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interstício de quatro anos de frequência
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. Mesmo tendo funcionado apenas por um ano, a
Escola Normal Livre foi valorosa para a instrução no Piauí, visto que
Sua curta existência, contudo, ajudou a forjar o modelo de professorado
ideal para as escolas públicas e mostrou a necessidade e a viabilidade de se
ter docentes com formação profissional específica para servir como agentes
de modernização da sociedade piauiense (LOPES, 2001, p.32).
O modelo ideal de professorado tinha apoio por parte do governo estadual, pois sua
política reformista também pretendia construir aquele perfil docente. Nesse sentido, o Decreto
nº 434 de 19 de abril de 1910, em consonância com as reformas à instrução pública,
determinava, dentre outros pontos, que a Escola Normal estaria estruturada em dezoito
cadeiras. Além disso, determinava a criação de uma Escola Modelo, na qual seriam
desenvolvidas atividades práticas, mas com currículo similar ao do ensino primário.
O quadro da instrução pública nacional, segundo Mathias Olympio, confirmava a
estatística do ano de 1910, que apontava uma população de 75% de analfabetos. Nesse
sentido, “como uma das unidades federativas, o Piauhy, neste tocante, não offerece o menor
progresso” (p. 17). Dessa maneira, Mathias Olympio deixa transparecer que as dificuldades
do ensino no Estado são ecos da desestruturação da educação no país. Mathias Olympio
lembra que, fazendo uma média estatística, o número de matrículas no Estado não ultrapassou
os 0,6%, no período de 1911 a 1920. Em um universo de 555.917 habitantes, isso significa
que para cada mil habitantes apenas seis se matricularam nas escolas do Estado. Nem a cidade
de Teresina, que gozava de melhores serviços, não apresentava um cenário dos mais
gloriosos, visto que
No município desta capital, que é o mais bem servido no Estado em
matéria de ensino, o recenseamento a que ultimamente se procedeu acusou
uma população de 52.525 pessoas, das quaes 8.645 sabem ler, sendo
analphabetos 43.610. Em a nossa capital, portanto, a percentagem de
analphabetos é de 83% (MELLO, M. O.de. Relatório da Sociedade
Auxiliadora da Instrução. 1922, p. 17).
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O curso da Escola Normal Livre foi ampliado com as cadeiras de Ginástica Sueca, História Universal,
Álgebra, Literatura Nacional, Música, Italiano, Noções de ciências físicas e naturais e de Direito Constitucional.
A lei n. 642 de 17 de julho de 1911 estabelecia o período de quatro anos com a seguinte distribuição: 1º Ano:
Português, Francês, Aritmética, Geografia, Desenho, Música, Trabalhos Manuais e Ginástica; 2º Ano: Português,
Francês, Aritmética e Álgebra, Geografia, Cosmografia, Pedagogia e Metodologia, Física e Meterologia,
Desenho, Música e Trabalhos Manuais; 3º Ano: Português, Francês, Geometria e Trigonometria, Física e
Química e Meterologia, História Natural (Zootecnia e Botânica), Arboricultura, Horticultura, Jardinagem,
Pedagogia, Metodologia e Educação Moral e Cívica, Desenho, Música e Trabalhos Manuais; 4º Ano: Literatura,
História Natural, Mineralogia e Geologia, Economia Rural e Higiene, História da Civilização e do Brasil,
Pedagogia e Metodologia, Economia Doméstica, Educação Moral e Cívica.