Nas falas dos entrevistados, o preconceito e a discriminação por parte dos
professores, dos amigos da escola, da própria família e no campo do trabalho, aparecem de
forma predominante.
Outro fator que se evidencia é que esses estudantes freqüentam a escola com o
objetivo principal de se alfabetizar, com vistas à oportunidade de trabalho formal e de
conseguir cidadania. A seguir mais dois relatos de jovens, sujeitos desta investigação quando
entrevistados sobre suas experiências escolares:
Eu estudei em escola lá na Bahia, na 1ª série, reprovei depois, vim para cá,
(Camboriu) fui para APAE, fiquei uns 4 anos, minha avó me colocou lá, e
agora estou no supletivo. Eu não gostava da APAE, mas minha avó me
colocou lá, ela dizia que eu era doido. Hoje estou na 5ª série, aqui é muito
legal, fui bem recebido, tem prova, a professora me ajuda, e eu vou fazendo
as provas. As professoras são legais, gosto daqui. A sociedade deveria dar
mais oportunidade dando escolas, empregos, não ri da gente. (João, 18).
Estudei na APAE, mas não deu certo. Depois para escola normal, passei
por três escolas. Eu vou falar o nome das escolas que eu já estudei. Já
estudei no Mário Garcia, no Amadio Dalago e agora no supletivo. Os
alunos mexiam comigo, porque eu tinha 10 anos e estava na 3ª série. Eles
falavam assim: você desse tamanho, era para estar na 5ª ou 6ª série. Eu
estava quieta no meu canto e tinha dois rapazinhos que mexiam comigo por
causa disso. No Amadio Dalago fui ruim, eu gostei mais do Mário Garcia,
tenho vontade de estudar de novo lá, gosto muito daquela escola, faz tempo
já. Com 8 anos eu rodei três vezes, estava na primeira série, não passei de
ano na primeira, daí foi difícil quando eu era pequena. Hoje estou na 4ª
série e a escola me acolheu bem, me matriculei no primeiro dia e estou
aqui até hoje. Esse ano (2009) eu repeti, eu não passei de ano, eu continuo
tentando passar, mas esse ano eu não consegui, mas estou tentando. A
minha dificuldade é na matemática, eu não sou muito chegada em
matemática. O português, na verdade até que eu estou indo bem, agora em
matemática eu não estou indo. Eu já aprendi informática, às vezes eu pego
o livro lá na praça. Antes tinha aula de informática, mas acabou, não tenho
livros no supletivo, mas é muito bom, gosto de estudar aqui (Jane, 24).
Observa-se no depoimento acima que é no enfrentamento de suas dificuldades que
esses jovens demonstram suas superações. Os desafios são enfrentados por meio de lutas
árduas, mas eles vêem a escola como um meio para a ascensão social, para a obtenção de
reconhecimento e para a realização pessoal; acreditam que a escola pode proporcionar
autonomia para que consigam se inserir na vida e para construírem suas próprias identidades.
Como alerta Gusmão (2006, p. 387): “Educar é então o maior desafio na construção
de uma sociedade de aprendizagem, com base em relações de intercâmbio e de partilha entre
diferentes saberes e culturas, uma sociedade verdadeiramente intercultural”.