BELO, M.O.M. Degradação hidrolítica dos concentrados obtidos pelo processo de ...
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1.2.4.3. Tratamento enzimático e uso de lipases
A utilização de enzimas em processos de descontaminação ambiental, principalmente no
tratamento de efluentes, foi proposta pela primeira vez na década de 30, mas só nos anos 70
surgiu a idéia da utilização de enzimas para destruição de substâncias específicas. Comparada a
processos ditos convencionais, a utilização de enzimas para tratamento de efluentes e resíduos
oferece como principais vantagens a degradação de compostos tóxicos ou recalcitrantes e a
operacionalidade em faixas mais amplas de concentração de contaminantes, de pH, de
temperatura ou de salinidade. Outras vantagens são a ausência de produção de biomassa, a
não-ocorrência de variações bruscas de carga orgânica (shock loading) e a ausência de período
de aclimatação. Muitos estudos foram realizados nas duas últimas décadas com o objetivo de
investigar novas possibilidades de utilização de enzimas em catálise ambiental. Destes, no
entanto, poucos tiveram efetiva aplicação industrial porque a maior parte teve como principal
objetivo estudar a remoção de compostos específicos, sem abordar os aspectos de engenharia
que, em último caso, determinam a viabilidade do processo (AHUJA, FERREIRA, MOREIRA,
2004).
Dentre os processos enzimáticos que visam à redução da concentração de lipídios
contidos nos efluentes com elevada carga orgânica, destacam-se os que utilizam lipases.
Impulsionadas por sua versatilidade, que permite a catálise de reações de hidrólise e de
síntese, as lipases são biocatalisadores que têm muitas aplicações, razão pela qual a sua
participação no mercado mundial de enzimas industriais cresce significativamente. Estima-se
que, no futuro, elas terão importância industrial comparável à das peptidases, que hoje em dia
representam 25 a 40% das vendas de enzimas industriais (SHARMA, CHIST, BANERJEE, 2001;
HASAN, SHAH e HAMEED, 2006).
As lipases são enzimas classificadas como hidrolases (glicerol éster hidrolases, E. C.
3.1.1.3) que atuam na interface orgânica-aquosa, catalisando a hidrólise de ligações éster-
carboxílicas e liberando ácidos e alcoóis orgânicos, sendo os acilgliceróis seus melhores
substratos (CASTRO, MENDES, SANTOS, 2004). As reações podem ocorrer a partir de
triacilglicerídeos que possuam em sua composição diferentes ácidos graxos, o que pode ser de
grande interesse para o tratamento de efluentes com alto teor de gordura (SAXENA et al., 2003).
De acordo com Haraldsson (1991), a hidrólise de ésteres de triglicerídeos ocorre por
clivagem seqüencial dos grupos acila no glicerídeo, de tal forma, que num dado momento, a
mistura reacional contém não somente triglicerídeo, água, glicerol e ácidos graxos, como também
diacilgliceróis e monoacilgliceróis. A Figura 1.2 ilustra a hidrólise seqüencial dos grupos acila no
glicerídeo catalisada por lipases.