dos bailarinos ao mercado artístico da dança, bem como o intercâmbio entre profissionais da
área, diferentemente, dos outros grupos nacionais que mantinham uma produção local.
Um exemplo importante das contribuições advindas de profissionais da dança
nacional para a companhia é o do coreógrafo Henrique Rodovalho diretor da Quasar Cia. de
Dança, da cidade de Goiânia. Em sua obra Por Que Não? – concebida para a Roda Viva Cia.
de Dança, em 1998 – ele inaugurou uma nova fase no trabalho coreográfico com corpos
deficientes, que analiso da seguinte maneira: Rodovalho poderia repetir o modelo das
coreografias pronta-entrega, características de alguns profissionais da dança, que insistem em
depositar suas criações nos corpos dos bailarinos como se estes fossem depósitos vazios,
subtraindo-lhes as capacidades críticas e criativas. Ao contrário, ele optou por observar
primeiramente a mobilidade dos corpos e a relação que cada um mantinha com a sua
deficiência, a sua sexualidade, a sua cotidianidade. Estava aí o cerne de toda a concepção
coreográfica desse profissional: aliar as técnicas e as experiências apreendidas com os corpos
na construção de sua obra.
O trabalho começa com o grupo de cinco cadeirantes em um foco de luz, ao som da
música do grupo francês Les Tambours Du Bronx, cuja trilha percussiva dava a impressão
sonora de máquinas trabalhando a todo vapor. Rodovalho criou, juntamente com os
bailarinos, pequenas vinhetas que abordavam de forma irreverente a relação entre deficientes,
vista aqui com a ironia e o humor típico dos bailarinos da Roda Viva Cia. de Dança.
Uma das vinhetas começa. Em foco, um bailarino muletante, olhando para o nada.
Em seguida, uma bailarina que tem poliomielite em uma das pernas entra no foco, olha para
ele e para o público, anda pacientemente ao seu redor, como se quisesse observar toda a
deficiência dele. Em uma ação rápida, ela chuta uma de suas muletas, ele olha para o público
com cara de nada, apoiando-se quase sem equilíbrio na outra que lhe restara. Sem cerimônias,
a bailarina caminha cinicamente ao seu redor, mantendo a relação com o público, para,
finalmente, chutar-lhe a outra muleta. Em seguida, o bailarino cai e é retirado por dois
bailarinos andantes. Blackout.
A segunda vinheta, representada, aqui, na Figura 11
destaca um cadeirante no foco,
olhando para o nada, uma tensão é criada até a entrada de uma bailarina andante com paralisia
em um dos lados do corpo. Eles entreolham-se, ela puxa uma cadeira para sentar-se ao lado
dele, novamente se olham, ele, em gesto indiscreto, curva-se para olhar o braço da moça que
parece estar tensionado e ereto para trás, o bailarino imita a deficiência dela. Logo, ela
também se curva para olhar sua pernas finas entrecruzadas na cadeira de rodas,
automaticamente também maneja as suas pernas como se fosse paraplégica cruzando-as, eles