do número e de a gravidade dos desastres
apresentarem-se como fatores importantes para a fundamentação e justificativa do
principal assunto debatido nesta dissertação (a relação dos desastres naturais frente
às vulnerabilidades socioambientais), a discussão conceitual acerca do aumento do
número dos desastres naturais e outros aspectos relacionados a esta temática foram
priorizados em relação à questão da gravidade dos desastres.
Além disso, é importante apontar o fato de que para a realização da pesquisa,
foram coletados dados de diversas fontes e diferenciados em vários aspectos. Vale
notar que estes dados, além de, em grande parte das vezes, provirem de pesquisas
realizadas em anos distintos e, por isso mesmo, provavelmente terem sido
elaborados com informações diferenciadas (tanto nas suas fontes como na maneira
de sistematizar a informação), podem acarretar em conclusões e informações
diferenciadas sobre a mesma temática. Este fato se dá principalmente devido à
25
variedade de fontes e informações utilizadas que, em grande parte das vezes,
encontra-se pouco ou nada padronizada, principalmente ao comparar dados
nacionais e internacionais e ao considerar um amplo intervalo de tempo, como
arriscou-se fazer nesta pesquisa.
1.2 JUSTIFICATIVAS
É possível observar por meio da mídia que cidades em todo o mundo são
afetadas diariamente por desastres de ordem natural. Apesar de este assunto ser
muito debatido nos dias de hoje, o Brasil ainda carece de informações necessárias
para a formulação de políticas públicas que possibilitem ações de prevenção, ou
seja, aquelas que são realizadas antes do acontecimento do evento adverso, e não
apenas ações tomadas após a ocorrência desses eventos, que visam restabelecer o
cotidiano de uma cidade e reparar os danos.
Em entrevista com Oliveira (2009), Inspetor da Secretaria Municipal de Defesa
Social (SMDS) de Curitiba, este afirma que algumas ações de prevenção já são
formuladas por órgãos de defesa civil (mapeamento de riscos, comunicação de
informações meteorológicas, bancos de dados de ocorrências, entre outros), e já
apresentam algumas formas de integração entre diferentes órgãos (Defesa Civil,
Corpo de Bombeiros, Guarda Municipal, Instituto Tecnológico do Sistema
Meteorológico do Paraná (SIMEPAR), Institutos de Pesquisa e Universidades;
contudo, ainda não fazem parte de políticas públicas concretas que visem à
participação da população e possibilitem o conhecimento destas informações por
parte de toda a sociedade. Além disso, o sistema de armazenamento e
sistematização das informações produzidas pelos órgãos de defesa civil ao longo
dos anos se mostra pouco eficiente, impossibilitando a utilização e manipulação
dessas informações de maneira dinâmica, a geração do conhecimento avançado
acerca dos desastres naturais e a possível relação dessas informações com outros
dados (tais como populacionais, sociodemográficos etc.) (OLIVEIRA, 2009).
Segundo Marcelino (2008), grande parte dos investimentos relacionados a
desastres no Brasil têm sido realizado na fase de resposta, ou seja, após o
26
acontecimento do evento, e poucas Coordenadorias Estaduais de Defesa Civil
investem na etapa de prevenção. O mesmo autor ressalta, ainda, que a identificação
e a avaliação de riscos é um dos principais passos para nortear as diversas etapas
de um processo de gestão de riscos de um município. Understanding natural
hazards provides opportunities, too often missed or ignored, to alter hazardouness of
an area so as to reduce the loss
5
A título de exemplo, vale notar que o mapeamento e conhecimento de áreas
de fragilidade e sujeitas a riscos ambientais são meios pelos quais o planejamento
urbano pode contribuir para a redução de riscos, principalmente aqueles ligados a
eventos de ordem natural. Além disso, é necessário compreender que, assim como
afirma Valencio et al. (2003 apud VALENCIO et al., 2004), a formação de áreas de
risco para a ocupação humana não se apenas pela característica natural dos
locais ocupados (acentuada declividade natural, fundos de vale etc.) e pelos
fenômenos naturais que possam vir a provocar desastres (chuvas fortes,
deslizamentos etc.), mas tamm são construídas pela ação social
(impermeabilização de terrenos, poluição de rios etc.), pela forma de ocupação do
território (loteamentos clandestinos e irregulares, por exemplo) e pelas práticas
políticas (forma com que o poder público enquadraincentivo, endosso ou omissão
as práticas individuais ou coletivas da sociedade).
(TOBIN; MONTZ,1997, p.7). A análise dessas
referências pode levar a entender que a obtenção de informações de identificação
dos riscos, o conhecimento e a compreensão dos desastres naturais podem
proporcionar uma oportunidade para a melhoria da vulnerabilidade de uma
determinada área e, assim, possibilitar a redução das perdas relacionadas a esses
eventos.
A formulação de um mapeamento dos desastres naturais, juntamente com
índices sintéticos que possam expressar ainda que generalizadamente a
qualidade de vida nos locais onde acontecem os desastres (metodologia adotada
neste trabalho) pode oferecer informações relativas à vulnerabilidade da população
que habita estes locais, bem como pode fornecer dados para a elaboração de
planos e estratégias de enfrentamento de riscos. Essa prática, acredita-se, contribui
para o enfrentamento de situações de emergência (mais especificamente aquelas
5
Entender os desastres naturais oferece oportunidades, muitas vezes perdidas ou ignoradas, para
alterar a vulnerabilidade de uma área e também para reduzir os danos.
27
decorrentes de desastres naturais alagamentos, vendavais, erosão etc.),
principalmente na identificação de prioridades e de situações criadas no território a
partir de diferentes ocorrências e índices de qualidade de vida distintos. Isto é, a
identificação dos locais e das populações que se apresentam mais vulneráveis aos
desastres possibilita a aplicação medidas de prevenção e mitigação dasões
causadas por estes eventos. Tal prática faz parte da metodologia adotada nesta
dissertação
Acredita-se pois, poder justificar a importância dessa pesquisa pelo fato de
que, atualmente, no Brasil e em todo o mundo, há a constatação de que o número
de desastres naturais está se ampliando e atinge uma grande quantidade de
pessoas anualmente. A Inter-Agency Secretariat of the International Strategy for
Disaster Reduction (UN/ISDR, 2004) cita que o aumento do número de desastres
pode estar relacionado com a degradação ambiental decorrente da atividade
humana. Tobin e Montz (1997) explicam que este aumento pode ser causado por
fatores de diversas ordens (grande concentração de pessoas em determinados
locais, fatores climáticos, poluição, utilização demasiada de recursos naturais pelo
homem). Acredita-se, ainda, poder citar o próprio processo de urbanização como,
em parte, responsável pelo aumento observado no número de desastres, pela
ocupação do território, pela concentração de pessoas ou pela combinação de fatores
naturais e antrópicos.
1.3 OBJETIVOS
O objetivo geral desta pesquisa é, por meio do estudo de caso, verificar se há
a comprovação da hipótese de trabalho de que determinadas camadas da
população são mais vulneráveis a desastres naturais do que outras, sendo a
condição social e econômica um fator determinante que localiza a vulnerabilidade
em grupos específicos da população. Com esta pesquisa pretende-se, ainda,
contribuir para a análise dos desastres naturais em centros urbanos frente às
vulnerabilidades socioambientais, por meio da identificação de prioridades no
28
território, tanto de aspectos sociais (população mais vulnerável) quanto espaciais
(locais mais vulneráveis a desastres).
Os objetivos específicos são, por meio da análise de dados relativos ao
histórico de ocorrência de desastres em um determinado local:
a) identificar aqueles que ocorrem com maior freqüência;
b) identificar e espacializar estes desastres;
c) analisar a existência ou não de padrões com níveis socioambientais
semelhantes atingidos com maior freqüência por meio do cruzamento
dessas informações com um índice que aponte a situação econômica e
social nos diferentes compartimentos desse território.
Esta pesquisa busca, ainda, contribuir na formulação de políticas públicas
para o enfrentamento de situações adversas causadas por desastres naturais,
principalmente na identificação de prioridades e situações criadas nos espaços
urbanos a partir de diferentes tipologias de desastres e realidades socioeconômicas.
1.4 DESENVOLVIMENTO DA DISSERTÃO
Neste item, constam os passos seguidos para a realização deste trabalho
com o objetivo de esclarecer a metodologia e o tipo de pesquisa utilizados e a
delimitação do tema principal abordado.
Pesquisar, segundo Gil (1987, p.43), pode ser definido como “o processo
formal e sistemático de desenvolvimento do método científico”, e tem como objetivo
fundamental descobrir “respostas para problemas mediante o emprego de
procedimentos científicos”. Assim, a pesquisa realizada neste trabalho procurou
responder às questões propostas pela utilização de uma metodologia científica pré-
determinada.
Para a realização desta dissertação, utilizou-se da pesquisa ex-post-facto
que, por definição de Gil (1987, p.75), “trata-se de um experimento que se realiza
depois do fato”, no qual o pesquisador não tem controle sobre as variáveis. Foram
envolvidos tamm outros tipos de pesquisa, como a bibliográfica e a documental
que, mediante a temática utilizada, se mostraram de grande importância, pois a
29
coleta de dados se deu sobre arquivos e estatísticas de entidades públicas. No que
diz respeito à pesquisa experimental, foram observadas diversas variáveis que
pudessem influenciar o objeto de estudo. Neste trabalho, não foi realizada pesquisa
de campo, no seu sentido mais estrito. Complementarmente, foram visitados alguns
locais atingidos por desastres no município de Curitiba, tais como a Vila das Torres
(no bairro Prado Velho, atingida com freqüência por alagamentos) e a Comunidade
Moradias Belém (no bairro Boqueirão, caracterizada por um conjunto de habitações
irregulares que apresenta freqüentes ocorrências de alagamentos e problemas
ambientais ligados à rede de esgotamento sanitário). Tais visitas tiveram o intuito,
tão somente, de familiarizar-se à problemática discutida nesta dissertação.
Esta pesquisa inicia com uma revisão teórico-conceitual, apresentada na
seção 2, subdividida em duas subseções que apresentam as duas principais
temáticas referentes ao tema discutido neste trabalho.
Para a subseção 2.1, serviu-se da pesquisa bibliográfica e destacam-se os
autores Mattedi e Butzke, bem como Marandola Jr. e Hogan, na compreensão dos
conceitos de riscos, acidentes e desastres (entre outros) no Brasil. Além destes,
pode-se apontar os autores Tobin e Montz, assim como Burton, Kates e White, como
destaques sobre definições desses conceitos, além de Quarantelli, Smith e Petley,
Anneas de Castro, que tamm tratam dessas importantes definições (riscos,
perigos e desastres) e realizam as suas definições a partir de conceitos sociais.
Beck, por sua vez, se destaca com a introdução do conceito da sociedade de risco.
Na subseção 2.2, que trata da vulnerabilidade socioambiental, pode-se
destacar: Ultramari, Rezende e Firmino; Deschamps; Mendonça; Mattedi e Butzke;
Confalonieri; e Hogan, que apontam diversas questões que contribuem para a
formação do conceito de vulnerabilidade, com ênfase da abordagem social na
construção desse conceito.
Na seção 3, é apresentada a metodologia utilizada para o desenvolvimento
desta dissertação e o método utilizado para a comprovação da hipótese levantada, o
estudo de caso. A partir das definições apresentadas por Gil, foi possível
compreender o que é um estudo de caso e por que este método de pesquisa se
apresenta de maneira eficiente para a verificação da hipótese levantada nesta
dissertação.
A pesquisa foi desenvolvida em três fases principais:
30
a) fase 1: por meio de um método exploratório foi possível o desenvolvimento
e esclarecimento de conceitos e idéias para a formulação dos problemas
relativos à pesquisa. Também foi realizada pesquisa bibliográfica sobre os
principais assuntos relacionados à temática da dissertação: desastres
naturais e vulnerabilidade socioambiental;
b) fase 2: por meio do método descritivo, foi determinada a área de estudo e
o recorte temporal, bem como foram coletados os dados dos desastres
naturais em órgãos públicos. Para isso foi realizada pesquisa documental,
levantamento de bibliografia e coleta de informações pertinentes ao tema,
como estatísticas disponíveis e dados quantitativos referentes a desastres
naturais;
c) fase 3: por meio do método analítico, realizou-se a análise e feita a
tabulação e mapeamento dos dados coletados referentes aos desastres
naturais no município de Curitiba, entre os anos de 2004 e 2008. Esses
dados foram separados de acordo com os bairros da cidade para efeito de
análise. Assim, foi feita a comparação e análise destes dados com o índice
sintético de qualidade de vida, para verificação da hipótese levantada.
Além disso, na seção 3 são apresentados detalhes sobre o recorte geográfico
e temporal.
Na seção 4, é apresentado o estudo de caso com informações das duas
principais instituições pesquisadas: Instituto de Pesquisa e Planejamento Urbano de
Curitiba (IPPUC), com a utilização de mapas e do Índice Sintético de Qualidade de
Vida (ISQV), da Secretaria Municipal de Defesa Social (SMDS) de Curitiba, onde
foram coletados dados referentes aos desastres naturais no município. Após análise
dos dados apresentados, foram feitas considerações acerca do estudo de caso.
Na seção 5, são apresentadas conclusões de todas as etapas da pesquisa,
além de considerações sobre estudos futuros.
31
2 REFERENCIAL TEÓRICO
A partir da pesquisa realizada sobre a temática desta dissertação são
apresentados conceitos e discussões sobre desastres naturais e vulnerabilidade
socioambiental que permitem melhor embasamento da análise proposta por este
trabalho.
São abordadas duas temáticas importantes para a compreensão da temática
deste estudo: a primeira diz respeito aos desastres naturais, objeto de estudo desta
dissertação, apresentando as idéias de alguns dos principais autores sobre o
assunto. Esta temática é abordada em bibliografia vasta e variada, pois diversos
autores abordam os desastres naturais juntamente com desastres de origem
antrópica e mista.
A segunda aborda a vulnerabilidade socioambiental, importante para o debate
da hipótese levantada, que diz respeito à relação de um padrão socioambiental com
o acontecimento de desastres naturais em áreas urbanas e a associação da
vulnerabilidade com grupos sociais específicos.
2.1 DESASTRES NATURAIS
Ao fazer uma discussão sobre a necessidade da definição e classificação de
desastres, Quarantelli (In: SOWDER, 1985) ressalta que para se fazer uma pesquisa
ou analisar as conseqüências de um determinado fator, é necessário defini-lo. Ao
ilustrar as dificuldades encontradas para definir a natureza dos desastres (suas
causas e seus efeitos, por exemplo), o autor cita o exemplo de uma enchente que
ocorreu no ano de 1983 às margens do rio Colorado (EUA) que sucedeu à abertura
de uma barragem por um órgão público. Este evento teve diversas conseqüências,
como mortes, perda de milhões de lares em propriedades, contaminação de lençol
freático e medo da propagação de doenças pela infestação de mosquitos. Assim,
utilizando-se deste exemplo, Quarantelli aponta que o evento desencadeou uma
discussão sobre suas possíveis causas: ação do homem ou por “atos de Deus? O
32
evento pode ser classificado como um desastre? (QUARANTELLI In: SOWDER,
1985).
Quarantelli (In: SOWDER, 1985) aponta que nenhum fenômeno é auto-
definido ou auto-explicativo, mas que no caso de alguns dos assuntos ligados aos
desastres são fundamentados e possuem conceitos definidos por algumas teorias.
Aponta ainda que, no caso dos desastres, a fundamentação é baseada em três
disciplinas distintas (social, psicológica e de comportamento) que possuem objetivos
diferentes em suas pesquisas e que, portanto, apresentam diferentes abordagens.
A partir das considerações feitas por Quarantelli, pode-se justificar e entender
que para a discussão e análise da hitese proposta neste trabalho, que trata dos
desastres naturais frente às vulnerabilidades socioambientais, é necessário
esclarecer a definição ou, como tentou-se fazer aqui, expor diversas abordagens
sobre o assunto acerca dos desastres naturais, objetivando a compreensão deste
assunto para, posteriormente, realizar alises frente a outros conceitos.
O estudo dos desastres teve início em meados da década de 1920, mas se
deu de maneira mais concreta após a Segunda Guerra Mundial com a criação do
Disasters Research Center (DRC), na década de 1960. Nas primeiras tentativas de
formulação da definição do conceito de desastres, lideradas por Charles E. Fritz e A.
H. Barton, nas décadas de 1960 e 1970, assim como no período pré-guerra, a
referência a fatores sociais substitui os fatores naturais na definição de desastres.
Em seguida, no final dos anos 1970, a análise dos desastres, referenciada a
Quarantelli e Russel, sustenta o “princípio da continuidade”, que argumenta, entre
outras coisas, que não é possível analisar separadamente as situações pré e pós-
impacto, e há uma preocupação maior com a organização social e com a
coletividade, ou seja, prioriza o estudo das condições anteriores ao impacto (evento
adverso) como estratégia para mudar as condições pós-impacto. Desta forma, a
continuidade dos estudos desse conceito, que tem Drabeck como seu principal líder,
passou a argumentar que a dimensão social (experiência acumulada da população
na confrontação dos eventos e a situação no período de normalidade) influencia na
magnitude e intensidade dos desastres pela diminuição do seu potencial destrutivo
através do aprendizado prévio (MATTEDI; BUTZKE, 2001).
Em seguida, o foco se concentrou na organização p-desastre, tendo
Pelanda como seu principal precursor, afirmando-se que este fator era determinante
33
para o grau de vulnerabilidade da população a eventos adversos, e que as
condições pós-desastre eram uma “extensão das condições sociais vigentes na fase
pré-desastre” (MATTEDI; BUTZKE, 2001, p.12). Em contraposição, Kreps propõe
uma nova conceituação acerca dos desastres, em que estes compreendem eventos
nos quais a sociedade é afetada através de danos físicos e pela ruptura de sua
rotina de funcionamento (KREPS, 1984 apud MATTEDI; BUTZKE, 2001).
Mattedi e Butzke (2001) apontam duas correntes de análise das “calamidades
naturais”: a Teoria dos Hazards (que enfatiza os aspectos naturais físicos) e a sua
relação com o homem: “um Hazard é composto de uma dimensão natural e uma
dimensão social”, e a Teoria dos Desastres (analisa os efeitos provocados por um
fenômeno no meio social, desenvolvida do ponto de vista sociológico, que enfatiza
os aspectos sociais”. No entanto, as duas teorias pressupõem que existe uma
relação entre as dimensões natural e social de influência recíproca, ou seja, para
que o efeito do fator natural (chuva, ventos etc.) seja destrutivo, torna-se necessária
a existência do fator social (MATTEDI; BUTZKE, 2001, p.4-9).
A partir das considerações de Mattedi e Butzke (2001) expostas acima, pode-
se perceber que os estudos direcionados aos desastres naturais tiveram início há
cerca de um século, com mais ênfase nos últimos 50 anos. Embora apresentem
diferentes abordagens, é possível observar que o fator social está presente em
grande parte desses estudos, ou seja, o fator humano sempre teve importância
relevante para o estudo dos desastres.
A United Nations Development Programme (UNDP) define Natural Hazards
como processo natural ou fenômeno que ocorre na biosfera que pode constituir um
evento destrutivo e, por sua vez, pode ter influência de atividades antrópicas, como
a degradação ambiental e a urbanização e Natural Disaster (Desastre Natural)
como resultado da combinação entre um Natural Hazard e a vulnerabilidade
humana: a capacidade da sociedade de enfrentar os eventos adversos influencia no
alcance e gravidade dos danos causados por estes eventos(UNDP, 2004, p.11).
Portanto, a partir destas considerações tem-se que o principal fator que diferencia
um Natural Hazard de um Natural Disaster é o fator social, ou seja, o primeiro é visto
como um evento natural que ocorre independente da atividade humana e que pode
apresentar danos à mesma, enquanto o segundo é entendido como a combinação
34
de fatores naturais e antrópicos, que define o quanto a sociedade é afetada por
estes eventos.
Ainda de acordo com a idéia da relação entre os fatores social e natural para
o acontecimento de um desastre, Tobin e Montz (1997, p.5) afirmam: A Natural
Hazard represents the potencial interaction between humans and extreme natural
events. It represents the potencial or like-lihood of an event (it is not the event itself).
By definition, then, Natural Hazards constitute a threat to society
6
. Ou seja, para os
autores, os Natual Hazards em si não constituem um desastre, apenas quando há
interação com o homem. Segundo sua definição, os desastres são uma ameaça
para a sociedade. Então, a partir desta afirmação pode-se concluir que um evento
adverso natural só é considerado um desastre a partir do momento em que afeta o
homem e a sociedade de alguma maneira.
Only after an event occurs do we term it at “natural disaster”. A disaster is
usually defined as an event that has a large impact on society […] A disaster
might be defined qualitatively as a hazardous event that significantly disrupts
the workings of society. It may or may not lead to deaths, but it usually has
severe economic impacts
7
(TOBIN; MONTZ, 1997, p. 6 7).
A partir dessas afirmações, pode-se entender que Tobin e Montz classificam
os Natural Hazards como ameaças potenciais à sociedade, ou seja, estes não são
vistos como um desastre em si. Os eventos são considerados Natural Disasters a
partir do momento em que causam algum impacto para a sociedade. Assim, pode-se
destacar que, da mesma maneira como os conceitos expostos pela UNDP, aqui os
autores destacam o fator social como um diferencial entre os dois termos, ou seja,
um Natural Hazard representa uma ameaça, mas apenas torna-se um Natural
Disaster a partir do momento em que impacta a sociedade.
Para os autores Tobin e Montz (1997), os desastres existem porque o homem
e suas atividades estão constantemente expostos às forças da natureza, como por
exemplo, a ocupação de locais propícios a enchentes, terremotos e atividades
6
Um desastre natural representa a interação potencial entre humanos e eventos naturais extremos.
Representa o potencial ou a probabilidade de um evento (não é o evento em si). Por definição, o
desastre natural representa uma ameaça para a sociedade.
7
Apenas após o acontecimento de um evento é utilizado o termo “desastre natual”. Um desastre é
comumente definido como um evento que tem um grande impacto na sociedade […]. Um desastre
pode ser definido qualitativamente como um evento danoso que prejudique de forma significativa o
funcionamento de uma sociedade. Pode ou não levar a mortes, mas normalmente tem impactos
econômicos severos.
35
vulcânicas, entre outros. Em algumas situações, é possível determinar a
suscetibilidade de uma área às forças da natureza, mas, em alguns casos, como em
locais que sofrem outros tipos de eventos adversos da natureza, como a queda de
meteoritos, não é possível fazer previsões: “The risk and ultimately the threat (often
defined as hazardousness) change over time as human use and environmental
processes change
8
Pelas considerações feitas pelos autores expostos acima, é possível entender
que os desastres resultam da interação entre o homem e suas atividades com as
forças da natureza. Além disso, os autores ressaltam que os riscos a que a
sociedade está exposta mudam ao longo do tempo, de acordo com as atividades
humanas e mudanças ambientais, ou seja, as atividades exercidas pelo homem
diante da natureza efetuam mudanças no meio em que vive, expondo a sociedade a
novos riscos.
(TOBIN; MONTZ,1997, p.6).
É possível ainda relacionar a definição de Tobin e Montz (1997) com aquela
exposta por Mattedi e Butzke (2001), dado que ambas consideram que as forças da
natureza só são destrutivas ou representam ameaça a partir do momento em que
interferem na sociedade e suas atividades.
Ainda tratando da relação entre o homem e os eventos naturais, Burton,
Kates e White (1993) apontam que existe diferença entre os eventos extremos da
natureza que não são, necessariamente, perigosos para o homem e os
desastres causados por eles. As “forças da natureza” funcionam
independentemente da atividade humana e representam em si um objeto de estudo
científico. Da mesma maneira, diversas partes do sistema social tamm funcionam
independentemente das forças da natureza”. “A interação desses dois sistemas as
forças da natureza e as atividades humanas cria recursos e, ao mesmo tempo,
ameaças ao homem. Para ilustrar essas interações, a Figura 5 mostra como
funciona a relação entre o homem e o sistema natural (BURTON; KATES; WHITE,
1993, p.31).
8
O risco e por fim a ameaça (comumente definido como vulnerabilidade) muda do longo do tempo de
acordo com as mudanças do sistema de utilização do homem e dos processos ambientais.
36
Figura 5 Representação Esquemática de Relação entre Recursos e Perigos da Natureza e do
Homem
Fonte: Adaptado de Burton, Kates e White (1993, p.32).
Nota:
A interação entre homem e natureza cria tanto recursos úteis quanto ameaças perigosas para
os seres humanos. Como resposta a esses perigos, a sociedade pode procurar modificar o sistema
dos eventos naturais, a velocidade do vento, água e os fenômenos da terra, e o sistema humano de
utilização dos locais, meios de subsistência e organização social
9
(BURTON; KATES; WHITE,
1993, p.32).
Pelas afirmações expostas pelos autores, pode-se entender que tanto as
forças da natureza quanto a atividade humana funcionam de maneira independente,
ou seja, sem que uma prejudique a outra. Contudo, a sua interação pode apresentar
resultados positivos (como a utilização e criação de recursos) e negativos (desastres
naturais que apresentar ameaças à sociedade).
Ainda tratando das interações entre homem e natureza, Ultramari, Rezende e
Firmino (2008, p.5) apontam que as duas características principais dos desastres
são a sua relativa imprevisibilidade e suas conseqüências indesejadas, seja pelos
impactos que trazem para a infra-estrutura urbana (físicas e socioeconômicas) seja
pelos impactos que causam na produção em áreas rurais. Além disso, os autores
valorizam a velocidade com que esses eventos ocorrem que colocam como a
terceira característica dos desastres uma vez que esse fator pode influenciar na
9
Tradução livre.
37
resposta e prestação de ajuda por comunidades externas. Além disso, acreditam
que esse fator (velocidade) pode influenciar na forma como esses eventos são
incorporados pela mídia e pode causar um maior apelo a entidades doadoras e
órgãos internacionais. Considerando as afirmações feitas pelos autores é possível
perceber que, além daqueles impactos causados na infra-estrutura das cidades que,
em grande parte das vezes, são percebidos de maneira mais evidente pela
sociedade (enchentes, desabamentos, erosão etc.), esses eventos tamm são
responsáveis por outros tipos conseqüências quando atingem áreas menos
urbanizadas como as de produção agrícola e pecuária, que afetam a população de
maneira mais lenta (através da diminuição ou escassez de alimentos, por exemplo).
Além disso, os autores apontam que a velocidade com que os eventos acontecem
pode influenciar de maneira decisiva o momento pós-impacto, ou seja, se um evento
é reportado pela mídia com destaque e rapidez, é possível que o levantamento de
recursos para atendimento às vítimas e recuperação do local seja mais rápido e
eficiente em relação a outro evento que não teve tal destaque para outras partes do
país em que ocorreu ou do mundo.
Em relação aos paradigmas dos hazards e da vulnerabilidade, Mattedi (2009)
destaca a diferença entre os mesmos: no primeiro, os desastres são vistos como
fenômenos exteriores à sociedade e como um problema para a mesma; no segundo,
os desastres são vistos como fenômenos interiores à sociedade, como um problema
da mesma. Pode-se entender, então, que o fator social na teoria da Vulnerabilidade
é tão relevante para a dinâmica de acontecimento de um desastre quanto os fatores
naturais.
O autor aponta, ainda, que desastres (D) podem ser entendidos como uma
“função do processo de construção social do risco, isto é, o resultado da combinação
do risco de ocorrência de um fenômeno (r) e as condições de vulnerabilidade da
população (v): D = r + v”. A partir dessas definições, pode-se perceber que o autor
enfatiza o fator social e, mais especificamente, a vulnerabilidade da população aos
desastres como parte integrante do processo de formação dos desastres, ao
contrário da Teoria dos Hazards que considera a sociedade como um fator externo a
este processo (UN/ISDR, 2004 apud MATTEDI, 2009).
Para ilustrar a relação entre o aspecto social e os desastres utiliza-se aqui
um exemplo exposto por Mattedi no Seminário de Estratégia Habitacional de
38
Blumenau em 2009 (MATTEDI, 2009): o autor faz uma análise sobre como se dá a
relação entre os desastres ao longo do tempo e como estes se distribuem nos
países mais ricos e mais pobres. Inicialmente, expõe os dados da Tabela 2 que
mostram o aumento do número de desastres nos últimos 100 anos. Com isto, o
autor questiona a razão do aumento destemero: seriam as condições naturais ou
antrópicas que mais contribuíram para este aumento?
Tabela 2 mero de Desastres no Mundo entre as Décadas de 1900 e 2005
TIPOS DE DESASTRES
1900 -
1909
1910 -
1919
1920 -
1929
1930-
1939
1940 -
1949
1950 -
1959
1960 -
1969
1970 -
1979
1980 -
1989
1990 -
1999
2000 -
2005
Total
Hidrometeorológicos 28 72 56 72 120 232 463 776 1.498 2.034 2.135 7.486
Geológicos 40 28 33 37 52 60 88 124 232 325 233 1.252
Total 68 100 89 109 172 292 551 900 1.730 2.359 2.368 8.738
PERÍODO
Fonte: Tabulação com base em ISDR (2004 apud MATTEDI, 2009).
Ao analisar a tabela exposta acima, pode-se perceber que o número de
ocorrências aumentou expressivamente no intervalo analisado, com mais ênfase a
partir da década de 1950 (a Figura 4, p.21 expõe dados similares). Contudo, o autor
aponta que para entender a problemática dos desastres é necessário saber aonde
eles ocorrem, ou seja, não é suficiente saber que este número aumentou, tornando-
se necessário espacializar estes dados para poder compreender sua dinâmica
social. Para tanto, o autor expõe um mapa que mostra os países de todo o mundo
conforme o número de desastres ocorridos no intervalo de 1974 a 2003 (Figura 6).
Figura 6 Mapa de Número de Desastres Naturais por Pais 1974-2003
Fonte: Adaptado de Guha-Sapir, Hargitt, Hoyois (2004 apud MATTEDI, 2009).
39
Ao analisar a Figura 6 pode-se notar que grande parte dos países do
continente africano e do Oriente Médio apresentam ummero de ocorrências
baixo. Em contraposição, países ricos, como EUA e Austrália, apresentam o número
de ocorrências mais alto, mas, ao mesmo tempo, países bastante populosos e com
menores índices econômicos, como Índia e China, também apresentammeros
elevados de ocorrências.
Para completar a sua alise, Mattedi (2009) expõe a Tabela 3, que mostra o
impacto humano causado por desastres naturais, por meio da comparação da renda
per capita e do número médio de vítimas anuais dos 10 países mais ricos e mais
pobres.
Tabela 3 Comparação de Impacto de Desastres Naturais Sobre o Homem Entre os 10 Países Mais
Ricos e os 10 Mais Pobres
País
GDP* (US$)
per capita
2002
Média anual de vítmas /
População de 100.000 hab.
1974 - 2003
País
GDP* (US$)
per capita
2002
Média anual de vítmas /
População de 100.000 hab.
1974 - 2003
Luxemburgo 44.000 0 Somalia 550 2.701
Estados Unidos 37.600 59 Serra Leoa 580 155
Noruega 31.800 5 Burundi 600 674
Suíça 31.700 2 Rep. Dem. Congo 610 114
Irlanda 30.500 4 Tanzania 630 1.531
Canadá 29.400 72 Malaui 670 8.748
Bélgica 29.000 2 Afeganistão 700 1.120
Dinamarca 29.000 0 Eritrea 740 6.402
Japão 28.000 182 Etiópia 750 5.259
Austrália 27.700 29 Madagascar 760 2.090
Fonte: Adaptado de Guha-Sapir, Hargitt, Hoyois (2004 apud MATTEDI, 2009).
Nota: *Gross Domestic Product (Produto Interno Bruto)
O autor analisa que, apesar de o número de acontecimentos em países mais
ricos ser mais elevado, o número de vítimas nos países mais pobres é maior. A partir
dessa análise, pode-se concluir que o fator social (neste caso representado pela
condição socioeconômica dos países), tem grande influência quando trata-se do
número de vítimas humanas resultante de desastres.
Tobin e Montz (1997) afirmam que os desastres naturais são eventos que
ocorrem normalmente e com o que as diversas sociedades devem lidar. Em alguns
lugares esses acontecimentos são muito freqüentes e até recorrentes; em outros,
40
são pouco comuns. Contudo, em todas as sociedades esses eventos representam
perigo.
Considerando as observações feitas por Mattedi e por Tobin e Montz
expostas acima, pode-se compreender que o estudo dos desastres naturais é
importante em todo o mundo, independente da situação econômica ou social de um
país.
Para melhor compreender os diversos conceitos relacionados aos desastres
naturais, explora-se a seguir diversas definições sobre a etimologia e significado de
alguns dos termos mais utilizados nessa temática, iniciando pela palavra risco.
“Risco (risk) é utilizado pelos geógrafos como uma situação que está no futuro
e que traz a incerteza e a insegurança. Assim, há regiões de risco (regions of risk)
ou regiões em risco (regions at risk)” (MARANDOLA JR; HOGAN, 2004, p.100).
Segundo os autores, a palavra ‘risco’ assume atualmente um sentido negativo:
danoso, de perigo, ao contrário daquele aceito na pré-modernidade em que este
termo (risco) poderia determinar algo bom ou ruim (risco do jogo ou risco do direito
marítimo) (LIEBER; ROMANO-LIEBER, 2002 apud MARANDOLA JR.; HOGAN,
1994, p.101).
Segundo Marandola Jr. e Hogan (1994), não há uma palavra correspondente
em português e que exprima o verdadeiro significado do termo hazard. Segundo
Monteiro (1991, apud MARANDOLA JR.; HOGAN, 2006), os franceses e espanhóis
optaram por utilizar a palavra risco como tradução para o termo hazard. Para o
autor, esta escolha se deu pelo fato de que o risco considera os componentes
antropogênicos e a possibilidade de perigo.
De acordo com esta idéia, Aneas de Castro (2000) define: risco é a
probabilidade de ocorrência de um perigo. Segundo a autora, El concepto incluye la
probabilidad de ocurrencia de un acontecimiento natural o antrópico y la valoración
por parte del hombre en cuanto a sus efectos nocivos (vulnerabilidad)
10
10
O conceito inclui a probabilidade de ocorrência de um acontecimento natural ou antrópico e a
valorização por parte do homem em relação a seus efeitos nocivos (vulnerabilidade).
. Além
disso, afirma que quando é possível calcular a probabilidade de acontecimento de
um evento, é possível definir um risco. Em oposição a isso, quando não pode-se
calcular probabilidades e tudo que existe é uma intuição de critério pessoal, trata-se
de uma situação incerta (ANEAS DE CASTRO, 2000).
41
Em relação ao termo perigo, a autora define: “é a ocorrência ou ameaça de
ocorrência de um acontecimento natural ou antrópico”, e ressalta que esta definição
se refere tanto ao ato em si quanto do potencial do seu acontecimento. Considera
que pode ser utilizado como substituição à palavra hazard, e aponta que os perigos
naturais só se convertem em perigo se afetam o homem (assim como foi apontado
sobre o termo hazard por diversos autores anteriormente). A autora ressalta ainda
que existem perigos naturais (quando o fenômeno que produz o dano tem a sua
origem na natureza), perigos antrópicos (quanto têm a sua origem nas ações
humanas) e perigos ambientais (quando m causas combinadas naturais e
antrópicas) (ANEAS DE CASTRO, 2000, p.3).
Ao analisar a etimologia da palavra risco, Monteiro (1991 apud MARANDOLA
JR.; HOGAN, 2006, p.101) argumenta ainda que a palavra está ligada aos termos do
latim risicu e riscu, também ligados a resecare, que significa ‘cortar’. Neste caso,
Monteiro (1991) encara este sentido apropriado ao termo hazard, que significa uma
ruptura numa continuidade. Em uma análise semelhante, Aneas de Castro (2000)
afirma que o termo riesgo (do espanhol) se relaciona com o castelhano antigo
resegue (ressecar, cortar), muito usado na Idade Média como sinônimo de lucha
(luta, combate). A autora indica que é provável que todo o grupo riesgo-risco’ tenha
procedência do latim resecare (cortar), que tem duas vertentes: por um lado o
significado de divisão, discórdia, e de outro, lugar quebrado e fragmentado
11
Monteiro (1991 apud MARANDOLA JR.; HOGAN, 2004, p.101) sugere, ainda,
a utilização do termo acidentepara substituição do termo climatic hazards’. O autor
reconhece que em um sentido amplo, este termo possui uma noção de
acontecimento imprevisto, casual, e apresenta uma aceitação mais ampla nas
línguas contemporâneas. Além disso, o termo acidente também transmite a noção
de corte ou ruptura, assemelhando-se ao termo risco.
.
Contudo, Marandola Jr. e Hogan (2004) analisam que, ao considerar a
tradição os estudos geográficos (onde os termos risk e hazard aparecem
combinados) e as teorias sociológicas do risco (sociedade de risco e modernização
reflexiva), o uso do termo ‘acidente’ e do termo ‘risco’ (utilizado pelos franceses e
11
Etimologicamente, risco provém de rísico ou rischio (perigo). Acredita-se que pode ter origem
comum com a palavra castelhana risco: penhasco escarpado, perigoso, promontório risco que se
aplica também ao perigo que se corria ao transitar por penhascos escarpados ou promontórios
escarpado (ANEAS DE CASTRO, 2000, p.2).
42
espanhóis como exposto anteriormente) e insatisfatório para a substituição do termo
hazard.
Em estudos mais atuais que discutem hazards pode-se encontrar maiores
esclarecimentos quanto à tradução deste termo, como em Smith e Petley (2009,
p.13):
Risk is sometimes taken as synonymous with hazard but risk has the
additional implication of the statistical chance of a particular hazard actually
occurring. Hazard is best viewed as a naturally occurring or human-induced
process, or even, with the potential to create loss, i.e. a general source of
future danger. Risk is the actual exposure of something of human value to a
hazard and is often measured as the product of probability and loss
12
.
Para ilustrar a diferença entre hazard e risk, os autores citam como exemplo
duas pessoas que tentam atravessar o oceano: uma em um grande navio e outra em
um barco a remo. Os autores analisam, utilizando-se deste exemplo, que apesar de
o perigo exposto por um evento natural (terremotos, por exemplo) parecer similar
para todo o mundo, ele é percebido de maneira diferente em países com índices de
desenvolvimento maiores e ricos (no exemplo representados pelo grande navio) ou
aqueles com índices de desenvolvimento menores e mais pobres (no exemplo
representados pelo barco a remo). Contudo, destacam que a população de países
mais pobres e menos desenvolvidos (barco a remo) são mais vulneráveis a estes
eventos em relão àquelas que eso em países mais ricos e desenvolvidos
(grande navio). Além disso, os autores destacam que o termo disaster (desastre) é
usado quando há ummero grande de pessoas afetadas de alguma maneira por
um evento.
12
Risco é algumas vezes entendido como sinônimo de perigo, mas risco tem a implicação adicional de
a chance de um determinado perigo acontecer. Perigo é melhor entendido como um processo que
ocorre naturalmente ou por indução humana, ou ainda, com o potencial de proporcionar perda, ou
seja, uma fonte de perigo futuro. Risco é a exposição atual de algo que tenha valor humano ao
perigo e é usualmente medido como o produto da probabilidade e perda.
43
The hazard (deep water and large waves) is the same in both cases but the
risk (probability of capsize and drowning) is very much greater for the person
in the rowing boat. This analogy shows that, whilst the type of danger posed
by earthquakes for example may be similar throughout the world, people
in the poorer, less developed countries are often more vulnerable and at
greater risk than those in the richer, more developed countries. When large
numbers of people are killed, injured or affected in some way, the event is
termed disaster. Unlike hazard and risk, a disaster is an actual happening,
rather than a potential threat, so we may define: disaster (actual
consequence) the realization of hazard
13
(SMITH; PETLEY, 2009, p.13).
Ainda sobre o termo desastre, Aneas de Castro (2000, p.3) define como “o
conjunto de danos, conseqüência ou produto de um perigo”, e relaciona com o
acontecimento súbito e inesperado que traz prejuízos à vida dos indivíduos e
impactos severos à vida de uma comunidade, tanto em perdas humanas quanto
físicas de forma a trazer prejuízos à estrutura social e ao seu funcionamento. A
autora ressalta ainda que os termos desastre e perigo devem ser utilizados
separadamente, pois o segundo implica num ato de destruição e o segundo indica o
potencial de ocorrência de uma destruição. Aponta que o termo catástrofepode ser
utilizado de maneira equivalente ao termo desastres e o define como um
“acontecimento nefasto e fora do comum que altera a ordem regular das coisas”
(ANEAS DE CASTRO, 2000, p.3).
Beck (2006) aponta que os conceitos de risco e catástrofe são contrários:
risco está relacionado à antecipação da catástrofe, que o risco não é real, está ‘se
tornando real’. Aponta ainda que no momento em que o risco se torna real, ele deixa
de ser um risco e passa a se tornar uma catástrofe. Beck dá ênfase ao aspecto de
antecipação relacionado ao risco, ou seja, a situação anterior ao acontecimento de
uma catástrofe. O autor enfatiza que o risco está relacionado a um estado de
‘virtualidade’ e que o estado de antecipação do acontecimento de uma situação
13
O perigo (águas profundas e ondas grandes) é a mesma em ambos os casos, mas o risco
(probabilidade de capotar e afogar-se) é muito maior para aquela pessoa que está no barco a remo.
Esta analogia mostra que, embora o tipo de perigo causado por terremotos, por exemplo, pareça
similar para todo o mundo, a população dos países menos desenvolvidos é mais vulnerável e corre
um risco maior em relação àquelas populações de países mais ricos e desenvolvidos. Quando um
número grande de pessoas é morta, ferida ou afetada de alguma maneira, de certo modo, o evento
é chamado de desastre. Diferente de perigo e risco, o desastre é um acontecimento real, ao invés
de apenas uma ameaça, então define-se: desastre (conseqüência real) a realização de um perigo.
44
adversa é muito explorado pela mídia e que sem este estado não há risco
14
Para relacionar os conceitos de risco, perigo e desastres, Aneas de Castro
expõe um gráfico com breves definições dos conceitos e sua relação (Figura 7).
. Assim,
se o estado de destruição e desastre é antecipado, isso acarreta em ações, ou seja,
o estado de risco pode servir como motivação para ações que podem servir para a
prevenção do acontecimento dessas situações.
Figura 7 – Fluxograma de Relação entre os Conceitos de Risco, Perigo e Desastre
Fonte: Adaptado de Aneas de Castro (2000, p.6).
Ao analisar a figura acima e as considerações feitas pela autora, é possível
entender que o conceito de risco está mais ligado à possibilidade de ocorrência de
um perigo. O termo desastre, por sua vez, se define pelas conseqüências do
acontecimento de um perigo, ou seja, após o acontecimento do fenômeno. O termo
perigo' pode-se entender como o acontecimento do fenômeno em si.
14
[…] Risco não significa catástrofe. Risco significa a antecipação da catástrofe. O risco existe em um
estado virtual permanente, e apenas se torna concreto à medida que eles são antecipados. Os
riscos não são ‘reais’, eles estão ‘se tornando reais’. No momento em que os riscos se tornam reais
por exemplo, como um ataque terrorista eles deixam de ser riscos e passam a ser catástrofes.
Riscos já se situam em outras situações: para a antecipação de ataques futuros, inflação, novos
mercados, guerras ou a redução das liberdades civis. Riscos sempre são eventos ameaçadores […]
se destruição e desastres podem ser antecipados, então isso produz uma compulsão para agir
(BECK, 2006, p.4).
45
Beck (1992) relaciona o conceito de risco ao momento atual da sociedade e
ao seu modo vida (risk society): em sua definição, está ligado ao modo de vida
moderno, isto é, o desenvolvimento da ciência e tecnologia introduziu na sociedade
novas ameaças de efeitos imprevisíveis, colocando não apenas a civilização em
risco, mas todo o planeta. A sociedade estaria em um estado de risco constante,
pois não pode-se prever os riscos e as conseqüências de suas atividades. Para
exemplificar, Beck cita o fato de que os descobridores do gás clorofluorcarbono
(CFC) levantam a hipótese que o gás poderia ter efeito destrutivo sobre a camada
de ozônio, 45 anos após a sua descoberta. Ou seja, os avanços tecnológicos feitos
pelo homemm conseqüências desconhecidas (como no caso do gás CFC) que
podem afetar e prejudicar toda a sociedade e o meio ambiente
15
Ainda segundo Beck (1992, p.21), o conceito de risco pode ser definido como
“uma forma sistemática de lidar com os hazards e as inseguranças induzidas e
introduzidas pela própria modernidade”. Segundo Beck, o risco, ao contrário de
outros perigos, é uma conseqüência relativa à força ameaçadora da modernidade e
à sua globalização de incertezas (BECK, 1992). Beck coloca ainda que o risco não é
uma invenção da modernidade, mas o que diferencia a percepção do risco
atualmente da percepção de outras épocas é o seu alcance: aqueles que se
lançavam em longas viagens marítimas para descoberta de novos continentes
(como Colombo) expunham-se a certos riscos. Esses riscos, segundo Beck, eram de
natureza pessoal, diferentes dos riscos atuais que caracteriza como uma ameaça de
auto-destruição de toda a vida no planeta (BECK, 1992).
(BECK, 1992;
BECK, 2006).
Beck coloca ainda que a situação atual da sociedade de risco que, por muitos
é apontada como conseqüência da preocupação do próprio homem, é agravada pela
‘histeria e pela política do medo praticada pela mídia:
15
Em 1974, aproximadamente 45 anos após a descoberta do agente refrigerante CFC, de tudo o que
poderia acontecer, os químicos Rowland e Molina levantaram a hipótese de que os CFCs destróem
a camada de ozônio da estratosfera e, como resultado, a radiação ultra-violeta mais intensa iria
atingir a terra. A corrente de efeitos colaterais não previstos iria levar à mudanças climáticas, que
ameaçariam a existência humana. Quando refrigeradores foram criados ninguém poderia saber ou
nem mesmo suspeitava que eles poderiam fazer uma contribuição muito maior para o aquecimento
global (BECK, 2006).
46
Modern society has become a risk society in the sense that it is increasingly
occupied with debating, preventing and managing risks that itself has
produced. That may well be, many will object, but it is indicative rather of a
hysteria and politics of fear instigated and aggravated by the mass media
16
(BECK, 2006, p.4).
Pelo exposto acima pode-se entender que, para o autor, o conceito de risco
está ligado com os efeitos das atividades do homem sobre o meio, ou seja, os
efeitos que as suas atividades e descobertas exercem sobre o ambiente. Os
avanços tecnológicos e científicos, e as descobertas e inovações provenientes
dessas atividades, podem trazer benefícios para o homem (como no exemplo do gás
CFC, que em um primeiro momento é benéfico para o homem, pois permite a
refrigeração de alimentos, por exemplo), mas que têm efeitos desconhecidos sobre o
meio ou sobre o próprio homem.
2.2 VULNERABILIDADE SOCIOAMBIENTAL
A noção de vulnerabilidade vem sendo debatida na esfera científica em
diversas áreas. No campo da economia, o conceito de vulnerabilidade está ligado ao
desempenho econômico diante de adversidades externas e também à integração
econômica que visa evitar o ingresso de famílias e domicílios em crises econômicas.
O termo vulnerabilidade, quando utilizado na geografia, está diretamente ligado “às
probabilidades de ser afetado negativamente por um fenômeno geográfico e/ ou
climático”. Ou seja, as áreas e populações que podem ser atingidas por algum
evento adverso (terremotos, enchentes etc.) são mais vulneráveis. Atualmente, este
conceito vem tomando um caráter social, mais vinculado aos grupos socialmente
vulneráveis, ou seja, determinados grupos (normalmente as classes mais pobres)
possuem menor capacidade de resposta positiva frente a eventos adversos
(DESCHAMPS, 2004, p.18).
16
A sociedade moderna tornou-se ‘sociedade de risco’ na medida em que está cada vez mais
ocupada com o debate, prevenção e gerenciar o risco que ela própria produziu. Isso pode ser
verdade, como muitos irão protestar, mas denuncia uma histeria e uma política do medo instigada e
agravada pela mídia de massa.
47
É importante apontar a adoção do conceito de “vulnerabilidade estreitamente
vinculada à pobreza [...] e como componente de crescente importância dentro do
complexo de desvantagens sociais e demográficas que se delineiam na
modernidade tardia”. Ainda, pode-se apontar a noção da vulnerabilidade vinculada
à relação entre população e desenvolvimento, que pode ser vista como “o aspecto
negativo mais relevante do modelo de desenvolvimento baseado na liberalização da
economia e na abertura comercial e como a manifestação mais clara da carência de
poder que experimentam grupos específicos, mas numerosos, da humanidade”
(DESCHAMPS, 2004, p.19).
Ainda em relação à adoção da vulnerabilidade como um conceito social e
reflexo do modelo de desenvolvimento vivenciado pelo Brasil no último século,
Hogan et al. (2000, p.2) apontam que a lógica da sociedade industrial baseada no
consumo produz, ao mesmo tempo, “estresse ambiental e padrões sócio-espaciais
que localizam a vulnerabilidade em grupos sociais específicos”. Destaca que a
distribuição desigual de serviços de infra-estrutura urbana, além de padrões
socioeconômicos e demográficos distintos, é um componente importante da
vulnerabilidade (HOGAN et al., 2000, p.2).
Em relação aos termos relacionados à análise socioambiental feita neste
estudo, Grazia e Queiroz definem espaço socioambiental como “aquele onde vivem
e no qual articula indissoluvelmente sociedade e meio ambiente”. Consideram ainda
que é papel dos gestores urbanos “buscar a sustentabilidade socioambiental, ou
seja, que a evolução da cidade não implique crescente esgotamento dos recursos
naturais e exclusão de parcelas sociais”. Estes autores consideram, ainda, que a
condição de pobreza de uma população está vinculada àformação de riscos e de
vulnerabilidade socioambiental (GRAZIA; QUEIROZ, 2001, p.15 apud MENDONÇA,
2004, p.141).
Mendonça (2004, p.141) aponta que, além das condições da vida e habitação
em que vive a parcela da população que ocupa áreas periféricas, sem estrutura e
que não interessam ao mercado imobiliário, tendo como foco principal para
compreensão da dinâmica ocupacional dos espaços nas “periferias geográficas e
sociológicas urbanas brasileiras” as relações capitalistas de produção, “reforça as
48
concepções de segregação social e espacial e de exclusão de parcela importante da
população do país”
17
Ainda acerca do assunto referente à pobreza relacionada ao conceito de
vulnerabilidade, Ultramari, Rezende e Firmino (2008, p.15) afirmam que:
.
Do mesmo modo que pobreza e desastre ambiental são fenômenos
diretamente proporcionais no Brasil, a mesma relação se observa em
termos de diferenças étnicas em outros países, o que confirma, assim, o
entendimento de vulnerabilidade como um conceito social.
A partir das informações expostas acima, pode-se entender que para a
construção do conceito de vulnerabilidade como um conceito social (vulnerabilidade
social) diversos aspectos devem ser considerados. A análise do modelo de
desenvolvimento de uma população permite a compreensão de alguns itens
relevantes para a análise da vulnerabilidade como, no caso brasileiro, pode-se
considerar que o modelo de desenvolvimento baseado em uma sociedade
consumista contribuiu para a ocupação das áreas periféricas dos centros urbanos
pela população de baixa renda, vinda do campo devido à desintegração do sistema
de produção rural. Castro (1997, p.3) afirma que a crise econômica desenvolvida no
país na década de 1970 gerou reflexos negativos sobre o processo de
desenvolvimento social e sobre a segurança das comunidades relativa a desastres,
na medida em que aumentaram os movimentos migratórios e o êxodo rural,
intensificando a formação de “bolsões e cinturões de extrema pobreza no entorno
das cidades de médio e grande porte”. Afirma ainda que o crescimento desordenado
das cidades, a redução do estoque de terrenos em áreas seguras e a conseqüente
valorização imobiliária podem ser entendidas como condicionantes dos desastres à
medida que provocam “adensamentos dos estratos populacionais mais vulneráveis
17
[...] a par do comportamento especulativo do capital imobiliário, os pobres são muitas vezes
impelidos a criar uma cidade ilegal nos interstícios da cidade legal, muitas vezes aproveitando áreas
públicas ociosas e/ou de preservação ambiental, incapazes que são de competir no mercado formal
da terra urbana. Enquanto o consumo de produtos modernos é estimulado pela mídia e facilitado
pelo crédito, o mesmo não ocorre em relação à habitação. Esses moradores constróem por seus
próprios meios suas moradas, sem assistência técnica ou financiamento, já que a irregularidade
fundiária implica, em geral, em fortes obstáculos ao acesso ao crédito e aos programas
habitacionais oficiais. As favelas, mocambos, alagados ou assentamentos clandestinos ou
irregulares surgem, proliferam-se, adensam-se, constituindo a única alternativa habitacional para
uma grande parte da população que enfrenta, nesse caso, a insegurança quanto à permanência e à
precariedade das condições locais (GRAZIA; QUEIROZ, 2001, p.44 apud MENDONÇA, 2004,
p.141).
49
em áreas de riscos mais intensos”. Essas afirmações permitem entender que a
ocupação intensa dos centros urbanos observada na segunda metade do século XX
teve como uma de suas conseqüências a ocupação de áreas periféricas e áreas de
riscos (encostas, fundos de vale etc.) pela população de baixa renda, que não mais
tinha condições de ocupar as regiões centrais pela valorização destes locais
(CASTRO, 1997, p.3; CRISTO, 2002).
Outro importante aspecto que contribui para a formação do conceito de
vulnerabilidade está relacionado à condição de pobreza em que vive uma parte da
população em todo o mundo
18
Ao debater sobre a condição social como um fator determinante para a
vulnerabilidade de uma população, Marandola Jr. e Hogan (2006) ressaltam a
existência de “mecanismos locais em todas as escalas” que servem como filtros
antes de chegar aos indivíduos e famílias, amortecedores dos impactos. Apontam a
própria condição social como um fator determinante da maneira como irá se
enfrentar um risco. Também entendem estes elementos amortecedores dos riscos,
como a “capacidade de resposta”, um dos principais componentes da
vulnerabilidade.
. As áreas ocupadas por essa população
(normalmente que apresentam algum tipo de risco ambiental como aquelas
suscetíveis às enchentes e fundos de vales) e o seu baixo poder aquisitivo tornam
essa população mais vulnerável aos efeitos causados por desastres naturais e
menos preparadas para responder a esses eventos, ou seja, com baixa “capacidade
de resposta”.
Ao concluir um estudo sobre a vulnerabilidade socioambiental na região
Metropolitana de Curitiba, Deschamps (2004, p.140) aponta
[...] há uma estreita relação entre a localização espacial dos grupos que
apresentam desvantagens sociais e aquelas áreas onde há o risco de
ocorrer algum evento adverso, ou seja, populações socialmente vulneráveis
se localizam em áreas socialmente vulneráveis.
Fazendo ressalvas ao exposto acima, Ultramari, Rezende e Firmino (2008,
p.16) ressaltam a importância da idéia de que “nem todas as situações de carência
18
“Os favelados, embora sejam apenas 6% da população urbana dos países desenvolvidos,
constituem espantosos 78,2% dos habitantes urbanos dos países menos desenvolvidos; isso
corresponde a pelo menos um terço da população urbana global” (DAVIS, 2006, p.34)
50
socioeconômica indicam vulnerabilidades a fenômenos adversos e que nem todas
as sociedades pouco vulneráveis não sejam carentes”. Além disso, apontam que o
entendimento da vulnerabilidade
[...] se afasta da idéia de algo absoluto e se formata como algo relativo,
passível de ocorrer em determinadas situações, permitindo então variações
num mesmo indivíduo ou comunidade: ser vulnerável a um determinado
impacto e, ao mesmo tempo, não ser em relação a outro (ULTRAMARI;
REZENDE; FIRMINO, 2008, p.16).
Em relação às observações feitas acima, pode-se entender que a condição
social pode ser encarada como um componente importante para a determinação da
“capacidade de resposta de uma determinada população a um evento adverso, ou
seja, a condição social de uma comunidade por vir a torná-la, em conjunto com
outros fatores, mais ou menos vulnerável a um evento. É possível entender tamm
que a vulnerabilidade deve ser encarada como um fator relativo, ou seja, não é igual
para todas as populações nem em todas as situações. Se um determinado fator
contribui para o aumento da vulnerabilidade de uma comunidade pode, em uma
situação diferente ou diante de outra populão, contribuir para a diminuição da sua
vulnerabilidade.
Confalonieri (2003, p.200) define: “o conceito de vulnerabilidade social de
uma população tem sido utilizado para a caracterização de grupos sociais que são
mais afetados por stress de natureza ambiental, inclusive aqueles ligados ao clima.
Aponta ainda que o estudo da vulnerabilidade social e ambiental das populações
sujeitas aos efeitos dos impactos climáticos na sua integridade física e bem-estar é
de fundamental importância para a orientação de ações preventivas
(CONFALONIERI, 2003, p.200).
Pode-se entender, então, a partir das considerações de Confalonieri (2003)
que vulnerabilidade social trata do risco a que se expõe uma populão em relação
aos efeitos adversos da natureza, e que o estudo desses fatores é decisivo para a
formulação de políticas e ações preventivas.
Acerca da temática que trata da interação de diversas variáveis para a
construção da vulnerabilidade, Davis (2001 apud DESCHAMPS, 2006), ao debater
51
sobre os problemas ambientais e sociais encontrados na cidade de Los Angeles
19
Em relação a essa mesma iia (de que a interação de fatores de diversas
ordens é decisiva para a construção da vulnerabilidade), a United Nations
Development Programme (UNDP, 2004) afirma que a vulnerabilidade humana é uma
condição ou processo que resulta de fatores físicos, sociais, econômicos e
ambientais que determinam a probabilidade e escala de prejuízos causados pelo
impacto de um determinado desastre.
,
aponta que não apenas os perigos naturais (localização geológica desfavorável,
suscetível a terremotos), mas ao relacionar este fator com grandes problemas de
ordem social pode tornar um local vulnerável a desastres.
Human vulnerability includes within it the vulnerability of social and economic
systems, health status, physical infrastructure and environmental assets. It is
possible to look at these subsets of vulnerable systems in isolation, but here
we are concerned with the broad picture of human vulnerability
20
(UNDP,
2004, p.11).
A partir dessas afirmações, pode-se entender que a vulnerabilidade humana,
aqui entendida como a vulnerabilidade de uma sociedade, é uma condição
resultante da interação de fatores de diversas ordens (físicas, sociais, econômicas e
ambientais) que irá condicionar o quanto uma sociedade será impactada por um
desastre. Pode-se verificar, então, que os fatores econômicos e sociais não são
isoladamente decisivos para a contribuição do aumento da vulnerabilidade de uma
sociedade, mas sim a sua interação com outros fatores.
Em relação ao que se entende por vulnerabilidade urbana, Dubois-Maury e
Charline (2002, p.10 apud MENDONÇA, 2004, p.142) definem que:
19
[...] Além da localização geologicamente desfavorável, propensa a terremotos, que tornou Los
Angeles uma zona de risco, a especulação imobiliária e o crescimento horizontal descontrolado
tornaram a cidade vulnerável a desastres de toda natureza: ”o que é mais característico de Los
Angeles não é simplesmente a conjugação de terremotos, incêndios silvestres e enchentes, mas
suamistura explosiva, única, de perigos naturais e condições sociais” (DAVIS, 2001, apud
DESCHAMPS, 2006, p.20).
20
A vulnerabilidade humana inclui a vulnerabilidade dos sistemas econômicos e sociais, condição de
saúde, infra-estrutura física e parâmetros ambientais. É possível olhar para cada uma dessas partes
de sistemas vulneráveis separadamente, mas aqui preocupa-se com a vulnerabilidade humana
como um todo.
52
A vulnerabilidade urbana aos riscos, sejam eles endógenos ou exógenos, é
uma noção complexa porque pode ter conteúdos humanos, econômicos,
patrimoniais, tecnológicos e organizacionais que se diversificam no espaço
e no tempo. O fato fundamental reside na acumulação de homens e de
atividades que é própria da cidade, mas que induz à fragilidade [...]
Mendonça (2004, p.142) aponta ainda que as manifestações da natureza
(Natural Hazards) e o meio ambiente são os dois principais fatores “responsáveis
pelo maior número de problemas socioambientais urbanos”. Coloca ainda que para a
análise dos riscos urbanos estes dois principais fatores não são suficientes,
tornando-se necessário o envolvimento da análise socioeconômica, cultural e política
da sociedade.
Mattedi (2009) caracteriza a vulnerabilidade como “o efeito relacional da
insegurança produzida pelo desacoplamento da base material e simbólica que
associam o mundo social ao mundo natural de uma comunidade ou população”.
Aponta como causas da vulnerabilidade o rápido crescimento urbano em áreas de
risco, o uso inadequado de tecnologias, os estilos de vida predominantes e a não
consideração da visão e percepção dos grupos vulneráveis. Assim, constata que os
“processos sociais geram comunidades e populações mais vulneráveis que outras
aos desastres: a vulnerabilidade não é uma propriedade de indivíduos ou grupos
sociais específicos, mas constitui o resultado das relações sociais que estes
indivíduos estabelecem entre si e com grupos sociais”. Em seguida, aponta que “o
ponto chave para o entendimento da vulnerabilidade está relacionado ao sentido em
que os indivíduos percebem a situação, em toda a sua complexidade, e como eles
reagem a ela: não se é vulnerável sozinho, mas também não se é resiliente
sozinho”.
A partir das afirmações expostas acima, pode-se entender que a
vulnerabilidade de uma população está relacionada com as relações de diferentes
estratos da população dentro de uma sociedade, ou seja, a partir da maneira como
se dão as relações sociais e a compreensão e o atendimento às necessidades e
percepção dos grupos, inclusive aqueles que se encontram em situações mais
vulneráveis por causas diversas, são gerados processos que determinam a
vulnerabilidade dessa população.
Mattedi (2009) coloca ainda que, do ponto de vista sociológico, “a
vulnerabilidade está associada à capacidade social de enfrentar a perda da base
53
simbólica que impede a comunidade de compreender a base material, e da perda da
base material que impede as representações simbólicas”
21
Assim, é possível entender que o autor coloca que alguns fatores que
contribuem positivamente para a capacidade de resposta da população (localização
de uma residência, por exemplo) podem, a partir de um acontecimento (enchente,
chuvas fortes etc.) que cause danos a esses fatores (deslizamento de terra que
destruiu a residência) e que após esse evento, passam a ter uma representação
negativa para a mesma população (a residência deixou de representar um local
seguro). Ou seja, com o aumento da vulnerabilidade causado por um evento (que,
por sua vez, possivelmente poderia ter sido evitado pelo poder público local por meio
de ações preventivas), a resiliência (capacidade de resposta) da população atingida
diminui.
, e sintetiza: “quanto
maior a vulnerabilidade, menor a resiliência”.
Acerca da temática que aborda as contribuições antrópicas para a construção
da vulnerabilidade, Valêncio et al. (2004) afirmam que as áreas de risco para uma
população não são criadas apenas pelas circunstâncias naturais prévias ou seja,
os fatores característicos do ambiente natural, tais como susceptibilidades
geomorfológicas de terrenos com declividade acentuada, fundos de vale, entre
outros, que podem ser combinados com outros fatores de ordem natural, como as
chuvas mas tamm são construídas a partir de ações antrópicas que podem
interferir no meio, que os autores classificam como ações sociais (por exemplo:
impermeabilização de terrenos), decisões econômicas (por exemplo: formação de
loteamentos clandestinos ou irregulares) e de caráter político (por exemplo:
instrumentos que regulamentam as práticas individuais e coletivas que podem
influenciar na forma de ocupação).
A partir do exposto acima é possível observar que os autores consideram que
a área de risco para uma população é definida tanto por fatores naturais quanto por
interferências causadas pelo homem, ou seja, a combinação desses fatores é fator
determinante para a vulnerabilidade da população em um determinado local.
21
O autor cita como exemplo: Após uma enchente a localização da casa que era representada como
um lugar seguro passa a significar uma ameaça, ao mesmo tempo em que a ameaça gerada pela
localização da casa provoca uma representação negativa do bem estar subjetivo como
culpabilidade pela negligência” (MATTEDI, 2009).
54
Em uma análise feita no município de São Carlos, que trata da questão da
vulnerabilidade dos diferentes estratos da população aos danos causados pelas
chuvas, os autores (VALÊNCIO et al., 2004, p.95) apontam que, apesar de ser
possível afirmar que todas as camadas da população tenham sido afetadas pelo
mesmo tipo de dano, as “perdas privadas” (ameaça de desabamento de muro,
inundação e destelhamento de residência, alagamento de veículo, etc.) e as perdas
da infra-estrutura pública essencial (rede elétrica, problema de distribuição de água,
erosão em via pública, etc.) atingem as famílias mais pobres com maior severidade,
pois essa população apresenta “condições recuperativas” mais difíceis e que,
portanto, o poder público deve orientar a priorização de gastos para a recuperação
da rotina dessa população (vias de transporte coletivo, escolas, entre outros) “a fim
de não ampliar a vulnerabilidade social desse grupo”.
A partir dessas considerações, é possível afirmar que, apesar de os desastres
naturais atingirem as diversas camadas da população, a condição social torna-se um
fator de grande importância para a determinação da vulnerabilidade de uma
população aos desastres, bem como da sua resiliência, ou seja, da sua capacidade
de recuperação frente a um evento adverso e aos danos por ele causados.
Acerca da temática que aborda a relação entre população e desenvolvimento
(já apontado nos primeiros parágrafos desta subseção), são expostos aqui alguns
autores que fazem abordagens relativas ao tema. Ao fazer uma abordagem
integrada sobre os desastres naturais, Tobin e Montz (1997) apontam que diversos
fatores advindos do crescimento urbano principalmente aquele vivenciado no
último século - contribuíram para situações de risco e aumento da vulnerabilidade:
Rising populations, finite resources, spatial inequalities in resource
distribution, the marginalization of specific groups, and greater global
interdependence all contribute to a harzardous world beset with continuing
risk and increasing vulnerability
22
(TOBIN; MONTZ , 1997, p.322).
A UNDP (2004) expõe alguns dados estatísticos que ajudam a compreender a
relação entre o desenvolvimento urbano e o risco de acontecimento de desastres:
22
Populações crescentes, recursos finitos, distribuição espacial de recursos desigual, a
marginalização de grupos específicos, e grande interdependência global, todos esses fatores
contribuem para que um mundo perigoso seja cercado de risco contínuo e crescente
vulnerabilidade.
55
About 75 percent of the world’s population live in areas affected at least
once between 1980 and 2000 by earthquake, tropical cyclones, flood or
drought. As a result of disasters triggered by these natural hazards, more
than 184 deaths per day were recorded in different parts of the world.
Deaths indicate only the tip of the iceberg in terms of losses in the quality of
life, livelihoods and economic development, and are unevenly distributed
around the world. While only 11 percent of the people exposed to natural
hazards live in low human development countries, they account for more
than 53 percent of total recorded deaths. Development status and disaster
risk are clearly closely linked
23
(UNDP, 2004, p.9-10).
Pelo exposto acima é possível afirmar que, apesar de grande parte do planeta
ser atingido por algum tipo de desastre no período analisado, a parcela mais pobre
apesar de apresentar um pequeno percentual de atingimento pelos eventos é a
parcela que apresenta maior número de mortes relacionadas aos desastres
analisados. Isso pode levar a entender que o nível de desenvolvimento dos países e
a sua vulnerabilidade estão intimamente relacionados.
Ainda em relação à questão do número de pessoas atingidas por desastres
naturais e suas classes sociais, a Figura 8 permite observar que ummero muito
mais elevado de pessoas que pertencem às classes que possuem rendas baixa e
média baixa foram mortas em desastres naturais no período analisado (1973 a 2002)
em relação ao número de pessoas mortas nesses eventos que fazem parte das
classes que apresentam rendas média alta e alta.
23
Cerca de 75 por cento da população mundial vive em áreas que foram afetadas pelo menos uma
vez entre 1980 e 2000 por terremotos, ciclones tropicais, enchentes ou secas. Como resultado dos
desastres causados por estes perigos naturais, mais de 184 mortes diárias foram contabilizadas em
diferentes partes do mundo. As mortes indicam apenas a ‘ponta do iceberg’ em termos de perda na
qualidade de vida, meios de subsistência e desenvolvimento econômico, e são distribuídos de
maneira desigual pelo mundo. Enquanto apenas 11 por cento das pessoas expostas a perigos
naturais vivem em países com baixo desenvolvimento humano, esses locais contabilizam mais de
53 por cento do total de mortes. Status de desenvolvimento e risco de desastres estão fortemente
ligados.
56
Figura 8 – Gráfico do Número de Pessoas Mortas de Acordo com a Classe Social (Renda) e Tipo de
Desastre no Mundo de 1973 2002
Fonte: EM-DAT (2004 apud UN/ISDR, 2004).
Os dados expostos pela Figura 8 permitem verificar que a classe social (neste
caso separado por renda) foi um fator determinante em relação ao número de
mortes relacionadas aos desastres naturais e aos tipos de desastres que atingem as
diferentes classes. Percebe-se, então, que população pertencente às classes de
renda mais baixa é mais vulnerável aos desastres do que a população das classes
de renda mais alta.
É possível apontar duas situações que inter-relacionam os desastres e as
características socioeconômicas de uma população (ULTRAMARI; REZENDE;
FIRMINO, 2008):
a) “os impactos gerados por acidentes resultam de uma íntima e longa
relação entre sociedade e natureza e podem inclusive questionar modelos
de desenvolvimento” (ALTVATER, 1995 apud ULTRAMARI, REZENDE;
FIRMINO, 2008, p.16);
b) “tais impactos, a despeito do caráter destruidor que caracterizam podem,
paradoxalmente, favorecer alterações necessárias nesta mesma relação da
57
sociedade com a natureza” (CARRASCO, 1992 apud ULTRAMARI,
REZENDE; FIRMINO, 2008, p.16);
c) Ultramari, Rezende e Firmino ressaltam (2008, p.16-17), ainda, que a
vulnerabilidade pode não estar, necessariamente, relacionada a uma
situação negativa, ou seja, os autores apontam que o conceito de
vulnerabilidade aceita a idéia de uma mudança benéfica “como, por
exemplo, uma melhor capacidade para incorporar os benefícios de uma
determinada política pública”.
Entende-se a partir das considerações feitas acima que, apesar do caráter
negativo que em grande parte das vezes está relacionado à vulnerabilidade, é
possível que este fator venha a proporcionar mudanças benéficas para uma
população. “Situações preliminares positivas podem assim indicar resultados e impor
sustentabilidade temporal a eventuais ganhos decorrentes de programas de
assistência” (ULTRAMARI; REZENDE; FIRMINO, 2008, p.18).
Altvater (1995 apud MATTEDI; BUTZKE, 2001) aponta algumas
considerações que reiteram a importância da relação entre sociedade e natureza,
bem como os aspectos relativos ao desenvolvimento que geram problemas
relacionados ao meio ambiente e que, por sua vez, geram impactos na sociedade de
uma maneira geral:
O aumento da freqüência e intensidade das “calamidades naturais” coloca
no centro do debate das ciências sociais as relações sociedade/natureza e
a questão da sustentabilidade do desenvolvimento. Como todos os
problemas ambientais, tamm as “calamidade naturais” se estabelecem
nos pontos de interseção entre sociedade/natureza (ALTVATER, 1995 apud
MATTEDI; BUTZKE, 2001, p.1-2).
Sobre os fatores da distribuição da população e densidade demográfica
influenciarem na questão da vulnerabilidade, Deschamps coloca que:
As metrópoles, pelo seu poder de concentração econômica, são alvo
também de forte concentração populacional, fazendo com que a
preocupação em matéria de população e meio ambiente volte-se para a
problemática da distribuição espacial da população (DESCHAMPS, 2004,
p.144).
58
A partir das colocações anteriores de Deschamps, é possível entender que,
ao considerar que os centros urbanos, por concentrarem uma grande quantidade de
pessoas em um mesmo local, ou seja, apresentarem uma densidade populacional
elevada, exercem uma pressão no meio ambiente que pode vir a gerar problemas
(tais como enchentes, deslizamentos, entre outros), ressaltando-se então, a
importância do fator de distribuição populacional para a relação entre população e
meio ambiente e, por sua vez, a vulnerabilidade da população a eventos adversos
de causas naturais.
Acerca dessa mesma temática referente à distribuição populacional e
densidade em relação à vulnerabilidade, ao discutir a relação da dimica
populacional na América Latina, Martine (1995 apud DESCHAMPS, 2004, p.16)
afirma que “a principal preocupação da região em matéria de população e meio
ambiente está relacionada à distribuição espacial e não com o crescimento da
população”, ressaltando que a transição da fecundidade se apresenta avançada na
maioria dos países, e que “a atenção deve estar focalizada nos processos de
urbanização, os quais teriam conseqüências para o meio ambiente”.
O crescimento demográfico, especialmente a explosão populacional que
ocorreu na metade do século XX, foi encarado como um problema para a questão
ambiental pelas duas principais correntes de análise, embora de maneiras distintas
(HOGAN, 2000). Para os Neomalthusianos o crescimento da população tinha uma
relação linear com a pressão sobre os recursos naturais, e passou a contar com a
explosão demográfica dos países de Terceiro Mundo como aliada à sua teoria,
afirmando que junto com o crescimento populacional, a continuidade do crescimento
da industrialização, a contaminação do meio ambiente, a produção de alimentos e
esgotamento de recursos, o planeta alcançaria o seu limite nos próximos 100 anos
(DESCHAMPS, 2004). Já a corrente progressista via o crescimento demográfico
como um agravante, mas não como principal obstáculo, para o desenvolvimento;
“taxas menores de crescimento facilitariam o crescimento econômico” (HOGAN,
2000, p.29).
É possível entender que o principal fator populacional que pode causar
impactos negativos ao meio ambiente e sobre recursos naturais não é o crescimento
demográfico isoladamente (decorrente principalmente do crescimento e
59
desenvolvimento urbano), mas principalmente a distribuição espacial da população,
ou seja, a concentração de muitas pessoas em uma mesma área.
Nesta seção buscou-se discutir os principais conceitos acerca dos desastres
naturais, os termos utilizados para esta temática e a relação do desenvolvimento
urbano e fatores populacionais com os desastres naturais. Sua revisão conclui que a
interação de diversos fatores (naturais, econômicos e sociais) contribui para a
formação de um desastre. Ou seja, a ocorrência destes fenômenos não se
apenas pelos eventos naturais (chuvas, ventos etc.), mas sim pela interação destes
com fatores de ordem antrópica (forma de ocupação do solo, perdas econômicas,
população atingida etc.).
60
3 METODOLOGIA DA PESQUISA
Essa dissertação iniciou com a proposta de discutir os desastres naturais e
antrópicos frente às vulnerabilidades socioambientais urbanas. Na seqüência do seu
desenvolvimento, ao realizar pesquisa em diversas fontes deparou-se com uma
dificuldade na delimitação do tema que, por sua vez, apresentou-se muito
abrangente por tratar de mais de um tipo de desastre. A pesquisa realizada acerca
da delimitação conceitual dos desastres revelou a existência de diferentes tipos de
análises, que tratam dos desastres naturais, antrópicos e mistos, tanto junto quanto
separadamente.
Ao dar início à busca por dados que possibilitassem o desenvolvimento de um
estudo de caso, deparou-se com a mesma dificuldade encontrada na delimitação do
tema os desastres naturais, antrópicos e mistos apresentavam-se junto ou
separadamente, dependendo da fonte e do tipo de informação. Assim, optou-se por
concentrar o foco do estudo na relação dos desastres naturais com a vulnerabilidade
socioambiental, utilizando a sua espacialização para análise, devido à
disponibilidade de informações e dados para a realização da pesquisa.
Para debater a hipótese deste trabalho, optou-se por elaborar um estudo de
caso na cidade de Curitiba. Propõe-se, por meio deste estudo, uma análise de duas
variáveis que representem os dois principais assuntos debatidos neste estudo:
desastres naturais e vulnerabilidades socioambientais.
A seguir, é descrito o método adotado para o desenvolvimento da pesquisa,
suas fases e demais características, bem como os critérios para coleta dos dados
utilizados e dados referentes à sua formulação e utilização.
Nesta pesquisa, valorizou-se o estudo de caso como ferramenta de
aproximação ao tema discutido. Um estudo de caso é definido por GIL (1987, p.78-
79) como
estudo profundo e exaustivo de um ou de poucos objetos, de maneira que
permita o seu amplo e detalhado conhecimento. [...] Se fundamenta na idéia
de que a análise de uma unidade de determinado universo possibilita a
compreensão da generalidade do mesmo ou, pelo menos, o
estabelecimento de bases para uma investigação posterior, mais
sistemática e precisa.
61
Assim, a pesquisa foi elaborada por meio do levantamento dos desastres
naturais ocorridos entre os anos de 2004 e 2008 em Curitiba, e o cruzamento destes
dados com a qualidade de vida em todos os bairros do município.
3.1 TÉCNICAS DA PESQUISA
A coleta dos dados referentes aos desastres naturais foi feita junto à
Secretaria Municipal de Defesa Social (SMDS) de Curitiba. O Índice Sintético de
Qualidade de Vida (ISQV) foi classificado por bairro a partir de informações
disponibilizadas pelo Instituto de Pesquisa e Planejamento Urbano de Curitiba
(IPPUC). As variáveis utilizadas nesta pesquisa são descritas na subseção 3.4.
A análise dos dados é feita a partir da comparação entre o número de
desastres e o Índice Sintético de Qualidade de Vida por bairro do município, por
meio da elaboração de mapas e tabulação de dados.
3.2 FASES DA PESQUISA
A realização da pesquisa seguiu basicamente às seguintes fases e passos
(nesta seção são explicitados exclusivamente os passos seguidos para a realização
do estudo de caso):
a) Fase 1 Inicialmente, buscou-se entre o material disponível sobretudo
junto à Prefeitura Municipal de Curitiba e ao IPPUC indicadores que
pudessem retratar a situação socioeconômica por um recorte que
apresentasse a escala mínima do bairro (ver subseção 3.2.1). A técnica
utilizada para esta fase foi a de pesquisa documental
24
24
Gil (1987, p.73) aponta que “a pesquisa documental assemelha-se muito à pesquisa bibliogfica. A
única diferença entre ambas está na natureza das fontes. Enquanto a pesquisa bibliográfica se
utiliza fundamentalmente das contribuições dos diversos autores sobre determinado assunto, a
. Em seguida tem-
se:
62
- Passo 1 Pesquisa e coleta do Índice Sintético de Qualidade de Vida a
partir de dados já existentes (já classificados em quatro categorias);
b) Fase 2 Coleta de informações e identificação dos acidentes naturais no
município de Curitiba entre os anos de 2004 e 2008. As técnicas utilizadas
nesta fase foram a de pesquisa documental e tabulação de dados. Em
seguida, tem-se:
- Passo 1Pesquisa em órgãos que possuem dados quantitativos relativos
aos acidentes naturais em Curitiba. A princípio, pretendia-se utilizar os
dados da Secretaria Estadual de Defesa Civil e Coordenadoria Municipal
de Defesa Civil (COMDEC), referentes aos desastres naturais classificados
conforme o sistema Codificação de Desastres, Ameaças e Riscos
(CODAR), utilizado internacionalmente. Contudo, estas informações
mostraram-se incoerentes para esta pesquisa por não possuir classificação
por bairro, inviabilizando a sua utilização. Assim, iniciou-se uma pesquisa
por outros dados e aqueles que se apresentaram mais coerentes para esta
pesquisa foram os coletados na Secretaria Municipal de Defesa Social
(SMDS) de Curitiba, que apresentam dados levantados por estes mesmos
órgãos e contam com desastres de diversas ordens;
- Passo 2 Coleta dos dados fornecidos e classificados conforme período
(aqui classificado conforme o ano de acontecimento), local (neste caso
classificado por bairro) e tipo de ocorrência (para esta pesquisa foram
selecionados os tipos de desastres que se mostraram coerentes com a
pesquisa realizada e objetivos propostosver subseção 3.4.2);
c) Fase 3 Espacialização dos dados relativos aos desastres naturais
levantados no município de Curitiba. As técnicas utilizadas nesta fase
foram a pesquisa documental e mapeamentos de dados. Em seguida tem-
se:
- Passo 1 Elaboração de mapas de distribuição dos desastres levantados
nos bairros do município de Curitiba no período analisado;
- Passo 2 - Classificação dos bairros de acordo com o número de desastres
levantados em quatro categorias (decidiu-se separar em quatro categorias
pesquisa documental vale-se de materiais que não receberam ainda um tratamento analítico, ou
que ainda podem ser reelaborados de acordo com os objetivos da pesquisa”.
63
devido ao número de intervalos encontrados na outra variável utilizada
nesta dissertação ISQV) a fim de facilitar o cruzamento e análise dessas
informações;
d) Fase 4 Elaboração de mapa síntese pelo cruzamento das informações
relativas ao número de desastres naturais e Índice Sintético de Qualidade
de Vida. As técnicas utilizadas para esta fase foram a de análise de dados
e pesquisa documental. Em seguida, tem-se:
- Passo 1 Elaboração de mapa síntese a partir das informações
levantadas nas fases 1 e 2 pelo cruzamento das informações do número de
desastres e ISQV;
e) Fase 5 Análise dos dados levantados. As técnicas utilizadas nesta fase
foram análise qualitativa e quantitativa de dados. Em seguida tem-se:
- Passo 1 Identificação da existência de algum padrão, da ocorrência de
desastres com maior freqüência em bairros com Índices Sintéticos de
Qualidade de Vida semelhantes, verificando a hipótese inicial da
dissertação.
3.2.1 Recorte geográfico e temporal
Para o estudo de caso desenvolvido nesta dissertação, utilizou-se do recorte
geográfico no município de Curitiba, mais especificamente dos bairros. A escolha por
esse recorte deu-se devido à disponibilidade de informações e à maior facilidade de
obtenção das mesmas.
Foi discutida a utilização de índice socioeconômico produzido a partir de
dados levantados pela Companhia Paranaense de Energia (COPEL) por meio dos
quais seria possível o levantamento de uma proxys da realidade socioeconômica a
partir do consumo residencial mensal médio em Kw/h. Essa poxys seria levantada a
partir do consumo mensal residencial médio em Kw/h, considerando quanto maior o
consumo médio, maior o poder econômico e melhor a situação social do
compartimento analisado. Esta informação foi considerada importante pela escala do
compartimento considerado quadrícula de 500 x 500 m e pela sua série histórica
64
(teve início por volta dos anos de 1990). Porém, este mesmo indicador foi
abandonado por representar apenas uma sugestão da situação econômica e
indiretamente uma situação social.
Optou-se pela utilização do recorte de bairros devido à disponibilidade das
informações referentes às variáveis utilizadas na pesquisa. Os dados referentes ao
Índice Sintético de Qualidade de Vida (ISQV) estavam disponibilizados de acordo
com este recorte (bairros). Os dados referentes aos desastres naturais estavam
disponibilizados por endereço (rua, número e bairro) e para que as duas variáveis
utilizadas no estudo de caso apresentassem o mesmo recorte foi adotado o recorte
de bairros.
A escolha do recorte de tempo tamm se deve à disponibilidade de
informações: os dados referentes aos desastres naturais foram disponibilizados com
o recorte temporal entre os anos de 2004 e 2008 (não foram encontrados registros
desse tipo de informação que apresentassem um recorte de tempo mais amplo); o
Índice Sintético de Qualidade de Vida (ISQV) utilizado data do ano 2000: optou-se
por esta informação dada a proximidade de período de tempo ao intervalo da outra
variável.
A Figura 9 mostra a localização dos bairros de Curitiba.
65
Figura 9 – Mapa de Localização dos Bairros do Município de Curitiba
Fonte: Elaborado com base em IPPUC (2003).
3.3 REFERENCIAIS DO RECORTE ESPACIAL DO ESTUDO DE CASO
Nesta subseção, são apresentados alguns dados referentes ao município de
Curitiba, utilizado para o estudo de caso deste documento, a fim de expor suas
principais características relativas aos aspectos sociais e à ocorrência de desastres
naturais, possibilitando ainda obter uma visão geral sobre a ocorrência dos
desastres no país e nas diversas regiões.
66
Para possibilitar o enquadramento da situação relativa aos aspectos sociais e
da ocorrência de desastres naturais de Curitiba em relação ao restante do país, a
Figura 10 mostra os índices de desenvolvimento humano municipal (IDH-M) em todo
o Brasil, separado por região, e de todos os municípios dos três estados da Região
Sul.
Figura 10 Mapas do Índice de Desenvolvimento Humano Municipal Brasil e Todos os Municípios
da Região Sul 2000
Fonte: Elaborados com base em PNUD (2000).
A análise da Figura 10 e da Tabela 4 permite observar que todos os estados
da Região Sul apresentam os índices mais altos de IDH-M em relação ao restante
do país. Pode-se destacar tamm que a região apresenta baixas taxas de
crescimento, baixa representação demográfica (sua população representa cerca de
15% do país) e ocupa uma área pequena do território (cerca de 7%).
67
Tabela 4 Dados Sociodemográficos e Divisão Política dos Estados da Região Sul e do Brasil de
2000 a 2007
Estado
População
Total 2000
População
Total 2007
Taxa de
Crescimento
00-07 - %
IDH
2005
Área (Km2)
Municípios
PR
9.564.643
10.284.503
1,1
0,82
199.314,85
399
SC
5.357.862
5.866.252
1,37
0,84
95.346,18
293
RS
10.187.841
10.582.840
0,57
0,83
281.748,54
496
Sul
25.110.346
26.733.595
0,95
0,82
576.479,57
1.188
Brasil
169.799.170
183.987.291
1,2
0,79
8.547.403,50
55.564
Fonte: IBGE, 2000; IBGE, 2007; PNUD (2005 apud ULTRAMARI; HUMMELL, 2009).
Os dados expostos acima permitem entender que os estados da Região Sul
apresentam uma situação relativa aos aspectos sociodemográficos mais favorecida
se comparada com o restante do país. A partir deste cenário, é possível afirmar que,
em uma situação de ocorrência de desastres, a Região Sul estaria mais bem
preparada para responder positivamente a eles (possui mais recursos financeiros e
menores demandas demográficas) em relação às demais regiões do país.
A Tabela 5 apresenta o número de desastres notificados à Secretaria
Nacional de Defesa Civil / Ministério da Integração Nacional (SEDEC/MI) classificado
por região do país entre 2007 e junho de 2009.
Tabela 5 mero de Desastres Notificados à SEDEC/MI por região do país de 2007 a 2009
Região 2007 2008
Até jun
2009
Total
Norte
53
67
44
164
Nordeste
159
277
199
635
Centro-Oeste
48
43
11
102
Sudeste
120
173
185
478
Sul
145
271
310
726
Total 525 831 749
2.105
Fonte: Elaborado com base em SEDEC/MI (2009).
Ao se analisar a Tabela 5, é possível observar que, ao comparar as diversas
regiões brasileiras, a Região Sul foi a que apresentou maior número de desastres
notificados à SEDEC/MI no número de ocorrências acumulado de 2007 a junho de
2009. Em situação similar está a Região Nordeste. No extremo oposto, estão as
68
Regiões Norte e a Centro-Oeste, deixando como intermediária a situação da Região
Sudeste.
Pelas informações expostas acima, é possível compreender como se dá a
situação da região sul do país em relação aos aspectos sociodemográficos e da
ocorrência de desastres em relação ao restante do país. A seguir, são expostas
informações específicas sobre o estado do Paraná que permitem entender como se
dá a situação relativa aos aspectos sociais e dos desastres de Curitiba em relação
aos demais municípios do estado.
A Figura 11 mostra os compartimentos do estado do Paraná que apresentam
municípios agrupados com características semelhantes em relação à taxa de
crescimento populacional, número de ocorrência de desastres e de pessoas
atingidas pelos desastres.
69
Figura 11 Mapas de Taxa de Crescimento por Municípios e Compartimentos mais Dimicos
Demograficamente do Número de Ocorrências de Desastres por Municípios e Compartimentos de
Maior Concentração, e de Pessoas Atingidas por Município e Compartimentos de Maior
Concentração no Estado do Paraná de 2000 a 2007
Fonte: Elaborados com base em Ultramari e Hummell (2009).
70
Ao se analisar a Figura 11, é possível observar que, em relação ao
crescimento demográfico, há quatro grandes compartimentos que apresentam
maiores dinâmicas positivas e que, portanto, indicam maiores taxas sobre maiores
volumes demográficos (Curitiba, Londrina, Maringá e Foz do Iguaçu), isto é, os
compartimentos mais próximos aos municípios que representam os maiores centros
urbanos do estado são os que apresentam maior crescimento demográfico. Em
relação ao número de ocorrências, há a sobreposição com municípios com maior
volume demográfico (os compartimentos com maior número de ocorrência
correspondem dos grandes centros do estado). Esta mesma sobreposição tamm
se reflete num maior número de pessoas afetadas. Ao realizar uma análise acerca
do número de pessoas atingidas e dos recursos naturais é possível identificar a
concentração de um maior número de ocorrências na bacia do rio Iguaçu, sobretudo
nas suas porções Alta (em que se localiza Curitiba) e Média (ULTRAMARI;
HUMMELL, 2009).
É possível entender pelo exposto acima que Curitiba, em relação aos demais
municípios do estado, apresenta altas taxas de crescimento, número de ocorrências
e pessoas atingidas. Em relação ao Índice de Desenvolvimento Humano Municipal, a
capital paranaense se encaixa na faixa de IDH-M mais alta do estado como é
possível observar na Figura 7.
Figura 12 Mapa do Índice de Desenvolvimento Humano Municipal (IDH-M) e compartimento de
Situação mais Grave no Paraná, 2000
Fonte: PNUD (2000 apud ULTRAMARI; HUMMELL, 2009).
71
De acordo com as informações expostas acima, é possível entender que
algumas das características observadas para a Região Sul em relação ao restante
do país (altos índices de IDH-M e maiormero de ocorrências de desastres) se
repetem para Curitiba em relação aos demais municípios de estado.
A seguir, são expostas informações sobre os bairros do município de Curitiba
que permitem compreender de maneira geral como se dá a situação
sociodemográfica no município.
A Tabela 6 expõe dados relativos à população (número de habitantes, taxa de
crescimento e renda por bairro) de Curitiba. As Figuras 13 e 14 mostram alguns
desses dados de acordo com a classificação por bairros do município (para
identificar os bairros no mapa do município consultar a Figura 9, p.66).
Tabela 6 População 2007, Taxa Média de Crescimento Anual 2000-2007 e Rendimento Médio
Mensal das Pessoas com Rendimento Responsáveis pelos Domicílios Particulares
Permanentes em Reais entre 2000 e 2007 segundo os Bairros de Curitiba
Número de
identificação
dos
Bairros
Bairros
População
2007
Taxa Média de
Crescimento
Anual 2000 a 2007
Rendimento Médio
em reais (R$) 2007
69 Riviera 261 3,63 730
62 Lamenha Pequena 821 2,28 1.150
70 Caximba 2.857 2,07 907
17 Hugo Lange 3.192 0,11 5.385
47 Cascatinha 3.439 7,59 3.795
49 Taboão 4.026 6,05 1.444
48 São João 4.149 4,99 2.013
68 Augusta 4.576 3,42 1.069
3 Centro Cívico 4.925 0,47 4.968
4 Alto da Glória 5.648 0,15 5.633
13 Bom Retiro 5.707 0,19 3.681
18 Jardim Social 6.113 0,07 7.951
67 São Miguel 6.248 3,50 707
45 Mossunguê 6.431 1,92 5.118
7 Jardim Botânico 6.509 0,81 3.255
2 São Francisco 6.607 0,38 3.985
46 Santo Inácio 7.608 3,36 2.621
(continua)
72
(continuação da Tabela 6)
24 Prado Velho 7.615 1,04 1.323
33 São Lourenço 7.630 4,64 4.355
59 Orleans 8.175 1,71 2.205
72 Ganchinho 8.232 1,68 938
71 Campo de Santana 8.312 1,80 975
19 Tarumã 8.465 2,66 3.997
30 Campina do Siqueira 8.778 3,06 3.286
51 Cachoeira 8.899 2,02 1.105
5 Alto da XV 8.968 0,46 4.509
29 Seminário 9.456 3,58 5.542
40 Lindóia 9.582 2,00 1.397
39 Fanny 9.959 3,43 2.053
14 Ahú 11.503 0,45 4.881
15 Juvevê 11.562 0,35 5.930
31 Vista Alegre 11.656 2,32 3.590
10 Batel 12.101 0,39 8.839
61 Butiatuvinha 12.135 1,73 1.960
16 Cabral 12.337 0,74 6.756
23 Guabirotuba 12.558 2,34 2.970
50 Abranches 12.624 1,77 1.611
28 Vila Izabel 12.780 2,23 4.208
43 Santa Quitéria 13.118 1,62 2.568
54 Tingui 13.325 2,05 2.084
25 Parolin 13.582 1,81 2.357
55 Atuba 14.147 1,63 1.705
12 Mercês 14.191 0,10 4.273
6 Cristo Rei 14.580 1,29 4.493
38 Hauer 15.690 1,80 2.275
22 Jardim das Américas 15.905 1,87 3.977
8 Rebouças 15.980 0,33 3.764
26 Guaira 16.071 1,71 2.133
73 Umbará 16.978 2,18 1.205
52 Barreirinha 19.122 1,68 1.710
20 Capão da Imbuia 23.328 1,53 1.981
44 Campo Comprido 25.267 2,24 2.100
35 Bacacheri 25.486 1,41 3.726
60 São Braz 25.661 1,50 2.082
63 Santa Felicidade 28.135 1,58 2.269
(continua)
73
(continuação da Tabela 6)
42 Fazendinha 29.191 1,60 1.439
11 Bigorrilho 30.065 1,48 6.546
32 Pilarzinho 30.850 1,44 1.939
53 Santa Cândida 31.325 1,68 1.566
34 Boa Vista 32.248 1,33 2.481
1 Centro 33.290 0,29 3.834
58 Capão Raso 38.145 1,50 1.687
36 Bairro Alto 46.530 1,46 1.750
41 Novo Mundo 46.754 1,20 1.796
74 Tatuquara 47.439 3,88 7.98
27 Portão 51.136 3,30 2.974
9 Água Verde 53.228 0,94 5.752
66 Pinheirinho 54.734 1,39 1.221
64 Alto Boqueirão 57.027 1,56 1.325
57 Xaxim 60.633 1,48 1.620
37 Uberaba 70.800 2,31 1.643
56 Boqueirão 73.531 1,02 1.838
21 Cajuru 98.414 1,32 1.370
65 Sitio Cercado 114.920 1,66 1.029
75 Cidade Industrial 172.573 1,32 1.103
Total /dia 1.775.840 1,62 2.470
(concluso)
Fonte: IPPUC (2007); CURITIBA (2007).
74
Figura 13 Mapa do Rendimento Médio Mensal das Pessoas com Rendimento Responsáveis pelos
Domicílios Particulares Permanentes em Reais entre 2000 e 2007 em Curitiba
Fonte: Elaborado com base em Curitiba (2007).
Ao analisar-se a Figura 13, fica evidente a existência de uma concentração de
bairros que apresentam as taxas mais elevadas de renda na porção norte do
município, sendo possível notar, ainda, uma espécie de divisor bastante evidente
que localiza os bairros com menores taxas de renda ao sul de Curitiba. É possível
observar ainda que, apesar dos fatores já citados, há uma mancha “centrífuga”, isto
é, os bairros de maior renda concentram-se ao redor do centro da cidade, e os
bairros de menor renda nas franjas do município (mais distantes do centro).
A Figura 14 mostra a taxa média de crescimento anual entre os anos de 2000
e 2007 em Curitiba.
75
Figura 14: Mapa da Taxa Média de Crescimento Anual entre 2000 e 2007 em Curitiba
Fonte: Elaborado com base em IPPUC (2007).
Os dados expostos pela Figura 14 apresentam-se de maneira mais difusa se
comparados aos da Figura 13, ou seja, não há uma dinâmica de ocupação que siga
exatamente aquela encontrada em relação à renda. Há uma concentração de bairros
com taxas menos elevadas ao redor do centro, e não há um movimento “centrífugo”
como aquele observado para a renda. A dinâmica de ocupação pode ser explicada
por diversos fatores, tais como o zoneamento (sobretudo por parâmetros
76
construtivos como o coeficiente de aproveitamento
25
As informações expostas nesta subseção possibilitaram, de maneira geral,
entender como se dá a situação em relão ao aspecto sóciodemográfico do
município de Curitiba em relação ao restante do país, bem como um panorama geral
das ocorrências dos desastres na Região Sul. No estudo de caso, são expostas
outras informações pertinentes a esta temática que contribuíram para a verificação
da hipótese levantada nesta pesquisa.
), estrutura fundiária
(disponibilidade de terrenos vagos para ocupação), elementos já construídos, entre
outros. É importante observar ainda que uma maior taxa de crescimento não
significa, necessariamente, maior número de pessoas por família ou destino de
movimentos migratórios. Essas taxas mais elevadas podem ser resultantes de uma
dinâmica imobiliária mais intensa ou, ainda, pelo crescimento observado no mercado
da construção civil.
3.4 VARIÁVEIS UTILIZADAS NA PESQUISA
As variáveis e dados utilizados para esta pesquisa foram escolhidos a partir
de diversos critérios, tais como a disponibilidade de informações das fontes
pesquisadas, intervalo de tempo dos dados, relação com o tema debatido, limitações
(como disponibilidade de informação, conhecimentos de áreas afins e elaboração de
índices) e a organização e confiabilidade dos dados.
A análise das variáveis, bem como o seu cruzamento, tem como objetivo criar
cenários que possibilitem a avaliação e o debate sobre a hipótese levantada nesta
dissertação. Para tanto, as variáveis utilizadas foram o Índice Sintético de Qualidade
de Vida (ISQV) e o número de desastres naturais ocorridos em Curitiba entre os
anos de 2004 e 2008 (coletados na Secretaria Municipal de Defesa Social (SMDS)
no ano de 2009).
25
“[...] coeficiente de aproveitamento - é o fator estabelecido para cada uso nas diversas zonas, que
multiplicado pela área do terreno, define a área máxima computável admitida nesse mesmo terreno
(CURITIBA, 2000, p.13).
77
Como método de análise, foi atribuído o mesmo número de intervalos (quatro)
às duas variáveis utilizadas (a modelo do Índice Sintético de Qualidade de Vida,
conforme apresentado pelo IPPUC). A partir dessa classificação, foi atribuído
valor um (1) ao intervalo que apresentava a pior situação e valor quatro (4) ao
intervalo que apresentava a melhor situação, em ambas as variáveis. Desta maneira,
ao cruzar as informações foi possível somar o valor atribuído aos intervalos das duas
variáveis (1, 2, 3 ou 4) considerando-se, assim, o maior valor numérico possível (8) à
melhor situação encontrada, pois esta representa a melhor situação em ambos os
casos. Por sua vez, a somatória de menor valor numérico possível (2) é atribuída à
pior situação somada de ambas as variáveis. Os cortes analíticos podem ser
visualizados nas Tabelas 7 e 8.
Tabela 7 Significado dos Valores Atribuídos às Variáveis
Valor Atribuído
ao ISQV
Significado
Valor Atribuído
ao Número de
Desastres
Significado
1 Muito Ruim 1 Muito Acima da Média
2 Ruim 2 Acima da Média
3 Bom 3 Abaixo da Média
4 Muito Bom 4 Muito Abaixo da Média
Fonte: Elaborado com base em IPPUC (2003) e SMDS (2009).
Tabela 8 Combinações Possíveis para Soma dos Valores Atribuídos às Variáveis
Resultados da
Somatória dos Valores
Atribuídos às Variáveis
Combinações Possíveis
2 1 + 1
3 1+2, 2+1
4 2+2, 3+1, 1+3
5 4+1, 1+4, 3+2, 2+3
6 3+3, 4+2, 2+4
7 4+3, 3+4
8 4+4
Fonte: Elaborado com base em IPPUC (2003) e SMDS (2009).
Os dados levantados e as variáveis utilizadas são apresentados a seguir, bem
como o estudo de caso.
78
3.4.1 Índice Sintético de Qualidade de Vida (ISQV)
A variável escolhida para representar e avaliar diferentes realidades sociais
dos diversos bairros do munipio de Curitiba foi o Índice Sintético de Qualidade de
Vida (elaborado com dados do ano de 2000), divulgado pelo IPPUC no ano de 2003.
Optou-se pela escolha deste índice pela disponibilidade e uniformidade da
informação, além de esta variável sintetizar diversos índices que representam a
situação social dos bairros do município: “Qualidade de vida deve ser entendida
como o conjunto de elementos sociais, ecomicos, físicos, políticos e culturais, com
validade universal, que contribuem para o bem estar da população” (MINAYO, 1994
apud IPPUC, 2003, p.6).
Valendo-se do que foi exposto pelo IPPUC, o conceito de qualidade de vida
utilizado neste trabalho:
[...] é aquele que envolve variáveis estritamente qualitativas para a
avaliação dos resultados dos benefícios sociais alcançados pela
implementação de políticas públicas no atendimento das necessidades
básicas de uma determinada sociedade. Monitorar a qualidade de vida
significa entender, no espaço urbano, onde as desigualdades se
manifestam para podermos intervir (IPPUC, 2003, p.6).
Considerando as afirmações acima, pode-se entender que o conceito de
qualidade de vida é capaz de representar a condição social dos diversos locais de
uma cidade, possibilitando, assim, uma análise qualitativa da realidade social dos
bairros, o que permite uma avaliação e previsão de ações futuras para melhoria
desse quadro.
Para entender como o Índice Sintético de Qualidade de Vida foi elaborado e
os fatores considerados para a sua formulação, é exposto a seguir um breve resumo
de como se dá a construção desse índice.
O método adotado para a avaliação da qualidade de vida em Curitiba foi o
Genebrino ou Distancial, que já foi utilizado pelo anteriormente pela Organização
das Nações Unidas (ONU), em 1996, e em estudos similares pelo IPPUC, nos anos
de1984 e 1996, e IPARDES, no ano de 1984. Este método mensura os “resultados
dos benefícios sociais alcançados por uma população” e, estatisticamente, a
79
qualidade de vida é admitida como o estado atual das condições concretas de vida,
e não uma condição desejada ou esperada (IPPUC, 2003, p.7).
A partir das considerações acima, admite-se que a qualidade de vida pode ser
entendida como um retrato do momento atual da condição social de uma dada
sociedade. Assim, parece coerente a sua utilização para representar a condição
social da população nos bairros de Curitiba.
Para a construção do Índice Sintético de Qualidade de Vida, considera-se a
seqüência: valor empírico, índice parcial, índice grupal e índice sintético. O valor
empírico é dado pelo indicador simples, tais como taxa de mortalidade infantil, taxa
de reprovação, etc. O índice parcial (IP) é “consolidado através do estabelecimento
de parâmetros (limiares) que delimitam uma escala entre a situação ótima (limiar
ximo) e a péssima (limiar mínimo)”. Nessa variação, é estabelecida a posição do
indicador conforme a sua distância em relação à situação ótima. Com isso, é
observado “o grau de satisfação que se obteve entre os limiares”. O índice grupal
(IG) é obtido com raciocínio similar: “esta etapa aglutina os índices parciais, que
foram calculados a partir dos dados empíricos, num indicador composto, o índice
grupal”. Ao analisar a Figura 15, pode-se compreender o processo de formação do
Índice Sintético de Qualidade de Vida, que “agrega todas as áreas numa visão
composta da realidade. Assim, todas as informações dos grupos de necessidades
(habitação, saúde, educação, segurança e transporte) estão contidas no índice
sintético” (IPPUC, 2003, p.9).
Figura 15 Fluxograma de Formulação do índice Sintético de Qualidade de Vida
Fonte: IPPUC (2003, p.9).
80
A utilização do Método Genebrino ou Distancial permite tanto análises gerais
quanto específicas, considerando o processo de construção dos índices. Contudo,
nesta dissertação será utilizado somente o Índice Sintético de Qualidade de Vida
26
Como já foi citado anteriormente, os dados relativos ao ISQV dos bairros se
apresentavam classificados em quatro intervalos. A fim de realizar uma análise
conjunta das duas variáveis, atribuiu-se valor a cada um desses intervalos, sendo o
valor mais baixo (1) atribuído ao intervalo que apresentou a pior situação, e o valor
mais alto (4) ao intervalo de melhor situação. A Tabela 9 mostra os bairros com seus
respectivos valores de ISQV e permite compreender como se deu a atribuição de
valores aos intervalos.
,
que “determina o crescimento global de todos os grupos de necessidades avaliados
(IPPUC, 2003, p.10). A partir deste índice, foi feita uma análise considerando todos
os bairros do município de Curitiba.
Tabela 9 Índice Sintético de Qualidade de Vida (2000) dos Bairros do Município de Curitiba e
Valores Atribuídos aos Intervalos de ISQV
Número de
Identificação
dos Bairros
BAIRROS
Índice
Sintético de
Qualidade de
Vida (%)
Valor
atribuído
(1-4)
Intervalos do ISQV
25 Parolin 18,57 1
Muito Ruim (0 a 25%), valor
atribuído igual a 1
73 Umbará 19,44 1
70 Caximba 27,93 2
Ruim (25 a 50%), valor
atribuído igual a 2
(Continua)
21 Cajuru 34,90 2
72 Ganchinho 36,24 2
74 Tatuquara 36,52 2
69 Riviera 37,50 2
24 Prado Velho 37,62 2
42 Fazendinha 38,69 2
59 Orleans 40,72 2
43 Santa Quitéria 41,25 2
7 Jardim Botânico 42,68 2
26 Guaira 43,11 2
48 São João 43,22 2
26
Dados mais específicos sobre a formulação do Índice Sintético de Qualidade de Vida podem ser
consultados em IPPUC (2003).
81
(Continuação da Tabela 9)
71 Campo de Santana 43,26 2
32 Pilarzinho 43,37 2
50 Abranches 43,89 2
75 CIC 44,08 2
68 Augusta 44,25 2
37 Uberaba 44,33 2
62 Lamenha Pequena 44,48 2
40 Lindóia 44,94 2
65 Sítio Cercado 45,18 2
66 Pinheirinho 45,85 2
67 São Miguel 46,50 2
60 São Bráz 46,83 2
51 Cachoeira 48,45 2
63 Santa Felicidade 49,92 2
44 Campo Comprido 49,95 2
39 Fanny 53,70 3
Bom (50 a 75%), valor
atribuído igual a 3
(Continua)
53 Santa Cândida 54,31 3
57 Xaxim 54,43 3
45 Mossunguê 54,51 3
46 Santo Inácio 54,81 3
38 Hauer 55,34 3
47 Cascatinha 55,98 3
61 Butiatuvinha 57,54 3
55 Atuba 57,62 3
19 Tarumã 58,19 3
36 Bairro Alto 58,79 3
64 Alto Boqueirão 59,25 3
58 Capão Raso 60,52 3
20 Capão da Imbuia 60,96 3
41 Novo Mundo 61,62 3
56 Boqueirão 61,79 3
52 Barreirinha 62,91 3
12 Mercês 63,03 3
31 Vista Alegre 63,89 3
1 Centro 64,16 3
49 Taboão 64,42 3
29 Seminário 66,85 3
4 Alto da Glória 66,95 3
23 Guabirotuba 67,49 3
34 Boa Vista 69,60 3
18 Jardim Social 70,83 3
30 Campina do Siqueira 71,11 3
13 Bom Retiro 71,12 3
8 Rebouças 72,42 3
82
(Continuação da Tabela 9)
54 Tingui 75,14 4
Muito Bom (75 a 100%), valor
atribuído igual a 4
10 Batel 75,21 4
2 São Francisco 76,44 4
27 Portão 76,50 4
22 Jardim das Américas 77,69 4
6 Cristo Rei 78,61 4
15 Juvevê 81,40 4
17 Hugo Lange 81,56 4
33 São Lourenço 82,83 4
35 Bacacheri 84,23 4
5 Alto da XV 84,55 4
3 Centro Cívico 85,80 4
16 Cabral 86,34 4
9 Água Verde 87,03 4
11 Bigorrilho 88,56 4
14 Ahu 88,78 4
28 Vila Izabel 89,60 4
(Concluso)
Fonte: Elaborado com base em IPPUC, (2003)
.
Ao espacializar e realizar uma análise sobre o Índice Sintético de Qualidade
de Vida nos diversos bairros de Curitiba, é possível perceber que há uma
concentração de bairros com índices mais baixos nas regiões demarcadas que se
concentram nas regiões situadas ao sul e a oeste do mapa, e uma concentração de
bairros que apresentam índices mais elevados em torno da região demarcada na
área central do mapa. A Figura 16 localiza manchas da concentração de bairros com
índices similares conforme as observações feitas acima.
83
Figura 16 Mapa do Índice Sintético de Qualidade de Vida em Curitiba com Manchas de
Concentração de Bairros com ISQV Semelhante 2000
FONTE: Elaborado com base em IPPUC (2003).
Ao analisar a concentração de bairros com índices similares, fica evidente a
existências de áreas distintas para classes sociais distintas, dado que o Índice
Sintético de Qualidade de Vida é formulado por indicadores que apontam a condição
social e econômica da sua população, como discutido anteriormente nesta seção.
84
3.4.2 Desastres Naturais no Município de Curitiba
Os dados escolhidos para representar o número de desastres naturais que
ocorreram nos diversos bairros do município de Curitiba foram fornecidos pela
Secretaria Municipal de Defesa Social (SMDS) de Curitiba, coletados em março de
2009.
Optou-se pela escolha destes dados pela disponibilidade e uniformidade da
informação. Os dados estatísticos se encontravam tabulados, permitindo o
manuseio das informações de maneira eficiente e possibilitando a seleção dos
dados relevantes para a formulação da pesquisa.
Os tipos de desastres naturais selecionados para a pesquisa foram
escolhidos com base nos conceitos teóricos pesquisados. A falta de documentos
que apresentassem uma definição ou classificação prévia do que se trata cada um
dos tipos de desastres não permitiu uma classificação a partir de conceitos pré-
determinados pelo órgão que forneceu as informações.
As tipologias encontradas apresentaram-se, em sua maioria, de causas
antrópicas ou mistas. Contudo, foram selecionadas apenas aquelas de causas
naturais ou que fossem provocadas por eventos naturais, como é exposto a seguir.
Foram escolhidas cinco tipologias de desastre dentre as 33 tipologias
27
a) alagamento mesmo que inundação: “Transbordamento de água da calha
normal de rios, mares, lagos e açudes, ou acumulação de água por drenagem
deficiente, em áreas não habitualmente submersas” (SEDEC/MI, 2008, p.96);
encontradas, que tiveram pelo menos uma ocorrência no período analisado. Os tipos
de desastres selecionados são:
b) desmoronamento “[...] utilizado como sinônimo de escorregamento, para
descrever movimentos de encostas desmoronamento de rocha”
(SEDEC/MI, 2008, p.56);
27
Tipologias encontradas: abalo sísmico, abelhas, afogamento, alagamentos, animais soltos na via,
apoio ao cidadão, apoio ao corpo e bombeiros, aterro irregular, averiguação, bueiro aberto/sem
tampa, depósito irregular de entulhos, depósito irregular de gás liquefeito de petróleo (GLP),
derramamento de combustível/óleo/carga perigosa, desabamento, desmoronamento,
destelhamento, erosão, incêndio, infiltração, orientação, proteção ao patrimônio, queda de
árvore/galho, queima a céu aberto, risco de acidente à vida, risco de alagamento, risco de
desabamento/desmoronamento, risco de explosão, risco de queda de árvore/galho, risco de queda
de poste, vazamento de gás, vistoria GLP.
85
c) erosão desagregação e remoção do solo ou de rochas, pela ação da água,
vento, gelo ou organismos (plantas e animais);
d) destelhamento selecionado pela relação com a ocorrência de ventos
fortes e pelo alto número de ocorrências no período analisado;
e) queda de árvore ou galho selecionado pela relação com a ocorrência de
ventos fortes e pelo alto número de ocorrências no período analisado.
A Tabela 10 mostra a síntese do número de ocorrência dos desastres
separados por tipologias analisadas, o número total de ocorrências acumuladas no
período de 2004 e 2008 e a sua classificação em quatro categorias, como explicado
anteriormente. No Apêndice A, é disponibilizada a tabulação completa de todos os
dados levantados (inclusive as tipologias de desastres não utilizadas para a
pesquisa). No Apêndice B, é apresentada a tabela completa dos dados selecionados
para a realização da pesquisa, onde é possível observar os dados separados por
ano do período analisado.
Tabela 10 Síntese do Número de Ocorrências dos Desastres Selecionados no Município de Curitiba
de 2004 a 2008
Número de Identificação
dos bairros
BAIRROS
Alagamentos
Desmoronamento
Destelhamento
Erosão
Queda de árvore/galho
Nº Total de
Ocorrências
Valor Atribuído
Intervalos para o
Número de Desastres
75 CIC 326 5 11 25 20 387 1
Muito acima da
média, valor atribuído
igual a 1
21 Cajuru 163 1 4 22 34 224 1
65
Sítio Cercado
140 0 18 20 11
189
1
1 Centro 41 1 0 45 57
144
2
Acima da média, valor
atribuído igual a 2
(Continua)
37
Uberaba
113 0 4 12 11
140
2
56
Boqueirão
72 0 6 23 21
122
2
27
Portão
51 2 2 43 20
118
2
63
Santa Felicidade
49 1 3 23 40
116
2
34
Boa Vista
47 2 7 10 42
108
2
66
Pinheirinho
59 2 9 19 12
101
2
36
Bairro Alto
56 0 10 15 19
100
2
42
Fazendinha
86 0 1 4 7
98
2
57
Xaxim
60 0 2 20 6
88
2
86
(Continuação da Tabela 10)
74
Tatuquara
60 1 6 7 5
79
2
44
Campo Comprido
41 0 7 7 19
74
2
41
Novo Mundo
51 1 4 5 10
71
2
53
Santa Cândida
51 0 3 4 4
62
2
9
Água Verde
19 0 1 12 29
61
2
64
Alto Boqueirão
42 0 1 8 7
58
2
32
Pilarzinho
10 0 5 15 25
55
2
31
Vista Alegre
29 0 0 6 19
54
2
8
Rebouças
28 0 0 6 17
51
3
Abaixo da média,
valor atribuído igual a
3
22
Jardim das
Américas
30 1 2 9 7
49
3
58
Capão Raso
30 0 1 10 5
46
3
35
Bacacheri
16 0 2 4 20
42
3
11
Bigorrilho
6 0 1 9 24
40
3
12
Mercês
4 0 1 12 23
40
3
60
São Bráz
13 0 2 1 23
39
3
55
Atuba
26 0 2 4 6
38
3
16
Cabral
6 0 0 3 18
27
3
38
Hauer
15 0 0 6 6
27
3
52
Barreirinha
16 0 1 3 6
26
3
25
Parolin
12 0 5 2 6
25
3
13
Bom Retiro
11 0 0 2 11
24
4
Abaixo da média,
valor atribuído igual a
4
(Continua)
30
Campina do
Siqueira
11 0 2 1 10
24
4
23
Guabirotuba
14 0 0 5 5
24
4
33
São Lourenço
8 0 1 3 12
24
4
39
Fanny
18 1 0 1 3
23
4
46
Santo Inácio
6 0 1 6 10
23
4
29
Seminário
9 0 0 8 6
23
4
26
Guaira
16 0 1 2 3
22
4
43
Santa Quitéria
8 1 1 4 8
22
4
50
Abranches
9 0 0 4 8
21
4
73
Umbará
11 2 3 3 2
21
4
10
Batel
2 0 0 10 8
20
4
15
Juvevê
2 0 0 2 15
19
4
28
Vila Izabel
3 0 0 3 13
19
4
5
Alto da XV
6 0 0 3 9
18
4
2
São Francisco
3 0 0 6 9
18
4
54
Tingui
5 0 2 3 8
18
4
20
Capão da Imbuia
12 0 0 3 2
17
4
18
Jardim Social
4 0 0 0 12
16
4
59
Orleans
6 0 4 0 6
16
4
4
Alto da Glória
1 0 0 5 9
15
4
87
(Continuação da Tabela 10)
71
Campo de Santana
11 0 2 1 1
15
4
24
Prado Velho
10 0 0 1 4
15
4
19
Tarumã
4 0 0 7 4
15
4
14
Ahu
5 0 0 2 7
14
4
3
Centro Cívico
3 0 1 4 6
14
4
17
Hugo Lange
2 0 0 4 8
14
4
40
Lindóia
7 0 0 3 2
12
4
61
Butiatuvinha
2 1 1 3 4
11
4
6
Cristo Rei
3 0 1 3 2
9
4
7
Jardim Botânico
2 0 0 4 3
9
4
45
Mossunguê
2 0 0 0 6
8
4
72
Ganchinho
3 0 0 1 2
6
4
48
São João
1 0 0 2 2
5
4
68
Augusta
4 0 0 0 0
4
4
70
Caximba
1 0 0 0 3
4
4
49
Taboão
3 0 0 0 1
4
4
47
Cascatinha
1 0 0 0 2
3
4
51
Cachoeira
0 0 1 0 0
1
4
62
Lamenha Pequena
1 0 0 0 0
1
4
69
Riviera
0 0 0 0 0
0
-
-
67
São Miguel
0 0 0 0 0
0
-
Total
1.900 22 142 523 804
3.811
(Concluso)
Fonte: Elaborado com base em SMDS, (2009)
.
Nota: No material pesquisado não havia dados relativos aos bairros Riviera e São Miguel. Por conta
disso, não foi feita no estudo de caso a análise do Índice de Qualidade de Vida nesses bairros.
A partir da seleção e sintetização dos dados, foram elaborados mapas que
classificam os bairros de acordo com quatro categorias: muito abaixo da média (do
período analisado), abaixo da média, acima da média e muito acima da média. Para
cada um dos cinco anos analisadas foi feita uma média considerando apenas os
números daquele ano e classificados em quatro intervalos iguais, e no caso da
análise de todo o período (2004 a 2008) foi feita a média considerando todos os
anos. Na Figura 17, abaixo, é possível observar como foi aplicada no mapa de
Curitiba a classificação dos bairros de acordo com o número de desastres.
88
Figura 17 Mapa da Classificação dos Bairros de Curitiba de Acordo com o Número de Desastres
Ocorridos no Período 2004-2008
Fonte: Elaborado com base em SMDS (2009).
Ao fazer uma breve análise da figura acima, pode-se observar que há uma
quantidade elevada de bairros (52) que apresentam o número de desastres, entre os
anos de 2004 e 2008, classificados como abaixo da média e muito abaixo da média.
É possível observar, ainda, que há uma pequena quantidade de bairros (21)
classificados como acima ou muito acima da média.
89
4 ESTUDO DE CASO
A fim de abordar e debater a temática principal desta dissertação, o estudo de
caso realizado na cidade de Curitiba propõe uma análise de duas variáveis que
representam os dois principais assuntos debatidos neste estudo: desastres naturais
e vulnerabilidades socioambientais, já apresentadas no item anterior. Nesta seção, é
exposto o material produzido para a realização do estudo de caso na cidade de
Curitiba além da análise dos seus resultados.
Para o cruzamento dos dados, foi elaborado um mapa que contém as
informações das duas variáveis espacializadas (Figura 18), de acordo com os
bairros de Curitiba, como descrito na seção anterior.
Conforme descrito anteriormente, cada uma das variáveis foi classificada em
quatro intervalos que, por sua vez, receberam valores conforme a situação que
apresentam (valor mais alto para a melhor situação e valor mais baixo para o pior
caso).
Por meio da Figura 18, pode-se analisar se há um padrão de índice de ISQV
que se repete em relação ao número de desastres: se os índices mais baixos de
ISQV estão mais constantemente relacionados commeros elevados de desastres.
Para complementar a análise pode-se consultar tamm o Apêndice B, que
apresenta os números utilizados para a elaboração da variável relacionada aos
desastres naturais.
90
Figura 18 Mapa Síntese do Número de Desastres Ocorridos em Curitiba de 2004 a 2008 frente ao
Índice Sintético de Qualidade de Vida (ISQV) de 2000
Fonte: Elaborado com base em IPPUC (2003) e SMDS (2009).
91
Ao analisar a Figura 18 acima e os dados do Apêndice B, é possível apontar
alguns pontos importantes para análise (ver tamm Figuras 16, p.84 e Figura 17,
p.89):
a) em relação ao número de ocorrências, pode-se observar que há um
número pequeno de bairros (21) classificados como “muito acima da
média” e “acima da média” (valores atribuídos 1 e 2) e que estes bairros
em uma primeira análise não possuem um padrão de localização;
b) ainda em relação ao número de ocorrências, há ummero elevado de
bairros (52) classificados como “muito abaixo da média” e os classificados
como “abaixo da média” (valores atribuídos 3 e 4) não possuem um padrão
de localização;
c) em relação ao ISQV, é possível observar que há ummero muito
pequeno de bairros (2) com valor atribuído igual a 1 e ummero elevado
de bairros (27) possuem valor atribuído 2;
d) ainda em relação ao ISQV, nota-se que os bairros com valor atribuído 4 (17
bairros) estão concentrados na região central e nordeste.
Como exposto anteriormente, para tornar possível a análise dos dados como
um todo do cruzamento das variáveis do número de desastres e do índice Sintético
de Qualidade de Vida foi elaborada outra classificação, obtida a partir da somatória
dos valores atribuídos à classificação das variáveis. Desta maneira, por meio do
resultado obtido por esta somatória é possível fazer uma relação dos bairros que
apresentam melhor ou pior situação, como pode ser observado na Tabela 11.
Tabela 11Somatória dos Valores Atribuídos às Variáveis Relativas ao Número de Desastres
ocorridos de 2004 2008 e Índice Sintético de Qualidade de Vida por Bairros de Curitiba
Num.
Bairro
BAIRROS
Número
Desastres
ISQV SOMA
21 Cajuru 1 2 3
75 CIC 1 2 3
65 Sítio Cercado 1 2 3
44 Campo Comprido 2 2 4
42 Fazendinha 2 2 4
25 Parolin 3 1 4
32 Pilarzinho 2 2 4
66 Pinheirinho 2 2 4
(continua)
92
(Continuação da Tabela 11)
63 Santa Felicidade 2 2 4
74 Tatuquara 2 2 4
37 Uberaba 2 2 4
64 Alto Boqueirão 2 3 5
36 Bairro Alto 2 3 5
34 Boa Vista 2 3 5
56 Boqueirão 2 3 5
1 Centro 2 3 5
41 Novo Mundo 2 3 5
53 Santa Cândida 2 3 5
60 São Bráz 3 2 5
73 Umbará 4 1 5
31 Vista Alegre 2 3 5
57 Xaxim 2 3 5
50 Abranches 4 2 6
9 Água Verde 2 4 6
55 Atuba 3 3 6
68 Augusta 4 2 6
52 Barreirinha 3 3 6
51 Cachoeira 4 2 6
71 Campo de Santana 4 2 6
58 Capão Raso 3 3 6
70 Caximba 4 2 6
72 Ganchinho 4 2 6
26 Guaira 4 2 6
38 Hauer 3 3 6
7 Jardim Botânico 4 2 6
62 Lamenha Pequena 4 2 6
40 Lindóia 4 2 6
12 Mercês 3 3 6
59 Orleans 4 2 6
27 Portão 2 4 6
24 Prado Velho 4 2 6
8 Rebouças 3 3 6
43 Santa Quitéria 4 2 6
48 São João 4 2 6
4 Alto da Glória 4 3 7
35 Bacacheri 3 4 7
11 Bigorrilho 3 4 7
13 Bom Retiro 4 3 7
61 Butiatuvinha 4 3 7
16 Cabral 3 4 7
30 Campina do Siqueira 4 3 7
(continua)
93
(Continuação da Tabela 11)
20 Capão da Imbuia 4 3 7
47 Cascatinha 4 3 7
39 Fanny 4 3 7
23 Guabirotuba 4 3 7
22 Jardim das Américas 3 4 7
18 Jardim Social 4 3 7
45 Mossunguê 4 3 7
46 Santo Inácio 4 3 7
29 Seminário 4 3 7
49 Taboão 4 3 7
19 Tarumã 4 3 7
14 Ahu 4 4 8
5 Alto da XV 4 4 8
10 Batel 4 4 8
3 Centro Cívico 4 4 8
6 Cristo Rei 4 4 8
17 Hugo Lange 4 4 8
15 Juvevê 4 4 8
2 São Francisco 4 4 8
33 São Lourenço 4 4 8
54 Tingui 4 4 8
28 Vila Izabel 4 4 8
67 São Miguel - 2
69 Riviera - 2
(Concluso)
Fonte: Elaborado com base em IPPUC (2003) e SMDS (2009).
Ao analisar a Tabela 11, pode-se fazer algumas observações importantes:
a) do total de 73 bairros analisados do município de Curitiba (os bairros São
Miguel e Riviera não serão considerados para análise por falta de dados),
11 (15%) apresentam a classificação 4 valor mais alto atribuído às
situações mais positivas - em ambos os índices;
b) 18 bairros (25%) apresentam classificação 4 em um dos índices e
classificação 3 em outro;
c) 6 bairros (8%) apresentam classificação 3 em ambos os índices;
d) 16 bairros apresentam classificação 4 (22%) em um dos índices e
classificação 2 em outro;
e) 1 bairro (menos de 1%) apresenta classificação 4 em um dos índices e
classificação 1 em outro;
94
f) 10 bairros (menos de 14%) apresentam classificação 3 em um dos índices
e classificação 2 em outro;
g) 7 bairros (10%) apresentam classificação 2 em amos os índices;
h) 3 bairros (4%) apresentam classificação 2 em um dos índices e 1 em outro;
i) 1 bairro (menos de 1%) apresenta classificação 3 em um índice e 1 em
outro.
A Figura 19 ilustra os dados expostos na Tabela 11 e a sua análise permite
entender que quase metade do total dos bairros (cerca de 48% do total de bairros)
apresentam ambos os índices mais altos (4 e 4, 4 e 3, 3 e 3). Pode-se observar
ainda que 40 bairros (55% do total) apresentam a classificação mais alta em relão
ao número de desastres. A partir dessa informação, é possível avaliar que grande
parte dos bairros do município apresenta números de ocorrências de desastres
muito abaixo da média.
Em relação ao ISQV, é possível afirmar que 37% do total do número de
bairros apresentam os valores mais baixos atribuídos à variável, ou seja,
apresentam os índices mais baixos de ISQV.
Figura 19 Gráfico das Porcentagens das Somatórias dos Valores Atribuídos às Variáveis (Número
de Desastres e Índice Sintético de Qualidade de Vida)
Fonte: Elaborado com base em IPPUC (2003) e SMDS (2009).
95
Considerando-se apenas o valor total da somatória, conforme mostra a Figura
20, tem-se:
a) 11 bairros (15%) com somatória igual a 8;
b) 18 bairros (25%) com somatória igual a 7;
c) 22 bairros (30%) com somatória igual a 6;
d) 11 bairros (15%) com somatória igual a 5;
e) 8 bairros (11%) com somatória igual a 4; e
f) 3 bairros (4%) com somatória igual a 3.
Figura 20 Gráfico das Porcentagens dos Resultados das Somatórias dos Valores Atribuídos às
Variáveis (Número de Desastres e Índice Sintético de Qualidade de Vida)
Fonte: Elaborado com base em IPPUC, (2003) e SMDS, (2009).
A partir desta observação, é possível entender que 29 bairros, ou 40% do
total de bairros (somando-se os bairros com total de 7 e 8), apresentam as melhores
situações encontradas em ambos os índices. Observa-se, ainda, que 22 bairros ou
30% do total (somando-se os bairros com total de 3, 4 e 5) apresentam as piores
situações encontradas em um dos índices.
A partir da Tabela 11 (p.92), que apresenta a somatória dos valores atribuídos
aos índices, foi elaborado um mapa (Figura 21) que possibilita analisar a localização
96
dos bairros por meio das suas diferentes classificações. Este mapa permite, por sua
vez, entender se há um padrão de localização dos bairros com somatória dos
valores atribuídos às variáveis semelhantes.
Figura 21 Classificação dos Bairros de Curitiba a partir da Somatória dos Valores Atribuídos ao
Número de Desastres Ocorridos em Curitiba de 2004 a 2008 e ao Índice Sintético de Qualidade de
Vida (IQV) de 2000
Fonte: Elaborado com base em IPPUC (2003) e SMDS (2009).
Ao analisar a Figura 21, pode-se fazer algumas observações:
a) os bairros que apresentam a somatória das varveis igual a 8 estão
concentrados nas proximidades da região central. Este aspecto pode ser
97
explicado por fatores ligados à forma de ocupação do território citados
anteriormente, sendo possível apontar aqueles apresentados por Beaujeu-
Garnier (1997), que tratam da ocupação das regiões centrais pelas
populações mais ricas;
b) os bairros que apresentam a somatória das variáveis igual a 7 se
encontram de maneira mais dispersa do que aqueles com somatória igual a
8, mas grande parte se concentra nos arredores da região central,
esboçando um movimento “centrífugo” das duas classificações mais altas
ao redor do centro. Como exposto no item anterior, a questão da ocupação
do centro pelas classes mais elevadas pode ser explicado por fatores
ligados à forma de ocupação das cidades;
c) os bairros com a somatória das variáveis igual a 3, 4, 5 e 6 não possuem
um padrão evidente de localização. Ou seja, é válido apontar que grande
parte dos bairros que apresentam os valores mais elevados (7 e 8) estão
concentrados nos arredores da área central e os bairros com os demais
valores não apresentam um padrão bem definido de localização;
d) apesar dos fatores já citados, ao traçar-se uma linha horizontalmente ao
centro do mapa, seria possível observar de maneira bastante evidente que
há uma concentração de bairros com classificação mais alta na parte
superior do mapa e uma concentração de bairros com classificações mais
baixas na parte inferior. Estes fatores podem ser relacionados à questão da
ocupação de áreas centrais pela população mais abastada, citada
anteriormente, e tamm a questão da ocupação de áreas periféricas (e
que, em grande parte das vezes, apresenta redes de infra-estrutura
precárias ou locais que não são próprios para ocupação) pela população
de baixa renda.
As informações apresentadas acima foram feitas a partir do material utilizado
para o estudo de caso, com base nos conceitos pesquisados para esta dissertação.
É importante ressaltar que as informações pesquisadas apresentam limitações e
seus resultados podem apresentar alguma imprecisão, considerando-se que o
material utilizado partiu de fontes distintas, e não apresentam uniformidade em
relação ao ano de sua geração, método de pesquisa e outros aspectos que podem
ser relevantes para a sua formulação.
98
Em relação ao número de desastres é possível fazer algumas observações
importantes. Ao analisar o número total de bairros em cada uma das quatro
classificações atribuídas ao número de desastres (ver Figura 17, p.89 e Tabela 10,
p.86), é possível observar que 40 bairros (55%) apresentam a classificação 4, 12
bairros (16%) apresentam a classificação 3, 18 bairros (25%) apresentam a
classificação 2 e 3 bairros (4%) apresentam a classificação 1. A partir destes dados
é possível verificar, então, que os bairros que apresentam os menores números de
ocorrências registradas no período analisado (classificações 3 e 4) representam 71%
do total de bairros, deixando 29% de bairros que apresentam os maiores números
de ocorrências. Estes números permitem observar que, por um lado, ummero
pequeno de bairros (21) apresenta os maiores números de ocorrências registradas.
Ao analisar a Tabela 10 (p.86), pode-se verificar que os três bairros que
apresentarammero de desastres muito acima da média são responsáveis por
21% do número total de desastres ocorridos no período. Por outro lado os dados
analisados revelam que os 40 bairros que apresentam os números de ocorrências
mais baixos (muito abaixo da média) são responsáveis por 15% do número total de
desastres ocorridos no período.
Pode-se verificar, então, que um pequeno número de bairros (3) registrou
uma porcentagem significativa do número total de ocorncias (21%), e um número
expressivamente maior de bairros (40) registrou uma porcentagem inferior (15%) à
primeira. A partir destes números, observa-se que os diferentes bairros são atingidos
pelos desastres com intensidades diferenciadas, isto é, ummero pequeno de
bairros sofre mais ocorrências do que os demais.
Em relação ao Índice Sintético de Qualidade de Vida, é possível observar
alguns fatores importantes. Ao analisar os dados expostos pela Tabela 9 (p.81) e
Figura 16 (p. 84) é possível observar que há uma grande quantidade de bairros (56
bairros 77%) que encontram-se classificados nas categorias 2 e 3. Na
classificação 4, estão relacionados 17 bairros (23%) e na classificação 1, 2 bairros
(3%). Estes dados permitem observar que, pelo grande número de bairros
classificados nas categorias intermediárias (2 e 3), em contraste de um número
muito inferior nas categorias 1 e 4, um certo equilíbrio em relação ao ISQV nos
bairros do município, ou seja, um número expressivo de bairros se aproxima da
média da variável. Além disso, é possível verificar que, ao analisar a Figura 16
99
(p.82), existe uma concentração expressiva de bairros com maiores índices de ISQV
no entorno imediato do centro, em contraste de uma concentração daqueles de
menor ISQV nas regiões oeste e sul. É possível observar, então, que as questões
relacionadas à ocupação do centro pelas populações de classes mais altas e
ocupação de áreas periféricas pelas populações mais pobres, fica evidenciada pelos
dados levantados.
A partir destes dados relativos ao ISQV é possível verificar, então, que um
número pequeno de bairros (17), que se concentram ao redor do centro, possuem os
melhores índices de ISQV, em contraste de ummero expressivamente menor (2)
daqueles que possuem os índices de ISQV mais baixos, sem um padrão de
localização. Estes números permitem observar, então, que há uma divisão bastante
evidente da localização dos bairros habitados pela população mais favorecida em
relação àqueles bairros ocupados pela população de classes mais baixas.
Ao analisar a síntese das duas variáveis (número de desastres naturais e
índice sintético de qualidade de vida ver Tabela 11 (p.92) e Figura 21 (p.97) é
possível observar que há uma repetição das situações em que há a somatória de
ambas as variáveis com valores mais baixos, e ambas com valores mais altos. Este
fator leva a entender que, por um lado, aqueles bairros que apresentam elevados
índices de ISQV, em grande parte das vezes, estão associados a ummero baixo
de ocorrências de desastres. Por outro lado, os dados indicam que os bairros que
apresentam baixos índices de ISQV estão associados a um número alto de
ocorrência de desastres. É possível afirmar a partir destes dados, então, que a
população que apresenta ISQV mais baixo é mais vulnerável aos desastres naturais
do que aquela que apresenta níveis de ISQV mais altos.
Estes dados permitem concluir que a hipótese de trabalho (de que
determinadas camadas da população são mais vulneráveis a desastres naturais do
que outras a condição social e econômica serve como fator determinante que
localiza a vulnerabilidade em grupos específicos da população) proposta pode ser
verificada no estudo de caso.
100
5 CONSIDERAÇÕES FINAIS
Ao resgatar os principais conceitos analisados no referencial teórico desta
pesquisa, pode-se fazer algumas observações importantes.
Ao analisar a Teoria dos Hazards e a Teoria dos Desastres, apontadas por
Mattedi e Butzke (2001), e processo dos Natural Hazards e Natural Disasters (o
primeiro é visto como um evento natural que ocorre independente da atividade
humana e que pode apresentar danos à mesma, enquanto o segundo é entendido
como a combinação de fatores naturais e antrópicos, e que esta combinação define
o quanto a sociedade é afetada por estes eventos), apontados pela UNDP (2004) é
possível verificar que estes conceitos podem ser aplicados na situação apontada
pelos dados do estudo de caso trazido nesta dissertação. Ou seja, a partir da
combinação de fatores naturais e sociais (número de ocorrências e ISQV) foi
possível verificar que determinadas camadas da população são mais vulneráveis
que outras a desastres naturais.
Em relação à ocupação das áreas periféricas pela população mais carente
(que em grande parte das vezes ocupa áreas de fragilidade ambiental e sem infra-
estrutura básica) apontada por Deschamps (2004), Hogan et al (2000), Maricato
(1996), Mendonça (2004) e Rolnik (1997), é possível relacionar a este aspecto o fato
de que, em grande parte das vezes, a população que apresentou maiores índices de
ISQV concentra-se nas regiões próximas ao centro, em contraste à ocupação das
populações com menores índices de ISQV nas “franjas” do município. É possível
resgatar ainda, acerca deste assunto, as observações feitas por Beaujeu-Garnier
(1997) em relação à ocupação do centro (neste caso, da região em torno deste) pela
população mais abastada, apesar de não ser possível afirmar a ocorrência de todo o
processo de ocupação da cidade descrito pela autora.
É possível, ainda, analisar os dados apontados pelo estudo de caso a partir
do conceito de vulnerabilidade (a vulnerabilidade de uma sociedade é uma condição
resultante da interação de fatores de diversas ordens físicas, sociais, econômicas
e ambientais que irá condicionar o quanto uma sociedade será impactada por um
desastre) exposto no referencial teórico. Foi possível verificar que a combinação de
fatores sociais e naturais, expostos pelas variáveis utilizadas na pesquisa, foi
101
determinante para compreender que determinadas populações são mais vulneráveis
aos desastres do que outras.
É importante ressaltar, ainda, que os dados analisados não puderam apontar
importantes fatores ligados ao conceito de vulnerabilidade, tais como a capacidade
de resposta das populações aos desastres e o impacto destes fenômenos (número
de atingidos, perdas econômicas etc.) nas diferentes camadas da população,
apontados por Cardoso (2006 apud MOURA; ANDRADE E SILVA, 2007),Kasperson,
Kasperson e Dow (2001), Mattedi (2009) e Valêncio et al (2004). Contudo, o estudo
desenvolvido verificou importantes fatores relacionados aos desastres naturais e as
características sociais do município de Curitiba que puderam apontar que há
camadas da população que se encontram mais vulneráveis que outras.
Assim, a análise realizada a partir do estudo de caso realizado permite a
confirmação da hipótese proposta por este trabalho. O estudo mostrou que, no caso
analisado, é possível afirmar, de maneira geral, que padrões socioeconômicos mais
baixos estão associados a um número elevado de ocorrência de desastres e que em
grande parte dos bairros que possuem padrões socioeconômicos altos, estes estão
associados a ummero baixo de ocorrência de desastres. Foi possível observar,
ainda, que há casos em que alguns bairros apresentaram resultados diferenciados
em relação ao proposto pela hipótese, em que o número baixo de ocorrência de
desastres está associado a um padrão de ISQV baixo.
É possível citar algumas conclusões gerais acerca dos resultados
apresentados e do estudo de caso:
a) a existência de bairros apontada pelo estudo que concentram um número
alto de ocorrência de desastres e um baixo índice de ISQV da sua
população permite observar a necessidade de maior aprofundamento na
verificação de necessidades e, principalmente, de ações para a melhoria
destes aspectos;
b) a concentração de populações com ISQV mais elevado nas regiões em
torno do centro evidencia um maior desenvolvimento dessa região em
detrimento dos bairros mais distantes do centro. Apesar de esta
configuração da cidade ser decorrente de um processo de ocupação
conhecido (citado anteriormente), é importante ressaltar que as redes de
102
infra-estrutura são importantes elementos para o desenvolvimento social e
que proporcionam melhores condições de ocupação.
Além disso, foi possível perceber, durante a realização da pesquisa, a
existência de informações muito escassas e de poucos dados referentes à
ocorrência de desastres. É importante que sejam feitos registros que possibilitem a
formação de cenários para a verificação dos problemas e para a tomada de decisão
acerca destes fenômenos.
Esta dissertação iniciou com o objetivo principal de realizar uma análise dos
desastres naturais frente às vulnerabilidades socioambientais. A hipótese de
trabalho era de que determinadas camadas da população são mais vulneráveis a
desastres naturais do que outras (a condição social e econômica serve como fator
determinante que localiza a vulnerabilidade em grupos específicos da população).
Por meio da análise do estudo de caso realizado mostrou-se que a hipótese pode
ser confirmada. Esta pesquisa buscou, ainda, contribuir na formulação de políticas
públicas para o enfrentamento de situações adversas causadas por desastres
naturais, principalmente na identificação de prioridades e situações criadas nos
espaços urbanos a partir de diferentes tipologias de desastres e realidades
socioeconômicas.
Acerca do referencial teórico apresentado neste estudo, pode-se fazer
algumas conclusões importantes. Em relação aos desastres naturais, o material para
pesquisa foi encontrado, em grande parte, em língua estrangeira, evidenciando a
escassez de fontes importantes na língua portuguesa. Em relação à temática da
vulnerabilidade socioambiental também foi encontrado material vasto, principalmente
artigos e materiais online que facilitaram o processo de pesquisa.
Em relação aos procedimentos metodológicos utilizados, pode-se afirmar que
apresentaram resultados satisfatórios. As técnicas e metodologia de pesquisa
possibilitaram a utilização dos dados coletados de maneira simples e não
apresentaram grandes dificuldades para manuseio das informações. O cruzamento
de dados possibilita analisar diversos aspectos de diferentes naturezas e fontes,
mostrando-se um eficiente método de análise para temáticas ligadas à gestão
urbana, dado que esta engloba conceitos de diferentes tipos e disciplinas.
Acredita-se poder afirmar que este trabalho contribuiu para a investigação de
assuntos relacionados às vulnerabilidades socioambientais frente aos desastres
103
naturais. O tema pesquisado mostra-se importante para o estudo da gestão urbana
na medida em que proporciona dados concretos que contribuem para a geração de
cenários que retratam a realidade –, que, por sua vez, evidenciam onde e quais
ações são necessárias para o melhor desenvolvimento da cidade e da sua
população.
Destaca-se aqui como principal contribuição deste estudo, que, com a
confirmação da hipótese proposta, foi ressaltado o fato de que diferentes classes
sociais são afetadas de maneiras distintas pelos desastres. Assim, evidencia-se o
fato de que são necessárias ações de prevenção nestes locais (referentes à forma
de ocupação e à expansão dos serviços de infra-estrutura), bem como o preparo da
população para situações relacionadas aos desastres e o planejamento de ações de
mitigação que irão atender a população afetada por esses eventos.
Como apontado em seções anteriores, as informações apresentadas nesta
pesquisa foram feitas a partir do material apresentado para o estudo de caso, com
base nos conceitos pesquisados para esta dissertação. É importante ressaltar que
as informações pesquisadas apresentam limitações e seus resultados podem
apresentar alguma imprecisão, considerando-se que o material utilizado partiu de
fontes distintas, e não apresentam uniformidade em relação ao ano de sua geração,
método de pesquisa e outros aspectos que podem ser relevantes para a sua
formulação. É importante questionar tamm se o resultado obtido seria o mesmo se
os dados utilizados fossem diferentes dos apresentados neste estudo
(principalmente aquelas informações referentes ao recorte de tempo utilizado, que
mostrou-se limitado)
Os resultados apresentados por esta pesquisa podem ser complementados
em estudos futuros que mostrem, com o auxílio de outras informações e análises,
um aprofundamento maior sobre a temática, utilizando outros indicadores de fontes
diferenciadas para um mesmo recorte espacial ou, ainda, utilizar os mesmos
indicadores e mesma metodologia para outros recortes espaciais e temporais.
104
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de Estudos Populacionais, 2006, Caxambu. Anais. Campinas: ABEP, 2006.
111
SANTOS, Boaventura de Sousa. A Globalização e as ciências sociais. São Paulo:
Cortez, 2002.
SANTOS, Milton. Por uma outra globalização - do pensamento único a consciência
universal. São Paulo: Editora Record, 2000.
SASSEN, Saskia. As cidades na economia mundial. São Paulo: Studio Nobel,
1998.
SCHEUREN, J. LE POLAIN DE WAROUX, O. GUHA-SAPIR, D; PONSERRE, S.
Annual Disaster Statistic Review: Numbers and Trends 2007. Centre for Research
on Epidemology of Disasters. Brussels, 2007. Disponível em:
<http://www.emdat.be/Publications/publications.html>. Acesso em: mar 2009.
TSCHOEGL, L; BELOW, R; GUHA-SAPIR, D. An Analytical Review of Selected
Data Sets on Natural Disasters and Impacts. In: UNDP/CRED Workshop on
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Bangkok, Thailand. Disponível em:
<www.emdat.be/Documents/.../TschoeglDataSetsReview.pdf>. Acesso em: ago
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ULTRAMARI, Clovis . Pobrezas, desastres, guerras, mas também resiliências
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ULTRAMARI, Clovis. Vulnerabilidades, Resiliências e Crises Cumulativas Urbanas.
São Paulo em Perspectiva, v. 20, p. 1-14, 2007.
ULTRAMARI, Clovis; Rezende, Denis A. Urban resilience and slow motion disasters.
City & Time, v. 2 (3), p. 1-18, 2007.
VALE, Lawrence J.; CAMPANELLA, Thomas J. The resilient city: how modern
cities recover from disaster. New York: Oxford University Press, 2005.
112
APÊNDICES
113
APÊNDICE A:
Tabela completa do Número de Acidentes Naturais no Município de Curitiba
114
(Continua)
ANO
BAIRROS
QUANT. TOTAL
Abalo Sísmico
Abelhas
Afogamento
Alagamentos
Animais soltos na via
Apoio ao cidadão
Apoio ao Corpo de Bombeiros
Aterro irregular
Averiguação
Bueiro aberto/sem tampa
Corte ilegal de árvore
Depósito irregular de entulhos
Depósito irregular de GLP
Derramamento de combustível/óleo/carga perigosa
Desabamento
Desmoronamento
Destelhamento
Erosão
Explosão
Incêndio
Infiltração
Orientão
Protão ao patrimônio
Queda de árvore/galho
Queima a céu aberto
Risco de acidente à vida
Risco de alagamento
Risco de desabamento/desmoronamento
Risco de Explosão
Risco de queda de árvore/galho
Risco de queda de poste
Vazamento de gás
Vistoria- GLP
Abranches 4
2 1 1
Água Verde 10
2 1 7
Ahu 1
1
Alto Boqueirão 9
7 1 1
Alto da Glória 2
1 1
Alto da XV 4
1 1 2
Atuba 8
7 1
Bacacheri 5
2 1 1 1
Bairro Alto 11
7 2 2
Barreirinha 1
1
Batel 3
1 2
Bigorrilho 5
1 4
Boa Vista 19
7 1 1 1 1 5 1
Bom Retiro 4
2 2
Boqueirão 41
27 1 1 6 1 5
Butiatuvinha 1
1
Cabral 2
1 1
2004
115
(Continuação Apêndice A)
(Continua)
Cajuru 33
20 2 7 4
Campina do Siqueira 3
1 1 1
Campo Comprido 2
1 1
Campo de Santana 1
1
Capão da Imbuia 2
1 1
Capão Raso 4
2 1 1
Cascatinha 1
1
Centro 36
3 1 1 5 10 2 10 2 1 1
Centro Cívico 3
1 1 1
CIC 25
18 1 3 1 1 1
Cristo Rei 1
1
Fanny 1
1
Fazendinha 18
12 1 5
Ganchinho 1
1
Guabirotuba 4
3 1
Guaira 6
4 1 1
Hauer 1
1
Hugo Lange 2
1 1
Jardim das Américas 4
4
Jardim Social 5
4 1
Juve 3
1 2
Mercês 5
1 1 2 1
Novo Mundo 6
3 3
Orleans 2
1 1
Parolin 4
2 1 1
Pilarzinho 7
1 1 1 4
Pinheirinho 16
8 1 4 1 2
Portão 42
8 1 1 2 2 18 4 6
Prado Velho 1
1
Rebouças 11
4 2 1 4
Santa Cândida 2
2
Santa Felicidade 31
5 1 1 10 5 7 1 1
Santa Quitéria 3
2 1
116
(Continuação Apêndice A)
(Concluso)
Santo Inácio 5
1 2 2
São Bráz 6
2 4
São Francisco 3
1 1 1
São Lourenço 3
3
Seminário 6
4 1 1
Sítio Cercado 24
13 1 3 1 1 3 1 1
Tarumã 4
2 1 1
Tatuquara 10
5 3 1 1
Tingui 2
1 1
Uberaba 22
19 1 1 1
Umbará 1
1
Vila Izabel 2
2
Vista Alegre 5
3 2
Xaxim 15
12 1 2
2004 Total
524
48
1
3
2
1
18
1
4
5
81
24
1
1
109
14
7
109
3
1
117
(Continua)
ANO
BAIRROS
QUANT. TOTAL
Abalo Sísmico
Abelhas
Afogamento
Alagamentos
Animais soltos na via
Apoio ao cidadão
Apoio ao Corpo de Bombeiros
Aterro irregular
Averiguação
Bueiro aberto/sem tampa
Corte ilegal de árvore
Depósito irregular de entulhos
Depósito irregular de GLP
Derramamento de combustível/óleo/carga perigosa
Desabamento
Desmoronamento
Destelhamento
Erosão
Explosão
Incêndio
Infiltração
Orientão
Protão ao patrimônio
Queda de árvore/galho
Queima a céu aberto
Risco de acidente à vida
Risco de alagamento
Risco de desabamento/desmoronamento
Risco de Explosão
Risco de queda de árvore/galho
Risco de queda de poste
Vazamento de gás
Vistoria- GLP
Abranches 1
1
Água Verde 5
2 2 1
Ahu 4
2 2
Alto Boqueirão 7
4 2 1
Alto da Glória 1
1
Alto da XV 6
1 1 3 1
Atuba 6
4 1 1
Bacacheri 8
2 1 5
Bairro Alto 5
1 2 1 1
Barreirinha 4
3 1
Batel 4
1 1 1 1
Bigorrilho 5
1 4
Boa Vista 19
8 1 3 7
Bom Retiro 4
1 3
Boqueirão 21
14 1 2 1 2 1
Butiatuvinha 5
1 1 1 2
Cabral 7
1 1 6
2005
118
(Continuação Apêndice A)
(Continua)
Cajuru 41
34 1 2 3
Campina do Siqueira 3
2 1
Campo Comprido 8
3 1 1 2 1
Campo de Santana 2
2
Capão da Imbuia 5
2 1 1 1
Capão Raso 12
9 2 1
Centro 32
9 2 3 1 4 10 1 1 1
Centro Cívico 4
1 3
CIC 46
42 2 1 1
Cristo Rei 1
1
Fanny 8
6 1 1
Fazendinha 7
7
Guabirotuba 2
1 1
Guaira 2
1 1
Hauer 2
1 1
Hugo Lange 1
1
Jardim Botânico 6
2 2 1 1
Jardim das Américas 6
2 1 2 1
Jardim Social 1
1
Juve 3
1 2
Lindóia 1
1
Mercês 2
2
Novo Mundo 17
14 1 1 1
Orleans 2
2
Parolin 2
1 1
Pilarzinho 10
5 1 1 2 1
Pinheirinho 30
22 2 1 3 1 1
Portão 19
11 4 1 2 1
Prado Velho 4
2 1 1
Rebouças 10
4 2 4
Santa Cândida 5
2 1 1 1
Santa Felicidade 19
7 1 1 1 8 1
Santa Quitéria 2
2
119
(Continuação Apêndice A)
(Concluso)
São Bráz 8
5 1 2
São Francisco 1
1
Seminário 2
1 1
Sítio Cercado 39
35 1 1 1 1
Tarumã 1
1
Tatuquara 17
16 1
Tingui 1
1
Uberaba 27
23 1 3
Umbará 3
3
Vila Izabel 1
1
Vista Alegre 8
14 1 2
Xaxim 20
1 1 1 1 2
2005 Total
555
340
1
1
2
1
27
9
3
8
30
5
1
1
108
2
8
1
3
3
1
120
(Continua)
ANO
BAIRROS
QUANT. TOTAL
Abalo Sísmico
Abelhas
Afogamento
Alagamentos
Animais soltos na via
Apoio ao cidadão
Apoio ao Corpo de Bombeiros
Aterro irregular
Averiguação
Bueiro aberto/sem tampa
Corte ilegal de árvore
Depósito irregular de entulhos
Depósito irregular de GLP
Derramamento de combustível/óleo/carga perigosa
Desabamento
Desmoronamento
Destelhamento
Erosão
Explosão
Incêndio
Infiltração
Orientão
Protão ao patrimônio
Queda de árvore/galho
Queima a céu aberto
Risco de acidente à vida
Risco de alagamento
Risco de desabamento/desmoronamento
Risco de Explosão
Risco de queda de árvore/galho
Risco de queda de poste
Vazamento de gás
Vistoria- GLP
Abranches 4
1 1 2
Água Verde 22
4 2 1 3 8 1 2 1
Ahu 4
4
Alto Boqueirão 12
7 1 2 1 1
Alto da Glória 7
7
Alto da XV 5
1 2 2
Atuba 12
7 3 1 1
Bacacheri 18
7 2 1 1 5 2
Bairro Alto 18
1 7 6 1 3
Barreirinha 8
4 1 1 1 1
Batel 5
1 1 1 1 1
Bigorrilho 14
4 1 2 6 1
Boa Vista 37
16 1 1 1 1 1 13 1 1
Bom Retiro 9
5 3 1
Boqueirão 27
14 2 1 2 8
Butiatuvinha 1
1
Cabral 15
4 1 7 2 1
2006
121
(Continuação Apêndice A)
(Continua)
Cajuru 82
61 1 1 1 18
Campina do Siqueira 7
2 4 1
Campo Comprido 19
8 2 1 8
Campo de Santana 8
5 1 2
Capão da Imbuia 7
4 1 2
Capão Raso 9
6 1 2
Caximba 1
1
Centro 60
17 1 4 1 5 1 21 3 3 1 3
Centro Cívico 5
1 2 1 1
CIC 120
98 2 4 1 2 3 2 1 6 1
Fanny 6
2 1 2 1
Fazendinha 22
21 1
Ganchinho 2
1 1
Guabirotuba 9
7 2
Guaira 9
8 1
Hauer 7
1 5 1
Hugo Lange 7
1 5 1
Jardim Botânico 3
1 1 1
Jardim das Américas 17
14 1 2
Jardim Social 9
9
Juve 10
1 9
Lindóia 1
1
Mercês 9
7 1 1
Mossunguê 1
1
Novo Mundo 17
12 2 1 2
Orleans 6
2 2 1 1
Parolin 9
6 1 1 1
Pilarzinho 14
1 1 1 6 2
Pinheirinho 39
1 4 6 3
Portão 23
19 1 2 1
Prado Velho 5
5
Rebouças 19
12 1 1 3 2
Santa Cândida 36
30 1 1 1 1 2
122
(Continuação Apêndice A)
(Concluso)
Santa Felicidade 27
8 1 1 1 3 1 11 1
Santa Quitéria 4
2 1 1
Santo Inácio 11
4 1 1 1 4
São Bráz 17
4 2 10 1
São Francisco 3
3
São João 1
1
São Lourenço 2
3
Seminário 3
1 1 1
Sítio Cercado 54
41 1 4 2 1 4 1
Tarumã 4
1 2 1
Tatuquara 34
27 4 1 1 1
Tingui 9
1 3 1 4
Uberaba 38
31 1 2 1 2 1
Umbará 8
6 1 1
Vila Izabel 8
1 7
Vista Alegre 15
6 1 7 1
Xaxim 23
15 3 1 1 2 1
2006 Total
1077
1
1
599
1
2
1
3
2
2
1
23
16
3
39
38
1
12
1
1
267
16
1
32
5
9
123
(Continua)
ANO
BAIRROS
QUANT. TOTAL
Abalo Sísmico
Abelhas
Afogamento
Alagamentos
Animais soltos na via
Apoio ao cidadão
Apoio ao Corpo de Bombeiros
Aterro irregular
Averiguação
Bueiro aberto/sem tampa
Corte ilegal de árvore
Depósito irregular de entulhos
Depósito irregular de GLP
Derramamento de combustível/óleo/carga perigosa
Desabamento
Desmoronamento
Destelhamento
Erosão
Explosão
Incêndio
Infiltração
Orientão
Protão ao patrimônio
Queda de árvore/galho
Queima a céu aberto
Risco de acidente à vida
Risco de alagamento
Risco de desabamento/desmoronamento
Risco de Explosão
Risco de queda de árvore/galho
Risco de queda de poste
Vazamento de gás
Vistoria- GLP
Abranches 14
4 1 3 3 3
Água Verde 35
7 1 6 10 2 9
Ahu 4
2 1 1
Alto Boqueirão 24
16 1 2 2 3
Alto da Glória 2
1 1
Alto da XV 5
2 1 2
Atuba 15
6 1 1 2 4 1
Augusta 5
4 1
Bacacheri 17
3 2 1 2 7 1 1 1
Bairro Alto 39
9 1 8 6 1 10 3 1
Barreirinha 18
4 1 2 5 2 4
Batel 15
1 1 5 5 1 2
Bigorrilho 19
1 2 1 4 9 2
Boa Vista 46
9 1 1 6 3 15 1 1 9
Bom Retiro 8
2 1 3 1 1
Boqueirão 101
2 1 3 6 3 4 5 5 8
Butiatuvinha 4
1 2 1
2007
124
(Continuação Apêndice A)
(Continua)
Cabral 7
1 1 3 1
Cachoeira 6
2 1
Cajuru 61
32 1 2 1 1 1 6 4 6 6
Campina do Siqueira 9
2 1 1 1 3 1
Campo Comprido 43
19 1 1 1 4 4 9 1 1 2
Campo de Santana 8
1 1 1 1 2 2
Capão da Imbuia 4
1 1 1 1
Capão Raso 29
10 1 5 2 11
Cascatinha 1
1
Caximba 2
2
Centro 70
6 1 1 4 17 1 1 11 7 6 3 11
Centro Cívico 5
2 1 1 1
CIC 218
153 1 5 2 7 17 6 1 7 2 3 14
Cristo Rei 6
1 1 4
Fanny 8
7 1
Fazendinha 66
43 1 2 2 1 15
Ganchinho 4
2 1 1
Guabirotuba 6
2 1 3
Guaira 17
2 1 1 1 1 1 2 8
Hauer 20
9 1 1 2 1 1 2 3
Hugo Lange 6
3 2 1
Jardim Botânico 6
1 1 1 1 1 1
Jardim das Américas 20
7 1 8 4
Jardim Social 2
1 1
Juve 5
1 1 2 1
Lindóia 7
3 2 2
Mercês 24
3 1 6 1 11 1 1
Mossunguê 8
1 1 6
Novo Mundo 40
22 1 2 4 2 3 6
Orleans 5
1 2 2
Parolin 16
3 1 4 1 3 4
Pilarzinho 32
2 1 4 7 13 1 3 1
Pinheirinho 53
22 1 1 3 7 4 1 3 11
125
(Continuação Apêndice A)
(Concluso)
Portão 46
11 1 1 2 9 9 1 12
Prado Velho 4
1 1 1 1
Rebouças 15
4 1 2 2 4 3
Santa Cândida 30
16 1 1 3 1 2 1 5
Santa Felicidade 40
14 1 1 1 1 6 2 11 1 2
Santa Quitéria 12
1 1 1 1 2 3 1 2
Santo Inácio 12
1 2 1 3 1 4
São Bráz 16
1 1 1 7 6
São Francisco 10
1 4 4 1
São João 3
1 2
São Lourenço 16
5 1 2 7 1
Seminário 11
3 6 2
Sítio Cercado 54
26 1 1 4 1 8 1 3 1 1 7
Taboão 3
1 1 1
Tarumã 5
1 2 1 1
Tatuquara 17
8 2 2 2 1 2
Tingui 5
1 1 1 1 1
Uberaba 50
24 3 1 2 4 3 1 2 1 9
Umbará 8
2 1 2 1 1 1
Vila Izabel 6
2 3 1
Vista Alegre 20
4 1 1 9 2 1 2
Xaxim 48
29 2 11 1 1 4
2007 Total
1616
644
5
10
1
1
1
1
25
40
11
64
222
35
3
1
255
5
31
64
1
8
187
126
(Continua)
ANO
BAIRROS
QUANT. TOTAL
Abalo Sísmico
Abelhas
Afogamento
Alagamentos
Animais soltos na via
Apoio ao cidadão
Apoio ao Corpo de Bombeiros
Aterro irregular
Averiguação
Bueiro aberto/sem tampa
Corte ilegal de árvore
Depósito irregular de entulhos
Depósito irregular de GLP
Derramamento de combustível/óleo/carga perigosa
Desabamento
Desmoronamento
Destelhamento
Erosão
Explosão
Incêndio
Infiltração
Orientão
Protão ao patrimônio
Queda de árvore/galho
Queima a céu aberto
Risco de acidente à vida
Risco de alagamento
Risco de desabamento/desmoronamento
Risco de Explosão
Risco de queda de árvore/galho
Risco de queda de poste
Vazamento de gás
Vistoria- GLP
Abranches 4
2 1 1
Água Verde 11 1 4 1 1 3 1
Ahu 4
1 1 1 1
Alto Boqueirão 17
8 1 4 3 1
Alto da Glória 4
1 3
Alto da XV 5
1 2 1 1
Atuba 3
2 1
Bacacheri 7
2 1 1 2 1
Bairro Alto 53
1 32 4 9 2 4 1
Barreirinha 7
1 5 1
Batel 7
2 1 3 1
Bigorrilho 9
1 5 1 1 1
Boa Vista 18
7 1 1 3 2 2 2
Bom Retiro 3
2 1
Boqueirão 41
17 1 1 1 2 1 7 3 2 1 2 2 1
Butiatuvinha 4
1 1 1 1
Cabral 3
1 2
2008
127
(Continuação Apêndice A)
(Continua)
Cachoeira 1
1
Cajuru 37
2 16 2 2 8 3 1 3
Campina do Siqueira 7
4 1 1
Campo Comprido 16
10 1 2 1 2
Campo de Santana 3
2 1
Capão da Imbuia 9
4 1 2 2
Capão Raso 12
3 1 2 1 4 1
Cascatinha 2
1 1
Caximba 1
1
Centro 56
2 6 1 1 8 4 2 1 9 1 5 1 5 5 2 3
Centro Cívico 7
1 1 2 1 1 1
CIC 47
1 15 3 6 1 4 4 4 4 3 1
Cristo Rei 9
3 1 1 1 1 1 1
Fanny 3
2 1
Fazendinha 8
3 1 1 1 1 1
Guabirotuba 7
1 2 1 1 1 1
Guaira 2
1 1
Hauer 9
3 4 1 1
Hugo Lange 1
1
Jardim Botânico 5
3 1 1
Jardim das Américas 4
3 1
Jardim Social 2
1 1
Juve 4
1 1 1 1
Lamenha Pequena 1
1
Lindóia 3
2 1
Mercês 10
2 6 1 1
Mossunguê 2
1 1
Novo Mundo 8
1 2 1 1 1 1 1
Orleans 4
3 1 1
Parolin 5
1 1 1 1 1
Pilarzinho 13
2 1 1 6 1 1 1
Pinheirinho 22
1 7 1 1 2 2 5 1 1 1
Portão 17
1 2 1 12 1
128
(Continuação Apêndice A)
(Concluso)
Prado Velho 7
2 1 1 3 1
Rebouças 13
1 4 1 1 1 1 2 2
Santa Cândida 9
1 1 1 1 1 1 2 2
Santa Felicidade 34
1 15 5 4 1 3 1 1 2
Santa Quitéria 11
3 1 1 1 2 1 1 1
Santo Inácio 6
1 1 1 2 1
São Bráz 1
1
São Francisco 5
1 1 1 1 1
São João 1
1
São Lourenço 4
1 2 1
Seminário 5
1 1 1 1 1
Sítio Cercado 52
25 1 1 1 2 11 6 2 1 1 1
Taboão 3
2 1
Tarumã 4
1 1 2
Tatuquara 12
4 2 2 1 1 1 1
Tingui 8
1 2 1 1 3
Uberaba 34
1 16 2 6 2 3 2 2
Umbará 5
1 2 1 1
Vila Izabel 5
2 1 1 1
Vista Alegre 5
2 1 1 1
Xaxim 13
4 1 1 6 1
2008 Total
777
8
11
1
269
11
2
13
5
1
34
34
1
26
152
2
2
65
26
20
1
42
6
1
5
1
4549
8
12
2
1900
1
17
13
2
7
20
11
3
1
127
100
22
142
523
3
76
5
3
4
804
31
83
2
153
2
123
1
28
190
Total geral
129
APÊNDICE B:
Tabela do Número de Acidentes Naturais no Município de Curitiba com tipologias
selecionados para pesquisa
130
(Continua)
Num. dos bairros
BAIRROS
2004
Alagamentos
Desmoronamento
Destelhamento
Erosão
Queda de árvore/galho
2005
Alagamentos
Desmoronamento
Destelhamento
Erosão
Queda de árvore/galho
2006
Alagamentos
Desmoronamento
Destelhamento
Erosão
Queda de árvore/galho
2007
Alagamentos
Desmoronamento
Destelhamento
Erosão
Queda de árvore/galho
2008
Alagamentos
Desmoronamento
Destelhamento
Erosão
Queda de árvore/galho
TOTAL
Alagamentos
Desmoronamento
Destelhamento
Erosão
Queda de árvore/galho
75 CIC 21
18 3
44
42 1 1
111
98 2 3 2 6
186
153 2 7 17 7
25
15 6 4
387
326 5 11 25 20
21 Cajuru 31
20 7 4
39
34 2 3
81
61 1 1 18
46
32 1 1 6 6
27
16 8 3
224
163 1 4 22 34
65 Sítio Cercado 20
13 1 3 3
37
35 1 1
51
41 4 2 4
38
26 1 8 3
43
25 11 6 1
189
140 0 18 20 11
1 Centro 23
3 10 10
23
9 4 10
43
17 5 21
34
6 17 11
21
6 1 9 5
144
41 1 0 45 57
37 Uberaba 21
19 1 1
26
23 3
36
31 2 1 2
33
24 2 4 3
24
16 6 2
140
113 0 4 12 11
56 Boqueirão 39
27 1 6 5
18
14 2 2
25
14 1 2 8
13
3 6 4
27
17 1 7 2
122
72 0 6 23 21
27 Portão 34
8 2 18 6
17
11 4 2
21
19 2
31
11 2 9 9
15
2 12 1
118
51 2 2 43 20
63 Santa Felicidade 22
5 10 7
16
7 1 8
23
8 1 3 11
33
14 1 1 6 11
22
15 4 3
116
49 1 3 23 40
34 Boa Vista 13
7 1 5
18
8 3 7
30
16 1 13
34
9 1 6 3 15
13
7 1 3 2
108
47 2 7 10 42
66 Pinheirinho 13
8 1 4
26
22 3 1
10
4 6
37
22 1 3 7 4
15
7 2 5 1
101
59 2 9 19 12
36 Bairro Alto 11
7 2 2
2
1 1
13
7 6
33
9 8 6 10
41
32 9
100
56 0 10 15 19
42 Fazendinha 18
12 1 5
7
7
22
21 1
46
43 2 1
5
3 1 1
98
86 0 1 4 7
57 Xaxim 15
12 1 2
2
1 1
19
15 1 1 2
41
29 11 1
11
4 6 1
88
60 0 2 20 6
74 Tatuquara 9
5 3 1
17
16 1
32
27 4 1
12
8 2 2
9
4 2 2 1
79
60 1 6 7 5
44 Campo Comprido 1
1
6
3 1 2
18
8 2 8
36
19 4 4 9
13
10 1 2
74
41 0 7 7 19
41 Novo Mundo 6
3 3
15
14 1
16
12 2 2
32
22 1 2 4 3
2
1 1
71
51 1 4 5 10
53 Santa Cândida 2
2
4
2 1 1
32
30 1 1
22
16 1 3 2
2
1 1
62
51 0 3 4 4
9 Água Verde 9
2 7
5
2 2 1
15
4 3 8
24
7 1 6 10
8
4 1 3
61
19 0 1 12 29
64 Alto Boqueirão 8
7 1
5
4 1
9
7 1 1
21
16 1 2 2
15
8 4 3
58
42 0 1 8 7
32 Pilarzinho 5
1 4
8
5 1 2
8
1 1 6
26
2 4 7 13
8
2 6
55
10 0 5 15 25
31 Vista Alegre 5
3 2
17
14 1 2
14
6 1 7
14
4 1 9
4
2 1 1
54
29 0 0 6 19
8 Rebouças 10
4 2 4
8
4 4
16
12 1 3
10
4 2 4
7
4 1 2
51
28 0 0 6 17
22 Jd. das Américas 4
4
5
2 2 1
17
14 1 2
20
7 1 8 4
3
3
49
30 1 2 9 7
58 Capão Raso 3
2 1
10
9 1
8
6 2
17
10 5 2
8
3 1 4
46
30 0 1 10 5
35 Bacacheri 3
2 1
8
2 1 5
15
7 2 1 5
12
3 2 7
4
2 2
42
16 0 2 4 20
131
(Continuação Apêndice B)
(Continua)
11 Bigorrilho 4
4
5
1 4
10
4 6
15
1 1 4 9
6
5 1
40
6 0 1 9 24
12 Mercês 3
1 2
2
2
7
7
21
3 1 6 11
7
6 1
40
4 0 1 12 23
60 São Bráz 6
2 4
8
5 1 2
16
4 2 10
8
1 7
1
1
39
13 0 2 1 23
55 Atuba 8
7 1
5
4 1
10
7 3
13
6 2 4 1
2
2
38
26 0 2 4 6
16 Cabral 1
1
8
1 1 6
11
4 7
4
1 3
3
1 2
27
6 0 0 3 18
38 Hauer 1
1
2
1 1
6
1 5
11
9 2
7
3 4
27
15 0 0 6 6
52 Barreirinha 1
1
3
3
6
4 1 1
10
4 1 5
6
5 1
26
16 0 1 3 6
25 Parolin 2
2
2
1 1
8
6 1 1
11
3 4 1 3
2
1 1
25
12 0 5 2 6
13 Bom Retiro 4
2 2
3
3
8
5 3
6
2 1 3
3
2 1
24
11 0 0 2 11
30 Campina do Siqueira 2
1 1
3
2 1
6
2 4
7
2 1 1 3
6
4 1 1
24
11 0 2 1 10
23 Guabirotuba 4
3 1
2
1 1
9
7 2
5
2 3
4
1 2 1
24
14 0 0 5 5
33 São Lourenço 3
3
3
3
15
5 1 2 7
3
1 2
24
8 0 1 3 12
39 Fanny 1
1
7
6 1
5
2 1 2
8
7 1
2
2
23
18 1 0 1 3
46 Santo Inácio 2
2
10
4 1 1 4
8
1 3 4
3
1 2
23
6 0 1 6 10
29 Seminário 6
4 1 1
2
1 1
2
1 1
11
3 6 2
2
1 1
23
9 0 0 8 6
26 Guaira 6
4 1 1
2
1 1
9
8 1
4
2 1 1
1
1
22
16 0 1 2 3
43 Santa Quitéria 3
2 1
2
2
4
2 1 1
7
1 1 2 3
6
3 2 1
22
8 1 1 4 8
50 Abranches 3
2 1
1
1
4
1 1 2
10
4 3 3
3
2 1
21
9 0 0 4 8
73 Umbará 1
1
3
3
7
6 1
6
2 1 2 1
4
1 2 1
21
11 2 3 3 2
10 Batel 1
1
2
1 1
2
1 1
10
5 5
5
1 3 1
20
2 0 0 10 8
15 Juve 3
1 2
2
2
9
9
4
1 1 2
1
1
19
2 0 0 2 15
28 Vila Izabel 2
2
1
1
8
1 7
5
2 3
3
2 1
19
3 0 0 3 13
5 Alto da XV 4
1 1 2
4
1 3
3
1 2
3
2 1
4
1 2 1
18
6 0 0 3 9
2 São Francisco 3
1 1 1
0 3
3
9
1 4 4
3
1 1 1
18
3 0 0 6 9
54 Tingui 1
1
1
1
8
3 1 4
4
1 1 1 1
4
1 2 1
18
5 0 2 3 8
20 Capão da Imbuia 2
1 1
4
2 1 1
4
4
1
1
6
4 2
17
12 0 0 3 2
18 Jardim Social 5
4 1
1
1
9
9
0 1
1
16
4 0 0 0 12
59 Orleans 2
1 1
2
2
5
2 2 1
3
1 2
4
3 1
16
6 0 4 0 6
4 Alto da Glória 1
1
1
1
7
7
2
1 1
4
1 3
15
1 0 0 5 9
71 Campo de Santana 1
1
2
2
7
5 2
2
1 1
3
2 1
15
11 0 2 1 1
24 Prado Velho 0 3
2 1
5
5
2
1 1
5
2 3
15
10 0 0 1 4
19 Tarumã 4
2 1 1
1
1
3
2 1
4
1 2 1
3
1 2
15
4 0 0 7 4
14 Ahu 1
1
4
2 2
4
4
3
2 1
2
1 1
14
5 0 0 2 7
132
(Continuação Apêndice B)
(Concluso)
3 Centro Cívico 2
1 1
3
3
3
2 1
3
2 1
3
2 1
14
3 0 1 4 6
17 Hugo Lange 2
1 1
1
1
5
5
5
3 2
1
1
14
2 0 0 4 8
40 Lindóia 1
1
1
1
7
3 2 2
3
2 1
12
7 0 0 3 2
61 Butiatuvinha 1
1
3
1 1 1
1
1
3
1 2
3
1 1 1
11
2 1 1 3 4
6 Cristo Rei 1
1
1
1
2
1 1
5
3 1 1
9
3 0 1 3 2
7 Jardim Botânico 0 4
2 1 1
2
1 1
2
1 1
1
1
9
2 0 0 4 3
45 Mossunguê 1
1
7
1 6
0 8
2 0 0 0 6
72 Ganchinho 1
1
1
1
4
2 1 1
6
3 0 0 1 2
48 São João 1
1
3
1 2
1
1
5
1 0 0 2 2
68 Augusta 4
4
4
4 0 0 0 0
70 Caximba 1
1
2
2
1
1
4
1 0 0 0 3
49 Taboão 2
1 1
2
2
4
3 0 0 0 1
47 Cascatinha 1
1
1
1
1
1
3
1 0 0 0 2
51 Cachoeira 1
1
0 1
0 0 1 0 0
62 Lamenha Pequena 1
1
1
1 0 0 0 0
69 Riviera 0
0 0 0 0 0
67 São Miguel 0
0 0 0 0 0
247
48
4
5
81
109
489
340
3
8
30
108
946
599
3
39
38
267
1616
644
11
64
222
255
513
269
1
26
152
65
3811
1900
22
142
523
804
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