Download PDF
ads:
0
UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO SUL ± UFRGS
INSTITUTO DE GEOCIÊNCIAS
PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM GEOGRAFIA
TESE DE DOUTORADO
DESAFIOS DA GEOGRAFIA:
A CIDADE COMO CONTEÚDO ESCOLAR NO ENSINO MÉDIO
SANDRA REGINA DE LIMA BADO
ORIENTADORA: PROFª. DRª HELENA COPETTI CALLAI
PORTO ALEGRE, MAIO DE 2009
ads:
Livros Grátis
http://www.livrosgratis.com.br
Milhares de livros grátis para download.
1
UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO SUL ± UFRGS
INSTITUTO DE GEOCIÊNCIAS
PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM GEOGRAFIA
DESAFIOS DA GEOGRAFIA:
A CIDADE COMO CONTEÚDO ESCOLAR NO ENSINO MÉDIO
SANDRA REGINA DE LIMA BADO
Orientadora: Prof. Dr. Helena Copetti Callai
Banca Examinadora:
Profª. Drª. Jussara Mantelli (PPG em Geografia/FURG)
Profª. Drª. Gilda Maria Cabral Benaduce (PPG em Geografia/UFSM)
Profª. Drª. Dirce Maria Antunes Suertegaray (POSGea/IG/UFRGS)
Prof. Dr. Nelson Rego (POSGea/IG/UFRGS)
Tese apresentada ao Programa de Pós-Graduação
em Geografia da Universidade Federal do Rio
Grande do Sul, como requisito para obtenção do
título de Doutor em Geografia, Área de
Concentração: Análise Ambiental e Territorial.
PORTO ALEGRE, MAIO DE 2009
ads:
Bado, Sandra Regina de Lima
Desafios da geografia: a cidade como conteúdo escolar
no ensino médio./ Sandra Regina de Lima Bado. Porto
Alegre : UFRGS/PPGEA, 2009. p. 164
vol. único.. il.
Tese (Doutorado) - Universidade Federal do Rio Grande
do Sul. Instituto de Geociências. Programa de Pós-
Graduação em Geografia, Porto Alegre, RS - BR, 2009.
Orientador: Profa. Dr. Helena Copetti Callai
1. Geografia. 2. Ensino Médio. 3. Livro Didático. 4.
Análise de Conteúdo. 5. Cidade. I. Título.
_____________________________
Catalogação na Publicação
Biblioteca do Instituto de Geociências - UFRGS
Renata Cristina Grun CRB 10/1113
2
A
minha mãe que não pode aprender as letras, e que talvez
por isto nunca compreendeu porque eu nunca termino os
estudos, diferente das outras filhas que concluíram o
Ensino Médio tempos. A você mãe, minha dedicação, pois
assim, quem sabe, consigo te explicar o que eu fazia sentada
diante do computador por estes tempos.
Ao m
eu pai que se foi. Quem sabe sua opinião seria
diferente daquela que, filho não tem que estudar... precisa
trabalhar para ajudar no sustento da família.
À G
abi, minha filha (23), que por sua rebeldia talvez
queira demonstrar a falta de tempo que a ela tenho
dedicado.
Aos m
eus filhos Matheus (6) e Miguel (2), pois agora
quem sabe posso responder
SIM
à pergunta que não queria
calar:
´Werminou mãe, podemos brincar agora?µ
Ao César, meu esposo, para quem não poderia
agradecer, pois seria demasiado pouco. Sei o quanto
contribuiu, amparou e viveu a vida dos nossos filhos,
desempenhando o papel de pai, e para bem mais, pois
necessário se fez.
3
A
GRADECIMENTOS
À Universidade Federal do Rio Grande do Sul, Universidade pública e
gratuita.
Ao Programa de Pós-Graduação em Geografia desta Universidade.
À equipe de coordenação de Pós-Graduação, em especial à doutora
Rosa Maria Vieira Medeiros e ao doutor Aldomar Arnaldo Rückert.
À Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior ² Capes
² Brasil, pela concessão da bolsa de estudo.
À orientadora Helena Copetti Callai, por me instigar a procurar os
meandros por onde a pesquisa deveria seguir.
Aos professores das escolas de ensino público, participantes da pesquisa,
pelos quais tornou-se possível investigar as práticas docentes.
Aos professores de Geografia Valdecir Schenkel, Luis Etevaldo da Silva,
Sandro Máximus, Gilmar Walker, por terem compartilhado comigo suas
práticas docentes, pelas discussões acirradas, muitas vezes divergentes,
mas que certamente contribuíram para entender o que se passa em sala
de aula.
Aos professores de Geografia Jussara Mantelli e João Vilas Boas,
certamente o dia perdido das férias nunca mais voltará, porém o
sentimento de querer ajudar permanecerá para sempre.
À professora Vânia Lisa Cossetin, que por tantas vezes deixou a
construção da sua casa para apoiar, conversar, discutir as minhas
incertezas. Obrigada pela sua disponibilidade, lembranças que levarei
para sempre.
À minha família que, na ânsia de ajudar...
fez os desenhos que antecedem os
capítulos.
4
RESUMO
Esta tese investiga a cidade como conteúdo escolar de Geografia nas escolas públicas de
Ensino Médio. Para discutir a cidade como um lugar de aprendizagens significativas,
relacionando o saber prévio dos alunos com o conhecimento científico, numa correlação
local/global; a importância da Geografia para a formação da cidadania e os temas que podem
contribuir para essa formação. Os referenciais teóricos adotados pautam-se em Callai (1999,
2002), Cavalcanti (1998, 2001, 2002), Castellar (2005), Kaercher (1995, 1998, 2002),
Castrogiovanni (1999, 2002), os quais se destacam na reflexão sobre o ensino-aprendizagem
de Geografia. O primeiro capítulo do estudo busca investigar as políticas públicas
educacionais, particularmente a LDB, os PCNs/Ensino Médio e as Ocem, analisando quais
são as diretrizes educacionais para o Ensino Médio. O segundo capítulo estuda os conteúdos
programáticos de Geografia das escolas de Ensino Médio de Ijuí/RS, em busca do tema
cidade e o terceiro trata da prática docente. A intenção é discutir os fatores intervenientes no
processo ensino-aprendizagem de Geografia, e, investigar a abordagem da cidade nas aulas de
Geografia, desde a escala geográfica de análise aos recursos didáticos utilizados. Para isso
encaminhou-se por uma investigação de cunho qualitativo, sendo efetivada mediante um
questionário aplicado junto aos professores que lecionam esta disciplina no Ensino Médio. A
análise dos dados revelou que os professores carecem de mapas para trabalhar nas aulas de
Geografia e, em especial, para trabalhar o espaço local. Conclui-se ainda que a qualidade do
ensino-aprendizagem de Geografia depende da interação que fazem o professor e o livro
didático, apontado como o principal recurso utilizado nas aulas do Ensino Médio. Assim, a
incursão analítica pelos livros didáticos fez-se necessária, mostrando que seus autores
tematizam a cidade apenas superficialmente, antes priorizando conteúdos e conceitos gerais
do que o cotidiano territorializado. Pode-se inferir, então, que a abordagem e a correlação de
temas e conteúdos referentes ao cotidiano do aluno não dependem das recomendações das
políticas públicas, nem dos programas escolares de Geografia, tampouco dos conteúdos
abordados pelos livros didáticos, mas do professor desta disciplina. Ou seja, dependem do
envolvimento do docente e de sua responsabilidade social enquanto mediador na formação de
cidadãos, de leitores críticos, reflexivos e propositivos com relação à cidade em que vivem.
Palavras-chave: Ensino Médio. Prática docente. Livro didático. Análise de conteúdo. Cidade.
5
ABSTRACT
This thesis does a research the town as a Geography school subject in public high schools The
subjects are discuss the town as a meaning learning place, relating the before knowledge of
the students with a scientific knowledge in a local/global correlation of the importance of the
geography to the citizenship education and the themes that can help to this formation. The
theoretical references adopt have bases in Callai (1999, 2002), Cavalcanti (1998, 2001, 2002),
Castellar (2005), Kaercher (1995, 1998, 2002), Castrogiovanni (1999, 2002), which point the
reflection out about the Geography teach/learn process. The first chapter of the study wants to
research the public education politics, specially about the LDB (Bases Directrix Laws), the
PCNs (National Syllabus Parameters) High School and the Ocem, Analyzing which are the
educational directrix to High School. The second chapter studies the Geography planned
subjects of Ijuí High Schools in search of the town theme and the third chapter is about the
teaching practice. The intention is discuss about intervening factors in the Geography
teach/learning process and still does approach research of town in the Geography classes,
from the geographic analyze scale of the teaching material used. In order to do that we set the
investigation in motion in a qualification way, been objective before an applied questionnaire
with the teacher that teach this subject in the High Schools The analyzed data shows that the
teachers really need maps to give their Geography classes and in special to work the local
space. We conclude still that the Geography teach/learning process depends on the interaction
that made the teacher and the educational material, pointed as a main used resource in High
school. So the analytic approach of the educational materials did necessary showing to the
authors subject matter the town only in a superficial way, before making general subjects and
concepts in which the territorialized every day. We affirm that the approach and correlation of
the themes and subjects referring to the student every day do not depends on the public
politics recommendation, note even of the Geography school programs, neither of the
approached subjects in educational materials, but by the subject teacher. In other words
depends of the
WHDFKHU¶VLQYROYHPHQWDQGWKHLUVRFLDOUHVSRQVLELOLW\ZKHUHDVOLQNLQWKHFLWL]HQ
education, critics readers, reflexives and interested with the town that they live in.
Key words: High School. Teaching practice. Educational material and subject analyze. Town.
6
RESUMEN
Esta tesis investiga La Ciudad como asignatura escolar en las escuelas publicas de enseñanza
secundaria. Los objetivos son: discutir el espacio que la ciudad ocupa en los aprendizajes
significativos, relacionándolo al saber previo de los alumnos con el conocimiento científico,
en una correlación local/global; además, analizar la importancia de la Geografía para la
formación ciudadana y los temas que pueden aportar para esa cuestión. Algunos referenciales
teóricos adoptados se pautan en Callai (1999, 2002), Cavalcanti (1998, 2001, 2002), Castellar
(2005), Kaercher (1995, 1998, 2002), Castrogiovanni (1999, 2002), destacados estudiosos de
la enseñanza y el aprendizaje de Geografía. El primer capitulo del estudio investiga las
políticas publicas educacionales, particularmente la LDB, los PCNs/para el curso secundario.
El segundo capitulo analiza los contenidos programáticos de Geografía de las escuelas de
HQVHxDQ]DVHFXQGDULDGH,MXt56HQWRUQRGHOWHPD³&LXGDG´\HOWHUFHUFDSLWXOR aborda la
practica docente. Su intención es discutir los factores que intervienen en el proceso de la
enseñanza/aprendizaje de Geográfica yendo desde la escala geográfica hacia los recursos
didácticos utilizados. Para eso se utilizó una metodología de cuño cualitativo, mediante
cuestionario aplicado a los maestros que trabajan estas asignaturas en los colegios. El análisis
de los datos reveló que los docentes carecen hasta de mapas, y especialmente, de un sitio
adecuado para desarrollar sus clases. Se concluyó también que la calidad de la
enseñanza/aprendizaje de Geografía depende de la interacción que hace el profesor con el
libro didáctico, señalado éste, como el principal recurso utilizado en las aulas. Así la
incursión analítica por los manuales se vuelve necesaria, mostrando que sus autores focalizan
la ciudad sólo superficialmente, priorizando contenidos y conceptos amplios del cotidiano
territorializado. Pudiendo de eso, entonces inferir, que el abordaje y las correlaciones de
temas y contenidos referentes al cotidiano del alumno no dependen de las recomendaciones de
las políticas publicas, ni de los programas escolares de Geografía, mucho menos de los
contenidos abordados por los libros didácticos, sino que del maestro de esta asignatura. O
mejor dicho, depende del envolvimiento del docente y de su responsabilidad social en cuanto
mediador en la formación de ciudadanos, de lectores críticos, reflexivos y proposititos con
relación a la ciudad donde viven.
Palabras-clave: Enseñanza secundaria. Practica docente. Libro didactico. Análisis de
contenido. Ciudad.
7
LISTA DE FIGURAS
Figura 1: Localização geográfica das escolas públicas de Ensino Médio de Ijuí/RS ............... 39
Figura 2: Localização geográfica do município de Ijuí no RS ................................................. 78
Figura 3: Paisagem urbana centro-periferia. Ijuí/RS ................................................................ 79
Figura 4: Característica da área central da cidade. Ijuí/RS . .................................................... 80
Figura 5: Principais áreas impróprias à ocupação urbana. ....................................................... 83
Figura 6: Etapas da ocupação e expansão territorial urbana. ................................................... 84
Figura 7: Urbanização em área de preservação permanente. Ijuí/RS. ...................................... 86
Figura 8: Localização da Penitenciária da cidade. Cidade de Ijuí/RS ...................................... 87
Figura 9: Densidade demográfica - Cidade de Ijuí/RS. ............................................................ 89
Figura 10: Apresentação dos problemas urbanos nas grandes cidades. ................................... 98
Figura 11: A urbanização nas regiões metropolitanas. ........................................................... 100
Figura 12: Padrão habitacional - área central e periferia. Ijuí/RS . ........................................ 101
Figura 13: O jornal como recurso didático ............................................................................. 115
8
LISTA DE GRÁFICOS
Gráfico 1: Temas trabalhados em sala de aula para a formação da cidadania. ........................ 59
Gráfico 2: Livros didáticos de Geografia adotados nas escolas de ensino público
no período entre 2006 e 2008. .................................................................................................. 64
Gráfico 3: Critérios utilizados para a escolha do livro didático. .............................................. 65
Gráfico 4: Abordagem do tema cidade como conteúdo escolar. .............................................. 66
Gráfico 5: Disponibilidade de recursos didáticos para trabalhar o espaço local ...................... 67
9
LISTA DE QUADROS
Quadro 1: Competências básicas e específicas da área de Ciências Humanas e
suas Tecnologias ....................................................................................................................... 23
Quadro 2: Eixos temáticos para trabalhar os conceitos e conteúdos de Geografia no
Ensino Médio ............................................................................................................................ 44
Quadro 3: Seleção dos eixos temáticos a partir das OCEM para estudar a cidade .................. 44
Quadro 4: Conteúdos programáticos relativos ao tema cidade das escolas públicas de
Ensino Médio da cidade de Ijuí/RS .......................................................................................... 46
Quadro 5: Relação das questões do questionário parte da pesquisa. ........................................ 54
Quadro 6: Recursos didáticos para ensino-aprendizagem de Geografia .................................. 61
Quadro 7: Geografia (Almeida e Rigolin, 2007) ...................................................................... 95
Quadro 8: Geografia do Brasil e Geral: povos e territórios (Silva, 2005) .............................. 103
Quadro 9: Sociedade e espaço: Geografia Geral e do Brasil (Vesentini, 2005). .................... 105
Quadro 10: Geografia: de olho no mundo do trabalho (Garcia e Garavello, 2005) ............... 108
Quadro 11: Geografia Geral e do Brasil: espaço geográfico e globalização (Moreira
e Sene, 2005) .......................................................................................................................... 110
10
LISTA DE ABREVIATURAS
ABDE ± Associação Brasileira de Educação à Distância
CF
± Constituição Federal
CEB
± Conselho Educacional Brasileiro
CNE
± Conselho Nacional de Educação
DCNEM
± Diretrizes Curriculares Nacionais para o Ensino Médio
EaD
± Educação à Distância
ENEM
± Exame Nacional do Ensino Médio
IBGE
± Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística
LD
± Livro Didático
LDB
± Lei de Diretrizes e Bases
OCEM
± Orientações Curriculares para o Ensino Médio
PCNs
± Parâmetros Curriculares Nacionais
PDE
± Plano de Desenvolvimento da Educação
PNLEM
± Plano Nacional do Livro para o Ensino Médio
11
SUMÁRIO
INTRODUÇÃO ...................................................................................................................... 11
1 INVESTIGANDO A CIDADE NO ENSINO-APRENDIZAGEM DE GEOGRAFIA . 18
1.1 As orientações da LDB sobre a Educação Básica e o Ensino Médio ................................. 18
1.2 Os PCNs de Geografia para o Ensino Médio ..................................................................... 22
1.3 A cidade no ensino-aprendizagem de Geografia ................................................................ 25
1.3.1 Por que estudar a cidade no Ensino Médio? .................................................................... 26
1.3.2 A cidade como conteúdo geográfico ............................................................................... 32
2 INVESTIGANDO A CIDADE NA ESCOLA ................................................................... 38
2.1 As escolas participantes da pesquisa .................................................................................. 38
2.2 Os conteúdos programáticos de Geografia: em busca do tema cidade............................... 41
2.2.1 Os programas de Geografia do Ensino Médio: a articulação entre temas e eixos........... 41
2.3 As orientações curriculares para o Ensino Médio e os conteúdos programáticos
das escolas: uma análise dos eixos temáticos ........................................................................... 45
3 INVESTIGANDO A CIDADE NA PRÁTICA DOCENTE ............................................ 51
3.1 Sujeitos participantes da pesquisa: o profissional da Geografia......................................... 51
3.2 O instrumento de coleta das informações: o questionário .................................................. 52
3.3 O que dizem os docentes: análise do questionário ............................................................. 56
4 A CIDADE E OS RECURSOS DIDÁTICOS: INVESTIGANDO A
CARTOGRAFIA E O LIVRO DIDÁTICO ......................................................................... 72
4.1 A cartografia como recurso para o estudo da cidade .......................................................... 73
4.1.1 A cidade nas aulas de Geografia: o cotidiano significado .............................................. 75
4.2 O livro didático de Geografia: em busca do tema Cidade .................................................. 92
4.3 Investigando o livro didático .............................................................................................. 94
4.3.1 Geografia: Almeida e Rigolin (2007) .............................................................................. 95
4.3.2 Geografia do Brasil e Geral: Silva (2005) ..................................................................... 103
4.3.3 Sociedade & Espaço: Vesentini (2005) ......................................................................... 105
4.3.4 Geografia: Garcia e Garavello (2005) ........................................................................... 108
4.3.5 Geografia Geral e do Brasil: Moreira e Sene (2005) ..................................................... 110
4.4 A cidade nos livros didáticos de Geografia ...................................................................... 112
CONSIDERAÇÕES FINAIS ............................................................................................... 121
REFERÊNCIAS ................................................................................................................... 127
ANEXOS ............................................................................................................................... 133
12
INTRODUÇÃO
[...] as idéias nos chegam quando lhes apraz, e não quando queremos [...]. As idéias
chegam quando não as esperamos, e não quando estamos pensando e procurando em
nossa mesa de trabalho. Não obstante, elas certamente não nos ocorreriam se não
tivéssemos pensado à mesa e buscado respostas com dedicação apaixonada.
(WEBER, 1982, p. 162).
O processo de urbanização no Brasil, nas últimas décadas, tem provocado
reflexões inquietantes nos estudos geográficos e, pela sua relevância, também em outras
ciências
1
. Nestes termos, para esta pesquisa, o espaço urbano, enquanto recorte
epistemológico, tem se apresentado como um desafio constante, no sentido de decifração dos
fenômenos subjacentes a sua configuração. O exemplo disso pode ser verificado no processo
histórico em curso, que demonstra a interferência contundente do homem na natureza,
causando desequilíbrio ambiental e, assim, modificando o modo de vida e suas condições no
espaço. No Brasil, segundo Cavalcanti (2001, p. 25
³mais de 90% da população brasileira
YLYH HP FLGDGHV´. Este índice intensificou-se a partir da década de 1980
2
, causando uma
significativa explosão demográfica, e, conseqüentemente, a dificuldade dos centros urbanos
em absorver a quantidade de migrantes. Como resultado observa-se uma cidade despreparada
para oferecer elementos considerados essenciais para a vida nas cidades dentre estes o acesso
ao trabalho, a educação, a saúde, ao lazer, a circulação, as infra-estruturas e aos equipamentos
urbanos. A carência destes elementos são debilidades expressas no cotidiano territorializado
das cidades e reveladas pela desigualdade socioespacial.
1
Por exemplo, o interesse de áreas tais como a Sociologia, quando tematiza as relações sociais envolvidas neste
processo; a Biologia e sua preocupação com as questões ambientais e ecológicas, as Engenharias e seu interesse
na construção do espaço habitado, etc.
2
O livro A urbanização brasileira, de Milton Santos (1994), traz uma análise consistente a respeito do processo
de urbanização no Brasil, especificamente no capítulo 3: A evolução recente da população urbana, agrícola e
rural (p. 29-34).
13
Os problemas supracitados, entretanto, conforme Souza (2002, p. 321), seria
passível de reorganização caso houvesse além de políticas públicas uma efetiva participação
da população no planejamento e na gestão das cidades
3
.
Como, no entanto, instigar a
participação e envolvimento dos indivíduos nas questões inerentes ao espaço habitado, isto é,
em sua cidade? Foi esta pergunta que instigou a pesquisar a relação possível entre cidade,
cidadania e ensino de Geografia
4
. Parece indiscutível que a população de uma cidade,
independentemente da classe social em que se insere, busca viver com qualidade de vida.
Contraditoriamente, esta mesma população não exerce a sua cidadania; permanece alheia à
participação política e decisória de sua cidade, permitindo o direcionamento dos
investimentos à revelia de suas reais necessidades, inclusive a de viver com qualidade de vida.
Isto foi possível constatar por meio de inúmeras experiências, tanto profissionais quanto
acadêmicas, a começar pelos 10 anos (1990-2001) trabalhados no Laboratório de
Geoprocessamento e Análise Territorial da Universidade Regional do Noroeste do Rio
Grande do Sul - Unijuí, na elaboração de Planos Diretores
5
de inúmeras cidades do Noroeste
gaúcho, inclusive o de Ijuí/RS.
As ações deste período mostraram duas realidades em contraste: de um lado, as
freqüentes atividades de campo
6
realizadas em decorrência do trabalho mostraram que a
segregação social, espacial, econômica e cultural exibe espaços privilegiados e/ou deficientes
nas cidades, reflexo do modo como as políticas públicas são encaminhadas; estas,
freqüentemente sujeitas aos interesses das entidades representativas. De outro lado, com
respeito à construção do Plano Diretor, houve perplexidade com a inexpressiva participação
da população na etapa em que era convocada a discutir a instituição das suas propostas
diretivas para a aprovação do Plano, tornando-o, assim, um retrato fiel das reais necessidades.
Ou seja, constatou-se o que rezava o artigo 86, § 3º, da Lei Orgânica
Municipal
7
, o qual confere direito à participação da comunidade local na gestão da cidade,
3
Marcelo Lopez de Souza, na obra Mudar a cidade: uma introdução crítica ao planejamento e à gestão urbanos
(2002) faz uma abordagem a respeito das políticas públicas e da participação social, considerando-as
ferramentas indispensáveis à promoção de justiça social e melhoria na qualidade de vida, ou seja, de
desenvolvimento urbano em sentido autêntico.
4
Sobre a cidadania, o direito à cidade e a Geografia escolar: elementos de Geografia para o estudo do espaço
urbano, ver Cavalcanti (2002 p. 47-70).
5
O Plano Diretor é o instrumento básico do planejamento, que propicia a adequação da cidade às necessidades
da população objetivando a melhoria da qualidade de vida, ajustando as práticas empreendidas aos interesses
coletivos e sistematizando as ações públicas.
6
O trabalho de campo aqui referido diz respeito ao levantamento de dados necessários para a realização dos
Planos Diretores das cidades.
7
Cf. capítulo 2, Da política urbana, da Lei Orgânica Municipal de Ijuí (1990).
14
processo este não efetivado na prática, o que, supostamente, é dado pela desinformação a
respeito da real importância do Plano Diretor como instrumento para o desenvolvimento
social das cidades e como garantia do bem-estar de seus habitantes, ou à falta de consciência
da população de que este bem-estar e a própria organização citadina também dependem de
seu envolvimento efetivo.
Obviamente que o interesse deste estudo não está em explicitar questões
referentes ao Plano Diretor, mas elas apontam para a motivação originária desta pesquisa:
diante do interesse de pensar os problemas urbanos e a possibilidade de apontar alternativas
de solução para eles, como estimular a participação efetiva dos indivíduos, num exercício
pleno e consciente da cidadania? Ao refletir sobre tais questões, a educação escolar surgiu
como resposta incontornavelmente.
Os estudos realizados no Mestrado
8
apenas apontaram para os problemas
urbanos e sua origem, mas ficaram devendo uma reflexão mais acurada sobre quais os
caminhos possíveis de soluções para esses problemas. Ou seja, a experiência profissional e
acadêmica instigou a ir além da fatalidade das condições urbanas identificadas para pensá-las
como passíveis de superação, exatamente o que se buscava fazer no Doutorado.
A pesquisa em educação surgiu como a possibilidade de pensar a solução para
os problemas citadinos, numa perspectiva otimista-idealista, na visão de Milton Santos
(2000), quando afirma que um outro mundo é possível. A educação parece ser o caminho para
se pensar a cidade como o espaço do cidadão; em última instância, para se formar o cidadão,
tal como prevê a Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional
± LDB 9.394/96 em seu
artigo
³$HGXFDomRGHYHUGDIDPtOLDHGR(VWDGRLQVSLUDGDQRVSULQFtSLRVGHOLEHUGDGHH
nos ideais de solidariedade humana, tem por finalidade o pleno desenvolvimento do
educando, seu preparo para o exercício da cidadania e sua qualificação para o trabalho.
´
(BRASIL, 1997a).
A escola, nesse sentido, deve preparar o aluno para ler criticamente o lugar em
que vive criando condições para que ele (o aluno) estabeleça a ponte entre o seu saber e o
saber escolar, para que possa refletir, questionar, debater e elaborar proposições a respeito das
8
Dissertação de Mestrado, Morfologia urbana e dinâmica sócio-espacial na cidade de Ijuí/RS, inscrita no
Programa de Pós-Graduação em Geografia. Universidade Estadual de Maringá/PR, 2003, Área de
Concentração: Análise Regional e Ambiental, sob a orientação da Professora doutora Gilda Maria Cabral
Benaduce.
15
relações sociais, culturais, econômicas, políticas, étnicas, e religiosas que compõem o seu
cotidiano. Isso é exercer a cidadania. Diante disso, duas questões surgiram: 1) o ensino de
Geografia pode contribuir na formação de cidadãos; 2) quais os temas a serem trabalhados
que cumpririam este objetivo?
Se a Geografia
³GHYHSUHSDUDURDOXQRSDUDORFDOL]DUFRPSUHHQGHUHDWXDUQR
mundo complexo, problematizar a realidade, formular proposições, reconhecer as dinâmicas
existentes no espaço geográfico, pensar e atuar criticamente em sua realidade tendo em vista a
VXD WUDQVIRUPDomR´ BRASIL, 2006, p. 43), então, esta disciplina pode contribuir para a
formação de jovens capazes de exercer a cidadania tal como previsto pela LDB 9.394/96 em
seu citado artigo 2º. O lugar habitado deve ser pensado e compreendido tanto segundo as
relações espaço e tempo e a dinâmica sociopolítica, ínsitas na configuração de sua paisagem,
quanto às relações de poder subjacentes às interações sociais, traduzidas de forma
diferenciada na organização do espaço
9
. Diante disso, a segunda questão somente poderia
encontrar sua resposta no tema cidade, justamente porque cidadão é aquele que participa
ativamente da vida da cidade, refletindo, questionando e debatendo a respeito dos rumos
possíveis do lugar vivido
10
. Seria então, a partir da compreensão da cidade enquanto espaço
de vivência que teríamos mais possibilidades de construir atitudes cidadãs?
Disso emerge o principal objetivo desta tese: investigar se, os conteúdos
relativos à cidade enquanto objeto de ensino da Geografia contribui para a construção da
cidadania, em especial no ensino médio, particularmente, a posição das políticas públicas
9
Sobre o estudo do lugar, indica-se o texto de Helena C. Callai, Estudar o lugar para compreender o mundo
(2002, p. 83-131).
10
A explicitação do conceito de cidadania passa necessariamente pela compreensão da palavra política cuja
origem se encontra na expressão grega polis, ou seja, cidade. A polis era uma unidade de vida social e política
autônoma, da qual os cidadãos gregos participavam ativamente e decidiam sobre o seu destino. Para os gregos,
a polis dependia do indivíduo e o indivíduo da polis. Aristóteles sintetizou esta estreita relação na seguinte
IUDVH³>@RKRPHPpSRUQDWXUH]DXPDQLPDOSROtWLFR´3HQVDGRUHV$ULVWyWHOHV A política, 2004 p. 146).
Para o filósofo grego, cidadão era aquele que participava da administração da coisa pública, fazia parte das
assembléias que legislavam e governavam a cidade e administravam a justiça. Cardoso (1975) também destaca
TXH ³>@ FLYLWDVH SROLVVmR DVUDt]HV HPGLVWLQWRV LGLRPDV SDUD H[SUHVVDU DR PHVPRWHPSR XPPRGR GH
habitar e uma forma de participar: civismo e política´ (p. 135). Daí o significado de cidadania estar
diretamente vinculado à idéia de participação efetiva dos indivíduos nos rumos da cidade em que vivem. A
cidadania, assim, torna-se a expressão daquele que está de plena posse de sua capacidade civil, que goza de
seus direitos e deveres políticos, considerando sempre a harmonia do convívio social. Assim, devido à
complexidade que a expressão cidadania implica, Rodrigues (2001) passou a conceituá-la sob três dimensões:
a civil, a política e a social (p. 169). Segundo ela, a primeira, refere-se tanto à liberdade de ir e vir, de se
expressar, de se associar, de ter crença e propriedade, quanto à garantia de igualdade de direitos, de não ser
discriminado devido à cor da pele ou à opção sexual, de intimidade, de integridade física e moral; a segunda
diz respeito ao direito de acesso ao exercício do poder, de participação na elaboração das leis e à imprensa e a
terceira refere-se à garantia de que o coletivo tem prioridade ante ao individual, ao acesso à saúde, ao
emprego, moradia digna e educação.
16
educacionais, das escolas, dos professores e a abordagem feita pelos livros didáticos com
relação a este tema. A apresentação está dividida em quatro capítulos. O primeiro parte de
uma análise documental, investigando a posição das políticas públicas educacionais (LDB
9.394/96, PCNs e Ocem) quanto às diretrizes para a Geografia no Ensino Médio. Além disso,
realiza uma pesquisa bibliográfica a fim de tematizar a cidade como conteúdo geográfico. O
segundo analisa os programas da disciplina de Geografia das escolas públicas de Ensino
Médio de Ijuí/RS, no intuito de saber se a cidade é um tema proposto. O terceiro busca saber
se os professores que lecionam Geografia nas escolas investigadas trabalham com o tema
cidade, em que escala geográfica de análise e quais os recursos didáticos utilizados, através de
um roteiro de questões direcionadas à temática. O quarto investiga os resultados emergidos a
partir do questionário, quais sejam: a massiva adoção do livro didático, cuja análise baseou-se
nos critérios de avaliação promovidos pelo PNLEM, e a cartografia como um recurso do qual
os professores carecem para trabalhar a cidade local. Ademais, reflete sobre a possibilidade de
articular os conhecimentos geográficos, o tema cidade e a instrumentalização cartográfica,
segundo a sua aplicabilidade docente.
17
18
1 INVESTIGANDO A CIDADE NO ENSINO-APRENDIZAGEM DE GEOGRAFIA
A relação do tema cidade com o Ensino da Geografia indica a necessidade de
compreender àquilo que expressam as políticas públicas educacionais sobre a Educação
Básica no âmbito geral e esta disciplina particularmente, inclusive, sobre o que dizem sobre
estudar a cidade nas aulas de Geografia. Para isso, buscam-se as diretrizes determinadas pela
LDB 9.394/96
± Lei de Diretrizes e Bases da Educação, com especial atenção à formação para
o exercício da cidadania (destacada como um dos principais objetivos da Educação Básica e
do Ensino Médio) devido a sua estreita relação com a temática citadina.
Em seguida realizou-se um estudo a partir dos Parâmetros Curriculares
Nacionais e (PCNs) e das Orientações Curriculares para o Ensino Médio (Ocem), ambos
voltados para a disciplina de Geografia do Ensino Médio no intuito de saber por que, o quê e
como ensinar Geografia, especialmente se o tema cidade é mencionado e sob qual
perspectiva.
Por fim encetou-se uma tematização para refletir a cidade enquanto conteúdo
geográfico, discutindo a importância e as possibilidades de estudá-la nas aulas de Geografia,
com base tanto nas recomendações das políticas públicas educacionais quanto na posição de
alguns teóricos da Geografia, em especial aqueles que se dedicam em discutir o processo de
ensino-aprendizagem.
Nesse sentido, o texto a seguir verifica as orientações da LDB 9.394/96, dos
PCNs e, conjuntamente, das Ocem sobre o ensino de Geografia no Ensino Médio, as quais são
confrontadas com os programas da disciplina de Geografia das escolas investigadas e com a
prática docente, porém este confronto está apresentado no capítulo 2 deste estudo.
1.1 As orientações da LDB sobre a Educação Básica e o Ensino Médio
Visando o desenvolvimento da educação brasileira foram criadas as Leis de
Diretrizes e Bases da Educação
± LDB 9.394/96 (BRASIL, 1997a), ou seja, normas
obrigatórias para orientação e planejamento curricular das escolas e sistemas de ensino. Uma
das determinações importantes da LDB é a preocupação com a formação integral do
19
educando, para a qual deve estar voltada toda a Educação Básica (Educação Infantil, Ensino
Fundamental e Ensino Médio):
Art. 1º. A educação abrange os processos formativos que se desenvolvem na vida
familiar, na convivência humana, no trabalho, nas instituições de ensino e pesquisa,
nos movimentos sociais e organizações da sociedade civil e nas manifestações
culturais.
§ 1º. Esta Lei disciplina a educação escolar, que se desenvolve, predominantemente,
por meio do ensino, em instituições próprias.
§ 2º. A educação escolar deverá vincular-se ao mundo do trabalho e à prática social.
Conforme o artigo 2º, a educação escolar deve voltar
±VH ³SDUD R H[HUFtFLR GD
cidadania e sua qualificação para o trabalKR´HGHYHUiHVWDUEDVHDGD nos seguintes princípios:
I ± igualdade de condições para o acesso e permanência na escola;
II ± liberdade de aprender, ensinar, pesquisar e divulgar a cultura, o pensamento, a
arte e o saber;
III ± pluralismo de idéias e de concepções pedagógicas;
IV ± respeito à liberdade e apreço à tolerância;
V ± coexistência de instituições públicas e privadas de ensino;
VI ± gratuidade do ensino público em estabelecimentos oficiais;
VII ± valorização do profissional da educação escolar;
VIII ± gestão democrática do ensino público, na forma desta Lei e da legislação dos
sistemas de ensino;
IX ± garantia de padrão de qualidade;
X ± valorização da experiência extra±escolar;
XI ± vinculação entre a educação escolar, o trabalho e as práticas sociais.
A LDB destaca o caráter público e democrático do ensino e chama atenção às
diferenças de idéias que permeiam o âmbito escolar, destacando o respeito à liberdade e o
cultivo da tolerância como valores a serem estimados. O caráter de obrigatoriedade da Lei
também institui o modo de organização da Educação Básica nacional, determinando o que
cabe à União (art. 9º), aos Estados (art. 10), aos Municípios (art. 11), às instituições de ensino
(art. 12) e aos docentes (art. 13).
Uma das principais novidades desta lei é a flexibilidade na base e no processo
da Educação Básica, ou seja, a Educação Infantil, o Ensino Fundamental e o Ensino Médio, e
a criação de um sistema nacional de avaliação do rendimento escolar. Disso emerge o debate
acerca dos currículos que envolvem justamente as questões relativas ao social e ao político,
produzindo efeitos diretos em toda a comunidade escolar, pois revelam a visão de mundo
daqueles que os definem. O que pode ser percebido também no artigo 22 que introduz a Seção
,GD/'%VREUHDV'LVSRVLo}HV*HUDLV³$Educação Básica tem por finalidades desenvolver o
20
educando, assegurar-lhe a formação comum indispensável para o exercício da cidadania e
fornecer-lhe meios para progredir no trab
DOKRHHPHVWXGRVSRVWHULRUHV´
A idéia implícita é que a Educação Básica deve preocupar-se com a
formação integral do educando, preparando-o para viver em sociedade, para fazer uso dos
seus direitos e deveres de cidadão, e o colocando em condições também, para o trabalho e
para a progressão nos estudos. Outra determinação importante da LDB com relação à base
curricular diz respeito à base comum nacional e à parte diversificada que toda a Educação
Básica deve ter:
Art. 26. Os currículos do ensino fundamental e médio devem ter uma base nacional
comum, a ser complementada em cada sistema de ensino e estabelecimento escolar,
por uma parte diversificada exigida pelas características regionais e locais da
sociedade, da cultura, da economia e da clientela.
§ 1º. Os currículos a que se refere o caput devem abranger, obrigatoriamente, o
estudo da língua portuguesa e da matemática, o conhecimento do mundo físico e
natural e da realidade social e política, especialmente do Brasil.
§ 2º. O ensino da arte constituirá componente curricular obrigatório, nos diversos
níveis da Educação Básica, de forma a promover o desenvolvimento cultural dos
alunos.
§ 3º. A educação física, integrada à proposta pedagógica da escola é componente
curricular da Educação Básica, ajustando±se às faixas etárias e às condições da
população escolar, sendo facultativa nos cursos noturnos.
§ 4º. O ensino da História do Brasil levará em conta as contribuições das diferentes
culturas e etnias para a formação do povo brasileiro, especialmente das matrizes
indígena, africana e européia.
§ 5º. Na parte diversificada do currículo será incluído, obrigatoriamente, a partir da
quinta série, o ensino de pelo menos uma língua estrangeira moderna, cuja escolha
ficará a cargo da comunidade escolar, dentro das possibilidades da instituição.
Essa base diversificada é que permite a flexibilidade do currículo, refletindo a
realidade local na qual a escola está inserida. É preciso notar que a LDB também estabelece as
diretrizes a serem observadas pelos conteúdos curriculares de toda a Educação Básica, quais
sejam:
I ± a difusão de valores fundamentais ao interesse social, aos direitos e deveres dos
cidadãos, de respeito ao bem comum e à ordem democrática;
II ± consideração das condições de escolaridade dos alunos em cada
estabelecimento;
III ± orientação para o trabalho;
IV ± promoção do desporto educacional e apoio às práticas desportivas não±formais
(artigo 27 da LDB).
No caso específico do Ensino Médio, a LDB destaca quatro finalidades a serem
respeitadas, conforme o artigo 35:
21
I ± a consolidação e o aprofundamento dos conhecimentos adquiridos no ensino
fundamental, possibilitando o prosseguimento de estudos;
II ± a preparação básica para o trabalho e a cidadania do educando, para
continuar aprendendo, de modo a ser capaz de se adaptar com flexibilidade a
novas condições de ocupação ou aperfeiçoamento posteriores;
III ± o aprimoramento do educando como pessoa humana, incluindo a formação
ética e o desenvolvimento da autonomia intelectual e do pensamento crítico;
IV ± a compreensão dos fundamentos científico±tecnológicos dos processos
produtivos, relacionando a teoria com a prática, no ensino de cada disciplina.
O currículo do Ensino Médio, de acordo como o artigo 36, deverá seguir as
seguintes diretrizes:
I ± destacará a educação tecnológica básica, a compreensão do significado da
ciência, das letras e das artes, o processo histórico de transformação da sociedade e
da cultura; a ngua portuguesa como instrumento de comunicação, acesso ao
conhecimento e exercício da cidadania;
II ± adotará metodologias de ensino e de avaliação que estimulem a iniciativa dos
estudantes;
§ 1º. Os conteúdos, as metodologias e as formas de avaliação serão organizados de
tal forma que ao final do Ensino Médio o educando demonstre:
I ± domínio dos princípios científicos e tecnológicos que presidem a produção
moderna;
II ± conhecimento das formas contemporâneas de linguagem;
III ± domínio dos conhecimentos de Filosofia e de Sociologia necessários ao
exercício da cidadania.
§ . O Ensino Médio, atendida a formação geral do educando, poderá prepara-lo
para o exercício de profissões técnicas.
Uma das propostas inovadoras da LDB com relação ao Ensino Médio é o
destaque ao caráter de formação integral do educando, retirando desta etapa da Educação
Básica o objetivo de formação para o trabalho, orientando para a necessidade de o ensino
desenvolver nos educandos habilidades intelectuais, tais como: capacidade de analisar, de
resolver problemas, de tomar decisões e, sobretudo, ter flexibilidade para continuar
aprendendo. Ou seja, a dualidade do Ensino Médio deixa de existir uma vez que tais
habilidades a serem desenvolvidas por essa formação básica serão aquelas indispensáveis para
o bom desempenho de qualquer tipo de trabalho, o que acaba destacando a importância de
trabalhar a teoria associada à prática, numa tentativa de compreensão sobre a aplicabilidade
das ciências. As recomendações, portanto, estão voltadas para o desenvolvimento de
competências e não propriamente para conteúdos, os quais devem ser concebidos como meios
e não como fins em si mesmos. Além disso, conforme as Ocem, o currículo deve ser
planejado e desenvolvido de maneira que as disciplinas não sejam tomadas de modo
estanques e sim articulando os conhecimentos num processo interdisciplinar e contextualizado
(BRASIL, 2006).
22
A Lei 9.394/96, que estabelece as Diretrizes e Bases da Educação Nacional,
prevê justamente que cabe à União
³[...] estabelecer, em colaboração com os Estados, Distrito
Federal e Municípios, competências e diretrizes para a educação infantil, o ensino
fundamental e o Ensino Médio, que nortearão os currículos e seus conteúdos mínimos, de
modo a assegurar a formação básica comum.
´ (art. da LDB) (BRASIL, 1997a). As
diretrizes específicas para os currículos do Ensino Médio constam, como exposto, no artigo
36 e nos seus respectivos incisos e parágrafos.
Segundo as Ocem o currículo deve se organizar em três grandes áreas de
conhecimento: 1) a área das Linguagens, seus códigos de apoio e suas Tecnologias; 2) a área
das Ciências da Natureza e suas Tecnologias; 3) a área das ciências humanas e sociais e suas
tecnologias. Essa organização visa interligar as disciplinas, conforme as suas afinidades, com
os problemas da realidade. A área de Ciências Humanas e suas Tecnologias são compostas
pelas disciplinas de Filosofia, História, Sociologia e Geografia. Nesse contexto é que são
discutidos os Parâmetros Curriculares Nacionais (PCNs) de Geografia.
1.2 Os PCNs de Geografia para o Ensino Médio
Partindo dos princípios definidos na LDB, o governo federal, a partir do
Ministério da Educação, estabelece, em linhas gerais, as propostas pedagógicas escolares,
conhecidas pela sigla PCNs
± Parâmetros Curriculares Nacionais. Estes parâmetros explicitam
as novidades introduzidas com a reforma escolar e orienta os professores para um trabalho
com abordagem mais integrada ao espaço de vivência do aluno, propondo uma organização
curricular cujo planejamento e desenvolvimento dos conteúdos busca integrá-los e articulá-los
num processo permanente de interdisciplinaridade e contextualização.
Segundo os PCNs, às disciplinas de História, Geografia, Filosofia e Sociologia
estão subentendidos conhecimentos referentes, à Antropologia, Política, Direito, Economia e
3VLFRORJLD ³LQGLVSHQViYHLV j IRUPDomR GD FLGDGDQLD´ 1999a, p. 11). Aquelas disciplinas
formam a grande área de Ciências Humanas e suas Tecnologias, cujo objetivo é a constituição
de competências (Quadro 1) que permitam ao educando:
23
Quadro 1: Competências básicas e específicas da área de Ciências Humanas e suas Tecnologias
11
.
Fonte: PCNs/Ensino Médio (BRASIL, 1999a, p, 26 -38).
Segundo os PCNs/Ensino Médio (1999 a), estas competências estão baseadas
em três grandes campos de competências gerais: 1) representação e comunicação; 2)
investigação e compreensão; 3) contextualização sociocultural, os quais visam auxiliar as
equipes escolares na elaboração da proposta curricular com caráter interdisciplinar. Assim, a
primeira apontaria as linguagens como instrumentos de produção de sentido e de acesso à
organização e sistematização do conhecimento; a segunda indicaria os conhecimentos
científicos, seus procedimentos, métodos e conceitos como instrumentos de intervenção no
real e de solução de problemas; e a terceira, mencionaria a relação da sociedade e da cultura,
em sua diversidade, na constituição do significado para os diferentes saberes (BRASIL,
1999a, p. 37-38).
11
Mais comentários a respeito das competências e habilidades da área de Ciências Humanas e suas Tecnologias
encontra-se em PCNs/Ensino Médio (BRASIL, 1999a, p. 38).
24
No caso específico da Geografia os PCNs/Ensino Médio chamam a atenção
para a renovação que esta disciplina sofreu no século 20, impondo a necessidade de se pensar
a
FHUFDGD³[...] construção de seus fundamentos epistêmicos necessários à consolidação de sua
cientificidade; a definição e a clareza do seu objeto de estudos e o papel do sujeito desta
ciência, capaz de desvelar a organização espacial e suas rela
o}HV´BRASIL, 1999a, p. 58), o
que deu origem àquilo que se denominou Geografia
&UtWLFDSURSRQGR³[...] o fim do saber
neutro, da paisagem como espetáculo e do ensino conteudista.
´S(Vsa nova Geografia
passou a dar um novo sentido à relação teoria e prática, baseando-se na análise crítica da
FRQVWUXomR GR FRQKHFLPHQWR ³UHGHILQLGD DJRUD FRPR FLrQFLD VRFLDO´ S  SRVWR TXH DV
relações sejam estabelecidas como a conexão entre fenômenos, em que estão ligados o sujeito
humano e os seus objetos:
Ao buscar compreender as relações econômicas, políticas, sociais e suas práticas nas
escalas local, regional, nacional e global, a Geografia se concentra e contribui, na
realidade, para pensar o espaço enquanto uma totalidade na qual se passam todas as
relações cotidianas e se estabelecem as redes sociais nas referidas escalas. (BRASIL,
1999a, p. 59-60).
Segundo os PCNs, isto origem ao objeto central dos estudos em Geografia:
o espaço geográfico. Santos (1996), em sua abordagem da natureza do espaço, técnica e
tempo, razão e emoção, leva em conta as características do espaço geográfico e da sociedade.
Ou seja, um sistema de objetos e de ações que revelam as práticas sociais dos grupos que nele
vive. Conhecer essa complexidade é compreender o mundo contemporâneo, a apropriação e
organização dos espaços pelo homem, o sentido econômico, social e cultural mediante os
quais foram sendo construídos. Para os PCNs, é este justamente o papel da Geografia no
Ensino Médio
 ³R DOXQR GHYH FRQVWUXLU FRPSHWrQFLDV TXH SHUPLWDP D DQiOLVH GR UHDO
revelando às causas e efeitos, a intensidade, a heterogeneidade e o contexto espacial dos
fenômenos que configuram cada sociedade.
´ BRASIL, 2006 p. 61). Nisso percebe-se a
possibilidade de trabalhar com a cidade: ela surgiria como um objeto de estudo complexo
mediante o qual o papel da Geografia poderia ser cumprido, uma vez que o tema, além de se
constituir o lócus de vivência dos educandos, compreende as relações socioespaciais,
políticas, econômicas, ambientais, étnicas e religiosas, que são de interesse da Geografia.
Nestas bases, se completa com o que nos apontam as Ocem sobre a tarefa da
disciplina de Geografia, tanto no Ensino Fundamental quanto no Médio: preparar o aluno para
³ORFDOL]DU FRPSUHHQGHU H DWXDU QR PXQGR FRPSOH[R SUREOHPDWL]DU D UHDOLGDGH IRUPXODU
25
proposições, reconhecer as dinâmicas existentes no espaço geográfico, pensar e atuar
criticamente em sua realidade tendo em vista a sua transformação.
´BRASIL, 2006, p. 43). A
intenção é a de capacitar o aluno para que compreenda a complexidade e a dinâmica social-
espacial do mundo, causadora das transformações do espaço geográfico em suas diversas
escalas. Particularmente no Ensino Médio, as Ocem destacam que a Geografia deve estar
voltada à possibilidade de aprofundar os conhecimentos adquiridos no Ensino Fundamental e
orientar a formação de um cidadão capaz de reconhecer as contradições e os conflitos
H[LVWHQWHVQRPXQGR³1HVVHVHQWLGR XP GRV REMHWLYRs da Geografia no Ensino Médio é a
organização de conteúdos que permitam ao aluno realizar aprendiz
DJHQV VLJQLILFDWLYDV´
(BRASIL, 2006, p. 45), o que significa considerar os conhecimentos prévios do aluno e o
meio geográfico no qual ele está inserido, trabalhando com situações que problematizem a
realidade, visando desenvolver um processo de aprendizagem significativa para eles; mais que
isso: levá-lo à compreensão acerca da organização do espaço geográfico como expressão das
formas de apropriação territorial.
1.3 A cidade no ensino-aprendizagem de Geografia
Pela tematização até agora desenvolvida, pode-se perceber a contundente
recomendação das políticas públicas educacionais, especialmente da LDB, PCNs/Ensino
Médio e Ocem, sobre a necessidade de formar cidadãos; ou seja, para que as disciplinas que
compõem o currículo do Ensino Médio trabalhem seus conteúdos de modo a desenvolver nos
alunos o senso crítico, reflexivo, propositivo, tornando-os aptos a pensar e modificar o
ambiente em que vivem, exercendo conscientemente seus direitos e deveres. Assim, propõe-
se tematizar sobre a abordagem da cidade nas aulas de Geografia do Ensino Médio e como ela
pode vir em auxílio não à formação para a cidadania, mas também como um grande tema
que congregaria um dos principais objetivos da Geografia neste nível:
Um dos objetivos da Geografia no Ensino dio é a organização de conteúdos que
permitam ao aluno realizar aprendizagens significativas. Essa é uma concepção
contida em teorias de aprendizagem que enfatizam a necessidade de considerar os
conhecimentos prévios do aluno e o meio geográfico no qual ele está inserido.
(BRASIL, 2006, p. 44).
Defende-se que a cidade é um tema importante nesse sentido, pois, por seu
intermédio, os conteúdos geográficos são trabalhados a partir da vivência dos educandos,
instigando-os a pensar esta realidade e a propor melhorias no lugar em que vivem. Para Nunes
26
(2002, p. 111), essa é uma das tarefas da Geografia: FRQWULEXLU³[...] para a constituição da
identidade dos alunos e para o desenvolvimento de um protagonismo social solidário,
responsável e pautado na igualdade política.
´(VWXGDUGeografia é entender os processos que
engendram a vida humana no espaço e no tempo. É ter idéia da postura ideológica e política
que se assume, pensando as relações que são estabelecidas com os outros, com o
conhecimento, com os objetos. No que tange ao estudo da cidade e à vida na cidade,
especialmente, trata-se de compreender os ideais implícitos ao modo de sua organização
social e espacial e aprender sobre as maneiras possíveis de, nela, intervir e transformar.
1.3.1 Por que estudar a cidade no Ensino Médio?
Segundo os PCNs/Ensino Fundamental de Geografia, o estudo do lugar, da
cidade, do espaço vivido, são conteúdos recomendados para o Ensino Fundamental
12
.
Segundo estes,
³RHVWXGRGDVmanifestações da natureza em suas múltiplas formas, presentes
na paisagem local, é o ponto de partida para a compreensão mais ampla das relações entre
sociedade e natureza.
´Para tanto, a paisagem local e o espaço vivido são as referências para o
professor organizar seu trabalho (BRASIL, 1997b, p. 127). Estes Parâmetros enumeram
alguns exemplos pelos quais o professor poderá direcionar os estudos geográficos:
Por exemplo, por meio da arquitetura, da constituição do trabalho, das formas de
lazer e inclusive por suas próprias características biofísicas pode-se observar a
presença da natureza e sua relação com a vida dos homens em sociedade. Do mesmo
modo, é possível também compreender por que a natureza favorece o
desenvolvimento de determinadas atividades e não de outras e, assim conhecer as
influências que uma exerce sobre outra, reciprocamente. (BRASIL, 1997b, p. 127).
Para o segundo ciclo, as orientações não diferem profundamente, mas são
contextualizadas: Neste o estudo da Geografia deve abordar as diferentes relações entre as
cidades e o campo em suas dimensões sociais, culturais e ambientais, considerando o papel do
trabalho, das tecnologias, da informação, da comunicação e do transporte. O objetivo central é
que os alunos construam conhecimentos a respeito das categorias de paisagem urbana e
paisagem rural, como foram constituídas ao longo do tempo e ainda o são, e como sintetizam
múltiplos espaços geográficos (BRASIL, 1997b, p. 139).
12
Os objetivos e os conteúdos de Geografia para o Ensino Fundamental são expressos em pormenores nas
páginas 130 a 135, no que se refere ao primeiro ciclo, e nas páginas 143 a 149, no que se refere ao segundo
ciclo (BRASIL, 1997b).
27
Em contrapartida, verifica-se que os próprios PCNs/Ensino Fundamental
sugerem a retomada destes conteúdos sob um novo enfoque, obviamente mais aprofundado,
no Ensino Médio, abordando práticas pedagógicas que permitam apresentar aos alunos os
diferentes aspectos de um mesmo fenômeno em diferentes momentos da escolaridade, de
modo que os alunos possam construir compreensões novas e mais complexas a seu respeito.
Segundo os PCNs o espaço local, deve ser trabalhado num contexto global e isto no percurso
de todo o período educacional, conforme se comprova em:
A paisagem local, o espaço vivido pelos alunos deve ser o objeto de estudo ao longo
dos dois primeiros ciclos. Entretanto, não se deve trabalhar do nível local ao
mundial hierarquicamente: o espaço vivido pode não ser o real imediato, pois são
muitos e variados os lugares com os quais os alunos m contato e, sobretudo, que
são capazes de pensar sobre. A compreensão de como a realidade local relaciona-se
com o contexto global é um trabalho que deve ser desenvolvido durante toda a
escolaridade, de modo cada vez mais abrangente, desde os ciclos iniciais. (BRASIL,
1997b, p.116).
Se, por um lado, os PCNs destacam que o estudo da cidade, especialmente
considerado a partir de uma escala local de análise, deve ser trabalhado nas aulas de
Geografia do Ensino Fundamental, por outro, defendem que a compreensão dos processos
envolvidos na construção do espaço geográfico deve ser intensificada durante o período
escolar. O argumento está apoiado na hipótese de que os alunos vão ampliando as suas
compreensões a respeito das relações entre o lugar no qual estão inseridos e os
acontecimentos mundiais, o que vale também para abordagens sobre problemas
socioambientais e econômicos, considerando-se o próprio processo de globalização
contemporâneo. O problema, contudo, é que esta abordagem não é retomada com o
aprofundamento necessário no nível médio, exatamente quando os alunos já possuiriam
maturidade intelectual e estariam vivenciando situações mais concretas no que diz respeito
ao gozo dos direitos e deveres de um cidadão, por exemplo; quando estariam aptos a
relacionar de forma mais profícua a teoria com a prática, a compreender o decurso histórico
da sociedade e da cultura, sobretudo a perceber o seu papel como agente nesse processo.
Segundo os PCNs/Ensino Médio
 HVWD HWDSD GD HGXFDomR HVFRODU ³[...] é o
momento de ampliação das possibilidades de um conhecimento estruturado e mediado pela
escola que conduza à autonomia necessária para o cidadão do próximo milênio.
´BRASIL,
1999a, p. 61). A Geografia do Ensino Médio pode contribuir a esta formação mediante três
ações fundamentais: orientando o olhar do aluno para os fenômenos ligados ao espaço,
tomando-os como produtos das relações que orientam seu cotidiano, definem seu lócus e o
28
interligam a outros conjuntos espaciais; ajudando-o a reconhecer as contradições e os
conflitos econômicos, sociais e culturais e a tornar-se sujeito do processo ensino-
aprendizagem para se descobrir vivendo em escala local, regional, nacional e global.
Os PCNs/Ensino Médio destacam também que o ensino da Geografia,
[...] deve buscar um modo de transformar indivíduos tutelados e infantilizados em
pessoas em pleno exercício da cidadania, cujos saberes se revelem em competências
cognitivas, sócio-afetivas e psicomotoras e nos valores de sensibilidade e
solidariedade necessários ao aprimoramento da vida neste país e neste planeta.
(BRASIL, 1999a, p. 62).
O que os PCNs/Ensino Médio destacam é que seria uma das funções dos
componentes curriculares desta etapa da Educação Básica, incluindo-se a Geografia,
contribuir para a obtenção da emancipação intelectual e afetiva dos alunos oriundos do Ensino
Fundamental. Isso contribuiria para que desenvolvessem um senso ético e de responsabilidade
diante das questões das quais se vêem envolvidos, as quais, agora, passam a exigir deles uma
reflexão, um posicionamento, uma decisão, exatamente o que se espera de um cidadão.
Conforme os PCNs/Ensino Médio, formar cidadãos seria também uma tarefa da Geografia:
Diante da revolução na informação e na comunicação, nas relações de trabalho e nas
novas tecnologias que se estabeleceram nas últimas décadas, podemos afirmar: o
aluno do século XXI terá na ciência geográfica importante fonte para sua formação
como cidadão que trabalha com novas idéias e interpretações em escalas onde o
local e o global definem-se numa verdadeira rede que comunica pessoas, funções,
palavras, idéias. Assim compreendida, a Geografia pode transformar possibilidades
em potencialidades, (re)construindo o cidadão brasileiro. (BRASIL, 1999a, p. 62).
Para Nunes (2002, p. 36),
³DTXLOR TXH QR SODQR OHJDO IRL GXUDQWH GpFDGDV
estabelecidas como obrigação, passa a integrar, no plano político, o conjunto de direitos da
FLGDGDQLD´RXVHMDDDVFHQVmRDREnsino Médio. Segundo ela, isso se deve a uma valorização
da educação como estratégia de melhoria de vida e empregabilidade, além disso, de um
aumento massivo de adolescentes, cujo declínio teria começado em 2005. O problema é que
por mais que o êxito do Ensino Médio dependa também do sucesso do Ensino Fundamental, o
seu desafio é maior, justamente pelo debate que é travado acerca dele em quase todos os
SDtVHV VREUH D ³[...] disputa permanente entre orientações mais profissionalizantes ou mais
acadêmicas, entre objetivos humanistas e econômicos.
´ (NUNES, 2002, p. 41). Para a autora,
essa tensão de finalidades é expressa em privilégios e exclusões quando a origem social é o
fator determinante com relação ao acesso à educação média e à qual modalidade se destina.
29
Daí o interesse deste estudo referente ao Ensino Médio: a escola se depara com
um novo tipo de jovem, especialmente os das escolas públicas, o que havia sido percebido
quando a LDB retirou o caráter exclusivo de preparação para o trabalho do Ensino Médio e
incluiu também a formação para a cidadania. Um jovem com necessidades e expectativas
diversas, que tem, por um lado, o Ensino Superior no seu projeto de vida e, por outro, a
preparação profissional, pois precisa trabalhar para custear seu próprio estudo e, muitas vezes,
ajudar no sustento de sua família, trata-se de um jovem, provavelmente, mais angustiado por
ter de assumir responsabilidades precoces. E por isto quem sabe melhor preparado para pensar
as questões que dizem respeito a sua vivência, isto é, a sua cidade e aos problemas que a
assolam. Por isso
RLQWHUHVVHQHVVDIDL[DHWiULDSRUVHU³[...] a mais afetada pelas mudanças nas
formas de conviver, de exercer a cidadania e de organizar o trabalho, impostas pela nova
Geografia política do planeta, pela globalização econômica e pela revolução tecnológica.
´
(NUNES, 2002, p. 47). Considera-se que, justamente por esse motivo, devem estar preparados
para ler criticamente o seu entorno, refletir acerca dele, questioná-lo, intervir nele. A autora
diz ser esta a função da escola, especialmente no Ensino Médio, que:
[...] contribua para a aprendizagem de competências de caráter geral, visando à
constituição de pessoas mais aptas a assimilar mudanças, mais autônomas em suas
escolhas, mais solidárias, que acolham e respeitem as diferenças, pratiquem a
solidariedade e superem a segmentação social. (NUNES, 2002, p. 50).
Isso reflete a atenção contundente dada pela LDB à formação para a cidadania,
a qual, aqui, se acredita poder alcançar, entre outros temas, também pelo estudo da cidade.
Nesse sentido, o ensino de Geografia no Ensino Médio implica criar condições para que os
estudantes possam ler e refletir criticamente sobre o lugar habitado, para que se apropriem dos
conceitos geográficos e dos conhecimentos a respeito da organização do espaço como obra
humana. Por isso, as práticas sociais e políticas precisam ser profundamente discutidas e
tematizadas afim de que os alunos possam fazer a relação entre os conhecimentos
formalmente constituídos e a sua vida. Isto é exercer a cidadania. É o que se entende da
seguinte passagem nas Ocem:
Ler os fenômenos geográficos em diferentes escalas permite ao aluno uma leitura
mais clara do seu cotidiano. Dessa maneira, ele entenderá a realidade, poderá
comparar vários lugares e notar as semelhanças e diferenças que entre eles. A
partir desse entendimento, os saberes geográficos são estratégicos, pois permitem ao
aluno compreender o significado da cidadania e assim exercitar seu direito de
interferir na organização espacial. (BRASIL, 2006, p. 51).
30
Sendo assim, o ensino de Geografia pode criar condições para que o aluno
interprete e reflita sobre as relações de poder social e política que se processam na cidade. A
sala de aula, então, torna-se um lugar de debate, de diálogo, de perquirições, de divergência e
convergência de idéias, cujo objetivo passa a ser a construção do complexo conceito de
espaço geográfico e a formação do ser cidadão. Diante da afirmação de Santos (1993, p. 19)
GHTXHR³FLGDGmRQR%UDVLOpPXWLODGR´, o ensino da Geografia deve esforçar-se por trabalhar
os temas geográficos de modo a contribuir para a reversão deste quadro, o que exige um
professor consciente de seu papel como agente de transformação, pois dependendo do modo
como ele aborda os conteúdos e os temas geográficos, estes poderão ser elementos de reflexão
para o aluno pensar a própria realidade.
É refletindo sobre essa realidade que o exercício da cidadania encontra o seu
ponto de partida. Aliás, muito isso tem sido defendido por Freire (1999, p. 46) ao propor
uma educação
OLEHUWDGRUDHPTXHRVDOXQRV³[...] ensaiam a experiência profunda de assumir±
se como ser social e histórico, como ser pensante, comunicante, transformador, criador,
realizador de sonhos [...].
´8PLGHDOTXHVHJXQGR)UHLWDVGHYHVHUDVVXPLGRFRPtodo
empenho pela educação do século 21:
A reflexão em torno da educação e seus desafios no século XXI vem se constituindo
em tema recorrente. A necessidade de atualização dos compromissos a serem
assumidos pelas práticas educativas em cada momento histórico mobiliza-se frente à
consciência da aceleração das transformações sociais neste início de século e de
milênio. Diante das alterações que se anunciam, no cenário social, a reflexão-ação
em torno das mudanças no âmbito da escola e da educação em geral emergem como
desafios nos educadores e as políticas educacionais. A necessidade de mudança
assume caráter inquestionável no âmbito dos mais variados discursos e a urgência da
educação do século XXI se traduz pela prerrogativa da inovação como sinônimo de
transformação. (FREITAS, 2007, p. 8).
Segundo o autor, a educação precisa estar em sintonia com os ideais implícitos
aos movimentos populares, exatamente porque educar para a cidadania pressupõe a formação
de sujeitos capazes de promover transformações sociais, políticas e econômicas, de modo que
os conhecimentos e saberes construídos na escola sejam propulsores da consciência social, da
vontade de mudança: Para Freitas (2007, p. 11),
³$ FRQVFLHQWL]DomR FRPSUHHQGLGD FRPR
processo de critização das relações homem-mundo, é condição para a assunção do
comprometimento humano frente ao contexto histórico-social.
´O que implica numa escola
pautada não apenas na transmissão de conteúdos, mas naquela que busca meios para ajudar o
aluno a desenvolver a capacidade reflexiva e relacional, proporcionando sentido e significado
ao que é aprendido na escola. Diante do que conclui Moraes (1998, p. 65):
³1mRTXHUHPRV
31
formar geógrafos, mas sim cidadãos que saibam utilizar o conhecimento geográfico para
compreender a evolução do mundo em que vivem e, assim, nele assegurar a sua efetiva
participação.
´)UHLUH, p. 83) alega que esta é uma das tarefas da escola, na qual,
[...] tem lugar de destaque a apreensão crítica do conhecimento significativo através
da relação dialógica, é a escola que estimula o aluno a perguntar, a criticar, a criar,
onde se põe a construção do conhecimento coletivo, articulando o saber popular e o
saber crítico, científico, mediador pelas experiências do mundo.
Freire (1991) aponta, portanto, para a necessidade de se desenvolver um
projeto pedagógico que contribua para a emancipação das camadas populares, que instiguem a
refletir criticamente e questionar sobre a realidade em que vivem. Isso, porém pode ser
pensado na Geografia, no sentido de oportunizar aos alunos a entender o processo
sociopolítico configurado na cidade, a se informarem sobre seus direitos, na importância de
envolverem-se na organização do espaço vivido. E o mais importante, entenderem que deste
envolvimento depende a melhoria da qualidade de vida nas cidades.
É justamente no sentido de ter consciência das possibilidades de mudança e do
envolvimento nas questões sociais que Kaercher (2002b, p. 57)
GHILQHFLGDGmR³[...] a pessoa
que, sabendo de seu mundo, procura influenciá-lo, organizando-se coletivamente na busca
não dos seus direitos, mas também lutando por uma organização da sociedade mais justa e
democrática.
´$HVFRODHQWmRQmRSRGHULD se omitir em promover situações em que os alunos
testassem suas possibilidades e limites para resolver situações complexas impostas pelo
cotidiano. Em outras palavras, o mero estímulo à criticidade não é suficiente quando o que se
pretende é a cidadania. Para ser cidadão é necessário propor, ter atitude, o que pode ser
adquirido pelo domínio dos saberes ligados à realidade a ser interferida. Daí a necessidade de
o professor trabalhar com questões voltadas à realidade do aluno e, nesse sentido, a questões
referidas à cidade onde vive. É exatamente isto que será discutido na seqüência, tomando-se
³a cidade como um conteúdo geográfico´.
Obviamente que, na escola, tampouco na disciplina de Geografia, não serão
resolvidos os problemas citadinos. Conhecer o mundo, o país, a cidade em que se vive, no
entanto, é condição para interagir com os espaços sociais e, neles, intervir com maior acerto.
A capacidade de compreender e interpretar as relações que configuram uma determinada
realidade, as contradições e os paradoxos intrínsecos à realidade sociopolítica é uma
habilidade a ser desenvolvida pela escola, logo, pela disciplina de Geografia. A escola como
32
um todo é o espaço no qual a capacidade do diálogo, da indagação, do argumento, e
principalmente da proposição, pode ser exercitada; é onde se pensa o mundo e os problemas
vividos, se exerce a divergência de pensamento e a convivência saudável com a diferença.
Isso, porém configura-se numa preparação para o debate coletivo público.
Conforme Cavalcanti (2001, p. 22), as possibilidades de leitura da cidade
dependem da formação do cidadão, posto que a escola seja
³[...] uma das instâncias da
cidadania, ela permite o encontro e os confrontos entre as diferentes formas de conceber a
cidade nas suas práticas cotidianas e científicas [...].
´(SURVVHJXH³[...] a prática da cidadania
inclui a competência para se fazer a leitura da cidade. Ser cidadão é exercer o direito de
morar, de produzir e de circular na cidade, é exercer seus direitos a criar seu direito à cidade, é
cumprir o dever de garantir o direito coletivo à cidade.
´S 23). Assim, entende-se que é pela
reflexão sobre o mundo vivido e sua complexidade em termos de organização socioespacial
que se constrói um cidadão; um sujeito criticamente envolvido com o lugar que habita.
1.3.2 A cidade como conteúdo geográfico
Uma questão importante a ser destacada é sobre a relação entre o tema cidade e
os conceitos básicos da Geografia
13
. Em tese, todos os conceitos geográficos poderiam ser
compreendidos mediante o estudo da cidade. Como fruto das relações sociais e econômicas
que se configuraram espacial e temporalmente, entretanto, entende-se que o tema cidade está
diretamente ligado à categoria espaço geográfico, justamente
SRUTXH³HVSDoRJHRJUiILFRpR
espaço acessível aos homens e por eles utilizado para sua existência.´DOLFUSS, 1978, p.
7). Para o autor, espaço geográfico é um conceito que está impregnado de história, posto que a
ação humana tenda a transformar o meio natural em meio geográfico, uma ação que tem se
manifestado de maneira cada vez mais intensa, graças aos efeitos conjugados do crescimento
demográfico do século 20 e do processo técnico-científico. Carlos (2000, p. 15) define espaço
JHRJUiILFRQRPHVPRVHQWLGRKLVWyULFR³RHVSDoRJHRJUiILFRGHYHVHUFRQFHELGRFRPRXP
produto histórico e social das relações que se estabelecem entre a sociedade e o meio
circundante.
´
14
13
Segundo as Ocem/Ensino Médio de Geografia, são eles: localização, natureza, sociedade, paisagem, região,
território e lugar (BRASIL, 2006, p. 50).
14
Nesse processo de formação de conceitos, Vygotsky (2005, p. 185-207) defende que o professor deve
propiciar a expressão, a comunicação da diversidade de mbolos, significados, valores, atitudes, sentimentos,
expectativas, crenças e saberes que se mesclam na sala de aula. Esforçando-se para entender como cada
33
Exposto isso, parece evidente a associação intrínseca entre cidade e espaço
geográfico. Pelo estudo da cidade, os modos de organização do espaço e as relações sociais
que nele atuam e o influenciam, podem ser trabalhados em toda a sua complexidade, e o mais
importante: possibilitando o estudo da dialética entre local e global, tendo como referência o
lugar vivido. Certamente existem outras temáticas igualmente importantes, porém deve-se
mencionar que, além de oportunizar a abordagem de todos os conceitos básicos da Geografia,
a cidade é um tema que contribui sobremaneira para a formação de cidadãos.
Uma vez entendida a relação entre espaço geográfico e cidade, é preciso
distinguir os conceitos de espaço urbano e cidade
15
. Cavalcanti (2001, p. 14) contextualiza a
³cidade como forma física, a materialização das relações sociais, enquanto que espaço urbano
é o conteúdo, as relações sociais materializadas no espaço
´, o que não significa que sejam
conceitos auto-excludentes, muito pelo contrário.
6REUHLVVRDDWRUDpFRQWXQGHQWH³não se
pode fazer uma separação absoluta ente espaço urbano e cidade, assim como numa análise
dialética não se pode fazer uma separação entre forma e conteúdo
´ Ou seja, a cidade deve ser
considerada não pelos seus aspectos físicos, ela é muito mais que relevo, hidrografia, uso e
ocupação do solo, um terreno com ou sem declividades, mas a expressão do lugar vivido pela
comunidade que nela atua e interage que cria uma identidade. Este espaço vivido, cheio de
significados, é uma realidade construída com base na experiência concreta de indivíduos e
grupo, em particular, elabora essa diversidade e, assim, promover o diálogo dessas formas variadas com a
forma científica estruturada pela ciência geográfica. Vygotsky pistas de como esta tarefa pode ser
cumprida. Segundo ele, as palavras, a linguagem geográfica, são signos que, em princípio, têm o papel de
meio para a formação de um conceito. Só, posteriormente, tornam-se símbolo no pensamento do aluno. Isto
porque, para ele, não se ensina conceitos. No máximo, os apresenta para serem reproduzido pelos alunos, os
quais se encarregam de formar a si mesmos os conceitos sobre as coisas.
15
O termo ³cidade´ é geralmente utilizado para designar uma dada entidade político-administrativa urbanizada.
Em muitos casos, porém, a palavra ³cidade´ é também usada para descrever uma área de urbanização
contínua e equipada com equipamentos sociais destinados às funções urbanas básicas, como habitação,
trabalho, recreação e circulação. A definição legal de cidade, do ponto de vista demográfico, adotada pelo
país, é a do Instituto Brasileiro Geografia e Estatística (IBGE). Segundo tal critério, qualquer comunidade
urbana caracterizada como sede de município é considerada uma cidade, independentemente de seu número
de habitantes, encontrando respaldo no senso comum brasileiro que normalmente associa um município a uma
cidade. Nela estabelecem-se as relações e representações sociais, comerciais econômicas, culturais, a religião,
a ciência, a tecnologia. É onde se encontram os dois circuitos da economia urbana, o individual e o coletivo, o
regional, o nacional e o global, as comunicações, a mídia, e, em termos de espaço físico, centros e periferias,
arranha-céus e favelas, as praças, a arquitetura tradicional e o moderno. Lefebvre (1969) definiu a cidade
como a projeção da sociedade sobre um dado território. Apesar de elementar, essa afirmação é o ponto de
partida para se pensar o conceito de cidade, porque se o empirismo da descrição geográfica é negado
inteiramente, corre-se o risco de imaginar o espaço como uma ³página em branco´ sobre a qual se inscreve a
ação dos atores sociais e das instituições, sem encontrar obstáculos. Isso corresponderia a conceber a natureza
como totalmente moldada pela cultura. Uma cidade não se auto-explica, uma vez que ela não é uma
totalidade. Existem cidades de diferentes tipos (portuária, industriais, turísticas, religiosas), as quais
desempenham funções correspondentes ás áreas onde estão inseridas. Karl Marx e Max Weber, por exemplo,
caracterizam a cidade ocidental justamente nesse sentido, particularmente, como um lugar de mercado.
34
JUXSRVH TXHGHYH VHU FRQVWDQWHPHQWHSRU HOHV UHIOHWLGD ³WUD] FRQVLJR
modos de vida e de
cotidiano, os quais serão territorializados neste espaço
´ (CAVALCANTI, 2001, p. 22).
A associação de práticas pedagógicas que potencializem o lado questionador,
crítico, propositivo e interativo dos alunos, deve ser considerada pela disciplina de Geografia.
O argumento encontra-se na sua capacidade de, via estudo da cidade, trabalhar com questões
relativas ao cotidiano e à vivência dos alunos. Por isso, o ensino da cidade como conteúdo
geográfico é recomendado por Cavalcanti (2002, p.75):
[...] a cidade considerada conteúdo escolar, não é concebida apenas como forma
física, mas como materialização de modos de vida, como um espaço simbólico,
formador de sentidos de pertinência e de identidade, fundamentais para a formação
da cidadania. Sendo assim seu estudo volta-se para desenvolver no aluno a
compreensão do modo de vida da sociedade contemporânea e de seu cotidiano em
particular.
A compreensão desta complexidade é fundamental para a formação da
cidadania, porque o lugar habitado deve ser pensado e compreendido segundo as relações
espaço e tempo e a dinâmica sociopolítica, inerentes as configuração de sua paisagem, além
das relações de poder subjacentes às interações sociais, as quais são traduzidas de forma
diferenciada na organização do espaço. Ora, pode-se afirmar que a Geografia pode discutir
com propriedade tais questões, e por que não? A Geografia está estreitamente ligada à vida
dos alunos, porque se interessa pelos processos que engendram a vida em sociedade, seja eles,
de ordem econômica, social, cultural ou política, o que novamente deve-se destacar, pode ser
sintetizado no estudo da cidade. Assim, o indivíduo tornar-se-ia capaz de refletir criticamente
a respeito da organização do lugar vivido, de participar objetivamente das decisões que
determinam os rumos de sua cidade, prática de um legítimo cidadão.
É exatamente nesse sentido que Kaercher (2002, p. 57) relaciona a cidadania
com o ensino da Geografia. Segundo ele,
³[...] é preciso polemizar na direção de uma
consciência espacial para a prática da cidadania. Consciência espacial como sinônimo de
percepção do espaço como elemento importante de nossa organização social, presente no
nosso cotidiano.
´&DOODL, p. 76) também enfoca a necessidade de se estudar as questões
do cotidiano para a formação da cidadania e vai mais além:
Formar o cidadão significa dar condições ao aluno de reconhecer±se como um
sujeito que tem uma história, que tem um conhecimento prévio do mundo e que é
capaz de construir o seu conhecimento. Significa compreender a sociedade em que
35
vive, a sua história e o espaço por ela produzido como resultado da vida dos
homens. Isso tem de ser feito de modo que o aluno se sinta parte integrante daquilo
que ele está estudando. Que o que ele está estudando é a sua realidade concreta,
vivida cotidianamente, e não coisas distantes e abstratas.
A proposta de se trabalhar com a cidade, aqui, parece conseqüente. A cidade é
o lugar de vivência, o modo como é gerida e administrada produz efeitos diretos na vida de
seus moradores. Pensar a cidade é refletir sobre a própria vida, a vida social, coletiva, sobre
possibilidades de melhoria das suas condições. A consciência de que esta relação é inevitável
é um dos pressupostos da consciência histórica, ou seja, do papel fundamental do cidadão nos
rumos de sua cidade.
Por intermédio desse tema é possível organizar estudos nos quais os alunos
pesquisem e comparem como as paisagens urbanas definem e possibilitam diferentes modos
de vida, sempre ressaltando que o urbano não deve ser focado sem sujeitos: os grupos sociais
neles presentes devem sempre ser destacados, posto que o modo de vida de seus habitantes
também caracteriza a cidade. Acredita-se que, instrumentalizados pela ciência geográfica,
baseados nas relações do homem com o ambiente, em seus desdobramentos políticos, sociais,
culturais e econômicos, os alunos possam compreender o desenvolvimento da sociedade
como um processo de ocupação, cuja paisagem é resultado desta ação. É nesse sentido que
Schäffer (1999, p. 115) considera as cidades objetos de estudo da Geografia:
[...] a cidade assume um papel destaque no ensino de Geografia em qualquer de seus
graus. Tal importância decorre de ser a cidade o espaço no qual, com mais clareza,
se vislumbra a forte alienação entre o trabalho e a natureza, a máxima acumulação
do capital, a intensidade das contradições e dos conflitos de interesse, mas,
sobretudo, onde surgem as maiores possibilidades de organização de movimentos
com o objetivo de transformação social.
Autores como Vintró (2001) e Bernet (1997) possuem concepção semelhante,
porém destacam que pode haver, na própria gestão da cidade, uma articulação entre o espaço
escolar e o espaço urbano na promoção de projetos educativos voltados para a formação de
cidadãos, tal como se pode verificar nos fragmentos da introdução à Carta das cidades
educadoras, conforme explica Sarmiento (2008) sobre o papel das cidades na transformação
social:
A cidade será educadora quando reconheça, exercite e desenvolva, além de suas
funções tradicionais (econômica, social, política e de prestação de serviços) uma
função educadora, quando assuma a intencionalidade e responsabilidade cujo
objetivo seja a formação, promoção e desenvolvimento de todos seus habitantes,
começando pelas crianças e pelos jovens.
36
Para Cavalcanti (2001, p. 23), a cidade educa quando ³[...] forma valores,
comportamentos, ela informa com sua espacialidade, com seus sinais, com suas imagens, com
sua escrita. Ela também é um conteúdo a ser apreendido por seus habitantes.
´ As
possibilidades de leitura mais abrangentes da cidade, no entanto, dependem de uma formação
cidadã, no sentido amplo. A autora indica que a cidade é educadora porque a sua organização
espacial, os caminhos que percorre para isso, a paisagem que apresenta, é algo a ser
interpretado e apreendido; mais que isso: as possibilidades de se realizar uma leitura da cidade
se desdobram para além de sua aparência, mas pelos processos históricos, culturais e
socioespaciais pelos quais elas se desdobram.
37
38
2 INVESTIGANDO A CIDADE NA ESCOLA
Diante das discussões encetadas no primeiro capítulo, particularmente sobre o
ensino de Geografia e as recomendações das políticas públicas educacionais, as quais
destacam a necessidade de um ensino que vise à formação para o trabalho e para a cidadania
e, ainda, as indicações dos PCNs especificadamente que sugerem a abordagem de conteúdos
que contemplem a relação com o lugar vivido, tornou-se necessário realizar um diagnóstico
das aulas de Geografia no Ensino Médio das escolas públicas de Ijuí. O intuito central foi
verificar se e como o tema cidade é trabalhado nas aulas de Geografia e se estes programas
estão em conformidade com as legislações educacionais, particularmente a LDB, Lei 9.394/96
e aos PCNs/Ensino Médio.
Para verificar como a escola atua partir-se-á de duas hipóteses: 1ª) se a
orientação para o exercício da cidadania é um dos princípios norteadores da educação escolar,
a exemplo do artigo 4º da LDB, a escola deve contemplá-lo nos programas das disciplinas que
compõem o seu currículo; 2ª) se a Geografia que se quer ensinar pretende estar comprometida
com a formação da cidadania, então ela deve conter a cidade como o lócus de vivência do
aluno, como um conteúdo escolar do Ensino Médio. É por este viés que a investigação foi
iniciada. Num primeiro momento, é necessário, verificar o programa
16
da disciplina de
Geografia nas escolas, no intuito de investigar se a cidade é um tema proposto para trabalhar
nestas aulas.
2.1 As escolas participantes da pesquisa
As escolas que fizeram parte do contexto desta pesquisa são aquelas que
disponibilizam o Ensino Médio, localizadas no perímetro urbano da cidade de Ijuí/RS, nosso
recorte territorial de análise. As escolas de Ensino Privado não participam desta pesquisa, pois
foram selecionadas apenas àquelas que oferecem ensino gratuito. Sobre as escolas de Ensino
Privado, no entanto, Nunes (2002, p. 66) traz o seguinte comentário: ³estas instituições muitas
vezes perderam parte de sua identidade formativa para priorizar os conteúdos do exame
vestibular, por causa do alunado selecionado que a elas tem acesso
´ Sanches (2005, p. 15)
16
Primeiramente pensou-se em investigar os Planos Políticos Pedagógicos das escolas (PPPs), porém nem todas
as escolas os disponibilizaram, razão pela qual se optou por analisar apenas o Programa de Geografia, os
quais foram fornecidos pelos professores integrantes da pesquisa.
39
complementa com a seguLQWHDILUPDomR³DYLVmRGHFXUUtFXORFRPRFRQMXQWRGHGLVFLSOLQDV
conteúdos e técnicas, tendo em vista somente vestibulares, emburrece, não amplia universos,
nem contribui para a humanização.
´ E segue, contundentemente,
[...] julgo que, para transformar a escola, é necessário pensar com profundidade no
processo de seleção para a universidade, porque as exigências desta têm contribuído
para que o Ensino Médio seja mau porque trabalha para o vestibular e não para
educar para a vida. (SANCHES, 2005, p. 47).
Torna-se importante, porém, frisar que não foi este o nosso critério para
delimitar as escolas investigadas, mas sim escolhidas àquelas que oferecem ensino público
gratuito, às quais estão relacionadas e localizadas na Figura 1.
600200
0
400
N
800m
2 - Instituto Municipal de Ensino Assis Brasil
3 - Colégio Industrial e Estadual 25 de Julho
4 - Escola Estadual de Ensino Médio Antônio Padilha
5 - Escola Estadual de Ensino Fundamental e Médio Modelo
6 - Escola Estadual Guilherme Clemente Kohler
7 - Escola de Ensino Fundamental e Médio São Geraldo
8 - Escola Estadual de Ensino Fundamental e Médio Emil Glitz
1
3
2
Relação das Escolas:
1 - Escola Estadual de ensino Médio Ruy Barbosa
6
8
7
4
5
Figura 1: Localização geográfica das escolas públicas de Ensino Médio de Ijuí/RS.
Fonte: Base cartográfica: Prefeitura Municipal de Ijuí, RS (organizado pela autora, 2008).
Os alunos freqüentadores destas escolas representam diferentes classes sociais,
não apresentam uma homogeneidade estratificada. Duas delas, porém, apresentam-se
diferenciadas, pois disponibilizam o ensino profissionalizante: a Escola Estadual de Ensino
40
Médio Antonio Padilha, que oferece o Técnico em Informática, e o Colégio Industrial e
Estadual 25 de Julho, que proporciona os seguintes cursos profissionalizantes: Técnico em
Informática, Eletrotécnico, Mecânica, Sistema de Informações e cnico em Madeireira e
Imobiliário. Estes cursos, por sua vez, atraem alunos das mais diversas cidades do Rio Grande
do Sul, em especial as da Região Noroeste do Estado. Interessante é observar que as escolas
que disponibilizam o ensino profissionalizante apresentam um maior número de alunos
matriculados se comparadas às outras que oferecem um ensino tradicional. Nesta perspectiva,
pode-se adiantar o depoimento de um professor, o qual foi pesquisado mediante um
questionário que será analisado no capítulo 3 deste trabalho. Neste questionário perguntou-se
para os docentes sobre o perfil do aluno de Ensino Médio. As respostas foram unânimes:
³D
maioria são trabalhadores que tem como propósito a conclusão de Ensino Médio para obter
um emprego com maior qualificação
´, afirma o professor 5. Mais contundente, ainda, é o
professor 1 quando descreve pontualmente o perfil do seu alunado. Para ele, os educandos não
estão preocupados com os conteúdos, com a formação cidadã, com a sua cidade, mas sim em
conseguir um trabalho, em namorar, em estar na moda, no futebol, no celular,
Internet, quina digital, etc. Não estão preocupados com os problemas da cidade,
com os seus direitos e seus deveres. Não sentem a responsabilidade social nesse
momento. Para estes alunos de escolas públicas, o ideal seria que estudassem em
escolas técnicas, pois seriam preparados para o trabalho. Conseguir um trabalho é
o grande objetivo e não o de ser cidadão. É por isso que, muitas vezes, permanecem
na escola: para manter o Centro de Integração Escola-Empresa (CIEE
17
).
(professor 5).
Delimitadas as escolas, a iniciativa foi buscar no programa da disciplina os
conteúdos que se relacionam diretamente com este tema. Cabe destacar que, no percurso das
análises, estas escolas não serão nominadas com seus nomes reais, mas identificadas com
letras (A, B, D,...).
17
Este convênio Escola-Empresa permite que o aluno com vínculo formal com uma instituição de ensino, possa
trabalhar em turno inverso ao da escola, ou em tempo integral se for aluno do noturno. Este convênio oferece
certas vantagens: o jovem pode trabalhar mesmo sem ter alcançado a maioridade (18 anos) e ainda poderá,
enquanto estudante, obter experiências profissionais, requisito exigido pelas empresas na ocasião da
contratação dos recursos humanos.
41
2.2 Os conteúdos programáticos de Geografia: em busca do tema cidade
Uma vez delimitadas quais seriam as escolas do contexto da pesquisa, buscou-
se saber quais são os conteúdos para trabalhar a Geografia no Ensino Médio determinadas
pelas escolas investigadas, essa amostra pode ser verificada no Quadro 3. É preciso destacar
que a relação de conteúdos descritos neste Quadro, não foi classificada por série a que se
destina (1ª, ...), mas congrega os conteúdos a serem trabalhados nos três anos do Ensino
Médio
18
. Esta delimitação, inclusive, também não está expressa nos Livros Didáticos de
Geografia, os quais são divididos em unidades e, estas, em capítulos, sem que o autor
determine à qual série cada unidade ou capítulo deva ser destinado. Como o interesse desta
tese está no estudo da cidade, conseqüentemente foram observados apenas aqueles conteúdos
ou temas que, direta ou indiretamente, se relacionam com o foco investigativo.
2.2.1 Os programas de Geografia do Ensino Médio: a articulação entre temas e eixos
A definição do conteúdo programático na educação escolar não pode acontecer
por uma definição prévia, mas na interação entre o educador, o educando mediado pelo
conhecimento científico universalmente construído e a realidade vivida pelos alunos. Nesse
processo de construção, ou de organização curricular, cada escola tem o desafio de definir a
forma e o conteúdo de suas práticas de ensino. Um dos caminhos passa pela investigação e
problematização da realidade vivida por educadores e educandos e tem como propósito uma
interpretação desta mesma realidade numa dimensão de totalidade. Desse contexto devem
surgir os temas possíveis de serem trabalhados em sala de aula, particularmente pelo diálogo
entre professores, alunos e a própria comunidade escolar. Os temas, para Azambuja (2003, p.
8),
UHYHODP ³DV QHFHVVLGDdes de estudos tendo em vista a superação da compreensão da
realidade para além da aparência, dos acontecimentos e paisagens visíveis.
´
Estes temas podem ser inseridos nos eixos, os quais, para as Ocem, o meios
pelos quais os conceitos e os conteúdos geográficos são conectados, além disso, estes eixos
³[...] podem ser definidos a partir das especificidades locais e da opção teórico-metodológica
18
Nas escolas pesquisadas, a disciplina de Geografia não é oferecida nas três séries do Ensino Médio: em
algumas, a disciplina acontece em dois anos; em outras, em apenas um ano. Para o ano de 2009, segundo
informações trazidas pelos professores, com a obrigatoriedade da Sociologia e da Filosofia para o Ensino
Médio, a Geografia deverá dividir seu espaço com estas disciplinas que também compõem a área das Ciências
Humanas.
42
adotada pelo professor em consonância com o projeto político-pedagógico da escola.´
(BRASIL, 2006, p. 55). Neste caso, o eixo poderia ser entendido como um elemento
norteador e gerador para a abordagem dos conteúdos e dos conceitos geográficos (lugar,
paisagem, espaço, território, etc.). A partir dos eixos podem-se levantar algumas questões que
permitem pensar como o jovem se coloca no mundo do trabalho e quais as possibilidades
reais de enfrentar um mundo com forte componente tecnológico.
Atualmente, além dos conteúdos tradicionais, existe uma infinidade de temas
para a Geografia trabalhar, cujo estudo é relevante para a formação básica dos alunos.
Segundo o Dicionário Houaiss (HOUAISS, 2001) deve-se entender tema como uma
proposição, assunto que se quer desenvolver ou provar. Castellar (2005, p. 72) traz uma
relação vasta destes temas
19
, porém ela adverte que, por mais relevantes que sejam os temas
selecionados pelo professor, ele (o professor), como mediador do processo, deve ir além
desses fatos. A sua tarefa é a de
[...] contribuir para o desenvolvimento de um modo de pensar geográfico, que
compõe um modo de pensar sobre o mundo e a realidade que nos cerca. Para tanto
não basta apresentar os conteúdos geográficos para que os alunos o assimilem, é
preciso trabalhar com esses conteúdos, realizando o tratamento didático, para que se
transformem em ferramentas simbólicas do pensamento. Não que os conteúdos são
apenas pretextos para o desenvolvimento que se pretende; eles não podem ser assim
encarados, pois são de fato, informações, acontecimentos, fenômenos geográficos
importantes em si mesmos.
As Ocem recomendam que, para ensinar, apreender e aprofundar os conceitos
geográficos, os temas que serão trabalhados devem ser organizados em grandes eixos
temáticos e dentro destes eixos é necessário que se faça a articulação entre os conceitos e os
conteúdos geográficos e cartográficos (BRASIL, 2006, p. 56). Estes conceitos têm o propósito
de desenvolver habilidades por meio de atividades didáticas, definirem as escalas de análise e
os fenômenos geográficos que estão ocorrendo na atualidade. Além disso, os eixos podem ser
definidos a partir das especificidades locais e da opção adotada pelo professor em
consonância com o projeto político pedagógico da escola.
Um dos avanços promovidos pela LDB 9.394/96 foi a autonomia concedida à
escola para construir a sua proposta pedagógica, ou seja, organizar o seu currículo e
determinar seus conteúdos da forma que lhe convêm:
19
Estes temas são descritos por Castellar (2005, p. 72).
43
Art. 12. Os estabelecimentos de ensino, respeitadas as normas comuns e as do seu
sistema de ensino, terão a incumbência de:
I ± elaborar e executar sua proposta pedagógica;
II ± administrar seu pessoal e seus recursos materiais e financeiros;
III ± assegurar o cumprimento dos dias letivos e horas±aula estabelecidas;
IV ± velar pelo cumprimento do plano de trabalho de cada docente;
V ± prover meios para a recuperação dos alunos de menor rendimento;
VI ± articular±se com as famílias e a comunidade, criando processos de integração
da sociedade com a escola;
VII ± informar os pais e responsáveis sobre a freqüência e o rendimento dos alunos,
bem como sobre a execução de sua proposta pedagógica (BRASIL, 1997a).
A intenção desta liberdade concedida tem o propósito de fazer com que a
escola adapte seu currículo à clientela que atende e à região em que está inserida. Segundo o
que se no artigo 14 da LDB 9.394/96, o projeto pedagógico da escola deve ser construído
de forma cooperativa:
Art. 14. Os sistemas de ensino definirão as normas da gestão democrática do ensino
público na Educação Básica, de acordo com as suas peculiaridades e conforme os
seguintes princípios:
I ± participação dos profissionais da educação na elaboração do projeto pedagógico
da escola;
II ± participação das comunidades escolar e local em conselhos escolares ou
equivalentes. (BRASIL, 1997a).
A elaboração do projeto político pedagógico deve envolver todos os agentes do
cotidiano escolar e expressar a sua complexidade característica, considerando seus aspectos
físicos, os diferentes segmentos sociais e seus procedimentos pedagógicos. Conforme as
Ocem, além disso, as ações derivadas do projeto devem ser constantemente avaliadas, para
que sejam promovidas as necessárias revisões e atualizações do projeto (BRASIL, 2006, p.
56). Desse modo, entende-se que o papel da Geografia (e das demais ciências) é manter-se em
conformidade com o projeto escolar, atendendo aos princípios gerais do projeto político-
pedagógico. Para isso a escola precisa ter clareza sobre o papel da Geografia no Ensino
Médio, pensando a ciência com suas categorias e dimensões pedagógicas.
Dentre os conceitos geográficos destacados pelas Ocem (BRASIL, 2006, p. 57-
60) estão os seguintes eixos temáticos, destacados no Quadro 2.
44
1. Formação territorial brasileira.
2. Estrutura e dinâmica de diferentes espaços urbanos e o modo de vida na cidade; o
desenvolvimento da Geografia urbana mundial.
3. O futuro dos espaços agrários, a globalização, a modernização da agricultura no período
técnico-científico informacional e a manutenção das estruturas agrárias tradicionais como
forma de resistência.
4. Organização e distribuição da população, os grandes movimentos migratórios atuais e os
movimentos socioculturais e étnicos; as novas identidades territoriais.
5. As diferentes fronteiras e a organização política do mundo atual, estado e organização do
território.
6. As questões ambientais sociais e econômicas resultantes dos processos de apropriação dos
recursos nacionais em diferentes escalas, grandes quadros ambientais do mundo e sua
conotação geopolítica.
7. Produção e organização do espaço geográfico e mudanças nas relações de trabalho, inovações
técnicas e tecnológicas e as novas Geografias, a dinâmica econômica mundial e as redes de
comunicações.
Quadro 2: Eixos temáticos para trabalhar os conceitos e conteúdos de Geografia no Ensino Médio.
Fonte: BRASIL (2006, p. 56-58).
Conforme especificado, o Quadro 2 descreve quais são os eixos temáticos nos
quais poderão ser articulados os conceitos e os conteúdos propostos para trabalhar em sala de
aula. Cabe destacar, porém, que o objetivo aqui é buscar apenas quais são os conteúdos
referentes ao nosso objeto de pesquisa, ou seja, buscar nos programas das escolas quais os
temas e conteúdos propostos para o estudo da cidade
20
. Para esclarecer mais o método de
análise, tomar-se-á por base os eixos descritos pelo Quadro 2, destes, serão selecionados
apenas os eixos que interessam para nossa análise no Quadro 3. Feito isto, pode-se iniciar a
sistematização dos temas apresentados pelos programas das escolas e a articulação com os
eixos propostos pelas Ocem descritos no Quadro 3. Neste estão selecionados apenas os eixos
1, 2, e 6, os quais serão balizadores para a análise que segue.
1. Formação Territorial Brasileira.
2. Estrutura e dinâmica de diferentes espaços urbanos, a vida nas cidades; o desenvolvimento da
Geografia urbana mundial.
6. As questões ambientais sociais e econômicas resultantes dos processos de apropriação dos
recursos nacionais em diferentes escalas, grandes quadros ambientais do mundo e sua
conotação geopolítica.
Quadro 3: Seleção dos eixos temáticos a partir das OCEM para estudar a cidade.
Fonte: BRASIL, 2006 p. 56-58 (organizado pela autora, 2008).
20
O tema cidade também é contextualizado na abordagem do livro didático de Geografia para o Ensino Médio
conforme será estudado no capítulo 4 deste trabalho.
45
Conforme citado, é por meio destes eixos que as Ocem (BRASIL, 2006, p. 56-
58) discorrem
DSHUVSHFWLYDGHIRUPDUDOXQRVFUtWLFRVHUHIOH[LYRVRXVHMD³DGeografia que
se quer para o Ensino Médio deve ser pensada no sentido de formar um cidadão que conheça
os diferentes fenômenos geográficos
´ (BRASIL, 2006, p. 56). Diante disso, investigam-se as
escolas públicas de Ensino Médio de Ijuí no sentido de saber se elas contemplam, em seus
programas da disciplina de Geografia, conteúdos que alcancem os objetivos e desenvolvam as
habilidades orientadas pelas Ocem.
2.3 As orientações curriculares para o Ensino Médio e os conteúdos programáticos das
escolas: uma análise dos eixos temáticos
Uma vez destacados os eixos recomendados pelas Ocem (Quadro 2) e, dentre
eles, aqueles que interessam à investigação sobre o tema cidade (Quadro 3), é preciso
verificar quais são os conteúdos geográficos que constam nos programas das escolas. Estes
conteúdos serão destacados com base, justamente naqueles eixos, a saber, 1) formação
territorial brasileira; 2) estrutura e dinâmica de diferentes espaços urbanos, a vida nas cidades,
o desenvolvimento da Geografia urbana mundial; 6) questões ambientais, sociais e
econômicas, processos de apropriação dos recursos nacionais em diferentes escalas, grandes
quadros ambientais do mundo. A intenção seguinte será contrapor os eixos temáticos
recomendados pelas Ocem com os conteúdos geográficos relativos ao tema cidade elencados
nos programas das escolas.
A seguir apresenta-se o Quadro 4, no qual estão listados os conteúdos
programáticos relacionados ao tema cidade.
46
Escola
Conteúdos programáticos das escolas relacionados ao tema cidade
A
A cidade e urbanização: cidades globais, megalópoles, formação das cidades brasileiras;
relações entre as cidades com o rural, direitos dos cidadãos, gestão das cidades; qualidade
de vida.
B
Organização do espaço mundial e as relações com lugar. A produção capitalista e suas
implicações na vida real de cada cidadão e a relação com a qualidade de vida.
C
Urbanização dos países desenvolvidos e subdesenvolvidos, redes urbanas; hierarquia
urbana; problemas ambientais das grandes metrópoles do mundo, do Brasil e local.
D
Organização do espaço mundial e sua relação com o país e o lugar; as implicações do
modo de produção capitalista na vida do cidadão; alternativas para melhorar a qualidade
de vida partindo da realidade local; os desequilíbrios ambientais, as desigualdades
sociais, as formas de resistência e as alternativas identificadas na realidade social local,
estadual e brasileira; espaço geográfico, lugar, paisagem, tempo e as formas de
localização usadas pelo homem no planeta Terra; aspectos econômicos mundial,
nacional, regional, local; desequilíbrios ambientais, desigualdades sociais.
E
Espaço urbano; processo de urbanização no espaço mundial; urbanização e regiões
metropolitanas brasileiras; impactos ambientais.
F
População/urbanização; crescimento da população; distribuição populacional;
favelização; infra-estruturas; hierarquia urbana, impactos ambientais urbanos, o espaço
urbano; movimentos sociais urbanos; exclusão das cidades.
G
Urbanização mundial: organização do espaço brasileiro, a produção industrial, espaço do
capital e as suas relações com as estruturas sociais, políticas e econômicas.
H
A urbanização e o espaço geográfico; a cidade como centro de poder; segregação
socioespacial; hierarquia urbana; problemas ambientais urbanos.
Quadro 4: Conteúdos programáticos relativos ao tema cidade das escolas públicas de Ensino Médio da cidade de
Ijuí/RS (2008).
Fonte: Escolas de ensino público da cidade de Ijuí/RS.
Como mencionado, e segundo as Ocem (BRASIL, 2006, p. 55),
³uma forma
de organizar o conhecimento geográfico como conteúdos escolares poderão ser realizados por
meio dos eixos temáticos, que, por sua vez, poderão estar vinculados aos conceitos e vice-
versa.
´ Nestas bases, pode-se observar que as escolas seguem estas orientações em forma de
eixos temáticos. No Quadro 4, podemos concluir que as escolas não apresentam um consenso
tanto de eixos temáticos como de conceitos ou de temas, talvez pela infinidade de tópicos que
se dispõe a Geografia investigar. Nesse sentido, torna-se difícil fazer uma sistematização mais
acurada delimitando quais são de fato os assuntos tratados.
Nota-se que os programas são formulados diferentemente por cada escola: em
algumas, a cidade está contemplado num grande eixo (urbanização), nele, possibilidade de
trabalhar inúmeros outros e, observam-se escolas, nas quais os conteúdos são específicos
FRPRSRUH[HPSOR³GLUHLWRVGRVFLGDGmRVJHVWmRGDVFLGDGHVDOWHUQDWLYDVSDUDPHOKRUDUD
TXDOLGDGHGHYLGDSDUWLQGRGDUHDOLGDGHORFDOGHVLJXDOGDGHVVRFLDLV´FRQIRUPH
se constata no
47
programa das escolas A, B e D, no Quadro 4. Sobre estes temas as Ocem apontam que podem
ser tematizadas dentro do grande eixo: a estrutura e a dinâmica de diferentes espaços urbanos
e o modo de vida nas cidades. Segundo estas orientações,
³DV FLGDGHV UHIOHWHP em sua
organização as grandes mudanças socioeconômicas e culturais, onde se estruturam diferentes
territórios urbanos, criados por grupos sociais distintos, especialmente nas metrópoles.
´
Acrescentam, porém, uma referência sobre o estudo dos problemas urbanos, pois, segundo
estas,
³Ká uma tendência à homogeneidade do espaço urbano que afeta também as cidades
médias, as quais também passam a sofrer com os problemas urbanos.
´ 1estes termos as
orientações curriculares para o Ensino Médio recomendam que a correlação de escalas global-
local precisa ser considerada quando a tematização dos assuntos se referirem aos problemas
urbanos (BRASIL, 2006, p. 57).
Os impactos ambientais provocados pela intensa urbanização das últimas
décadas e pela industrialização recente são temas descritos pelas escolas investigadas, ficando
evidente a preocupação em correlacionar os assuntos nas diferentes escalas, partindo do
global/local ou inversamente. Exemplo disso é a urbanização do espaço mundial, sua relação
com o país e o lugar, assim como a urbanização das cidades globais, megacidades e
megalópes, concluindo-se, então, que três escolas estão em conformidade com os eixos
descritos pelas Ocem. Pode-se aqui referir as escolas B, C, D, do Quadro 4. As escolas G e E
preferem trabalhar apenas conceitos e conteúdos referentes às cidades globais e brasileiras.
Apenas duas escolas (F, H), se diferenciam das demais, não esclarecendo a escala em que vai
trabalhar os fatos e acontecimentos, tampouco relaciona os impactos ambientais no seu
programa.
Entende-se aqui que os programas pretendem com a organização do espaço
global, levar o aluno a entender as implicações desta organização na vida real de cada
cidadão, e, neste sentido reitera-se que: esta correlação é extremamente importante quando se
trata do tema urbanização e os impactos ambientais dela decorrentes, pois estes não se
encontram circunscritos em territórios fechados, a exemplo do que acontece com o relevo, a
hidrografia, o clima e a vegetação, sendo urgente construir alunos capazes de questionar,
adotar posturas, buscando novas alternativas de sustentabilidade ambiental e de qualidade de
vida. É preciso pensar o espaço correlacionando os fatos e os fenômenos, numa escala global
de análise. Aquilo que acontece aqui reflete noutro lugar, e os lugares compõem o todo.
48
Outro eixo pelo qual se deve trabalhar, de acordo com as Ocem, é a formação
territorial brasileira:
³p LPSRUWDQWH DQDOLVDU R %UDVLO FRPR IRUPDomRVRFLDO VXERUGLQDGD DRV
centros dominantes do capitalismo e o modo de ajuste da sua economia e do seu território.´
(BRASIL, 2006, p. 57). Estas orientações direcionam para a contextualização da formação
territorial brasileira, num processo amplo de mundialização, desde o Brasil colônia do século
15 até a formação do território urbano-industrial do século 20. Percebe-se que as escolas
WHPDWL]DPDIRUPDomRWHUULWRULDOEUDVLOHLUDGHQWURGRWHPD³XUEDQL]DomR´HQHVWHKiXPIRUWH
enfoque da formação das cidades, sob o domínio do capital, como se SHUFHEHQDVHVFRODV³%
D, e
*´6HJXQGR &DYDOFDQWL , p. 43), os ambientes urbanos são construídos no jogo
entre poderes, interesses e práticas da sociedade com a natureza e com os objetos materiais,
em que de um lado estão aqueles dominantes, e, de outro, os dominados.
Ao observar as Ocem percebe-se que elas apenas apontam os eixos nos quais
as escolas podem se pautar, porém não garantem que aquelas recomendações sejam
efetivamente trabalhadas em sala de aula. Nota-se que o perfil da formação e do trabalho
desenvolvido pelo professor, é que vai determinar se os conteúdos são ou não trabalhados
criticamente e de forma articulada com a realidade local, ou seja, o professor como agente
principal do processo ensino-aprendizagem e da construção da vida cidadã do aluno. Daí a
importância de buscar saber a realidade da sala de aula. Ou seja, se os professores trabalham
realmente aqueles conteúdos relacionados nos programas das escolas e qual a metodologia
adotada por eles.
Para que o tema cidade apareça como eixo temático central, a exemplo do que
aconteceu na proposta curricular da Secretaria Municipal de Educação de Goiânia
21
e para que
o ensino de Geografia torne este tema uma ferramenta para a análise geográfica, pode-se
intervir que não seria indicado apresentar para o aluno um conjunto de conceitos com sua
definição pronta, como: o que é cidade, processo de urbanização, conurbação, metrópole, rede
urbana, e tantas outras definições. Observa-se que, muitas vezes, com essa orientação, o aluno
reproduz verbalmente essas definições que compõem o conteúdo sobre cidade, acompanhadas
de inúmeras informações sobre diferentes cidades no mundo e no Brasil, mas não consegue se
utilizar dessas informações para analisar fatos e fenômenos que acontecem no cotidiano; não
21
Na proposta curricular da Secretaria Municipal de Educação de Goiânia (Prefeitura de Goiânia, 1998), o tema
GDFLGDGHDSDUHFHFRPRHL[RWHPiWLFRFHQWUDO³&LGDGHHFLGDGDQLD´HQmRDSHQDVGH*HRJUDILD1RLQterior
da proposta, esse tema é contemplado em diferentes subtemas e nos conceitos que orientam a organização dos
conteúdos (CAVALCANTI, 2002, p. 41).
49
percebe a própria cidade em que vive, a qual, na maioria das vezes, não compõe o programa
curricular da escola. Sobre essa prática no ensino, comenta Vygotsky (2001, p. 247):
A experiência pedagógica nos ensina que o ensino direto de conceitos sempre se
mostra impossível e pedagogicamente estéril. O professor que envereda por esse
caminho costuma não conseguir senão uma assimilação vazia de palavras, um
verbalismo puro e simples que estimula e imita a existência dos respectivos
conceitos na criança, mas, na prática, esconde o vazio. Em tais casos, a criança não
assimila o conceito, mas a palavra capta mais de memória que de pensamento e
sente±se impotente diante de qualquer tentativa de emprego consciente do
conhecimento assimilado. No fundo, esse método de ensino de conceitos é a falha
principal do rejeitado método puramente escolástico de ensino, que substitui a
apreensão do conhecimento vivo pela apreensão de esquemas verbais mortos e
vazios.
O ensino voltado para a formação de conceitos aborda o tema da cidade
buscando o confronto entre o cotidiano do aluno, a realidade social-espacial e o conceito
científico de cidade. Nesse intuito, as definições e as informações são secundarizadas no
processo, dando-se prioridade para a comunicação e a atribuição de significados sobre
determinadas palavras: pode-se começar, por exemplo, com a relação entre a cidade vivida
pelo aluno e aquela apresentada pelo livro didático, que basicamente são as cidades
localizadas nas regiões do Sudeste do Brasil, as megalópes, as cidades globais, as mais
populosas. Outro conceito é o de modo de vida, em que a cidade deve ser entendida como o
resultado da prática social, do modo de produção e do processo histórico em curso.
É com essa orientação, a de que a escola, por meio do ensino de Geografia,
pode ser um lugar de encontro e confronto entre as diferentes formas de concepção e prática
da cidade, sejam elas cotidianas ou científicas, que a prática docente é investigada no próximo
capítulo. O objetivo é estudar a cidade como um conteúdo geográfico através de um roteiro de
questões sobre esta temática.
50
51
3 INVESTIGANDO A CIDADE NA PRÁTICA DOCENTE
A investigação sobre a escola ficaria incompleta sem a contextualização da
prática docente, inclusive porque o professor tem autonomia para selecionar os conteúdos
geográficos e decidir sobre a metodologia que vai adotar. Nesta pesquisa, a compreensão dos
sujeitos participantes é fundamental para uma visão realista do processo ensino-
aprendizagem. São os professores quem organizam os conteúdos a serem trabalhados nas
aulas, direcionam o assunto, instigam o debate, enfim, são atores importantes, pois detém as
informações sobre o que de fato ocorre na essência de uma sala de aula.
A inquirição sobre a prática docente, então o poderia ser outra senão deixar
falar o professor; o quê ensina, como e quais recursos utilizam para pensar a cidade nas aulas
de Geografia é imprescindível para o nosso debate. Nestas bases, consideram-se as falas de 10
professores de escola pública de Ensino Médio, atuantes no município de Ijuí/RS obtidas
através de um roteiro de questões direcionadas à temática, ou seja, um questionário (Anexo
1). Para o tratamento das falas utilizou-se a Análise de Classificação Múltipla de Fricke
(2005), a qual propõe a avaliação da repetibilidade dos argumentos utilizados pelos
professores, sem desconsiderar qualquer contribuição presente nas mesmas, desta forma,
respeitam-se as opiniões dos pesquisados sem impor uma interpretação, e sem selecionar a
ordem de importância. O intuito central, novamente, está voltado para o tema cidade,
pretende-se saber, preferencialmente, como trabalham, em qual escala geográfica e quais
recursos didáticos são utilizados em suas aulas.
3.1 Sujeitos participantes da pesquisa: o profissional da Geografia
Qual é o desafio do docente em Geografia? Esta pergunta parece permear o
discurso de rios teóricos desta área. Callai (1999a), Cavalcanti (2002), Castellar (2005) e
Kaercher (2002a,c), por exemplo, expressam a necessidade de educadores que ensinem o
aluno a pensar. Mais que isso: que despertem a insubstituível experiência do diálogo,
mediante o qual cada um pode reconhecer-se como sujeito de idéias, capaz de ler, refletir e
expressar o mundo em que vivem. Estas habilidades são desenvolvidas pela compreensão e
contextualização dos conhecimentos historicamente acumulados, formadores de toda ciência,
e que são meios para desenvolver a capacidade reflexiva do aluno, capacidade esta que é
adquirida quando aqueles conhecimentos de base científica passam a ter significado na vida
52
do educando, quando ele consegue relacioná-los com a sua vida. Daí a importância, também,
de o professor estar atualizado com respeito aos avanços das pesquisas científicas e da
dinamicidade das transformações territoriais, porque eles tornam-se elementos fundamentais
para aprofundar a percepção do mundo dos alunos.
Nesse sentido, Cavalcanti (2002, p. 21) destaca que se o professor pretende ter
uma postura crítica-reflexiva, é necessário que desenvolva uma relação dialética entre ensino-
SHVTXLVD WHRULD H SUiWLFD ³7UDWD-se de uma formação crítica e aberta
à
possibilidade da
discussão sobre o papel da Geografia na formação geral dos cidadãos, sobre as diferentes
concepções da ciência geográfica, sobre o papel pedagógico da Geografia escolar.
´ Segundo
as Ocem, isto significa o abandono de uma prática que implica transmitir conhecimento para
pensar o mundo em sua complexidade e dinamicidade, ou seja, em termos metodológicos
seria a possibilidade de construção do saber geográfico tanto a partir da interação entre o
saber escolar e o saber do aluno, quanto da integração entre as diferentes áreas do saber.
Para as Ocem, isso leva à necessidade de considerar os conceitos e categorias
estruturantes do conhecimento geográfico a partir de temas que contemplem, criticamente, a
realidade vivida do aluno. É o que se acredita poder alcançar pelo tema cidade, por seu
LQWHUPpGLRRSURIHVVRUVHULDFDSD]GHUHDOL]DUXPD³WUDQVSRVLomRGLGiWLFDGRFRQKHFLPHQWR
FLHQWtILFR´WDOFRPRSURS}HDV
Ocem, relacionando as categorias e os conceitos geográficos,
histórica e cientificamente constituídos, com o cotidiano do educando, com os seus saberes
prévios (BRASIL, 2006, p. 47).
Para a investigação da prática docente, aplicou-se um questionário, as questões
relacionam-se com os fatores intervenientes no ensino de Geografia, a tematização da cidade
e os recursos didáticos disponíveis, conforme será relacionado no Quadro 5.
3.2 O instrumento de coleta das informações: o questionário
A primeira tarefa para a aplicação do questionário foi realizar um levantamento
junto a Coordenadoria Regional de Educação de Ijuí para saber quem são os professores que
lecionam a disciplina de Geografia nas escolas investigadas. Dos quinze professores, dez
colocaram-se à disposição para preencher o questionário. Além disso, apesar de quatro deles
terem autorizado a divulgação de seus nomes, por uma questão de opção, foi omitida a
identificação dos participantes. No lugar do nome, a cada um deles foi atribuído um número
identificador (1, 2, 3...).
53
A coleta de dados, para Crema (1994, p. 1), refere-se à ³obtenção, reunião e
registro sistemático de dados com um objetivo determinado, caracterizado por uma série
ordenada de perguntas, ou seja, perguntas a serem respondidas sem a presença do
entrevistador
´Assim, optou-se, como forma de coleta de dados, um questionário composto
por 11 perguntas, elaborado de forma a ser auto-aplicável constituído de questões abertas,
incluindo múltiplas respostas e dissertativas. Lakatos e Marconi (2001, p. 201) descrevem o
questionário como um instrumento que oferece maior liberdade aos professores, pois permite
que se expressem textualmente sobre assuntos de natureza mais individuais. O método de
aplicação se deu por meio de correio eletrônico e pessoalmente, uma vez que foram
encontrados professores com dificuldades de acessar esta tecnologia. Antes da sua
distribuição, porém, realizou-se um teste-piloto, ou seja, foi feito um pré-teste com três
professores de Geografia. A análise das respostas obtidas, neste caso, permitiu a reformulação
das questões, adequando-as ao objetivo proposto.
Este instrumento, o qual Minayo (1993) denomina investigação qualitativa
baseia-se na análise de conteúdo e na Análise Temática, a qual permite o aproveitamento dos
argumentos expressos pelos pesquisados, e tem um aporte de riqueza informativa, em geral,
inserido no instrumento de investigação em forma de questões abertas. Os dados obtidos
exigem um tratamento especial, demandando tempo e atenção para fazermos uma
classificação adequada do enorme volume de informações fornecidas pelos pesquisados.
Deve-se considerar que cada resposta pode ter ltiplas idéias, cada uma delas é exclusiva, e
que por isso devem ser consideradas. É nesse contexto que Fricke (2005) propõe um processo
alternativo, ou seja, um modelo estatístico-metodológico denominado de Análise de
Classificação Múltipla
22
, o qual segundo ela, pode ser adotado para questionários de questões
abertas e mistas, a exemplo utilizado por esta pesquisa, o método proposto por esta autora,
permite a sistematização e análise de todos os dados levantados. Além disso, segundo ela,
este modelo proporciona integridade à fala dos entrevistados, uma vez que não subestima nem
ignora nenhum argumento, e pressupõe a criação de um sistema de codificação que identifica
a diversidade de idéias que compõe cada resposta.
22
A análise de classificação múltipla é um processo alternativo, especificadamente para o tratamento de ³IDODV´
respostas às questões abertas de tipo argumentativo e referencial. É utilizado quando se pretende aproveitar
todas as idéias expressas pelo respondente. É impróprio fazer uma seleção nos textos argumentativos, pois o
pesquisador se apropria de uma fala que não é a sua e, por isso, não tem domínio sobre as prioridades
argumentativas. Entende-se, então que todos os argumentos utilizados devem ser aproveitados, por isso,
classificação múltipla. Fricke, (2005).
54
1) A qualidade do processo ensino±
aprendizagem depende:
( ) a) do desempenho do professor
( ) b) da qualidade do livro didático
( ) c) ambos
( ) d) outra. Qual?
2) Você acredita que o ensino da
Geografia pode contribuir à formação
da cidadania?
( ) Sim
( ) Não
3) Que temas você trabalha e quais, em
sua opinião, podem contribuir a essa
formação?
4) Que recursos você utiliza? Responda
em ordem de importância.
( ) livros didáticos
( ) livros paradidáticos
( ) Internet
( ) multimídia
( ) filmes e documentários.
( ) outros, quais:
5) Quem escolhe o livro didático em
sua escola?
( ) a) O professor
( ) b) A escola
( ) c) O grupo de professores da área
( ) d) Outra.
6) Qual o livro didático que você
adota?
7) Quais os critérios utilizados para a
escolha do livro didático?
( ) a relação entre os conteúdos e a diversidade dos alunos
( ) apresentação do livro (qualidade na impressão de letras, imagens,
figuras, editoração, etc.)
( ) uma abordagem que valoriza a realidade local interligada com a
global
( ) o estímulo à cidadania
( ) preço
( ) outras. Quais?
8) Vo trabalha com o tema cidade?
Sim ou não. Por quê? Qual a escala
geográfica de análise?
9) Você dispõe de recursos para
trabalhar a cidade em escala local?
10) Você utiliza a cartografia?
11) Na sua opinião, quais os mapas
básicos da cidade de Ijuí/RS que você
gostaria de ter disponíveis para
trabalhar em suas aulas de Geografia ?
( ) político±administrativo do RS
( ) localização geográfica de Ijuí no RS e no BR
( ) divisão administrativa do município de Ijuí
( ) município de Ijuí com hidrografia, principais vias de acesso,
perímetro urbano
( ) sítio urbano
( ) cidade com ruas (monocromático)
( ) cidade de Ijuí com os bairros identificados (colorido)
( ) bairros individuais
( ) densidade urbana
( ) topografia da área urbana (curvas de níveis do terreno)
( ) condições físico/naturais da zona urbana com hidrografia, áreas de
riscos, banhados, APP, faixa de domínio
( ) fases da ocupação urbana
( ) infra-estrutura (água, energia, pavimentação, esgoto,
transporte)
Perfil do aluno:
* Obs: as alternativas são de múltipla escolha ou dissertativas
Quadro 5: Relação das perguntas do questionário parte da pesquisa.
Fonte: organizado pela autora (2008).
55
A diferença entre o tratamento dos dados propostos por Minayo (1993), a qual
se baseia na análise temática de conteúdo e a análise de classificação múltipla de Fricke
(2005), é a forma de avaliação dos argumentos. Enquanto a primeira prioriza a idéia central da
fala dos pesquisados e atribui menor importância às demais, a segunda autora considera para a
análise todos os argumentos participantes da fala. A relação das questões do questionário esta
apresentada no Quadro 5.
Para a organização da análise dos dados fragmentou-se o questionário em
quatro grupos de questões (a, b, c, d). Este agrupamento foi possível porque as questões
tinham o mesmo objetivo: respectivamente, diagnosticar fatores intervenientes no processo
ensino-aprendizagem; levantar os recursos didáticos e a cidade e a cartografia nas aulas de
Geografia, como demonstrado no que segue:
a) questões 1, 2, 3: destacar fatores intervenientes no processo ensino-aprendizagem, a
importância da Geografia para a formação da cidadania e os temas que podem contribuir a
essa formação;
b) questões 4, 5, 6, 7: verificar os recursos didáticos utilizados, os livros didáticos adotados e
os critérios para a escolha;
c) questões 8, 9, 10: perceber a tematização da cidade em âmbito local e a utilização de
recursos cartográficos para instrumentalização deste tema;
d) questão 11: apesar de, aparentemente, não compor a discussão central, esta questão é
muito importante, pois no teste piloto os professores apontaram que um dos principais
fatores pelos quais não trabalham o tema cidade é a falta de recursos, especialmente de
mapas locais. Assim, ela foi elaborada a fim de saber quais os mapas locais da cidade os
professores consideram importantes e gostariam de ter em mãos para trabalhar em sala de
aula.
O questionário acabou revelando-se um dos mais importantes momentos do
diagnóstico, porque possibilitou a correlação entre o plano de aula da escola e a prática
docente. Pode se observar ainda, as razões pelas quais a cidade local o é tematizada pelo
professor, e a relevância dos recursos didáticos, estimulando, uma tematização mais acurada
sobre estes recursos no item subseqüente.
56
3.3 O que dizem os docentes: análise do questionário
Conforme enunciado, as questões foram agrupadas para permitir uma análise
conjunta dos resultados. Assim, iniciam-se pela sistematização do grupo (a), questões 1, 2, e
3, nas quais se buscou destacar, respectivamente, os fatores intervenientes no processo ensino-
aprendizagem, a importância da Geografia para a formação da cidadania e os temas que
podem contribuir a essa formação.
Os depoimentos dos professores propiciaram perceber que a qualidade do
processo ensino-aprendizagem de Geografia depende da interação que fazem o professor e o
livro didático. Um professor qualificado potencializa o processo, porém a superação dos
limites de atuação apresenta uma complementaridade num bom livro didático. Na concepção
dos professores, porém, esse processo tem ainda um terceiro elemento concorrendo para
maximizar a qualidade: o aluno. É seu olhar crítico, criativo e interessado que vai permitir os
avanços em termos de qualidade no processo. Quer dizer, para o professor deve haver a
cooperação do aluno. Entende o (professor 8) que a qualidade do processo ensino-
aprendizagem depende também do incentivo governamental, uma vez que potencializa uma
atuação mais valorada do magistério, com menor desgaste em termos de ampliar suas áreas de
atuação, escolas mais bem equipadas com melhores bibliotecas e espaços físicos adequados,
material de apoio de largo espectro, base tecnológica atualizada, entre outros. A concorrência
para obter a qualidade do processo apresenta uma gama variada de fatores intervenientes,
evidenciando que as alternativas apresentadas aos professores não conseguiram absorver todo
o debate que precipitou.
Os livros didáticos são recursos de grande eficácia no processo ensino-
aprendizagem, conforme defende o professor 1:
³Hoje temos várias opções e bons livros que
podem dar suporte às aulas.
´ Por outro lado, a qualidade não depende unicamente de fatores
tão limitados circunscritos ao professor e ao material didático, mas da metodologia adotada,
do enfoque teórico a ser observado, da pretensão de trabalhar com esse aluno como parte
integrante da participação social. É o que enfatiza Sanches (2005, p. 15):
³O conhecimento
registrado nos livros didáticos enriquece o currículo escolar, mas, por si só, não constrói
pessoas humanizadas, porque seus
µYalores, quando existem, são apenas conceituais´
Entende-se que conhecimento e educação refletem o modus operandi desse aluno como
sujeito social ou como um mero objeto. Nesse caso, quem direciona a sala de aula para a
57
participação social diferenciada é o professor. É ele que promove debate, sugere e escolhe as
temáticas. O professor 7 tem essa ótica:
Na realidade atual são inúmeras questões que se inserem no processo ensino-
aprendizagem. Em se falar de qualidade, o professor tem, talvez, o papel principal,
no meu ponto de vista. Uma aula bem planejada com conteúdos reais, concretos, do
dia-a-dia do aluno, adaptado a sua realidade de vivência é um excelente ponto de
partida. Porém, muitas vezes não se dispõe de materiais didáticos, dentre os quais
os próprios livros podem se inserir, adequados para um trabalho mais concreto e
local. Mas não podemos nos abster de que a qualidade do processo ensino±
aprendizagem depende também da realidade na qual o aluno está inserido,
principalmente da escola pública. Viver num mundo em que a educação não é
YDORUL]DGDRQGHRPRGRHFRQ{PLFRYDORUL]DR³GDUXPMHLWLQKR´VHm precisar de
um esforço maior e ainda que caiba à escola o papel de educador, disciplinador,
psicóloga, local de encontro, é uma sobreposição de tarefas delegadas à escola de
hoje (professor 7).
Sobre isto corrobora o professor 8:
³A escola assume papel importante neste
processo de busca de realizações, e o educador sempre igual: professor, amigo, mãe, pai,
psicólogo, esperando sempre que a família assuma seu papel.
´ Por mais que o professor seja,
talvez, aquele que não programa suas aulas com o devido comprometimento social, o que
pode acontecer,
³é quase impossível pensar uma aprendizagem em uma realidade
extremamente conturbada como se hoje
´, apropriando-nos novamente da palavra o
professor 7.
A melhoria da qualidade do ensino compreende também a melhoria dos
recursos didáticos, seja no apoio ao trabalho docente, seja como complemento ao
desenvolvimento intelectual do aluno. O tema da urbanização, o qual permite a abordagem da
cidade, é mencionado nos livros didáticos para o Ensino Médio, porém freqüentemente sob
um enfoque conceitual apenas e não apontando para uma abordagem que considere o lócus de
vivência dos alunos. Quer dizer, em nome da mundialização subjuga o lugar de vivência e de
participação na busca por alternativas concretas na qualidade de vida. A contribuição, pois,
dos livros didáticos de Geografia para o exercício da cidadania, surge irrelevante, quando a
tônica destes livros deveria justamente ser inversa: encaminhar para a discussão, interpretação
e sugestão de interferências nos rumos da sociedade. Quando tais livros mencionam o estudo
da relação local/global não determinam o recorte nem os critérios de análise, delegando
inteira autonomia ao professor para fazê-lo ou não.
Entende-se daí que o estudo do local está condicionado a alguns fatores. São
eles: o interesse do professor (em trabalhar as questões locais), a escala de análise adotada, a
58
seleção de temas considerando-se o cotidiano discente, a significação de conteúdos, a
diversidade dos alunos, o contexto social do entorno da escola/bairro/cidade e o modo como
serão trabalhados estes temas/conteúdos. Estes fatores, ou seja, o envolvimento ou não do
professor, sua responsabilidade social, tornam-se decisivos no ensino-aprendizagem da
Geografia e na sua contribuição à formação cidadã dos alunos. Ainda que a qualidade do
processo ensino-aprendizagem dependa da interação entre o desempenho do professor e a
qualidade do livro didático, há de se considerar o aluno como parte ativa deste processo.
Quanto ao envolvimento do ensino de Geografia na formação cidadã dos
alunos, nove entre dez professores acreditam no potencial desta disciplina na formação cidadã
dos discentes. Apenas um professor (9) traz a seguinte afirmação quanto à construção da
cidadania: ela
³deve ser construída em conjunto com outras ciências.´ Sobre isto, Cavalcanti
(2002, p. 50) expressa:
O objetivo escolar de formação de cidadania é de responsabilidade da escola como
um todo, mas à Geografia cabe mais especificadamente o trabalho com conceitos
como os de cidadania e de cidade e a organização do estudo nas escolas com
referência a estes temas.
Pode-se entender que a formação da cidadania não é restrita ao ensino de
Geografia, uma vez que contém elementos interpretativos das mais variadas ciências, a
exemplo das humanas. Nestes termos, a construção da cidadania poderá ser estruturada em
conjunto com a interdisciplinaridade. Sobre isto, os próprios PCN/Ensino Médio (BRASIL,
1999a, p. 10-11)
FRQVLGHUDPFRQKHFLPHQWRVGH³$QWURSRORJLD3ROtWLFD'LUHLWR(FRQRPLDH
PsicologLDLQGLVSHQViYHLV jIRUPDomREiVLFDGRFLGDGmR´DOpPGD0DWHPiWLFDSRLVSRGHUi
HQYROYHU ³FRQKHFLPHQWRV GH (FRQRPLD FRPR FiOFXOR GH MXURV DSOLFDGRV D WUDQVDo}HV
financeiras, dos quais as pessoas poderão se munir no exercício da YLGD FLGDGm´ Como
mencionado no Capítulo 1, a LDB acrescenta ainda o domínio dos conhecimentos de
Filosofia e de Sociologia.
Como se pode perceber, a busca por pensar o espaço enquanto totalidade, por
onde passam todas as relações cotidianas e onde se estabelecem as redes sociais nas diferentes
escalas, requer esforço interdisciplinar. Nesse sentido, é importante destacar Callai (1997)
para afirmar que as disciplinas tradicionais não são suficientes para a problematização que
certos temas exigem e que, para isto, é necessária a articulação das disciplinas.
Os Parâmetros Curriculares Nacionais/Ensino Médio orientam nesta direção,
afirmando que:
59
A Geografia já abandonou há algumas décadas a pretensiosa posição de se constituir
numa ciência síntese, ou seja, capaz de explicar o mundo sozinha. Decorre d a
necessidade de transcender seus limites conceituais e buscar a interatividade com as
outras ciências, sem perder sua identidade e especificidade. (BRASIL, 1999, p. 62).
Diante disso, perguntou-se aos professores: quais os temas que se devem
estudar nas aulas de Geografia do Ensino Médio, que seriam importantes na formação cidadã?
Os temas mostraram-se os mais variados, por isso se fez necessário o agrupamento destes em
categorias de análise, permitindo sua sistematização, demonstrada no Gráfico 1.
7
5
3
2
1
0 1 2 3 4 5 6 7 8
GEOGRAFIA SOCIAL E POLÍTICA
RELAÇÕES NATUREZA-SOCIEDADE
COTIDIANO
VARIADOS (MÍDIA)
RESTRITO AO LIVRO DIDÁTICO
TEMAS
Nº DE INDICAÇÕES
Gráfico 1: Temas trabalhados em sala de aula para a formação da cidadania.
Fonte: dados da pesquisa (2008).
É interessante anotar que os temas trazidos pelo livro didático são os que
menos contribuem para a formação da cidadania conforme demonstrado no Gráfico 1. Será
possível, porém, constatar mais adiante que o livro didático é o recurso mais utilizado nas
aulas de Geografia. Dito de outro modo: se considerada a opinião dos professores, os temas
do livro didático são os que menos contribuem na formação cidadã. Ter-se-ia, então, neste
caso, pela análise dos professores, a constatação de que há uma discordância entre as políticas
públicas educacionais que orientam uma educação voltada para a vida cidadã e os temas
relacionados nos livros didáticos de Geografia?
Segundo os professores, a construção da cidadania vai depender do enfoque
dado e a metodologia aplicada em sala de aula. O professor 9 prefere trabalhar apenas com os
temas do livro didático,
³SRLVHOHVMiWUD]HPVHSDUDGDVDV8QLGades que preciso trabalhar,
60
assim não preciso me preocupar, faço uma tomada da maioria dos temas propostos pelo
livro. Ele é bem abrangente.
´ Se consideradas as opiniões dos professores, então a
abordagem do tema cidade, neste caso, fica restrita as discussões trazidas pelo livro didático,
conforme comenta o professor 2:
³Não temos tempo para trabalhar os assuntos da realidade
imediata do aluno a exemplo de cidade, ou das questões políticas locais, trabalho isto em
escala nacional ou global.
´ O professor 3 esclarece que, como a Geografia é oferecida apenas
em um dos três anos do Ensino Médio,
³os temas locais não são aprofundados, não trabalho
em nível local, pois temos muito pouco tempo para dar conta dos conteúdos propostos pelo
programa da disciplina.
´
³A problemática social é um excelente ponto de partida´, afirma o professor 6.
Diferentemente pensa o professor 8, pois, para ele, é necessário trabalhar com os valores
básicos da vida social:
³família, escola, sociedade, cidadania, ética, política, diferenças
sociais
´. Acrescenta-se a estes a questão ambiental, temática apontada pelo professor 1 como
o
³SRQWR GH SDUWLGD SDUD TXH DV SHVVRDV SDUWLFLSHP QRV GHVWLQRV GD FLGDGH´ O próprio
PCNs/Ensino Médio considera importante, estas temáticas priorizadas pelos professores desta
pesquisa. Segundo os PCNs é necessária a construção de identidades solidamente alicerçadas,
o que constitui condição imprescindível ao prosseguimento da vida social,
³HYLWDQGRSHUGDV
de referências existenciais, responsáveis por variadas formas de reações violentas e
destrutivas.
´(BRASIL, 1999a, p. 28-29).
Os professores descrevem temas que se relacionam com a Geografia Social e
Política, seguido das relações natureza-sociedade. Sobre estes temas comenta o professor 7:
A Geografia deve trabalhar a formação da sociedade a partir da sua inter±relação
com o local de vivência abordando as noções de ambiente, de meio natural, de
trabalho e apropriação dos recursos naturais, transformação da natureza,
sociedade, diferenças de classes, modos de produção, sistemas produtivos. [...] o
importante é instigar o aluno a compreender o processo de apropriação da natureza
pelo homem, resultando numa transformação ambiental e na segregação de classes
sociais, a qual coloca os seres humanos em patamares diferenciados.
Como se pode perceber (Gráfico 1), os temas Geografia Social e Política e as
relações entre a natureza e a sociedade são os que se apresentam como principais nas aulas de
Geografia do Ensino Médio das escolas investigadas. Concordam os Parâmetros Nacionais
para História e Geografia (BRASIL, 1997, p. 115)
³O estudo da sociedade e da natureza deve
ser de forma conjunta. No ensino, professores e alunos deverão procurar entender que ambas
± sociedade e natureza ± constituem a base material ou física sobre a qual o espaço geográfico
61
é construído´ (ntende-se que o conceito ³natureza´ deve ser compreendido tanto nos
aspectos físicos da paisagem como do natural transformado pelo trabalho humano.
O estudo da paisagem, no entanto, não deve restringir-se à mera constatação ou
descrição dos fenômenos que a constituem. Deve-se também buscar as relações entre a
sociedade e a natureza, situando as diferentes escalas temporais e espaciais, comparando-as,
conferindo-lhes significados. Para tanto, a paisagem local e o espaço vivido podem servir de
referências para o professor organizar seu trabalho, constitui-se em ponto de partida para
compreensões mais amplas de organização espacial, interferidas pelo homem. Independente
dos temas trabalhados em aula é imprescindível saber sobre os recursos pelos quais o
professor faz esta tematização.
³A maneira mais comumente de ensinar Geografia tem sido
pelo discurso do professor e pelo livro didático.
´(BRASIL, 1997b, p. 115).
Quanto à sistematização do Grupo (b) sobre as questões: dos recursos didáticos
utilizados, quem escolhe o livro didático na escola, qual o livro adotado e quais os critérios
utilizados na sua escolha, apresentam-se as seguintes considerações, conforme evidenciado no
Quadro 6:
Recursos/importância
Não citados
Livros didáticos
9
1
Livros paradidáticos
2
3
5
Internet
2
1
1
2
5
3
Multimídia
2
2
1
1
4
Filmes e documentários.
2
2
2
1
1
2
Outros
3
2
1
2
2
Quadro 6: Recursos didáticos para ensino-aprendizagem de Geografia.
Fonte: dados da pesquisa (2008).
O Quadro 6 mostra que o livro didático é indicado como o principal recurso,
seguido de poucas variações, aparecendo, em segundo plano, filmes e documentários. Os
livros paradidáticos e a utilização de aparelhos de multimídia
23
seguido pela Internet, não
conferem importância, sendo os menos citados pelos professores. Referindo-se à utilização de
outros meios, se pronuncia o professor 7:
³na preparação de aulas em formato multimídia se
perde um tempo grande nesta tarefa despendendo tempo valioso de leituras e formação
23
Técnica para apresentação de informações que recorre simultaneamente a diversos meios de comunicação,
mesclando texto, som, imagens fixas e animadas (HOUAISS, 2001).
62
conceitual´ Sobre isto considera: ³é necessário o empenho de se utilizar os recursos
tecnológicos, televisão, vídeo, computador, em função de seu alto valor didático.
´ Continua o
professor em seu depoimento:
³>@não tenho prática de preparar aulas em formato digital,
mesmo compreendendo que esta é importante pela atenção que traz ao aluno por viver numa
realidade digital.
´
Em resposta ao uso das novas tecnologias, considera-se o que argumenta
Cavalcanti (2002, p. 84):
³é preciso que o professor vença sua dificuldade em utilizá-los, sem
cair em seu fascínio pelo modismo ou pelo apelo ao sofisticado, e se aproprie deles como
ferramentas auxiliares em seu trabalho.
´ A falta de domínio por parte do professor nos
recursos de multimídia e o seu apoio nos livros didáticos parece estar na contramão da atual
configuração do ensino superior brasileiro.
Sobre isto se deve mencionar que, diante de um país que tem muito a fazer na
questão educacional, uma questão merece destaque. O Brasil apresentou em 2007
24
uma
expressiva oferta de cursos na modalidade à distância, tanto de graduação como no médio
(ABED, 2008, p. 11). Esta modalidade de ensino integra a política de educação, sendo uma
das prioridades do Plano de Desenvolvimento da Educação (PDE) no Brasil, por isso já é uma
realidade próxima da perspectiva educacional brasileira. Nestas bases, faz-se a seguinte
constatação: na modalidade à distância, a qual se apresenta crescente no Brasil, o principal e
imprescindível instrumento de estudos são as tecnologias de informação e de comunicação,
prioritariamente, as condições de telecomunicações (telefone, fax, correio eletrônico,
videoconferência, rum de debates pela internet, ambientes virtuais de aprendizagens, etc.),
justamente as tecnologias pouco utilizadas pelos professores entrevistados.
Outro ponto a ser considerado é que: o perfil dos alunos à distância
apresentado pelo Enade (2008), coincide com o mesmo perfil dos alunos das escolas públicas
investigadas por esta pesquisa. Contrapondo: o aluno da EaD
³é trabalhador, mais pobre,
menos branco, provindo de escola pública, acessa menos a internet, usa menos o computador,
têm menos conhecimentos de espanhol e inglês
´ (ABED, 2008, p. 18). O aluno das escolas
públicas de Ensino Médio de Ijuí é descrito pelo professor 10:
³Vão alunos cujos pais
estudaram pouco, tem pouco acesso a internet, são filhos de trabalhadores em sua maioria
24
Os números, oferecidos pelo Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira
(INEP/MEC), comprovam que o mero de alunos teve um crescimento de 49 mil em 2003 para 207 mil em
2006, uma elevação de 315%. O número de cursos de graduação sofreu um acréscimo de 571% no mesmo
período (ABED, 2008, p. 11).
63
autônomos [...].´ Destas comparações pode-se concluir que esta nova modalidade de ensino
superior tem sido buscada principalmente por jovens trabalhadores, pois permite que o estudo
seja feito no tempo disponível do aluno.
O professor, da modalidade à distância, assume claramente o papel de
mediador e usuário daqueles recursos que ele diz não dominar. E o aluno, por sua vez, passa a
utilizar como principal ferramenta de estudos as tecnologias. Instrumentos estes pouco
utilizados pelas escolas de ensino público investigadas. O livro, nesse caso, perde o seu lugar
de destaque, e o aluno passa a assumir uma postura investigativa, solitária às vezes, uma vez
que não conta mais com a intervenção direta do professor, nem com a interlocução da sala de
aula, mas apenas com o ambiente virtual de aprendizagem.
O que se pôde perceber pelo Quadro 6 supracitado, é que, o professor se utiliza
de outros meios, além do predomínio do quadro-negro. A leitura de textos e seminários são
exemplos,
³artigos do jornal local, Zero Hora e revistas que trabalhem a temática, bem
como filmes e documentários
´ (professor 9). Porém, o Quadro 6 evidencia que o principal
recurso utilizado pela metodologia da educação à distância não contempla importância no
ensino presencial. Ao contrário da utilização do livro didático. Na maioria das escolas
investigadas o livro didático é selecionado como o principal recurso didático. A seleção deles
é realizada pelos professores da área das Ciências Humanas, no entanto, das escolas
pesquisadas 40% delega autonomia para o professor de geografia à escolha.
Com o intuito, porém, de orientar o professor na escolha do livro didático, em
1996 o Ministério da Educação criou o PNLD. A esse programa está vinculado o Programa
Nacional do Livro Didático do Ensino Médio (PNLEM)
25
, elaborado por uma equipe de
especialistas das mais variadas áreas da Geografia. Estes profissionais realizam um processo
de análise das obras inscritas pelas editoras. Os itens analisados vão desde as especificações
técnicas tais como formato, matéria-prima e acabamento, até a análise dos aspectos
conceituais, metodológicos e éticos. Ou seja, além dos aspectos gerais do livro, destaca-se a
adequação do conteúdo, a ausência ou a presença de erros e de preconceitos, as possibilidades
de trabalho e a necessidade de mediação, em maior ou menor grau, do professor. Embasados
25
Os livros que foram sugeridos pelos professores para trabalhar nas aulas de Geografia no decorrer do ano de
2009 foram entregues apenas no mês de novembro de 2008, razão pela qual não fizeram parte deste
diagnóstico, o que não produziu qualquer implicação na pesquisa haja vista que a lista de 2009 difere-se da
lista de 2006/2007 apenas em um item, a saber, a inclusão do livro Ciências Humanas e suas Tecnologias, v.
1, 2 e 3, de A. Martini, R. S. Del Gaudio, J. B. S. Filho e C. M. J. Anastácia. Este LD não foi selecionado por
nenhuma escola pública de Ensino Médio de Ijuí/RS.
64
nestas análises, o professor seleciona qual livro melhor se adequa com o programa da escola e
com o seu plano de aula. O Gráfico 2 traz quais os livros mais citados pelos professores
investigados no período entre 2006 e 2008 nas escolas de Ensino Médio públicas de Ijuí/RS.
0 1 2 3 4 5 6 7
Almeida e Rigolin, 2005
Dispoveis na biblioteca
Garcia e Garavello, 2005
Moreira e Sene, 2007
Vesentini, 2005
Silva, 2005
Livros Didáticos
Número de indicações (respostas múltiplas)
Gráfico 2: Livros didáticos de Geografia adotados nas escolas de ensino público
26
no período entre 2006 e 2008.
Fonte: dados da pesquisa (2008).
A escolha do livro deve ser criteriosa e afinada com as características da
escola, dos alunos e com o contexto educacional em que estão inseridos. As análises dos
especialistas, contudo, não esgotam as possibilidades nem as deficiências das obras, mas
buscam uma aproximação entre o leitor/professor e os livros analisados. A adequação dos
conteúdos à realidade dos alunos, a ampliação dos conhecimentos e das informações
veiculadas, bem como a proposição de alternativas pedagógicas diversificadas, atendendo aos
interesses dos alunos, são funções que cabem apenas aos professores, pois eles são os
detentores das informações primordiais para o trabalho em sala de aula, pois conhecem: o
perfil, as expectativas, o contexto e as especificidades socioculturais dos seus educandos.
Tendo em vista todos esses aspectos elencados, se faz necessária uma escolha
criteriosa, pautada no dia-a-dia e que envolva o conjunto de professores. É importante lembrar
26
As escolas privadas não seguem a orientação do PNLEM para selecionar/adotar seu Livro Didático. Cada
professor tem autonomia para escolher qual livro didático vai adotar.
65
que essa é uma decisão da escola e que os livros serão utilizados por três anos consecutivos
27
,
portanto irão acompanhar o desenvolvimento dos alunos ao longo do Ensino Médio
28
.
Sabendo da importância do livro na Educação Básica, então, é importante que no processo de
seleção, haja uma preocupação com a qualidade do livro, uma atenção com a correção
conceitual e com o estímulo a valores que incitem o respeito às diferenças, à ética e à
convivência. Estes são elementos-chave para a construção da cidadania.
Nestas bases, entendendo o que deve ser considerado para a escolha do livro
didático, deve analisar o Gráfico 3. Nele pode-se observar quais são os critérios enumerados
pelos professores para a escolha de seus livros.
0 10 20 30 40 50 60 70 80
(1º) correlação local/global
(2º) relação conteúdo/diversidade dos alunos
(3º) O estímulo à cidadania
(4º) Preço
(5º) Apresentação do livro
Critérios
Números de indicações (respostas múltiplas)
Gráfico 3: Critérios utilizados para a escolha do livro didático.
Fonte: dados da pesquisa (2008).
Num primeiro momento observa-se que o principal critério analisado pelo
professor é a abordagem dos temas que valorizam a realidade local interligada com a global,
ou seja, que permita fazer a correlação entre os conteúdos, seguida daqueles que se
relacionam com a diversidade dos alunos e de seu cotidiano. Temas que estimulem a
formação cidadã dos alunos não são apontados como um critério significante, tampouco o
preço do livro é levado em consideração. Aspectos relacionados com a apresentação do livro,
27
O que pode ser um problema, tendo em vista a transformação acelerada que assola o mundo contemporâneo,
logo, no final destes três anos, aqueles conteúdos podem estar em grande parte defasada. Daí a razão pela
qual o livro didático deve ser apenas um dos recursos utilizados pelos professores.
28
As escolas de ensino médio de Ijuí/RS oferecem a disciplina de Geografia apenas em uma única série do
ensino médio. Em 2009, porém, as escolas deverão integrar no currículo escolar as disciplinas de Filosofia e
Sociologia, o que poderá significar a divisão das horas aulas entre as Ciências Humanas, (Geografia,
História, Artes). Como resultado uma diminuição da carga horária e, conseqüentemente, um plano de aula
com conteúdos reduzidos.
66
como por exemplo, a qualidade na impressão de letras, imagens, figuras e editoração, são
critérios que não apresentam importância para a escolha do professor.
Uma vez sabendo que o professor valoriza os temas pelos quais ele pode fazer
uma correlação global/local, e entendendo que o município é o lugar de vida de todo o
cidadão, perguntou-se, especificadamente se a cidade é trabalhada como o lugar de vivência
do aluno, quais os motivos e a escala de análise investigada (questão 8). Obtendo-se uma
resposta afirmativa, porém salientam que: fazem uma abordagem apenas superficial, pois a
abordagem é restrita ao livro didático, conforme enuncia o Gráfico 4. Nele a abordagem da
cidade é contextualizada pela urbanização das grandes cidades, das megalópoles, das cidades
globais, e, portanto, nesse sentido não traz as especificidades locais, não aborda questões do
cotidiano do aluno, da escola, da cidade nas suas especificidades. O estudo da cidade é
realizado a partir de conceitos: o que é cidade, conurbação, cidades globais, funções urbanas,
hierarquias das cidades, etc. Ou seja, sob uma visão teórica, generalizando os conteúdos,
enquanto a cidade como lócus de vivência do aluno é construída com características próprias,
com identidade e relações de vida de cotidiano.
0 1 2 3 4 5 6 7
Abordagem superficial
sobre o tema
Abordagem sobre o
Cotidiano
Abordagem restrita ao
livro didático
Categorias de Análise
Número de Indicações (respostas múltiplas)
Gráfico 4: Abordagem do tema cidade como conteúdo escolar.
Fonte: dados da pesquisa (2008).
O professor 10, no entanto, acredita que a abordagem de temas do cotidiano do
aluno permite aprofundar os assuntos a serem trabalhados,
³Pois é o espaço mais próximo do
aluno, de onde ele tem conhecimentos prévios, é a realidade empírica.
´ Sobre isso o
professor 1 acrescenta,
³vou correlacionando as temáticas. Ou seja, como os livros trazem
uma abordagem ampla, vou trabalhando o global a partir do livro e discutindo as questões
locais conjuntamente.
´ E continua ³para isto preciso estar informada sobre o que está
67
acontecendo a nível regional. Informo-me na mídia, nos jornais e até na internet. Mas
preciso dispensar tempo para fazer isto.
´
O Gráfico 5 demonstra a disponibilidade de recursos didáticos em escala local
para trabalhar nas aulas de geografia na cidade de Ijuí (questão 9). Sobre isto, pode-se avaliar
que: os professores demonstraram importância em trabalhar com os recursos cartográficos nas
aulas de Geografia, porém apontam limitações: como por exemplo, a escassez tanto de mapas
básicos como temáticos locais, a dificuldade em fazer seus próprios mapas, não ter
habilidades com as novas tecnologias, e, o desinteresse dos órgãos estaduais e municipais na
confecção destes materiais e a disponibilização para as escolas. Isto pode ser constatado pelos
depoimentos dos professores, uma vez que
³os mapas locais e regionais estão defasados; um
exemplo é o Atlas Escolar de Ijuí
´ como comenta o professor 1. E aproveitam para sugerir
soluções para amenizar a deficiência de mapas locais nas escolas públicas de ensino. Segundo
estes, uma alternativa seria oferecer aos docentes
³cursos que ensinassem a fazer mapas
básicos digitais; isso facilitaria a visualização das temáticas locais em um plano cartográfico
de análise, que a Graduação não forma um professor mapeador
´ (sugestão do professor
1). Outra idéia seria delegar ao poder público municipal a confecção de mapas bases locais,
disponibilizando as escolas ou professores
³para que, a partir destes, conseguissem mapear
informações
´, na opinião do professor 3.
0 1 2 3 4 5 6 7
Dispõe de recursos (cartograficos)
Não dispõe de recurso
Recursos limitados e desatualizados
Categoria de Análise
mero de Indicações (respostas múlt iplas)
Gráfico 5: Disponibilidade de recursos didáticos para trabalhar o espaço local.
Fonte: dados da pesquisa (2008).
Na cidade de Ijuí, tanto o Atlas Escolar (1994) como os mapas do município
estão desatualizados, explica o professor 2,
³isto pode estar relacionado com as
68
transformações do espaço urbano nas últimas décadas´, assim os professores ³buscam estes
materiais no Museu da cidade
´, afirma o (professor 2). Conforme o professor 7: ³Não
disponibilização de maiores materiais a não serem documentos históricos no museu
´
Segundo Callai e Callai (1999, p. 70), o mapa ³é um instrumento muito rico,
indispensável para as aulas de Geografia e de Estudos Sociais, além de fundamental para
qualquer um saber situar-se e entender os fenômenos que acontecem no mundo diariamente.
´
O professor 3 concorda com esta afirmação: ³os mapas seriam ferramentas importantes para
o trabalho e penso que despertariam o aluno a fazer e utilizar os mapas como síntese das
informações que coletar.
´ O estudo da cidade através da cartografia, tematizando questões
XUEDQDV H H[SUHVVDQGR YLVXDOPHQWH XP WHUULWyULR FRQKHFLGR ³R ORFDO´ FRQWULEXL SDUD TXH R
aluno possa compreender e utilizar uma ferramenta básica da Geografia, os mapas, como
também para desenvolver capacidades relativas à representação do e
VSDoR ³/LJDGDV DR
conceito de espaço, vão sendo trabalhadas outras noções que são básicas para compreender o
espaço, tais como: escala, legenda, distância, localização e orientação.
´&$//$,&$//$,
1999, p. 71).
Os professores mostraram interesse em obter mapas ou informações locais que
pudessem servir de apoio nas suas aulas, a exemplo do que revela o professor 3, porém
declaram-se desinformados
³não sei onde poderia procurá-los. Acho inclusive que mapas
sobre Ijuí e região nem existem. Seria interessante se tivéssemos uma publicação de mapas
sobre Ijuí ou materiais sobre a nossa cidade.
´ Materiais estes descritos pelo professor 1:
³WH[WRVPDSDVGLVVHUWDo}HVHWHVHVVREUHDFLGDGHORFDOGLVSRVWRVHPXP~QLFRORFDOSDUD
servir de fontes de pesquisa. Assim poderíamos trabalhar temas relevantes nas aulas que
trazem informações sobre o local de vivência do nosso aluno.
´
Diante da dificuldade de encontrar mapas locais prontos e por não terem
habilidade para construídos, os professores dizem que improvisam conforme relata o
professor 1:
³As escolas não dispõem de mapas locais, apenas os atlas tradicionais sobre
alguns países, como o Brasil, é claro, mais os mapas mundi e das Américas, sobre as
temáticas locais eu mesma faço artesanalmente os mapas, faço fotocópias, vou recortando e
colando.
´ Nesse sentido, discorre o professor 3: ³para trabalhar com o local, às vezes preciso
recortar, colar e montar mapas. E declara o resultado não fica bom.
´ Esta necessidade de
fazer seus próprios mapas parece parte da rotina dos professores, porém a falta de habilidade
ou de tempo para aprendê-la é ressaltada pelo professor 2, quando assevera:
69
O professor, de modo em geral, tem pouca habilidade para trabalhar as novas
tecnologias; alguns alunos se sentem prejudicados com isto, pois percebem que
alguns professores estão defasados em relação às possibilidades que estas
tecnologias poderiam trazer para o ensino aprendizado, onde temos a possibilidade
de, por exemplo, estudar as megalópoles, as cidades globais, e poder correlacionar
a ocupação do espaço e tantas outras temáticas com cidades menores, poder-se-ia
fazer isto em tempo real se a escola tivesse a sua disposição computadores ligada a
Internet. Em maioria, os alunos dispõem em casa, ao contrário da escola e de
muitos professores. Este é um problema que a nossa geração de professores esta
sentindo. Gostaríamos todos de ter acesso à formação continuada de professores
que disponibilizasse aprender as novas tecnologias. (professor 2).
Martinelli (1991, p. 34) afirma que é fundamental saber representar os fenômenos
geográficos e interpretar a linguagem gráfica, pois a Geografia recorre a diferentes linguagens
como forma de expressar suas interpretações, hipóteses e conceitos. Este autor adverte,
³GHYHPRVURPSHUFRPRDVSHFWRformal das convenções, deixando de conceber mapas como
códigos, passando a concebê-los como um sistema semiológico monossêmico (significado
~QLFRTXHGLVSHQVDTXDOTXHUFRQYHQomR´'HYH-se, segundo ele, trabalhar a diversidade, a
ordem e a proporção pelo domínio visual das representações gráficas. Castrogiovanni (1999,
p. 34) complementa dizendo:
Ler mapas significa dominar o sistema semiológico da linguagem cartográfica. Não
é apenas localizar um elemento cartográfico ou qualquer fenômeno. O mapa é
síntese. É uma representação codificada de um espaço real. Possui um sistema
semiótico complexo. A informação contida nos mapas é transmitida através de uma
linguagem que utiliza um sistema de signos (legenda), redução (escala) e projeção.
Ler mapas significa decodificar e, portanto, representar mentalmente sua mensagem.
A cartografia, especialmente a dos mapas temáticos é um importante
instrumento para a construção do saber. Sendo assim, não se trata simplesmente em saber
construir mapas, mas, sobretudo, saber analisar e comunicar informações por meio destes
(JOLY, 1990). Estimular o aluno a interpretar as diversas relações existentes nos mapas
permite compreendê-lo como produto das relações da sociedade, a escola tem por finalidade
desvelar o real junto com seus alunos. Nesse sentido torna-se fundamental, segundo Somma
(1999, p. 164), que os alunos elaborem os seus mapas em atividades do tipo oficinas,
GLVSRQGRGHWHPSRHPDWHULDODGHTXDGRVFDVRFRQWUiULR³RWUDEDOKRFRPRPDSDQDDXODGH
Geografia se centraUiQRVMiHODERUDGRVSRURXWURV´RTXHQmRVHWRUQDXPDSUiWLFDQHJDWLYD
(OH DYDOLD QR HQWDQWR TXH³GHYHPRV HVWDU FRQVFLHQWHV TXH OLPLWDPRV DV SRVVLELOLGDGHV GH
desenvolvimento das percepções, destrezas e habilidades inerentes à confecção do mapa´
Cavalcanti (2002, p. 97), por sua vez, adverte:
70
Isso não significa defender o uso do mapa na escola exclusivamente para ser
pintado ou, de outro lado, para que se aprenda a técnica de sua construção [...]. O
estudo de Geografia não se reduz ao trabalho com mapas, mas é necessário chamar
a atenção para a conveniência de se estudar Geografia através, também, de mapas.
Os mapas são importantes instrumentos de análise da realidade espacial e,
aprendendo a confeccioná-lo, o sujeito estará apto a realizar uma leitura da linguagem
expressa nele e assim, temaior destreza na aquisição dos conhecimentos espaciais, tanto da
sua realidade vivida no dia-a-dia como também nas questões que interessam às diferentes
regiões do mundo. Muitas vezes, diz o professor 7:
os alunos gostam de trabalhar com materiais mais práticos como a cartografia, que
é de melhor compreensão das temáticas propostas. Dessa forma, tendo materiais
que me possibilitam abordar o tema urbano/cidade, seria mais fácil entender o
funcionamento de outra gama de conteúdos que possuem relações, como economia,
natureza, demografia, questão agrária, modo de produção, industrialização, meio
ambiente, cidadania entre outros.
Esse recurso permite ao aluno ter acesso informações até então desconhecidas,
possibilitando a diversidade de opiniões em relação ao espaço local. O entendimento do local
permite, por sua vez, uma análise dos espaços projetados em uma escala regional/global.
Cavalcanti (2002, p. 98) afirma
³[...] a importância do uso do mapa e de outras representações
gráficas (cartas, gráficos, tabelas) no cotidiano das aulas de geografia
´Pode-se inferir disso
que o Atlas escolar local pode enriquecer o trabalho didático do professor para o aprendizado
de várias linguagens, os quais são importantes instrumentos de análise da realidade espacial.
Pelo fato da necessidade de mapas locais e ainda o livro didático ter sido citado
como principal recurso utilizado pelos professores entrevistados, no capítulo subseqüente será
investigado estes dois recursos: o livro didático e a cartografia. Além disso, a intenção será
pensar o tema cidade segundo a sua aplicabilidade docente, realizando uma espécie de ensaio
sobre como se poderia encaminhar o estudo do lugar para compreender o mundo. Dentre a
infinidade de temas que pode a Geografia trabalhar, tomou-se como referência teórica Callai
(2002) e, Azambuja (2008), ambas as autoras apresentam temas pelos quais pode-se fazer a
leitura da cidade, ou seja, pensar a possibilidade de articular, pedagogicamente, os
conhecimentos geográficos, o tema cidade e a instrumentalização cartográfica.
71
72
4 A CIDADE E OS RECURSOS DIDÁTICOS: INVESTIGANDO A CARTOGRAFIA
E O LIVRO DIDÁTICO
Como constatado no capítulo anterior, duas questões merecem atenção: a
necessidade de mapas locais para trabalhar o tema cidade e a utilização massiva do livro
didático nas aulas de Geografia. Assim, decidiu-se aprofundar a análise sobre cada um desses
instrumentos didáticos neste capítulo.
Diante dessa demanda de mapas locais, consideram-se as propostas de Callai
(2002) e Azambuja (2008) para apresentar alguns temas e recursos cartográficos os quais
poderão ser instrumentos para trabalhar a cidade nas aulas de Geografia, em especial no
Ensino Médio. A intenção é instigar o aluno a querer saber. A proposta segue com a
exposição sobre o grande eixo: a cidade nas aulas de Geografia: tematizando as questões
urbanas, utilizando-se, para isto, do suporte dos mapas temáticos limitados ao recorte de
análise onde a escola está inserida. O exemplo aqui segue os temas relacionados à cidade de
,MXt56 $ GHOLPLWDomR GD HVFDOD GH DQiOLVH FRQIRUPH &DOODL  S  ³p XPD GDV
questões mais significativas e deve ser considerada ao estudar o espaço geográfico, pois que o
espaço é imenso.
´
Outro ponto, investigado neste capítulo, também surgiu da importância que o
livro didático assume na prática docente, e por isso a busca pelo tema cidade neste recurso
didático não poderia ser ignorada
29
, no sentido de verificação de sua menção nos livros e em
que escala geográfica de análise são apresentados. Todo o processo de análise seguiu uma
série de critérios usados para avaliar os aspectos conceituais, éticos e metodológicos de obras
didáticas, a partir das recomendações do PNLEM/2006/2007 (BRASIL, 1999b), dada a
importância destas diretrizes para a avaliação e escolha do livro didático. Em seguida,
destacaram-se os livros didáticos de Geografia adotados pelos professores entrevistados e se
utilizando dos critérios estabelecidos, realizou-se a descrição de cada obra didática
individualmente e, por fim, uma avaliação sintética reunindo-as integradamente.
29
O livro didático é o recurso mais utilizado pelos professores das escolas pesquisadas. Nas instituições que
oferecem ensino a distância, porém, este recurso tornou-VHXPPHLROLPLWDGRGHSHVTXLVD³SDUDXPHQVLQRGH
qualidade os recursos de multimídia são essenciais no cotidiano de um estudante e fazem da aprendizagem um
processo bem mais próximo da realidade dos alunos da nova geração. Na era da tecnologia, é necessário
UHSHQVDUPRV DV PHWRGRORJLDV XWLOL]DGDV HP VDOD GH DXOD H H[SORUDU R TXH D WHFQRORJLD WHP GH PHOKRU´.
(Conteúdos e formação em Educação à Distância da Seed. Disponível em: <http://www.portal.mec.gov.br>.
Acesso em: nov. 2008).
73
4.1 A cartografia como recurso para o estudo da cidade
A função da cartografia no ensino de Geografia é debatida por alguns autores.
Compartilham idéias Simielli (1993), Le Sann (1997) e Almeida e Passini (1994), as quais
seguem, na mesma direção em relação à cartografia de sala de aula. Conforme estes autores,
por meio da cartografia são possíveis sintetizar informações, expressar conhecimentos,
estudar situações, entre outras, sempre envolvendo a produção do espaço, sua organização e
distribuição. Assim, o objetivo da Geografia, enquanto ciência interdisciplinar, é compreender
a importância das diferentes linguagens, na leitura da paisagem, buscando diversas fontes de
informações de modo que interprete, analise e relacione conhecimentos sobre o espaço.
Certamente a cartografia escolar possibilita uma análise do espaço geográfico, ou seja, estuda
o espaço como sendo expressão de uma realidade física e social, constitui-se em um
instrumento básico utilizado por vários profissionais da área de geociências, dentre estes,
geógrafos, cartógrafos, geólogos, ecólogos, e outros de áreas afins.
Não se questiona sua importância para o processo de ensino-aprendizagem,
pois, segundo o professor 6,
³todos são importantes e necessários para uma análise
abrangente do espaço em estudo
´, mas questiona-se quanto a sua disposição nos livros
didáticos por não possibilitarem uma leitura visual instantânea, não possuírem todos os
elementos de identificação necessária (título, legenda, escala, orientação, fonte), ficar presos a
convenções, não utilizar as representações gráficas, por estar prontos e acabados, não
permitirem que o aluno seja um construtor de seus mapas, ou seja, que aprenda fazendo.
Deve-se, estimular, portanto, a capacidade de o aluno estabelecer inter-relações entre os
elementos do espaço geográfico, pois, além de ler um mapa, localizando geograficamente um
rio ou uma cidade, é fundamental que (o aluno) desenvolva um senso crítico, tecendo
interpretações e análises sobre este.
Os mapas, tal como constam nos livros didáticos, são limitados ao estudo de
fenômenos isolados como, por exemplo, relevo, clima, densidade demográfica, etc. Como
referimos não se discute seu papel enquanto instrumento de informação, e sobre isto se
concorda com Castrogiovanni e Goulart (1999, p. 129):
O livro didático, frente às atuais condições de trabalho do professor de Geografia,
torna-se cada vez mais um instrumento, senão indispensável, pelo menos, necessário
como complemento às atividades didático-pedagógicas, devendo ser utilizado
apenas como um dos recursos entre tantos disponíveis.
74
Nestas bases, considerando a citação desses autores, o mapa é um material
extremamente eficaz para o aprendizado da Geografia em relação ao ensino do município,
pois na medida em que se estuda o local de forma mais investigativa, propicia um melhor
entendimento cartográfico da área, enfoca o domínio espacial e a construção de noções
espaciais, expressa o município em diferentes esferas, caracterizando o espaço. Esse recurso
(o mapa) permite ao aluno ter acesso a informações até então desconhecidas, possibilitando a
diversidade de opiniões em relação ao espaço em que vive. Por que, então, é importante saber
reconhecer o espaço em que se mora, trabalha, tem relações de vida e de cotidiano, o lugar de
lazer e de circulação das pessoas?
Este lugar é também parte integrante do todo, é um dos municípios que compõe
um país; no nosso caso é um dos municípios brasileiros. Este município é o lugar de vida do
cidadão, é, portanto, neste espaço local que as pessoas vivem e onde todos exercem sua
cidadania. Pode-se dizer, então, que o espaço local se concretiza pelo território municipal e
analisar este território a partir das características físico-naturais, as quais não são iguais em
todos os lugares. Os lugares são diferentes e se expressam pela forma de ocupação, de
povoamento, da cultura, do trabalho. Nesse sentido, fundamentou-se em Azambuja (2008, p.
13) para verificar a importância de se estudar o município como local de vida e de
pertencimento. Segundo ela,
³é importante estudar o município buscando compreender a
história do lugar, as atividades ali desenvolvidas, como se constitui a sociedade local, quais as
relações que mantêm com a região, com o Estado, a unidade da Federação onde está
localizado, o Brasil e o mundo.
´ A autora propõe um roteiro para o estudo multidisciplinar do
espaço local ressaltando,
a importância do estudo dos aspectos físico-naturais do território municipal,
abordando o modo como o mesmo foi apropriado e utilizado ao longo do tempo,
estabelecendo as bases para a compreensão da questão ambiental, na atualidade, e de
seus impactos na qualidade de vida da sociedade local. (AZAMBUJA, 2008, p. 47).
O estudo multidisciplinar do espaço local tem a preocupação de reconhecer o
espaço do município como lugar de vida, de trabalho e de exercício da cidadania, enfatizando
a importância de se conhecer o território municipal como campo privilegiado da atuação e da
gestão pública. Destaca-se o poder local, o lugar e as relações com o regional, o nacional e o
mundial. Conhecer o espaço municipal exige, segundo a autora citada, a compreensão das
relações entre sociedade, natureza e paisagem. Desse modo propomos o estudo que deve
abordar aspectos relativos à sociedade local e seu território, enfatizando o povoamento, a
75
formação do município e a estrutura e dinâmica da população, como exemplifica Azambuja
(2008, p. 48):
³É importante salientar a diversidade sócio-espacial da cidade, por meio do
reconhecimento do desenho urbano, de como se constituiu ao longo do tempo, bem como da
paisagem urbana e da atuação das diversas frações sociais presentes na cidade.
´Entende-se,
porém, que reconhecer o desenho urbano é saber ler os mapas, é decodificá-los, é entender a
sua linguagem. Sobre isto Castellar (2005, p. 216) explica:
Um sistema-código de comunicação imprescindível em todas as esferas da
aprendizagem em Geografia, articulando fatos, conceitos e sistemas conceituais que
permitem ler e escrever as características do território. Nesse contexto ela é uma
opção metodológica, o que implica utilizá-la em todos os conteúdos da Geografia
para identificar e conhecer não apenas a localização dos países, mas entender as
relações entre eles, compreender os conflitos e a ocupação do espaço.
Quais são, então, as temáticas que devem ser contextualizadas, estudadas,
mapeadas nas aulas de Geografia? Para Castrogiovanni (2002), pode-se mapear tanto o lugar
próximo, como os assuntos científicos, o importante é que o aluno aprenda a construir seus
mapas, e a partir destes faça leituras correlacionadas. Para este autor, mapas têm finalidades:
[...] são representações sociais de um determinado espaço real e representam a
organização dos elementos que compõem o espaço. Este mapa, dependendo da
escala utilizada, poderá representar uma cidade, onde poderão ser tematizados tanto
elementos do cotidiano do aluno, como uso científico. [...] O fundamental no ensino
de Geografia é que o aluno/cidadão aprenda a fazer uma leitura crítica da
representação cartográfica, isto é, decodificá-la, transpondo suas informações para o
uso do cotidiano. (CASTROGIOVANNI, 2002, p. 37-38).
Tomando-se a recomendação do autor, o professor poderá, então, em
concordância com os alunos, observar a organização socioespacial do espaço local e instigar o
aluno a fazer esta representação em mapas básicos, as informações são delimitadas/levantadas
pelo próprio aluno, num exercício de busca de temas/conteúdos significativos para ele. O
aluno poderá construir seus próprios mapas, levantando informações e sintetizando neles suas
próprias análises. Poderá ainda apresentar para os demais colegas, surtindo debates diversos,
corroborando para o saber coletivo, num exercício de correlação local/global.
4.1.1 A cidade nas aulas de Geografia: o cotidiano significado
Existem várias formas de se estudar o lugar, é por isso que neste estudo tomou-
se como referencial balizador Callai (2002) e Azambuja (2008), em que elas disponibilizam
76
possibilidades ou formas de estudar o local para, a partir de correlações, compreenderem o
espaço mundializado. Para Callai (2002, p. 84), tanto os livros didáticos quanto as
proposições de sala de aula poderão explorar maneiras de correlacionar os assuntos, levando o
aluno a entender-se parte do processo de transformação sociedade-natureza. Compreender o
lugar em que vive permite ao sujeito conhecer a sua história e conseguir entender as coisas
que ali acontecem. Conforme a autora,
³nenhum lugar é neutro, pelo contrário, é repleto de
história e com pessoas historicamente situadas num tempo e num espaço, que pode ser o
recorte de um espaço maior, mas por hipótese alguma é isolado, independente.
´ (p. 84).
Acrescenta que, ainda que sejam vários os lugares possíveis de se estudar, é preciso que estes
sejam significativos para os alunos.
Para ela,
³RVOXJDUHVGRFRWLGLDQRGHQRVVDVYLGDVIXQFLRQDPFRPRODERUDWyULRV
para compreender o mundo e as diferentes formas de vida do homem.´ (CALLAI, 2002, p.
124). A cidade, como cus de vivência, então, seria um lugar possível de ser estudado nas
aulas de Geografia. Nela as pessoas moram, mantêm relações de vida e de cotidiano,
trabalham, circulam, freqüentam lugares de lazer e recreação. A autora segue afirmando:
[...] que nas cidades tudo está aproximado; é o lugar de concentração da população;
é o espaço, via de regra, onde as relações humanas acontecem de maneira mais
acentuada, mais intensa, mais complexa. A concentração dos homens nas cidades,
porém, exigiu que se criassem certos regramentos para a vida se viver nelas. Neste
sentido, faz-se necessário que se entendam as características internas da cidade, que
de certa forma vão compor sua paisagem, resultado da ação dos homens nestes
espaços. (CALLAI, 2002, p. 127).
Dentre os aspectos que devem ser estudados, pFRQWXQGHQWH³o sítio urbano; as
bases físicas; as características naturais do terreno; áreas impróprias para ocupação;
organização e distribuição espacial (áreas de comércio, industriais, residenciais, mistas),
densidade demográfica, transporte coletivo.
´ (CALLAI, 2002, p. 127). Segundo ela, a partir
de cada temática o professor poderá instigar os alunos à discussão, análise e proposições sobre
o assunto tratado. O intuito é avaliar quais são as temáticas que suscitam debates e interesses
dos alunos em
³querer saber aprender´ e neste processo, então, o professor como mediador,
poderá fazer a correlação dos temas em uma dialética local/global.
O interessante, concordando com a proposta de Callai (2002, p. 128),
entretanto, é que não se pode analisar a cidade sob os aspectos físicos apenas e a partir destes
entender o mundo. Pelo contrário,
³HVWHV DVSHFWRV, para serem analisados, devem ser
considerados à luz da escala social de análise, além de serem contextualizados nas diferentes
77
escalas de espaço, de poder político, da organização da economia.´ É interessante entender
como a cidade se organiza a partir das relações de poder intrínsecas nos espaços ocupados
pelos homens. Os espaços são diferentes e esta relação entre sociedade
HRHVSDoR³pode gerar
conflitos desastrosos ao meio ambiente, principalmente ao considerarem-se as condições de
vida das gerações futuras.
´(CASTELLS, 2000, p. 4). É nesta perspectiva que se apresenta um
estudo sobre a cidade. Volta-se, então, à pergunta formulada no início deste capítulo:
³TXDLV
são os temas e quais mapas pode-se apresentar aos alunos para estudar a cidade local?´ Como
já mencionado, tomou-se por base a proposta de Callai (2002 p. 83-131).
O conceito de cidade contemporânea tornou-se complexo. Do ponto de vista
geográfico, acabou incorporando outras dimensões além das políticas e sociais, como as
culturais, econômicas, físicas e espaciais. Para a Geografia, de maneira simplificada, cidades
são basicamente áreas urbanizadas que possuem uma população, densidade populacional e um
estatuto legal. Santos (1997, p. 25
 D GHILQH FRPR ³XP VLVWHPD GH UHDOLGDGHV RX VHMD XP
sistema formado pelas coisas e a vida que as anima, o que supõe uma legalidade, uma
estruturação e uma lei de funcionamento.
´ É nesse sentido mais contemporâneo que a cidade,
aqui, é concebida, o que não significa que o antigo sentido, o histórico, não será considerado.
Pelo contrário, essa concepção é assumida, mas dentro da atual configuração e organização
citadina. Surge daí, a necessidade de se destacar os elementos que caracterizam toda e
qualquer cidade contemporânea, bem como os elementos explícitos (infra-estrutura,
equipamentos) e implícitos (organização sociopolítica, movimentos sociais, modos de
participação populares) a sua organização.
Pode-se iniciar o estudo conhecendo o território municipal (Figura 2), base
para a ação pública, tendo em vista o desenvolvimento sustentável e a cidadania. O mapa
representa o município onde serão contextualizadas as temáticas.
78
ORG.: Sandra Regina de Lima Bado / 2002.
BASE: Prefeitura Municipal de Ijuí, 2000.
BR-285
AEROPORTO
BR-285
RS-522
RS-342
RS-342
RS-342
RS-155
RS-155
RS-155
RS-514
41&18+#
('4418+#
.+/+6'&+564+6#.
.+/+6'/70+%+2#.
5'&'&+564+6#.
¥4'#74$#0#
Localização do Município de Ijuí no Estado do
Rio Grande do Sul
Figura 2: Localização geográfica do município de Ijuí no RS.
Fonte: digitalizado e organizado pela autora (2003).
O município representa uma unidade político-representativa da federação
brasileira. Como, no entanto, nenhum lugar se explica por si mesmo:
É necessário o exercício constante da teorização, estabelecendo ligações e buscando
as explicações em nível regional, nacional e inclusive internacional. Nesse sentido, o
município é um lugar que precisa ser entendido dentro do mundo. [...] É que o
município passa a ser um conteúdo significativo para o ensino de Geografia.
(CALLAI, 2002, p. 124).
O exercício do poder neste lugar se faz pela atuação dos atores sociais e
políticos, a qual se expressa concretamente no espaço municipal. A partir da apresentação
deste mapa as discussões podem suscitar debates os mais variados. Mais e, principalmente, na
proposição de Callai (2002, p. 125),
³a localização do município, a sua organização interna (o
rural e o urbano; distribuição das atividades econômicas, organização das atividades culturais,
formas de lazer); condições naturais; distribuição da população; evolução político-
administrativa; a história do município.
´
79
Nem todas as cidades, no entanto, surgiram pelos mesmos motivos. As cidades
exibem processos históricos diferenciados. Buscar, levantar a origem das cidades e sua
história é fundamental para entender o processo de urbanização pelo qual passam as cidades
contemporâneas. Nesse sentido, pode-se iniciar estudando o sítio urbano de uma cidade e seu
planejamento, ou descobrir, no decorrer da pesquisa, que a cidade surgiu sem um
planejamento, a exemplo de várias cidades brasileiras (SANTOS, 1994). Áreas cristalizadas,
diferenciação desta área planejada com outras da periferia, qualidade de serviços, infra-
estruturas e equipamentos, os padrões de habitação nesta porção central e áreas do seu
entorno, também poderão ser estudadas. Neste sentido, a paisagem poderá ser observada
(Figura 3), uma vez que é explícita a diferenciação da área central em padrões de habitação,
no oferecimento de serviços e comércio, entre outros aspectos, que podem ser
levantados/observados pelos alunos.
Figura 3: Paisagem urbana centro-periferia. Ijuí/RS.
Fonte: organizado pela autora (2008).
Discutir o padrão centro-periferia em sala de aula permite fazer uma análise
sobre o uso, a ocupação e o desenvolvimento de uma cidade. Estudando-se um pequeno local
pode-se entender cidades maiores, pois cada parte faz o todo e o todo é composto pelas partes
que o compõe. Quando uma cidade exibe um padrão centro-periferia, pode-se perceber que,
quanto mais central a localização, melhores são os serviços e a infra-estrutura (Figura 4). Os
80
usos comerciais e de prestação de serviços estão localizados nesta área, sendo tipologicamente
bem diversificados. Entre as edificações de uso institucionais destacam-se escolas de grande
porte, que atraem clientela variada, igrejas matriz, órgãos estaduais, federais e municipais. Os
espaços públicos de lazer são conservados e equipados. Destacam-se nestas áreas,
restaurantes, bancos, hotéis e postos de abastecimento, além de equipamentos como hospitais,
postos dos correios, ginásio de esportes, rodoviária, entre outros.
Figura 4: característica da área central da cidade. Ijuí/RS.
Fonte: organizado pela autora (2008).
Outra proposta de Callai (2002, p. 129) é o estudo dos bairros. Nas cidades, a
exemplo de Ijuí, existem bairros planejados e outros sem qualquer estruturação. Nos bairros
planejados exibem-se características que contrastam com os demais. Estas diferenciações são
possíveis pelos diversos equipamentos existentes neste bairro, como: escola, creche, posto de
saúde, áreas verdes, de lazer e recreação, associação de moradores, campo de futebol,
playground, entre outros. Mais elementos que podem ser observados são as vias com
pavimentação, canalização de esgotos, energia, iluminação e telefonia. Estas características
distinguem basicamente áreas centrais e periféricas também pelas histórias de lutas e conflitos
em busca de melhorias e ampliações dos serviços de uso coletivos. O padrão de habitação é
outro elemento diferenciador dos espaços urbanos, a exemplo também dos equipamentos
comunitários e infra-estruturas. Certamente que nas cidades existem bairros planejados e
outros que surgiram sem o menor planejamento, aonde os equipamentos e as infra-estruturas
necessárias vão no decorrer do tempo sendo alocados pelo poder público. Estes, na maioria
81
dos casos, são motivo de reivindicação da comunidade em busca de melhores condições de
vida nos locais em que habitam.
As áreas mais periféricas das cidades seguem a tendência geral das cidades
brasileiras, no sentido de receberem menos recursos para aplicação em saneamento básico.
Observa-se que, na maioria dos bairros, as necessidades são iguais quanto ao aspecto social,
ou seja, condição de moradia, trabalho, saúde, educação, lazer e segurança. Em oposição às
áreas periféricas, entretanto, também áreas qualificadas para atender os interesses e
necessidades de seus moradores. Elas possuem outro conteúdo socioespacial, como, por
exemplo, os condomínios fechados. Estes condomínios encontram-se inseridos no interior das
cidades e apresentam habitações de boa qualidade e infra-estrutura, contrastando com as
outras áreas do mesmo bairro. É preciso lembrar que tais condomínios não dependem dos
investimentos do poder público, ao contrário das áreas carentes, as quais, em geral, encontra-
se em tal situação exatamente porque não são assistidas. Têm-se, assim, áreas periféricas que
exigem melhores investimentos, às quais não recebem
DV ³DWHQo}HV´ GR SRGHU S~EOLFR H
privado, por possuírem baixo poder aquisitivo e por isso, não ser, consideradas interessantes
para os investimentos.
Quer dizer, os investimentos em habitação, instalações de serviços, infra-
estruturas e equipamentos urbanos, elementos que qualificam as porções urbanas, estão
intimamente aliadas às decisões políticas e econômicas, que vão atender certas áreas em
detrimento de outras, evidenciando, assim, a configuração territorial das cidades às quais se
pautam nas ações do poder de domínio político.
É preciso frisar que nas cidades são instituídas melhorias significativas,
entretanto, por mais que alguns passos importantes tenham sido dados para minimizar as
conseqüências da ocupação irregular nas áreas urbanas, muito ainda é preciso ser feito para
que se resolva definitivamente tal questão. Isso somente será possível se a sociedade,
conjuntamente com o poder público, assumir o compromisso de resguardar o direito ao meio
ambiente ecologicamente equilibrado para si e para as gerações futuras, tal como prevê o
Estatuto da Cidade. Sobre isto argumenta Azambuja (2008, p. 44):
O Estatuto da cidade traz a idéia de que a cidade é uma construção coletiva e a
fruição de padrões de qualidade de vida é um bem de todos os cidadãos. A
concepção da função social da cidade incorpora a função social da propriedade
urbana, como direito de todos os habitantes e não mero reflexo da produção-
circulação do solo urbano. Estabelece, ainda, a gestão democrática da cidade
conforme preceitua a Constituição Federal.
82
Na atualidade, precisa-se considerar ainda que o desenvolvimento da sociedade
humana provoca transformações nas condições físico-naturais e nas possibilidades efetivas de
manutenção da vida nas diversas regiões da Terra. No estudo destes aspectos é importante o
reconhecimento das condições e dos processos naturais relacionados ao clima, solo, relevo,
hidrografia e vegetação. Este estudo, por sua vez, permite entender a geomorfologia da
cidade, a existência de encostas com declividades impróprias para ocupação, as áreas de
banhado e alagadiças, entre outras, as quais precisam ser preservadas para um ambiente
equilibrado.
A Figura 5 apresenta as áreas urbanas cuja ocupação leva a problemas
ambientais. Por meio deste estudo é possível identificar a existência de áreas que precisam ser
preservadas, ou áreas que estão degradadas, resultado do modo como a sociedade local, no
decorrer da história, apropriou-se utilizando-as para habitação. Estas são ocupadas, em
maioria, por classes desfavorecidas economicamente e que, por falta de condições financeiras,
acabam se instalando nessas áreas.
O mapa permite discutir a efetivação da lei que coíbe a urbanização destas
áreas. Azambuja (2008, p. 38) faz a sugestão de dis
FXWLU³DVVLWXDo}HVGHULVFRDRDPELHQWHHj
população, as áreas protegidas ou preservadas, os impactos de vizinhança e os locais
impróprios ao uso humano e que merecem ser objeto de cuidado e controle.
´2TXHVmRiUHDV
de uso e ocupação do solo (áreas mistas, residenciais, comerciais, serviços, industriais; quem
divide a cidade por zonas)? O que é Plano Diretor, e como posso participar? Por que é
importante participar das decisões de investimentos de obras públicas na cidade? Quais as
áreas que são coibidas de urbanização? Qual a distância das faixas de domínio das rodovias,
ferrovias e matas ciliares? Por que existem estes limites? Qual o recuo que preciso respeitar
para construir e em que regiões da cidade este recuo deve ser respeitado?
83
0 200 400 600 800m
N
Hidrografia
Alagados e Áreas sujeitas
a Inundação
Áreas Instáveis
Núcleo Original
Organização:Sandra Regina de L. Bado
Base Cartográfica: Prefeitura Municipal de Ijuí, 2001.
Fonte: Plano Diretor de Ijuí, 1991.
Rodovia
RS - 342
Catuipe
Sto. Angelo
BR - 285
Augusto
Pestana
RS - 522
Cruz Alta
RS - 342
BR - 285
BR - 285
Sto.
Augusto
RS - 155
Panambi
Ferrovia
Perimetro Urbano
Figura 5: Principais áreas impróprias à ocupação urbana.
Fonte: Plano Diretor da Cidade (1993), organizado pela autora (2008).
Outro aspecto que se pode trabalhar e, inclusive, mapear, como demonstra a
Figura 5, é como se apresenta o desenho urbano, isto é, pode-se identificar fatores históricos,
econômicos ou políticos que condicionam o desenho urbano e demarcam o sítio urbano inicial
da cidade.
³Para compreender como e porque a cidade surgiu, podemos nos perguntar: quais
são as causas que propiciaram a instalação do aglomerado?
´ (AZAMBUJA, 2008, p. 38).
Desse modo identifica-se onde a cidade surge, porque naquele local instalaram-
se os primeiros moradores. Pode-se relacionar a história do lugar aos processos que
comandaram o traçado urbano e explicar porque ocorreu a expansão da cidade ao longo do
tempo (Figura 6).
84
0 200 400 600 800m
N
Organização:Sandra Regina de Lima Bado
Base Cartográfica: Prefeitura Municipal de Ijuí, 2001.
RS - 342
BR - 285
RS - 522
RS - 342
BR - 285
BR - 285
RS - 155
Fonte:Plano Diretor (1991)e PMI (2002).
6
4
Rua do Comércio
5
1- Hospital de Caridade
2- Hospital Bom Pastor
3- Sede FIDENE/UNIJUI
4- Campus UNIJUI
5- Presídio
6- Quartel Militar
7- Cemitério Jardim
8- Praça dos Imigrantes
9- COTRIJUI
1
Perimetro Urbano
Hidrografia
Ferrovia
Rodovia
de 1940 a 1980
Etapas de Ocupação
De 1980 a 1988
Após 1988
De 1901 a 1940
Av Cel Dico
8
3
9
2
7
Figura 6: Etapas da ocupação e expansão territorial urbana.
Fonte: PDDI (1991), organizado pela autora (2003).
Na Figura 6 podem-se perceber as sucessivas ampliações do núcleo central
original, quando aparecem as primeiras vilas suburbanas, originadas a partir da instalação de
loteamentos e as instalações de infra-estruturas para atender à população. Este mapa poderá
ser contrastado com outros mapas da evolução da malha urbana no decurso do processo
histórico. Pode-se observar que a cidade sofreu uma dinâmica intensa na sua população
ampliando a mancha urbana, porém a determinação da Constituição Federal é de que os
mapas devem ser atualizados num intervalo não superior a dez anos. Este trabalho deverá ser
coordenado pelo poder público municipal nas cidades, porém poder-se á terceirizar este
trabalho por meio de licitações, quando uma equipe é contratada para fazer ou atualizar o
Plano Diretor da cidade.
Em geral, independentemente de suas especificidades, todas as cidades são
definidas segundo determinadas características. Uma cidade é dividida em áreas de uso e
ocupação do solo, subdivididas de acordo com suas funções: residencial, comercial, mista e
industrial. Geralmente uma grande parte da cidade é ocupada por residências horizontais ou
85
verticais e atendidas por infra-estruturas como vias de circulação, instalação de energia,
canalização de água e esgotos e equipamentos (hospitais, escolas, postos de saúde, praças,
etc). esta configuração, porém, não é extensiva por toda urbe. A cidade exibe espaços
diferenciados em seu interior, intimamente atrelados a interesses econômicos que elegem
certas áreas para investimentos em detrimento de outras, o que leva à concentração de
serviços, infra-estruturas e equipamentos urbanos em áreas que estão em desenvolvimento,
como as centrais, o que agrava a fragmentação e disparidade socioespacial. Por isso,
segundo Santos (1994, p. 79), as diferentes classes sociais ocupam lugares diferenciados na
malh
DXUEDQD³2VDWRUHVPDLVSRGHURVRVVHUHVHUYDPRVPHOKRUHVSHGDoRVGRWHUULWyULRH
deixam o resto para os outros.´
As classes de maior renda ocupam as melhores áreas: as mais centrais (no caso
das pequenas cidades) e as mais afastadas do centro (no caso das metrópoles). Para Santos
(1994, p. 48),
Hoje, os espaços públicos (praias, montanhas, calçadas, etc.) foram impunemente
privatizados. Temos de comprar o ar puro, os bosques, os planos de água, enquanto
se criam espaços privados publicizados, como os playgrounds ou, mais sintomático,
os condomínios fechados que a gente rica justifica como necessários à sua proteção.
O lazer na cidade se torna igualmente lazer pago, inserindo a população no mundo
do consumo. Quem não pode pagar pelo estádio, pela piscina, pela montanha e o ar
puro, pela água, fica excluído do gozo desses bens, que deveriam ser públicos,
porque essenciais.
A população com menor poder aquisitivo habita áreas impróprias para
urbanização, como faixas de domínio de rodovias e ferrovias, fundos de vales, áreas com
declividades acentuadas, portanto áreas que são coibidas por leis para a urbanização
30
(Figura
7). Estas características internas, segundo Callai (2002, p. 128
³GmR FHUWDIHLomRà cidade,
constituem a paisagem urbana.
´eH[DWDPHQWHnesse sentido que esta autora sugere que estas
áreas devam ser tematizadas, não pelo aspecto físico geomorfológico, mas pelo aspecto social
de análise. São nestes locais que estão muitas vezes acomodados os homens integrantes das
classes menos favorecidas economicamente, esta organização do uso e ocupação do espaço é
o retrato fiel da paisagem urbana das cidades independente do seu tamanho, função ou
hierarquia.
30
A Constituição Federal de 1988, no seu artigo 182, prevê a obrigatoriedade de um Plano Diretor para os
municípios, instrumento de base da política de desenvolvimento e expansão urbana.
86
Figura 7: Urbanização em área de preservação permanente. Ijuí/RS.
Fonte: organizado pela autora (2008).
Ao observar a Figura 7 percebe-se que existem habitações em áreas de
preservação permanente (APPs). Estes espaços são, dentre outros, impróprios para a
ocupação, como matas ciliares, nascentes, margens de ferrovia, rodovia ou em áreas com
declividades acentuadas. Constata-se ainda que em certos casos, estas áreas concentram-se
nas periferias urbanas.
A concentração da população de classes economicamente desfavorecidas
também é observada, muitas vezes, no entorno dos equipamentos que representam uma ação
negativa no território. São exemplos de áreas onde se localizam as penitenciárias, a exemplo
do que acontece em Ijuí (Figura 8).
87
Figura 8: Localização da Penitenciária da cidade - Ijuí/RS.
Fonte: organizado pela autora (2008).
Outras discussões poderão surgir, a exemplo das áreas de ocupação informal
que, na maioria das vezes, exibem-se em áreas carentes. Quais os parâmetros utilizados pelo
IBGE para definir favelas? Loteamentos populares (públicos ou privados)? Quais os critérios
para a localização destes? Lei de zoneamento. As favelas, assim como os loteamentos ilegais,
surgem nos vazios urbanos, geralmente áreas desprezadas pelo mercado imobiliário privado.
Não é por outro motivo que áreas de favelas se multiplicam em áreas públicas, áreas
ambientalmente frágeis, sobre as quais incidem leis protecionistas, como é o caso das áreas
nas beiras dos córregos e banhados. As favelas constituem a expressão viva da materialização
no espaço das desigualdades sociais, da marginalização e exclusão social de parte da
população das grandes e médias cidades do mundo subdesenvolvido. É também a forma de
sobrevivência encontrada pelos pobres, quando ser pobre não é apenas não ter, mas,
sobretudo, ser impedido de ter.
Para a delimitação das áreas de favelas, faz-se necessário seguir critérios do
Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). Neste aspecto é importante que os
alunos realizem uma investigação. Ou seja, façam uma pesquisa sobre os aglomerados,
subnormais ou as áreas de favelas da cidade. Para denominar uma porção urbana como área
de favela, é necessário, segundo o IBGE, que estas áreas sejam constituídas por um conjunto
de, no mínimo, 51 unidades habitacionais construídas em propriedade alheia, pública ou
88
privadas, geralmente dispostas de forma desordenada, densa e carente de serviços públicos
essenciais. Assim, os principais critérios para definição de favela são: a ocupação ilegal da
terra, urbanização fora dos padrões vigentes, e a precariedade de serviços públicos essenciais.
Em nenhuma área a paisagem urbana da cidade de Ijuí contempla estes critérios, de modo
que, apesar de exibirem características nítidas de favela, não podem ser enquadradas como tal.
Mesmo assim, estas áreas foram m
DSHDGDV H GHQRPLQDGDV ³IDYHODV´ pelo Plano Diretor de
Ijuí/RS, realizado em 1991.
Outro aspecto que merece ser estudado é o tamanho da aglomeração em termos
de quantidade de pessoas, mas principalmente do ponto de vista das densidades populacionais
nos diversos bairros (Figura 9). A densidade demográfica média varia de uma cidade para
outra ou dentro de uma cidade, de um bairro para outro. Ela indica a relação entre a população
e a superfície territorial. Pode ser considerada como um elemento básico de cálculo da área
necessária para a instalação de um plano urbanístico. Serve também para estabelecer a
estimativa da ocupação populacional do solo urbano e da maior ou menor concentração dos
habitantes em qualquer dos setores (PUPPI, 1981).
O estudo do lugar, a partir das densidades urbanas, pode ser uma forma de
trabalhar o cotidiano dos alunos na construção do conhecimento geográfico. A Geografia,
enquanto um campo particular do conhecimento, tem o objetivo de apreender o espaço em
que se vive, condição para o alcance da cidadania, o que, mais adiante, possibilita conhecer
outras totalidades.
Para o planejamento das cidades, as densidades demográficas são informações
fundamentais, porque revelam as condições favoráveis à vida associativa, a definição da
característica urbana e, ainda, a otimização dos equipamentos urbanos e serviços de infra-
estrutura. Se não adensamento populacional, para quem instalar as melhorias urbanas?
Nesse sentido, a distribuição dos equipamentos coletivos pela cidade leva em consideração o
número de habitantes deste lugar (FERRARI, 1991).
89
0 200 400 600 800m
N
Organização: Sandra Regina de L. Bado
Base Cartográfica: Prefeitura Municipal de Ijuí, 2001.
Fonte:
IBGE. Censo Demográfico, 2000.
25,16 - 34,27
16,35 - 21,80
74,82
36,70 - 54,65
1 - 12,24
Figura 08 - Densidade Demográfica dos Bairros da Cidade de Ijuí/RS, em 2000
Densidade demográfica hab/ha
Figura 9: Densidade demográfica ± Cidade de Ijuí/RS.
Fonte: PDDI (1991), organizado pela autora (2008).
É mediante a densidade populacional que o espaço se expressa numa paisagem
dual, ou seja, a zona nobre em contrapartida com a pobre, desde os mais variados padrões de
habitações, localizadas em lotes formais, a outras, concentradas em pequenas porções, não
raro em áreas impróprias para ocupação humana
31
, caracterizando a representação das
diferenças econômicas, sociais e culturais. Nesse sentido é que se considera importante
estudar as densidades populacionais e mapeá-las nas diferentes escalas geográficas, desde a
local até a mundial, pois, por meio da sua leitura nos mapas, é possível visualizar as
concentrações humanas, desde as metrópoles, até as menores cidades contrapostas às áreas de
vazios urbanos.
Este tema,
³GHQVLGDGHV XUEDQDV´, chamou a atenção nas respostas dos
professores
32
em decorrência do questionário aplicado. Do total de 10 professores, quatro
31
As áreas coibidas para urbanização são encostas com declividades acentuadas, faixas de rodovias e ferrovias,
áreas de mananciais, matas ciliares, entre outras previstas pelos Planos Diretores das cidades.
32
O questionário realizado com os professores de Ensino Médio nesta tese revelou que alguns deles não
consideram esta temática importante no ensino da Geografia, tampouco o mapa de densidade da cidade seria
utilizado por eles.
90
deles (1, 2, 4, 10) não assinalaram este item como um tema para trabalhar nas aulas de
Geografia. Outro professor (9) diz:
³não trabalho com estes mapas no Ensino Médio.´ Porém
o Livro Didático de Geografia traz uma tematização das densidades urbanas, desde o contexto
das grandes cidades, onde a temática se define em cidades superpovoadas, a exemplo das
megacidades.
Diante da importância deste tema para a estruturação e planejamento das
cidades, pode-se concluir que, diferente do que pensam alguns professores participantes desta
pesquisa, a tematização e o mapeamento das densidades urbanas das/nas cidades devem ser
estudados nas aulas de Geografia e, por sua complexidade, no Ensino Médio.
Existem, porém, outras temáticas que podem fazer parte do estudo da cidade.
Dentre estas, o transporte coletivo é um importante indicador para entender a dinâmica interna
da cidade. Por meio da distribuição da sua rede, é possível dimensionar os fluxos urbanos
tanto de pessoas como de mercadorias. É também possível observar os bairros que contêm
maiores fluxos. Esta análise permite entender que nos locais melhor servidos de linhas de
transportes estão também localizados os trabalhadores formais. Em contrapartida, um tráfego
menos intenso pode ser explicado pela falta de trafegabilidade das vias e a impossibilidade de
a população pagar por esse serviço, pois, não por acaso, nos locais em que as linhas de ônibus
são reduzidas estão também localizadas as pessoas de classes menos favorecidas
economicamente, conforme Peixoto (2001, p. 134):
Do conjunto de bens de consumo coletivo básicos da cidade, que se colocam como
direito do cidadão, o sistema de transporte impõe-se hoje como uma necessidade
essencial à vida deste cidadão e ao funcionamento da cidade, visto que possibilita a
mobilidade do cidadão no espaço urbano.
Neste caso seria interessante apresentar para os alunos um mapa básico do
arruamento da cidade para que nele os alunos possam delinear o percurso das linhas de
transporte coletivo utilizados em seus cotidianos. Esta contraposição, com os diferentes mapas
que serão compostos pela diversidade de alunos, poderá surtir em diferentes leituras: a
disponibilidade de linhas de transporte coletivo e, o seu percurso. Nesse exercício, pode-se
perceber, por exemplo, que as linhas apresentam-se mais intensas nos locais/bairros onde a
população pode pagar pelo serviço, contrapondo às áreas mais periféricas, onde se encontram
instaladas as pessoas com menor poder aquisitivo e que, dente outros motivos, não possuem
condições para pagar pelo transporte. O valor pago por este serviço muitas vezes representa
91
uma parcela significativa no salário das famílias, impossibilitando-as de usufruir deste
serviço.
As discussões que podem ser sugeridas: o transporte não percorre alguns
bairros e oferece horários variados e intensos em outros; valor cobrado pela concessionária
dos serviços; planejamento das linhas; fluxos de pessoas e mercadorias e a relação com os
bairros formais e informais? Porém, existem outros temas que, podem compor importantes
debates em sala de aula, os quais se podem citar: a coleta de resíduos sólidos urbanos,
impacto social do catador de resíduos sólidos, preconceito ante aos catadores; excluídos do
processo, pertencentes ao circuito inferior da economia urbana, e quem participa do circuito
superior?
A tematização sobre as infra-estruturas é fundamental para o entendimento da
própria estrutura urbana, razão pela qual é necessário compreender as transformações que
afetam a cidade e, sobretudo, o cotidiano dos seus habitantes. As infra-estruturas que podem
ser levantadas/mapeadas são: abastecimento de água, energia elétrica, rede de esgotos, coleta
de lixo, telefonia, rede viária e pavimentação, transporte coletivo, arborização viária, entre
outras.
Outros elementos que podem ser mapeados são os equipamentos coletivos,
definidos por Ferrari (1991), como elementos que efetivamente compõem e dão sustentação à
dinâmica urbana, pois visam, em seu conjunto, a melhoria da qualidade e das condições de
vida da população, bem como o suprimento de necessidades emergentes por intermédio de
sua distribuição ao longo do tecido urbano. Por meio desta leitura, podem surgir
questionamentos: quais os equipamentos comunitários e as infra-estruturas que existem no
seu bairro/cidade? Sob quais critérios estes elementos são distribuídos no território urbano?
Por que alguns bairros exibem equipamentos e outros não? Quais são as políticas que tratam
estas questões? Como as associações representativas podem influenciar? Quais as
conseqüências para os moradores quanto à carência destes equipamentos? Porque eles
interferem na qualidade de vida dos cidadãos?
A busca pela qualidade de vida urbana remete à investigação de diferentes
aspectos da cidade, de tudo aquilo que nela se vê, que se expressa na paisagem, que está ou
não explícito, aparente e, por isso, se pode observar, analisar, constatar, relacionar. Trata-se
do lugar e do mundo em suas partes, as relações entre a sociedade e a natureza, entre o
92
individual e o coletivo, o homem e o cidadão, o real e o imaginário. A cidade é construída e se
expressa na dinamicidade das relações que lhe conferem forma e conteúdo, justamente o que
configura a sua paisagem. Apesar de ser construída e organizada pelos homens, a cidade não
está disponível para todos, mesmo para aqueles que ajudaram a construí-la. Em geral, o que
garante a acessibilidade de um morador às estruturas urbanas não é o fato de construí-las ou
de, simplesmente, morar nelas, mas poder pagar por isso: pela habitação, educação, saúde,
circulação, segurança, etc.
Existe uma infinidade de temas do cotidiano do aluno que podem ser estudados
nas aulas de Geografia, os quais ficariam difíceis de serem esgotados neste estudo. Afirma-se,
porém, que não é esta a intenção. Por isso, optou-se por alguns daqueles destacados por Callai
(2002) e Azambuja (2008), uma vez que a intenção foi apenas pensar e articular o ensino de
Geografia com temas referidos ao cotidiano do aluno, ou seja, que fossem significativos para
eles.
4.2 O livro didático de Geografia: em busca do tema Cidade
Apesar de os PCNs recomendarem a diversificação dos recursos pedagógicos
como orientação à prática docente, na análise dos questionários os livros didáticos
apresentam-se como recursos de maior importância na rotina da sala de aula, como exposto
anteriormente, porém avaliam que este recurso apresenta limitações, sendo necessária a
complementação de seus conteúdos. Isso acabou exigindo uma tematização tanto a respeito da
função e status da obra didática na prática docente em geral, quanto uma apreciação crítica
das obras adotadas pelos professores, especialmente no que diz respeito ao modo como o tema
cidade vem nelas apresentado. Esta análise encaminha-se baseada nas discussões do PNLEM,
as quais apresentam tanto um posicionamento crítico a respeito da importância das obras
didáticas em geral, quanto de cada obra em particular.
A ampliação dos recursos didáticos tornou-se um imperativo diante da
necessidade de se desenvolver experiências pedagógicas significativas em sala de aula, logo,
em estreita sintonia com as realidades de vida dos alunos. O PNLEM surge, diante desse
quadro, como uma forma de comprometimento das políticas públicas com a melhoria da
qualidade de ensino, uma vez que ela implica também no compromisso de pensar a melhoria
dos recursos didáticos. Daí a razão pela qual o presente estudo buscou avaliar as obras
didáticas: primeiramente, por ser o principal recurso utilizado pelos professores entrevistados
93
em sua prática pedagógica e, em segundo, pelo PNLEM reconhecer que a obra didática
configura uma orientação importante aos professores. Segundo o Programa, a obra didática
deve considerar em sua proposta científico-pedagógica algumas premissas básicas: 1) o perfil
do aluno e dos professores visados; 2) as características gerais da escola pública; 3) as
situações típicas de interação professor-aluno; 4) os conteúdos compatíveis e atualizados; 5)
os saberes referenciados nas orientações curriculares oficiais.
Em síntese, por atender uma etapa do processo ensino-aprendizagem, os
critérios supracitados devem contribuir, antes de tudo, ao atendimento dos objetivos gerais
estabelecidos pelo artigo 35 da Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional (LDB
9.394/96)
33
(BRASIL, 1999a), ou seja, não podem veicular preconceitos, ignorar as
discussões atuais nas teorias e práticas pedagógicas, repetir estereótipos, conter informações e
conceitos errados ou análises equivocadas, tampouco, contrariar a legislação vigente, o que
significa, conforme o PNLEM, que tais obras não podem vir organizadas com base em
informações, regras e recomendações que visem apenas à preparação profissional ou o
ingresso do aluno no Ensino Superior, mas possibilitar o acesso a conhecimentos que
contribuam ao crescimento pessoal, intelectual e social, o que, segundo Nunes (2002, p. 74),
³QDGDWHP a ver com o ensino enciclopedista e academicista dos currículos do Ensino Médio
tradicionais, reféns do exame vestibular.
´ 3RU LVVR p TXH R 31/(0 HQWHQGH TXH D SUiWLFD
docente não deve se reduzir à obra didática, mas apoiar-se nela apenas como um dos recursos
à organização e aprofundamento metodológicos coerentes com as concepções pedagógicas
dos professores e do Projeto Político Pedagógico da Escola.
Tendo em vista a proporção que a análise dos livros didáticos seguiu, decidiu-
se fazer aqui a descrição e a análise de cada livro particularmente. Isto se fez necessário para
poder descrever, sistematizar e analisar como a cidade é abordada por estes livros. Os quadros
que seguem descrevem individualmente cada livro didático.
33
Esta Lei estabeleceu as diretrizes e bases da educação nacional (LDB), tirando do Ensino Médio o caráter
exclusivo de etapa cumulativa de informações para o vestibular ao estabelecer, em 1998, as Diretrizes
Curriculares Nacionais para o Ensino dio (DCNEM), ao propor que o principal objetivo desse período
escolar seja preparar o aluno para o exercício da cidadania (ALMEIDA; RIGOLIN, 2005, p. 3).
94
4.3 Investigando o livro didático
Para dar início à análise dos livros organizou-se um roteiro com base na ficha
de avaliação do livro didático de Geografia, promovido pelo PNLEM 2006/2007. Em
primeiro lugar buscou-se identificar à qual eixo temático o tema cidade está associado; em
segundo, verificar se o livro permite a correlação entre o global e o local; e, por último, mas
não menos importante, se os temas contribuem à formação cidadã, estimulando hábitos e
atitudes e comportamentos que favoreçam o convívio social a partir das relações cotidianas do
aluno. Seguiram-se as indicações de Callai (1999b, p. 76) para justificar o estudo do local
para a compreensão das relações sociais ínsitas no espaço habitado.
Formar o cidadão significa dar condições ao aluno de reconhecer±se como um
sujeito que tem uma história, que tem um conhecimento prévio do mundo e que é
capaz de construir o seu conhecimento. Significa compreender a sociedade em que
vive, a sua história e o espaço por ela produzido como resultado da vida dos
homens. Isso tem de ser feito de modo que o aluno se sinta parte integrante daquilo
que ele está estudando. Que o que ele está estudando é a sua realidade concreta,
vivida cotidianamente, e não coisas distantes e abstratas.
Cabe destacar que os critérios descritos a seguir, pelos quais as obras didáticas
foram analisadas, direcionam-se apenas para as unidades e respectivos capítulos que
abordarem o tema cidade.
Na seqüência estão elencados os itens pelos quais se pretende analisar os livros
didáticos de Geografia utilizados pelos professores nas escolas de Ensino Médio, da cidade de
Ijuí, no período de 2006-2008:
1) Unidade temática: pretende identificar à qual conteúdo este tema está vinculado;
2) Escala de análise: pretende identificar se o tema cidade é apresentado; considerando-se a
distinção e articulação em diferentes escalas geográficas;
3) Conceito: identificar como desenvolve a construção do conceito cidade;
4) Construção da cidadania: perceber se a abordagem do tema estimula hábitos e atitudes
voltados à formação da cidadania.
5) Análise e descrição: breves considerações.
Cada item subseqüente apresentará a apreciação de uma obra. Apesar de toda
descrição trazer, implícito, elementos interpretativos dos quais não se pode desviar
95
inteiramente
34
, o primeiro passo seguirá o método descritivo para o preenchimento do quadro,
destacando elementos comuns ou divergentes das informações encontradas. O segundo passo
constará de uma avaliação mais crítica, logo, uma interpretação mais livre em termos de
estabelecimento de relações tanto com o tema cidade como entre as obras, verificando, a
partir do assunto, a possibilidade de formação para a cidadania, de possíveis conseqüências
quanto ao modo de sua abordagem, de questões implícitas ou indiretamente referidas em sua
apresentação, etc. Ou seja, uma leitura que considere aspectos da obra não propriamente
classificáveis, segundo os critérios supracitados.
Dentre os livros de Geografia mencionados pelos professores, um deles se
destacou. Trata-se da obra de Almeida e Rigolin (2005) para o Ensino Médio. Este foi o mais
citado pelos professores, e é por ele que se inicia a descrição no Quadro 7 e posterior análise.
4.3.1 Geografia: Almeida e Rigolin (2007)
35
DESCRIÇÃO DO LIVRO
Título
Geografia
Autor
ALMEIDA, Lúcia Marina Alves de;
RIGOLIN, Tércio Barbosa
Editora
Ática
Edição
Série
Novo Ensino Médio
Volume
Único
Ano
2007 (esta edição é igual à de 2005, difere-se
apenas no título)
Nº de páginas
448
Pertence ao catálogo
PNLEM
( X) Sim
( ) Não
Quadro 7: Geografia (ALMEIDA; RIGOLIN, 2007).
Fonte: organizado pela autora (2008).
34
Segundo a Filosofia hermenêutica de Gadamer (1999, p. 709), toda compreensão, a qual pressupõe todo ato
descritivo, é preconceituosa, no sentido de que traz incontornavelmente elementos de interpretação, marcas de
subjetividade daquele que descreve.
35
As edições de 2005 e de 2007 apresentam conteúdos idênticos. Já as edições de 2004 e de 2008, obras
recomendadas pelo PNLEM, apresentam-se igualmente idênticas. Quanto à questão da temática urbana, as
edições de 2004 e 2008 ampliam as discussões a respeito da cidade, ou seja, questões que nas edições de 2005
e 2007 foram desenvolvidas superficialmente são naquelas aprofundadas.
96
1) Unidade temática: está dividida em três unidades temáticas:
a) A questão ambiental: natureza, sociedade e tecnologia
b) O mundo em transformação: economia e geopolítica
c) O espaço geográfico brasileiro
O tema cidade está localizado nas seguintes unidades:
± Unidade 1: Item 21 ± ³&LGDGHVDXUEDQL]DomRGDKXPDQLGDGH´
± Unidade 1: Item 22 ± ³5HGHVXUEDQDVDKLHUDUTXLDGDVFLGDGHV´
± Unidade 3: Item 76 ± ³8UEDQL]DomRHUHJL}HVPHWURSROLWDQDVEUDVLOHLUDV´
2) Escala de análise: Global e Nacional.
3) Conceito de cidade
Unidade 1: Item 21
9 Assume a definição de cidade pela ONU, segundo a qual a cidade é definida pelo
número de habitantes. Menciona os aspectos físicos, arquitetônicos, históricos e
culturais das cidades, porém não aprofunda a discussão sobre as diferenças existentes
entre as cidades. Diferencia cidade planejada de espontânea. Destaca a função das
cidades: comercial, militar, política, religiosa. Demonstra o crescimento da população
urbana no mundo, diferenciando as cidades de países desenvolvidos e
subdesenvolvidos Descreve os problemas comuns das cidades tais como trânsito,
poluição, violência e custo de vida (Figura10).
Item 22
9 O autor traz a diferenciação entre urbanização e crescimento urbano. Conceitua
megacidades, cidades globais, metrópole e megalópole.
Unidade 3: Item 76
9 Realidade urbana brasileira, o acelerado crescimento da população nas cidades
(gráfico), a rede urbana do Brasil, hierarquia das cidades brasileiras, regiões
metropolitanas, principais problemas sociais das metrópoles brasileiras. Neste item o
autor faz apenas menção aos problemas metropolitanos (p. 437)
4) Construção da cidadania: Almeida e Rigolim (2005) destacam, na apresentação da obra,
que os conteúdos o pensados numa proposta de formação para a cidadania, no entanto,
pode-se perceber que estas questões (relativas à formação da cidadania) se apresentam de
97
forma sucinta. Portanto, não é priorizada pelos autores, não intencionam provocar no
educando a critica. Percebe-se que os autores apresentam os temas, mas o no intuito de
aprofundar apenas se detêm em apresentar as diferenças tecnológicas e não a possibilidade
de transformar a abordagem urbana em uma reflexão crítica.
5) Lúcia M. Alves de Almeida e Tércio B. Rigolin
± breves considerações
Em sala de aula o professor terá uma obra densa em informações, atualizada e correta,
mas deverá procurar alternativas para estimular a problematização dos conteúdos e a
reflexão crítica dos alunos. Neste sentido, o professor teria que buscar novas alternativas
para complementar à aprendizagem. Estas alternativas são sugeridas no final dos
capítulos, em dicas de filmes, livros e sites sugeridos. O tratamento simplificado dado aos
conteúdos de Geografia Física, inseridos na primeira unidade, também exige atenção do
professor. Na busca de um equilíbrio temático, poderia o professor se utilizar de fontes
complementares referentes à integração dos conteúdos de Geografia Física e da Humana
e, ainda, a complementação destes conteúdos.
³Trata-se de uma obra que, apesar das
ressalvas apontadas, é capaz de seduzir o leitor a manuseá-la e incorporá-la como
instrumento de apoio ao processo de ensino-aprendizagem.
´ (BRASIL, 1999b).
A presente obra é adotada pela maioria dos professores entrevistados, como sistematizado
no Gráfico 2. Ela se caracteriza pela predominância de elementos descritivos e
informativos e propicia um contato com os principais temas da disciplina. A informação é,
muitas vezes, mais valorizada do que a reflexão e a problematização dos temas. Apesar do
volume de informações, as contextualizações dos conteúdos, na interdisciplinaridade e no
estímulo ao raciocínio, são pouco estimuladas. A divisão de temas da Geografia Física e
da Geografia Humana é evidente, refletindo uma limitada correlação entre natureza e
sociedade
36
. Em termos gerais, insere-se nesta obra a sociedade como principal sujeito
transformador da natureza, predominando os conteúdos da Geografia Humana em
detrimento do tratamento simplificado da Geografia Física, o que exige atenção do profes-
sor em buscar o equilíbrio entre estas duas temáticas, natureza e sociedade. Exemplo disso
pode ser verificado na Unidade 1. Nela, a compreensão da questão ambiental parte do
espaço geográfico enquanto natureza transformada mediante a intervenção antrópica que,
fazendo uso dos avanços tecnológicos, busca transformar o espaço.
36
A análise do Gráfico 1 permitiu avaliar que os professores indicam a relação natureza-sociedade como um dos
temas que contribuem na formação cidadã dos alunos.
98
Com relação à abordagem do espaço urbano, especialmente quando os autores destacam
os problemas das cidades de países subdesenvolvidos, indica a gênese das favelas na falta
de moradia e no seu elevado custo (Figura 10), ao invés de relacioná-lo ao contexto
histórico, político e econômico. Sobre isto Spósito (2001, p. 501-561) disponibiliza uma
coletânea de textos de diversos autores no livro: Urbanização e cidades, perspectivas
geográficas, os quais poderão servir como fonte teórica de pesquisa. Nesta obra os autores
discorrem sobre quais os caminhos possíveis para se pensar o sentido de cidade neste fim
de século enquanto resultado do processo histórico, social e desigual, a qual se expressa e
uma síntese entre o local e o global. Discutem desde a dramaticidade da vida humana nas
grandes metrópoles industriais até as cidades médias brasileiras, os desafios e as
complexidades de seu papel enquanto fragmento do todo. Como se pode notar na Figura
10, os autores tematizam os problemas urbanos, apenas nas grandes cidades. É justamente,
nesse sentido que a indicação desta obra torna-se pertinente no sentido de ser fonte de
pesquisa na complementação do estudo sobre cidades, uma vez que tematiza desde as
metrópoles até as cidades médias com suas especificidades contemporâneas.
Figura 10: Apresentação dos problemas urbanos nas grandes cidades.
Fonte: ALMEIDA; RIGOLIN (2007, p. 140).
A tematização do espaço urbano apresentado pelos autores, a exemplo da
(Figura 10) do livro, indica que os problemas urbanos, os conflitos diversos, a violência, etc.,
são características dos grandes centros ou das metrópoles: trânsito complicado, poluição
visual e auditiva, poluição do ar, do solo e das águas, violência, vida cara e difícil, têm
atormentado os habitantes das cidades grandes. Contraditoriamente, entende-se que todas as
cidades exibem os mais diversos problemas e que estes não estão relacionados apenas às
grandes cidades. Concorda-se com Carlos (2001) para quem o homem não habita a metrópole,
99
mas lugares das metrópoles onde se desenrola a vida, marcada pelas relações entre o trabalho,
a moradia, a educação e os trajetos cotidianos.
[...] a vida cotidiana é o lugar onde se e se pode ler o conflito, a imposição da
necessidade e sua superação, o que explica a luta dos habitantes dos bairros
DWLQJLGRV SHOD PDQXWHQomRGRTXH GHQRPLQDP ³TXDOLGDGH GHYLGD´ ± onde a vida
ainda não se banalizou, onde a permanência mantinha a identidade. Lugar de
reconhecimento. Território demarcado, específico, particular. (CARLOS, 2001, p.
279).
Seabra (2001, p. 75) reforça dizendo que ³[...] metrópole e cidade não são
fenômenos equivalentes, porque a metrópole é a síntese contraditória da cidade, e enquanto tal
guarda fragmentos do que envolve: da cidade e dos bairros.
´ Mas, em verdade, como
realidade contemporânea, é preciso compreendê-la e, sobretudo trazê-la à teoria e ao conceito.
Segundo se pode conferir em Santos (1994, p. 95), os problemas urbanos não
se relacionam com o tamanho das cidades, mas surgem juntamente com as cidades. De acordo
com este autor,
³WRGDVDVFLGDGHVH[LEHPSUREOHPiWLFDVSDUHFLGDV; o grau e a intensidade dos
problemas é que as diferem, mas em todas elas problemas como o emprego, habitação, saúde
e educação são genéricos e relevam enormes carências.
´É admissível que nas cidades são
exibidos os mais diversos problemas e, que estes facilmente se expressam na paisagem
urbana, ao contrário daquilo que a obra de Almeida e Rigolin (2005) demonstra na Figura 10.
São problemas ínsitos das cidades, independente do seu tamanho, hierarquia ou função. Pode-
se avaliar, nesse sentido, que os alunos residentes nas grandes cidades são contemplados na
abordagem dos temas, pois relatam a realidade vivida percebida por estes alunos. Nesse
sentido, a possibilidade de correlação dos conteúdos é privilegiada pelos alunos moradores
destas áreas, em detrimento aos residentes nas cidades menores.
Na Unidade 3 o livro (exatamente no capítulo 76) retoma a questão urbana
abandonando as temáticas sobre a urbanização e regiões metropolitanas. Inicia o capítulo
citando o Estatuto das cidades (Figura 11). Enfatiza a aceleração do crescimento urbano, a
rede urbana, a hierarquia das cidades, porém não apresenta a constituição e formação das
áreas urbanas brasileiras tampouco sua organização (municipalização, plano diretor, lei
orgânica e outras esferas organizacionais), o que é resumidamente abordado em outras
edições destes autores (2004; 2008
37
).
37
A edição de 2008 foi um dos livros aprovados pelo PNLEM e analisado pelos professores da rede pública de
Ijuí/RS para ser utilizado em 2009.
100
Figura 11: A urbanização nas regiões metropolitanas.
Fonte: ALMEIDA; RIGOLIN (2007, p. 434).
Percebe-se que os autores não abordam os diversos locais que compõem a
paisagem urbana, tais como as periferias, compreendidas a partir dos diversos confrontos
sociopolítico-econômicos. São exemplos, a organização de bairros, diferenças de renda das
regiões centrais e periféricas e a organização socioespacial. O livro não aborda as
diversidades urbanas, tampouco a importância das cidades e a relação das metrópoles com as
cidades menores
38
, o que não implica que este tema deva vir abordado em escala local, mas
pode sugerir ao professor que este faça a correlação do tema. Subjuga-
VHDLVWR³VHRREMHWLYR´
for o entendimento do lugar como espaço de vivência e como local para a construção da
cidadania, tal qual recomenda as Ocem (BRASIL, 2006, p. 44).
A obra não contempla a relação do padrão centro-periferia exibido pela maioria
das pequenas e médias cidades, onde o espaço periférico é basicamente constituído de
população de classes populares e a área central de população de classes mais elevadas. Não
instiga a abordagem da distribuição socioeconômica da população nas cidades, ou seja, quem
ocupa a periferia e por que se instala nestas áreas, qual a classe social que representam e qual
a sua participação na transformação do espaço em que estão inseridos.
38
Sobre cidades médias uma classificação ou conceito ver SPÓSITO (2001, p. 611-617).
101
Figura 12: Padrão habitacional ± área central e periferia. Ijuí/RS.
Fonte: organizado pela autora (2008).
O professor poderá delimitar, outros tantos temas, os quais podem discorrer do
seu próprio olhar, dos alunos, ou da comunidade escolar. A correlação entre o processo de
urbanização contemporânea das cidades e sua diferenciação com as cidades de cadas
passadas, é uma tematização importante para que o aluno compreenda a diferenciação de
espaço tanto na área geográfica, como nas atividades ligadas ao setor secundário e terciário,
isto é, indústria e comércio. Ainda é preciso fazer a correlação entre a porcentagem de
população brasileira (83%)
39
vivendo nas cidades, não somente pelos números populacionais,
mas principalmente pelo aspecto qualitativo, de modo que o motivo da permanência no
espaço urbano e a intensidade de fluxo no mesmo espaço, devem ser considerados.
Esta densificação urbana ou a migração das pessoas para as cidades, é
influenciada pelas facilidades que as cidades podem oferecer como a existência de infra-
estruturas, de equipamentos coletivos e a distribuição destes por todo o território, permitindo
que os citadinos urbanos residam próximo das escolas, ambulatórios, hospitais, áreas de lazer
e recreação, etc. Estes elementos certamente são fatores atrativos da vida nas cidades. Aliado
a isto, pode-se considerar que o uso das tecnologias nas áreas agrícolas provocou a
diminuição da mão-de-obra humana, conseqüentemente o trabalhador destas áreas migrou
para as cidades em busca destas facilidades e, principalmente, em busca de emprego e renda.
39
Segundo o IBGE a porcentagem da população brasileira vivendo nas cidades é de aproximadamente 83,4%. O
restante encontra-se residindo em áreas rurais. Esse índice permite dizer que o Brasil é predominantemente
XPSDtVXUEDQR3DUD&DYDOFDQWLSSRUpP³PDLVGHGDSRSXODomREUDVLOHLUDYLYHHPFLGDGHV´
102
,QVHULGRV QRV ILQDLV GRV FDStWXORV RV DXWRUHV WUD]HP ³R FRQWH[WR GR WH[WR´
.
Neste a obra apresenta pequenos textos de outros autores que instigam uma reflexão sobre o
conteúdo do capítulo estudado. Como exemplo, cita-se o texto da página 146:
³6mR3DXORD
maior cidade do país, cresceu mal.´ (Figura 13). Este texto traz uma abordagem sobre a
concentração da população nas áreas periféricas e sem um planejamento. Nesta metrópole o
crescimento populacional foi notado em áreas sem infra-estrutura.
³(stá ocorrendo uma
expulsão das áreas centrais, e que a metade da população mora de forma irregular, instigando
ao aluno pesquisar os fatores desta concentração e afirmando que a moradia deverá ser
prioridade, bem como o planejamento metropolitano
´ Percebe-se que o texto refere-se à
FLGDGH GH 6mR 3DXOR SRUpP D LQIRUPDomR GH TXH ³p QHFHVViULR SODQHMDU VRPHQWH DV iUHDs
PHWURSROLWDQDV´QmRcontempla a necessidade de um planejamento igualmente disponibilizado
para todas as cidades, independente de seus tamanhos e/ou hierarquias. Pensa-se na seguinte
hipótese: comparados aos índices oficiais, as estatísticas apontam para o contínuo crescimento
das cidades e, conseqüentemente, dos problemas urbanos. Nestes termos faz-se necessário um
planejamento deste espaço a fim de contemplar as infra-estruturas e os equipamentos de
consumo coletivo. Mais ainda, torna-se imprescindível, além das políticas públicas, a
participação das pessoas no processo.
Outra questão que pode ser constatada na edição de 2005 é de que os autores
preferem separar a abordagem de conteúdos que, se colocados em seqüência, poderiam levar
o aluno a uma reflexão conjunta sobre o tema, uma vez que estes tratam igualmente de
questões ligadas à
XUEDQL]DomRDFLGDGHHRXUEDQR6mRH[HPSORVFDStWXOR³$SRSXODomR
GD WHUUD IDWRUHV GR FUHVFLPHQWR GHPRJUiILFR H WHRULDV GHPRJUiILFDV´ FDStWXOR  ³$
população da terra e suas diversidades´ FDStWXOR  ³&LGDGHV D XUEDQL]DomR GD
humanidade´HFDStWXOR³5HGHVXUEDQDVDKLHUDUTXLDGDVFLGDGHV´Constata-se que se os
conteúdos estivessem próximos/conjuntos, facilitariam a assimilação da abordagem pelo
aluno.
Ao adotar o livro didático, portanto, o professor exerce a função de sensibilizar
os alunos para uma busca ampliada dos conteúdos propostos neste material. Transfere-se para
o professor, assim, a responsabilidade de fazer a correlação dos conteúdos para uma escala
geográfica local de análise.
Nas diversas unidades, o livro traz rapidamente, entremeado aos conteúdos,
uma concepção do estudo do urbano e do rural. Os autor
HVSUHIHUHPXWLOL]DURWHUPR³XUEDQR´
103
quando se referem j ³FLGDGH´. Esta separação entre urbano e cidade é tematizada em
Cavalcanti (2002), porém segundo a autora, ambos são/estão correlacionados e nesse sentido
precisam ser estudados como conteúdos da urbanização
40
.
O fato de esta obra apresentar os conteúdos separados em três grandes
Unidades é considerada positiva pelo professor 9 (anexo), que diz:
[...], sigo inclusive a orientação dos autores, pois eles já trazem separadas as
Unidades que preciso trabalhar, assim não preciso me preocupar, faço uma tomada
da maioria dos temas propostos pelo livro. Ele é bem abrangente. Neste caso, se
assim desejar, o professor poderá, simplesmente, seguir a ordem dos capítulos e ir
trabalhando segundo a lógica apresentada pelos autores.
Considera-se, no entanto, que mesmo que o docente tenha uma obra densa em
informações, atualizadas e corretas, pode procurar ainda alternativas para estimular a
problematização dos conteúdos e a reflexão crítica dos alunos. Nesse sentido, poderá buscar
tais alternativas para complementar a aprendizagem em filmes, livros e sites sugeridos,
inclusive pelos autores ao final de cada unidade do livro. Os autores finalizam as unidades
com questões que sintetizam os conteúdos, no intuito de facilitar a reflexão do aluno. São
apresentadas ainda questões específicas para o vestibular e para o Exame Nacional do Ensino
Médio (Enem).
4.3.2 Geografia do Brasil e Geral: Silva (2005)
DESCRIÇÃO DO LIVRO
Título
Geografia do Brasil e Geral: povos e
territórios
Autor
SILVA, Vagner Augusto da
Editora
Escala educacional
Edição
Volume
Único
Ano
2005
Nº de Páginas
377
Pertence ao catálogo
PNLEM
( X ) sim
( ) não
Quadro 8: Geografia do Brasil e Geral: povos e territórios (SILVA, 2005).
Fonte: organizado pela autora (2008).
40
Sobre conteúdos de urbanização ver SEABRA (1997).
104
1) Unidade temática:
9 Unidade 1 ± Geografia do Brasil, a qual se divide em 8 capítulos. Destes interessa-nos
o capítulo 5: Urbanização.
O livro concentra os conteúdos para serem tratados nos três anos do Ensino Médio.
Assim apresenta três grandes unidades, à qual se subdivide em capítulos. Na 1ª,
unidade, o assunto refere-se à Geografia do Brasil; na Unidade, é a Geografia dos
países desenvolvidos; na 3ª unidade, tematiza a Geografia dos países sub-
desenvolvidos. Os autores defendem a idéia de que esta divisão viabiliza o
desenvolvimento dos assuntos, contemplando a localização espacial dos fenômenos
estudados. E ainda, que essa divisão não interfere a análise das grandes questões
temáticas de caráter global, pois elas foram sendo inseridas no decorrer da obra,
sempre que o seu estudo mostrou-se imprescindível ao aprendizado do aluno.
2) Escala de análise: A discussão de questões globais é realizada a partir de três recortes
espaciais pré-estabelecidos (Brasil, países desenvolvidos e países subdesenvolvidos).
3) Conceito: A cidade é conceituada como aglomerado humano concentrado, com atividades
econômicas, organizadas em ruas, com serviços de transportes, limpeza pública, luz, água,
esgoto, além das atividades de saúde, educação e lazer (p. 66).
4) Construção da cidadania: Prioriza a memorização, a comparação, a análise e a
interpretação dos conteúdos, do que a problematização, a contextualização, a investigação,
a criatividade e a construção cidadã.
5) Vagner Augusto da Silva
± breves considerações
Nesta unidade a discussão de questões globais é prejudicada, posto que estejam
apresentados os conteúdos a partir de três recortes espaciais preestabelecidos (Brasil,
países desenvolvidos e países subdesenvolvidos). É abordado de forma seqüencial um
comentário sobre a evolução da urbanização mundial: a distribuição da população urbana
nos países desenvolvidos e os subdesenvolvidos; megacidade e cidades globais;
classificação das cidades pela origem e função; o processo de urbanização no Brasil; a
distribuição da população urbana por regiões, a hierarquia urbana; a expansão das favelas
e cortiços no país; loteamentos irregulares; problemas urbanos nas grandes cidades
brasileiras. Os problemas ambientais são discutidos por meio dos seguintes temas:
enchentes e lixo urbano.
105
Esta obra de Silva (2005) baseia-se na perspectiva da Geografia Tradicional, pois
apresenta fragmentação dos conteúdos e privilegia uma grande quantidade de informações
em detrimento de análises mais profundas e contextualizadas. Tal fato ocorre
principalmente em relação às dinâmicas e aos processos da natureza e as suas relações
com a sociedade. Além disso, a tematização dos fatos e dos fenômenos geográficos é
discutida com referência ao tempo atual, o que dificulta a compreensão das dinâmicas e
dos processos sociais, econômicos, políticos e culturais constituintes do espaço
geográfico, tampouco os ecossistemas e a necessidade de preservá-los.
Na análise dos países desenvolvidos e dos subdesenvolvidos, estas temáticas
indiscutivelmente não o territórios cotidianos dos alunos de escolas de ensino público.
Certamente são parâmetros para estudar os espaços urbanizados, porém é imprescindível
trabalhar este tema no âmbito nacional ou ainda estadual para que se entenda este
fenômeno e se faça a correlação global-local. É necessário, portanto, que o professor
aprofunde as discussões, problematize os temas e estabeleça a relação dos conteúdos com
a realidade do aluno. Assim, caberá ao professor incorporar outros materiais, como textos
complementares e filmes, para ampliar os debates e valorizar práticas pedagógicas que
permitam a construção de um posicionamento crítico do aluno em relação à realidade
socioespacial.
4.3.3 Sociedade & Espaço: Vesentini (2005)
DESCRIÇÃO DO LIVRO
Título
Sociedade e Espaço: Geografia Geral e
do Brasil
Autor
VESENTINI, José William
Editora
Ática
Edição
Volume
Único
Ano
2005
Nº de Páginas
472
Pertence ao catálogo
PNLEM
(X ) sim
( ) não
Quadro 9: Sociedade e espaço: Geografia Geral e do Brasil (VESENTINI, 2005).
Fonte: Organizado pela autora (2008).
106
1) Unidade temática: O livro se estrutura em quatro grandes partes:
9 Parte I: indústria, tecnologia e produção do espaço;
9 Parte II: Geografia política do mundo atual;
9 Parte III: aspectos da população mundial;
9 Parte IV: o meio ambiente do ser humano.
Cada parte é dividida em unidades e estas se subdividem em capítulos. A cidade é
discutida como tema
³meio urbano´ na Parte I: capítulo 17, o qual se estrutura nos
seguintes itens: urbanização da humanidade; rede urbana, megalópole e cidades globais;
conurbação e áreas metropolitanas; urbanização nos países desenvolvidos e nos
subdesenvolvidos e urbanização nas economias de transição.
2) Escala de análise: A análise incide em países desenvolvidos, subdesenvolvidos,
megacidades e cidades globais.
3) Conceito: A cidade é trabalhada como o espaço geográfico de residência das pessoas
cujas funções espaciais se diferem do que vem a ser o meio rural, definindo, assim, o que
é população urbana e população rural. O autor, porém, define conceitos entre diferentes
Nações. Para ele, mesmo que haja variações consideráveis na dimensão da aglomeração
populacional, para se considerar uma cidade há a necessidade de que as pessoas aí
residentes estejam ligadas aos processos produtivos das atividades secundárias e terciárias
e não às atividades econômicas primárias. O autor também trabalha o conceito dentro da
temática
³fenômeno da urbanização´, resultante das transformações socioprodutivas do
capitalismo industrial.
4) Construção da cidadania: A abordagem temática deste autor tem caráter humanista e
social.
5) José William Vesentini
± algumas considerações
O autor tematiza a urbanização a partir da contextualização histórica, iniciada em meados
do século 18, onde há um processo de crescimento do meio urbano à custa do meio rural,
com a grande saída de pessoas que se transferem do campo para as cidades, num processo
migratório rural-urbano chamado de êxodo rural. Este processo tem como conseqüência a
urbanização, que, apesar de ser globalizada, ocorre de forma desigual entre as nações. É
assim que o autor inicia a explicação sobre o processo de urbanização e o acréscimo
significativo da população urbana. Explica ele, primeiramente, que o processo de
107
urbanização ocorreu nos países chamados desenvolvidos em virtude da industrialização, e
tiveram um acréscimo significativo da população urbana. Mas apesar de intenso, este
processo não foi tão explosivo nos países atrasados economicamente, nos quais ocorreu
apenas a partir de meados do século 20.
O autor trabalha, ainda, a separação conceitual entre fenômeno da urbanização e
crescimento das cidades. Segundo ele o primeiro ocorre quando uma ampliação no
valor relativo dos habitantes das cidades em comparação aos do meio rural. Se houver
equilíbrio entre as partes, porém, não se constitui como um processo da urbanização
41
.
Na obra sugere-se que os docentes observem as orientações levando em consideração o
atual contexto histórico e suas conseqüências, bem como os sujeitos e as contradições da
vida social e histórica atual, tais como a globalização, a problemática ambiental, as lutas
na cidade e no campo, as relações de gênero, as identidades étnico-nacionais, entre outros
elementos. O tratamento dos diversos temas sobre as cidades considera os níveis escalares
de cada acontecimento e suas interdependências; e leva em conta, ainda, uma
regionalização na escala mundial com base nas relações sociais, assim como nas formas
de apropriação da natureza pela sociedade, que repercutem nas diversas escalas de análise.
O autor traz indicação de pesquisa complementar, em que são sugeridos vários endereços
eletrônicos que auxiliam nas interações com os novos conhecimentos. Estas, além de
indicar novas fontes de pesquisa, proporcionam a atualização dos conteúdos e de
conhecimentos, despertando também para a necessidade de democratização do acesso às
novas tecnologias.
41
Sachs (1998, p. 193) traz que a ocupação do espaço urbano muitas vezes não se configura como um processo
GH XUEDQL]DomR PDV FRPR R TXH GHQRPLQRX GH ³GHVUXUDOL]DomR UiSLGD´ GHILQLQGR TXH (VVD PDVVD GH
migrantes não se torna automaticamente urbanizada. ³[...] o termo urbanizado deveria ser reservado para
designar apenas àquelas pessoas que dispõe de um teto, de um emprego e de condições de exercício efetivo da
cidadania.´2VFHQWURVXUEDQRVQmRWrPFDSDFLGDGHVXILFLHQWHSDUDDEVRUYHUDTXDQWLGDGHGHPLJUDQWHVHHP
conseqüência disso, aumenta o número de pessoas inativas, ou desempregadas, as quais muitas vezes acabam
se refugiando no subemprego, a margem da economia formal, estes cidadãos não são urbanos ma se localizam
no urbano. Tem-se a leitura de que as pessoas urbanas necessariamente deveriam ter acesso aos elementos que
qualificam a vida nas cidades.
108
4.3.4 Geografia: Garcia e Garavello (2005)
DESCRIÇÃO DO LIVRO
Título
Geografia: de olho no mundo do
trabalho
Autor
GARCIA, Helio Carlos e
GARAVELLO, Tito Marcio
Editora
Scipione
Edição
1ª Edição
Volume
Único
Ano
2005
Nº de Páginas
430
Pertence ao catálogo
PNLEM
( x ) sim
( ) não
Quadro 10: Geografia: de olho no mundo do trabalho (GARCIA; GARAVELLO, 2005).
Fonte: organizado pela autora (2008).
1) Unidade temática: A obra está dividida em 9 Unidades, as quais trazem a discussão de
grandes eixos temáticos
± Encontramos nosso foco investigativo na Unidade ³(VSDoR
8UEDQR´
2) Escala de análise: Parte de uma escala global relacionando-os aos aspectos de países
desenvolvidos e em desenvolvimento relacionados basicamente à análise brasileira.
3) Conceito: Urbanização é explicitada como um fenômeno recente o qual provocou um
rápido crescimento das cidades, diretamente vinculado às revoluções tecnológicas, que
afetaram tanto o modo de produzir bens e serviços como também o modo de vida das
sociedades. Do ponto de vista econômico, as cidades representam o espaço onde a
população presta serviços e desenvolve atividades de caráter financeiro, comercial,
industrial.
4) Construção da cidadania: Estimula hábitos, atitudes e comportamentos voltados para a
construção da cidadania, favorecendo o convívio social, o respeito, a tolerância e a
liberdade e permitindo a abordagem da diversidade das experiências humanas.
5) Helio C. Garcia e Tito M. Garavello
± breves considerações
109
Nesta obra, o fenômeno da urbanização aparece como a concentração de grandes
contingentes populacionais, porque as cidades apresentavam uma maior disponibilidade
de empregos. A intensificação da urbanização, entretanto, não teria sido acompanhada
pela inclusão econômica e social de grande parte de seus habitantes, cuja tematização
parte da concepção atual, quando a maioria da população mundial concentra-se nas áreas
urbanas. Diante disso, pergunta-se: as cidades terão condições de abrigarem seu
contingente populacional com dignidade social? Pesquisas demonstram que desde a
antiguidade os homens organizam-se em cidades. Estas, por seu decurso, atingem grandes
proporções onde abrigam milhares de pessoas, constituindo-se, assim, aglomerados
urbanos com diferentes funções: militar, religioso, turística, históricas, etc., mas,
sobretudo comercial e administrativa. Com a Revolução Industrial, o ritmo de crescimento
populacional das cidades aumentou de tal forma que superou as taxas de crescimento
demográfico dos países.
Entende-se que é esse crescimento acelerado da população urbana que caracteriza o
processo de urbanização. Para que a urbanização ocorra, portanto, é necessário que a
população urbana cresça mais que a população rural (SACHS, 1998). O que entra em
contradição daquilo que é expresso pelo livro: segundo esta obra, o processo de
urbanização encontra a sua origem no êxodo rural. Segundo os autores, tanto nos países
desenvolvidos como nos subdesenvolvidos o intenso êxodo rural marcou o processo de
urbanização entre os diversos fatores que provocaram a migração campo-cidade: a
mecanização do trabalho agrícola, a imposição de novas relações trabalhistas no campo,
desemprego no meio rural. Nas cidades, este contingente teria encontrado ocupação nas
instalações das indústrias e no desenvolvimento de atividades de comércio e serviços que
demandavam mão-de-obra.
Os autores preocuparam-se em fazer um livro que fosse ao mesmo tempo uma fonte de
informações geográfica consistente e atualizada, e um instrumento para o processo de
formação pessoal e desenvolvimento educacional, apresentando alguns temas atuais e
jornalísticos para sugerir discussões sobre o assunto em pauta. A intenção dos temas
selecionados parece ter sido a de apresentar aos alunos uma discussão de ações que
possam interferir nas relações do homem no espaço geográfico. As temáticas apresentadas
surgiriam como guias nas decisões e atitudes, como cidadão e profissional no mundo do
trabalho. Idéia semelhante à dos autores apresentou o professor 7:
³este livro tem uma
abordagem a partir de grandes temáticas, construindo os conceitos de forma inter-
110
relacionais, exatamente na proposta de trabalho da escola, em especial à área de
Ciências Sociais.
´
4.3.5 Geografia Geral e do Brasil: Moreira e Sene (2005)
DESCRIÇÃO DO LIVRO
Título
Geografia Geral e do Brasil; espaço
geográfico e globalização
Autor
MOREIRA, João Carlos, SENE,
Eustáquio de.
Editora
Scipione
Edição
3ª atualizada
Volume
Único
Ano
2005
Nº de Páginas
545
Pertence ao catálogo
PNLEM
( x ) sim
( ) não
Quadro 11: Geografia Geral e do Brasil: espaço geográfico e globalização (MOREIRA; SENE, 2005).
Fonte: organizado pela autora (2008).
1) Unidade temática: Os conteúdos estão apresentados divididos em 8 grandes Unidades
que se subdividem em capítulos. Por conseguinte variam entre 2 e 6 capítulos por Unidade
temática.
Unidade 7: O espaço urbano e o processo de urbanização (p. 470-513)
Capítulo 1
± o espaço urbano do mundo contemporâneo
Capítulo 2
± as cidades e a urbanização brasileira
Capítulo 3
± impactos ambientais urbanos
2) Escala de análise: A reflexão geográfica contemporânea é permitida por meio da análise
das temáticas em escalas globais, porém a abordagem dos temas permite a correlação
global/nacional.
3) Conceito: Conceitua a Urbanização como um processo de transformação de espaços
naturais e rurais em espaços urbanos, a concentração da população em áreas urbanas em
detrimento das rurais, concentração do capital. Tematiza as cidades considerando os seus
diferentes tamanhos e densidades demográficas, de diversas condições socioeconômicas e
ambientais, aborda as funções urbanas e as múltiplas atividades das cidades. Os contrastes
111
sociais urbanos, e a organização do espaço visível em uma paisagem dual. Traz a
abordagem do meio ambiente urbano numa visão crítica dos impactos ambientais.
Constitui a cidade como um sistema que consome energia, gerando toneladas de resíduos,
a poluição do ar, do solo, da água, trazendo uma reflexão critica e o entendimento de que
algumas medidas devem ser propostas.
4) Construção da cidadania: A construção da cidadania é enfatizada nos processos de
construção do conhecimento crítico e reflexivo, feito de forma permanente, a partir de
conteúdos e atividades que permitem o aprofundamento dos assuntos com base no saber
prévio dos alunos.
5) João Carlos Moreira e Eustáquio de Sene
± breves considerações
Esta obra apresenta temas e conteúdos pertinentes, diversificados e possibilita à
interpretação, o pensamento crítico, a expressão oral e escrita e a contextualização da
realidade cotidiana. Os autores recomendam ao professor que contextualize e
problematize os conteúdos trabalhados. Para isto disponibilizam textos complementares,
pesquisas, debates e demais atividades dinamizadoras do processo ensino-aprendizagem.
Enfatizam o processo de construção do conhecimento crítico e reflexivo, de forma
contínua e permanente, a partir de conteúdos e atividades diversificadas. Estes são
trabalhados com o intuito de permitir a compreensão integrada da realidade, articulando-
se, no conjunto dos textos, as relações sociedade-natureza, de forma a superar essa
tradicional dicotomia.
A articulação dos conteúdos da unidade 7, bem como as temáticas dos capítulos que a
compõe, prioriza o saber prévio do aluno, constituindo-se um dos aspectos positivos da
obra, assim como a problematização e a contextualização dos conteúdos e atividades. As
análises são atualizadas e fundamenta a compreensão dos conceitos, o que permite o
desenvolvimento de competências e habilidades, o domínio dos instrumentos conceituais
da disciplina e a reflexão crítica do aluno. São propostas leituras complementares
específicas sobre as cidades, contribuindo para uma aprendizagem dinâmica e
enriquecendo os conteúdos. Elas contemplam diferentes autores e abordagens,
contextualizando e problematizando os assuntos estudados.
O livro é estruturado de forma que o professor possa iniciá-lo por qualquer uma das 8
unidades, o que, na opinião dos autores, pode oferecer ao docente flexibilidade para
112
abordar os conteúdos adequando-se ao seu plano de estudos. Para aprofundar o debate
sobre os conteúdos são trazidas sugestões de filmes com sinopse. Além de seus próprios
textos, trazem também outros autores, mapas, fotos, gráficos e tabelas, que podem
complementar o trabalho do professor. Estes exercícios estimulam: a pesquisa, o estudo
extraclasse, a comparação, a observação e a aplicação do conhecimento adquirido ao
cotidiano do educando.
4.4 A cidade nos livros didáticos de Geografia
Se o professor decidir seguir as temáticas relacionadas no livro didático como
referência para suas aulas, elas (as aulas) certamente se constituirão em apreensão de
conteúdos relacionados aos estudos geográficos, porém provavelmente esta prática pode não
instigar o aluno a pensar o espaço, a pesquisar e sistematizar o meio em que vive e que por
isso, estabelece relações cotidianas. Nesse sentido, cabe ao professor o desafio de, na sua
perspectiva pedagógica estar sempre atento ao estudo da cidade no Ensino Médio, pois, em
geral, como se percebe nesta pesquisa, se considerarmos a formação para a vida cidadã, a
cidade cotidiana não é um tema indicado para ser trabalhado nas aulas de Geografia deste
ciclo. Assim, como os livros didáticos não priorizam atividades sugerindo este estudo, o
professor precisa incluir esta temática nas suas aulas.
Em outra perspectiva, o estudo da cidade está inserido também na politizão
dos alunos, isto é, numa perspectiva política, pois ele (o estudo) destina-se a instrumentalizar
os sujeitos do processo educativo, visando a criar condições de cidadania. O aluno vai saber
realizar uma leitura crítica do espaço se tiver condições de compreender a configuração deste
espaço. Para isso, é necessário que, ademais do Ensino Fundamental, no Ensino Médio, e
ainda não apenas, mas também na universidade, aprenda-se a pensar o espaço em suas
diversas dimensões, pois, certamente, muitos alunos do Ensino Médio não chegam à
universidade, então aprender a pesquisar e entender seu espaço, é importante para que
consigam interagir nos espaços demarcadores de cidadania. Num país marcado por injustiças
sociais, as mudanças das condições de vida da população será resultado da luta por
transformações das estruturas e processos sociais e, isto, somente acontecerá com sujeitos
educados, com conhecimentos suficientes para discernimento da realidade da cidade onde
vive e na relação com o global dialeticamente.
113
A observação de quais temas o livro didático apresenta para trabalhar a cidade
nas aulas de Geografia e os demais assuntos dele decorrentes, tem mostrado certa
complexidade tanto de conteúdos como de recorte territorial, cuja análise, do ponto de vista,
geográfico envolve um sistema amplo de conceitos e de informações.
Garcia e Garavello (2005, p. 172-192), no estudo da cidade como categoria de
análise, tratam da urbanização mundial, da classificação das cidades e do fenômeno urbano no
Brasil nos capítulos 14 e 15 do livro. Para este estudo, os autores partem do princípio de que
o aluno tenha noções de espaço bem definidas. Exige, também, que tenha noções de tempo,
pois a análises dos conteúdos pressupõe uma visão dialética destes dois conceitos.
No estudo da cidade as informações e análises são feitas em âmbito mundial, e
no caso brasileiro em regiões. Não traz reflexões que proporcione um olhar crítico sobre a
realidade local. Neste caso, cabe ao professor planejar suas aulas atento a trazer para dentro
do texto a relação com o espaço local. Caso ele fique apenas nas informações dos textos, sua
visão de compreensão da dinâmica da construção do espaço certamente ficará prejudicada. Na
mesma lógica segue Vesentini (2005, p. 157-160), quando trata de rede urbana, megalópolis,
cidades globais e urbanização inexistem momentos em que provoque discussões sobre o
espaço local na relação com o global. Sendo assim, constata-se que o professor de Geografia
no Ensino Médio necessita observar os textos dos livros didáticos e incluir, no seu plano de
aula, os conteúdos e reflexões sobre a correlação global-local.
No roteiro de atividades destes dois livros citados anteriormente, não
privilegiam questões nas quais o aluno precise pensar criticamente o estudo do espaço. No
livro de Garcia e Garavello (2005, p. 192-194) são apresentadas como exercícios
complementares dez questões utilizadas em vestibulares de várias universidades. Observa-se,
porém, que não são contempladas questões nas quais o aluno possa construir representações
partindo do seu ponto de vista, justificando seu entendimento sobre o estudo do espaço
urbano.
Vesentini (2005, p. 160), por sua vez, colocou quatro questões mais conceituais
e algumas para atividades extraclasses, mas nenhuma delas põe o aluno no desafio de pensar o
espaço urbano levando em consideração as diversas formas de análise, no ponto de vista
político, social, cultural e ambiental, por exemplo.
114
Almeida e Rigolin (2005) também não trazem nenhuma análise que tenha
como centro o estudo da cidade local. Como outros livros, tratam da Geografia global sem
relações com problematização da cidade onde o aluno está inserido. Neste sentido, não se
quer que cada livro apresente questões específicas sobre cada lugar em particular, mas no
decorrer do texto seria importante que houvesse questões ou propostas de estudo da cidade
local, como objeto de pesquisa ou de discussões/debates correlacionando as temáticas locais
com os temas tratados pelo livro.
Silva (2005) apresenta uma sistematização do conhecimento apreendido no
decorrer do capítulo propõe 12 questões de vestibulares, sem nenhuma atividade dissertativa,
que exija argumentação. Esta obra sugere, porém, pequenos textos sobre temas relacionados à
questão da cidadania com mais evidência, tais como moradia e questões ambientais, que cabe
ao professor fazer a mediação para o espaço local.
Outro aspecto que pode qualificar um livro didático são as imagens que
apresentam sobre o espaço urbano. Nos capítulos 14 e 15 do livro de Garcia e Garavello
(2005), entre as páginas 172 e 194, aparecem 14 imagens. Na obra de Almeida e Rigolin
(2005), nas 15 páginas aparecem duas imagens. Silva (2005) dispôs 11 imagens nas 17
páginas do capítulo 5 sobre urbanização. Vesentini (2005), nas 11 páginas utilizou 8 imagens.
Como se pode perceber, os autores Almeida e Rigolin (2005) se utilizam de
poucas imagens como recurso didático-metodológico. Num tempo marcado pela relação
imagética é fundamental que o professor utilize as imagens em sala de aula para estudo da
cidade. Aprender a leitura de mapas e imagens é necessário. Não se pode vê-las apenas como
uma imagem qualquer, sem relações e sem conteúdo. A codificação e decodificação das
imagens é um exercício de pensar, o principal objetivo do processo educativo no Ensino
Médio. Na leitura de imagens o aluno exercita a criatividade, saindo do hábito de copiar
conceitos e idéias prontas. Ele mesmo tem de criar uma representação para o detalhe que
estiver observando, considerando-se o saber prévio de cada educando. Este processo propicia
condições para um olhar geográfico do espaço em que vive.
No estudo da cidade contemporânea muitos alunos possuem recursos para
registrar imagens da cidade como: celulares, máquinas digitais, filmadoras e computadores.
Nesse sentido, o estudo da cidade passa também pela decifração das imagens às quais podem
mostrar recortes da realidade do espaço natural ou humanizado. As revistas e jornais são
115
exemplos, pois são recursos didáticos e apresentam imagens que precisam ser observadas com
visão crítica, pois são registros humanos que tem uma concepção de mundo, de sociedade, de
homens. Elas, portanto, não são neutras, são construções sociopolíticas.
No capítulo 15, O fenômeno urbano no Brasil, Garcia e Garavello (2005, p.
190) discorrem sobre as características de áreas de favelas:
Aglomerados de habitações precárias construídas com madeira, papelão e chapas
metálicas e, mais recentemente, misturando esses materiais com alvenaria.
Geralmente se instalam em terrenos de terceiros ou em áreas públicas. Quanto mais
próxima de áreas comerciais ou industriais, mais adensada é a favela.
Se o professor não aprofundar esta temática, sobre as reais circunstâncias pelos
quais surgem estas áreas de favelas, o assunto trazido pelo livro torna-se superficial. O aluno
poderá ficar apenas com a visão dos meios de comunicação que, por vezes, é cheia de
preconceitos, estereótipos, que não expressam um olhar abrangente dos aspectos sociológicos,
ambientais, sociais, políticos e culturais da favela.
Almeida e Rigolin (2005, p. 146) não aprofundam o tema favela nos capítulos
destinados a estudar o urbano. Para se referir à megalópole brasileira (São Paulo e Rio de
Janeiro) utilizam um pequeno texto retirado de jornal, com informações e análises muito
vagas (Figura 13). Na parte que fala da periferia destacam:
Figura 13: O jornal como recurso didático.
Fonte: ALMEIDA; RIGOLIN (2005, p. 146).
116
Estes bairros referenciados pelo autor (Bari, Brás, Sé e Barra Funda) são
lugares conhecidos apenas de alunos moradores da região Sudeste do Brasil, e, sendo assim,
não são territórios do
FRWLGLDQR GRV ³RXWURV´ DOXQRV Dqueles que se localizam nas demais
cidades brasileiras. Se considerada a citação anterior, o professor terá que complementar esta
temática se desejar que o seu aluno tenha uma visão realista da periferia e das áreas coibidas
de urbanização, a exemplo das áreas de mananciais citadas pelos autores.
Diante disso, o professor de Geografia não pode ficar apenas no livro didático
para ministrar suas aulas, pois alguns textos são abordados de forma superficial ou
tematizados a partir de territórios desconhecidos dos alunos, que por isto, não lhes atribuem
significados nem interesse em querer saber-aprender. A televisão pode ser indicada como
exemplo, pois traz os temas como fatos, sem contexto e correlação, abordando assuntos
complexos em segundos. Por vezes, se as aulas se detiverem apenas nos conteúdos dos livros
didáticos, o aluno poderá obter um bom conceito na avaliação e, neste caso, certamente ele
aprendeu Geografia. Estudar Geografia, no entanto, é muito mais do que decorar algumas
informações, é observar, interpretar, é propor alternativas, debater, criticar, argumentar, é
aprender a pensar sobre o espaço.
Estas habilidades e competências básicas, como discutido no Capítulo 1
42
desta tese, aumentam a possibilidade de empregos e a capacidade da prática social, uma vez
que, diz a lei, a educação escolar deverá estar vinculada a ambos. Estas são dimensões, que as
diretrizes do Ensino Médio consideram, a saber: a capacidade de análise, de resolver
problemas, de tomar decisões e, sobretudo, ter flexibilidade para continuar aprendendo. Isto
mostra, também, a sintonia da lei com este novo panorama.
Pode-se constatar que os capítulos dos livros didáticos consultados sobre o
estudo da cidade servem apenas como ponto de partida para análise do espaço urbano. São
necessários, para aprofundar a temática, utilizar outros meios de informação, tais como
vídeos, revistas, jornais, Internet, pesquisa de campo, documentários, entre outros. Os
conteúdos dos meios citados, entretanto, em si não garantem aprendizagens significativas. É
necessário que o professor teça considerações e estabeleça nexos entre os fenômenos
estudados. O questionamento é fundamental para desenvolver a capacidade de pensar. O
conteúdo sobre a cidade é imprescindível para começar a pensar a vida em sociedade, pois ela
42
Conferir capítulo 1 desta tese. Item 1.1.1 As orientações da LDB sobre a Educação Básica e o Ensino Médio.
117
é o palco da vida social. Nela desenvolvem-se todas as relações sociais, políticas, culturais e
econômicas do nosso tempo. Educar no sentido de criar condições para ampliação ou
construção da cidadania pressupõe trazer para a sala de aula aspectos da vida na cidade
(SPÓSITO, 1994), não apenas nos capítulos dedicados a leituras sobre ela, mas durante todo o
processo de construção de conhecimentos geográficos. A dialética entre o espaço global,
nacional e local precisa estar presente nas análises geográficas. A dinâmica social e política
circulam por todos estes espaços, influenciando-se mutuamente na definição das
características socioespaciais de um lugar.
É interessante ressaltar que os livros didáticos analisados contêm uma lógica de
apresentação dos conteúdos, com algumas, porém poucas, variações, ora iniciando pelo
espaço urbano do mundo contemporâneo para posteriormente contextualizar a urbanização
brasileira. Outros fazem uma abordagem inversa. Ás vezes as tecnologias e da produção do
espaço mundial dos países desenvolvidos, e dos subdesenvolvidos. Nenhum deles conta da
complexidade dos estudos geográficos voltados à construção de subjetividades críticas para
pensar um mundo diferente, onde novas formas de sociabilidades sejam constituídas para um
novo modelo de sociedade, mais cidadã. O modelo socioeconômico vigente não é questionado
em nenhum livro analisado. Isto pode ser feito, no entanto, pelo professor ou pelos alunos.
Sabe-se que não é unanimidade seus processos e estruturas a exemplo da discussão trazida por
Santos (2000). Para isto, todavia, o professor precisa questionar a organização econômica,
social, cultural e política engendrada por ele. Neste aspecto os assuntos precisam ser trazidos
em pauta pelo professor.
Para isto, uma indicativa poderia buscar-se, como referencial teórico em Santos
(2000), mais explicitamente na obra Por uma outra globalização: do pensamento único à
consciência universal. As suas propostas ganharam aceitação ampla na comunidade de
geógrafos, orientando em muito o ensino e as pesquisas em temáticas sociais da Geografia. A
sua influência é marcante não no Brasil, recebendo também reconhecimento e aceitação de
geógrafos dos diversos países. A relação local/global discutida nesta obra traz uma análise da
realidade atual e a sugere tal como ela poderia ser. Produz uma crítica à globalização,
considerando que seus efeitos obedecem aos critérios do capital financeiro. Baseia-se em
fundamentar o papel da ideologia na produção, disseminação, reprodução e manutenção da
globalização atual. Nesta obra, o cidadão assume importante posição na proposição de
soluções para os problemas do mundo, na intenção de uma globalização mais justa, em que
todos tenham a oportunidade de acesso a uma melhoria das condições de vida. Peet e Watts
118
(1996, p. 10) corroboram com Santos (2000) quando este discute a posição do cidadão na
VROXomR GRV SUREOHPDV GR PXQGR 2 PXQGR VHULD WDO TXDQGR D KXPDQLGDGH ³FULDU XPD
identidade com os grupos excluídos pela sociedade capitalista, quando participar dos
movimentos sociais, e quando se empenhar na construção de relações solidárias no interior da
sociedade.
´
Às vezes, frases no meio de um parágrafo podem ser ponto de partida para
discussões, tais como:
Segundo as projeções para as próximas décadas, o processo mais intenso de
urbanização ocorrerá nos países pobres, cujas cidades já apresentam hoje sérios
problemas sociais e certamente encontrarão maiores dificuldades para atender as
novas massas de habitantes urbanos. (SILVA, 2005, p. 65).
Uma leitura pouco crítica do parágrafo pode não significar quase nada. Se o
professor ou o aluno, no entanto, questionar sobre os problemas sociais referidos nele, daí
subentende-se um pensar mais profundo. O professor, mediante diálogo com seus alunos,
poderá construir uma rede temática sobre os problemas sociais de sua cidade e depois solicitar
uma análise crítica destes, o qual poderá ser apresentado em forma de textos ou de seminários.
Nessa atividade, ele aprenderá ir além das informações trazidas pelo livro, pensará sobre a
origem do problema e das suas determinantes, estabelecerá nexos entre os fenômenos, buscará
as causas, sua dimensão e conseqüências.
Neste exercício, o estudante desenvolve capacidades e habilidades
fundamentais condizentes com um aluno de Ensino Médio: ler, escrever, pensar e depois
socializar suas idéias. Entende-se que o aluno do Ensino Médio, muitas vezes, ainda não
consegue elaborar um texto, uma redação, além da falta de domínio lingüístico, o que se pode
avaliar como um problema relacionado aos conceitos de espaço e tempo. Se um aluno passou
a maior parte do tempo retirando respostas do livro, sem análise crítica dos conteúdos, poderá
ter dificuldades de observar a realidade e dissertar sobre ela.
Ademais, o aluno preso aos conteúdos do livro didático apenas, sem uma
intervenção qualificada do professor, não é instigado a elaborar os argumentos orais, o que
pode interferir nas suas relações sociais e profissionais. O olhar e o pensar geográfico ajudam
sobremaneira a capacidade comunicativa do sujeito. Isto não aparece nos livros didáticos
analisados; necessita ser uma política pedagógica e epistemológica estritamente do professor.
Nestes termos, para tornar os livros didáticos analisados mais eficientes, é necessário que o
119
educador consiga ir além de suas estruturas conceituais e didáticas. Nesse sentido, a
interdisciplinaridade é essencial. Conhecimentos de outras ciências, como a Sociologia,
História e Filosofia, entre tantas humanas, poderão ser coadjuvantes nas análises críticas dos
mesmos, por isso um professor de Geografia precisa ver o mundo a partir de diferentes
perspectivas.
A tematização dos assuntos discutidos nos meios de comunicação de massa
não aparece nos livros didáticos consultados. Neste sentido, a relação da cidade-cidadania e
do ensino de Geografia não é um conteúdo geográfico. O espaço, enquanto categoria de
análise necessita de reflexões acerca dos processos comunicativos. A leitura crítica dos
assuntos veiculados pela mídia é indispensável para a construção de sujeitos em condições de
compreender a realidade, como representação explicativa das relações no espaço.
Souza (1990, p. 11) chama a atenção sobre o poder exercido pela mídia como
instrumento de dominação. Para o autor, a informação levada à humanidade é manipulada,
WHQGR R LQWXLWR GH FRQIXQGLU H QmR HVFODUHFHU ³$V PtGLDV Qacionais se globalizam, [...]
falsificam-se os eventos, que não é propriamente o fato que a mídia nos dá, mas uma
interpretação, isto é, a notícia.
´
Nestas bases, complementa-se com Souza (1990, p. 11-12
 ³A linguagem
presta-se, assim, a jogos de poder, tanto quando fala, como quando cala; a verdade é que,
assuntos são trazidos pela mídia, como se não estivessem relacionados. Isto dificulta a atuação
da opinião pública que
µsem saber não consegue agir.´ A forma fragmentada por meio da
qual os temas são trazidos pela mídia, limita a compreensão de assuntos, como, por exemplo,
cidades superpovoadas, alterações climáticas, aumento global da pobreza, redução salarial,
deficiências de equipamentos e infra-estrutura urbana e outros produtos das mesmas políticas
globais; é o que se chama de espetacularização da notícia, da informação. Acontece que estes
fatos estão relacionados entre si; são as reações às reestruturações econômico-políticas
mundiais, feitas em nome da aceleração do desenvolvimento global. Pela intensidade que os
fenômenos e os fatos acontecem, porém seria quase que impossível serem tratados/abordado
nos livros didáticos. Nesse sentido, cabe ao professor fazer esta tematização mediando os
fatos acontecidos e veiculados pela dia, os assuntos do livro e o interesse do aluno em
querer saber, se informar e discutir a temática.
120
O estudo da cidade no Ensino Médio requer redimensionamento do currículo
escolar, e a Geografia pode dar uma contribuição importante neste processo, mas, para isto
não deve ficar circunscrito ao livro didático. Ele não pode ser definidor dos conteúdos
conforme o seu sumário. Precisa o professor selecionar os conteúdos de acordo com os temas
em questão. Mudando a lógica, conforme Kaerscher (1998), primeiro os conteúdos depois os
conceitos, pois estes devem ser formados no trabalho realizado com os conteúdos. Educação,
Geografia e política são conceitos fundamentais a uma aula de Geografia voltada à formação
de um sujeito crítico, autônomo e emancipado. Os conceitos que os livros contêm não
necessitam comentários sobre sua importância. É preciso incluir na tematização da cidade
alguns conceitos que são silenciados neles (no livro).
Pode-se citar como exemplos: as políticas públicas, os movimentos populares,
as relações entre trabalho e capital, o consumismo, a manipulação dos meios de comunicação,
a interferência do aporte de infra-estruturas e equipamentos coletivos e a organização
socioespacial entre tantos outros temas que compõem e dão sustentação à dinâmica social. A
dimensão política do processo educativo não é contemplada nos livros. O professor é quem
precisa contextualizá-la. Por isto, uma prática docente na qual o aluno manuseia o livro
didático, numa ação contemplativa e responde às questões, não autentica um estudo da cidade
voltado a criar condições de cidadania.
Nos livros analisados o predomínio de conteúdos informativos. Nesta
perspectiva, a criticidade precisa ser coordenada pelo professor. Entra em cena a
responsabilidade social do docente, suas concepções e princípios sobre o mundo, a sociedade,
o homem e sua disposição pedagógica para a construção da cidadania, o seu
comprometimento político com as mudanças, as transformações da realidade, a mitigação das
desigualdades sociais, enfim a preocupação com a exclusão social, econômica e cultural dos
(homens) excluídos.
121
CONSIDERAÇÕES FINAIS
Por que alguém se dedicaria a alguma coisa que, na realidade jamais
chega, e jamais pode chegar, ao fim?
(Max Weber, 1982, p. 164)
Ao final deste estudo têm-se ainda inquietações, muitas perguntas e também
respostas, algumas delas, no entanto, estão entremeadas no texto, outras, permanecem
latentes, no seio do pesquisador e, aparentemente, sem uma resposta precisa. É nesse sentido
que a interrogação de Weber torna-se pertinente. Porque ter-se-ia que concluir? Se justamente
falta à pesquisa em Ciências Humanas a objetividade das Ciências Exatas, ficando o
pesquisador na ansiedade de querer concluir, apontando uma resposta definitiva e de não
poder fazê-lo, que precisar os resultados e efeitos implícitos ao processo ensino-
aprendizagem torna-se uma tarefa complexa. Contrariamente, se o objetivo fosse localizar a
coordenada geográfica de um lugar, com o auxílio de um GPS (Sistem Position Global), ou
medir a escala geográfica de um determinado mapa, com auxílio de um escalímetro, ter-se-ia
um resultado inquestionável (ao menos que se considere uma falha humana).
Essa dificuldade de apontar uma resposta exata se reflete na pretensão de
construir a cidadania mediante o estudo da cidade. Percebe-se que a formação para a
cidadania é considerada pelas políticas públicas, pelas escolas e pela própria geografia crítica.
Mas esta mesma formação (a cidadania) depende também de outros elementos, do professor,
dos temas que seleciona e da metodologia que adota, e, mas, principalmente, do aluno. Ou
seja, a apreensão das noções fundamentais que configuram a consciência cidadã não se
mensuram, imediatamente, durante o período escolar, mas identificados em suas atitudes
enquanto sujeito social ao longo de sua vida. Apesar disso, é preciso pensar os meandros do
processo ensino-aprendizagem de Geografia e, por isso, os temas e conteúdos que tenham
122
significado na vida do educando, que reflitam o seu cotidiano. A cidade é exemplo disso, em
termos gerais, ter alcançado essa compreensão certamente foi o grande aprendizado ao
término do processo construtivo desta pesquisa.
Em termos específicos, é preciso destacar o amadurecimento das concepções
sobre o estudo da cidade enquanto produção do espaço, do modo de organização da
sociedade. O que é diferente de falar da organização espacial enquanto forma em seu aspecto
técnico. A cidade implica muito mais que uma simples localização e arranjo de lugares. Ela
expressa um modo de vida, ou seja, o cotidiano territorializado. Assim, ela é forma enquanto
morfologia urbana e é conteúdo enquanto materialização das relações sociais nesse espaço.
Infere-se disso que, apesar das suas especificidades, forma e conteúdo não podem ser
pensados separadamente, antes, eles se complementam, produzem efeitos um sobre o outro,
inevitavelmente. De modo que a organização socioespacial da cidade deve ser pensada como
a própria explicitação da relação entre forma e conteúdo.
É esta a concepção da Geografia crítica, a qual se preocupa em compreender o
saber geográfico em sua totalidade, a organização do espaço em estreito vínculo com o social,
com o político, o cultural, o econômico, sempre considerando a dinâmica relação local/global
e vice-versa. Quanto ao ensino, esta nova concepção de geografia prioriza o saber construído
pelo aluno, a significação do processo histórico e cientificamente construído, ou seja, a
possibilidade de associar o saber formal com o saber cotidiano.
Esta Geografia crítica veio ao encontro da revisão das políticas públicas para
educação brasileira, particularmente da LDB 9.394/96, cuja ênfase está em preparar o jovem
para viver em sociedade, defendendo uma educação voltada para formação integral, que
desenvolva o senso crítico, reflexivo, propositivo dos alunos, num legítimo exercício da
cidadania. É, nesse sentido, que o ensino de Geografia deve ser pensado, justamente por ter o
de estudo do espaço como objeto central, ou seja, um sistema de objetos e de ações que
revelam as práticas sociais dos grupos que nele vivem. Conhecer essa complexidade é
compreender o mundo segundo a apropriação e organização dos espaços pelo homem, o
sentido econômico, social, cultural, nele implícito. Em suma, é compreender a própria vida.
Nisso, percebe-se a importância de se trabalhar com a cidade: ela surgiria como um objeto de
estudo complexo, por compreender tanto o lócus de vivência dos educandos, quanto as
relações socioespaciais, políticas, econômicas, ambientais, étnicas e religiosas, nas suas mais
diversas escalas de análise, as quais são de interesse da Geografia.
123
Para se estudar a cidade nas aulas de geografia, os temas geográficos podem
ser trabalhados a partir do cotidiano do alunos, instigando-os a pensar a realidade e a propor
melhorias no lugar em que vivem. É assim que a cidadania é construída. O modo como a
cidade é gerida e administrada produz efeitos diretos na vida de seus habitantes, por isso deve
ser questionada e refletida do ponto de vista do cidadão, ou seja, daquele que tem consciência
social. Pensar a cidade é, pois, refletir sobre a vida individual como indissociável da vida
coletiva.
Encontrar-se-ia nisso, exatamente, a razão pela qual a formação para a
cidadania pode ser compreendida pela Geografia, como um de seus objetivos proeminentes. A
leitura e a reflexão crítica do espaço habitado, como foco do ensino geográfico, configuraria o
próprio exercício da cidadania. Diante disso, a sala de aula seria um ambiente propício para a
realização de atividades em que o pensar, o dialogar, o debater sobre as questões citadinas
possam ser valorizadas. Isso, porém, exigiria um professor consciente de seu papel como
agente transformador, cujos conteúdos e temas geográficos, selecionados por ele, possam ser
tomados como propulsores de mudanças significativas no modo de pensar de seus alunos, o
qual se pretende formar mais atuantes e críticos frente aos problemas citadinos.
A escola, assim, passa a ter um papel fundamental, porque a formulação de seu
Projeto Político-Pedagógico e, por conseguinte, dos programas da disciplina de Geografia,
direcionam os ideais implícitos ao processo de ensino-aprendizagem da comunidade escolar,
inclusive a prática docente. Neste contexto, foi possível perceber a autonomia da escola em
eleger determinados temas, apresentando a cidade ora como um grande eixo temático dentro
do qual se derivam outros, ora abordando a cidade em suas especificidades, dividindo-a em
inúmeros outros temas, tais como direitos dos cidadãos, gestão das cidades, qualidade de vida,
desigualdades sociais. O que contraria as recomendações da Ocem para a qual os conteúdos
devem ser tematizados dentro de grandes eixos e, estes, considerados dentro da correlação
global/local.
O problema é que a LDB, os PCNs e as Ocem apenas apontam os eixos nos
quais as escolas podem se pautar, mas não garantem que se efetivem na prática. Nesse
sentido, atribui-se importância ainda maior ao professor, pois é ele quem determina quais os
conteúdos a serem trabalhados. Seria o professor, então, quem caracteriza e qualifica o
processo de ensino-aprendizagem? Um profissional pesquisador, que adota um livro didático
completo e atualizado, recursos tecnológicos diversos, não garante a qualidade do processo
124
ensino-aprendizagem. Temos outro elemento fundamental: o aluno, que deve sentir-se
envolvido, conferir significado aos conteúdos estudados, o que, em parte, também depende do
professor, configurando um verdadeiro círculo vicioso. Poder aliar qualidade de ensino e
práticas de sala de aula parece constituir o próprio ideal da atividade docente, o que, em boa
medida, como se viu está na dependência do perfil e da formação do professor. Ele próprio
deve entender-se como cidadão, como agente promotor de mudanças. Como um sujeito ciente
de seu papel na sociedade. O que exige tanto capacidade de problematizar a situação atual do
espaço comunitário quanto do próprio processo ensino-aprendizagem. Mas o apoio quase
exclusivo no livro didático apresentado pelos questionários não teria, justamente, refletido
outro perfil de docente?
Os livros didáticos de Ensino Médio mostraram que a urbanização
± tema que
permite a abordagem da cidade - é neles mencionado, porém, freqüentemente sob um enfoque
conceitual apenas e não apontando para o lócus de vivência dos alunos. De modo que
abordagens objetivas que poderiam contribuir à formação cidadã dos alunos são praticamente
inexistentes. Em geral, não instigam a interpretação e o debate sobre questões ligadas a
problemas citadinos, tampouco esclarecem o recorte e os critérios de análise para a relação
local/global.
Se a disciplina de Geografia pretende estar comprometida com a formação
cidadã dos alunos, como ela poderia ficar circunscrita ao livro didático? Este recurso não
poderia ser definidor dos conteúdos conforme o seu sumário. O professor é quem precisaria
selecionar os conteúdos de acordo com os temas em questão e, portanto, incluir, na
tematização sobre a cidade, conceitos que são silenciados nos livros. Exemplo disso são as
relações entre trabalho e capital, as políticas públicas, os movimentos populares, o
consumismo, a manipulação dos meios de comunicação de massa, os aporte de equipamentos
coletivos, dentre tantos outros temas que compõe a organização do espaço e dão sustentação à
dinâmica social. Por isso, uma prática docente onde o aluno manuseia o livro didático, numa
prática contemplativa, e responde os exercícios neles incluso, não contribui para o estudo da
cidade voltado a criar condições de cidadania.
Diante do predomínio de conteúdos informativos, a leitura crítica da obra
didática precisa ser coordenada pelo professor. Entram em cena, assim, a sua responsabilidade
social, suas concepções sobre o mundo, a sociedade, o homem, sua disposição pedagógica
125
para construção da cidadania, seu comprometimento político-pedagógico enquanto sujeito
promotor de mudanças na realidade vivida.
Novamente percebe-se que o modo como são abordados os temas,
particularmente o da cidade, fica à mercê do interesse e decisão do professor. Por tal razão é
que o questionário passou a ser um dos momentos mais importantes do diagnóstico,
justamente porque possibilitou a relação entre o plano de aula da escola e a prática docente. É
notável que, além do interesse do docente, pôde-se perceber que o estudo do local está
condicionado a outros fatores tais como a seleção dos temas definidos pela escola, a escala de
análise adotada, os recursos disponíveis
± considerando-se, ainda o aluno. Mas, como os
professores das escolas investigadas apóiam-se quase que exclusivamente na obra didática e,
esta, mostrou-se como um recurso que apresenta conteúdos gerais, a responsabilidade docente
permanece decisiva, pois depende do professor a correlação dos conteúdos com o lugar
habitado e a proposição de temas que instiguem a formação para a cidadania.
No que se referem à cartografia, os professores mostraram que tanto os mapas
como os atlas escolares municipais são instrumentos indispensáveis nas aulas de Geografia
para o aprendizado de questões referentes à cidade local. Mas a dificuldade de acesso a eles
(tanto pela inabilidade de construí-los, quanto pela carência dos recursos cartográficos nas
escolas), faz desse elemento um fator importante a ser considerado. Ao enfocar a construção
de noções espaciais, a cartografia surge como elemento importante na caracterização da
cidade em diferentes esferas: histórica, ambiental, econômica, antropológica, etc. É nesse
sentido que o entendimento do local poderia levar o aluno a compreender os espaços
projetados em escalas menores. Entender esta complexidade é elemento chave para que ele
seja capaz de compreender-se, também, como cidadão, como parte integrante desta relação.
Como se vê, a questão entre o ensino da Geografia, o tema cidade e a formação
para a cidadania parece permear o discurso, seja qual for o ponto de vista assumido. Talvez
isso mostre um otimismo implícito na postura do pesquisador a percorrer os meandros desta
tese. De fato, as experiências profissionais e acadêmicas (expressas na introdução desta tese)
levaram à observação das diferenças espaciais das cidades, principalmente das
socioeconômicas, além disso, à constatação de que o envolvimento dos jovens é inexpressivo
junto aos espaços destinados à participação popular. Esta constatação foi decisiva para a
elaboração deste estudo, que tinha como princípio balizador o estudo da cidade nas aulas de
Geografia como possibilidade de construção de sujeitos críticos, participativos. Por isso a
126
formação para a cidadania, entendida em seu sentido amplo, enquanto consciência social,
ecológica, coletiva e cooperativa, foi reiteradamente frisada nesta pesquisa. Foi, no contexto
da educação, via ensino de geografia, que se buscou um caminho possível para a formação da
consciência cidadã dos alunos.
As pessoas estão diariamente suscetíveis aos efeitos do modo, muitas vezes
injusto, com que a cidade é organizada e gerida. Não percebem, porém, que são atores
fundamentais na organização dos espaços e que delas dependem os rumos das cidades. Mas a
responsabilidade de formar cidadãos depende apenas do professor, dos temas e da disciplina
de Geografia? Obviamente que não. Nem por isso deve-se abandonar a aposta de que um
outro mundo é possível, como diz Milton Santos. Não seria este o grande ideal implícito a
toda atividade docente?
Aliás, a inexperiência como docente foi uma das dificuldades enfrentadas nesta
pesquisa, principalmente na busca pelo entendimento do que de fato se processa em uma sala
de aula. Isso deve explicar porque ainda permanecem questionamentos. O que não se
considera propriamente negativo, visto a complexidade do tema investigado e, no caso
específico dessa pesquisa, a postura perquiridora e insatisfeita do investigador que,
felizmente, se mantém.
127
REFERÊNCIAS
ABED. Anuário Brasileiro Estatístico de Educação Aberta e à Distância. 4. ed. São Paulo,
2009
ALMEIDA, L. M. A. de; RIGOLIN, T. B. Geografia. 2. ed. São Paulo: Ática, 2005 (Série
novo Ensino Médio).
ALMEIDA, R. D. de; PASSINI, E. Y. O espaço geográfico: ensino e representação. São
Paulo: Contexto, 1994.
ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS TÉCNICAS
± ABNT. NBR 14724. Trabalhos
acadêmicos
± apresentação. Rio de Janeiro, 2005.
AZAMBUJA, B. M. de. Estudo multidisciplinar do espaço local. Ijuí: Ed. Unijuí, 2008.
AZAMBUJA, L. D. de. A Construção social do conhecimento na Geografia Escolar. In:
Espaço da Escola. Ijuí, RS: Ed. Unijuí, jan./mar. 2003, v. 1, n.1.
BADO, S. R. de L. Morfologia urbana e dinâmica sócio
±espacial da cidade de Ijuí/RS,
2003. Dissertação (Mestrado)
± Programa de Pós-Graduação em Geografia, Universidade
Estadual de Maringá/PR, 2003.
BERNET, J. T. Ciudades educadoras: bases conceptuales. In: ZAINKO, M. A. S. (Org.).
Cidades educadoras. Curitiba: Ed. da UFPR, 1997.
BRASIL. Lei de diretrizes e bases da educação nacional
± LDB 9.394/96. Brasília:
Ministério da Educação, Secretaria da Educação Básica, 1997a.
______. Orientações curriculares para o Ensino Médio/Geografia. Brasília: Ministério da
Educação, Secretaria de Educação Básica, 2006.
______. Parâmetros Curriculares Nacionais: Ensino Fundamental/História, Geografia.
Brasília: Ministério da Educação, Secretaria de Educação Fundamental, 1997b.
______ Parâmetros Curriculares Nacionais: Ensino Médio. Brasília: Secretaria da
Educação Média e Tecnológica, 1999a.
128
______. Programa Nacional do Livro para o Ensino Médio/PNLEM. Brasília: Secretaria
de Educação Básica, 1999b.
______. Constituição (1988). Constituição da República Federativa do Brasil. Vade
Mecum. 6. ed. São Paulo: Saraiva, 2008.
CALLAI, H. C. O ensino de Geografia: recortes espaciais para análise. In:
CASTROGIOVANNI, A. C.; CALLAI, H. C.; SCHÄFFER, N. O.; KAERCHER, N. A.;
(Org.). Geografia em sala de aula: práticas e reflexões. 2. ed. Porto Alegre: Ed. da
UFRGS/AGB, 1999a.
______. O estudo do município ou a Geografia nas séries iniciais. In: CASTROGIOVANNI,
A. C.; CALLAI, H. C.; SCHÄFFER, N. O.; KAERCHER, N. A.; (Org.). Geografia em sala
de aula: práticas e reflexões. 2. ed. Porto Alegre: Ed. da UFRGS/AGB, 1999b.
______. Estudar o lugar para compreender o mundo. In: CASTROGIOVANNI A. (Org.).
Ensino de Geografia: práticas e textualizações no cotidiano. Porto Alegre: Mediação, 2002.
______; CALLAI, J. L. Grupo, espaço e tempo nas séries iniciais. In: CASTROGIOVANNI,
A. C.; CALLAI, H. C.; SCHÄFFER, N. O.; KAERCHER, N. A.; (Org.). Geografia em sala
de aula: práticas e reflexões. 2. ed. Porto Alegre: Ed. da UFRGS/AGB, 1999.
CARDOSO, F. H. A cidade e a política: do compromisso ao inconformismo. In:
Autoritarismo e democratização. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1975.
CARLOS, A. F. A. Espaço e indústria. São Paulo: Contexto, 2000.
______. Espaço-tempo na metrópole: a fragmentação da vida cotidiana. São Paulo:
Contexto, 2001.
CASTELLAR, S. M. V. Educação geográfica: teoria e práticas docentes. São Paulo:
Contexto, 2005.
CASTELLS, M. A questão urbana. São Paulo: Paz e Terra, 2000.
CASTROGIOVANNI, A. C. O misterioso mundo que os mapas escondem. In:
CASTROGIOVANNI, A. C.; CALLAI, H. C.; SCHÄFFER, N. O.; KAERCHER, N. A.;
(Org.). Geografia em sala de aula: práticas e reflexões. 2. ed. Porto Alegre: Ed. da
UFRGS/AGB, 1999.
______. Apreensão e compreensão do espaço geográfico. In: CASTROGIOVANNI, A. C.
(Org). Ensino de Geografia: práticas e textualizações no cotidiano. Porto Alegre: Mediação,
2002.
______; GOULART, L. B. A questão do livro didático em Geografia: elementos para uma
análise. In: CASTROGIOVANNI, A. C.; CALLAI, H. C.; SCHÄFFER, N. O.; KAERCHER,
N. A. (Org.). Geografia em sala de aula: práticas e reflexões. 2. ed. Porto Alegre: Ed. da
UFRGS/AGB, 1999.
129
CAVALCANTI, L. de S. (Org.). Uma geografia da cidade: elementos da produção do espaço
urbano. In: Geografia da cidade: a produção do espaço urbano em Goiânia. Goiânia, GO:
Alternativa, 2001.
______. Geografia, escola e conhecimento. São Paulo: Papirus, 1998 (Coleção Magistério:
Formação e Trabalho Pedagógico).
______. Geografia e práticas de ensino. Goiânia, GO: Alternativa, 2002.
______. Ensino de geografia em diversidade: construção de conhecimentos geográficos
escolares e atribuição de significados pelos diversos sujeitos do processo de ensino. In:
CASTELLAR, S. M. V. (Org.) Educação geográfica: teoria e práticas docentes. São Paulo:
Contexto, 2005.
COLL, C.; PALÁCIOS, J.; MARCHESI, A. Desenvolvimento psicológico e educação:
psicologia da educação. Porto Alegre: Artes Médicas, 1996, v. 2.
CORRÊA, R. L. Espaço: um conceito-chave da Geografia. In: CASTROGIOVANNI, A. C.
E. et al. Geografia: conceitos e temas. Rio de Janeiro: Bertrand Brasil, 1995.
CREMA, M. C. da S. Técnicas/Instrumentos de coleta de dados em pesquisa.
Florianópolis, 1994. (Texto datilografado).
DOLFUSS, O. O espaço geográfico. 3. ed. Rio de Janeiro: Difel, 1978.
FERRARI, C. Curso de planejamento municipal integrado. São Paulo: Pioneira, 1991.
FREIRE, P. Pedagogia da autonomia: saberes necessários à prática educativa. 3. ed. São
Paulo: Paz e Terra, 1996.
______. A educação na cidade. São Paulo: Cortez, 1991.
______. Pedagogia da autonomia: saberes necessários à prática educativa. 10. ed. São
Paulo: Paz e Terra, 1999.
______; MACEDO, D. Alfabetização: leitura do mundo leitura da palavra. 2. ed. Rio de
Janeiro: Paz e Terra, 1994.
FREITAS, A. L. S. de. A urgência de uma práxis transformadora e viável na educação do
século XXI. Revista de Educação AEC. Brasília, abr./jun. 2007, ano 36, n. 143, p. 54-65.
FRICKE, R, M. Analysis of Multiple Classification in the Qualitative research, 2005.
Disponível em: <http://www.c4qi2005/papers/fricke.pdf>.
GADAMER, Hans-Georg. Verdade e método: traços fundamentais de uma hermenêutica
filosófica. Trad. de Flávio Paulo Meurer. 3. ed. Petrópolis, RJ: Vozes, 1999.
GARCIA, H. C.; GARAVELLO, T. M. Geografia: de olho no mundo do trabalho. São
Paulo: Scipione, 2005, volume único.
130
GIL, A. C. Métodos e técnicas de pesquisa social. São Paulo: Atlas, 2006.
HOUAISS, A. Dicionário Eletrônico Houaiss da Língua Portuguesa. Versão 1.0. São
Paulo: Objetiva, 2001.
IBGE. Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística. Ministério do Planejamento, 2008.
JOLY, F. A cartografia. Campinas: Papirus, 1990.
KAERCHER, N. A. O ensino de Geografia na visão dos alunos secundarista: limites
presentes, desafios futuros, 1995. Dissertação (Mestrado em Educação) - UFRGS, Porto
Alegre, 1995.
______. Desafios e utopias no ensino de Geografia. 2. ed. Santa Cruz do Sul: Ed. da Unisc,
1998.
______. Geografizando o jornal e outros cotidianos: práticas em Geografia para além do livro
didático. In: CASTROGIOVANNI A. C. (Org.). Ensino de Geografia: práticas e
textualizações no cotidiano. Porto Alegre: Mediação, 2002a.
______. A Geografia crítica: alguns obstáculos e questões a enfrentar no ensino
±
aprendizagem de Geografia. Boletim Gaúcho de Geografia. Porto Alegre: AGB, v. 28, 1,
2002b.
LAKATOS, E. M.; MARCONI, M. de A. Metodologia do trabalho científico. 6. ed. São
Paulo: Atlas, 2001.
MARTINELLI, M. Curso de cartografia temática. São Paulo: Contexto, 1991.
MINAYO, M. C. S. Desafio do conhecimento: pesquisa qualitativa em Saúde. São Paulo:
Hucitec, 1993.
MOREIRA, J. C.; SENE, E. de. Geografia geral e do Brasil: espaço geográfico e
globalização. São Paulo: Scipione, 2007. Volume único.
MUNICÍPIO DE IJUÍ. Lei orgânica do município de Ijuí. 1990.
NUNES, C. N. Ensino Médio: diretrizes curriculares nacionais. Rio de Janeiro: DP&A, 2002.
PDDI. Plano Diretor de Desenvolvimento Integrado. Espaço urbano. Ijuí: Prefeitura
Municipal de Ijuí e Fidene/Unijuí, 1991.
PEET, R.; WATTS, M. Liberation ecologies: development and environment in an age of
market triumphalism. In: PEET, R.; WATTS, M. (Org.). Liberation ecologies: environment,
development, social movements. London; New York: Routledge, 1996, p. 1-45.
PEIXOTO, V. M. R. Transporte coletivo urbano e qualidade de vida em Goiânia. In:
CAVALCANTI, L. de S. Geografia da cidade: a produção do espaço urbano de Goiânia.
Goiânia, GO: Alternativa, 2001.
131
PENSADORES. Aristóteles. Trad. de Baby Abrão. São Paulo: Nova Cultural, 2004.
PUPPI, I. C. Estruturação sanitária das cidades. São Paulo: Cetesb, 1981.
RODRIGUES, A. M. Produção do espaço e ambiente urbano. In: SPÓSITO, M. E. B.
Urbanização e cidades: perspectivas geográficas. São Paulo: Ed. Unesp, 2001.
RUIZ, J. Á. Metodologia científica: guia para eficiência nos estudos. 5. ed. São Paulo: Atlas,
2002.
SACHS, Ignacy. Conferência de abertura. In: Simpósio Internacional desenvolvimento e
meio ambiente no Brasil: a contribuição de Ignacy Sachs. Belo Horizonte, 1998.
SANCHES, C. C. Desconstruir construindo um caminho para uma nova escola:
recuperação da escola
± pensar o pensado. Petrópolis, RJ: Vozes, 2005.
SANTOS, M. F. dos. A cidade como um jogo de cartas. São Paulo: Projeto Editores, 1988.
______. Metamorfoses do espaço habitado. 5. ed. São Paulo: Hucitec, 1997.
______. A urbanização brasileira. 2. ed. São Paulo: Hucitec, 1994.
______. Por uma outra globalização: do pensamento único à consciência universal. Rio de
Janeiro: Record, 2000.
______. A natureza do espaço: técnica e tempo, razão e emoção. São Paulo: Hucitec, 1996.
______. O espaço do cidadão. 2. ed. São Paulo: Nobel, 1993.
SARMIENTO, Susana. Representante da Secretaria de Assistência Social explica o
movimento internacional de cidades com o papel de transformação social. Congresso
Internacional de Cidades Educadoras. Barcelona, 1990. Disponível em:
<http://www.nossasaopaulo.org.br/portal/node/333>. Acesso em: 27 nov. 2008.
SCHÄFFER, N. O. A cidade nas aulas de Geografia. In: CASTROGIOVANNI, A. C.;
CALLAI, H. C.; SCHÄFFER, N. O.; KAERCHER, N. A.; (Org.). Geografia em sala de
aula: práticas e reflexões. 2. ed. Porto Alegre: Ed. da UFRGS/AGB, 1999.
SEABRA, O. C. de L. Conteúdos da urbanização: dilemas de método. In: SILVA, José
Borzacchielo; COSTA, Maria Clélia Lustosa; DANTAS, Eutógio Wanderley (Org) A cidade
e o urbano. Fortaleza: Ed. Universidade Federal do Ceará, 1997.
SEABRA, O. C. de L. Urbanização e fragmentação: apontamentos para o estudo do bairro e
da memória urbana. In: SPÓSITO, M. E. B. Urbanização e cidades: perspectivas
geográficas. São Paulo: Ed. Unesp, 2001.
SILVA, L. E. da. Construção social de sujeitos críticos uma inspiração freireana. In: Revista
de Educação. Brasília, DF, abr/jun. 2008, n. 147, ano 37.
132
SILVA, V. A. da. Geografia do Brasil e geral: povos e territórios. São Paulo: Escala
Educacional, 2005, volume único.
SIMIELLI, M. E. Primeiros mapas: como entender e construir. São Paulo: Ática, 1993. 4 v.
SOMMA, M. L. Alguns problemas metodológicos no ensino de Geografia. In:
CASTROGIOVANNI, A. C.; CALLAI, H. C.; SCHÄFFER, N. O.; KAERCHER, N. A.
(Orgs.). Geografia em sala de aula: práticas e reflexões. 2. ed. Porto Alegre: Ed. da
UFRGS/AGB, 1999.
SOUZA, Á. J. de. Geografia lingüística: dominação e liberdade. São Paulo: Contexto, 1990.
SOUZA, M. L. de. Mudar a cidade: uma introdução crítica ao planejamento e à gestão
urbanos. Rio de Janeiro: Bertrand Brasil, 2002.
SPÓSITO, E. S. A vida nas cidades. São Paulo: Contexto, 1994.
SPÓSITO, M. E. B. Urbanização e cidades: perspectivas geográficas. Presidente Prudente,
SP: Ed. Unesp, 2001.
VESENTINI, J. W. Sociedade e espaço: Geografia geral e do Brasil. 44. ed. São Paulo:
Ática, 2005, volume único.
VINTRÓ, E. Educación, escuela, ciudad de Barcelona. In: GOMES-GRANEL, Carmen;
VILA, Ignácio (Coords.). La ciudad como proyecto educativo. Barcelona: Octaedro, 2001.
VYGOTSKY, L. S. A construção do pensamento e da linguagem. São Paulo: Martins
Fontes, 2001.
______. Pensamento e linguagem. Trad. de Jefferson Luiz Camargo. 3. ed. São Paulo:
Martins Fontes, 2005.
WEBER, Max. Ensaios de sociologia. In: MILLS, Wrigth C.; GERTH, H.H. (Orgs.). Rio de
Janeiro: Guanabara Koogan, 1982.
133
ANEXOS
ANEXO 1 ± Questionário realizado com professores das escolas públicas de Ensino
Médio da cidade de Ijuí/RS.
ANEXO 2
± Princípios e critérios comuns para a avaliação de obras didáticas para o
Ensino Médio.
ANEXO 3
± Relação dos livros didáticos de Geografia aprovados pelo Programa
Nacional do Livro Didático para o Ensino Médio
± PNLEM.
ANEXO 4
± Pareceres dos professores membros da banca sobre a pesquisa.
134
ANEXO 1: QUESTIONÁRIO REALIZADO COM PROFESSORES DAS ESCOLAS
PÚBLICAS DE ENSINO MÉDIO DA CIDADE DE IJUÍ/RS
Relação das perguntas e respostas dos professores em relação à prática docente das escolas
públicas de Ensino Médio da cidade de Ijuí/RS. O questionário esta numerado de 1 a 10 ± número que
corresponde aos professores participantes desta pesquisa.
Professor 1
Caro Professor!
Peço a sua disponibilidade para preencher este questionário. A qual será fonte de pesquisa para a tese
em andamento na UFRGS ± Universidade Federal do Rio Grande do Sul ± Área Geografia.
Fique à vontade para se identificar ou manter±se em sigilo.
Responda dentro do quadro ou fora se preferir.
Se tiveres algo mais a contribuir pedimos a gentileza de escrever no fim deste Quadro.
A questão 11 tem como propósito fazer um levantamento da necessidade de mapas básicos da cidade
de Ijuí/RS, que na opinião dos professores poderiam ser utilizados como recursos nas aulas de
Geografia.
Ficamos à disposição,
Sandra Regina de Lima Bado 3332 5449 8406 8994 limabado@gmail.com
1) A qualidade do processo
ensino-aprendizagem depende:
( x) a) do desempenho do professor
( ) b) da qualidade do livro didático
( ) c) ambos
( ) d) outra. Qual?
Hoje temos várias opções e bons livros que podem dar suporte às
aulas.
2) Na sua opinião, o
ensino da Geografia pode
contribuir à formação da
cidadania?
(x ) Sim
( ) Não
3) Que temas você
trabalha e quais podem
contribuir a essa
formação?
Trabalho com questões ambientais, pois todos nós precisamos
participar nos destinos da cidade.
4) Que recursos você
utiliza? Responda em
ordem de importância.
(1) livros didáticos
( ) livros paradidáticos
( ) internet
( ) multimídia
ILOPHVHGRFXPHQWiULRV([³(VFULWRUHVGDOLEHUGDGH´
( ) outros, quais:
5) Quem escolhe o Livro
Ditático em sua Escola?
( x) a) O professor
( ) b) A Escola
( ) c) O grupo de professores da área
( ) d) Outra.
6) Qual o Livro Didático
que você adota?
Geografia Geral e do Brasil: espaço geográfico e globalização.
João Carlos Moreira e José Eustáquio de Sene. São Paulo:
Scipione, 2007.
Geografia: de olho no mundo do trabalho. Volume único para o
Ensino Médio. Hélio Carlos Garcia, Tito Márcio Garavello. São
Paulo: Scipione, 2005.
135
7) Quais os critérios
utilizados para a escolha
do Livro Didático?
( ) A relação entre os conteúdos e a diversidade dos alunos
( ) Apresentação do livro (qualidade na impressão de letras,
imagens, figuras, editoração, etc.)
(1) Uma abordagem que valoriza a realidade local interligada com
a global
(2 ) O estímulo à cidadania
(3 ) Preço
(4 ) Outras. Quais?
Na escola particular, onde também trabalho, o preço é um critério,
pois os alunos precisam comprar livros de outras disciplinas. Mas,
na escola pública, o preço não é um critério relevante, pois a
maioria dos alunos não adquire os livros. A partir de 2009 o
governo disponibilizará estes livros gratuitamente aos alunos. De
um lado é bom, pois vamos poder contar com o apoio do livro nas
aulas, mas, por outro, terei que seguir com as temáticas
apresentadas pelo livro, me limitando a inserir outras temáticas
que acho interessante e que estão acontecendo no momento.
8) Você trabalha com o tema
cidade?
Sim ou não?
Por quê?
Qual a escala geográfica de
análise?
Sim.
Porque a cidade é o lugar de vivência do aluno, porém são muitos
os conteúdos que preciso dar conta. Pelo reduzido número de
horas aulas de Geografia (2hs semanais), preciso fazer isto de
forma simplificada.
Quanto à escala de análise, vou correlacionando as temáticas. Ou
seja, como os livros trazem uma abordagem ampla, vou
trabalhando o global a partir do livro e discutindo as questões
locais conjuntamente. Para isto preciso estar informada sobre o
que está acontecendo a nível regional. Informo±me na mídia, nos
jornais e até na internet. Mas preciso dispensar tempo para fazer
isto. Os alunos são dinâmicos e trazem informações sobre o
local/regional sobre as quais preciso estar informada. Eles sempre
querem ouvir a opinião do professor, apesar de, muitas vezes,
discordarem dele com argumentos convincentes. Não é mais
como era antigamente, quando o professor, supostamente, detinha
a verdade: ³PDVIRLRSURIHVVRUTXHPGLVVH´
9) Você dispõe de
recursos para trabalhar a
cidade em escala local?
Poucos recursos, o ideal seria se tivéssemos recursos didáticos
atualizados disponíveis sobre o local/regional para reproduzir.
Como, por exemplo, textos, mapas, dissertações e teses sobre a
cidade local, dispostos em um único local para servir de fontes de
pesquisa. Assim poderíamos trabalhar temas relevantes nas aulas
que trazem informações sobre o local de vivência do nosso
aluno.
10) Você utiliza a cartografia?
A escola não dispõe de mapas locais, apenas os atlas tradicionais
sobre alguns países, como o Brasil, é claro, mais os mapas mundi
e das Américas. Sobre as temáticas locais eu mesma faço
artesanalmente os mapas, faço fotocópias, vou recortando e
colando. Deveríamos ter cursos que ensinassem a fazer mapas
básicos digitais, isso facilitaria a visualização das temáticas locais
em um plano cartográfico de análise, já que a graduação não
forma um professor mapeador.
11) Quais os mapas básicos de
Ijuí que você gostaria de ter
atualizados para trabalhar em
suas aulas?
(x ) político administrativo do RS
(x ) localização geográfica de Ijuí no RS e no BR
(x ) divisão administrativa do município de Ijuí
(x ) município de Ijuí com hidrografia, principais vias de acesso,
perímetro urbano
(x ) sítio urbano
136
(x ) cidade com ruas (monocromático)
(x ) cidade de Ijuí com os bairros identificados (colorido)
(x ) bairros individuais
( ) densidade urbana
( ) topografia da área urbana (curvas de níveis do terreno)
(x) condições físico/naturais da zona urbana com hidrografia,
áreas de riscos, banhados, APP, faixa de domínio
( ) fases da ocupação urbana
( ) infra±estruturas (água, energia, pavimentação, esgoto,
transporte)
Perfil do aluno:
Os alunos estão preocupados em conseguir um trabalho, em namorar, em estar na moda, no futebol,
no celular, internet, máquina digital, etc. Não estão preocupados com os problemas da cidade, com
os seus direitos e seus deveres. Não sentem a responsabilidade social nesse momento. Para estes
alunos de escolas públicas, o ideal seria que estudassem em escolas técnicas, pois seriam preparados
para o trabalho. Conseguir um trabalho é o grande objetivo e não o de ser cidadão. É por isso que,
muitas vezes, permanecem na escola: para manter o convênio escola±empresa (CIEE).
* Obs: as alternativas são de múltipla escolha ou dissertativas.
137
Professor 2
Caro Professor!
Peço a sua disponibilidade para preencher este questionário. A qual será fonte de pesquisa para a tese
em andamento na UFRGS ± Universidade Federal do Rio Grande do Sul ± Área Geografia.
Fique à vontade para se identificar ou manter±se em sigilo.
Responda dentro do quadro ou fora se preferir.
Se tiveres algo mais a contribuir pedimos a gentileza de escrever no fim deste Quadro.
A questão 11 tem como propósito fazer um levantamento da necessidade de mapas básicos da cidade
de Ijuí/RS, que na opinião dos professores poderiam ser utilizados como recursos nas aulas de
Geografia.
Ficamos à disposição,
Sandra Regina de Lima Bado 3332 5449 8406 8994 limabado@gmail.com
1) A qualidade do processo
ensino-aprendizagem depende:
( x ) a) do desempenho do professor
( ) b) da qualidade do livro didático
( ) c) ambos
( ) d) outra. Qual?
2) Você acredita que o ensino da
Geografia pode contribuir à
formação da cidadania?
(x ) Sim
( ) Não
3) Que temas você trabalha e
quais, em sua opinião, podem
contribuir a essa formação?
4) Que recursos você utiliza?
Responda em ordem de
importância.
(1) livros didáticos
(2) livros paradidáticos
( ) internet
( ) multimídia
( ) filmes e documentários
( ) outros, quais:
5) Quem escolhe o L.D. em sua
Escola?
( x) a) O professor
( ) b) A Escola
( ) c) O grupo de professores da área
( ) d) Outra.
6) Qual o L.D. que você adota?
³Geografia: Série novo Ensino Médio´ /~FLD0DULQD$OYHV GH
Almeida e Tércio Barbosa Rigolin, 2005
7) Quais os critérios utilizados
para a escolha do L.D.?
( ) A relação entre os conteúdos e a diversidade dos
alunos
( ) Apresentação do livro (qualidade na impressão de letras,
imagens, figuras, editoração, etc.)
(1) Uma abordagem que valoriza a realidade local interligada com
a global
( ) O estímulo à cidadania
( ) Preço
( ) Outras. Quais?
8) Você trabalha com o tema
cidade? Sim ou não.
Por quê?
Qual a escala geográfica de
análise?
Sim. Porém muito superficial obedecendo à indicação do Livro
que adoto da Lúcia Marina e do Tércio. Não temos tempo para
trabalhar os assuntos da realidade imediata do aluno como a sua
cidade, questões políticas locais, trabalho isto em escala nacional
ou global. A nossa cidade trabalho muito rapidamente.
138
9) Você dispõe de recursos para
trabalhar a cidade em escala
local?
Sim, utilizo o atlas Escolar realizado pela Unijui e Prefeitura
Municipal do ano de 2004, mas a cidade sofreu uma dinâmica
intensa na última década e este atlas encontra±se desatualizado.
10) Você utiliza a cartografia?
O professor de modo em geral tem pouca habilidade para
trabalhar as novas tecnologias, alguns alunos se sentem
prejudicados com isto, pois percebem que alguns professores
estão defasados em relação às possibilidades que estas
tecnologias poderiam trazer para o ensino aprendizado, onde
temos a possibilidade de, por exemplo, estudar as megalópoles, as
cidades globais, e poder correlacionar a ocupação do espaço e
tantas outras temáticas com cidades menores, poder±se±ia fazer
isto em tempo real se a escola tivesse a sua disposição
computadores ligada a internet. Em maioria os alunos dispõem
em casa, ao contrário da escola e de muitos professores. Este é
um problema que a nossa geração de professores esta sentindo.
Gostaríamos todos de ter acesso a formação continuada de
professores que disponibilizasse aprender as novas tecnologias.
11) Quais os mapas básicos de
Ijuí que você gostaria de ter
atualizados para trabalhar em
suas aulas?
(x) político administrativo do RS
(x) localização geográfica de Ijuí no RS e no BR
(x) divisão administrativa do município de Ijuí
(x) município de Ijuí com hidrografia, principais vias de acesso,
perímetro urbano
( ) sítio urbano
(x) cidade com ruas (monocromático)
(x) cidade de Ijuí com os bairros identificados (colorido)
(x) bairros individuais
( ) densidade urbana
( ) topografia da área urbana (curvas de níveis do terreno)
( ) condições físico/naturais da zona urbana com
hidrografia, áreas de riscos, banhados, APP, faixa de
domínio
( ) fases da ocupação urbana
( ) infra-estruturas (água, energia, pavimentação, esgoto,
transporte)
( ) outros
Perfil do aluno: a escola pública representa todas as classes sociais, temos alunos diversos, existem
aqueles voltados para o vestibular e aqueles que buscam o Ensino dio apenas para conseguir uma
colocação melhor no mercado de trabalho.
Obs: as alternativas são de múltipla escolha ou dissertativas.
Observação do professor: O livro de Tércio traz além artigos de jornais, revistas, que a meu ver
ele poderia aprofundar mais os conceitos, é por ai que o aluno poderá aprender de uma maneira livre,
e a partir destes artigos o aluno vai começar a construir quem sabe até a própria maneira de pensar a
Geografia e não a maneira de pensar que o professor, às vezes sem querer, ou até querendo vai
passando. E assim vai ser mais fácil o aluno assimilar o que esta proposto nos PCNs.
139
Professor 3
Caro Professor!
Peço a sua disponibilidade para preencher este questionário. A qual será fonte de pesquisa para a tese
em andamento na UFRGS ± Universidade Federal do Rio Grande do Sul ± Área Geografia.
Fique à vontade para se identificar ou manter±se em sigilo.
Responda dentro do quadro ou fora se preferir.
Se tiveres algo mais a contribuir pedimos a gentileza de escrever no fim deste Quadro.
A questão 11 tem como propósito fazer um levantamento da necessidade de mapas básicos da cidade
de Ijuí/RS, que na opinião dos professores poderiam ser utilizados como recursos nas aulas de
Geografia.
Ficamos à disposição,
Sandra Regina de Lima Bado 3332 5449 8406 8994 limabado@gmail.com
1) A qualidade do processo
ensino-aprendizagem depende:
( ) a) do desempenho do professor
( ) b) da qualidade do livro didático
(x ) c) ambos
(x ) d) outra. Qual? Comprometimento do aluno
2) Você acredita que o ensino da
Geografia pode contribuir à
formação da cidadania?
(x ) Sim
( ) Não
3) Que temas você trabalha e
quais, em sua opinião, podem
contribuir a essa formação?
Temas variados.
4) Que recursos você utiliza?
Responda em ordem de
importância.
(1) livros didáticos
(5) livros paradidáticos
(2) internet
(4) multimídia
(3) filmes e documentários.
(6) outros, quais: conhecimento que o aluno traz para sala de aula
ao longo de sua trajetória , como cidadão.
5) Quem escolhe o L.D. em sua
Escola?
( ) a) O professor
( ) b) A Escola
(x ) c) O grupo de professores da área
( ) d) Outra.
6) Qual o L.D. que você adota?
Os que a biblioteca oferece
7) Quais os critérios utilizados
para a escolha do L.D.?
(1) A relação entre os conteúdos e a diversidade dos alunos
(2) Apresentação do livro (qualidade na impressão de letras,
imagens, figuras, editoração, etc.)
(3) Uma abordagem que valoriza a realidade local interligada com
a global
(4) O estímulo à cidadania
( ) Preço
( ) Outras. Quais?
8) Você trabalha com o tema
cidade? Sim ou não.
Por quê?
Qual a escala geográfica de
análise?
A Geografia é somente na segunda série em nossa escola, isto
dificulta trabalhar todos os conteúdos de forma aprofundada,
nesse sentido não trabalhar em nível local, pois temos muito
pouco tempo para dar conta dos conteúdos propostos pelo
programa da disciplina.
140
9) Você dispõe de recursos para
trabalhar a cidade em escala
local?
Não, e não sei onde poderia procurá±los. Acho inclusive que
mapas sobre Ijuí e região nem existem. Seria interessante se
tivéssemos uma publicação de mapas sobre Ijuí ou materiais
sobre nossa cidade.
10) Você utiliza a cartografia?
Os mapas locais e regionais estão defasados, um exemplo é o
atlas escolar de Ijuí, para trabalhar com o local, às vezes preciso
apresentar para o aluno alguns mapas nesse sentido tenho que
recortar, colar e montar os mapas. Certamente o resultado não
fica bom, pois não tenho a técnica para fazer mapas, também não
tenho tempo para aprender. Minha sugestão seria a prefeitura
municipal fornecer estes mapas básicos para que a partir destes
conseguisse mapear as informações.
11) Quais os mapas básicos de
Ijuí que você gostaria de ter
atualizados para trabalhar em
suas aulas?
( ) político administrativo do RS
( ) localização geográfica de Ijuí no RS e no BR
( ) divisão administrativa do município de Ijuí
( ) município de Ijuí com hidrografia, principais vias de acesso,
perímetro urbano
( ) sítio urbano
( ) cidade com ruas (monocromático)
( ) cidade de Ijuí com os bairros identificados (colorido)
( ) bairros individuais
( ) densidade urbana
( ) topografia da área urbana (curvas de níveis do terreno)
( ) condições físico/naturais da zona urbana com
hidrografia, áreas de riscos, banhados, APP, faixa de domínio
( ) fases da ocupação urbana
( ) infra±estruturas (água, energia, pavimentação, esgoto,
transporte)
(x ) outros TODOS
Todos estes mapas seriam ferramentas importantes para o
trabalho e penso que despertariam o aluno a fazer e utilizar
os mapas como síntese das informações que coletar.
Perfil do seu aluno:
O nosso aluno de Ensino Médio não compreende a importância do estudo para a sua vida nas cidades,
como um cidadão, estuda porque os pais querem, ou para conseguir um emprego, porque pensa em
ascensão QRTXDGURGHWUDEDOKRRXQDRSLQLmRGHOHVSDUD³VHUDOJXpPQDYLGD´1RWD±se que eles não
expressam um envolvimento com os conteúdos, estuda para conseguir uma nota e para passar de ano.
As atividades ou discussões que não valem nota não são estimulantes para o nosso aluno.
* Obs: as alternativas são de múltipla escolha ou dissertativas
141
Professor 4
Caro Professor!
Peço a sua disponibilidade para preencher este questionário. A qual será fonte de pesquisa para a
tese em andamento na UFRGS ± Universidade Federal do Rio Grande do Sul ± Área Geografia.
Fique à vontade para se identificar ou manter±se em sigilo.
Responda dentro do quadro ou fora se preferir.
Se tiveres algo mais a contribuir pedimos a gentileza de escrever no fim deste Quadro.
A questão 11 tem como propósito fazer um levantamento da necessidade de mapas básicos da cidade
de Ijuí/RS, que na opinião dos professores poderiam ser utilizados como recursos nas aulas de
Geografia.
Ficamos à disposição,
Sandra Regina de Lima Bado 3332 5449 8406 8994 limabado@gmail.com
1) A qualidade do processo
ensino±aprendizagem depende:
( ) a) do desempenho do professor
( ) b) da qualidade do livro didático
( x) c) ambos
( ) d) outra. Qual?
2) Você acredita que o ensino da
Geografia pode contribuir à
formação da cidadania?
( x) Sim
( ) Não
3) Que temas você trabalha e
quais, em sua opinião, podem
contribuir a essa formação?
Como professora de turmas de ano, abordamos temas sobre o
Brasil ± aspectos físicos e humanos. Procuro estabelecer
relações entre a natureza e a ação humana. No início do ano
estudamos a ocupação e expansão do território brasileiro,
gaúcho e Ijuí. No último trimestre fazemos o estudo sobre a
população brasileira em todos os seus aspectos e voltamos
novamente para a questão regional, com estudo de textos sobre
questões econômicas e sociais que envolvem o nosso município.
Neste momento usamos muitos recortes de jornais locais para
fazermos este trabalho.
4) Que recursos você utiliza?
Responda em ordem de
importância.
(x) livros didáticos
( ) livros paradidáticos
(x) internet
(x) multimídia
(x) filmes e documentários.
(x) outros, quais: Jornais e revistas
5) Quem escolhe o L.D. em sua
Escola?
( ) a) O professor
( ) b) A Escola
(x ) c) O grupo de professores da área
( ) d) Outra.
6) Qual o L.D. que você adota?
Geografia ± Autores: Lucia Marina e Tércio ± Ed. Ática
7) Quais os critérios utilizados
para a escolha do L.D.?
( ) A relação entre os conteúdos e a diversidade dos alunos
( ) Apresentação do livro (qualidade na impressão de
letras, imagens, figuras, editoração, etc.)
(x) Uma abordagem que valoriza a realidade local interligada
com a global
( ) O estímulo à cidadania
( ) Preço
( ) Outras. Quais?
142
8) Você trabalha com o tema
cidade? Sim ou não.
Por quê?
Qual a escala geográfica de
análise?
Trabalho mais o tema Município.
9) Você dispõe de recursos para
trabalhar a cidade em escala
local?
o que encontramos em jornais e revistas. Existem alguns
livros didáticos com dados desatualizados.
10) Você utiliza a cartografia?
Uso
11) Quais os mapas básicos de
Ijuí que você gostaria de ter
atualizados para trabalhar em
suas aulas?
( x) político administrativo do RS
( x) localização geográfica de Ijuí no RS e no BR
( ) divisão administrativa do município de Ijuí
(x ) município de Ijuí com hidrografia, principais vias de acesso,
perímetro urbano
( ) sítio urbano
( ) cidade com ruas (monocromático)
( ) cidade de Ijuí com os bairros identificados (colorido)
( ) bairros individuais
( ) densidade urbana
( ) topografia da área urbana (curvas de níveis do terreno)
( ) condições físico/naturais da zona urbana com
hidrografia, áreas de riscos, banhados, APP, faixa de domínio
( ) fases da ocupação urbana
( ) infra-estruturas (água, energia, pavimentação, esgoto,
transporte)
Perfil do aluno: Os alunos que freqüentam nossa escola são provenientes de várias realidades local
e/ou regional. Um bom número desses se dedica, esforçam, outros, porém, estão na escola..., fazem
uma passagem, não dão muita importância ao estudo, principalmente da Geografia e das disciplinas
afins... o que torna nosso trabalho um pouco mais difícil, mas tudo é contornável, quando se tem
prazer no que se faz...
* Obs: as alternativas são de múltipla escolha ou dissertativas
143
Professor 5
Caro Professor!
Peço a sua disponibilidade para preencher este questionário. A qual será fonte de pesquisa para a
tese em andamento na UFRGS ± Universidade Federal do Rio Grande do Sul ± Área Geografia.
Fique à vontade para se identificar ou manter-se em sigilo.
Responda dentro do quadro ou fora se preferir.
Se tiveres algo mais a contribuir pedimos a gentileza de escrever no fim deste Quadro.
A questão 11 tem como propósito fazer um levantamento da necessidade de mapas básicos da cidade
de Ijuí/RS, que na opinião dos professores poderiam ser utilizados como recursos nas aulas de
Geografia.
Ficamos à disposição,
Sandra Regina de Lima Bado 3332 5449 8406 8994 limabado@gmail.com
1) A qualidade do processo
ensino-aprendizagem depende:
( ) a) do desempenho do professor
( ) b) da qualidade do livro didático
(x) c) ambos
( ) d) outra. Qual?
2) Você acredita que o ensino da
Geografia pode contribuir à
formação da cidadania?
(x) Sim
( ) Não
3) Que temas você trabalha e
quais, em sua opinião, podem
contribuir a essa formação?
Procuro buscar temas que estão em discussão no momento
(principalmente o que está na mídia) (ex. eleições, violência,
conflitos sociais urbanos e do campo,...)
4) Que recursos você utiliza?
Responda em ordem de
importância.
(x) livros didáticos
( ) livros paradidáticos
(x) internet
(x) multimídia
(x) filmes e documentários.
(x) outros, quais: jornais e revistas
5) Quem escolhe o L.D. em sua
Escola?
(x) a) O professor
( ) b) A Escola
( ) c) O grupo de professores da área
( ) d) Outra.
6) Qual o L.D. que você adota?
Vários: Geografia ±cia e Tércio.
Geografia do Brasil e Geral: Povos e Territórios ± Wagner da
Silva.
7) Quais os critérios utilizados
para a escolha do L.D.?
(x) A relação entre os conteúdos e a diversidade dos alunos
( ) Apresentação do livro (qualidade na impressão de letras,
imagens, figuras, editoração, etc.)
( ) Uma abordagem que valoriza a realidade local interligada
com a global
(x) O estímulo à cidadania
( ) Preço
( ) Outras. Quais?
8) Você trabalha com o tema
cidade? Sim ou não.
Por quê?
Qual a escala geográfica de
análise?
Apenas alguns textos que encontramos nos Livros didáticos
internet (IBGE)
144
9) Você dispõe de recursos para
trabalhar a cidade em escala
local?
Os materiais que disponibilizamos na escola estão
desatualizados. Ex: mapa do município de Ijuí
10) Você utiliza a cartografia?
Apenas noções básicas
11) Quais os mapas básicos de
Ijuí que você gostaria de ter
atualizados para trabalhar em
suas aulas?
(x) político administrativo do RS
(x) localização geográfica de Ijuí no RS e no BR
( ) divisão administrativa do município de Ijuí
( ) município de Ijuí com hidrografia, principais vias de acesso,
perímetro urbano
(x) sítio urbano
( ) cidade com ruas (monocromático)
( ) cidade de Ijuí com os bairros identificados (colorido)
(x) bairros individuais
(x) densidade urbana
( ) topografia da área urbana (curvas de níveis do terreno)
(x) condições físico/naturais da zona urbana com hidrografia,
áreas de riscos, banhados, APP, faixa de domínio
(x) fases da ocupação urbana
(x) infra-estruturas (água, energia, pavimentação, esgoto,
transporte)
Perfil do aluno: A maioria são trabalhadores que tem como propósito a conclusão do Ensino Médio
para obter um emprego com maior qualificação.
* Obs: as alternativas são de múltipla escolha ou dissertativas
145
Professor 6
Caro Professor!
Peço a sua disponibilidade para preencher este questionário. A qual será fonte de pesquisa para a tese
em andamento na UFRGS ± Universidade Federal do Rio Grande do Sul ± Área Geografia.
Fique à vontade para se identificar ou manter-se em sigilo.
Responda dentro do quadro ou fora se preferir.
Se tiveres algo mais a contribuir pedimos a gentileza de escrever no fim deste Quadro.
A questão 11 tem como propósito fazer um levantamento da necessidade de mapas básicos da cidade
de Ijuí/RS, que na opinião dos professores poderiam ser utilizados como recursos nas aulas de
Geografia.
Ficamos à disposição,
Sandra Regina de Lima Bado 3332 5449 8406 8994 limabado@gmail.com
1) A qualidade do processo
ensino-aprendizagem depende:
( ) a) do desempenho do professor
( ) b) da qualidade do livro didático
(x) c) ambos
( ) d) outra. Qual? Comprometimento do aluno
2) Você acredita que o ensino da
Geografia pode contribuir à
formação da cidadania?
(x) Sim
( ) Não
3) Que temas você trabalha e
quais, em sua opinião, podem
contribuir a essa formação?
Temas variados. Vai depender do enfoque dado e como se
trabalha em sala de aula, a problemática social e o que pode ser
feito é um excelente ponto de partida.
4) Que recursos você utiliza?
Responda em ordem de
importância.
(2) livros didáticos
(5) livros paradidáticos
(4) internet
(3) multimídia
(6) filmes e documentários.
(1) outros, quais: conhecimento que o aluno traz para sala de aula
ao longo de sua trajetória , como cidadão.
5) Quem escolhe o L.D. em sua
Escola?
( ) a) O professor
( ) b) A Escola
(x) c) O grupo de professores da área
( ) d) Outra.
6) Qual o Livro didático que
você adota?
Por enquanto, todos disponíveis na biblioteca. Porém acho um em
especial o Geografia: dos autores Lúcia Marina e Tércio Barbosa
7) Quais os critérios utilizados
para a escolha do L.D.?
(1) A relação entre os conteúdos e a diversidade dos alunos
(2) Apresentação do livro (qualidade na impressão de letras,
imagens, figuras, editoração, etc.)
(3) Uma abordagem que valoriza a realidade local interligada com
a global
(4) O estímulo à cidadania
( ) Preço
( ) Outras. Quais?
8) Você trabalha com o tema
cidade? Sim ou não.
Por quê?
Qual a escala geográfica de
análise?
Trabalho Urbanização em geral, pois tenho Geografia no Ensino
Médio, embora a análise de qualquer tema independente da série
HXVHPSUHLQLFLRGRFRQKHFLPHQWRGRDOXQRTXHpR³ORFDO´HD
partir daí a analise geral.
146
9) Você dispõe de recursos para
trabalhar a cidade em escala
local?
3DVVHLRHREVHUYDomRµLQORFR¶pRSRQWRGHSDUWLGD
10) Você utiliza a cartografia?
8WLOL]RHPXLWRSRUTXHQmRLPSRUWDDSHQDVVDEHU³RTXH´PDVp
SUHFLVRVDEHU³RRQGH´HDtDLPSRUWkQFLDGDFDUWRJUDILD
11) Quais os mapas básicos de
Ijuí que você gostaria de ter
atualizados para trabalhar em
suas aulas?
( ) político administrativo do RS
( ) localização geográfica de Ijuí no RS e no BR
( ) divisão administrativa do município de Ijuí
( ) município de Ijuí com hidrografia, principais vias de acesso,
perímetro urbano
( ) sítio urbano
( ) cidade com ruas (monocromático)
( ) cidade de Ijuí com os bairros identificados (colorido)
( ) bairros individuais
( ) densidade urbana
( ) topografia da área urbana (curvas de níveis do terreno)
( ) condições físico/naturais da zona urbana com
hidrografia, áreas de riscos, banhados, APP, faixa de domínio
( ) fases da ocupação urbana
( ) infra±estruturas (água, energia, pavimentação, esgoto,
transporte)
(x) TODOS são importantes e necessários para uma
análise abrangente do espaço em estudo!
Perfil do aluno: O meu aluno é ou torna±VH³FUtWLFR´RREMHWLYRpHVVHSURSRUFLRQDUFRQGLo}HVSDUD
que o aluno torna±se um transformador com consciência da realidade em que se encontra inserido.
Porém nota±VHTXHRSURIHVVRUpRSULQFLSDOUHVSRQViYHOSRUHVWDWDUHID³WUDQVIRUPDUVHXVDOXQRVHP
FUtWLFRV´
* Obs: as alternativas são de múltipla escolha ou dissertativas
147
Professor 7
Caro Professor!
Peço a sua disponibilidade para preencher este questionário. A qual será fonte de pesquisa para a tese
em andamento na UFRGS ± Universidade Federal do Rio Grande do Sul ± Área Geografia.
Fique à vontade para se identificar ou manter±se em sigilo.
Responda dentro do quadro ou fora se preferir.
Se tiveres algo mais a contribuir pedimos a gentileza de escrever no fim deste Quadro.
A questão 11 tem como propósito fazer um levantamento da necessidade de mapas básicos da cidade
de Ijuí/RS, que na opinião dos professores poderiam ser utilizados como recursos nas aulas de
Geografia.
Ficamos à disposição,
Sandra Regina de Lima Bado 3332 5449 8406 8994 limabado@gmail.com
1) A qualidade do processo
ensino-aprendizagem depende:
(x) a) do desempenho do professor
( ) b) da qualidade do livro didático
( ) c) ambos
(x) d) outra. Qual? Na realidade atual são inúmeras questões que
se inserem no processo ensino±aprendizagem. Em se falar de
qualidade, o professor tem, talvez, o papel principal, no meu
ponto de vista. Uma aula bem planejada com conteúdos reais,
concretos, do dia±a±dia do aluno, adaptado a sua realidade de
vivência é um excelente ponto de partida. Porém, muitas vezes
não se dispõem de materiais didáticos, dentre os quais os próprios
livros podem se inserir, adequados para um trabalho mais
concreto e local. Mas, não podemos nos abster de que a qualidade
do processo ensino±aprendizagem depende também da realidade
na qual o aluno está inserido, principalmente da escola pública.
Viver num mundo em que a educação não é valorizada, onde o
PRGR HFRQ{PLFR YDORUL]D R ³GDU XP MHLWLQKR´ HP WXGR VHP
precisar de um esforço maior e que cabe a escola o papel de
educador, disciplinador, psicológico, local de encontro do grupo,
é uma sobreposição de tarefas que a escola da hoje acaba tendo.
Não quero tirar a culpa do professor que não organiza uma aula
comprometida e de qualidade, e que ocorre muito, mas é quase
impossível pensar uma aprendizagem boa com uma realidade do
educando extremamente conturbada como a vemos hoje. (Sandra,
sobre esta questão precisávamos sentar e conversar muito mais,
para ficar mais claro).
2) Você acredita que o ensino da
Geografia pode contribuir à
formação da cidadania?
(x) Sim
( ) Não
3) Que temas você trabalha e
quais, em sua opinião, podem
contribuir a essa formação?
Acho que a ciência geográfica, na sua concepção de ciência
humana tem a necessidade e o dever de trabalhar as temáticas que
tragam o esclarecimento dos conceitos maiores na formação da
cidadania talvez, mesmo não sendo seu papel maior. Como as
demais ciências sociais dos componentes curriculares, a
Geografia deve trabalhar a formação da sociedade a partir da sua
inter±relação com o local de vivência abordando as noções de
ambiente, de meio natural, de trabalho e apropriação dos recursos
naturais, transformação da natureza, sociedade, diferenças de
classes, modos de produção, sistemas produtivos, entre outros.
Destes, o que acho ser mais importante, é levar o educando a
148
compreender o mundo atual como uma construção social num
processo longo e gradual de apropriação da natureza pelo homem
de forma não harmoniosa, resultando numa transformação
ambiental de não respeito às dinâmicas deste e de segregações
sociais que colocam os serem humanos em patamares diferencia±
dos. Se conseguir trabalhar estas noções e comprometer cada um
num processo de transformação que busque reduzir este impacto,
a cidadania será atingida.
4) Que recursos você utiliza?
Responda em ordem de
importância.
(1) livros didáticos
(5) livros paradidáticos
(4) internet
(6) multimídia
(3) filmes e documentários.
(2) outros, quais: Jornais, revistas que trabalhem a temática.
A disponibilidade de matérias em formato multimeios não é
muito grande e não tenho prática de preparar aulas em formato
digital, mesmo compreendendo que esta prática é importante pela
atenção que traz ao aluno por viver numa realidade digital, pois
acho que se perde um tempo grande nesta tarefa despendendo
tempo valioso de leituras e formação conceitual para intermediar
um debate teórico.
5) Quem escolhe o L.D. em sua
Escola?
( ) a) O professor
( ) b) A Escola
(x) c) O grupo de professores da área
( ) d) Outra.
6) Qual o L.D. que você adota?
trabalho com Ensino Médio,
portanto vou colocar acerca
deste!
Geografia. Série de olho no mundo do trabalho.
Autores: Helio Carlos Garcia e Tito Marcio Garavello.
Editora Scipione
Obs.: Este livro tem uma abordagem a partir de grandes
temáticas, construindo os conceitos de forma inter±relacionais,
exatamente na proposta de trabalho da escola, em especial a área
de Ciências Sociais.
7) Quais os critérios utilizados
para a escolha do L.D.?
(x) A relação entre os conteúdos e a diversidade dos alunos
( ) Apresentação do livro (qualidade na impressão de letras,
imagens, figuras, editoração, etc.)
(x) Uma abordagem que valoriza a realidade local interligada com
a global
(x) O estímulo à cidadania
(x) Preço
(x) Outras. Quais? uma combinação de fatores, mas o que
mais é levado em conta é a abordagem dos conteúdos em relação
às temáticas definidas pela área de ciências sociais tidas como
fundamentais, pelo trabalho por tematizações em conteúdos
trabalhados de forma coletiva com História, Filosofia e
Sociologia, principalmente e sem dúvida textos de trabalhem a
Geografia num contexto social que possibilite a elaboração dos
conceitos geográficos por parte do educando. Também é levado
em conta o custo do material didático, já que no ano do Ensino
Médio é feita a compra de vários livros em muitos componentes
curriculares. O livro é proposto para os três anos do médio.
8) Você trabalha com o tema
cidade? Sim ou não.
Por quê?
Qual a escala geográfica de
análise?
Como temática da Geografia na escola é proposto o estudo do
urbano e do processo da urbanização nacional e mundial. A
cidade é vista como a concretização espacial do fenômeno da
urbanização desencadeado fortemente a partir da revolução
industrial. Assim, a cidade é estudada a partir do espaço local,
149
tendo o bairro como a porção espacial em menor escala,
geralmente desencadeado o estudo a partir de um trabalho de
campo em Ijuí, e encaminhado na sequência o estudo de um
bairro por cada aluno ou por grupo de alunos. São propostas
abordagens de facetas da cidade, como o sitio urbano, atividades
econômicas, a morfologia, as atividades de serviço, equipamentos
e estrutura do local, entre outros assuntos. Também se aborda o
processo urbano nacional e mundial em relação ao
desenvolvimento das atividades econômicas e os fluxos do capital
do processo da globalização.
9) Você dispõe de recursos para
trabalhar a cidade em escala
local?
Sim, produzi mapas de localização estadual e regional e da
divisão da cidade em bairros. Sobre estes mapas mudos (sem
informação) é proposto que cada aluno registre as informações
levantadas a campo, passando assim, a produzir e compreender os
conteúdos trabalhados.
Fora material cartográfico, não disponibilização de maiores
materiais a não ser documentos históricos no museu.
10) Você utiliza a cartografia?
Sim, como dito anteriormente. Por ter experiência e
conhecimento na cartografia digital, procuro produzir mapas
mudos do espaço urbano local para serem utilizados como
ferramenta de registro das informações levantadas a campo no
processo de estudo da cidade. Dessa forma, para o educando fica
mais acessível compreender os conceitos que estão conectados ao
estudo urbano e a interpretação deste material cartográfico.
11) Quais os mapas básicos de
Ijuí que você gostaria de ter
atualizados para trabalhar em
suas aulas?
(x) político administrativo do RS
(x) localização geográfica de Ijuí no RS e no BR
(x) divisão administrativa do município de Ijuí
(x) município de Ijuí com hidrografia, principais vias de acesso,
perímetro urbano
(x) sítio urbano
(x) cidade com ruas (monocromático)
(x ) cidade de Ijuí com os bairros identificados (colorido)
(x) bairros individuais
(x) densidade urbana
(x) topografia da área urbana (curvas de níveis do terreno)
(x) condições físico/naturais da zona urbana com hidrografia,
áreas de riscos, banhados, APP, faixa de domínio
(x) fases da ocupação urbana
(x) infra±estruturas (água, energia, pavimentação, esgoto,
transporte)
Perfil do aluno:
Muitas vezes os alunos gostam de trabalhar com materiais mais práticos como a cartografia é de
melhor compreensão das temáticas propostas. Dessa forma, tendo materiais que me possibilita
abordar o tema urbano/cidade seria mais fácil entender o funcionamento de outra gama de conteúdos
que possuem relações, como economia, natureza, demografia, questão agrária, modo de produção,
industrialização, meio ambiente, cidadania entre outros.
* Obs: as alternativas são de múltipla escolha ou dissertativas
150
Professor 8
Caro Professor!
Peço a sua disponibilidade para preencher este questionário. A qual será fonte de pesquisa para a
tese em andamento na UFRGS ± Universidade Federal do Rio Grande do Sul ± Área Geografia.
Fique à vontade para se identificar ou manter±se em sigilo.
Responda dentro do quadro ou fora se preferir.
Se tiveres algo mais a contribuir pedimos a gentileza de escrever no fim deste Quadro.
A questão 11 tem como propósito fazer um levantamento da necessidade de mapas básicos da cidade
de Ijuí/RS, que na opinião dos professores poderiam ser utilizados como recursos nas aulas de
Geografia.
Ficamos à disposição,
Sandra Regina de Lima Bado 3332 5449 8406 8994 limabado@gmail.com
1) A qualidade do processo
ensino-aprendizagem depende:
( ) a) do desempenho do professor
( ) b) da qualidade do livro didático
(x) c) ambos
( ) d) outra. Qual? Incentivo governamental
2) Na sua opinião, o ensino da
Geografia pode contribuir à
formação da cidadania?
(x) Sim
( ) Não
3) Que temas você trabalha e
quais podem contribuir a essa
formação?
Valores (família, escola, sociedade, cidadania, ética, política,
diferenças sociais...)
4) Que recursos você utiliza?
Responda em ordem de
importância.
(1) livros didáticos
( ) livros paradidáticos
(3) internet
( ) multimídia
ILOPHVHGRFXPHQWiULRV([³(VFULWRUHVGDOLEHUGDGH´
(4) outros, quais: Visitas, palestras
5) Quem escolhe o livro didático
em sua Escola?
( ) a) O professor
( ) b) A Escola
(x) c) O grupo de professores da área
( ) d) Outra.
6) Qual o livro didático que você
adota?
Os disponíveis na biblioteca procuro não ficar somente com um.
Porém os que regularmente utilizo são:
Geografia, Lucia Marina e Tércio;
Geografia Geral e do Brasil, João Moreira e Estáquio de Sene
Sociedade e Espaço, do Vesentini
Geografia: de olho no mundo do trabalho, Hélio Garcia e Tito
7) Quais os critérios utilizados
para a escolha do livro didático?
(x) A relação entre os conteúdos e a diversidade dos alunos
(x) Apresentação do livro (qualidade na impressão de letras,
imagens, figuras, editoração, etc.)
(x) Uma abordagem que valoriza a realidade local interligada
com a global
(x) O estímulo à cidadania
(x) Preço
( ) Outras. Quais?
8) Você trabalha com o tema
cidade? Sim ou não. Por quê?
Qual a escala geográfica de
análise?
Sempre PIS trabalhar o global também inclui relacionar com o
local, dar exemplos, enfim facilitar as discussões sobre os temas
propostos.
151
9) Você dispõe de recursos para
trabalhar a cidade em escala
local?
Muito pouco
10) Você utiliza a cartografia?
(x) Sim, utilizo principalmente no primeiro ano (conteúdo
programado conforme plano); fundamental sempre.
( ) não
11) Quais os mapas básicos
atualizados de Ijuí que você
gostaria de trabalhar em suas
aulas?
( ) político administrativo do RS
( ) localização geográfica de Ijuí no RS e no BR
( ) divisão administrativa do município de Ijuí
( ) município de Ijuí com hidrografia, principais vias de acesso,
perímetro urbano
( ) sítio urbano
( ) cidade com ruas (monocromático)
( ) cidade de Ijuí com os bairros identificados (color)
( ) bairros individuais
( ) densidade urbana
( ) topografia da área urbana (curvas de níveis do
terreno)
( ) condições físico/naturais da zona urbana com
hidrografia, áreas de riscos, banhados, APP, faixa de domínio
( ) fases da ocupação urbana
( ) infra-estruturas (água, energia, pavimentação, esgoto,
transporte)
(x) Todos
Perfil do aluno: Oriundos dos bairros próximos à escola e do próprio bairro Modelo (15 de
Novembro, Glória; Lambari; Jardim e alguns de bairros mais longe, Alvorada, Fogliato) Como em
todas as escolas também apresentam problemas de aprendizagem, indisciplina, comprometimento,
PDVQD JUDQGH PDLRULD VmR yWLPRV DOXQRV ORQJH GH DOJXPDV UHDOLGDGHV YLVWDV ³SRU DL´ 1D IDL[D
etária entre 15 a 18 anos alguns estão no mercado de trabalho (meio turno), mas todRV³JRVWDP´
apesar de não demonstrarem muitas vezes: do LIMITE imposto, pois sabem da importância disto. A
escola assume papel importante neste processo de busca de realizações, e o educador sempre igual:
professor, amigo, mãe, pai, psicólogo, esperando sempre que a família assuma seu papel.
Obs: as alternativas são de múltipla escolha ou dissertativas
152
Professor 9
Caro Professor!
Peço a sua disponibilidade para preencher este questionário. A qual será fonte de pesquisa para a
tese em andamento na UFRGS ± Universidade Federal do Rio Grande do Sul ± Área Geografia.
Fique à vontade para se identificar ou manter±se em sigilo.
Responda dentro do quadro ou fora se preferir.
Se tiveres algo mais a contribuir pedimos a gentileza de escrever no fim deste Quadro.
A questão 11 tem como propósito fazer um levantamento da necessidade de mapas básicos da cidade
de Ijuí/RS, que na opinião dos professores poderiam ser utilizados como recursos nas aulas de
Geografia.
Ficamos à disposição,
Sandra Regina de Lima Bado 3332 5449 8406 8994 limabado@gmail.com
1) A qualidade do processo
ensino-aprendizagem depende:
(x) a) do desempenho do professor
( ) b) da qualidade do livro didático
( ) c) ambos
( ) d) outra. Qual?
2) Você acredita que o ensino da
Geografia pode contribuir à
formação da cidadania?
( ) Sim
(x) Não somente a Geografia não isto deve ser construído em
conjunto com outras ciências.
3) Que temas você trabalha e
quais, em sua opinião, podem
contribuir a essa formação?
Eu somente trabalho com os temas propostos pelo livro didático,
sigo inclusive a orientação dos autores, pois eles trazem
separadas as Unidades que preciso trabalhar, assim não preciso
me preocupar, faço uma tomada da maioria dos temas propostos
pelo livro. Ele é bem abrangente.
4) Que recursos você utiliza?
Responda em ordem de
importância.
(1) livros didáticos
( ) livros paradidáticos
( ) internet
( ) multimídia
( ) filmes e documentários.
(2) outros, quais: artigos do jornal local e Zero Hora e revistas.
5) Quem escolhe o livro didático
em sua Escola?
(x) a) O professor
( ) b) A Escola
( ) c) O grupo de professores da área
( ) d) Outra.
6) Qual o livro didático que você
adota?
O livro de Geografia da Lúcia e do Tércio (aquele com capa
azul)
7) Quais os critérios utilizados
para a escolha do livro didático?
( ) A relação entre os conteúdos e a diversidade dos alunos
( ) Apresentação do livro (qualidade na impressão de letras,
imagens, figuras, editoração, etc.)
(x) Uma abordagem que valoriza a realidade local interligada
com a global
( ) O estímulo à cidadania
( ) Preço
( ) Outras. Quais?
8) Você trabalha com o tema
cidade? Sim ou não.
Por quê?
Qual a escala geográfica de
análise?
Sim, Trabalho,
Porque o livro traz um capítulo sobre a urbanização.
Trabalho a escala global trazida pelo livro, e também nacional.
153
9) Você dispõe de recursos para
trabalhar a cidade em escala
local?
Não, mas não trabalho a cidade em escala local este é um tema
tratado apenas no ensino fundamental
10) Você utiliza a cartografia?
Sim utilizo os mapas mundi e do Brasil de diversas temáticas
existentes na biblioteca da escola.
11) Na sua opinião, quais os
mapas básicos da cidade de
Ijuí/RS você gostaria de ter
disponíveis para trabalhar em
suas aulas de Geografia ?
( ) político administrativo do RS
( ) localização geográfica de Ijuí no RS e no BR
( ) divisão administrativa do município de Ijuí
( ) município de Ijuí com hidrografia, principais vias de acesso,
perímetro urbano
( ) sítio urbano
( ) cidade com ruas (monocromático)
( ) cidade de Ijuí com os bairros identificados
(colorido)
( ) bairros individuais
( ) densidade urbana
( ) topografia da área urbana (curvas de níveis do terreno)
( ) condições físico/naturais da zona urbana com hidrografia,
áreas de riscos, banhados, APP, faixa de domínio
( ) fases da ocupação urbana
( ) infra-estruturas (água, energia, pavimentação, esgoto,
transporte)
(X) Não trabalho com estes mapas no Ensino Médio
Perfil do aluno: os alunos não querem aprofundar os conteúdos, o trabalhadores e vem para a
escola cansados, querem apenas passar de ano.
* Obs: as alternativas são de múltipla escolha ou dissertativas
154
Professor 10
Caro Professor!
Peço a sua disponibilidade para preencher este questionário. A qual será fonte de pesquisa para a
tese em andamento na UFRGS ± Universidade Federal do Rio Grande do Sul ± Área Geografia.
Fique à vontade para se identificar ou manter±se em sigilo.
Responda dentro do quadro ou fora se preferir.
Se tiveres algo mais a contribuir pedimos a gentileza de escrever no fim deste Quadro.
A questão 11 tem como propósito fazer um levantamento da necessidade de mapas básicos da cidade
de Ijuí/RS, que na opinião dos professores poderiam ser utilizados como recursos nas aulas de
Geografia.
Ficamos à disposição,
Sandra Regina de Lima Bado 3332 5449 8406 8994 limabado@gmail.com
1) A qualidade do processo
ensino-aprendizagem depende:
( ) a) do desempenho do professor
( ) b) da qualidade do livro didático
(x) c) ambos
( ) d) outra. Qual?
2) Você acredita que o ensino da
Geografia pode contribuir à
formação da cidadania?
(x) Sim
( ) Não
3) Que temas você trabalha e
quais, em sua opinião, podem
contribuir a essa formação?
Conceitos de política, ética, democracia, sistema econômico,
construção do espaço, relações de poder.
4) Que recursos você utiliza?
Responda em ordem de
importância.
(1) livros didáticos
(2) livros paradidáticos
(5) internet
(3) multimídia
(4) filmes e documentários.
(6) outros, quais:
5) Quem escolhe o livro didático
em sua Escola?
( ) a) O professor
( ) b) A Escola
(x) c) O grupo de professores da área
( ) d) Outra.
6) Qual o livro didático que você
adota?
Vários, de acordo com o tema em estudo.
7) Quais os critérios utilizados
para a escolha do livro didático?
( ) A relação entre os conteúdos e a diversidade dos alunos
( ) Apresentação do livro (qualidade na impressão de letras,
imagens, figuras, editoração, etc.)
(x) Uma abordagem que valoriza a realidade local interligada
com a global
( ) O estímulo à cidadania
( ) Preço
( ) Outras. Quais?
8) Você trabalha com o tema
cidade? Sim ou não.
Por quê?
Qual a escala geográfica de
análise?
Sim. Pois é o espaço mais próximo do aluno, de onde ele tem
conhecimentos prévios, é a realidade empírica.
Escola Estadual de Ensino Médio Emil Glitz ± Bairro Getúlio
Vargas/ Ijuí(RS).
9) Você dispõe de recursos para
trabalhar a cidade em escala
local?
Não
155
10) Você utiliza a cartografia?
Não
11) Na sua opinião, quais os
mapas básicos da cidade de
Ijuí/RS você gostaria de ter
disponíveis para trabalhar em
suas aulas de Geografia ?
( ) político administrativo do RS
(x) localização geográfica de Ijuí no RS e no BR
( ) divisão administrativa do município de Ijuí
( ) município de Ijuí com hidrografia, principais vias de acesso,
perímetro urbano
( ) sítio urbano
( ) cidade com ruas (monocromático)
(x) cidade de Ijuí com os bairros identificados (colorido)
( ) bairros individuais
( ) densidade urbana
( ) topografia da área urbana (curvas de níveis do terreno)
( ) condições físico/naturais da zona urbana com hidrografia,
áreas de riscos, banhados, APP, faixa de domínio
( ) fases da ocupação urbana
( ) infra±estruturas (água, energia, pavimentação, esgoto,
transporte)
Perfil do aluno: São alunos cujos pais estudaram pouco, tem pouco acesso a internet, são filhos de
trabalhadores em sua maioria autônomos, empregadas (os) domésticas, diaristas,
pedreiros/carpinteiros, entre outras. Muitos moram em situação de vulnerabilidade social, lugares
com precária infra±estrutura.
* Obs: as alternativas são de múltipla escolha ou dissertativas
156
ANEXO 2: PRINCÍPIOS E CRITÉRIOS COMUNS PARA A AVALIAÇÃO DE
OBRAS DIDÁTICAS PARA O ENSINO MÉDIO
O contexto educacional contemporâneo exige, cada vez mais, professores
capazes de suscitar nos alunos experiências pedagógicas significativas, diversificadas e
alinhadas com a sociedade em que estão inseridos. Nessa perspectiva, os materiais de ensino,
e em particular o livro didático, têm papel relevante. As políticas públicas voltadas para a
melhoria da qualidade de ensino devem levar em conta o compromisso com a melhoria e
ampliação dos recursos didáticos disponíveis para o trabalho docente e para o efetivo apoio ao
desenvolvimento intelectual do aluno.
No âmbito do PNLEM, a avaliação das obras didáticas baseia±se, portanto, na
premissa de que a obra deve auxiliar os professores na busca por caminhos possíveis para sua
prática pedagógica. Esses caminhos não são únicos, posto que o universo de referências não
pode se esgotar no restrito espaço da sala de aula ou da obra didática, mas atuam como uma
orientação importante para que os professores busquem, de forma autônoma, outras fontes e
experiências para complementar seu trabalho em sala de aula.
A obra didática deve considerar, em sua proposta científico±pedagógica, o
perfil do aluno e dos professores visados, as características gerais da escola pública e as
situações mais típicas e freqüentes de interação professor±aluno, especialmente em sala de
aula. Além disso, nos conteúdos e procedimentos que mobiliza, deve apresentar±se como
compatível e atualizada, seja em relação aos conhecimentos correspondentes nas ciências e
saberes de referência, seja no que diz respeito às orientações curriculares oficiais.
Reconhecidos esses pressupostos, cabe mencionar que a obra didática objeto
do PNLEM atende a uma etapa da aprendizagem ² o Ensino Médio (EM) ² e desse modo
deve contribuir para o atendimento de seus objetivos gerais, estabelecidos pelo artigo 35 da
Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional (LDB; Lei 9394/96), nos seguintes termos:
O Ensino Médio, etapa final da Educação Básica, com duração mínima de três
anos, terá como finalidades:
I. a consolidação e o aprofundamento dos conhecimentos adquiridos no ensino fundamental,
possibilitando o prosseguimento dos estudos;
157
II. a preparação básica para o trabalho e a cidadania do educando, para continuar aprendendo,
de modo a ser capaz de se adaptar com flexibilidade a novas condições de ocupação ou
aperfeiçoamento posteriores;
III. o aprimoramento do educando como pessoa humana, incluindo a formação ética e o
desenvolvimento da autonomia intelectual e do pensamento crítico;
IV. a compreensão dos fundamentos científico±tecnológicos dos processos produtivos,
relacionando a teoria com a prática, no ensino de cada disciplina.
Dessa forma, as obras didáticas não podem, seja sob a forma de texto ou
ilustração: veicular preconceitos de qualquer espécie, ignorar as discussões atuais das teorias e
práticas pedagógicas, repetir estereótipos, conter informações e conceitos errados ou análises
equivocadas, ou ainda, contrariar a legislação vigente. Do mesmo modo, não podem ser
concebidas como apostilas, com informações, regras e recomendações que visem apenas à
preparação do aluno para um exercício profissional específico ou para o ingresso no ensino
superior. Devem, ao contrário, favorecer o diálogo, o respeito e a convivência, possibilitando
a alunos e professores o acesso a conhecimentos adequados e relevantes para o crescimento
pessoal, intelectual e social dos atores envolvidos no processo educativo.
A Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional ± LDB nº 9394/96 ±
SUHFRQL]DFRPRSULQFtSLRVGRHQVLQRD³OLEHUGDGHGHDSUHQGHUHQVLQDUSHVTXLsar e divulgar a
FXOWXUD R SHQVDPHQWR D DUWH H R VDEHU´ R ³SOXUDOLVPR GH LGpLDV H GH FRQFHSo}HV
SHGDJyJLFDV´ R ³UHVSHLWR j OLEHUGDGH H DSUHoR j WROHUkQFLD´ D ³JDUDQWLD GR SDGUmR GH
TXDOLGDGH´ D ³YDORUL]DomR GD H[SHULrQFLD H[WUD±HVFRODU´ H D ³YLQFXODoão entre a educação
HVFRODURWUDEDOKRHDVSUiWLFDVVRFLDLV´7tWXOR,,DUWº).
Com base nesses princípios, a obra didática deve oferecer aos professores
liberdade de escolha e espaço para que possam agregar ao seu trabalho outros instrumentos.
Entende±se que a prática dos professores não deve se respaldar tão somente no uso da obra
didática, mas que esse material deva contribuir para que os professores organizem sua prática,
encontrem sugestões de aprofundamento e proposições metodológicas coerentes com as
concepções pedagógicas que postulam com o projeto político±pedagógico desenvolvido pela
escola. Por essa razão, e em consonância com as Diretrizes Curriculares Nacionais para o
Ensino Médio, o PNLEM/2007 abre a possibilidade de inscrição de obras didáticas
organizadas sem vinculação com a perspectiva seriada e de obras que sejam organizadas por
áreas de conhecimento.
158
Finalmente, o PNLEM apóia-se sobre o aprimoramento de quase uma década
do processo de avaliação de obras didáticas, iniciado no PNLD. Esse aprimoramento é
decorrente da experiência acumulada em avaliações anteriores, da melhoria da qualidade das
obras apresentadas em cada edição daquele Programa e, também, produto do debate e da
pesquisa que vêm ocorrendo, principalmente no meio acadêmico, a partir de 1995. Assim
como se busca um aprimoramento constante do processo, espera±se, em contrapartida, obras
didáticas cada vez mais próximas das demandas sociais e coerentes com as práticas educativas
autônomas dos professores.
Diante do até agora exposto, definem-se como critérios para a avaliação das
obras didáticas inscritas para o PNLEM/2007:
CRITÉRIOS COMUNS
Os critérios comuns são de duas naturezas: eliminatórios e de qualificação.
CRITÉRIOS ELIMINATÓRIOS
Todas as obras deverão observar os preceitos legais e jurídicos (Constituição
Federal, Estatuto da Criança e do Adolescente, Lei de Diretrizes e Bases da Educação
Nacional, Lei 10.639/2003, Diretrizes Curriculares Nacionais do Ensino Médio,
Resoluções e Pareceres do Conselho Nacional de Educação, em especial, o Parecer CEB
nº15/2000, de 04/07/2000, o Parecer CNE/CP 003/2004, de 10/03/2004 e Resolução 1,
de 17 de junho de 2004) e ainda serão sumariamente eliminadas se não observarem os
seguintes critérios:
± correção e adequação conceituais e correção das informações básicas;
± coerência e pertinência metodológicas;
± preceitos éticos.
A não-observância de qualquer um desses critérios, por parte de uma obra
didática, resultará em uma proposta contrária aos objetivos a que ela deveria servir, o que
justificará, ipso facto, sua exclusão do PNLEM.
Tendo em vista preservar a unidade e a articulação didático±pedagógica da
obra, será excluída toda a coleção que tiver um ou mais volumes excluídos no presente
processo de avaliação.
159
Correção e adequação conceituais e correção das informações básicas
Respeitando as conquistas e o modo próprio de construção do conhecimento de
cada uma das ciências de referência, assim como as demandas próprias da escola, a obra
didática deve mostrar-se atualizada em suas informações básicas, e, respeitadas as condições
da transposição didática, em conformidade conceitual com essas mesmas ciências.
Em decorrência, sob pena de descaracterizar o objeto de ensino±aprendizagem
e, portanto, descumprir sua função didático-pedagógica, será excluída a obra que:
± formular erroneamente os conceitos que veicule;
± fornecer informações básicas erradas e/ou desatualizadas;
± mobilizar de forma inadequada esses conceitos e informações, levando o aluno a construir
erroneamente conceitos e procedimentos.
Coerência e pertinência metodológicas
Na base de qualquer proposta científico-pedagógica está um conjunto de
escolhas teórico-metodológicas, responsável pela coerência interna da obra e por sua posição
relativa no confronto com outras propostas ou com outras possibilidades. Nesse sentido, será
excluída a obra que:
± não explicite suas escolhas teórico-metodológicas;
± caso recorra a diferentes opções metodológicas, apresente-as de forma desarticulada, não
evidenciando a compatibilidade entre elas;
± apresente incoerência entre as opções declaradas e a proposta efetivamente formulada;
± não alerte sobre riscos na realização das atividades propostas e não recomende claramente
os cuidados para preveni-los;
± não contribua, por meio das opções efetuadas, para:
± a consecução dos objetivos da educação em geral, do Ensino Médio, da área de
conhecimento e da disciplina;
± o desenvolvimento de capacidades básicas do pensamento autônomo e crítico (como a
compreensão, a memorização, a análise, a ntese, a formulação de hipóteses, o
planejamento, a argumentação), adequadas ao aprendizado de diferentes objetos de
conhecimento;
± a percepção das relações entre o conhecimento e suas funções na sociedade e na vida
prática.
160
Preceitos éticos
Como instrumento a serviço da Educação Nacional, é de fundamental
importância que as obras didáticas contribuam significativamente para a construção da ética
necessária ao convívio social e ao exercício da cidadania; considerem a diversidade humana
com eqüidade, respeito e interesse; respeitem a parcela juvenil do alunado a que se dirigem.
No contexto do PNLEM, as obras que se destinam às escolas da rede pública
do País devem respeitar o caráter laico do ensino público.
Em conseqüência, será excluída a obra que:
± privilegiar um determinado grupo, camada social ou região do País;
± veicular preconceitos de origem, cor, condição econômico-social, etnia, gênero,
orientação sexual, linguagem ou qualquer outra forma de discriminação;
± divulgar matéria contrária à legislação vigente para a criança e o adolescente, no que diz
respeito a fumo, bebidas alcoólicas, medicamentos, drogas e armamentos, entre outros;
± fizer publicidade de artigos, serviços ou organizações comerciais, salvaguardada,
entretanto, a exploração estritamente didático-pedagógica do discurso publicitário;
± fizer doutrinação religiosa;
± veicular idéias que promovam o desrespeito ao meio ambiente.
Critérios de qualificação
As obras diferenciam-se em maior ou menor grau no que diz respeito aos
aspectos teórico-metodológicos ou de conteúdo. Para melhor orientar os professores no
momento da escolha, serão utilizados critérios de qualificação comuns, os quais permitem
distinguir, entre si, as obras selecionadas.
± Quanto à construção de uma sociedade cidadã, espera-se que a obra didática aborde
criticamente as questões de sexo e gênero, de relações étnico-raciais e de classes sociais,
denunciando toda forma de violência na sociedade e promovendo positivamente as
minorias sociais.
9 espera-se que a obra seja caracterizada pelo uso de uma linguagem gramaticalmente
correta.
161
± Quanto ao livro do professor, é fundamental que ele:
9 descreva a estrutura geral da obra, explicitando a articulação pretendida entre suas
partes e/ou unidades e os objetivos específicos de cada uma delas;
9 oriente, com formulações claras e precisas, os manejos pretendidos ou desejáveis do
material em sala de aula;
9 sugira atividades complementares, como projetos, pesquisas, jogos etc;
9 forneça subsídios para a correção das atividades e exercícios propostos aos alunos;
9 discuta o processo de avaliação da aprendizagem e sugira instrumentos, técnicas e
atividades;
9 informe e oriente o professor a respeito de conhecimentos atualizados e/ou
especializados indispensáveis à adequada compreensão de aspectos específicos de
uma determinada atividade ou mesmo de toda a proposta pedagógica da obra.
± Quanto à estrutura editorial e aos aspectos gráfico-editoriais, além de seguir as orientações
contidas no Anexo I, item 2, do Edital de Seleção, espera-se que:
9 o texto principal esteja impresso em preto e que títulos e subtítulos apresentem-se
numa estrutura hierarquizada, evidenciada por recursos gráficos;
9 o desenho e tamanho da letra, bem como o espaço entre letras, palavras e linhas,
atendam a critérios de legibilidade;
9 a impressão não prejudique a legibilidade no verso da página;
9 o texto e as ilustrações estejam dispostos de forma organizada, dentro de uma unidade
visual; que o projeto gráfico esteja integrado ao conteúdo e não seja meramente
ilustrativo;
9 as ilustrações auxiliem na compreensão e enriqueçam a leitura do texto, devendo
reproduzir adequadamente a diversidade étnica da população brasileira, não
expressando, induzindo ou reforçando preconceitos e estereótipos. Essas ilustrações
devem ser adequadas à finalidade para as quais foram elaboradas e, dependendo do
objetivo, devem ser claras, precisas, de fácil compreensão, podendo, no entanto,
também intrigar, problematizar, convidar a pensar, despertar a curiosidade;
9 a obra recorra a diferentes linguagens visuais; que as ilustrações de caráter científico
indiquem a proporção dos objetos ou seres representados; que haja explicitação do uso
de cores-fantasia, quando utilizadas; que os mapas tragam legenda dentro das
convenções cartográficas, indiquem orientação e escala e apresentem limites
definidos;
162
9 todas as ilustrações estejam acompanhadas dos respectivos créditos, assim como os
gráficos e tabelas tragam os títulos, fonte e data;
9 a parte pós-textual contenha referências bibliográficas, indicação de leituras
complementares e glossário. É fundamental que esse glossário não contenha
incongruências conceituais ou contradições com a parte textual; e
9 o sumário reflita a organização interna da obra e permita a rápida localização das
informações.
163
ANEXO 03: RELAÇÃO DOS LIVROS DIDÁTICOS DE GEOGRAFIA APROVADOS
PELO PROGRAMA NACIONAL DO LIVRO DIDÁTICO PARA
O ENSINO MÉDIO
± PNLEM
Edição Número 73 de 17/04/2006
Ministério da Educação
Gabinete do Ministro
PORTARIA Nº 907, DE 13 DE ABRIL DE 2006
O MINISTRO DE ESTADO DA EDUCAÇÃO, no uso de suas atribuições legais,
resolve:
Art.
± Divulgar o resultado das avaliações dos Livros Didáticos dos Componentes
Curriculares de Geografia
a) Títulos recomendados
1) Geografia
± Geografia Geral e do Brasil ± Volume 1,2,3 ± Igor Antonio Gomes Moreira ±
Editora Ática;
2) Geografia
± Geral e do Brasil Volume Único ± José Willian Vesentini ± Editora Ática;
3) Geografia
± Geografia Geral e do Brasil ± Volume Único ± Tércio Barbosa Rigolin, Lúcia
Marina Alves de Almeida
± Editora Ática;
4) Geografia
± Projeto Escola e Cidadania para todos ± Volume 1 ,2, 3 Victor William
Ummus, Silas Martins Junqueira Editora Brasil;
5) Geografia do Brasil e Geral
± Volume Único Tiago Médici Garavello, Vagner Augusto da
Silva, André Almeida Garcia
± Editora Escala;
6) Geografia Geral e do Brasil
± Estudos para a compreensão do espaço ± Volume Único ±
Ivan Lazzari Mendes, James Onning Tamdjian
± Editora FTD;
7) Geografia
± Coleção Vitória±Régia ± Volume Único ± Roberto Filizola ± Editora IBEP;
8) Geografia: Pesquisa e Ação
± Volume Único Wagner Costa Ribeiro, Raul Borges
Guimarães, Ângela Corrêa Krajewski
± Editora Moderna;
9) Geografia Geral e Geografia do Brasil: o espaço natural e sócio econômico
± Volume
Único
± Lygia Maria Terra, Marcos Amorim Coelho ± Editora Moderna;
164
10) Geografia: a construção do mundo Geografia Geral e do Brasil ± Volume Único ± Regina
Célia Corrêa de Araújo, Demétrio Martinelli Magnoli
± Editora Moderna;
11) Geografia Geral e do Brasil
± Ensino Médio ± Volume Único ± Elian Alabi Lucci,
Cláudio Roberto Assis Mendonça, Anselmo Lazaro Branco
± Editora Saraiva;
12) Geografia
± Espaço e vivência ± Volume Único ± Levon Boligian, Andressa Turcatel
Alves Boligian, Angelo Bellusci Cavalcante
± Editora Saraiva;
13) Geografia
± Volume 1, 2, 3 ± João Carlos Moreira, José Eustáquio de Sene ± Editora
Scipione;
14) Geografia Volume Único
± João Carlos Moreira José Eustáquio de Sene ± Editora
Scipione.
Art. 2º
± Conforme definido em Portaria, bem como nas Resoluções e no Edital do Programa,
a divulgação do resultado não implica no compromisso de aquisição dos referidos títulos.
Art.
± Informações a respeito dos Pareceres dos referidos títulos podem ser solicitadas à
Diretoria do Departamento de Política do Ensino Médio/SEB.
Art. 4º
± Esta Portaria entra em vigor na data de sua publicação.
FERNANDO HADDAD
Livros Grátis
( http://www.livrosgratis.com.br )
Milhares de Livros para Download:
Baixar livros de Administração
Baixar livros de Agronomia
Baixar livros de Arquitetura
Baixar livros de Artes
Baixar livros de Astronomia
Baixar livros de Biologia Geral
Baixar livros de Ciência da Computação
Baixar livros de Ciência da Informação
Baixar livros de Ciência Política
Baixar livros de Ciências da Saúde
Baixar livros de Comunicação
Baixar livros do Conselho Nacional de Educação - CNE
Baixar livros de Defesa civil
Baixar livros de Direito
Baixar livros de Direitos humanos
Baixar livros de Economia
Baixar livros de Economia Doméstica
Baixar livros de Educação
Baixar livros de Educação - Trânsito
Baixar livros de Educação Física
Baixar livros de Engenharia Aeroespacial
Baixar livros de Farmácia
Baixar livros de Filosofia
Baixar livros de Física
Baixar livros de Geociências
Baixar livros de Geografia
Baixar livros de História
Baixar livros de Línguas
Baixar livros de Literatura
Baixar livros de Literatura de Cordel
Baixar livros de Literatura Infantil
Baixar livros de Matemática
Baixar livros de Medicina
Baixar livros de Medicina Veterinária
Baixar livros de Meio Ambiente
Baixar livros de Meteorologia
Baixar Monografias e TCC
Baixar livros Multidisciplinar
Baixar livros de Música
Baixar livros de Psicologia
Baixar livros de Química
Baixar livros de Saúde Coletiva
Baixar livros de Serviço Social
Baixar livros de Sociologia
Baixar livros de Teologia
Baixar livros de Trabalho
Baixar livros de Turismo