Download PDF
ads:
1
UNIVERSIDADE DE BRASÍLIA
INSTITUTO DE PSICOLOGIA
DEPARTAMENTO DE PSICOLOGIA CLÍNICA
PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM PSICOLOGIA CLÍNICA E CULTURA
DESAFIOS DA MENOPAUSA: VIVÊNCIAS DE MULHERES
PARTICIPANTES DE OFICINAS
ANA PAULA SOARES FERNANDES
Brasília
Setembro de 2010
ads:
Livros Grátis
http://www.livrosgratis.com.br
Milhares de livros grátis para download.
1
UNIVERSIDADE DE BRASÍLIA
INSTITUTO DE PSICOLOGIA
DEPARTAMENTO DE PSICOLOGIA CLÍNICA
PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM PSICOLOGIA CLÍNICA E CULTURA
DESAFIOS DA MENOPAUSA: VIVÊNCIAS DE MULHERES
PARTICIPANTES DE OFICINAS
ANA PAULA SOARES FERNANDES
Orientadora: Profa. Dra. Vera Lúcia Decnop Coelho
Dissertação apresentada ao Programa de
Pós- graduação em Psicologia Clínica e
Cultura, do Instituto de Psicologia, da
Universidade de Brasília, como requisito
parcial para obtenção do grau de Mestre
em Psicologia Clínica e Cultura.
Brasília
Setembro 2010
ads:
1
UNIVERSIDADE DE BRASÍLIA
INSTITUTO DE PSICOLOGIA
DEPARTAMENTO DE PSICOLOGIA CLÍNICA
PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM PSICOLOGIA CLÍNICA E CULTURA
Dissertação de Mestrado aprovada pela seguinte Banca Examinadora:
___________________________________________
Dra. Vera Lúcia Decnop Coelho (Presidente)
Instituto de Psicologia – Universidade de Brasília - UnB
___________________________________________
Dra. Gláucia Ribeiro Starling Diniz
Instituto de Psicologia – Universidade de Brasília – UnB
____________________________________________
Dra. Miriam Cássia Mendonça Pondaag
Instituto de Psicologia – Instituto Educação Superior de Brasília – IESB
___________________________________________
Dra. Terezinha de Camargo Viana – Suplente
Instituto de Psicologia – Universidade de Brasília - UnB
iv
Para meus familiares e amigos.
v
Agradecimentos
A Deus, pela oportunidade de viver, aprender, e ser instrumento de ajuda ao
próximo.
À minha família, pela compreensão da minha ausência e pelo apoio.
Aos meus amigos, pelo incentivo, carinho, dicas e ajudas.
À professora Vera pela valiosa orientação, paciência, confiança e apoio.
Às professoras Gláucia, Miriam e Terezinha pela aceitação na participação da
banca e apreciação deste trabalho.
Ao Centro de Atendimento e Estudos Psicológicos (CAEP) pela disposição de
espaço para coleta de dados e contato com as participantes.
vi
Sumário
DEDICATÓRIA ........................................................................................................................ iv
AGRADECIMENTOS .............................................................................................................. v
SUMÁRIO ................................................................................................................................ vi
RESUMO ... ........................................................................................................................ .....vii
ABSTRACT ....................................................................................................................... ....viii
INTRODUÇÃO .......................................................................................................................... 1
CAPÍTULO 1 ............................................................................................................................. 4
Vivências da Maturidade Feminina ............................................................................................ 4
1.1- Etapa do Ciclo vital: a Meia-idade .................................................................................. 4
1.2- Menopausa: fenômeno biopsicossocial ........................................................................... 8
1.3- Aspectos culturais da vivência da menopausa .............................................................. 11
CAPÍTULO 2 ........................................................................................................................... 26
Gênero, Condição Feminina e Envelhecimento ....................................................................... 26
2.1 – Menopausa e envelhecimento: uma questão de gênero ............................................... 27
2.2 – Saúde da mulher e gênero ............................................................................................ 33
CAPÍTULO 3 ........................................................................................................................... 37
Oficina: Intervenção grupal focal e breve ................................................................................ 37
3.1 – Intervenções em grupo................................................................................................. 44
CAPÍTULO 4 ........................................................................................................................... 49
Método ...................................................................................................................................... 49
4.1 - Participantes ................................................................................................................. 50
4.2 - Instrumentos e Procedimentos ..................................................................................... 52
4.3 - Análise de dados .......................................................................................................... 53
CAPÍTULO 5 ........................................................................................................................... 57
Palavras de Mulheres: Resultados e Discussão ........................................................................ 57
5.1 - Os desafios da menopausa ........................................................................................... 57
a) Sexualidade................................................................................................................... 58
b) Transformações físicas/corporais ................................................................................. 62
c) Diminuição do ritmo de vida ........................................................................................ 65
d) Aposentadoria .............................................................................................................. 69
e) Envelhecimento ............................................................................................................ 71
f) Sentimento de solidão ................................................................................................... 77
5.2 - Participando de Oficinas sobre a menopausa: a importância de um grupo .................. 81
5.3 - A relação pesquisadora e participantes ........................................................................ 88
CAPÍTULO 6 ........................................................................................................................... 90
Reflexões e Aprendizados ........................................................................................................ 90
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ..................................................................................... 95
ANEXOS ................................................................................................................................ 103
Anexo I – Declaração Conselho de Ética ........................................................................... 104
Anexo II – Declaração CAEP ............................................................................................. 105
Anexo III – Termo de Consentimento Livre e Esclarecido ................................................ 106
vii
Resumo
O estudo teve como objetivo investigar os desafios da menopausa, na
perspectiva de mulheres na meia-idade, por meio de uma metodologia de atendimento
breve e focal, denominada Oficina. Com base em revisão teórica acerca da meia-idade,
menopausa, gênero, trabalhos grupais e epistemologia qualitativa, elaborou-se a
metodologia das Oficinas. Ao todo, participaram sete mulheres em idade entre 45 e 59
anos. A análise de conteúdo temático dos encontros permitiu identificar os seguintes
desafios que as mulheres enfrentam na menopausa: sexualidade, transformações físicas,
diminuição do ritmo de vida, aposentadoria, envelhecimento e sentimento de solidão. O
sentido subjetivo das mudanças que ocorrem na mulher na menopausa pode estar
relacionado às expectativas do envelhecimento, à auto-percepção e à cultura. Os
desafios apontados estão ligados à auto-imagem, à auto-estima, ao valor social da
mulher idosa, e à relação com o corpo. As mudanças vividas atingem a identidade, o ser
mulher, e a condição feminina, pois também são reflexo do conflito entre o corpo vivido
e o corpo físico. Perceberam-se os efeitos positivos das Oficinas pela expressão dos
sujeitos do estudo e na mobilização para mudanças. Concluiu-se que o envelhecimento
é um dos aspectos que mais influenciam a vivência da menopausa. Sugere-se futuros
estudos que desenvolvam instrumentos de avaliação de Oficinas como intervenção bem
como pesquisas com companheiros de mulheres na menopausa. Neste sentido, resgatar
o olhar dos campos de saber da psicologia do desenvolvimento, da antropologia e dos
estudos feministas se faz essencial na ampliação do entendimento do fenômeno da
menopausa.
Palavras chaves: menopausa, meia-idade, Oficina, grupo focal e breve.
viii
Abstract
The aim of the study was to
investigate
the menopause’s challenges in
women’s
perspective. Based on the literature about middle-age, menopause, gender, groups and
qualitative epistemology, the Oficinas were elaborated. Brief and thematic group
interventions were implemented with seven middle-aged women. The thematic analyze of
the meetings permitted identify the follow challenges that women face: sexuality, physical
changes, life’s rhythm reduction, retirement, ageing, and felling alone. The subjective-
meaning about the changes in menopause are related with the expectations of ageing
process, self-perception and culture. The challenges are related to self-image, self-worth,
the social value of old woman, and the perception about the body. These changes affect
identity, the condition of being a woman, and the conflict related to what was experienced
in the body. There were positive effects on the participants of this search. We concluded
that the ageing process is the most influence point in the menopause. We suggest that
instruments need to be designed in order to evaluate the group interventions. In addition, the
perspective of women’s partners should be addressed in future studies. It is necessary to
include
others fields of knowledge as Developmental Psychology, Anthropology and
Feminism studies for the comprehension of the phenomenon.
Key-words: menopause; woman mid-life; Oficina; brief and thematic group.
1
INTRODUÇÃO
O presente estudo resulta de atividade exercida ao longo de três anos em parceria
na coordenação da Oficina “Sexualidade e Menopausa: mitos e realidades”, uma vez
que se tornou instrumento válido como um trabalho de conclusão de disciplina na
graduação do curso de Psicologia. A referida atividade integrou um projeto de educação
para saúde, possibilitando o contato com mulheres partícipes de vários contextos
sociais. Esta experiência despertou interesse em conhecer os diversos modos como as
mulheres lidam com as mudanças vividas na menopausa.
Com o encerramento da Oficina em questão, sentiu-se a necessidade de
aprofundamento dos estudos no que tange à vivência da mulher com as mudanças
ocorridas na menopausa, especialmente porque se faz importante os momentos de
escuta e atenção na vida de um indivíduo. Nesta experiência, foi possível constatar a
vivência de diferentes histórias de vida de algumas mulheres e os diversos modos de
enfrentamento das dificuldades pelas quais passam, sejam de origem física, social ou
emocional.
Por meio de experiência pessoal e após profunda leitura sobre o tema
supracitado, percebeu-se que a menopausa é primordialmente tratada sob um ponto de
vista negativo. Tal motivo despertou a busca pelo entendimento da menopausa, no
intuito de contribuir para uma possível elucidação da existência de aspectos positivos.
Diante do exposto, duas paixões mobilizaram esta pesquisa: a menopausa e o
trabalho com Oficinas. Porém, sendo necessário fazer a opção por uma destas temáticas
para este momento de estudo, privilegiou-se a busca pelo melhor entendimento desta
fase da vida feminina, procurando conhecer alguns desafios da menopausa. Assim,
2
posteriormente, estudar-se-á com mais profundidade a estratégia das Oficinas como
intervenção terapêutica. No estudo em questão, a Oficina é utilizada como instrumento
metodológico que possibilita o contato com os aspectos subjetivos do processo da
menopausa.
O objetivo do estudo é conhecer, na perspectiva de mulheres participantes de
uma Oficina, alguns desafios associados à menopausa. Para isto, investigou-se
dificuldades e benefícios associados à experiência da menopausa e também possíveis
benefícios e/ou prejuízos da participação nas Oficinas. Com a premissa de que
encontros são, ao mesmo tempo, possibilidade de coleta de dados e uma atividade de
intervenção psicológica, o estudo se utiliza deste método de atendimento breve e focal,
garantindo um espaço de escuta na exploração da vivência de mulheres na menopausa.
No primeiro capítulo, apresenta-se a meia-idade como etapa do ciclo de vida na
qual ocorre a menopausa. A partir da descrição das características desta etapa, define-se
menopausa como um período que marca a mulher em seu desenvolvimento. Aponta-se
o papel da cultura como constituinte de idéias e crenças compartilhadas que influenciam
a vivência de cada mulher. Em seguida, são apresentados aspectos culturais da vivência
da menopausa por meio da síntese de estudos com mulheres de diferentes países,
demonstrando que a menopausa não é experienciada de forma idêntica em todas as
culturas.
O segundo capítulo expõe a relevância dos movimentos feministas para o
cuidado com a mulher na menopausa. A partir do conceito de gênero, tem-se uma visão
mais ampla a respeito do que tange ao feminino, contribuindo para a percepção da
menopausa na vida da mulher. O envelhecimento é igualmente abordado neste capítulo,
por ser uma realidade da população mundial.
3
Para concluir o referencial teórico do estudo, o terceiro capítulo descreve as
características de uma intervenção grupal focal breve. Encontra-se aqui a definição de
Oficina, salientando as características singulares dessa modalidade de atividade,
incluindo a importância do papel do coordenador. Faz-se a diferença entre Oficinas e
grupo focal, reforçando-se a relevância de um trabalho grupal para mulheres que
enfrentam a menopausa.
A metodologia do estudo é apresentada no quarto capítulo, seguindo os
princípios da epistemologia qualitativa e promovendo a construção do conhecimento.
Descreve-se a Oficina como um dos instrumentos utilizados, além da entrevista semi-
estruturada realizada após um mês da atividade. Como referencial de análise de dados,
utilizou-se a técnica de análise temática.
No capítulo cinco, expõem-se as características de cada participante,
descrevendo também os desafios da menopausa relatados pelas mulheres nas Oficinas.
Os temas identificados são discutidos, com base nas considerações teóricas e as
interpretações da pesquisadora.
A conclusão do estudo é apresentada no capítulo seis, por meio de apontamentos
a respeito dos principais pontos da dissertação. Encontram-se ainda reflexões e
questionamentos que apontam algumas sugestões para pesquisas posteriores.
4
CAPÍTULO 1
Vivências da Maturidade Feminina
“Se maturidade é fruto da mocidade e velhice é resultado da maturidade,
viver é ir tecendo naturalmente a trama da existência. Processo tão trivial
para aquele que o vive, tão singular para quem o observa.”
Lya Luft
Segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS), até 2030, mais de 1 bilhão de
mulheres estarão na menopausa. No Brasil, o Instituto Brasileiro de Geografia e
Estatística (IBGE) (2008) estima que haverá mais de 13,5 milhões de mulheres com
idade entre 45 e 55 anos que podem estar no climatério. Diante de tais dados, percebe-se
a necessidade de estudos a respeito da vivência da menopausa que possibilitem às
mulheres mais informação, entendimento e apoio neste momento de suas vidas.
Compreendendo a menopausa como um fenômeno biológico, psíquico, cultural e
social, faz-se necessário analisar a relação existente entre esta fase da vida, o conceito
de gênero e a questão do envelhecimento. A menopausa ocorre na meia-idade, exceto
para as mulheres que sofrem de menopausa precoce. É importante esclarecer as
características da meia-idade para uma melhor compreensão do que pode acontecer com
uma mulher neste período de vida.
1.1- Etapa do Ciclo vital: a Meia-idade
Margis e Cordioli (2001) apontam a meia-idade como o período de vida
identificado entre 40 a 60 anos, no qual a mulher passa por transformações biológicas,
5
psicológicas e sociais. Um acontecimento importante nesta fase da vida feminina é a
menopausa: processo de transformação hormonal que culmina na última menstruação.
Neste sentido, é importante diferenciar os aspectos sociais que estão relacionados à
menopausa propriamente dita, dos que estão ligados à meia-idade, buscando trazer
reflexões que ampliem a forma de entendimento dos processos expostos.
Mosquera (1978) utiliza o termo ‘adultez média’ para se referir à meia-idade,
identificando-o como ponto mais significativo de mudança na fase de desenvolvimento
do ser humano, pois se trata de uma fase de consolidação em que a pessoa colhe os
frutos do esforço, podendo apresentar-se confiante nas suas capacidades. Nesta fase da
vida, a pessoa toma consciência crítica e é capaz de estabelecer a diferença entre o que
é realizável e aquilo que apresenta características inalcançáveis, assumindo uma postura
realista diante da vida, sem perder a capacidade de sonhar e esperar por novas
vivências. Aqui se a transição entre a idade adulta e a velhice, na qual o termo
‘maturidade’ também se coloca de modo adequado, representando a passagem na qual o
ser humano é capaz de integrar suas vivências, na medida do possível, e manter suas
expectativas para o futuro.
No meio da vida os adultos confrontam-se com uma multiplicidade de
experiências que apelam a reestruturações relacionais e concorrem para esta tomada de
consciência da finitude da vida (Fagulha, 2005). Os anos da meia-idade o
fundamentalmente caracterizados pela experiência psíquica interna de confronto com a
morte, até mesmo a morte da geração anterior à meia-idade. Faz-se ainda um balanço e
uma avaliação da vida até aquele momento. Na ambivalência de sentimentos a respeito
de juventude e envelhecimento, a mulher situa-se numa cultura que emprega valores
distintos entre o que é antigo, o que está em transformação, e o que é novo, podendo
6
gerar confusão entre expectativas pessoais, cobranças sociais e vivência real do período
de desenvolvimento.
Erik Erikson (1998) apresenta o ciclo de vida em nove fases. A maturação
desenvolvimental envolve uma crise psicossocial que conotação a cada estágio da
vida. Nas crises, ocorrem o desenvolvimento da personalidade e o confronto com o
poder ético do processo social. Assim, o estágio psicossocial significa a relação entre
maturação biológica, psicológica e social. Cada fase é descrita por aquele autor na
forma de par de opostos de características que se complementam e qualificam a etapa
de vida. Dentre os nove estágios, apenas o oitavo é referido neste estudo por ser
adequado ao tema exposto.
No oitavo estágio há uma divisão entre idade adulta jovem e idade adulta, sendo
que o intervalo cronológico para defini-los varia de acordo com cada indivíduo. A
idade adulta, que para Erikson corresponderia à meia-idade, se caracteriza pela antítese
generatividade versus auto-absorção ou estagnação. Generatividade inclui
procriatividade, produtividade e criatividade o que seria a geração de seres, produtos
e idéias. A estagnação seria o cessar desta produção. A virtude desta fase da vida é o
cuidado, ou seja, o fato do ser humano importar-se com o que foi criado. uma
tendência para a busca por equilíbrio neste cuidado, rejeitando o que não precisa de
tanta atenção e, às vezes, até relutando em incluir algo mais no conjunto de
preocupações que surgem nesta fase. A idade adulta madura emerge da idade adulta
jovem, na qual prevalece o desenvolvimento psicossexual, envolvendo intimidade e
isolamento de identidade.
No presente estudo, a fase do adulto maduro é o foco na busca do entendimento
deste processo de desenvolvimento humano. O oitavo estágio da perspectiva
eriksoniana apresenta descrições adequadas ao momento de vida pelo qual a mulher
7
passa durante a menopausa. Destaca a questão da procriação e o fim da capacidade
reprodutiva, definindo o caráter psicossocial envolvido na virtude do cuidado com o
outro que se amplia para si mesmo. É o momento em que se dão as transformações
voltadas para uma maturação psíquica.
Erikson (1998) afirma que, sem contato, não crescimento e nem vida. Deste
modo, o encontro com o outro torna-se essencial nesta fase. Para aquele autor, o
processo de envelhecimento é pouco percebido diante da quantidade de atividades que
envolvem o cotidiano das pessoas, sendo tratado pela cultura com menos atenção.
Erikson ainda afirma que a cultura tem papel fundamental nos ciclos de vida.
A meia-idade é marcada por preconceitos e tabus. Margis e Cordioli (2001)
destacam que, no que se refere à mulher, entre as principais mudanças estão: a saída dos
filhos de casa, a menopausa, a necessidade de cuidar dos pais que estão em idade
avançada, a preparação para uma possível aposentadoria e o início de uma real
percepção do envelhecimento. É um processo de reavaliação psíquica dos papéis
sociais, das mudanças na relação com o corpo e com a auto-imagem que se manifesta na
forma de conflitos que ressurgem ou se intensificam neste momento.
Neri (2003) aponta que este é um momento no qual as perdas de papéis
ocupacionais e perdas afetivas parecem ganhar mais destaque no desenvolvimento
humano do que as possibilidades de crescimento e amadurecimento.
Desproporcionalmente, tal fato atribui um maior valor negativo em relação aos aspectos
positivos que poderiam ser gerados, proporcionando angústia e sofrimento. Mulheres
podem vivenciar esta etapa com sofrimento por conta de conflitos existenciais,
sentimentos ambivalentes, transformações biológicas, papéis sociais, entre outros
aspectos. Isto depende da história de vida de cada uma, na qual a maturidade vai se
8
constituindo através dos momentos de crise e de elaborações psíquicas diante destas
mudanças.
Prétat (1997) destaca que a maturidade permite à mulher se posicionar de forma
diferente daqueles que valorizam a juventude e menosprezam a velhice. Mas, quando
essas vozes e atitudes negativas vêm de dentro, é possível identificar uma visão
distorcida e desvirtuada de si mesmas. Portanto, aceitar-se e viver o tempo presente de
forma satisfatória é tarefa que exige trabalho e atitude diante de um mundo que
proporciona liberdade e autonomia. A maturidade permite um olhar para a vida com
possibilidades de crescimento.
Para as mulheres, a menopausa aparece como um importante marcador desta
fase da vida. As idéias de finitude tornam-se presentes diante do fenômeno biológico, e
a maneira como cada mulher lida com isso depende da sua história de vivência de
mudanças das fases de vida e de sua rede de apoio.
1.2- Menopausa: fenômeno biopsicossocial
Em 1996, a Organização Mundial da Saúde publicou um conjunto de estudos
sobre saúde da mulher, definindo que menopausa é o tempo na vida da mulher,
aproximadamente entre 45 e 55 anos, no qual cessa sua capacidade reprodutiva devido à
diminuição da produção de hormônios pelos ovários. Neste período, ocorrem também
mudanças psicológicas, relacionadas às mudanças hormonais e ao processo de
envelhecimento.
Outra definição de menopausa, esta ligada ao modelo biomédico, utiliza o termo
para denominar a última menstruação da mulher (Pereira, Fontes e Pimentel, 1994;
Ramos, 1998). Ramos (1998) destaca que este período de transição também é
9
denominado pelo termo científico ‘climatério’. Porém, como determinação da OMS
(1996), o termo ‘menopausa’ abrange o período de transição entre os anos reprodutivos
de uma mulher, incluindo o momento anterior e posterior ao término dos sangramentos.
O presente estudo se orienta por esta determinação da OMS.
O fato de haver distinção entre os termos para definir a menopausa se deve ao
grande investimento do modelo biomédico na investigação do tema. Encontra-se maior
quantidade de estudos sobre a menopausa na área da Medicina, nos quais geralmente se
observam relatos de pesquisas referentes à intervenções médicas, associadas a uma
visão deste fenômeno enquanto insuficiência física que exige tratamento. A partir de
uma visão mais holista sobre o ser humano, justifica-se a utilização do termo
menopausa de forma mais abrangente, garantindo uma análise integral da experiência da
mulher, não a reduzindo a uma visão naturalista.
A menopausa é uma entre as várias mudanças que ocorrem na vida da mulher e,
apesar de ser considerada uma das três maiores menarca, gravidez e menopausa –,
percebe-se pouca preparação para a vivência desta fase. É uma etapa que faz parte do
desenvolvimento feminino, não se caracterizando como uma doença, mas sim como um
período que pode proporcionar oportunidades para se fazer escolhas, mudanças e
melhorias de vida (Landau, 1998).
Perceber a menopausa como um fenômeno que faz parte da vida é um caminho
para não tratá-la como patologia. O peso da palavra doença caracteriza este fenômeno
negativamente, colocando a mulher numa condição vitimizada, na qual o cuidado com o
físico adquire status de maior importância. Tal postura prejudica o acompanhamento da
mulher nos aspectos subjetivos da menopausa.
De acordo com Ramos (1998), menopausa é crise, assim como foi a
adolescência, apesar de suas diferenças. Momentos de crise são importantíssimos para a
10
existência, para o processo evolutivo e para o bem-estar futuro. A partir das mudanças
internas proporcionadas pelas experiências com as crises, a mulher tem a possibilidade
de encarar alguns desafios da menopausa com mais autonomia. Como o referido
fenômeno ocorre na meia-idade, as mulheres o vivenciam de forma bem discrepante dos
homens que sofrem a andropausa.
Conforme Pereira, Fontes e Pimentel (1994), a menopausa constitui-se como
uma das fases de mudanças físicas, psíquicas e sociais mais experienciada com
conflitos. Esta fase é um processo no qual o contato com perdas, consciência da
morte, cobranças, sentimento de vazio, nostalgia do passado e frustrações com projetos
não realizados. Pode proporcionar a dificuldade em se situar no momento presente,
tentando resgatar o ser jovem e negar o envelhecimento por diversos motivos
relacionados ao que é arraigado culturalmente e que influencia a forma de cada um se
perceber.
Segundo Mendonça (2004), a menopausa representa para algumas mulheres um
marco das mudanças pelas quais elas passam. Não somente em termos fisiológicos, mas
em vários outros aspectos, como por exemplo, na associação entre menopausa e início
do envelhecimento e decadência, nas construções características de nossas sociedades e
culturas ocidentais, e no discurso médico que não está desprovido desses atributos.
De fato, durante a menopausa, ocorrem provavelmente mais mudanças – físicas,
psicológicas, sociais e espirituais do que em qualquer outro período da vida adulta da
mulher (Fagulha & Gonçalves, 2005). Para além das mudanças relacionais, uma
transformação no sentimento do tempo, pois a finitude se faz sentir. É um repensar dos
aspectos negativos e positivos desta transição para um novo momento da vida.
Além do marco biológico, tem-se as influências culturais relacionadas à
menopausa, que possibilitam perceber quando uma mulher começa a experienciar as
11
mudanças que advém da meia-idade. As idéias culturais compartilhadas permitem
caracterizar a menopausa tanto positiva quanto negativamente. Com isso, as crenças, as
expectativas e as cobranças refletem em cada mulher que pertence a um grupo social,
determinando diferenças na forma como a menopausa é experienciada em vários
contextos.
1.3- Aspectos culturais da vivência da menopausa
Um dos motivos de nossas frustrações, homens e mulheres,
é vivermos numa cultura que idolatra a juventude e
endeusa a forma física além de qualquer sensatez.
Lya Luft
Para caracterizar algo como positivo ou negativo, ou imputar-lhe algum tipo de
valor, é necessário analisar os sistemas de crenças da população que formam sua
cultura. No caso da meia-idade feminina e da menopausa, questões culturais são
costumeiramente pontuadas como fundamentais para a compreensão da vivência deste
período, porque se constituem de conceitos, valores, atitudes, comportamentos, afetos e
simbologias ligados, principalmente, ao feminino e ao envelhecimento.
Mesmo que a mulher queira ignorar o corpo, ela é obrigada a se dar conta de sua
transformação (Pereira, Fontes & Pimentel, 1994). As idéias a respeito do
envelhecimento podem contribuir para compreender como a menopausa tem sido
tratada em âmbito social nos mais diferentes contextos.
Araújo (2005) ressalta que faz-se necessário assumir uma atitude coerente com
o relativismo cultural como uma filosofia que, ao reconhecer os valores estabelecidos
em cada sociedade para guiar sua própria vida, insiste em valorizar a dignidade inerente
a cada corpo de costumes, e pontua a necessidade de tolerância perante convenções
12
diferentes. Isto significa estabelecer um olhar compreensivo acerca de cada cultura sem
julgamento, nem se posicionar contra ou favor desta.
Idéias e valores daquilo que se reconhece como feminino variam de cultura para
cultura, mas sempre estão ligados aos papéis que a mulher exerce em determinada
sociedade. No caso da cultura ocidental, o feminino normalmente é associado à
reprodução, à maternidade, às responsabilidades domésticas, à sensibilidade e à
emotividade.
De acordo com Prétat (1997), na sociedade contemporânea, as mulheres não têm
permissão para envelhecer normalmente através de seu ciclo completo de vida. Destaca
também que as mulheres mais velhas não são reconhecidas, não aparecendo nas telas de
cinema ou televisão, fato ilustrativo da influência da perspectiva cultural a respeito da
meia-idade nos processos subjetivos do ser humano.
Inclusive a literatura contribui para a compreensão a respeito das idéias
compartilhadas socialmente a respeito do envelhecer quando, por exemplo, Luft (2003)
ressalta que o envelhecimento é algo detestado em nossa cultura, porque cria uma
marca de incapacidade e isolamento. A idéia predominante é de que a velhice é uma
sentença da qual se deve fugir a qualquer custo devido a seu caráter depreciativo.
Aquela autora ainda aponta que a sociedade é tola, porque “cria um buraco na alma” de
uma mulher acima de 60 anos quando lhe atinge a auto-estima, com a idéia de que nesta
idade o ser humano tem menos valor do que se estivesse com 40 anos, tirando-lhe o
direito de sentir-se plenamente e mentalmente ativa e capaz.
Vale ressaltar que nenhuma cultura é um sistema fechado, uma série de rígidos
moldes aos quais se deva conformar a conduta de todos os seus membros (Herskovits,
1963). Apesar de o senso comum exigir das pessoas mais velhas uma habilidade maior
para enfrentar as dificuldades, a sociedade atual não valoriza a sabedoria da pessoa
13
idosa ao não lhe permitir a escuta. Ao reconhecer o aspecto essencialmente humano de
sofrer com mudanças, sem se fixar em perdas ou limitações, é possível perceber
oportunidades para mudanças de vida nas transformações que surgem nesta fase.
Conforme Pereira, Fontes e Pimentel (1994), o pensamento ocidental impõe
regras gidas no jogo de poder entre jovem e velho, enquanto envelhecer chega a ser
vergonhoso, e a juventude passa a ser glorificada pela mídia, associando-a sempre à
beleza. Em uma cultura em que o belo e o jovem são valorizados, assumir o processo de
envelhecimento também pode ser algo positivo, é ter uma postura madura diante da vida
ao precisar enfrentar os discursos que tratam a velhice como um processo depreciativo.
Serrão (1998) assume perspectiva semelhante ilustrada no trecho que se segue:
O climatério consiste num período vital de mudanças que, devido a
condicionalismos sociais, mitos, estereótipos, é reiterado pelo imaginário
social como o episódio preliminar para o envelhecimento e a
improficuidade. Em suma, entrar na meia-idade, na sociedade ocidental,
que idolatra a beleza e a vitalidade do jovem, tem efeitos ao nível
emocional pela perda de valores estéticos tão prezados. (pp. 19)
Pode-se notar que conflitos que se manifestam a respeito da menopausa
relacionados ao desenvolvimento humano e à cultura têm sido corroborados no trabalho
da Psicologia Clínica, com o surgimento de queixas ligadas especialmente à auto-
imagem, à auto-estima e ao envelhecimento. Fagulha (2005) destaca que, quando a
psicologia do desenvolvimento, os estudos feministas e a antropologia se interessaram
pela menopausa, percebeu-se que o modo como este fenômeno é vivenciado em
diversas culturas e grupos sociais tem enormes diferenças, as quais influenciam a
própria experiência dos sintomas físicos e psicológicos. Ou seja, a experiência da
14
menopausa não é universal, não segue as mesmas “regras” em diferentes partes do
mundo e, por isso, é única para cada mulher.
Trench e Santos (2005) constataram que os sintomas vinculados à menopausa
estão intimamente relacionados à maneira como a cultura encara o envelhecimento.
Exemplificam, com base em publicação da OMS (1996), que, normalmente, nos
Estados Unidos focam-se mais os aspectos negativos do processo: doença,
envelhecimento e perda do status social. Já em alguns países em desenvolvimento, a
sociedade enfatiza os aspectos positivos da mulher nesta fase: libertação da
responsabilidade de ter filhos e das restrições sociais. Quando o envelhecer é percebido
na relação ganho-perda, existe a tendência da polarização, gerando crenças,
expectativas, criando necessidades e funcionando como valor social.
Mulheres que vivem em culturas onde os mais velhos desfrutam de certo status
tendem a ter menos sintomas na menopausa do que mulheres que vivem em culturas
onde os idosos não são apreciados (Avis, 1996). E em alguns países do ocidente, onde a
juventude é o ideal, a menopausa pode significar que o indesejável processo de
envelhecimento encontra-se em curso. Para um evento ser estabelecido como símbolo,
existe nele um investimento psíquico e social. Com isto, como em toda a vida humana,
a vivência da menopausa é caracterizada por crenças que exercem influência
significativa, podendo até estar vinculados à incidência maior ou menor de algum tipo
de sintoma da menopausa.
Para ilustrar as diferenças culturais a respeito da menopausa, apresenta-se uma
síntese de onze estudos, sendo oito estudos de países distintos e três estudos de regiões
brasileiras. Tal opção se justifica pela busca por uma amplitude de contextos -
europeus, asiáticos e americanos - e também por serem referências dos anos entre 2003
e 2008. As pesquisas foram realizadas com mulheres nos seguintes países: Brasil,
15
Bolívia, Turquia, Equador, Áustria, Taiwan, Alemanha, Nova Guiné, Espanha, China e
mulheres chinesas que vivem na Austrália.
É importante salientar que as conclusões das pesquisas em destaque não são
tratadas como representativas da forma como as mulheres lidam com a menopausa.
Assim sendo, não são feitas generalizações a respeito das culturas orientais ou
ocidentais, evidenciando apenas que o que é colocado em foco por cada grupo de
mulheres possui importante relação com o que mulheres vivem socialmente nessa fase
de transição. E, além disso, compreender como as expectativas relacionadas ao
feminino e ao envelhecimento também estão presentes no modo como lidam com este
período da vida. A proposta de apresentar como a menopausa é vivida em diferentes
culturas torna-se interessante no sentido de exemplificar a influência dos componentes
sociais na vivência da maturidade.
A seguir, apresenta-se um quadro com a síntese dos dados relevantes das
pesquisas supracitadas, descrevendo as diferenças entre os sintomas apresentados na
menopausa por mulheres de diferentes países. Após esta síntese, realizou-se a discussão
a respeito de cada estudo citado, considerando as informações que são semelhantes e
diferentes em cada cultura.
O quadro permite visualizar que as mulheres têm experiências diferentes a
respeito da menopausa nas diversas culturas, exemplificadas pela diversidade de
sintomas expressos. Em seguida, comentários sobre as pesquisas citadas,
descrevendo-as com mais detalhes.
Quadro – Síntese de estudos sobre a menopausa em diversos países, exceto do Brasil.
País Idade da
menopausa
Sintomas Relação cultural Autores/ Ano de
publicação
Turquia
44 anos
Fogachos, irritabilidade,
insônia, perda de memória,
incontinência urinária, perda
de libido e perda de energia
Em países quentes, as mulheres sentem
menos variação de temperatura do que
em países frios.
Discigil, G.,
Gemalmaz, A.,
Tekin, N. & Basak,
O. (2005).
16
Movimas
(Bolívia)
42 anos
51% de diminuição da
libido, 46% de fogachos,
10% de depressão.
Significa o fim da fertilidade e da
juventude, caracterizando-se como algo
negativo. Para ser visto como algo
positivo, quando representa um ganho
social por meio da linguagem e das
crenças.
Castelo-Branco, C.,
Palacios, S., Mostajo,
D., Tobarb, C. &
Helde, S. (2005).
Beijing
(China)
49 anos
Fogachos, suores,
dispareunia e secura
vaginal.
Depressão e ansiedade estão menos
relacionados à menopausa do que a
alguns fatores de ordem social, tais
como: situação financeira, pressão no
trabalho, educação dos filhos e situação
familiar.
Li, Y., Yu, Q., M., L.,
Sun, Z. & Yang, X.
(2008).
Mulheres
chinesas que
moram em
Sidney
(Austrália)
50 anos
Dificuldade de memória,
pele seca, perda de energia e
perda da força muscular.
Fogachos apenas 34%.
Experiência de forma diferente por conta
de suas atitudes frente à menopausa, pois
sentem-se aliviadas, e vêm como um
sinal de aumento de poder.
Liu, J. & Éden, J.
(2007).
Guayaquil
(Equador)
48 anos
Obs: não investigados.
As que experienciam mais sintomas têm
atitudes negativas, principalmente as
com maior índice de sintomas
psicológicos, tais como a depressão, por
exemplo. As com atitude positiva,
encaram como algo normal, sendo um
evento importante que lhes mais
confiança e maturidade.
Leon, P., Chedraui,
P., Hidaldo, L. &
Ortiz, F. (2007).
Malásia
49 anos
Cansaço, dores musculares,
pouca concentração, dor nas
costas, suores noturnos, dor
de cabeça, fogachos,
dificuldade para dormir,
solidão, ansiedade e choro
fácil.
Dieta, cultura e estilo de vida são
apontados como relacionados aos
sintomas. Mas as possíveis relações não
foram estudadas.
Dhillon H. K., Singh,
H. J., Shuib, R.,
Hamidd, A. M.,
Mahmooda, M. N. Z.
N. (2006).
Alemanha e
Nova Guiné
Alemanha =
49 anos
Nova Guine
47 anos
Alemãs – fogachos,
infertilidade, problemas de
peso e depressão.
Nova Guiné – problemas
cardíacos, urológicos,
secura vaginal e perda
muscular.
Alemãs - medo de deixar de ser mulher.
Nova Guiné - medo de adoecer.
Kowalceka, I., Rotte,
D., Banz, C. &
Diedrich, K. (2005).
Espanha
45-55 anos
Dores musculares, fogachos,
nervosismo, ganho de peso,
mudanças de humor,
distúrbio de sono, dores de
cabeça, perda de memória.
Os sintomas variam de acordo com a
situação sócio-econômica. Quanto mais
difícil a situação, mais sintomas. Estado
civil influencia no sintoma de
dispareunia, sendo mais freqüente em
mulheres casadas.
Obermeyer , C. M.,
Reher, D., Alcala , L.
C. & Price, K.
(2005).
Sul da Ásia
Singapura,
Taiwan e
Korea
51 anos
Incontinência urinária,
dispareunia e sintomas
psicológicos levam mais aos
médicos.
As mulheres m pouco tempo para si
mesmas e por isso ignoram os sintomas.
A situação sócio-econômica tem relação
com o fenômeno.
Fu, S., Anderson, D.
& Courtney, M.
(2003).
Fu, Anderson e Courtney (2003), em estudo sobre sintomas da menopausa em
mulheres australianas e taiwanesas, concluíram que as primeiras, em ordem decrescente
no que tange à freqüência, se queixam de insônia, irritabilidade, dor de cabeça,
ansiedade, dor, mudanças de humor, fogachos, depressão e sentimentos de menos valia,
17
como se não fossem amadas ou apreciadas. as mulheres de Taiwan sentem mais
cansaço, dor nas costas, pele seca, secura vaginal, diminuição da libido e tontura. Em
ambas as culturas, as mulheres percebem sua vivência da menopausa de modo positivo,
melhor do que esperavam, fato que confirma que a atitude da mulher diante da
menopausa envolve como ela passou por seu ciclo de vida e como são afetadas pelas
mensagens sociais, pelas observações de mulheres mais velhas, pelas atitudes sobre o
envelhecimento e pelas experiências pessoais.
Na pesquisa sobre informações, percepções e atitudes frente à menopausa com
mulheres de Guayaquil, no Equador, Leon, Chedraui, Hidaldo e Ortiz (2007)
concluíram que 93,7% da amostra percebem este processo como um evento normal, e
não como um problema. As mulheres que tinham atitudes negativas com relação à
menopausa apresentavam depressão, além de dificuldades na transição da meia-idade.
Apenas 15% sentiam como se estivessem perdendo sua feminilidade, relacionando este
aspecto com outras facetas de suas vidas. Mulheres com atitudes positivas
consideravam a menopausa um evento normal e importante, que lhes traziam mais
confiança e maturidade. Além disso, as que passaram por tal processo o
consideraram menos problemático do que as que ainda estavam atravessando o referido
fenômeno.
Kowalceka, Rotte, Banz e Diedrich (2005) realizaram um estudo comparativo
entre mulheres da Alemanha e de Nova Guiné, acerca da diferença de concepções
daquelas que estão na pré-menopausa e das que já se encontram na pós-menopausa. Os
autores identificaram que mais de 90% delas esperam por problemas nesta fase. As
alemãs sofrem mais dificuldades do que as mulheres de Nova Guiné. Na Alemanha,
sobressaem-se os aspectos negativos, pois o envelhecimento é considerado como
sinônimo de perda dos atrativos, estando relacionado ao que representa ser mulher para
18
elas. Porém, as alemãs acham positivo o fim dos sangramentos, a despreocupação com
gravidez e o fato de ser uma nova fase de vida. Mulheres de Nova Guiressaltam
como aspecto positivo o fato de não poderem ter mais filhos. Pontuam como maior
expectativa o medo de adoecer, mostrando que o foco de preocupação é em relação à
saúde.
Os valores e as prioridades de cada grupo de mulheres de um determinado
contexto respondem às exigências culturais. Porém, uma questão pode ser discutida no
que tange à forma de tratamento dos dados deste estudo. A questão é: Qual seria a
importância para as mulheres de Nova Guiné em relação ao fato de não poderem ter
mais filhos? Talvez não haja nenhuma outra explicação além de simplesmente gostarem
de não ter mais filhos. Contudo, poderia haver alguma relação com a condição
financeira ou com algum tipo de necessidade de estar ativa para trabalhar para o
sustento, o que seria mais fácil sem a chegada de novos filhos, diminuindo os custos de
vida. Ou então, alguma outra relação ancorada em questões sociais.
Obermeyer, Reher, Alcala e Price (2005), em estudo com espanholas,
encontraram os fogachos como o pior sintoma, motivo pelo qual as mulheres procuram
ajuda de médicos. No entanto, menos da metade das participantes da pesquisa
consideram a menopausa problemática. Em geral, 81% têm sintomas
emocionais/mentais, 67% têm um ou mais sintomas genital-urinário, e 54%, sintomas
vasomotores ou cardiovascular.
Por estes números, o fogacho não deveria apresentar-se como fator expressivo,
que compõe o grupo de sintomas vasomotores que surgiu em menor porcentagem na
referida pesquisa. Pode-se pensar que, pelo fato de este ser o sintoma mais divulgado,
aparecendo até como um clichê quando se fala em menopausa, torna-se um indicador
do início dessa fase e da necessidade de acompanhamento médico. É citado como
19
categoria de pior sintoma, apesar da alta porcentagem dos emocionais. Deve-se
considerar que os fogachos podem estar ligados à ansiedade, e esta aparece na
porcentagem dos sintomas emocionais com grande freqüência.
Desta forma, é importante também refletir sobre o fato de que tal dado, bastante
relevante, é ignorado na pesquisa em termos de possível influência social. Deste modo,
tem-se a questão: Por que a perspectiva biomédica continua prevalecendo no olhar
sobre o fenômeno da menopausa? Talvez porque a menopausa sendo vista pelo viés
patológico contribui com a venda de produtos da indústria farmacêutica. É importante
salientar que o fogacho é um sintoma que chama a atenção do outro, da sociedade, para
o que a mulher está experienciando sem que ela tenha controle disso. Até mesmo
porque o fogacho provoca uma exposição da mulher, podendo gerar sentimento de
vergonha e prejudicando sua maneira de se relacionar com as pessoas. Sendo assim,
apresenta-se como uma característica que marca o fenômeno, de fácil percepção
corporal e social, e que tem alívio ou solução por meio de medicação.
Outro ponto importante do estudo de Obermeyer, Reher, Alcala e Price (2005) é
que os autores relacionam a freqüência de sintomas com a situação socioeconômica.
Mulheres em melhor situação socioeconômica sentem menos palpitações, dormência e
depressão, o que é compreensível, uma vez que problemas financeiros afetam a vida do
ser humano de maneira especial. A dificuldade econômica atinge também a vivência da
menopausa, momento em que pode estar presente a ansiedade por conta de tantas
mudanças. Mulheres desempregadas queixaram-se mais de sintomas sexuais, o que lhes
compromete a qualidade da atividade sexual, enquanto que as mulheres casadas sofrem
mais com dispareunia (dor na relação) do que as solteiras. Este dado é interessante, se
for observado sob a óptica de que o nculo conjugal pode criar a exigência de ato
20
sexual, mesmo com dificuldades físicas, o que pode gerar conflito na relação e,
consequentemente, mal-estar.
Ao estudarem mulheres de Anatolian, uma região rural da Turquia, Discigil,
Gemalmaz, Tekin e Basak (2006) afirmaram que o sintoma mais mencionado é o
fogacho, tal qual no estudo com mulheres do Equador. Porém, os sintomas mais
presentes na vivência das mulheres de Anatolian são: incontinência urinária,
diminuição da libido, dificuldade de memória e perda de energia. Uma inquietação
demanda reflexão: Como a percepção do corpo e suas alterações podem gerar mal-estar
ou variação de sintomas? Por exemplo, no caso do fogacho, apesar de ser destacado de
forma mais contundente, é também o sintoma de mais fácil resolução, diferentemente
das questões emocionais mais complexas.
Dhillon, Singh, Shuib, Hamidd, e Mahmooda (2006), em estudo com mulheres
da Malásia, afirmaram que entre os sintomas mais presentes igualmente estão os
fogachos, o cansaço, dores musculares, além de solidão, ansiedade e choro fácil. Porém
os autores relacionam os sintomas a dieta, cultura e estilo de vida, ampliando a visão
acerca da menopausa para além do paradigma biomédico.
No estudo de Castelo-Branco, Palacios, Mostajo, Tobar e Helde (2005) com
mulheres de Movima, região de nativos da Bolívia, percebeu-se que a menopausa é
observada por meio do aspecto negativo relacionado ao fim da fertilidade e da
juventude, o que influencia a atitude destas mulheres. Mas tal influência nas atitudes é
vinculada às crenças e à linguagem com a qual a menopausa é descrita, podendo ser
vivenciada de forma positiva se houver uma representação de ganho social, valorizando
a mulher que está passando por esta fase da vida.
Com relação às mulheres chinesas que vivem em Sidnei, Austrália, Liu e Éden
(2007) concluíram que elas queixavam-se da diminuição da atividade sexual. Isto se
21
relaciona com a cultura, uma vez que a atitude dessas mulheres é embasada pelo
sentimento de alívio, e também porque a menopausa é vista como um sinal de aumento
de poder com o envelhecimento. Mulheres com status socioeconômico baixo sentem
mais sintomas, corroborando os achados de Obermeyer et al (2005).
A relação da situação socioeconômica com o maior aparecimento de sintomas
também é relatada em outra pesquisa com mulheres chinesas, mas que residem em
Beijing, realizada por Li, Yu, Ma, Sun e Yang (2008). Neste caso, os principais
sintomas que divergem das chinesas residentes em Sidnei (Liu & Éden, 2007) se devem
ao estilo de vida de cada uma destas cidades. Mas, um fator interessante apresentado
nesta pesquisa com mulheres de Beijing é que 76,1% das participantes não relataram
depressão, ou seja, apenas 23,9% se queixam de depressão, e apenas 10,2%, de
ansiedade. Depressão e ansiedade foram associadas à insatisfação com a família, tensão
pré-menstrual, divórcio ou separação, situação financeira, filhos reprovando na escola
ou com dificuldade de encontrar emprego e, por último, fogachos e dispareunia. Idade e
menopausa não foram considerados fatores desencadeantes de depressão.
Assim sendo, Li et al (2008) ressaltam que tanto a depressão como a ansiedade
não recebem os devidos cuidados pela equipe de saúde que atende mulheres na
menopausa, porque relacionam os sintomas emocionais ligados a esta fase da vida
como algo que passará naturalmente. Porém, os autores chamam a atenção para o fato
de que variáveis de cunho social estão em jogo. Quem mais se queixa destes sintomas
são pessoas que sofrem pressão excessiva no trabalho, que estão em desarmonia
familiar e em condição financeira difícil. Isto mostra como estas questões sociais não
estão ligadas estritamente à menopausa, mas também às fases da vida e à cultura da
China, com a grande necessidade de mão de obra e que exige árduas jornadas de
22
trabalho para manter a economia. Outro dado cultural também relatado diz respeito à
educação dos filhos, cuja rigidez possibilita sofrimento com depressão e ansiedade.
É interessante observar estes dois estudos com mulheres chinesas que vivem em
diferentes cidades, no qual os sintomas da menopausa citados pelas participantes o
diferenciados em cada contexto. Na cultura em que o trabalho é muito valorizado, o
envelhecimento é associado a ganhos. Há mulheres chinesas que falam de sintomas que
se relacionam à questão da produtividade, mas com reações corporais distintas. As
mulheres chinesas que vivem em Beijim (Li et al, 2008) destacam mais os fogachos, a
dispareunia e a secura vaginal. as que vivem em Sidney, Austrália (Liu & Éden,
2007), apontam a perda de memória, energia e força muscular, por exemplo. Isto quer
dizer que a menopausa é vivida de maneira muito particular, mesmo diante de idéias
culturais compartilhadas.
Entretanto, é importante ressaltar que os autores dos artigos comentados apenas
descrevem sintomas e sugerem sua relação com a cultura, mas não identificaram em
que sentido isto acontece. Parece faltar um olhar psicológico ou antropológico nos
estudos, buscando uma compreensão sobre as singularidades e resgatando o aspecto
subjetivo desta experiência.
Diferentemente das pesquisas supracitadas, Costa e Gualda (2008), em estudo
etnográfico com mulheres de Cabedelo, município de João Pessoa, interessaram-se em
compreender o que mulheres, em seus contextos culturais naturais, pensavam, sentiam
e sabiam sobre a menopausa. Com um olhar antropológico, buscaram um significado
cultural para a menopausa por meio da análise de três categorias: o corpo, a
menstruação e a menopausa. Para essas mulheres, a menopausa é uma palavra usada
popularmente para denominar um período e descrever os anos em que os ciclos
menstruais estão modificando o corpo da mulher. Além disso, as mulheres fazem
23
referência à última menstruação e indicam uma redefinição da mulher no sentido de sua
atuação social, como se constatou no depoimento de uma das participantes: “Por aqui a
gente diz que não é mais mulher, que a mulher ficou seca, que a mulher virou homem e
agora não se limpa mais”. Na linguagem regional, utiliza-se o termo “secou por dentro”
e “deixou de ser mulher” para designar a menopausa. Para as participantes do estudo de
Costa e Gualda (2008), a menstruação define o papel feminino no início da vida adulta,
e quando isto começa a ser modificado, seus papéis também sofrem alterações.
Reconhecem a menopausa como um evento natural e normal na vida, fenômeno
característico de corpos com idade avançada, e não como uma doença.
Costa e Gualda (2008) ressaltam ainda que a perda da capacidade de procriação
e, conseqüentemente, de sua identidade de mulher e do status social, é a repercussão
mais referida neste meio social. Essas mulheres resgatam seus conhecimentos e suas
experiências e ratificam os significados atribuídos à menopausa, como deixar de ser
mulher. O envelhecimento e a feminilidade aparecem como dois aspectos da vida
trazidos por mulheres nesta fase de transição. Mas neste estudo, faz-se importante
perceber que as idéias de perdas e de encontro com o envelhecimento são os aspectos
que envolvem a vivência da menopausa de acordo com o que é compartilhado
socialmente nesse contexto.
Além da questão cultural relacionando regiões ou países, Trench (2003)
evidencia que também é possível identificar experiências distintas em relação à
menopausa e à sintomatologia quando se investigam na mesma cultura as diferenças
entre as classes sociais. Em estudo com mulheres caiçaras de baixa renda que vivem no
litoral norte de São Paulo, aquela autora concluiu que as usuárias do serviço de saúde
do Estado relatavam sintomas referidos como sendo da menopausa calor nos pés, dor
de estômago, pressão alta mas que pareciam estar relacionados a outros eventos do
24
que propriamente ao fim da vida reprodutiva, pelo menos como é concebido pelos
especialistas. Trench (2003) percebeu ainda que a menopausa e o envelhecimento não
têm a mesma relevância em suas vidas, tal como aparecem em depoimentos de
mulheres de classes privilegiadas. As entrevistadas não atribuíram à menopausa o
sentido de marco indicativo de alguma mudança significativa em suas vidas. Da mesma
forma, não associaram menopausa a envelhecimento. Todas relacionaram menopausa
com patologia, sendo assim um diferencial interessante. Mulheres mais velhas
relataram sintomas que não são os que aparecem nos textos clássicos da literatura
médica, como dores no corpo, por exemplo. Por outro lado, algumas participantes
falaram de sintomas mais conhecidos, tais como fogachos e ressecamento vaginal.
Trench (2003) considera que o fato de essas mulheres viverem em uma cultura
que ainda mantém certo distanciamento dos discursos dos especialistas e da mídia
contribui para romper a relação menopausa-envelhecimento-medicalização. Isso é
exemplificado pela ausência de atendimento médico na comunidade destinado a
mulheres nesta faixa etária, a falta de informação sobre o tema, bem como o baixo
poder aquisitivo, aspectos que contribuem para que as mulheres desta localidade
tenham diminuídas as suas expectativas de qualidade de vida.
Em estudo realizado com índias Guaranis, Trench (2005) relata que as
participantes não conhecem uma palavra em sua língua que denomine o fim da
menstruação, mas associam este evento ao envelhecimento e ao término da atividade
sexual, não sendo caracterizado como uma patologia. Destaca, como ponto interessante
da pesquisa, o que é receitado às mulheres quando sentem ondas de calor: banho de
água fria.
Silveira et al (2007), em estudo com duzentos e sessenta e uma mulheres do
meio urbano e rural do Rio Grande do Norte, perceberam diferenças estatisticamente
25
significativas entre os escores de sintomas somáticos, psicológicos (ansiedade e
depressão), vasomotores e sexuais, obtidos para os dois grupos estudados, sendo todos
eles mais elevados no grupo urbano do que no grupo rural. As mulheres do meio rural
apresentaram média de idade da menopausa de 56 anos, enquanto a média do grupo
urbano foi de 53 anos. Enquanto 79,2% das mulheres da área urbana foram
consideradas "muito sintomáticas", 33,6% das mulheres da área rural foram assim
caracterizadas. Estas diferenças confirmam o estudo de mulheres chinesas (Liu & Éden,
2007), destacando que no meio rural as mulheres relataram menos sintomas que aquelas
do meio urbano. Mas Silveira et al (2007) relacionam essa questão ao fato de que, no
Brasil, a condição da população rural é bem precária, com dificuldade de acesso à
informação e ao sistema de saúde pública.
Diante disto, é interessante perceber como se fazem necessários estudos que
lidem com a temática menopausa e cultura sob um olhar mais subjetivo e social que
rompam com o paradigma biomédico. Conforme as pesquisas apresentadas, observa-se
que a menopausa é vivida de acordo com as diferenças sociais e culturais existentes.
Em suma, mais importante do que a afirmação de que diferenças, é a busca pela
compreensão das singularidades que envolvem tal processo em cada contexto, porque
assim, os significados podem ser trabalhados para melhorar a qualidade de vida da
mulher. Para tanto, os estudos sobre gênero contribuem nessa busca por uma
compreensão mais subjetiva da vivência da menopausa.
26
CAPÍTULO 2
Gênero, Condição Feminina e Envelhecimento
A forma como a menopausa é entendida em determinado meio social depende
das idéias compartilhadas acerca do papel da mulher em seu contexto e a partir do que é
valorizado ou desvalorizado neste ambiente. O presente capítulo expõe a contribuição
dos estudos de gênero na relação entre ser mulher e mudanças físicas, psíquicas e
sociais, uma vez que as relações de gênero estruturam a percepção e a organização
concreta e simbólica de toda vida social, estabelecendo também distribuições de poder
(Araújo, 2005).
Para se discutir sobre a questão do feminino, faz-se necessário compreender o
processo histórico vivenciado pelas mulheres e que influenciou a definição deste
conceito. O feminino está ligado ao conceito de gênero, que é relacional tanto como
categoria analítica quanto como processo social. Ou seja, as relações de gênero são
processos complexos e instáveis, que por meio de significações, descrevem homens e
mulheres (Flax, 1990).
Flax (1990) afirma que o conceito de gênero pode ser entendido por meio de
um exame detalhado dos significados de feminino e masculino. Além disso, é preciso
examinar as conseqüências destes significados nas práticas sociais concretas, que
variam de acordo com cultura, idade, classe, raça e época histórica. Com a busca pelo
entendimento social a respeito do feminino é possível compreender um pouco mais
sobre como isto pode estar relacionado à vivência da menopausa.
A definição de feminino vem sofrendo transformações conforme o processo
histórico complexo pelo qual as mulheres passaram no tangente à busca por evidenciar
27
as diferenças existentes entre elas e os homens. É importante recordar que as mulheres
tiveram que lutar, por meio dos movimentos feministas, para conquistarem
reconhecimento de suas capacidades, direitos iguais aos homens, e também atendimento
à saúde adequado às suas demandas singulares.
2.1 – Menopausa e envelhecimento: uma questão de gênero
Bandeira e Siqueira (1997) descrevem os feminismos como um modo particular,
diverso e plural de olhar e questionar a realidade social e a ordem estabelecida. Como
um fenômeno cultural, os feminismos não fogem ao contexto complexo que os
constituem, tentando refletir sobre os limites socioculturais inerentes à construção dos
sujeitos sociais - no caso, as mulheres. Os movimentos feministas possibilitaram, aos
poucos, o desenvolvimento de olhar e concepção diversos sobre o saber, nos quais as
dimensões da afetividade e das emoções são partes constitutivas do próprio processo de
conhecimento.
Os movimentos feministas contribuíram desde o início do século XIX com
algumas mudanças sobre a forma de pensar o feminino. Ganharam destaque os
pensamentos de Simone de Beauvoir, como exemplo da primeira onda, que também
provocaram a segunda onda dos movimentos e a produção de estudos científicos
(Bandeira & Siqueira, 1997). A segunda onda dos movimentos feministas buscou a
superação da ordem e das leis patriarcais, entendendo que a situação das mulheres era
injusta e que precisava ser modificada. Os movimentos interferiram tanto nas práticas
sociais como nos paradigmas predominantes, contribuindo para as mulheres avançarem
no processo de conquista da condição de sujeito na sociedade atual.
28
Um dos dogmas feministas defende que cabe às mulheres definirem suas
próprias vidas. Daí a importância de serem ouvidas, de terem voz ativa e de serem
consideradas de acordo com as singularidades que envolvem o ser mulher. Mendonça
(2004) complementa este pensamento ao dizer que os movimentos feministas enfatizam
a seguinte idéia: o trágico não é necessariamente esquecer-se de si própria, mas a
baixa auto-estima”, considerando o fato de que, com baixa auto-estima, a mulher sente-
se mais frágil para lutar por seus direitos, tornando-se insegura. Assim, faz-se
necessário que esta se sinta capaz para conquistar cada vez mais espaço na sociedade, e
para tanto, precisa estar confortável e forte para enfrentar preconceitos e desafios.
Um dos pontos principais das lutas feministas envolveu o mercado de trabalho.
Pelo foco da divisão sexual do trabalho, os movimentos feministas deram visibilidade à
necessidade de modificações no mercado, transformando o olhar sociológico a respeito
das mulheres, considerando-as como seres atuantes na sociedade, não apenas
coadjuvantes do homem. Mudanças nas relações de poder entre homens e mulheres
contribuíram para avanços nas conquistas feministas, garantindo às mulheres outras
ocupações que não apenas ligadas ao papel reprodutivo e de cuidadora. Conforme Diniz
e Santos (2006), estudos feministas propõem uma desconstrução de concepções
ortodoxas e reducionistas, permitindo uma atitude reflexiva e crítica na análise de
gênero diante do ciclo vital.
De acordo com Laquer (2001), antes do Renascimento, existia apenas um sexo.
O corpo feminino era comparado ao masculino com apenas uma diferença: os genitais
das mulheres eram semelhantes ao do homem, porém eram invertidos para dentro do
corpo. Os estudos dos cientistas da época do Renascimento começaram a diferenciar
homens e mulheres. A partir disto, o corpo da mulher tornou-se campo de batalha para
redefinir a relação social antiga, íntima e fundamental entre o homem e a mulher, tão
29
marcada pelo domínio masculino. Foi entre os séculos XVIII e XIX que o corpo tornou-
se o padrão de ouro do discurso social, marcando e definindo papéis. Neste caso, o
papel social das mulheres era determinado pelas transformações corporais relacionadas
à reprodução, conforme Laquer:
O corpo reprodutivo da mulher na sua concretude corpórea
cientificamente acessível, na própria natureza de seus ossos e nervos e
principalmente órgãos reprodutivos, passou a ter um novo significado de
grande importância. Os dois sexos, em outras palavras, foram inventados
como um novo fundamento para o gênero. (pág 189/190).
A definição de sexo substituiu o que atualmente poderia se chamar de gênero,
como uma categoria basicamente fundamental, transformando a unicidade (homem) em
dicotomia (homem versus mulher), e exigindo um novo entendimento do conceito de
gênero. Surge uma categoria na qual o natural e o social poderiam ser claramente
distinguidos. A mulher, então, não seria necessariamente definida apenas por sua
condição biológica de reprodutora. Abriu-se um espaço para que as mulheres
ocupassem novos comportamentos na sociedade.
Ressalte-se que nesta concepção dualista, sexo e gênero aparecem como
fenômenos distintos, aparentemente descontínuos, possuindo, portanto, duas formas de
identidade: de um lado, a sexual ou anatômica, e de outro, a de gênero, associada a
papéis e ao que é socialmente construído (Sandenberg, 2002). Esta diferenciação é
fundamental no avanço dos estudos sobre gênero. Amplia a visão do ser humano para
além do biológico, considerando aspectos sociais, antropológicos e psíquicos como
categorias estruturantes da produção de conhecimento sobre este mesmo ser.
Uma importante contribuição para os avanços na forma de se pensar as mulheres
veio da filósofa Simone de Beauvoir, que destacou as questões sociais, políticas e
30
históricas a respeito do feminino. Beauvoir (1948/9) afirma que a história da mulher,
por estar encerrada em sua função de fêmea, depende muito de seu destino fisiológico.
As passagens de um estágio para outro da vida da mulher são evidenciados por meio de
crises decisivas, tais como puberdade, iniciação sexual e menopausa.
Conforme Beauvoir (1948/9), “ninguém nasce mulher, torna-se mulher”. O
feminino é uma construção social. Como afirma a autora, “(...) nenhum destino
biológico, psíquico, econômico define a forma que a fêmea humana assume no seio da
sociedade, é o conjunto da civilização que elabora esse produto...” (pág. 9). O
imaginário social, as idéias, os preconceitos, as regras sociais, as expectativas,
influenciam o pensamento e o comportamento das mulheres para que sejam aceitas em
seu contexto ou na quebra de paradigmas. Isto evidencia diferenças culturais na forma
de tratar a mulher em diversas comunidades em todo o mundo, havendo divergências
relevantes entre a cultura ocidental e oriental.
Como uma construção histórica, o feminino perpassa a vivência da menopausa
de forma intensa. No caso da cultura ocidental, o feminino é sempre mencionado
juntamente com tudo aquilo ligado à reprodução, responsabilidades domésticas,
sensibilidade e emotividade. Simone Beauvoir (1948/9) alerta para o fato de que o
período da menopausa é caracterizado por alterações orgânicas, mas o que lhe dá
importância é o valor simbólico de que se reveste. Como afirma Stevens (2007), o
feminino está fortemente vinculado à maternidade desde a Antiguidade, e assim, ser
mulher significa ser mãe. Deste modo, o autor chama a atenção para a necessidade de
compreensão da forma como as pessoas simbolizam e significam esta experiência.
Sandenberg (2002) propõe um novo discurso sobre o corpo feminino em
processo de envelhecimento, garantindo que antes de tudo, uma questão de gênero
que precisa levar em consideração aspectos de geração e de desenvolvimento biológico.
31
Gênero se refere ao que está presente no imaginário social a respeito do feminino e do
masculino. O fator idade relaciona-se com a possibilidade de ser uma menopausa
precoce ou tardia e também com o processo de envelhecimento. A autora destaca a
importância das características de uma geração, considerando essencial investigar: a que
tipo de grupo esta mulher pertenceu; em que momento histórico viveu sua juventude; e,
em qual contexto ela se apresenta no mundo atual. Tais fatores afetam a experiência da
mulher frente às mudanças e transformações no corpo e na vida.
Para Serrão (2008), embora a menopausa ocorra na meia-idade e não na terceira
idade, as imagens associadas a esta fase vital são confundidas com as da velhice,
constituindo o símbolo do envelhecimento feminino. E neste sentido, não são tanto os
sintomas que preocupam as mulheres, mas sim, as perdas contextualizadas numa
cultura de gênero, como a perda de fertilidade, fazendo com que a posição social
feminina, assumida durante os anos reprodutivos, possa ser afetada. Neste momento, as
idéias de finitude tornam-se presentes e a maneira como cada mulher lida com isso
depende da sua história e de sua rede de apoio.
Sandenberg (2002) aponta para o fato de que o discurso do “declínio” a respeito
do envelhecimento ocorre em versões de gênero, ou seja, feminina e masculina. A
forma de pensar o desenvolvimento feminino voltado para um fim reprodutivo marca o
imaginário feminino com idéias de fim da feminilidade, da capacidade criativa, do
poder de sedução e da vitalidade. No caso dos homens, o envelhecimento pode ser visto
como mais uma possibilidade de sedução, como um simples charme no jogo da
conquista. Diante disto, é essencial compreender melhor a dinâmica do envelhecimento
feminino neste processo de mudanças e lutas, que no contexto histórico atual, a
população mundial e a brasileira vem atingindo idades mais avançadas.
32
Em conformidade com Sandenberg (2002), Mendonça (2004) também afirma
que envelhecer está ligado ao gênero, sendo distintas as cronologias femininas e
masculinas. Considera-se ainda que o evento biológico que marca a menopausa vem
acompanhado de inúmeras imagens e metáforas que indicam um caminho para estudar
as representações sociais às quais estão ligadas. Cabe desvendar as construções em
relação aos grupos de idade, de gênero, do tempo e do corpo a elas associadas. A
imagem do ser feminina, construída a partir de valores sedimentados na beleza, na
juventude e na fertilidade, atinge profundamente a identidade da mulher. Assim, Diniz
e Santos (2006) afirmam que a menopausa representada como momento crítico afeta
negativamente a construção da auto-imagem das mulheres:
As crenças em torno do envelhecimento feminino propõem que a partir
do período em que as mulheres entram no climatério, elas sofrem um
declínio progressivo em traços valorizados socialmente, tais como
beleza, força, inteligência, produtividade e valor como sujeito social (pp.
43).
O imaginário social a respeito do envelhecimento feminino construído a partir
das idéias de desgaste e perda de valor imprime caráter negativo à menopausa, atingindo
a auto-estima das mulheres. Juventude e velhice são categorias sociais que
fundamentam a constituição da identidade, e ao serem articuladas pelo gênero,
imprimem importância decisiva aos lugares de homens e mulheres nas relações
humanas (Diniz & Santos, 2006). A mulher na menopausa, caracterizada pela
perspectiva de declínio, ocupa o lugar de menos valia baseada na finitude. Diante dos
recursos que alteram a estética e criam uma ilusão de não-envelhecer, mulheres de
classe alta e média carregam a ideologia de que se tonar velha é sinônimo de pouco
cuidado consigo mesma. Assim, o envelhecimento é colocado como uma escolha nesta
33
busca pela juventude eterna. Porém, mulheres mais pobres não têm essa escolha devido
ao grande desgaste físico resultante de árduas jornadas de trabalho, mostrando que a
questão econômica também interfere nesta vivência.
Zampieri, Tavares, Hames, Falcon, Silva e Gonçalves (2009) apontam que as
mulheres, em decorrência da menopausa ou da sua idade, perdem a ilusão da
imortalidade, vendo-se frente a frente com a finitude. Problemas de saúde e a perda de
familiares concretizam essa proximidade com a morte. A forma de encarar a menopausa
e o envelhecimento como positivos e com possibilidade de crescimento depende da
forma como as mulheres enfrentam os desafios que a vida lhes imprime. Nesse
contexto, a juventude e a velhice perdem sua associação junto às idades cronológicas
específicas. A jovialidade se transforma em um bem a ser conquistado em qualquer
idade, com a adoção de estilos de vida adequados.
As mulheres, enquanto sujeitos socioculturais, têm modos de agir, de pensar, de
sentir e de interpretar a menopausa com base nas relações e interações que estabelecem
com as pessoas e com o ambiente em que vivem (Costa & Gualda, 2008). Assim, a
menopausa é mediada pelo contexto sociocultural e, também, pela história pessoal e
familiar das mulheres. O que gera informação sobre esta etapa não é apenas aquilo que
pode ser divulgado pelos meios de comunicação ou pelas publicações médicas, mas
também o que é passado de geração em geração, seja no contexto familiar ou sócio-
cultural.
2.2 – Saúde da mulher e gênero
34
Dentre as mudanças na construção do conhecimento influenciada pelos
movimentos feministas, está o discurso médico. Com o poder de manter hierarquias ou
de gerar transformações na sociedade por ser uma ciência muito valorizada, o modelo
biomédico faz parte do processo histórico das lutas feministas.
Matos (2000) afirma que entre os anos 1890 e 1930, a Medicina se preocupava
em cuidar da saúde da mulher uma vez que a enfermidade estivesse estritamente ligada
naquilo que podia prejudicar o papel de mãe. Existiam políticas de incentivo à
amamentação e uma busca pela manutenção da moral como responsabilidade feminina.
Tais medidas garantiam o espaço da mulher no âmbito do privado, no cuidado do lar e
da família, mantendo uma relação de poder marcada pela passividade. Desta forma, as
diferenças entre homens e mulheres seriam reconhecidas e, a relação hierárquica,
consolidada. Tal relação pode ser exemplificada com o papel feminino de responsável
pelo planejamento familiar, que já era exigido pela sociedade e que posteriormente foi
reforçado com o aparecimento da pílula anticoncepcional por volta dos anos 1960,
usada como um instrumento para tal responsabilização, apesar da oportunidade de maior
liberdade sexual.
A saúde da mulher era interessante na medida em que ainda estava em seu
período reprodutivo, o que garantia mais saúde às novas gerações. O período não
reprodutivo da mulher, de certa forma, era negligenciado na atenção à saúde. Apenas na
década de 1990 é que a Medicina se dispôs a analisar a menopausa, descrevendo-a
como parte de um processo denominado síndrome do climatério (Mendonça, 2004).
Este olhar para o fenômeno esteve sempre muito ligado ao interesse biomédico pela
terapia de reposição hormonal.
Segundo Mendonça (2004), enquanto a linguagem médica aponta para os
sintomas, para os processos fisiológicos e para a reposição de hormônios, a linguagem
35
das feministas ressalta a vida, o maior conhecimento de si própria, a utilização de
produtos e as técnicas naturais. Atualmente, o que existe de avanço a respeito de saúde
da mulher, como por exemplo, um novo modo de entender o uso de anticoncepcionais, é
resultado de lutas feministas que vão desde o reconhecimento da existência do sexo
feminino, das discussões sobre gênero, até as políticas de atendimento voltadas às
mulheres.
Não é possível pensar em saúde da mulher sem levar em consideração as
relações de gênero. O que a mulher representa na sociedade sempre foi relacionado às
suas transformações corporais. De forma recursiva, as mudanças físicas e sociais
também fazem com que as mulheres simbolizem as modificações no ciclo vital, levando
em consideração o que é compartilhado socialmente a respeito das transformações do
desenvolvimento humano.
Os pensamentos feministas possibilitaram a multiplicação dos olhares e dos
lugares de reflexão e de intervenção social, ao enaltecer que não é possível conceber o
mundo sem a perspectiva da alteridade, da diversidade, garantindo a possibilidade de
existirem mulheres com “s”, e não um ser mulher universal (Bandeira e Siqueira, 1997).
Assim, a categoria gênero é utilizada neste estudo como um conceito auxiliar que
facilita a análise da condição das mulheres na menopausa. Nesta linha de pensamento,
considera a perspectiva que trata as mulheres como sujeitos heterogêneos, que o se
reduzem à feminilidade e que reconhece a diversidade entre as mulheres.
Vale ressaltar o pensamento de Werthein, Mallol, Ferreira e Azcárate (1999), ao
argumentarem que antes mesmo das mudanças corporais produzirem impactos
psicológicos, são os discursos vigentes e o imaginário social que denigrem e
desvalorizam o corpo, podendo segregar os desejos femininos. Com isso, os autores
atentam para os casos em que o físico em si não é foco principal para algumas mulheres,
36
mas sim o que o corpo pode evidenciar para a sociedade. Neste jogo recursivo entre o
indivíduo e a sociedade, cria-se a auto-imagem, as fantasias afloram e o mal-estar pode
aparecer de diversas maneiras, envolvendo as insatisfações com o modo de vida, com o
corpo e com os comportamentos diante de tantas mudanças.
É possível trabalhar com a tensão corpo biológico/corpo simbólico e as
possibilidades de transformações com respeito às identidades, buscando entender como
são investidas dos valores e atributos que a cultura oferece (Moraes, 1998). Como uma
forte marca cultural, a menopausa apresenta-se diante desta complexidade de questões
que envolvem a mulher e a identidade de gênero.
Mendonça (2004) adverte para o fato de que a menopausa foi considerada novo
objeto de estudo e intervenção na saúde apenas no início da década de 1990. Quando era
um problema silenciado, gerava o discurso “tudo é por conta da menopausa”,
evidenciando os avanços já conquistados no estudo do tema diante de sua complexidade
como abordagem de promoção da saúde. Mas é indispensável ressaltar que a menopausa
ainda precisa ser estudada em profundidade nas transformações que ocorrem na mulher.
Diniz e Coelho (2003) apontam que a meia-idade coloca em xeque a identidade
da mulher, que é constituída a partir de processos históricos, econômicos, sociais,
culturais e que pode ser influenciada pelos estereótipos. Diante dos dilemas desta fase
da vida, um movimento de transformação do lugar social das mulheres. O aumento
da longevidade nova dimensão à experiência da vida, modificando as funções e o
valor social das mulheres na meia-idade.
Com as contribuições das análises de gênero, pode-se entender melhor como
estão caracterizadas as mulheres na menopausa no mundo atual, permitindo a
observação de dificuldades e benefícios desta fase da vida. Surge, então, a diferença
entre o sujeito mulher e a condição de mulher, não permitindo que naturalizações
37
ocorram e reduzam o humano ao aspecto biológico. O sujeito mulher aparece na luta
contra a forte visão da perspectiva de falência que ressalta a diminuição dos hormônios
e do fim da capacidade reprodutiva, como se tal aspecto colocasse em detrimento todo o
funcionamento físico e psíquico da mulher de forma definitiva.
Segundo Diniz e Santos (2006), mulheres que adentram a fase não-reprodutiva
sofrem preconceitos baseados em idéias ligadas à frigidez e à perda de valor. Por isso,
“(...) incentivar as mulheres a reconhecerem, valorizarem e abrirem espaço para suas
próprias necessidades é uma dimensão fundamental do trabalho terapêutico dentro de
uma perspectiva de gênero.” (pp. 55). Como sujeito, a mulher pode reconstruir as visões
de feminino e de envelhecimento, modificando as relações de gênero e cultura, e
permitindo que encontre alternativas diante das mudanças pelas quais passa.
O caminho para melhor entender a menopausa precisa incluir a voz das
mulheres sobre o que representa o término dos sangramentos e esse tempo de suas
vidas. Para favorecer a expressão destas mulheres, uma possibilidade com a qual os
profissionais da área da saúde podem trabalhar é a participação destas em grupos
temáticos que proporcionem o diálogo e o acolhimento, que os movimentos
feministas mostraram a importância de reuniões entre mulheres nas mudanças de
paradigmas.
CAPÍTULO 3
Oficina: Intervenção grupal focal e breve
É necessário construir uma nova ciência, viva e humanizada, procurar novos
instrumentos para acompanhar a mulher rumo ao seu bem-estar, ao seu
38
autoconhecimento e à sua autonomia (Martins, 1998). Tal necessidade exige dos
profissionais de saúde a construção e a implementação de projetos e atividades
apropriadas a esta demanda. Sendo assim, a existência de metodologias que facilitem,
auxiliem e apóiem as mulheres na menopausa, pode se tornar um diferencial na
assistência e apoio a este público diante de momentos de vida tão marcados por mitos e
tabus, como é a meia-idade.
A possibilidade de acompanhamento das necessidades das mulheres torna-se
essencial para que possam lidar com os desafios da menopausa. É importante levar em
consideração a subjetividade como constituinte do humano, como aquilo que o
caracteriza diante do caráter dinâmico, complexo e recursivo da interação entre
individuo e sociedade, aqui tratada como um processo de construção de identidade
marcada pelo gênero. Em períodos de mudanças na vida, os vários aspectos que
compõem as mulheres precisam ser considerados para garantir cuidado, proporcionando
assistência psíquica, social e biológica.
Ramos (1998) afirma que cabe ao psicólogo incentivar a troca e o
compartilhamento de experiências a fim de que sejam construídos saberes acerca das
transformações vivenciadas pelas mulheres, tais como: menarca, menstruação, gravidez,
parto, menopausa e sexualidade. Tal incentivo poderia ser proporcionado a partir da
criação de espaços de troca e reflexões, oportunidades de verbalização e outras formas
de expressão de sentimentos muitas vezes não elaborados conscientemente.
Mori (2002) ressalta, igualmente, a importância de se desenvolver metodologias
implementadas por psicólogos em serviços públicos de saúde, como parte das rotinas de
atenção integral à mulher, e espaços comunitários, como universidades, por exemplo.
Neste sentido, a autora ainda propõe que investigações deveriam ser desenvolvidas para
39
validar metodologias de intervenção psicológica para mulheres na meia-idade,
indicando que as atividades grupais precisam ser aprimoradas.
Uma intervenção psicológica grupal, seja em hospitais ou em outros contextos,
deve levar em consideração as demandas da sociedade atual, relacionadas ao espaço, ao
tempo, e às reais possibilidades de reunião de um grupo. Há a necessidade da criação de
metodologias que se orientem por formas de se fazer a clínica também em estratégias
breves e focais, de fácil acesso à população e que possibilitem o compartilhamento de
experiências. Mas para tal, é preciso conhecer melhor as vivências e demandas de
mulheres acerca da meia-idade e da menopausa. O presente estudo integra esta
perspectiva na busca pela compreensão dos desafios da menopausa.
Conforme Mori e Coelho (2004), a meia-idade feminina apresenta desafios que
colocam em questão a história pessoal da mulher. Ela pode se adequar melhor a esta
situação quando tem acesso à escuta psicológica, na qual tem a oportunidade de expor e
refletir sobre suas queixas e dúvidas, com possibilidade de elaboração psíquica.
O trabalho grupal vem ganhando destaque no campo da Psicologia Clínica e da
Cultura como fator de proteção à saúde mental de mulheres em diferentes contextos
(Santos, 2009). Na experiência com grupos de conversação no Projeto de Apoio e
Valorização da Mulher -
desenvolvido por Gláucia Diniz e Vera Coelho em parceria entre
a Universidade de Brasília (UnB) e um centro de saúde da cidade de Taguatinga/DF,
percebeu-se a importância de um contexto de compartilhamento quando existe a busca
pela construção de novos sentidos de vida em um espaço relacional.
A mudança seria a
produção de novas formas de pensar, refletindo em diferentes narrativas e mudanças de
atitudes.
Neste projeto, Diniz e Coelho (2003) concluíram que o exercício da maternidade é o
grande foco estrutural da identidade das mulheres participantes, determinando os objetivos
de suas vidas até o momento da menopausa. E diante das mudanças relacionais e de papéis,
40
surge um sentimento de menos valia destas mulheres. Por isso, o trabalho objetivou que as
mulheres fortalecessem a auto-estima, adotando uma postura de auto-valorização, com
mudança de atitude e busca por recursos para melhorar a vida.
Marraccini (2001), ao trabalhar com grupo de mulheres na meia-idade, define a
experiência como uma modalidade de intervenção clínica focal e de duração limitada,
que pode prestar auxílio, ao cumprir o objetivo de prevenir dificuldades que surjam na
condição física, psicológica e nos relacionamentos pessoais.
A oportunidade de uma mulher na meia-idade ser acolhida e escutada é muito
relevante quando esta se encontra em sofrimento. Propicia a expressão do que traz
angústia e permite bem-estar por meio do compartilhamento de pensamentos e
sentimentos, podendo também evidenciar aspectos positivos desta vivência. Marraccini
(2001) aponta o trabalho grupal como uma estratégia diferenciada, na qual a relação
com o outro permite descobertas de novos caminhos:
O espaço potencial permite o surgimento do espaço criativo, com o uso
de símbolos e com tudo o que vai se somar a uma vida cultural. É uma
área do viver humano que não se encontra dentro, nem fora, do
indivíduo mas na área de transição, no mundo da realidade
compartilhada... (pp. 119)
De forma semelhante, Maria Lúcia Afonso (2006) também trabalha com esta
proposta de intervenção grupal focal e breve, que denomina Oficina. A autora conceitua
a metodologia da Oficina como um trabalho estruturado, independente do número de
encontros, focalizado em torno de uma questão central que o grupo se propõe elaborar.
Desta forma, não se restringe à reflexão racional, trabalhando também significados
afetivos e vivências relacionadas ao tema. A Oficina é vista, assim, como uma
intervenção psicossocial, realizada com os pressupostos de grupo operativo de acordo
41
com a teoria de Pichón-Rivière. Esta modalidade grupal busca conhecer crenças, idéias
e sentimentos dos participantes, visando à reflexão e à mudança, estimulando novas
aprendizagens dentro de sua realidade, bem como estimular sua operatividade,
autonomia e mobilização, conforme Afonso (2006).
Pode-se pensar em formas de se trabalhar demandas diferenciadas por meio de
atividades grupais que levem em consideração o ser humano como integral, e
possibilitem a percepção de que existem formas alternativas de se lidar com o que causa
sofrimento. Neste sentido, a Oficina não se caracteriza como grupo terapêutico. Permite
sentimentos de pertencimento, acolhimento, apoio emocional, elaboração, além de ser
uma oportunidade do indivíduo tomar consciência de si mesmo e, a partir disso, ser
mobilizado em algum aspecto de sua vida.
Marraccini (2001) afirma ter acompanhado, durante sua prática, o processo
pessoal desencadeado em cada participante a partir desta experiência, caracterizado pela
retomada do olhar para si. Esta forma de atendimento tem efeitos terapêuticos que
levam as mulheres a refletirem sobre a própria capacidade de crescer, imprimindo uma
dinâmica renovada no desenvolvimento pessoal.
Oliveira, Jesus e Merighi
(2008) realizaram um
estudo com o objetivo de compreender o
significado atribuído pela mulher às experiências relativas à sexualidade no climatério.
Para isso, desenvolveram uma proposta grupal na Unidade de Saúde da Família situada
no município de Juiz de Fora/MG, onde existe assistência em grupo à mulher no
climatério. Reuniram oito mulheres com idade entre 40 e 55 anos, participantes de
atividades educativas no ano de 2004. O grupo de climatério apresentou-se como uma
oportunidade para manifestação, troca e reflexão sobre aspectos relevantes da
experiência da mulher. Propiciou esclarecimentos pessoais sobre as dificuldades
inerentes a esta etapa da vida. As autoras reforçam a necessidade de se pensar no
42
fortalecimento de espaços que possibilitem à mulher compartilhar suas experiências de
vida nesse período, a fim de que possam vivenciá-lo com maior tranqüilidade.
O trabalho grupal realizado por Oliveira, Jesus e Merighi (
2008)
constituiu
ambiente gerador de inquietações, reflexões e busca por respostas. O deparar-se com a
realidade e identificá-la é, inegavelmente, o primeiro passo rumo à resolução dos
problemas evidenciados pela mulher no que concerne ao climatério. O encontro com o
outro que enfrenta realidade semelhante tranqüiliza a mulher e lhe permite maior
compreensão do momento vivenciado. O espaço grupal permite reflexão, relativiza as
vivências singulares no confronto de experiências, colabora na elaboração de nteses
sobre a situação particular da mulher bem como no seu contexto de vida e saúde
. O ponto forte
do trabalho grupal está na oportunidade da fala e no sentimento de pertença
.
Em conformidade com este pensamento, Mendonça (2004) propõe que o grupo seja
um espaço gerador de solidariedade e
estímulo para uma mudança qualitativa de vida. Possibilita a participação ativa da
mulher no enfrentamento de sua problemática, dando a esta o poder de optar diante das
alternativas que vão se apresentando. Como forma de se colocar como sujeito de sua
vida e como cuidadora da própria saúde, a mulher tem oportunidade de fortalecer a
auto-estima ao se relacionar com mulheres em condições semelhantes. Certamente as
diferenças que se apresentam no grupo valorizam as singularidades de cada participante,
mobilizando reflexões, emoções, que ajudam na percepção das próprias demandas,
permitindo que cada uma reconheça o que sabe e sente.
Zampieri, Tavares, Hames, Falcon e Gonçalves (2009), em estudo com mulheres
no climatério, procuraram manter um diálogo aberto no grupo, encorajando as
participantes a refletirem sobre suas vidas, para que identificassem aspectos
relacionados ao seu processo de viver no período da menopausa. As reuniões ocorreram
em um ambiente acolhedor, com atividades dicas para facilitar a expressão das
43
mulheres. Todas as atividades foram desenvolvidas em co-participação, possibilitando a
cada uma delas falar, dar sugestões e decidir estratégias.
O fortalecimento da auto-estima proporcionado pela intervenção grupal foi
fundamental para que as mulheres pudessem superar as dificuldades que surgem no
período da menopausa, e ainda entender o processo como uma oportunidade e
possibilidade de renovação e realização, usufruindo sua maturidade e experiência. Os
fatores que contribuíram para uma percepção negativa da menopausa no estudo de
Zampiere et al (2009) foram: ansiedade, depressão, medo, melancolia, falta de carinho e
de amor, desvalorização pessoal, sentimentos de isolamento, abandono dos sonhos ou
perda de capacidade de sonhar. As mulheres do estudo apresentaram alterações físicas
sociais e psicológicas.
De acordo com Zampieri et al (2009), a menopausa é um processo normal,
vivido de forma diferente pelas mulheres de acordo com sua cultura, contexto e
educação. Esta fase não necessariamente dificulta as atividades diárias, o convívio
conjugal e a feminilidade, se for encarada de forma positiva e saudável. Os autores
apontam que, por meio do trabalho grupal, as participantes puderam tomar consciência
de que fatores relacionais e subjetivos também estão ligados à menopausa, além das
transformações orgânicas:
Ao refletirem sobre a vida e o climatério nas reuniões, elas tiveram a
percepção real do período e de suas alterações, perceberam que
poderiam ter se cuidado na ocasião se estivessem atentas aos sinais do
seu corpo e de suas emoções. Também chamou a atenção que a
menopausa coincidiu, para algumas delas, com situações estressantes
ocorridas em suas vidas (perda de marido, doença de filho, saída dos
44
filhos), levando-as a crerem que tais situações podem ter contribuído
para acelerar o climatério ou desencadear a menopausa. (pp. 308)
Ouvir outras mulheres que vivenciam a menopausa pode contribuir para que
uma mulher compreenda melhor o processo, sentido às próprias vivências do
envelhecimento, amplie os grupos de amizades e aumente sua auto-estima. A interação
social constitui-se aspecto primordial na construção da vida cotidiana, sendo parte
central do processo de socialização, de formação de identidades e de pertença a um
grupo social. Com o reconhecimento social, as pessoas se percebem mais valorizadas e
estimadas. Cabe aos profissionais da saúde incorporar na prática a perspectiva da
diversidade, atentando para a escuta de mulheres nas suas particularidades.
É importante que os serviços de saúde, de forma multidisciplinar, incluindo
psicólogos, enfermeiros, médicos, e outros profissionais, promovam grupos, espaços de
escuta a respeito da menopausa. Temas como o significado da menopausa, a vivência da
sexualidade, os estados depressivos, a vivência do envelhecer e muitos outros, sugeridos
pelas próprias mulheres, poderão alimentar os encontros, sob a coordenação dos
profissionais de saúde sensibilizados e qualificados para tal ação.
3.1 – Intervenções em grupo
em 2001, Guanes e Japur afirmam que o panorama revela uma multiplicidade
de intervenções psicoterápicas em grupo nos mais variados contextos, e evidencia a
crescente aceitação desta prática entre os profissionais e entre os próprios pacientes,
sobretudo nas instituições. Apesar dessa grande expansão das práticas grupais, existe
ainda uma grande confusão conceitual nas definições dos diferentes grupos realizados,
45
sendo que apenas a nomeação de um determinado grupo permite saber pouco sobre sua
natureza e modo de funcionamento.
Faz-se necessário diferenciar grupos de apoio, grupo focal e grupo focal breve,
descrevendo as características de cada metodologia de trabalho. É importante
especificar os objetivos de cada modalidade de grupo, e de como este se constitui em
relação aos participantes e à forma de coordenação profissional.
Segundo Mackenzie (1996), a psicoterapia de grupo de curta duração utiliza
muitas técnicas em comum com a psicoterapia de grupo em geral, mas sua singularidade
reside no uso intencional do tempo para a aceleração do processo terapêutico. Para este
autor, a natureza breve da intervenção conduz a uma organização de grupo diferenciada,
em que se busca explorar temas específicos visando o desenvolvimento dos
participantes em uma estrutura de tempo limitado.
Diferentemente das psicoterapias de grupo, os grupos de apoio atendem
demandas compartilhadas por todos os participantes. Conforme Schopler e Galinsky
(1993), os grupos de apoio têm a função de contribuir para o enfrentamento de estresse
relacionado a situações de crises comuns, a transições de vida e a fases de dificuldades
econômicas. Geralmente, tais grupos destinam-se ao encontro de indivíduos com
problemas semelhantes, dispostos a compartilhar suas experiências pessoais e a se
engajarem no desenvolvimento de um processo coeso e de suporte.
Os grupos de apoio são fundamentais para o reconhecimento do sofrimento e
para motivar os participantes a lidarem melhor com a menopausa, caracterizada por
mudanças e necessidade de superação. Por meio do acolhimento entre os participantes,
cria-se uma rede de apoio que legitima a dor de cada um. Com o suporte grupal, a
esperança é colocada em foco e visualizada de forma concreta com a troca de
46
experiência entre os que estão passando por alguma dificuldade e os que já encontraram
formas de superá-la.
Com objetivos e métodos diferentes, os grupos focais se apresentam como
metodologia que possibilita a pesquisa, mas agregam características das psicoterapias de
grupos e dos grupos de apoio. O grupo focal se constitui por uma intervenção de tempo
limitado que proporciona apoio emocional, elaboração psíquica e suporte por meio da
definição de temas a serem trabalhados pelo grupo.
Hassen (2002) define grupo focal como uma técnica de pesquisa, dentre as
consideradas de abordagem rápida, que permite a obtenção de dados de natureza
qualitativa a partir de sessões em grupo, nas quais seis a vinte pessoas, que
compartilham alguns traços comuns, discutem aspectos de um tema sugerido. A técnica
de grupo focal permite a identificação e o levantamento de opiniões que refletem o
grupo em um tempo relativamente curto, otimizado pela reunião de participantes e pelo
confronto de idéias, o que permite conhecer o que o grupo pensa. Em alguns poucos
encontros, é possível conhecer percepções, expectativas, representações sociais e
conceitos vigorantes no grupo.
A pesquisa com grupo focal e breve estuda uma parte da sociedade escolhida e
bem delimitada por meio de demanda específica. No caso de mulheres na menopausa, é
uma possibilidade de acessar idéias e valores que têm sido compartilhados dentro de um
espaço social que influenciam a forma de cada mulher vivenciar esta etapa da vida.
Para Gomes, Telles e Roballo (2009), o estudo por meio de grupo focal permite
compreender processos de construção da realidade por determinados segmentos sociais,
entender práticas cotidianas, ações e reações a fatos e eventos, comportamentos e
atitudes. Constitui-se em importante técnica para o conhecimento das representações,
percepções, crenças, hábitos, valores, restrições, preconceitos, linguagens e simbologias
47
prevalentes no trato de determinada questão por pessoas que partilham traços comuns e
relevantes para o estudo do problema em foco.
O papel do facilitador-participante da conversação dá-se por meio de perguntas
terapêuticas (Santos, 2009). Esta é uma posição que enfatiza os sentidos no momento
em que o coordenador se coloca como uma pessoa em busca de conhecimento sobre o
que acontece com cada participante. A conversação e as perguntas colaboram para a
ressignificação de narrativas.
O manejo de uma atividade breve exige do facilitador atitudes diretivas,
apoiadoras e ativas, coerentes com os objetivos de trabalho do grupo. É necessário focar
o tema a ser discutido, permanecer com uma postura ativa no andamento das atividades,
e ser cuidadoso ao considerar a fala de cada um, orientado sempre para o que envolve a
experiência de vida discutida.
De acordo com Mackenzie (1996), num grupo de curta duração, o terapeuta deve
ser tão ativo quanto necessário para manter a atenção dos membros na temática do
grupo e nos objetivos do tratamento. Isto não significa que o terapeuta controla o
processo do grupo, mas que busca manter o foco temático e encorajar a participação
ativa dos participantes, sendo que grande parte deste trabalho pode ser feita por
intervenções de reforço e encorajamento.
O grupo focal é um ambiente mais natural e holístico em que os participantes
levam em consideração os pontos de vista dos outros na formulação de suas respostas e
comentam suas próprias experiências e as dos outros (Gaskell, 2005). A homogeneidade
dos participantes é fundamental para o levantamento dos temas e mobilização de
discussões.
Entre alguns dos efeitos positivos referidos por participantes de grupos de apoio,
encontram-se a melhora em seus recursos sociais, um maior nível de conhecimento
48
sobre as questões discutidas no grupo, a maior capacidade de enfrentamento das
situações de vida, a melhora na auto-confiança, a diminuição do medo e da
ambigüidade, o alívio emocional e a redução da desesperança (Schopler & Galinsky,
1993).
O trabalho em grupo permite o aprimoramento do senso da identidade pessoal e
grupal, aumenta a capacidade de lidar com situações novas e redimensionar perdas e
ganhos (Diniz & Coelho, 2003). O grupo tem o potencial de se tornar uma fonte de
apoio diante da falta de reconhecimento social ou de preconceitos vigentes na cultura
que valoriza o jovem. Percebe-se cada vez mais a necessidade de profissionais que
contribuam para modificar o paradigma de menopausa como doença. espaço para se
trabalhar de formas alternativas com a temática, reconhecendo-a como um processo e
percebendo os aspectos culturais envolvidos.
49
CAPÍTULO 4
Método
O presente estudo é orientado pelos princípios da epistemologia qualitativa, e
por isso leva em consideração o caráter construtivo interpretativo do conhecimento.
Gonzalez Rey (2005) afirma que o método qualitativo é aquele no qual o conhecimento
é uma construção, uma produção humana, e não uma realidade ordenada de acordo com
categorias universais. Assim, os objetivos listados a seguir buscam o empírico que
representa o confronto entre a teoria e a realidade.
Objetivo Geral: conhecer, na perspectiva de mulheres participantes de Oficinas,
alguns desafios associados à vivência da menopausa.
Objetivos Específicos:
1- Investigar dificuldades e benefícios relacionados à menopausa.
2- Investigar possíveis benefícios e/ou prejuízos da participação nas oficinas.
A prática também significa o momento de desenvolvimento e organização da
teoria. Deste modo, a Oficina, como uma metodologia de trabalho de pesquisa, segue o
princípio de que a teoria e a experiência grupal oferecem um espaço de informações que
permite a construção de conhecimento sobre os desafios das mulheres na menopausa.
A coleta de dados ocorreu no Distrito Federal após aprovação do Comitê de
Ética em Pesquisa do Instituto de Ciências Humanas da Universidade de Brasília (anexo
I), e declaração de autorização do Centro de Atendimento e Estudos Psicológicos
(CAEP) da Universidade de Brasília (UnB) (anexo II). As estratégias de divulgação das
Oficinas incluíram: cartazes nos murais da UnB, publicação no site da UnB e no jornal
50
Correio Brasiliense, convidando mulheres entre 45 e 55 anos a participarem da Oficina
“Desafios da Menopausa”.
Algumas interessadas em participar das Oficinas se inscreveram por meio de
contato telefônico para a secretaria do CAEP, localizado na referida Universidade,
informando nome, endereço e telefone. Outras interessadas foram pessoalmente ao
CAEP. A pesquisadora entrou em contato por telefone com todas as interessadas e,
neste momento, explicou o objetivo do estudo. Conforme a disponibilidade da
participante, o encontro para a Oficina era agendado. Os cartazes foram posteriormente
retirados dos respectivos locais. Prováveis interessadas após a realização dos encontros
foram informadas do encerramento da inscrição e tiveram seus dados (nome e telefone)
registrados para possíveis atividades posteriores.
4.1 - Participantes
Participaram do estudo um total de sete mulheres. Ao todo foram realizadas três
Oficinas com participantes diferentes. Para a primeira Oficina realizada no CAEP, sete
mulheres foram convidadas, porém apenas duas compareceram. As demais foram
contatadas e relataram dificuldade de deslocar-se à UnB no período noturno.
Para a segunda Oficina, foram convidadas doze mulheres, comparecendo apenas
duas. As demais foram questionadas e afirmaram que se esqueceram do compromisso
ou tiveram dificuldade de comparecer à UnB à noite.
Diante da dificuldade apontada em relação ao local da atividade, as interessadas
foram contatadas novamente e convidadas a participarem da Oficina em sala localizada
no bairro Asa Sul, na cidade de Brasília/DF. À terceira Oficina, realizada no período da
51
manhã, compareceram três mulheres. Todas as participantes compareceram aos dos dois
dias de atividades das Oficinas.
O Quadro 2 apresenta algumas informações sobre as participantes de todas as
Oficinas. Ressalta-se que os nomes utilizados para a identificação das participantes são
fictícios.
Quadro 2: Dados sobre as participantes das Oficinas
Nome Idade
Fase do
Climatério
Estado
civil
Filhos
Ocupação Escolaridade
1ª Oficina
Eva 46 Menopausa
Casada 02 Trabalha Ensino
Superior
Miriam 49 Pré-
menopausa
Separada
(sem
parceiro)
02 Afastada Ensino
Superior
2ª Oficina
Cilene 45 Histerectomia
(aos 44 anos)
Solteira
(sem
parceiro)
00 Trabalha Ensino
Médio
Rose 48 Pré-
menopausa
Separada
(sem
parceiro)
03 Trabalha Ensino
Superior
3ª Oficina
Daniela
56 Pós-
menopausa
Solteira
(sem
parceiro)
00 Aposentada
Ensino
Médio
Ângela 59 Pós-
menopausa
Casada 03 Aposentada
Ensino
Médio
Dira 45 Menopausa
Casada 05 Trabalha Ensino
Médio
52
4.2 - Instrumentos e Procedimentos
A estratégia de intervenção grupal focal e breve, denominada Oficina (Afonso,
2006), foi o principal instrumento metodológico. Todas as Oficinas consistiram em dois
encontros sistematizados, em dias seguidos, nos quais foram trabalhados temas
propostos pelas participantes a respeito da vivência da menopausa. Além disso, houve
também gravação e transcrição dos diálogos. Uma entrevista semi-estruturada foi
realizada por telefone um mês após as Oficinas, como forma de feedback a respeito da
atividade, mas que não foi analisada neste momento do estudo. A seguir, descreve-se
em síntese a estratégia de condução das Oficinas.
No primeiro encontro, inicialmente houve a exposição da proposta da pesquisa,
com leitura e assinatura do termo de Consentimento Livre e Esclarecido (anexo III).
Após este primeiro momento, as participantes se apresentaram respondendo à pergunta:
Quem sou eu? A seguir realizou-se a atividade “Desafios da menopausa”, com duração
aproximada de uma hora. Foram distribuídas a cada participante, folhas de papel e uma
cartela com dez espaços em brancos. Solicitou-se que cada mulher escrevesse no papel
quais eram os desafios da menopausa. Os papéis foram recolhidos e colocados em um
saco. Por meio de sorteio os temas foram apresentados e solicitou-se às participantes
que preenchessem a cartela com os temas com os quais se identificassem ao longo do
sorteio.
A cada sorteio, incentivou-se o diálogo com perguntas abertas às participantes a
respeito de como estão vivenciando o tema em questão. Por exemplo: ao ser sorteado o
tema “envelhecimento”, a coordenadora questionou: Algumas pessoas falam que a
menopausa é o símbolo do envelhecimento, um marco que faz a mulher pensar “estou
envelhecendo”. Como é isso para vocês? Assim abriu-se a discussão. Após serem
53
sorteados todos os desafios, pediu-se para que as mulheres refletissem sobre alguma
questão que não foi discutida, colocando-a na cartela.
Após esta etapa, fez-se o fechamento deste primeiro dia, solicitando que as
participantes elegessem temas para serem discutidos no encontro seguinte. Ao final da
atividade, realizou-se um relaxamento para diminuir possíveis ansiedades, fortalecer a
auto-estima e motivá-las para o dia seguinte.
No segundo encontro, houve um aquecimento com a seguinte dinâmica:
solicitou-se que cada participante falasse o próprio nome e uma característica que
comece com a letra inicial de seu nome. Ao fazê-lo, precisava expressar com um gesto a
característica escolhida. Ex: Cristiana – Carismática – expressa com um sorriso.
A partir de uma síntese dos desafios enumerados no primeiro encontro, propôs-
se a construção de “A história de Ada: Uma mulher de 51 anos, que ...”. Com este
início, pediu-se para cada participante completar a história informando sobre emoções,
pensamentos, dúvidas, características, sonhos e expectativas de Ada, e com isso
construir uma personagem que integrasse um pouco de cada participante. Esperou-se
que esta atividade promovesse projeção, reflexão e busca por soluções de problemas por
meio de uma construção coletiva.
Em seguida, houve o encerramento solicitando que as participantes
expressassem, com uma palavra ou frase, sua opinião sobre a Oficina. Motivou-se a
discussão em grupo e ao final houve um relaxamento com foco na melhoria da auto-
estima. Todos os encontros foram gravados em áudio e transcritos.
4.3 - Análise de dados
54
Foi utilizada a proposta apresentada por Minayo (1994), na qual a análise e a
interpretação visam ampliar a compreensão de contextos culturais com significações
que ultrapassam o nível espontâneo das mensagens. Segundo a autora, para representar
o tratamento dos dados da pesquisa qualitativa emprega-se a “análise de conteúdo”. Esta
relaciona estruturas semânticas (significantes) com estruturas sociológicas
(significados) dos enunciados, observando a articulação do discurso com variáveis
psicossociais, culturais, contexto e processo de produção da mensagem.
Foram estabelecidos como dados: reações das participantes, falas, expressões,
comportamentos, silêncios e qualquer outra forma de revelação de aspectos subjetivos
relacionados ao momento de vida. O material transcrito foi submetido a uma análise de
conteúdo, resultando em categorias temáticas. A seguir, os temas derivados foram
analisados em busca de sentidos subjetivos relacionados à vivência da menopausa, com
o intuito de produzir inteligibilidade sobre estes. Procurou-se identificar os núcleos de
sentido que, conforme Gonzalez Rey (2005), compõem uma comunicação cuja presença
ou freqüência de um tema signifique algo para o objetivo analítico visado. A presença
de alguns temas denota valores de referência e os modelos de comportamento presentes
no discurso (Minayo, 1994).
O conhecimento produzido acerca da menopausa neste estudo não se por
meio de uma confirmação ou refutação de hipóteses. Houve uma delimitação de temas a
serem investigados como orientação para a pesquisa, mas sem afirmações antecipadas.
Caracteriza-se assim, como um processo de reflexão, de percepção de possibilidades e
limitações, que ocorre por meio de uma atividade prática/clínica que promove a
expressão do sujeito.
Conforme afirma Gonzalez Rey (2005), existem duas categorias que geram
inteligibilidade sobre os processos humanos que orientam a análise de dados dentro do
55
modelo da pesquisa qualitativa, que são os sentidos subjetivos e as configurações
subjetivas. Para o autor, o sentido subjetivo é unidade de processos simbólicos e
emoções em uma dinâmica subjetiva que integra diversos elementos que definem o
sujeito biopsicossocial cultural e histórico. A relação entre os diversos sentidos
subjetivos constitui uma organização individual e forma as configurações subjetivas,
como uma formação psicológica complexa diante de um momento processual em
constante transformação. Estes dois conceitos estarão presentes em toda a proposta de
González Rey (2005) na análise do que aparece como produção dos sujeitos em
questão:
As categorias de sentido subjetivo e de configuração subjetiva
representam modelos teóricos no sentido em que nos permitem uma
representação da realidade estudada, abrangendo tanto seus aspectos de
organização como sua processualidade, sem que uma dessas dimensões
seja absoluta em relação à outra. No entanto, os conteúdos emocionais e
simbólicos, que aparecem no estudo de ambas as categorias, podem ser
construídos somente no estudo singular dos diferentes sujeitos ou nos
espaços concretos da subjetividade social a serem estudados. (pp. 117-
118)
Assim, como a ciência é uma atividade de pensamento, o que aparece de forma
indireta no discurso de quem é pesquisado são os sentidos subjetivos que podem, então,
ser interpretados, na tentativa de gerar inteligibilidade sobre aquele processo singular.
Tudo isso é acessado por meio da comunicação, do diálogo em que o sujeito demonstra
seus interesses, desejos, contradições. Tal expressão é possível a partir do momento em
que se abre espaço para uma relação dialética e dialógica, na qual o sujeito pesquisado e
o pesquisador se relacionam por meio de uma comunicação reflexiva. Cria-se um
56
espaço relacional no qual o pesquisador não é neutro, e sim ativo no processo,
estabelecendo o vínculo que promove expressão do sujeito, acolhimento e,
conseqüentemente, a produção do conhecimento.
Então, por meio da relação, busca-se, ao invés de dados, a qualidade das
informações que aparecem no espaço dialógico. O que surge são elementos indicadores
de uma organização subjetiva expressa por meio dos sentidos subjetivos. Porém, o
sentido não é algo que aparece diretamente nas respostas das pessoas, nem nas
representações que as alimentam. Encontra-se disperso na produção total da pessoa, que
poderá ser manifestada por meio de alguns instrumentos.
No presente estudo, cada instrumento representa apenas um meio pelo qual
provoca-se a expressão do sujeito, como algo que facilita a fala da pessoa, envolvendo-a
emocionalmente, e assim, permitindo a expressão dos sentidos subjetivos. Estes
aparecem indiretamente na qualidade da informação, nas palavras, nos significados
atribuídos, nos níveis de elaboração, na temporalidade e nas manifestações gerais do
sujeito em seus diversos tipos de expressões, destacando aquilo que lhe é singular.
Buscar compreender os principais desafios das mulheres na menopausa é uma
forma de cuidar da saúde física e psíquica deste público feminino que necessita de
suporte e atenção. Discutir sobre as principais dificuldades que estas mulheres
enfrentam é uma oportunidade de compreender melhor o que se passa com elas e, a
partir disso, produzir conhecimento e recursos para trabalhos terapêuticos.
57
CAPÍTULO 5
Palavras de Mulheres: Resultados e Discussão
O presente capítulo é composto por três partes. Primeiramente, apresentam-se os
principais desafios da menopausa de acordo com as participantes. Ao comentar cada
desafio, são também discutidos os temas trabalhados durante as reuniões, de forma
complementar, diante da complexidade do assunto. Isto permite compreender melhor o
que envolve a etapa da menopausa, considerando as diversas facetas que constituem a
mulher (item 5.1).
Na segunda parte deste capítulo, discute-se a importância de um trabalho em
grupo com mulheres na menopausa (item 5.2). na terceira parte, existe um espaço
para consideração a respeito da relação entre a pesquisadora e as participantes (item
5.3). Esta discussão se faz necessária na medida em que o trabalho pode ser replicado,
contribuindo para a percepção de novas possibilidades de atuação.
5.1 - Os desafios da menopausa
As respostas à pergunta “Quais os desafios da menopausa?provocaram debate,
reflexão e depoimentos expressos pelas participantes com as seguintes palavras ou
frases: sexualidade; envelhecimento; mudanças físicas; reposição hormonal; trabalho;
filhos; sentir-se diferente, perda de energia, vitalidade e saúde; aceitação de mudanças;
baixa do interesse sexual; diminuição do ritmo de vida; preocupação com câncer e
58
controlar o nervosismo; baixa auto-estima; procurar o eu mesmo sou uma
cinquentona; mudar o ritmo de vida; solidão; saúde física e psicológica; perda de
parentes mais próximos.
É interessante observar como em todos os grupos os temas foram semelhantes,
apesar das especificidades de cada participante. Porém, é o caráter coletivo desta
vivência que permite a identificação entre as pessoas que passam pela mesma fase e
aquilo que mobiliza o diálogo.
O estudo teve como prioridade buscar conhecer o que é compartilhado na
vivência da menopausa e, por isso, não fez uma análise individual de cada participante.
Cabe salientar que os dados poderiam ser analisados de diversas formas, a depender do
foco do estudo, e que cada integrante das Oficinas seria um universo merecedor de mais
atenção.
Os desafios da menopausa foram agrupados em categorias considerando que os
temas propostos têm relação entre si e se referem a diversos aspectos da vida das
participantes. É necessário salientar que todos os desafios apresentados pelas
participantes fazem parte de um contexto de mudanças proporcionadas nesta fase da
vida, corroborando o caráter complexo da menopausa.
a) Sexualidade
A sexualidade foi um tema trazido em todos os encontros como um grande
desafio da menopausa devido às mudanças físicas, subjetivas e relacionais vivenciadas
pela mulher. A diminuição da libido expressa por muitas mulheres gera angústia e
frustração, conforme ilustrado por Eva e Rose.
59
Eva: ... Não dá, se eu tivesse namorado ia pedir férias, mas vivo com esse
homem 24 anos, dividindo tudo. Não posso de repente dizer que não quero
mais dormir com ele. Por isso mudando um pouco o foco do físico para
buscar outras respostas.
Rose: Agora estou sem parceiro, então me sinto intimidada em relação ao
homem. Acho que meu corpo está feio, sinto com baixa de libido, então vai que
arrumo um namorado e não vou acompanhar ele. Aí vem um monte de coisas na
cabeça. Acho que nova, que posso arrumar um namorado e tal, mas fico
insegura. Afetivamente sinto falta. (...) essa história da sexualidade, é como
se eu não sentisse falta, e isso me incomoda. Fica parecendo que morrendo e
eu tão nova para sexo parecer ser uma coisa para estar fora do contexto da
minha vida.
Para algumas participantes, a diminuição da libido torna-se um alívio e não um
problema. Como afirma Ramos (1998), para muitas mulheres que nunca tiveram vida
sexual satisfatória, a menopausa aparece como um subterfúgio para o fim deste
“incômodo”. Neste sentido, Ângela por exemplo, relata:
Para mim a sexualidade sempre foi algo difícil, mesmo eu sendo casada
muito tempo. Acho que meu marido foi um guerreiro. Uma das coisas que eu
gostei de ter feito terapia foi esse conhecimento de mim mesma, principalmente
em relação a essa área. E fisicamente, assim a libido diminui, sabe assim, e
dificuldade também com a lubrificação, a penetração passa a ser mais dolorosa,
e eu evitava sempre que podia. Então para mim eu sempre tive dificuldade e não
foi muito pela menopausa.
60
Mendonça (2004) afirma que envelhecer está relacionado ao gênero, sendo
distintas as cronologias femininas e masculinas. Dira expõe que a diminuição da libido
facilita a relação quando o parceiro também sofre transformações físicas redutoras do
desejo sexual, o que diminui cobranças e sentimentos de angústia.
Dira: O meu marido tem 67 anos e eu sou mais fogosa. Ele tem uns problemas e
não quer muito sexo, eu que quero mais. Então pela questão de termos 20
anos de diferença, isso seria um problema a menos no futuro porque posso
entrar no mesmo ritmo dele.
Daí a importância de não vincular os problemas de sexualidade vividos por
mulheres na meia-idade somente às transformações decorrentes da menopausa. As
restrições são necessárias na medida em que a sexualidade também constitui o ser
humano durante todo seu desenvolvimento. E apesar de ter surgido como tema muito
discutido em todas as Oficinas, vale ressaltar que existem alguns equívocos quando se
restringe os problemas de sexualidade às dificuldades físicas. Há, portanto, a
necessidade de um olhar mais amplo acerca desta temática.
Com o tema da sexualidade, surgiram comentários sobre: dificuldade no ato
sexual, diminuição da libido, liberdade sexual - sem risco de gravidez, e modificações
na relação com o parceiro. Diante das alterações físicas que afetam o ato sexual e das
mudanças na relação com o parceiro, a mulher pode se sentir com baixa de libido,
expondo como queixa principal o desconforto físico. O que aparece no discurso é uma
forma de expressão de dificuldade da ordem da sexualidade que vai além do estado
biológico.
A idéia de que a iniciação sexual se com a capacidade reprodutiva (menarca)
leva ao pensamento de que o fim da fertilidade também significa o término do desejo
sexual. Ramos (1998) ressalta que a sexualidade feminina é carregada de tabus e
61
preconceitos em nossa cultura, estigmatizando a mulher ao considerá-la feminina e
sexualmente desejosa e desejável apenas enquanto potencialmente fértil. Porém,
subjetivamente, outros mecanismos que superam a dificuldade física e que
favorecem a libido. A dificuldade surge no conflito entre possibilidade física e desejo,
conforme Cilene ressalta: Vontade eu tenho muita, mas como fico muito seca, lidar com
isso é que é difícil para mim. Você tá a fim, mas de repente não lubrifica e tal.
As transformações vinculadas à sexualidade não são regras para todas as
mulheres, e por isso são significadas de forma individualizada. O fato de não precisar
conviver mais com a menstruação todos os meses gera alívio, principalmente quando se
fala da impossibilidade de engravidar. A liberdade alcançada pode ser vivida com
plenitude, e algumas mulheres passarem a lidar melhor com a própria sexualidade a
partir destas transformações.
ainda os “ditos populares” compartilhados socialmente sobre a menopausa e
que estão presentes no imaginário na mulher. O que se ouve falar a respeito de
sintomas, tratamentos e mudanças de vida, também compõe a vida de quem está
atravessando esta etapa, gerando expectativas e criando fantasias, como ilustram as
participantes a seguir:
Miriam: ouvi algumas mulheres dizerem que se sentem mais livres porque
não vão engravidar. Se soltam mais sexualmente porque não tem o risco de ficar
grávida, podem aproveitar ao máximo. Eu ouvi esse relato. as questões
hormonais também sobre a secura que também interfere.
Cilene: Me falaram que a vida sexual ia acabar depois da cirurgia, e eu tinha
muito medo do que ia acontecer. Mas por enquanto, tenho minhas paqueras, e
62
acho que por querer provar para mim mesma e para as pessoas que continuo
tenho desejo.
Das sete mulheres participantes, duas não se queixam de diminuição de libido, o
que demonstra que isto o é uma sentença, como se todas as mulheres fossem sofrer
com as alterações da libido. Assim, pode-se questionar a idéia de que se “deixa de ser
mulher” quando se está na menopausa. Subjetivamente, há conflitos entre sentimentos e
sensações físicas, entre desejo e medo do ato sexual, o que pode gerar ambivalência,
deixando a mulher em estado de tensão, mostrando que provavelmente existe uma
relação entre libido, contexto conjugal e auto-estima.
tantas modificações físicas, psicológicas e relacionais que exigem da mulher
uma nova postura em relação ao corpo, aos desejos e às possíveis cobranças do parceiro.
A sexualidade torna-se um tema delicado quando se trata de um casamento ou de uma
nova conquista, criando fantasias de inadequação ou medo de não acompanhar o
parceiro. Porém, é a percepção do corpo que muda, exigindo outros cuidados, outra
abordagem, outro jeito de ser tocado e amado (Ramos, 1998).
b) Transformações físicas/corporais
Assim como as mudanças físicas podem afetar a sexualidade, interferem também
em outras dimensões na vida da mulher. uma nova relação com o corpo marcada
pelos sinais de envelhecimento. Cilene afirma: Eu senti que as rugas se acentuaram
mais, a pele ficou mais seca. Por outro lado, Daniela tem uma relação com o corpo, a
qual expressa da seguinte forma: Eu não tenho problemas para isso. Acho que meu
corpo tá bom para minha idade. Faço exercício pro corpo e pra minha saúde mesmo. A
63
partir da forma como a mulher percebe suas mudanças corporais, ela pode significá-las
de forma positiva ou negativa.
Surgem queixas de perda de vigor, de mudanças na pele (flacidez), de aumento
de peso e, cansaço, não ocorrendo tantas atividades diárias ou simultâneas como era de
costume. Essas mudanças corporais são relatadas por Dira e Rose com muita ênfase:
Dira: ... Mas a gente tem uma sensação muito estranha. A gente olha assim pro
corpo e parece que está tudo desabado. Difícil de lidar com isso. Eu vou sair,
meu marido pede pra eu colocar uma roupa ou um maiô, por exemplo, e eu falo,
mas eu to toda feia...
Rose: Quando a gente é mais nova, se você uma engordadinha, faz uma
dieta, vai à academia e emagrece. De repente eu engordei seis quilos em um
ano. Eu assustei. Gente, o que é isso? O metabolismo muda completamente. E
agora eu to começando a entender essa história, mas não entendia porque
continuava com minha rotina. O corpo vai ficando diferente. Essa aceitação não
é fácil, o metabolismo mudou e você não tem o que fazer, aceitar com bom
humor.
A percepção de que estão ocorrendo mudanças no corpo e na vida parece
ser a sensação mais presente das mulheres na menopausa (Ramos, 1998). Em
todos os fatores destacados anteriormente, aponta-se que a vivência da
menopausa reflete nas identidades das mulheres, fazendo com que sofra
transformações que afetam a constituição do eu. Existe a reflexão a respeito da
continuidade da vida como um constante desenvolvimento na busca pela
plenitude, pelo autoconhecimento, na procura pelo eu, como expressa Ângela,
em relato a seguir.
64
Eu senti três momentos fortes de mudança de ritmo na minha vida. Eu
menstruei, e foi como se eu sentisse a perda da infância. E com 30 anos
eu me achei com uma idade assim, cheia de vida. E quando chegou a
menopausa eu senti como se quando você deixa de ser mulher. É como se
faltasse alguma coisa. Você fica doida pra ficar livre, mas quando fica
livre (da menstruação), você sente!
A imagem corporal modificada e as falas que refletem a perda de algo em si
mesmas reforçam o fato de que mudanças físicas promovem transformações nas
identidades. Sandenberg (2002) ressalta que a imagem do ser feminina, construída a
partir de valores sedimentados na beleza, na juventude e na fertilidade, atinge
profundamente as identidades das mulheres. Por isso, neste momento surge o
questionamento: Quem sou eu? um estranhamento de si mesma diante do corpo
físico, que se distancia do corpo vivido.
Tal sentimento em relação a si mesma aparece nas várias situações da vida que
exigem mudanças subjetivas para além das físicas. Bauman (2003) afirma que a
construção das identidades é um processo sem fim e para sempre incompleto, que o
físico está em constante transformação e as experiências da vida também afetam a
subjetividade.
uma percepção corporal ligada à idéia de desgaste físico, com alteração no
metabolismo que reflete, por exemplo, em dificuldade de emagrecer, tal qual afirma
Rose. Mas algumas mulheres, como Daniela, não vivem tal queixa com tanta
intensidade e têm uma boa relação com o corpo. As fantasias a respeito de
envelhecimento físico contribuem para uma percepção da diminuição do ritmo de vida
como uma perda ou como ameaça à saúde psíquica.
65
O sentido subjetivo desta transformação corporal está relacionado à sensação de
impotência diante da evolução biológica que caminha para a falência do corpo. É o
lidar com a possibilidade da finitude, que antes desta fase não era muito percebida,
que as mulheres do estudo vinham em um ritmo de muita produção e criação.
Conforme Erikson (1998), essas mulheres podem estar no oitavo estágio do ciclo de
vida, que se caracteriza pela antítese generatividade (produtividade) versus auto-
absorção ou estagnação (cessar a produção). Simbolicamente, o fim da capacidade
reprodutiva se estende à sua própria finitude e criatividade, por isso exige do indivíduo
uma postura de auto-cuidado em busca da maturação psíquica. Neste momento da vida,
a mulher, segundo Zampieri et al (2009), perde a ilusão da imortalidade, vendo-se
frente a frente com sua condição de finitude, percebida pela diminuição do ritmo de
vida ou pelo sentimento de perda relacionado aos filhos, trabalhos e familiares.
c) Diminuição do ritmo de vida
A meia-idade é um período no qual a pessoa se depara com os limites das
possibilidades vitais (Mori & Coelho, 2004).
Há, com freqüência, uma mudança no ritmo
de vida, caracterizada pela sensação de que o corpo não acompanha a mente, ou seja, ter
vontade de fazer muitas coisas e não se sentir disposta para realizar tudo que se propôs.
Há o medo de se “render” ao desgaste físico e com isso perder a autonomia, como relata
Eva, quando questionada sobre não ter a mesma disposição de tempos anteriores:
Eu fico contrariada porque eu era muito ativa. Ainda sou. Trabalho, faço ioga,
caminhada. É uma coisa que trabalho muito em mim pra não me afetar, para
que eu não me entregue. Do tipo: Estou sem disposição, então vou ficar dentro
66
de casa quieta. Me trabalho muito nisso, mas as vezes a gente pede e o corpo
não acompanha muito o ritmo. Mas não me sinto triste com isso não.
Algumas mulheres conseguem vincular esta baixa de energia e mudança física
ao desenvolvimento humano, e não propriamente à menopausa. Esta diferenciação é
válida na busca por estratégias que possam oferecer bem-estar e melhor qualidade de
vida à mulher. A tomada de consciência de que este fenômeno é mais amplo do que as
conseqüências da menopausa é fundamental para novas atitudes, como relata Dira: Bem,
eu assim, depois dos 40 senti que eu não tenho mais aquela energia. Eva também
aponta para a questão:
Nas mudanças eu até coloquei a dificuldade de manter o peso. O interessante é
que, na minha opinião, vinha acontecendo um processo de aceitação mas que
não é fácil. (...) mas isso não atribuo à menopausa, mas sim a um processo de
idade mesmo. Porque comecei a ter dificuldade de manter o peso muito antes,
depois dos trinta e pouco.
Como uma vivência compartilhada, a diminuição da energia aparece em todos os
relatos das participantes. O interessante é notar que a criatividade de cada mulher
permite encontrar alternativas para lidar com essa mudança ao invés de se prenderem a
lamentações. Este tipo de atitude leva à maturidade, por meio do aprendizado, tal como
ilustrado por Rose, a seguir:
Nossa, isso mudando tanto a minha vida. assim. Sabe? Perdida! Uma
queda de energia tão violenta. (...) esse é o maior desafio para mim. Estou
tendo que fazer opções. Faço um pouco e me divirto, porque se eu fizer tudo em
casa, já vou ficar cansada e não vou sair. Começando a aprender isso.
67
Ocorre uma nova relação com o corpo que transcende a dimensão física, levando
também a transformações subjetivas. A nova maneira de enxergar a pele, o vigor, e as
possibilidades deste corpo em constante desgaste e mudança exige a atitude da sapiência
no respeito às limitações. O contato com a finitude e com as perdas pode contribuir para
o amadurecimento. Neste momento, uma espécie de compensação subjetiva regida
pela capacidade psíquica de renovar pensamentos e resgatar valores. Pode surgir uma
nova maneira de viver, desapegada do que era costumeiro, abrindo a possibilidade para
outras rotinas e prioridades.
A maturidade permite mais disponibilidade para apreciar o que há de bom no
futuro e na velhice. As afirmações das participantes chamam atenção para a dificuldade
de aceitar o envelhecimento. Tal aceitação não constitui como uma acomodação, mas
sim, como um processo ativo de transformações subjetivas que levam a uma adaptação
na busca pela diminuição de sofrimento. Há uma recusa em reconhecer um corpo
desgastado, que limita e frustra diante de uma possível liberdade psíquica. Mas, por
outro lado, existe um sentimento de orgulho próprio quando conseguem administrar
com sabedoria problemas antigos ou novos, como expressa Eva, a seguir:
A sabedoria é se eu olhasse assim pra mim há seis anos atrás, se uma roupa
ficasse apertada em mim, a minha meta era emagrecer, fazer dieta. Hoje
transo muito bem em levar minha calça pra minha mãe dar uma folgadinha.
Então, essa é a evolução (que eu acho que isso é um ganho da menopausa e
não uma perda). penso assim, na menopausa, então tenho o direito
de ficar um pouco mais roliça. Essa é uma coisa que não é fácil, mas eu
acho que é um ganho que você tem. Agora tenho o direito de relaxar. Há 10
anos atrás eu não tinha não. Então, pra mim hoje, por exemplo, é tranqüilo
pra mim isso.
68
As mudanças corporais são apontadas sempre como um dos pontos que mais
afetam a vida da mulher nesta etapa, seguidas das mudanças de papéis, familiares e
sociais. O fato de o corpo não acompanhar a mente gera frustração, angústia e o
sentimento de que estar envelhecendo é perder o comando de si mesma, como sinaliza
Ângela, ao dizer: Sou uma cinquentona, sou uma velha.
Neste sentido, houve muita queixa em relação à dificuldade de aceitar o processo
de envelhecimento. Porém, o vislumbre da maturidade permite lidar com a perda de
energia sem relacioná-la somente a algo negativo, possibilitando uma re-significação
das mudanças corporais. Busca-se uma forma de adaptação ao novo momento da vida.
As participantes declaram uma necessidade de agir de forma diferente, coerente com o
que é esperado de uma mulher na meia-idade.
Assim relata Dira: Ah! Isso é muito complicado. Você se adaptar com a
situação, como por exemplo, o que vestir, como se comportar em certas ocasiões.
Daniela ressalta:
Você fica assim procurando se adaptar a essa idade. Porque você como
cinquentona ainda tem muita força, muita vontade de ir, cheia de energia,
querer muito, você acha que está na flor da idade ainda. Mas você não pode
esquecer que você não é mais uma garotinha de 20 anos, mas votem que
procurar ser aquela cinquentona! Que você com tudo em cima e sabe viver
aquela idade. Mas às vezes, algumas coisas te atrapalham e vem o
“procurando o eu”. Como eu vou me comportar diante de certas atitudes,
diante das crianças de uma festa? Eu devo ir ou não?
Assim como necessidade de adaptação diante das mudanças físicas e
relacionais, o mesmo ocorre quando mulheres enfrentam a aposentadoria. Buscam uma
69
nova rotina baseada na aceitação das transformações de ordem profissional pelas quais
passam nesta etapa do desenvolvimento humano, como veremos a seguir.
d) Aposentadoria
Dentre as mudanças da vida colocadas pelas participantes, a aposentadoria
aparece como mais um aspecto importante, estando ligado ao estar ativa e ser
valorizada. As participantes demonstram que a aceitação da nova rotina exige adaptação
às novas cobranças sociais, por meio de comportamentos e atitudes diferentes nesta
nova fase da vida.
Nota-se a ambivalência de sentimentos relacionados ao trabalho, como algo que
sentido à vida da mulher, mas que traz muito desgaste devido à jornada dupla. A
grande dificuldade em relação à aposentadoria está na mudança brusca de rotina, que
de um dia para o outro o trabalho não faz mais parte da vida como Ângela assim
expressa:
Eu acho que com a aposentadoria, e não propriamente a idade, que mudou mais
minha vida. Assim, muda muito, a gente tem o horário, o grupo de trabalho,
você está num ritmo muito agitado, você se aposenta e no dia seguinte você
não tem o que fazer. Eu senti muito. Me senti perdida. Embora eu entenda que a
aposentadoria é um prêmio, é uma coisa desejada, mas de repente eu fiquei
assim, eu acho que essa coisa do ter o que fazer, a não ser dentro de casa
porque sempre se tem o que fazer. Eu senti que foi uma mudança.
O trabalho é uma conquista das lutas feministas que tem muito valor social para
a mulher. Exige adaptações diante de experiências exclusivamente femininas tais como
tensão pré-menstrual, gravidez e menopausa.
70
Aquelas que passam por dificuldades no ambiente de trabalho devido a sintomas
da menopausa podem considerar a aposentadoria como oportunidade de ter mais tempo
para si mesmas, tal como expõe Daniela:
Para mim foram duas mudanças. Porque quando eu tava trabalhando, não sei
se era a menopausa ou o climatério, porque dizem que a menopausa é depois de
um ano que parou de menstruar. E eu ainda não completei um ano. E quando eu
estava trabalhando, que tinha que ligar o ventilador ou ar condicionado porque
o ventilador não era suficiente, pegava um leque, e as meninas diziam que eu
ficava um charme com leque, mas era um charme que me gerava desconforto.
Então eu acho que a aposentadoria é justamente para isso, para a mulher
quando começar a entrar na menopausa, aposentar. E ficar bem em casa,
fazendo as coisas que ela gosta. Porque as vezes, trabalhando ali é tanta coisa
... Sabe, eu não me sentia muito bem no trabalho. Então foram duas mudanças:
primeiro a menopausa e segundo a aposentadoria. Eu ainda estou montando o
quebra-cabeça.
Nesta tentativa de “montar o quebra-cabeça”, ocorre a procura por uma forma de
aceitar ou se adaptar às mudanças atribuídas à menopausa. Maldonado e Goldin (2004)
afirmam que é fundamental perceber o envelhecimento como uma nova etapa produtiva
e não como um prenúncio da morte. Assim, a aposentadoria deve ser encarada como
uma oportunidade de realizar projetos, desenvolver interesses, procurar novos
relacionamentos e a possibilidade de desenvolver a paciência e a persistência para
aprender.
O enfrentamento da aposentadoria evidenciado pelas participantes foi diverso.
Houve mulheres que a consideraram como mais uma perda na vida, traduzida como
perda de valor social. Para outras, a aposentadoria é um prêmio, ou diminuição
71
necessária do ritmo de vida. A diferença na forma de enfrentar a aposentadoria não está
relacionada somente à menopausa, mas também depende do sentido do trabalho na vida
de cada uma, e de como se sentiam nele.
Assim, a aposentadoria e a menopausa são dois eventos fundamentais que se
relacionam ao envelhecimento.
Se a função reprodutiva demarca a inscrição identitária das
mulheres jovens, o envelhecimento constrói a marca identitária de mulheres no climatério
(Diniz & Santos, 2006).
e) Envelhecimento
Na meia-idade, a mulher tende a se defrontar mais intensamente com o
envelhecimento, gerando expectativas, medos, projetos, fantasias e o contato com a
finitude. Daniela destaca a aceitação do envelhecimento como uma atitude de se
permitir envelhecer:
Ah envelhecimento, eu estava vendo as reportagens sobre o aniversário de
Brasília, e vendo as pessoas quando chegaram aqui todas jovens e lindas, e
agora você a pessoa toda enrugada, mas uma beleza bonita porque soube
envelhecer. Cada ruguinha, cada conquista com aquilo é aceitar. eu fui
lisinha, mas quero envelhecer bonita naturalmente pelo processo da vida. Posso
fazer um botox, um infravermelho, mas pouca coisa. Pela tecnologia você pode
morrer com 100 anos mas corpo de 50 . Isso é a nossa história. Você quando vai
construir uma casa, quando você é jovem, você arruma tudo, o quarto, uma
coleção de cd, um móvel e etc. Quando você tem seu neto ele chega e fala:
Nossa, minha avó tem uma coleção! Eles estão velhos, mas olha o que fizeram.
72
Na minha família, os meus sobrinhos querem os mais velhos presentes. Pedem
pra os tios estarem na vida deles. Então acho que está mudando.
O reconhecimento e a valorização dos pares, familiares e amigos são
importantes para a formação da auto-estima. Em uma cultura na qual o velho é
desvalorizado, é natural a resistência ao envelhecimento e compreensível tamanha
dificuldade expressa pelas participantes, conforme destacado por Ângela:
Às vezes eu penso o que é ser velho, como é você se sentir velho? Porque
quando a gente é nova a gente acha que uma pessoa de 50 é velha, mas
quando você vinha chegando você não se sente velha. Eu vou fazer 60 e não
me sinto como eu achava que era. Mas o velho hoje em dia é meio abandonado.
Antes o velho tinha toda aquela importância, era a pessoa mais velha, então era
bem considerado. Mas hoje, não! Você tem que ter aquele físico e tem que fazer
muita coisa, se não for assim, você perde seu valor! Uma cobrança mais
recente. O livro “Navegando” de Rubens Alves fala disso, do envelhecimento e
o utilitarismo. um medo, porque de repente você chega lá, não pode fazer o
que fazia e ainda perde o seu valor.
Como destacado anteriormente, as imagens associadas à menopausa são
confundidas com as da velhice, constituindo esta fase vital o símbolo do
envelhecimento feminino (Serrão, 2008). Apesar de o desenvolvimento humano ser
contínuo e progressivo na direção do envelhecimento, ocorre maior percepção desta
dinâmica da vida quando a mulher se defronta com a menopausa. Este posicionamento
perante a vida é exemplificado por Eva, a seguir:
Eu sinto exatamente como se a menopausa fosse um marco mesmo do
envelhecimento. Agora chegou, não tem mais para onde correr. Agora eu estou
mais velha do que nova. E não é uma percepção como marco, mas o corpo
73
vai te mostrando isso mesmo. Eu por exemplo, depois que entrei nesse processo
me sinto mais flácida, sinto a minha pelecomeçando a cair, bigode chinês, eu
observo tudo isso, e acho que o sinal na gente. O cabelo branco nem atribuo
porque tenho desde os 17 anos, é genética e nem incomoda, mas vejo mais
mesmo no corpo. (...)Acho que tenho que trabalhar é essa aceitação disso, desse
processo que é inevitável. E fico pensando que deve ter um lado positivo. Você
vai alcançando maturidade para lidar com as situações e com as pessoas.
Sandenberg (2002) aponta para o fato de que o discurso do “declínio” a respeito
do envelhecimento surge em versões de gênero, ou seja, feminina e masculina. No caso
das mulheres, o envelhecimento tem como marco a menopausa, momento do ciclo vital
tão caracterizado por sensação de encerramento e início de fases, tal qual expresso no
relato anteriormente destacado. Esta forma de pensar o desenvolvimento voltado para
um declínio reprodutivo marca o imaginário feminino com idéias de fim da
feminilidade, da capacidade criativa, do poder de sedução e da vitalidade.
Os relatos das participantes expressam suas expectativas sobre envelhecer.
O
envelhecimento é marca
do por transformações que restringem as realizações pessoais,
conforme apresentado por Mori e Coelho (2004). Isso é evidenciado pelas
expectativas criadas. Por meio de suas vivências, as participantes conseguem perceber
as contribuições e possíveis dificuldades desta fase da vida, como demonstra Miriam,
por exemplo:
Estou encarando a menopausa, não como menopausa, mas sim como a fase dos
50 anos. Encaro como uma fase nova na minha vida. O meu medo é muito de
expectativa, de sonhos que a Ada aqui tem nisso. Mas foi bom saber que a gente
pode enfrentar. Foi muito bom.
74
O marco biológico da menopausa leva a mulher a refletir sobre o próprio
envelhecer. Surgem questionamentos a respeito de como cada uma está vivenciando os
conflitos entre mente e corpo, cultura e individualidade, valorização e desvalorização,
numa tentativa de se adaptar à nova situação. O contexto é de transição, caracterizado
como se a juventude já tivesse passado, porém a velhice ainda não.
Para Campos (2006), o envelhecimento modifica o status da pessoa e os seus
relacionamentos em função das perdas de papéis até então bem estabelecidos. A dificuldade
em relação à menopausa está relacionada às modificações no ser mulher e nos preconceitos
do ser idosa.
O que acontece nesta etapa é a criação de fantasias a respeito do envelhecer que
serão confirmadas ou não em um futuro próximo. A forma como a sociedade atual lida
com o envelhecimento, caracterizando-o mais por aspectos negativos do que por
aspectos positivos, gera insegurança nas mulheres. Tal fato se destaca na forma de uma
desvalorização da própria pessoa diante dos outros, que pertence à sociedade como uma
pessoa pouco ativa.
No caso da mulher, existe ainda a cobrança social em relação à beleza, fazendo
com que busque se adaptar ao que é considerado bonito e adequado para cada idade, a
fim de tornar-se desejada e aceita. A mídia exerce papel principal nesta valorização
maior do jovem e do belo, como destacado nas oficinas por Miriam e Eva. Miriam
afirma: Você vê mulheres de 60 lindíssimas fazendo papéis de 40. E olha pra você, você
tá um caco. É muita cobrança. Tal sentimento é confirmado por Eva, a seguir:
A Ana Maria Braga está deformada de tanta plástica. Está perdendo a
configuração do rosto e isso é ruim. Então pra que serve isso, né? Você pode
usar seu creme, mas eu procuro me aceitar do jeito que sou, porque nem
cogito transformar meu rosto para esconder o que está acontecendo comigo.
75
Vale ressaltar o pensamento de Werthein et al (1999), ao expressar que os
discursos vigentes e o imaginário social denigrem e desvalorizam o corpo, podendo
gerar impacto psicológico e atingir os desejos das mulheres. A mídia vende uma beleza
irreal e provoca na mulher sentimento de inadequação aos padrões sociais diante de um
tipo de ser humano perfeito inexistente, nem por meio de cirurgias. A imagem falsa
produzida pelos computadores se torna o referencial de beleza e juventude que não pode
ser alcançado pela “normalidade”.
O contexto de valorização da juventude e preconceito com o envelhecimento tem
impacto sobre a saúde física e mental (
Diniz & Santos, 2006
).
Como o envelhecimento é
complexo, não se pode evitá-lo por meio de intervenções plásticas que apenas criam
uma ilusão de distanciamento da realidade. Isto gera insatisfação e cria a necessidade de
mais cirurgias na busca por esta juventude que não pode mais ser resgatada.
Neri (2007) aponta que estas fantasias são baseadas no sonho de envelhecer
mantendo a juventude, apoiados pela mídia e pelo mercado da estética. O fundamental é
a mulher perceber que não precisa abdicar do cuidado com o corpo, apenas avaliar com
bom senso como se pode usufruir deste recurso da melhor maneira possível.
Os relatos descrevem a aceitação como o comportamento de não lutar contra
algo que é inevitável, o envelhecimento humano. No caso da menopausa, a idéia de
que, pela aceitação das mudanças, se encontrará uma forma de viver melhor, como
enfatiza Rose, por exemplo:
O complicado é aceitar a mudança como uma coisa boa. Porque quero fazer
tudo como quando tinha 20 e 30 anos, mas meu corpo não acompanha. Tô
vendo o tempo passando. Duas filhas casaram, já tenho um neto, apesar de um
filho de 13 anos dentro de casa, to vendo as filhas saírem. É diferente de quando
76
estava separada e tinha que dar conta de dois trabalhos, até isso diminuindo.
Então tem a questão física e tem a emocional também. Eu to ficando diferente.
Este período pode ser qualificado com positivo ou negativo, de acordo com uma
mudança de percepção da mulher, ao enxergar as transformações como possibilidades e
não como fim de vida (Maldonado & Goldim, 2004). É a oportunidade de cuidar mais
de si, de resgatar antigos sonhos e desenvolver novas habilidades. Essa necessidade de
auto-cuidado também é relatada por Eva e Miriam durante a atividade projetiva de criar
a história de Ada, no momento em que falavam sobre os sonhos da personagem:
Eva: Diante dessa quantidade de coisas acho que ela (Ada) nem se
permitindo sonhar.
Miriam: Mas eu acredito que Ada sonha, por isso não quer mais ser mais uma
super mulher. Ela quer seguir o sonho dela, porque, se você cuida de todo
mundo, você esquece de você. A partir do momento que você quer coisas pra
você, ela tá mudando o pensamento.
Eva: Ela passou até esse momento sonhando o sonho dos outros.
Miriam: É!
Eva: E acho que ela desaprendeu a sonhar pra si mesma. Então, talvez ela até
sonhe, mas não tem clareza de qual é o sonho dela. Do que vai deixá-la feliz.
Então acho que ela passou tanto tempo sonhando o sonho dos outros, e ela se
realizava com a realização dos outros.
O fato de refletirem sobre os próprios sonhos nas Oficinas permitiu que as
mulheres percebessem o quanto investiam mais nos outros do que em si mesmas. De
potencializadoras das vidas dos outros, elas querem o direito de ser donas de suas
próprias vidas (Diniz & Coelho, 2003, pp. 80).
77
As participantes relatam suas dificuldades em manter o papel de super mulheres
que precisam administrar trabalho, família e interesses pessoais, ilustrando uma questão
de gênero que perpassa a fase da menopausa. A partir desta reflexão sobre os sonhos e
desejos, as mulheres do estudo destacaram o auto-conhecimento, o tomar consciência de
si e das mudanças, como pontos fundamentais para aceitarem esta nova fase da vida.
Com isso, reconhecem que é preciso desapegar-se das antigas atribuições de mães, de
trabalhadoras e procurar uma nova rotina, outros projetos, mais relacionados a si
próprias do que aos outros, como relata Rose, a seguir:
Sabe que eu me pego assim, me boicotando para não fazer coisas para mim,
porque sempre fiz as coisas para os outros, pelo amor, e de repente a vida tá me
dizendo assim: agora você tem que cuidar de você e, eu continuo querendo
cuidar dos outros. E falo: pára de fazer isso!
Surge a oportunidade de mudar o estilo de vida, podendo satisfazer mais os
próprios desejos, já que outras responsabilidades vão diminuindo, como cuidar dos
filhos. A importância desta tomada de consciência é a valorização do auto-cuidado na
busca por uma qualidade de vida melhor, com mais autonomia e liberdade. Diante da
possibilidade de novas prioridades, uma alternativa é a participação de grupos que se
constituam como rede de apoio e nos quais as mulheres possam desenvolver atividades
diferentes, diminuindo o sentimento de solidão expresso por várias participantes e
tratado a seguir.
f) Sentimento de solidão
Algumas participantes queixaram-se de se sentirem sozinhas. Porém, pode ser
um sentimento de solidão que também está relacionado à falta de oportunidade para se
78
falar sobre a menopausa e as mudanças da meia-idade. Pode ser uma solidão vinculada
ao silêncio, à falta de companhia para conversar sobre um assunto em comum, já que o
parceiro não passa pelo mesmo processo, ou os filhos estão envolvidos com outras
atividades. uma busca por identificação, de pertencer a uma categoria com
características bem definidas, como os depoimentos abaixo demonstram:
Porque de repente você vivendo... [sente calorão e tira o casaco].
Aquelas pessoas com quem você dividiu aborrecimentos de marido,
trabalho, filhos, elas não estão vivenciando o mesmo e fica difícil dividir,
fica difícil aceitar. fica mais difícil pra mim em relação ao momento que
veio. (...)sim me sinto com solidão. Com quem convivi, elas não estão
passando por isso e não posso conversar porque não me entendem. Você
fica um pouco só mesmo nesse processo (Eva).
A solidão, eu acho que pode surgir em todas as fases, né!? Mas, por
exemplo, no meu caso, tem horas que gosto de ficar sozinha em casa. Como
coincidiu nesta fase da menopausa, minha filha se casando, fica assim
aquela sensação de vazio. E agora assim, a minha filha que mora com a
gente começou a trabalhar. Era tudo que eu queria, né?! Mas sabe quando a
gente sente falta? Porque a gente saía, e ela foi trabalhar e eu senti meio
vazio; mas assim, se por um lado tem isso, por outro, tem os netos que
enchem. Não é uma coisa que seja um problema pra mim, mas acho que
pode acontecer (Ângela).
As participantes da pesquisa relatam sobre a dificuldade de conversar com
familiares e amigos sobre as mudanças que só acontecem com elas, já que outras
pessoas mais próximas não se encontram na mesma situação. Normalmente, coincide de
79
ser o momento em que os filhos estão conquistando a independência e começam a sair
de casa. Ocorre a necessidade de organizar uma nova forma de viver na qual o tempo
anteriormente ocupado pelos filhos seja agora destinado a outras atividades, com novos
sentidos subjetivos.
A questão do tempo ocioso não é o único fator que marca essas mulheres.
Afetivamente, elas sentem como uma perda o fato de os filhos dependerem menos
delas. Tal perda é denominada síndrome do ninho vazio, caracterizada pela
supervalorização do papel materno e pela exigência do cuidado familiar (Maldonado &
Goldim, 2004). Ao mesmo tempo sentem-se orgulhosas dos filhos por terem
conquistado o que desejavam. Quando tal ambivalência, a mulher sente-se em
conflito, que pode gerar tristeza e angústia. Uma conquista possível desta etapa que
tende a contribuir para a mulher viver melhor é dar sentido à nova experiência dos
filhos e não se prender apenas à perda.
Encontrar novas formas de perceber e enfrentar a situação é fundamental porque
gera esperança, o que pode ser incentivado por meio da relação com a outra. Tal aspecto
reflete a necessidade da criação de espaços que possibilitem a expressão destas
mulheres, tanto para que se sintam parte de um grupo quanto para que troquem
conhecimentos e experiências.
Como a menopausa ainda precisa ser mais abordada no senso comum e no meio
acadêmico, esta etapa da vida da mulher ainda é tratada por muitos e muitas como um
tabu. As participantes declaram que persiste a dificuldade de se falar sobre o tema com
outras mulheres. Algumas mulheres tentam disfarçar as mudanças, sentindo-se
envergonhadas como Daniela. Já outras, como Rose, sinalizam tal dificuldade: (...) É
tão interessante porque é uma coisa tão feminina e eu me sinto totalmente
despreparada. Parece que tem um véu em cima da história. Meu ginecologista fez
80
exames e disse que não deu nada, apesar da menstruação irregular. Talvez, tal
despreparo apareça justamente pela falta de diálogo e de informação de fácil acesso.
Os desafios da menopausa apresentados pelas participantes dizem respeito a
aspectos da vida das mulheres nos quais necessitam “testar” suas habilidades para lidar
com as mudanças. Buscam-se recursos internos que permitam superar dificuldades. É
como se exigisse do sujeito esforço para enfrentar as mudanças da vida, como um
estímulo ou provocação que mobiliza novas atitudes.
É interessante observar que os desafios apontados pelas participantes confirmam
que as mudanças envolvidas nesta fase da vida dizem respeito ao envelhecimento e à
condição de ser mulher. As mudanças físicas e subjetivas colocam em teste a
feminilidade, quando estava referenciada na beleza jovial, como confirma Ângela, em
relato a seguir: (...) E quando chegou a menopausa eu senti como se quando você deixa
de ser mulher. É como se faltasse alguma coisa.
Neste momento, a mulher pode perceber que a feminilidade é constituída de
vários aspectos além da estética, da fertilidade e da maternidade. A condição de mulher
continua a existir, e o que muda são os papéis sociais, as relações, possibilitando mais
tempo para o auto-cuidado em alguns casos.
O envelhecimento é percebido igualmente nas mudanças do corpo que faz a
mulher entrar em contato com a possibilidade de finitude. Porém, os benefícios da
maturidade ganham destaque, colaborando para a aceitação deste processo de
mudanças. As participantes enfatizaram a necessidade de falarem sobre o assunto e de
ouvirem histórias de pessoas que passam pela mesma situação.
A seguir, o estudo aqui desenvolvido reserva-se à importância do sentimento de
pertença a um grupo para as mulheres que estão atravessando a etapa da menopausa. O
item a seguir responde ao objetivo específico de investigar os benefícios e prejuízos da
81
participação em Oficinas, que conseqüentemente pode refletir no enfrentamento da
menopausa. Isto porque a metodologia deste estudo foi realizada na forma de
pesquisa/intervenção, e são fundamentais as contribuições desta experiência.
5.2 - Participando de Oficinas sobre a menopausa: a importância de um
grupo
As participantes apresentam um pedido pela escuta que gera compreensão,
afetividade, sentimento de pertença a um grupo, desabafo, informação e
compartilhamento de idéias e emoções, conforme destaca Rose:
Fiquei impressionada como os médicos não conseguem me ajudar a entender
isso. meus médicos ginecologistas sempre foram homens. marquei com
uma mulher porque to entendendo que existe um universo feminino do qual
eles não conhecem. Eu acredito que a coisa não vem de uma hora pra outra, é
gradual. E eu to com essa queixa um tempo; apesar dos exames estarem
ótimos eu não estou bem. Marquei com uma mulher porque quero alguém que
me ouve, e estou na esperança dessa mulher.
Em todos os encontros, expôs-se a necessidade de aproximação com outras
mulheres que estivessem passando pela menopausa, um dos fatores motivadores da ida
das participantes às oficinas. Afinal, grupo, segundo Afonso (2006), é um conjunto de
pessoas unidas entre si porque se reconhecem interligadas por objetivos comuns. Como
relata Cilene, sentir-se diferente diante de pessoas que fazem parte do cotidiano gera
angústia:
82
Me sinto diferente. Ah, porque você tá no meio de todo mundo e começa a sentir
o calor, e te perguntam, por que você assim? Porque ainda não estão na
menopausa e não te entende. você não quer mais ficar no lugar. Pro meu
grupo de amigas, menopausa é para uma pessoa velha com mais de 50 anos e
tal. Então quando estou num grupo de pessoas eu me sinto diferente, fico
envergonhada de estar suando. frio e você suando de calor, vem alguém
e fala: Por que você tá na menopausa tão cedo? E tem que contar a história
todinha. Não quero ter que ficar falando pra todo mundo. Como se eu tivesse
que me defender. Isso é um grande desafio pra mim porque tem só um ano e três
meses que to assim.
Por meio do encontro com o semelhante, a insegurança pode diminuir. Neste
sentido, promover espaços de reunião entre mulheres é tão útil para elas mesmas. Rose
aponta como isso acontece em sua perspectiva:
O que mudou em mim depois da experiência da oficina foi que me senti mais
incluída dentro de um grupo porque eu não tinha com quem conversar. Vi que
era coisa da cabeça, que milhões de mulheres estão passando por isso e
não preciso me sentir diferente. tive benefícios. Foi ótimo. Abriu a minha
visão de tudo. Foi um espaço interno importante.
Apesar de os grupos terem se constituído de poucas mulheres, atingindo o
máximo de três, isto permitiu maior integração entre elas, e mais tempo de
argumentação para cada uma. Afonso (2006) afirma que grupos menores tendem a
facilitar uma maior cumplicidade entre as participantes, como destaca Ângela com o
seguinte depoimento: Olha, a experiência me despertou para a importância de um
grupo na vida das pessoas. Foi muito bom poder conversar, compartilhar.
83
Mulheres que participam de Oficinas podem criar vínculos que proporcionem a
diminuição do sentimento de solidão, por exemplo. Com as Oficinas, as participantes
tiveram a oportunidade de falar, ouvir, refletir e criar uma rede social de apoio na qual
podem ser compreendidas. Dira destaca que a Oficina foi gratificante, e que foi muito
bom conhecer gente nova. Depois me comuniquei com as meninas e isso foi legal.
A Oficina mobiliza a autopercepção que pode gerar mudança interna. Fiquei
mais consciente e menos incomodada. Coisas que eu achava que aconteciam
comigo, eu vi que era mais geral, me fez muito bem (Eva).
Assim como Eva, Cilene também aponta mudanças em si mesma:
To bem melhor. Muito melhor na verdade. O problema da rejeição passou
depois da nossa conversa. Agora ficou mais natural, consigo conversar com
minhas amigas numa boa. Não tive prejuízo. Eu teria ficado conversando mais e
mais e mais. Coloquei em prática algumas coisas que falamos, principalmente
de não me sentir mais diminuída. Agora eu sei que sou parte de um grupo. Eu
adoro isso! Se tiver outras oficinas, me chama!
A percepção de que a menopausa não se restringe a um conjunto de sintomas
permite que mulheres superem os incômodos e procurem alternativas para ocupar a
vida, ao invés de se entregar ao desconforto. Assim é apontado por Daniela a seguir:
Em relação à menopausa, sei que está presente na minha vida, mas não posso
deixar de viver por causa desses sintomas. Tô me ocupando para não dar tempo
de ficar pensando muito neles (os sintomas). Tô no meu inglês, na minha
capoeira. Aliás quebrei uma costela essa semana e to parada em casa. Só
ganhei com a oficina. Ganhei conhecimento até de mim mesma. Abriu portas
para eu seguir em frente de cabeça erguida. Tive o benefício de buscar
alternativas para eu melhorar. Me libertou de algumas coisas. Foi muito bom.
84
Assim como Cilene e Daniela, Miriam também destaca que a vivência foi uma
importante troca de experiência e que gostaria de participar de outras Oficinas. Esta
informação é valiosa, pois sugere a importância de estratégias psicológicas grupais com
mulheres na menopausa. Daniela atenta claramente para o potencial de mobilização
deste tipo de estratégia:
Gostaria de participar mais. Foi bom pegar as coisas das outras participantes, e
poder doar um pouco de mim. Não sou muito de falar de mim e foi bom porque
fez com que o que tava encubado, eu botasse pra fora. Poder desabafar.
Aprendi, depois de me expressar, que não preciso dar atenção a pequenas
coisas e que posso viver melhor cada vez mais.
Todas as participantes salientam o fato de que se identificar com o outro
mobiliza transformação interna. Faz com que a mulher aceite melhor o próprio
envelhecimento, diminuindo o sentimento de solidão.
A condição de igualdade oferece ao sujeito o direito à interação e permite a
estima dos outros (Bauman, 2003). Por meio da aprovação social, o indivíduo sente-se
mais seguro, com a auto-estima melhor, e consegue se relacionar de forma mais
autônoma. Para este autor, as pessoas podem, em conjunto, expressar seus medos e
ansiedades individualmente experimentados e, na companhia de outros que se
encontram em situação semelhante, podem realizar ritos que amenizem a angústia. A
própria fala, o sentimento de pertença e o fato de poder ser ouvida trazem essa sensação
de segurança e liberdade. A partir do contato com outras mulheres, as participantes
puderam notar que a troca de experiência traz benefícios, conforme Miriam expressa:
No fundo a gente se sente muito solitária porque parece que ninguém entende
aquilo que você tá passando. Que você está infeliz por causa daquilo. E não é só
você. A gente sabe que tem milhões de mulheres passando por isso e não se
85
encontram. Agora vejo como é importante esse tipo de grupo. Hoje estamos
nós duas, mas foi muito bom, e me ajudou. Fiquei pensando como teria sido
se eu tivesse um grupo pra conversar quando minha filha adoeceu. Como teria
sido poder dividir com outras pessoas tudo o que eu tava sentindo. Puxa, você
faz isso e certo. Ouve algo que você nunca pensou em fazer. E essa troca faz
a gente se sentir bem, expõe o que gente nem tinha pensado, mas que também
faz parte das dúvidas e receios.
As pessoas nos grupos estão mais propensas a acolher novas idéias e a explorar
suas implicações (Gatti, 2005). As atividades da Oficina mobilizam as mulheres,
fazendo-as perceber que aspectos de si mesmas que precisam de atenção e cuidado.
Eva expressou claramente a relevância dessas atividades para este tipo de público.
Ah eu gostei muito, e essa oficina me fez refletir. Me colocou em contato
comigo, por ter largado o resto da vida e ter me dado esse momento,. A questão
de aceitação do processo e das coisas da vida. Acho que a gente extrapolou a
questão da menopausa e foi para vida como um todo. Mas eu fiquei assim,
convicta de que preciso avançar um pouco, talvez eu precise de ajuda nesse
contato com sentimentos fortes e pesados que estão presentes. Acho que essa
questão da dificuldade com meu marido, saí daqui ontem convicta de que isso
não é puramente físico e que preciso trabalhar isso. Acho que não para
caminhar sozinha, preciso pensar em alternativas que não é uma aula de dança.
Preciso chegar mais perto disso. Eu nunca tinha parado para pensar que
tinha feito tudo a vel operacional para melhorar isso, mas não melhorou.
Preciso continuar com minhas pomadinhas, mas preciso também atacar por
outros lados porque é algo que está em mim e não é puramente hormonal.
86
As Oficinas contribuíram para as participantes poderem tirar dúvidas sobre a
menopausa. Também permitiu a sugestão para algumas participantes fazerem terapia
diante da percepção delas de que parte da mudança depende de novas atitudes delas
mesmas, como salientam Cilene, Rose e Daniela, a seguir:
Eu obtive respostas para aquilo que ficava mais me martelando na cabeça. Não
vou ter mais essa inibição de falar. Já sei que isso não é eu ser diferente. É bom
não só ter que ler, mas poder conversar também, trocar experiência.(Cilene)
Para mim foi legal, esclarecedor, não me falta nada. Foi bom porque estava
com muita angústia de não saber o que estava acontecendo. E quando você
entende, clareia tudo, parece que minha cabeça deu uma abertura. Agora sei,
estou no climatério, isso faz parte, isso é normal, não estou doente como achava
que estava. (Rose)
A troca é muito boa porque vai nos ensinando a como resolver as coisas no dia-
a-dia. Então pra mim foi muito bom. Ah e eu decidi que não vou mais disfarçar
os calorões e não vou deixar de namorar por causa disso. Existem outros
grupos? Porque eu queria poder participar mais. (Daniela)
Em relação à composição dos grupos de curta duração, uma relativa
homogeneidade dos pacientes quanto a diagnósticos clínicos ou situações interpessoais
similares tem sido considerada fundamental para o mais rápido estabelecimento da
coesão grupal e desenvolvimento do grupo (Klein, 1996). O fato de a Oficina ser uma
intervenção focal, com um tema bem definido, restringe os candidatos a participarem
das reuniões. Ao mesmo tempo, cria um ambiente caracterizado pela afinidade entre as
participantes que, inicialmente, compartilham de algo. A percepção do que em
87
comum entre essas mulheres possibilita uma identidade grupal, facilitando o vínculo e a
expressão individual.
É fundamental que a metodologia de intervenção grupal possa proporcionar a
promoção de saúde, visando informar, conscientizar e assistir aos indivíduos para que
assumam responsabilidade e sejam ativos em matéria de saúde e bem-estar (Oliveira,
2006). Fortalecer o papel da pessoa como sujeito da própria vida é um dos objetivos das
Oficinas como instrumento de atuação. A escuta psicológica é essencial neste espaço de
troca de experiências porque oferece suporte e possibilidade de alternativas ou
intervenções que auxiliem as participantes.
Um fato importante que merece ser comentado foi que dois homens casados
fizeram inscrição para participar das oficinas. Porém, não foram aceitos nas reuniões
porque este estudo se limitou ao público feminino. Este dado torna-se interessante na
medida em que as participantes pouco falaram sobre a atitude dos homens em relação a
elas, mostrando que existe um “vazio” nesta comunicação. Talvez porque as
participantes quisessem aproveitar o espaço oferecido para falarem delas mesmas,
que a demanda é maior. Mas a procura dos homens parece demonstrar o interesse pela
menopausa, até o momento desconhecido pela pesquisadora. Assim, sugere a realização
de novos trabalhos que dêem conta desta possibilidade de construção do conhecimento.
Além de demonstrar que os homem também precisam de um espaço de escuta para falar
do envelhecimento. Talvez, a inclusão dos homens nesta temática pudesse fazê-las se
sentirem com menos solidão e menos vergonha ao falar no assunto.
A Oficina pode diminuir o vazio na comunicação sobre a menopausa porque
permite o diálogo. A expressão de si mesma facilitada pela relação entre participantes e
coordenadora é um canal terapêutico e de construção de conhecimento para a pesquisa.
88
5.3 - A relação pesquisadora e participantes
Um aspecto interessante do presente estudo foi a relação estabelecida entre as
participantes das Oficinas e a coordenadora. O fato de a pesquisadora ter mais ou menos
a metade da idade das participantes não prejudicou a expressão das partícipes. O
ambiente acolhedor criado favoreceu a liberdade entre pessoas de diferentes idades, o
que foi importante para que o trabalho atingisse o objetivo de permitir a expressão das
diversidades. A participante Rose mostra a importância desta informação:
O que é mais legal disso tudo é ver que quem está nos falando tudo isso é uma
menina tão jovem! É fantástico isso! Uma troca de experiência da gente que
passando pela menopausa com você que é tão mais jovem e é quem está
ajudando a gente clarear as idéias.
A diferença entre gerações incentivou a expressão das participantes, despertando
curiosidade em relação à postura da coordenadora diante das mesmas e da capacidade
de contribuir com algo diferente. Ao ser questionada sobre como foi a experiência de
participar da Oficina, Ângela destacou a seguir:
Eu gostei da experiência de conhecer pessoas diferentes. E achei bom também a
gente falar um pouco da gente com pessoas que não conhecia. Gostei assim,
sabe quando cheguei aqui e vi aquela menininha e pensei assim, legal essa
convivência de gerações. Assim te admirei muito. Acho que a experiência foi
boa. Gostei das minhas colegas.
O trabalho com Oficinas merece algumas considerações relacionadas à
metodologia por comporem os objetivos específicos, e por serem valiosas na replicação
do instrumento. O coordenador tem papel fundamental no bom desenvolvimento dos
encontros, por isso, deve se preocupar em favorecer atmosfera de aceitação mútua,
89
respeitosa e democrática, conforme aponta Afonso (2006). A escolha das dinâmicas
precisa ser adequada à faixa etária e condições físicas dos participantes.
Exemplo disso foi o exercício de projeção sobre a “História de Ada” proposto a
elas como uma estratégia de expressão coletiva que contribuiu para uma tomada de
consciência da das próprias atitudes. Em relato, Eva ressalta: pude perceber que não
tava falando de Ada nenhuma, mas sim de mim mesma, o que me trouxe liberdade.
Cilene ilustra também sua impressão sobre a dinâmica:
Falar da Ada foi o que mais mexeu comigo. A forma como você colocou sobre o
que a gente fez com a Ada mudou em mim o fato de eu poder confiar mais em
mim. Afinal, sou uma mulher com muito orgulho! (Risos) Estou menos negativa
e percebi, eu vi, que posso fazer por mim o que ninguém mais pode.
O resultado de atividades como as Oficinas praticadas é positivo como
possibilidade de construção do conhecimento a respeito de como as mulheres estão
vivenciando a menopausa. Por isso, compreender alguns desafios da menopausa pode
contribuir para o desenvolvimento de planos de atendimento para este público
feminino.
90
CAPÍTULO 6
Reflexões e Aprendizados
Este estudo buscou identificar dilemas e desafios da menopausa vividos por
mulheres em idade entre 45 e 59 anos participantes de uma intervenção breve e focal
denominada Oficina. Foi possível conhecer e investigar ganhos e dificuldades
associados à menopausa.
Com a realização das Oficinas, depoimentos e interações das participantes foram
explorados a partir da análise de conteúdo temática de modo a responder, dentro do
possível, ao objetivo proposto. Os desafios discutidos neste estudo foram: sexualidade,
mudanças corporais/físicas, diminuição do ritmo de vida, aposentadoria,
envelhecimento e solidão. Tais temas possuem especificidades, mas, ao mesmo tempo,
guardam estreita relação entre si, demonstrando a complementaridade de diferentes
dimensões da vida da mulher. Conhecer os desafios promoveu a reflexão entre as
participantes e a conclusão de que as mudanças desta etapa não estão exclusivamente
associadas à menopausa, envolvendo a vida como um todo.
Os desafios da menopausa foram apontados como vivências que colocam em
teste a capacidade destas mulheres de lidarem com as transformações e adversidades
dessa etapa. De forma a ilustrar tais vivências aponta-se a sexualidade, tema discutido
com ênfase devido ao fato de envolver as mudanças físicas e relacionais que tanto
atingem as mulheres. Um dos principais desafios apresentados é enfrentar o conflito
existente entre o desejo de concretizar objetivos e as reais possibilidades físicas para tal.
É necessário que a mulher busque alternativas para superar as dificuldades que surgem
tanto nas relações quanto no próprio corpo.
91
Concluiu-se que o sentido subjetivo das mudanças que ocorrem na mulher na
menopausa pode estar relacionado à história de vida, às expectativas do
envelhecimento, à auto-percepção e à cultura. Os desafios apontados estão ligados à
auto-imagem, à auto-estima, ao valor social da mulher que envelhece, e à relação com o
corpo. As mudanças vividas refletem na identidade, no ser mulher, pois também são
reflexo do conflito entre o corpo vivido e o corpo físico. Assim, o estudo sugere uma
mudança de conceito a respeito da menopausa descrevendo-a por meio das mudanças
que proporciona à vida da mulher. Para isso é preciso motivar o uso do termo
transformação ao invés da palavra perdas, contribuindo para uma mudança do
paradigma que atualmente relaciona menopausa com declínio, para uma visão que
salienta a possibilidade de crescimento.
Tal conflito é apontado por Erikson (1998) ao descrever o oitavo estágio do
desenvolvimento humano: produtividade versus estagnação. O sentido construído
perpassa pelo receio do fim das possibilidades produtivas e criativas, como
representativas de uma sensação de finitude. A superação deste conflito seria possível
por meio do auto-cuidado e pela proteção da autonomia.
Percebeu-se que a auto-estima da mulher é atingida devido à sensação de perda
do valor social e de perda da autonomia. A valorização da beleza jovem, intensificada
pela mídia, provoca a sensação da inadequação e sentimento de menos valia. Sentir-se
impotente diante das mudanças gera frustração, e uma forma de enfrentar tais
dificuldades poderia ser a percepção dos ganhos da menopausa, tais como: liberdade
sexual, maior possibilidade de auto-cuidado, disponibilidade para realização de projetos,
maturidade, crescimento pessoal e respeito aos limites corporais permitindo diminuir a
auto-cobrança.
92
A relação entre ser mulher e mudanças advindas da menopausa ressalta que o
valor social das mulheres deste estudo pode ser afetado com intensidade pelas idéias
vinculadas ao fim da fertilidade e da juventude. Como as relações de gênero também
estruturam a percepção, a menopausa, para as participantes, pode ser igualmente
simbolizada como um processo no qual se deixar de ser mulher, atingindo a identidade e
o papel feminino na família e na cultura. Neste sentido, a aposentadoria feminina
aparece como foco que necessita de mais estudo e do desenvolvimento de estratégias
clínicas que possam auxiliar as mulheres a se prepararem para mais esta mudança em
suas vidas.
Ressaltamos que a significação da menopausa é individual, apesar de todas as
influências culturais e de gênero, e, por isso, este estudo não faz generalizações a esse
respeito. O que se considera é o papel social da mulher na menopausa diante de tantas
transformações relacionais e sociais, e também a história pessoal de desenvolvimento.
A pesquisa qualitativa considera (o)a pesquisador(a) como parte integrante do
estudo. É neste lugar de pesquisadora/psicóloga clínica que as intervenções podem ser
feitas na modalidade de trabalho psicológico grupal aqui adotada. Por isso, é importante
conhecer bem a temática e o público a ser atendido. É necessário também ter domínio
da metodologia de trabalho para que o manejo não seja prejudicado, e também para que
o grupo tenha confiança na coordenadora.
Houve dificuldade de reunir participantes no horário noturno ou matutino,
constituindo-se assim, como uma limitação do estudo. Sugere-se que futuras Oficinas
sejam realizadas aos finais de semana ou no período do almoço, de modo a buscar
contornar o tempo restrito da mulher trabalhadora.
Outra limitação se refere ao número de participantes do estudo. No entanto,
embora uma maior participação de mulheres em cada Oficina pudesse ter ampliado a
93
possibilidade de interações e expressão de diversidades, trabalhar com um número
reduzido de participantes permitiu fortalecer os vínculos e criar um ambiente
favorecedor do compartilhamento de vivências. Considerando que as queixas das
participantes sobre solidão se referem, entre outros motivos, à necessidade de encontrar
mulheres em condição semelhante para trocar experiências e adquirir conhecimentos, o
pequeno número de participantes parece ter sido proveitoso para as mulheres do estudo.
A Psicologia tem muito a contribuir para uma atenção integral a mulheres na
menopausa e na meia-idade. Para além do “ninho vazio”, o vazio vivido por algumas
mulheres é igualmente o da falta de suporte diante do medo do que vem mais adiante. É
o vazio da falta de informação sobre as mudanças que não são apenas físicas.
Outros temas poderiam ser analisados, considerando-se a riqueza do material
gerado nas Oficinas. Entendemos, portanto, que essa temática não se esgota e não pode
ser tratada de modo simplista e universal. Cada desafio apontado pode ser explorado em
profundidade, o que auxiliaria na elaboração de estratégias de assistência às mulheres. O
estudo também não contempla diversidades entre mulheres, como por exemplo, de
raça\etnia e classe social. Assim, reconhece a necessidade de investigações que
contemplem uma maior abrangência de características constituintes de mulheres na
menopausa.
Além disso, um campo pouco explorado e, portanto, aberto à pesquisa: a
visão e vivências de homens sobre a menopausa. O fato de que alguns companheiros de
mulheres quiseram participar das Oficinas, indica um interesse no tema. A partir disto
apontamos: Quais as dificuldades de companheiros de mulheres na menopausa? Como
eles se sentem em relação às mudanças de sua companheira? Quais as principais
dúvidas deles a respeito da menopausa? Quais as repercussões da menopausa da
companheira na relação conjugal? Certamente, a escuta de companheiros e de homens
94
em geral e a percepção do que envolve o imaginário masculino auxiliam, de forma
complementar, o entendimento de algumas dificuldades pelas quais as mulheres
passam.
As Oficinas proporcionaram riqueza de informações devido à qualidade de
vínculo estabelecido entre as próprias participantes, bem como entre as mesmas e a
coordenadora. Como estratégia de intervenção, esta atividade mostrou-se útil e
adequada ao público atendido. É importante continuar o estudo com mulheres na
menopausa por meio de Oficinas para que a metodologia seja investigada. É real a
necessidade de instrumentos de avaliação que possam indicar benefícios e possíveis
prejuízos de participações em Oficinas.
Sugere-se, ainda, que estudos interdisciplinares sejam concebidos e realizados
sobre o tema menopausa. Diferentes áreas do saber como a antropologia e a sociologia
precisam participar desse diálogo sobre a menopausa e o envelhecimento feminino.
Finalmente, percebeu-se um pedido explícito das mulheres por mais atenção e
escuta, indicando um campo de atuação da Psicologia Clinica que pode e deve ganhar
mais investimento. Novos estudos podem contribuir tanto para a construção de
conhecimento sobre a menopausa, quanto para o desenvolvimento de métodos de
assistência à mulher que atravessa esta etapa do ciclo vital.
95
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
Afonso, M. L. M. (Org.). (2006). Oficinas em dinâmica de grupo na área da saúde. São
Paulo: Casa do Psicólogo.
Araújo, M. F. (2005). Diferença e igualdade nas relações de gênero: revisitando o
debate. Psicologia Clínica, 17(2), 41-52.
Avis, N. E. (1996). Women’s perception of the menopause. Europe Menopause
Journal, 3(2), 80-84.
Bandeira, L. & Siqueira, D. (1997). A perspectiva feminista no pensamento moderno e
contemporâneo. Sociedade e Estado, 2(7), 263-284.
Bauman, Z. (2003). Comunidade: a busca por uma segurança no mundo atual (P.
Dentzien, Trad.). Rio de Janeiro: Zahar.
Beauvoir, S. (1948/9). O segundo sexo (S. Mulliet, Trad.) (1985). Rio de Janeiro: Nova
Fronteira.
Campos, A. P. M. (2006). Envelhecimento feminino: bicho de sete cabeças?. In D. V. S.
Falcão e C. M. S. B. Dias (Orgs.), Maturidade e velhice, v.1: pesquisa e intervenções
psicológicas, ( pp 17-34). São Paulo: Casa do Psicólogo.
Castelo-Branco, C., Palacios, S., Mostajo, D., Tobarb, C. & Helde, S. (2005).
Menopausal transition in Movima women, a Bolivian native-American. Maturitas
51, 380–385
Costa, G. M. C. & Gualda, D. M. R. (2008). Conhecimento e significado cultural da
menopausa para um grupo de mulheres.
Revista escola de enfermagem USP,42 (1), 81-
89.
96
Dhillon H. K., Singh, H. J., Shuib, R., Hamidd, A. M., Mahmooda, M. N. Z. N. (2006).
Prevalence of menopausal symptoms in women in Kelantan, Malaysia. Maturitas,
54, 213-221.
Diniz, G S. R. & Coelho V. L. D. (2003). Mulher, família, identidade: a meia-idade e
seus dilemas. In: Féres-Carneiro T, (Org.). Família e casal: arranjos e demandas
contemporâneas, (pp. 79-96). Rio de Janeiro: Editora PUCRio/ São Paulo: Edições
Loyola.
Diniz, G. R. S. & Santos, C. V. M. (2006). Saúde mental de mulheres no climatério: um
diálogo entre os estudos feministas e a prática psicológica. In D. V. S. Falcão e C. M. S.
B. Dias (Orgs.), Maturidade e velhice, v.1: pesquisa e intervenções psicológicas (pp.
35-56) São Paulo: Casa do Psicólogo.
Discigil, G., Gemalmaz, A., Tekin, N. & Basak, O. (2005). Profile of menopausal
women in west Anatolian rural region sample. Maturitas 55, 247–254.
Erikson, E. (1998). O ciclo de vida completo. (M. A. V. Veronesse, Trad.). Porto
Alegre: Artes Médicas.
Fagulha, T. (2005). A meia-idade da mulher. Psicologia 19 (1), 13-17.
Fagulha, T. & Gonçalves, B.(2005). Menopausa, sintomas de menopausa e depressão:
influência do vel educacional e de outras variáveis sociodemográficas.
Psicologia, 19 (1), 19-38.
Flax, J. (1990). Pós-modernismo e Relações de Gênero na Teoria Feminista. In L. J.
Nicholson (Org.), Feminism/Post modernism, (pp.39-62). New York: Routledge.
Fu, S., Anderson, D. & Courtney, M. (2003). Cross-Cultural Menopausal Experience: a
Comparison of Australian and Taiwanese Women. Nursing & Health Sciences, 5(1),
77-84.
97
Gaskell, G. (2005). Entrevistas individuais e grupais. In: Bauer, M. W. & Gaskell, G
(Orgs.), Pesquisa qualitativa com texto, imagem e som: um manual prático. ed.
Petrópolis: Vozes.
Gatti B. A. (2005) Grupo focal na pesquisa em ciências sociais e humanas. Brasília
(DF): Líber Livro.
Gomes, V. L. O., Telles, K. S., Roballo, E. C. (2009). Grupo focal e discurso do sujeito
coletivo. Escola Anna Nery Revista de Enfermagem, 13 (4), 856-862.
Guanaes, C. & Japur, M. (2001). Grupo de apoio com pacientes psiquiátricos
ambulatoriais em contexto institucional: análise do manejo terapêutico. Psicologia
Reflexão e Crítica, 14 (1), 191-199.
Hassen, M. N. A. (2002). Grupos focais de intervenção no projeto Sexualidade e
Reprodução. Horizontes Antropológicos, 8 (17), 159-177.
Herskovits, M. (1963). Antropologia cultural. São Paulo: Mejer.
Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). (2009). Projeção da população do
Brasil por sexo e idade 1980-2050: Informação Demográfica e Socioeconômica
número 24. Coordenação de População e Indicadores Sociais. Rio de Janeiro.
Recuperado em 12 de Abril de 2010,
http://www.ibge.gov.br/home/estatistica/populacao/projecao_da_populacao/2008/piram
ide/piramide.shtm
Klein, R. K. (1996). Psicoterapia de grupo a curto prazo. Em H.I.Kaplan & B.J. Sadock
(Orgs.), Compêndio de psicoterapia de grupo (3ª ed.). Porto Alegre: Artes Médicas.
Kowalceka, I., Rotte, D., Banz, C. & Diedrich, K. (2005). Women’s attitude and
perceptions towards menopause in different cultures: cross-cultural and intra-
cultural comparison of pre-menopausal and post-menopausal women in Germany
and in Papua New Guinea. Maturitas, 51, 227-235.
98
Landau, C. (1998). O livro completo da menopausa: guia da boa saúde da mulher. (H.
Lanari, Trad.). Rio de Janeiro: José Olympio.
Laquer, T. (2001). Inventando o sexo: corpo e gênero dos gregos a Freud. Rio de
Janeiro: Relumé Dumará.
Leon, P., Chedraui, P., Hidaldo, L. & Ortiz, F. (2007). Perceptions and attitudes toward
the menopause among middle aged women from Guayaquil, Ecuador. Maturitas,
57, 233-238.
Li, Y., Yu, Q., M., L., Sun, Z. & Yang, X. (2008). Prevalence of depression and anxiety
symptoms and their influence factors during menopausal transition and
postmenopause in Beijing city. Maturitas, 61, 238–242.
Liu, J. & Éden, J. (2007). Experience and attitudes toward menopause in Chinese
women living in Sydney—A cross sectional survey. Maturitas, 58, 359–365.
Lopes, M. E. L. & Morais, M. A. C. (1978). Identidade da mulher em fase de
climatério: aspectos histórico-culturais e educacionais. (Trabalho de Comunicação
apresentado no IV Congresso Brasileiro de História da Educação. Eixo 4: Gênero
e etnia na história da educação brasileira, Goiânia). Recuperado em 04 de Abril de
2010, de http://www.sbhe.org.br/novo/congressos/cbhe4/individuais-
coautorais/eixo04/Maria%20Emilia%20Limeira%20Lopes%20-%20Texto.pdf
Luft, L. (2003). Perdas e ganhos (14ª ed). Rio de Janeiro: Record.
Mackenzie, K. R. (1996). Time limited group psychotherapy. International Journal of
Group Psychotherapy, 46, 41-60.
Maldonado, M. T. & Goldin, A. (2004). Maturidade. São Paulo: Editora Planeta do
Brasil Ltda.
99
Margis, R. & Cordioli, A. V. (2001). Idade adulta: meia-idade. In Elzirk C. L.,
Kapczinski F, Bassols M. A. S. (Orgs.), Ciclo de vida humana: uma perspective
psicodinâmica. Porto Alegre: Artmed Editora.
Marraccini, E. M. (2001). Encontro de Mulheres: uma experiência criativa no meio da
vida. São Paulo: Casa do Psicólogo.
Martins, L. (1998). Prefácio. In Ramos, D. (1998). Viva a menopausa naturalmente.
São Paulo: Augustus.
Matos, M. I. S. (2000). Em nome do engrandecimento da nação: representações de
gênero no discurso médico - São Paulo 1890-1930. Diálogos, 4, 77-92.
Mendonça, E. A. P. (2004). Representações médicas e de gênero na promoção da saúde
no climatério/menopausa. Ciências e saúde coletiva, 9 (1), 155-166.
Mendonça E. A. P. (2004). Representações sociais como objetos de práticas educativas
na promoção da saúde no climatério-menopausa. [tese]. Rio de Janeiro (RJ): Escola
Nacional de Saúde Pública. Fundação Oswaldo Cruz.
Mendonça E. A. P. (2004). Tematizando gênero e sexualidade nas práticas educativas.
In: Bravo M. I. S., Vasconcellos A. M., Gama A. S., Monnerat G. L. (Orgs.), Saúde
e Serviço Social (pp.196-212). Rio de Janeiro (RJ): Cortez; 2004.
Minayo, M. C. S. (1994). O desafio do conhecimento: pesquisa qualitativa em saúde (3ª
ed.). São Paulo - Rio de Janeiro: Hucitec-Abrasco.
Moraes, M; L. Q. (1998). Usos e limites da categoria gênero. Cadernos Pagu, 11, 99-
105.
Mori, M. E. (2002). A vida ouVida: a escuta psicológica e a saúde da mulher de meia-
idade. Dissertação de Mestrado não publicada, Departamento de Psicologia Clínica,
Instituto de Psicologia, Universidade de Brasília, Brasília, DF.
100
Mori, M. E. & Coelho, V. L. D. (2004). Mulheres de corpo e alma: aspectos
biopsicossociais da meia-idade feminina. Psicologia, Reflexão e Crítica, 17, (2),
177-187.
Mosquera, J. J. M. (1978). Vida adulta: personalidade e desenvolvimento. Porto Alegre:
Sulina.
Néri, A. L. (2003). Qualidade de vida no adulto maduro: interpretações teóricas e
evidências de pesquisa. In: A.L. Néri (Org.). Qualidade de vida e idade madura. .
Ed. Campinas: Papirus.
Néri, A. L. (2007). Qualidade de vida na velhice e subjetividade. In A. L. Néri (Org.),
Qualidade de vida na velhice: enfoque multidisciplinar. Campinas, SP: Editora
Alínea.
Obermeyer , C. M., Reher, D., Alcala , L. C. & Price, K. (2005). The menopause in
Spain: Results of the DAMES: (Decisions At Menopause) Study. Maturitas, 52,
190–198.
Oliveira, H. M. F. (2006). A proposta de trabalho com grupos do IPSEMG - família e as
Oficinas em dinâmica de grupo. In M. L. Afonso (Org), Oficinas em dinâmica de
grupo na área da saúde. São Paulo: Casa do Psicólogo.
Oliveira, D. M., Jesus, M. C. P. & Merighi, M. A. B.
(2008)
. Climatério e sexualidade: a
compreensão dessa interface por mulheres assistidas em grupo. Texto Contexto
Enfermagem, 17(3), 519-26.
Pereira, M. L. C., Fontes, M. C. O. & Pimentel, R. M. C. L. B. (1994). Mulheres 40
graus à sombra. Rio de Janeiro: Editora Objetiva.
Prétat, J. R. (1997). Envelhecer: os anos de declínio e a transformação da última fase
da vida. (C. G. Duarte, Trad.). São Paulo: Paulus.
101
Ramos, D. (1998). Viva a menopausa naturalmente. São Paulo: Augustus.
Rey, F. G. (2005). Pesquisa qualitativa e subjetividade. São Paulo: Pioneira Thompson
Learning.
Sandenberg, C. M. B. (2002). A mulher frente à cultura da eterna juventude: reflexões
teóricas e pessoais de uma feminista “cinquentona”. In Ferreira, L. & Nascimento,
E. R. (Orgs.). Imagens da mulher na cultura contemporânea. Salvador: NEIM,
UFBA.
Santos, C. V. M. (2009). Grupos de conversação com mulheres: gênero e abordagem
terapêutica em saúde mental. Anais do Simpósio Vozes Plurais: estudos e pesquisas
em sexualidades, gênero e intersecções, Goiânia.
Schopler, J. H. & Galinsk, M. J. (1993). Support groups as opens systems: A model for
practice and research. Health & Social Work, 18, 195-207.
Serrão, C. (2008). (Re)pensar o climatério feminino. Análise Psicológica, 1 (26), 15-23.
Silveira, I. L., Petronillo, P. A., Souza, M. O., Silva, T. D. N. C., Duarte, J. M. B. P.,
Maranhão, T. M. O., Azevedo, G. D. (2007). Prevalência de sintomas do climatério
em mulheres dos meios rural e urbano no Rio Grande do Norte, Brasil. Revista
Brasileira de Ginecologia e Obstetrícia, 29 (8), 415-422.
Stevens, C. M. T. (2007). Maternidade e feminismo: diálogos na literatura
contemporânea. In C. Stevens (Org.). Maternidade e feminismo: diálogos
interdisciplinares. Florianópolis: Ed. Mulheres, Santa Cruz do Sul: Edunisc.
Trench, B. (2003). Projeto Ondas: imagens, falas e gestos de mulheres caiçaras sobre
envelhecimento e menopausa. Resumos do II Seminário Internacional de Educação
Intercultural, Gênero e Movimentos Sociais, Florianópolis: Universidade Federal de
Santa Catarina.
102
Trench, B. & Santos, C. G. (2005). Menopausa ou Menopausas? Saúde e
Sociedade, 14 (1), 91-100.
Werthein, S., Mallol, S., Ferreira, A. & Azcárate, T. (1999). De lãs paradojas de la
madurez. Cuadernos Mujer Salud / Red Salud de las Mujeres Latinoamericanas y
del Caribe, 12-17.
Wordl Health Organization (OMS) (1996) . Scientific group on research on menopause
in the 1990s (Tech. Rep. n. 886). Geneva, Switzerland: Author. Recuperado em 21
de Março de 2010, de http://whqlibdoc.who.int/trs/WHO_TRS_866.pdf
Zampieri, M. F. M., Tavares, C. M. A., Hames, M. L. C., Falcon, G. S., Silva, A. L.,
Gonçalves, L. T. (2009). O processo de viver e ser saudável das mulheres no
climatério. Escola Anna Nery Revista de Enfermagem, 13 (2), 305-312.
103
ANEXOS
104
Anexo I – Declaração Conselho de Ética
105
Anexo II – Declaração CAEP
106
Anexo III
TERMO DE CONSENTIMENTO LIVRE E ESCLARECIDO
Fui convidada a participar como de modo voluntário e não remunerado de um
estudo de Mestrado com mulheres na menopausa. O objetivo do estudo é conhecer
desafios relacionados a perdas e ganhos desta etapa da vida feminina. O trabalho é
desenvolvido pela pesquisadora Ana Paula Soares Fernandes, sob a orientação da Profa.
Dra. Vera Lúcia Decnop Coelho.
Farão parte dessa pesquisa mulheres com idade entre 45 e 55 anos.
Participaremos de duas reuniões em grupo, chamadas oficinas, com duração de duas
horas cada. No grupo, discutiremos aspectos da nossa vida atual, e participaremos de
dinâmicas relacionadas ao tema. Essas atividades serão gravadas em áudio para o estudo
sobre a menopausa.
As oficinas não devem gerar desconforto. No entanto, se eu sentir algum
incômodo ou se tiver alguma dúvida, sei que posso falar sobre isso com a pesquisadora,
pessoalmente ou pelo telefone indicado abaixo. Sei que as informações fornecidas por
mim são confidenciais e que tudo que eu disser será mantido em sigilo. Tenho a
liberdade de não participar da pesquisa e posso desistir a qualquer momento, sem
prejuízo algum para mim. Fui informada de que a utilização dos resultados da pesquisa
em textos ou eventos científicos envolverá nomes fictícios das participantes,
impossibilitando a identificação.
Tendo em vista os itens acima, eu, de forma livre e esclarecida, manifesto meu
interesse em participar da pesquisa.
Nome________________________________________________________
Assinatura____________________________________________________
______________________________ ____ /____ /_____
Local Data
Pesquisadora_______________________________________________
Pesquisadoras Responsáveis
Ana Paula Soares Fernandes (61) 8403-6702
Vera L. D. Coelho: (61) 8408-8948
Programa de Pós Graduação em Psicologia
Clínica e Cultura – Instituto de Psicologia
Universidade de Brasília
Comitê de Ética em Pesquisa*:
Comitê de Ética e Pesquisa Instituto de
Humanidade/ UnB
Telefone: (61) 33073799 / e-mail:
*Para consultas em relação à aprovação
deste projeto de pesquisa.
107
Livros Grátis
( http://www.livrosgratis.com.br )
Milhares de Livros para Download:
Baixar livros de Administração
Baixar livros de Agronomia
Baixar livros de Arquitetura
Baixar livros de Artes
Baixar livros de Astronomia
Baixar livros de Biologia Geral
Baixar livros de Ciência da Computação
Baixar livros de Ciência da Informação
Baixar livros de Ciência Política
Baixar livros de Ciências da Saúde
Baixar livros de Comunicação
Baixar livros do Conselho Nacional de Educação - CNE
Baixar livros de Defesa civil
Baixar livros de Direito
Baixar livros de Direitos humanos
Baixar livros de Economia
Baixar livros de Economia Doméstica
Baixar livros de Educação
Baixar livros de Educação - Trânsito
Baixar livros de Educação Física
Baixar livros de Engenharia Aeroespacial
Baixar livros de Farmácia
Baixar livros de Filosofia
Baixar livros de Física
Baixar livros de Geociências
Baixar livros de Geografia
Baixar livros de História
Baixar livros de Línguas
Baixar livros de Literatura
Baixar livros de Literatura de Cordel
Baixar livros de Literatura Infantil
Baixar livros de Matemática
Baixar livros de Medicina
Baixar livros de Medicina Veterinária
Baixar livros de Meio Ambiente
Baixar livros de Meteorologia
Baixar Monografias e TCC
Baixar livros Multidisciplinar
Baixar livros de Música
Baixar livros de Psicologia
Baixar livros de Química
Baixar livros de Saúde Coletiva
Baixar livros de Serviço Social
Baixar livros de Sociologia
Baixar livros de Teologia
Baixar livros de Trabalho
Baixar livros de Turismo