característica agrega um tipo de valor que costumeiramente só é atribuído a seres
conscientes: valor inerente.
105
Na proposta de Taylor, a ética antropocêntrica deve dar lugar a uma ética
ambiental
106
biocêntrica, organizada em um sistema de princípios morais que devem ser
seguidos no relacionamento entre humanos e ecossistemas naturais com suas
comunidades de vida silvestre.
107
Em 1982, Taylor lança em, “The Ethics of Respect for Nature”, a primeira versão
das ideias centrais que norteiam seu pensamento. Anos mais tarde, em 1986, a versão
completa de sua teoria ética ambiental é apresentada em, Respect for Nature: A Theory
of Environmental Ethics.
Não é objetivo de Taylor em sua ética reverenciar a vida em sua plenitude. O
autor escreve uma ética para a consideração da vida, que em sua expressão natural
108
,
não sofreu interferências nem intervenções humanas diretamente; considerando aspectos
importantes com respeito às peculiaridades dessa vida, submetida apenas aos processos
de evolução e seleção naturais.
Antes de avançar nas particularidades da teoria de Taylor é importante ter clara a
concepção de natureza subjacente em sua proposta. Para o autor, no sentido que
pretende usar, “natural” significa que fatores ambientais e biológicos determinantes na
estrutura de relações mantidas entre suas espécies constituintes têm lugar sem a
interferência ou intervenção humana. Para o autor, a ordem das coisas vivas em um
ecossistema natural pode ser explicada como resultante de certos processos
105
Taylor admite que esse conceito é essencialmente idêntico ao que Regan apresenta em The Case for
Animal Rights (Los Angeles: University of Califórnia Press, 1983). TAYLOR, Paul W. Respect for
Nature. A Theory of Environmental Ethics. New Jersey: Princeton University Press, 1989, p. 75, nota.
106
“Por ética ambiental define-se as relações morais estabelecidas entre os humanos e o mundo natural.
Os princípios éticos que governam essas relações determinam nossos deveres, obrigações e
responsabilidades com o ambiente natural da Terra e todos os animais e plantas que nela habitam”. Idem,
p.3.
107
“O termo ‘mundo natural’ é usado em referência a todo o conjunto de ecossistemas naturais em nosso
planeta, junto com as populações de animais e plantas que constituem a comunidade biótica desses
ecossistemas. A ideia de ecossistema natural deve ser entendida nesse livro como qualquer conjunto de
coisas vivas ecologicamente interrelacionadas que, sem a interferência ou controle humano, mantêm sua
existência como espécies através do tempo. Cada população ocupando seu próprio espaço natural e cada
um adaptado de acordo com os processos evolutivos de variação genética e de seleção natural”. Ibidem
108
Por “natural” Taylor refere-se aos fatores ambientais e biológicos determinantes na estrutura de
relações que se mantém entre as espécies constituintes dos ecossistemas sem a interferência humana. O
autor faz distinção entre dois tipos de ecossistemas naturais: 1) ecossistemas que nunca foram explorados
por mãos humanas, nem sofreram mudanças com os efeitos de sua cultura e tecnologia; 2) ecossistemas
que em algum tempo foram cultivadas pelos humanos (agricultura, criação, mineração), sofrendo certas
modificações ocasionadas por essa interferência, mas retornaram a sua condição natural após longo
período de tempo sozinho, sem qualquer intervenção submetidos novamente apenas aos processos
evolutivos e seleção natural. Idem, p. 3-4.