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pós-moderna, maneira de dizer que o individualismo hedonista e personalizado se
tornou legítimo e já não depara com oposição... A sociedade pós-moderna e a
sociedade em que reina a indiferença de massa, em que domina o sentimento de
saciedade e de estagnação, em que o novo é acolhido do mesmo modo que o antigo,
em que a inovação se banalizou, em que o futuro deixou de ser assimilado a um
processo inelutável. (L
IPOVETSKY, 1983, p. 65)
A busca insaciável, a realização imediata dos prazeres (Hedonismo),
fabricados muitas vezes pelo mercado de consumo, instilando uma patológica compulsão do
desejo de ter mais e mais, movido pela moda que sobrevive do novo, dessacraliza a relação
com os ideais sociais onde o econômico subjuga o político e o ser é sombreado pelo ter. Há
uma certa anemia ideológica que desvitaliza o organismo do pensamento humano, entregue ao
descaso de um modo de viver que afeta seu estado de humor, por não manter seu espaço
próprio de crescimento pessoal e humanizador. O homem parece mergulhar em um vazio
existencial quando sua ênfase de viver é o cultivo de um individualismo que extingue um dos
grandes sentidos para uma vida mental saudável que é o adubamento do terreno das relações
interpessoais. Este seria um dos traços da nova fisionomia de nossa sociedade, como postula
Lipovetsky (1983, p.68):
A sociedade moderna era conquistadora, ciente no futuro, na
ciência e na técnica; instituiu-se em ruptura com as hierarquias de sangue e a
soberania socializada, com as tradições e os particularismos, em nome do universal,
da razão, da revolução. Esse tempo desfaz-se diante de nossos olhos; é, em parte,
contra tais princípios futuristas que as nossas sociedades se estabelecem, nesta medida
pós-moderna, ávidos de identidade, de diferença, de conservação, de descontração, de
realização pessoal imediata; a confiança e a fé no futuro dissolvem-se nos amanhãs
radiosos da revolução e do progresso. Já ninguém acredita, doravante o que se quer é
viver já, aqui e agora, ser-se jovem em vez de forjar o homem novo. Sociedade pós-
moderna significa, deste sentido, retração do tempo social e individual, precisamente
quando se impõe cada vez mais a necessidade de prever e organizar o tempo coletivo,
exaustão do impulso modernista dirigido para o futuro, desencanto e monotonia do
que é novo, esgotamento de uma sociedade que conseguiu neutralizar na apatia que a
fundamenta: a mudança. Os grandes eixos modernos, a revolução, as disciplinas, o
laicismo, a vanguarda foram desafectadas à força de personalização hedonista; o
otimismo tecnológico e científico desmoronou-se enquanto inúmeras descobertas
eram acompanhadas pelo envelhecimento dos blocos, pela degradação de meio-
ambiente, pelo apagamento progressivo dos indivíduos; já nenhuma ideologia política
é capaz de inflamar as multidões, a sociedade pós-moderna já não tem ídolos nem
tabus, já não possui qualquer imagem gloriosa de si própria ou projeto histórico
mobilizador; doravante é o vazio que nos governa, um vazio sem trágico nem
apocalipse.