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UNIVERSIDADE FEDERAL DE SANTA CATARINA – UFSC
CENTRO SÓCIO ECONÔMICO - CSE
CURSO DE PÓS-GRADUAÇÃO EM ADMINISTRAÇÃO - CPGA
DOUGLAS LUÍS TRÊS
DECLÍNIO E TURNAROUND:
UM ESTUDO DE CASO EM UMA EMPRESA FAMILIAR
FLORIANÓPOLIS
2010
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Universidade Federal de Santa Catarina – UFSC
Centro Sócio Econômico - CSE
Curso de Pós-Graduação em Administração - CPGA
Douglas Luís Três
Declínio e Turnaround:
Um estudo de caso em uma empresa familiar
Área de concentração:
Organizações, Sociedade e Desenvolvimento
Linha de Pesquisa:
Organizações e Sociedade
Florianópolis
2010
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Catalogação na fonte pela Biblioteca Universitária da
Universidade Federal de Santa Catarina
T796d Três, Douglas Luís
Declínio e turnaround [dissertação]: um estudo de
caso em uma empresa familiar / Douglas Luís Três;
orientador, Maurício Fernandes Pereira. - Florianópolis,
SC, 2010.
144 p.: il., grafs., tabs.
Dissertação (mestrado) - Universidade Federal de Santa
Catarina, Centro Sócio-Econômico. Programa de Pós-Graduação
em Administração.
Inclui referências
1. Administração. 2. Ciclo de vida das organizações.
3. Empresas familiares. 4. Declínio e turnaround. I.
Pereira, Mauricio Fernandes. II. Universidade Federal de
Santa Catarina. Programa de Pós-Graduação em Administração.
III. Título.
CDU 65
DOUGLAS LUÍS TRÊS
DECLÍNIO E TURNAROUND:
UM ESTUDO DE CASO EM UMA EMPRESA FAMILIAR
Dissertação apresentada como requisito parcial
à obtenção do grau de Mestre em
Administração.
Universidade Federal de Santa Catarina.
Curso de pós-graduação em Administração.
Área de concentração em organizações,
sociedade e desenvolvimento.
Orientador: Prof. Dr. Maurício Fernandes
Pereira.
FLORIANÓPOLIS
2010
DECLÍNIO E TURNAROUND:
UM ESTUDO DE CASO EM UMA EMPRESA FAMILIAR.
DOUGLAS LUÍS TRÊS
Esta dissertação foi julgada adequada para a obtenção do grau
de mestre em Administração na área de concentração em organizações,
sociedade e desenvolvimento do curso de pós-graduação em
administração da Universidade Federal de Santa Catarina e aprovada,
em sua forma final, em 11 de fevereiro de 2010.
_________________________________________________
Professor Doutor Maurício Serva
Coordenadoria
Apresentada à Comissão Examinadora composta pelos professores:
_________________________________________________
Professor Doutor Maurício Fernandes Pereira – Orientador
Universidade Federal de Santa Catarina
_________________________________________________
Professor Doutor Álvaro Guillermo Rojas Lezana – Membro
Universidade Federal de Santa Catarina
_________________________________________________
Professor Doutor Fernando A. Ribeiro Serra – Membro
Universidade do Sul de Santa Catarina
AGRADECIMENTOS
Aos meus pais, pelo esforço empreendido em me proporcionar uma boa
educação.
Em especial, a minha mãe, Lídia Maria Três, pelo exemplo de
persistência e sublimação.
À minha esposa, Vera Lúcia e a minha filha Joanna, pela compreensão e
apoio durante os dois anos do mestrado.
À minha irmã Dra. Deisy R. Três, pelo incentivo e apoio demonstrado
durante minhas pesquisas.
Ao meu orientador, professor Doutor Maurício Fernandes Pereira, que
prontamente atendeu e entendeu minha angústia por respostas.
Ao professor Doutor Fernando Serra, pelo esforço em me acolher no seu
grupo de pesquisa na UNISUL.
Aos professores e ao corpo funcional do CPGA, pelos momentos de
troca de conhecimentos e experiências.
À diretoria do SEBRAE/SC e em especial ao colega Marcondes da Silva
Cândido pela oportunidade concebida.
Aos colegas da Assessoria de Planejamento do SEBRAE/SC, (Cláudio,
Jackson e Mariana) pelos momentos de descontração e concentração
durante a realização deste trabalho.
Ao Dr. Vilson Luis de Souza, sócio e presidente do Conselho de
Administração da Dudalina, que prontamente me recebeu e
proporcionou a oportunidade de realização deste trabalho.
A Sra. Sônia Regina Hess de Souza, sócia e CEO da Dudalina e ao Sr.
Armando César Hess de Souza, sócio e ex-CEO da Dudalina, pelo
carinho com que me receberam e pela confiança depositada em meu
trabalho.
Aos colegas da turma de mestrado de 2008, por me acolherem em seu
meio e pelas demonstrações de amizade recebidas.
Enfim, a todos que de alguma forma contribuíram para a conclusão
dessa dissertação.
“Nenhum problema resiste à investida
do pensamento constante.”
François-Marie Arouet (1694 – 1778).
RESUMO
TRÊS, Douglas Luís. Declínio e turnaround: um estudo de caso em
uma empresa familiar. Dissertação de Mestrado. Florianópolis:
CPGA – UFSC, 2010.
Este trabalho tem como objetivo identificar as principais causas
de declínio e as ações que promovem o turnaround dos negócios nos
diferentes estágios do ciclo de vida de uma organização. Para tanto,
optou-se pela realização de um estudo de caso com predominância
exploratória, sendo que o método de abordagem utilizado é de caráter
descritivo. Ao longo da pesquisa foram realizadas visitas guiadas às
unidades de produção, entrevistas com os sócios/acionistas, bem como,
avaliados documentos financeiros e de gestão disponibilizados pelas
respectivas gerências e diretorias da organização. Do ponto de vista
acadêmico o tema se justifica pela carência de pesquisadores nacionais,
visto que são menos de 4 os que publicam sobre o assunto declínio e
turnaround de forma consorciada com o tema empresa familiar. Para a
sociedade a matéria é relevante, principalmente no meio empresarial,
onde a cada dez empresas que nascem quatro entram em declínio e
deixam de existir antes de completarem o primeiro ciclo de vida. A
empresa selecionada para a pesquisa, Dudalina S/A, apresenta elementos
que a caracterizam como empresa familiar e uma história de ascensão,
declínio e turnaround ao longo dos seus 53 anos de existência. Na
segunda geração de gestores e com mais de 2.800 empregados a
empresa nasceu e evoluiu com a indústria têxtil catarinense e hoje é
considerada a maior camisaria masculina da América Latina. Do ponto
de vista teórico-conceitual o trabalho utiliza o framework de Robbins e
Pierce (2003) e o Modelo dos Três Ciclos de Gersick et al. (1997) como
elementos básicos de discussão. As principais contribuições são
apresentadas no capítulo 5 e enaltecem o fato de que as crises
econômicas expõem as fragilidades das organizações, porém, o declínio
é um fenômeno que se revela anterior às crises, portanto, previsível e
passível de identificação e controle.
Palavras-chave: ciclo de vida, empresa familiar, declínio e turnaround.
ABSTRACT
TRÊS, Douglas Luís. Declination and Turnaround: a case study about a
family firm. Master Dissertation. Florianópolis, CPGA UFSC,
2010.
This work´s objective is to identify the principle reasons for
declination and actions that prove the turnaround of different
negotiations in different stages of life cycles in an organization.
Therefore, chosen as a realization of a case study with predominant
exploration, the applied approach can be stated as describing this
perspective. During the research, guided visits through all the
production units were made, interviews with the business partners and
shareholders were held, and evaluations of financial documents and
those which were available in respect to the management and executive
board of the company were done. From an academic point of view, the
topic justifies the lack of national researchers in the world, taking into
account that less than four publish in a consort on the subject family
business. For the society, the topic is relevant, mainly in the business
environment where every ten companies come to existence, four enter
into declination before concluding their first business life cycle. Subject
to this research is the company called Dudalina S/A, which holds
elements that characterize a family firm and a history reflecting rise,
decline, and turnaround during its 53 years of existence. In the second
generation of executive management, with its more than 2.800
employees in total, the company rose and proceeded as a textile industry
in Santa Catarina and is today considered to be the biggest men shirt
producer in Latin America. From a theoretical- conceptual perspective,
this dissertation used the framework of Robbins and Pierce (2003) and
the model of the three circles, written by Gersick et al. (1997) served as
the basic elements for this discussion. The main contributions are
presented in chapter 5 and laud the fact that the economic crisis
displayed the fragilities of organizations, however, the decline is a
phenomenon that can be revealed before the crisis and is, therefore,
foreseeable and susceptible to identification and control.
Keywords: life cycle, family business, decline and turnaround.
LISTA DE FIGURAS
Figura 1 – Modelo de CVO segundo Greiner................................ 26
Figura 2 – Modelo de ciclo de vida organizacional segundo
Adizes.............................................................................................
28
Figura 3 - Modelo de ciclo de vida organizacional segundo
Churchill e Lewis...........................................................................
29
Figura 4 – Modelo funcional do CVO segundo Scott e Bruce...... 30
Figura 5 – Desenvolvimento de uma empresa familiar................. 33
Figura 6 – Ciclo de vida de uma empresa familiar........................ 36
Figura 7 – Modelo dos três círculos da empresa familiar.............. 41
Figura 8 – O processo de recuperação de Robbins e Pearce II...... 49
Figura 9 – O processo de recuperação de Robbins e Pearce II – b 59
Figura 10 – Esquema do plano de investigação............................. 64
Figura 11 - Modelo dos três ciclos adaptado para a fase
inicial.............................................................................................. 86
Figura 12 - Modelo dos três ciclos adaptado para a fase de
expansão.........................................................................................
91
Figura 13 – Modelo dos três ciclos adaptado para a fase da
maturidade......................................................................................
94
Figura 14 – Eventos de impacto no ciclo de vida da empresa....... 97
Figura 15 – Fase de declínio..........................................................
115
Figura 16 – Fase de declínio na Dudalina...................................... 116
Figura 17 – Fase de estabilização e recuperação........................... 117
Figura 18 – Fase de estabilização e recuperação na Dudalina....... 117
Figura 19 – Fase de crescimento.................................................... 118
Figura 20 – Framework do Processo de declínio e turnaround na
empresa Dudalina...........................................................................
119
LISTA DE QUADROS
Quadro 1 – Expressões chaves do conceito de empresa familiar... 42
Quadro 2 – Estratégias de turnaround identificadas pelos autores 53
Quadro 3 – Fases do turnaround sugeridas por Bibeault............... 57
Quadro 4 – Fases de turnaround sugeridas por Slatter e Lovett.... 58
Quadro 5 – Relação de pessoal entrevistado.................................. 66
Quadro 6 – Resumo da empresa..................................................... 82
Quadro 7 – Mix de produtos.......................................................... 82
Quadro 8 – Principais eventos do ciclo de vida da empresa.......... 83
Quadro 9 – Quadro completo dos eventos no CVO da empresa.... 98
LISTA DE TABELAS
Tabela 1 – Taxa de sobrevivência e mortalidade por região
administrativa do Brasil.................................................................
21
Tabela 2 - Picos de investimento em importação de máquinas
têxteis entre 1890 a 1939................................................................ 71
Tabela 3 – Dimensões do setor têxtil em 1990 e 2005.................. 73
Tabela 4 – Produção têxtil em 1.000t............................................. 74
LISTA DE GRÁFICOS
Gráfico 1 – Evolução do Lucro/ROL............................................. 81
SUMÁRIO
1 INTRODUÇÃO.......................................................................... 17
1.1 TEMA E PROBLEMA DE PESQUISA.................................. 17
1.2 OBJETIVOS............................................................................ 20
1.2.1 Objetivo Geral....................................................................... 20
1.2.2 Objetivos Específicos............................................................ 20
1.3 JUSTIFICATIVA..................................................................... 20
1.4 DESCRIÇÃO SUMÁRIA DA ESTRUTURA DO
TRABALHO..................................................................................
24
2 FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA ............................................. 25
2.1 CICLO DE VIDA NAS ORGANIZAÇÕES........................... 25
2.1.1 Ciclo de vida na empresa familiar......................................... 32
2.2 EMPRESA FAMILIAR........................................................... 38
2.3 DECLÍNIO E TURNAROUND NAS ORGANIZAÇÕES..... 44
2.3.1 Declínio e turnaround: causas e conseqüências.................... 46
2.3.2 O turnaround nas organizações sob o enfoque do contexto,
conteúdo e processo....................................................................... 51
2.3.2.1 Análise do declínio e turnaround sob o enfoque do
contexto.......................................................................................... 52
2.3.2.2 Análise do turnaround sob o enfoque do conteúdo........... 53
2.3.2.3 Análise do turnaround sob o enfoque do processo............ 56
3 PROCEDIMENTOS METODOLÓGICOS ………………… 61
3.1 DELINEAMENTO DO ESTUDO........................................... 61
3.2 PERGUNTAS DE PESQUISA................................................ 65
3.3 CATEGORIAS DE ANÁLISE................................................ 65
3.4 SUJEITOS DA PESQUISA..................................................... 66
3.5 COLETA E ANÁLISE DOS DADOS..................................... 67
3.6 LIMITAÇÕES DA PESQUISA............................................... 68
4 ANÁLISE DOS DADOS............................................................ 71
4.1 CARACTERIZAÇÃO DO SETOR......................................... 71
4.2 A EMPRESA DUDALINA S/A.............................................. 76
4.2.1 A situação da empresa em 2009............................................ 81
4.2.1.1 Setor de atuação e principais produtos e marcas................ 82
4.3 CICLO DE VIDA DA EMPRESA.......................................... 83
4.3.1 Fase inicial – O primeiro ciclo da vida da empresa.............. 84
4.3.2 Expansão – Crescimento e crise ........................................... 87
4.3.3 Maturidade – Ajustes e estabilidade financeira.................... 91
4.3.4 Resumo dos eventos de impacto no CVO da empresa.......... 96
4.4 DECLÍNIO E TURNAROUND NA DUDALINA................... 99
4.4.1 As crises de 1991 e 1996 e os impactos na organização....... 99
4.4.2 A crise de 2002 e os impactos na organização ..................... 106
4.4.3 A análise das crises na Dudalina e o framework de Robbins
e Pearce II.......................................................................................
114
4.5 A DUDALINA NO FUTURO………………………………. 121
5. CONSIDERAÇÕES FINAIS E RECOMENDAÇÕES............. 123
5.1 Considerações finais................................................................. 123
5.2 Recomendações ………………………………………… 125
REFERÊNCIAS............................................................................. 127
APÊNDICE A................................................................................ 137
APÊNDICE B................................................................................ 141
APÊNDICE C................................................................................ 143
17
1 INTRODUÇÃO
O Objetivo da presente investigação é descrever as etapas do ciclo
de vida CVO, da empresa Dudalina S/A com ênfase nas relações da
família, gestão e propriedade. Igualmente é objeto deste estudo analisar
os períodos de declínio e turnaround enfrentados pela empresa nos
últimos 20 anos.
Na sequência, é apresentado o tema, o problema de pesquisa, e os
objetivos gerais e específicos, bem como a justificativa e a estrutura do
trabalho.
1.1 TEMA E PROBLEMA DE PESQUISA
Ajustes importantes ocorridos recentemente na economia mundial
trouxeram novas reflexões sobre como empresas, consideradas antes
consolidadas e com índices de liquidez atrativos, sofrem com os efeitos
da crise, entrando em declínio. Ampliando a discussão, pode-se observar
que não são somente os efeitos da crise os responsáveis pelo declínio
das empresas. Para o pesquisador Jim Collins (2009) a crise atual
reforçou o fato de que nenhuma empresa está imune aos riscos externos,
“o que determina qual empresa sai fortalecida de uma crise é o que foi
feito antes da chegada da tormenta.” (COLLINS, 2009, p. 12).
Para Paul Lawrence e Jay Lorsch (MORGAN, 1986) em diferentes
circunstâncias ambientais algumas organizações são mais aptas a
sobreviver do que outras. O fato que as diferencia é a capacidade de se
tornarem adaptáveis ao ambiente vigente. Essa capacidade de resiliência
é fruto de uma série de combinações e variáveis que têm como viés
principal o fato de identificar os problemas em sua fase inicial, com o
objetivo de encetar ações corretivas que possam inverter a curva de
crescimento negativo, elevando a empresa aos níveis anteriores à crise.
As fases de recuperação de uma organização são identificadas por
Hoffman (1989) como: declínio e recuperação do desempenho
(turnaround).
As organizações entram em declínio quando não conseguem
antecipar, reconhecer, neutralizar ou adaptar-se às pressões que
ameaçam a sobrevivência da empresa em longo prazo (WEITZEL e
JONSSON, 1989). De forma genérica o declínio pode ser conceituado
como a diminuição dos recursos disponíveis à organização e, portanto,
18
deve ser considerada uma ameaça a sua viabilidade e sustentabilidade
(MONE, 1998). Bibeault (1999, p.10) reduz ainda mais o conceito de
declínio atribuindo ao fenômeno “a falência empresarial sob o ponto de
vista de gestão”. Adizes (1990) e Weitzel e Jonsson (1989) lembram que
o declínio pode ocorrer em qualquer uma das fases do ciclo de vida da
organização, provocando a interrupção ou cessão definitiva dos
negócios.
Por sua vez o turnaround significa uma mudança no desempenho da
organização, que pode ser conseguida pela aplicação de ações e
estratégias de recuperação econômica, após um período de declínio e
ameaça a sustentabilidade dos negócios. (PANDIT, 2000; BIBEAULT,
1999). Robbins e Pearce II (1992) atribuem ao conceito de estratégia de
recuperação ações como: oferta de novos produtos e serviços aos
mercados alvos; homologação de novas tecnologias ao processo
produtivo; desenvolvimento de competências distintivas (competências
essenciais) e realização de alianças estratégicas. Ao nível operacional
Pandit (2000) alerta para a necessidade de se estabelecer atividades de
retrenchment, ou seja, elevar os níveis dos controles gerenciais e reduzir
os custos de produção. Também são conhecidas como ações de
retrenchment a redução dos ativos e a redução dos investimentos
(MICHAEL, ROBBINS, 1998). Para Schendel et al. (1976) e Hofer
(1980) tal estratégia deve ser observada como uma ação de curto prazo,
ou seja, até que as condições de crescimento sejam retomadas pela
organização.
Hofer (1980) por sua vez observa que as estratégias de turnaround
(conteúdo), dependem de uma série de variáveis ou fatores, internos e
externos (contexto), que se desdobram numa sequência de eventos
(processo). Sob esse enfoque o presente estudo ancora também o
contexto da empresa familiar que, segundo Gersick et al. (1997), está
suportada pelos eixos da família, do negócio e da propriedade.
Numa perspectiva tradicional, a empresa familiar é considerada
assim se o controle da propriedade está nas mãos de um indivíduo ou
dos membros de uma mesma família. Porém, Verstraete (2000) chama a
atenção para a dificuldade de se definir empresa familiar. Para Leone
(1992), a empresa é familiar quando foi iniciada por um membro da
família e os mesmos participam da propriedade ou direção, ou ainda,
quando há valores institucionais ligados à família e a sucessão está
vinculada à família. Em geral, os estudos sobre empresas familiares
(WESTHEAD, COWLING, 1998) consideram que a propriedade, a
gestão e a sucessão ou a intenção de passar o bastão definem uma
empresa como familiar.
19
No entanto autores como Allouche e Amann (1999) alargam a
discussão sobre este conceito. Segundo os autores, a empresa é familiar
quando o envolvimento ocorre com uma família nuclear ou quando
laços consanguíneos entre os proprietários da empresa ou eles são
casados. Do mesmo modo, essa dificuldade é mencionada por Chua e
Christman (1999), ao encontrarem como proprietários desse tipo de
empresas situações diversificadas, tais como: um indivíduo; duas
pessoas ligadas por laços consanguíneos; duas pessoas ligadas pelo
casamento; família nuclear; mais do que uma família nuclear ou uma
família extensiva. Por fim, Gersick et al. (1997), resumem a
composição de uma empresa familiar no Modelo dos Três Círculos da
Empresa Familiar (Figura 7), que, para os autores, representa de forma
definitiva as relações entre os membros da família e a organização.
Nas empresas familiares o ciclo de vida - CVO deve ser entendido
sob três momentos: a gênese (composição); a evolução da família e dos
negócios, passando para uma sociedade entre irmãos e; chegando a um
consórcio entre primos. Para os autores, Gersick et al. (1997) à medida
que a organização se desenvolve no seu ciclo de vida, as pessoas ligadas
à sociedade, também assumem novos compromissos familiares. Neste
contexto, chances de a empresa perder sua identidade, ficando mais
vulnerável. As crises internas geradas pela vulnerabilidade
organizacional refletem no desempenho da empresa, levando-a, na
maioria dos casos, ao declínio do desempenho.
O aparecimento de crises na organização não apresenta somente
consequências negativas, é também nos momentos de crise que a
empresa emerge para uma nova fase do seu CVO (SCOTT, BRUCE,
1987). Para Adizes (1990) é da natureza do crescimento da empresa o
aparecimento de crises e problemas: “crescer significa a capacidade de
lidar com problemas maiores e mais complexos. A função da liderança
é, portanto, gerenciar a organização de tal modo que ela possa passar
para o estágio seguinte e mais exigente do ciclo de vida.” (ADIZES,
1990, p. 3). Para este autor a chave para a perpetuação da empresa é sua
capacidade de se concentrar na solução dos problemas pertinentes ao
estágio atual do CVO. Quando a empresa atinge a plenitude (CVO) o
foco é evitar o envelhecimento da organização.
Diante do acima exposto e, considerando a necessidade de se
identificar os elementos que contribuem para o declínio e turnaround
das organizações, considera-se a seguinte pergunta como o eixo
principal da investigação: é possível identificar quais os elementos
que contribuem para o declínio e as estratégias que colaboram para
o turnaround dos negócios em uma organização?
20
1.2 OBJETIVOS
1.2.1 Objetivo Geral:
Descrever as etapas do ciclo de vida da empresa Dudalina S/A,
dando ênfase às relações entre as esferas da família, gestão e
propriedade ao longo da sua existência. Também é objetivo deste estudo
investigar os momentos de declínio enfrentados pela organização ao
longo dos últimos 20 anos (1989 a 2009), e quais as ações estratégicas
adotadas pela empresa para promover o turnaround nos negócios.
1.2.2 Objetivos específicos:
Identificar, na literatura, as causas do declínio das organizações;
Avaliar os estágios de declínio e as principais características ao
longo de cada estágio;
Identificar as estratégias adotadas que proporcionaram o turnaround
na empresa estudada.
Analisar o ciclo de vida da empresa sob a ótica dos eixos da família,
empresa e propriedade.
1.2 JUSTIFICATIVA
As organizações, assim como os organismos vivos, passam por
diferentes fases durante o período de crescimento e desenvolvimento,
enfrentando problemas constantes ao avançarem rumo à plenitude de
suas capacidades: “todas as empresas enfrentam contratempo e erram
em alguma fase de suas vidas...” (ADIZES, 1990, p. 19). De acordo com
Greiner (1972) as empresas nascem, se desenvolvem, alcançam a
maturidade e entram em declínio, para depois desaparecerem. Para os
autores estudados (GREINER, 1972; ADIZES, 1990; CHURCHILL,
LEWIS, 1983; QUINN, KIM, 1983; MILLER, FRIESEN, 1984;
SCOTT, BRUCE, 1987; KAZANJIAN, 1988; MOUNT et al. 1993;
PASCALE, 1994; MACEDO, 1997; GERSICK et al. 1997) este é o
processo natural no desenvolvimento de uma organização. O
21
desaparecimento de empresas, em qualquer uma das fases do CVO é
aceito e evidencia um fenômeno constante nas empresas do mundo
inteiro.
No caso das organizações que desaparecem por processo de
falência, fica evidenciado que as ações desencadeadas com o intuito de
recuperar a empresa não foram efetivas (MADEIRA, 2003). Porém,
casos de empresas que após períodos de declínio renascem e voltam a
crescer. Este fenômeno do declínio e recuperação do desempenho
(renascimento) deve ser considerado, portanto, parte do ciclo de vida das
organizações.
Pesquisas lideradas pelo Serviço de Apoio às Micro e Pequenas
Empresas Sebrae, no ano de 2007 trazem informações importantes
sobre os índices de sobrevivência e falência das empresas brasileiras. A
pesquisa indica, por exemplo, que no sul do país, mais de 58% da
empresas que iniciaram suas atividades no ano de 2000, passaram a não
mais existir em 2007. (SEBRAE, 2007). No estado de São Paulo tais
circunstâncias representaram a perda de 281 mil postos de trabalho e um
prejuízo de R$ 15,6 bilhões em investimentos e faturamento no ano de
2004.
Analisando a série histórica dos indicadores da Tabela 1 conclui-se
que as empresas passam a ter maior dificuldade de sobrevivência
conforme o ciclo de vida avança. Tal constatação pode ser explicada
pela necessidade de capitalização do negócio, na medida em que avança
na consolidação de sua atividade.
Região Status 2005 2004 2003 2002 2001 2000
Ativas 70,1 71,6 72,2 52,5 48,4 46,6
Norte
Extintas 29,9 28,4 27,8 47,5 51,6 53,4
Ativas 81,1 71,0 61,4 53,3 46,6 37,3
Nordeste
Extintas 18,9 29,0 38,6 46,7 53,4 62,7
Ativas 78,4 65,4 62,5 50,6 45,4 46,1
Centro Oeste
Extintas 21,6 34,6 37,5 49,4 54,6 53,9
Ativas 83,9 71,9 60,9 51,1 43,3 39,9
Sudeste
Extintas 16,1 28,1 39,1 48,9 56,7 61,1
Ativas 76,1 63,4 63,7 47,1 39,9 41,1
Sul
Extintas 23,9 36,6 36,3 52,9 60,1 58,9
Tabela 1 - Taxa de sobrevivência e mortalidade por região administrativa do Brasil
Fonte: Pesquisa SEBRAE, 2007
Quinn e Kim, 1983 estudaram o CVO das organizações a partir de
diversos modelos organizacionais e constatam que nos primeiros anos
de vida a empresa volta seu esforço para a atividade comercial,
22
ajustando o fluxo de caixa ao tamanho do negócio. Consolidada esta
etapa, o desafio seguinte é a melhoria dos processos produtivos e
aumento da tecnologia empregada, fatores que recomendam
investimentos maiores e um comportamento diferenciado do gestor.
Para estes autores a cada ciclo do CVO são exigidos diferentes
comportamentos e habilidades do empresário.
Também é apontada na pesquisa SEBRAE (2007) que o perfil do
empresário é, na maioria, voltado à área de produção. Normalmente são
ex-empregados (gerentes de produção) de grandes empresas que
motivados pela conquista da “liberdade” resolvem investir em um
negócio próprio. Quando perguntado aos empreendedores quais foram
os motivos que levaram ao declínio de seus negócios, as principais
respostas foram: dificuldade com logística operacional (incluindo capital
próprio e acesso a tecnologia); baixa capacidade empreendedora e falta
de habilidades gerenciais para reconhecerem oportunidades importantes
para seus negócios.
Para Argenti (1986) é preciso que pesquisadores direcionem suas
investigações para o entendimento de onde e como a empresa iniciou o
processo de declínio. A observação do autor é importante, pois, salvo
melhor juízo, a falência da empresa, como um processo, pode ser
identificada e evitada se ações corretivas forem tomadas no seu devido
tempo. Desta forma, esse estudo se justifica, pois tem a pretensão de
identificar os elementos que contribuíram para o declínio da empresa e
as ações estratégicas adotadas para seu turnaround.
Para tanto, foi realizado um estudo em profundidade na empresa
Dudalina S/A. A saga empreendedora da empresa inicia em 1957 e
confunde-se com a história da genitora da família, Dona Adelina
(Adelina Clara Hess de Souza), seus 16 filhos e seu marido, Duda
(Rodolfo Francisco de Souza Filho). Com mão de ferro Dona Adelina
comanda a abertura de um negócio que mais tarde iria se tornar um dos
principais empreendimentos da moda masculina da América Latina.
Com um planejamento de vida que incluía ter 20 filhos o jovem casal
inicia sua vida na pequena cidade de Luiz Alves – SC, no final dos anos
40. Em 1957 com 6 filhos e um pequeno comércio de secos e
molhados, seu Duda vai até a cidade de São Paulo e compra uma
quantidade exagerada de tecidos. Na volta pra casa, o que poderia se
tornar um problema para o negócio foi o grande motivador para o início
de uma nova atividade. Dona Adelina convoca duas amigas que
possuíam quinas de costura e alguma habilidade para a confecção e
inicia o processo de fabricação de camisas. Em maio desse ano nasce a
empresa Dudalina. Com o sucesso das vendas na década de 60 a
23
empresa adquire duas lojas em Balneário Camboriú SC, com a
finalidade de oferecer uma ocupação aos filhos e escoar a produção. Em
1969 o casal muda-se para a cidade de Blumenau e, em 1974, o
comando da empresa passa para a segunda geração da família, agora sob
o comando de Anselmo José (presidente) e Heitor Rodolfo (Diretor de
Produção).
Os anos 80 são marcados pela consolidação da marca e a superação
de dificuldades. A empresa sofre com as cheias do Rio Itajaí-Açu. A
produção é interrompida, e é preciso determinação para recuperar a
fábrica.
Na década de 90, sob o comando Anselmo José (presidente do
conselho de administração) e Armando Cesar (Presidente executivo) a
empresa inicia um processo de expansão e modernização do parque
fabril. Favorecidos pela abertura de mercado da economia brasileira, a
empresa começa a importar tecidos da Europa. A modernização chega à
gestão. Com a contratação de uma consultoria a empresa instala
modernas ferramentas de gestão, contrata designers reconhecidos
internacionalmente e adquire tecnologia italiana para a confecção de
camisas.
Os anos 2000 foram palcos de dificuldades. Em 2001 o lucro da
empresa foi 56% menos que no ano anterior e em 2002 a empresa
amarga prejuízos. A troca de diretoria no ano de 2002 não foi motivada
pelos resultados negativos da empresa, conforme assume o CEO da
época. A saída de Armando César Hess de Souza foi motivada por
incompatibilidades com o conselho de administração.
Em 2003 assume a presidência Sônia Regina, apoiada pelos irmãos
Renê Murilo (diretor de operações) e Rui Leopoldo (diretor de
exportações). Esta década é marcada pela responsabilidade social. A
empresa implanta um programa de participação nos lucros, torna-se
signatária do Pacto Global (programa da ONU em favor de direitos
humanos, meio ambiente e contra a corrupção), e é instituído o código
de ética na empresa. Estrategicamente a Dudalina investe fortemente em
marketing. em 2004 a empresa retoma sua curva de crescimento e o
lucro reaparece no ano seguinte.
Contudo, para se entender a história de sucesso da Dudalina S/A e
quais aspectos foram propulsores dos momentos críticos e
posteriormente do turnaround da organização (objeto deste estudo), é
preciso que se investiguem em profundidade, todos os movimentos
vividos pela empresa, estabelecendo-se relações com seu desempenho.
A análise da mudança deve ser avaliada sob a égide de que a família
pode dar o direcionamento da organização a seu próprio juízo. Neste
24
caso, é importante que seja feita a distinção entre os movimentos
naturais, proporcionados pelo amadurecimento da empresa, daqueles
originados da vontade unilateral dos sócios.
Também se justifica este estudo pelo fato de o declínio empresarial
causar importantes consequências sócio-econômicas nas comunidades
onde a organização está inserida (KOKSAL, 2002; SULL, 2003). Nesse
sentido, investigadores como Schendel et al. (1976), têm se dedicado ao
tema desde o final dos anos 70 e início dos anos 80. No Brasil, a
priorização por esse tipo de estudo é recente, encontramos poucos
pesquisadores direcionando suas linhas de pesquisa nesta área.
Os autores pesquisados, cujas idéias encontram-se expressas no
capítulo 2, tratam o tema do declínio e turnaround, sob três perspectivas
teóricas: aquelas baseadas em recursos; aquelas baseadas na adaptação
estratégica e; as de perspectiva motivacional. A presente investigação
adotou como bússola para este tema, o framework de Robbins e Pearce
II por entender que os elementos contidos neste modelo conseguem, de
forma sucinta, englobar as três perspectivas acima mencionadas.
1.4 DESCRIÇÃO SUMÁRIA DA ESTRUTURA DO TRABALHO
A presente dissertação foi estruturada em 05 capítulos que serão
apresentados a seguir:
Primeiro capítulo: neste capítulo são introduzidos os principais
temas da dissertação, são apresentados os problemas de pesquisa,
objetivos gerais e específicos e a justificativa do tema.
Segundo capítulo: apresenta a fundamentação teórica e discorre
sobre os temas da pesquisa à luz dos principais autores da área.
Terceiro capítulo: descreve os procedimentos metodológicos
adotados para realizar o trabalho.
Quarto capítulo: neste capítulo é realizada a descrição e análise dos
resultados da investigação de campo.
Quinto capítulo: neste capítulo são confrontados os temas abordados
no capítulo dois com os resultados da pesquisa de campo; também são
apresentadas as recomendações para futuros trabalhos.
25
2 FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA
Este capítulo tem por objetivo apresentar o referencial teórico que
serve como base de discussão e análise do estudo e está dividido em três
partes. Na primeira são discutidos os principais modelos de ciclo de vida
das organizações, na sequência é caracterizada a empresa familiar, e, por
fim, a terceira etapa reúne informações sobre o tema declínio das
organizações, apresentando as principais causas desse declínio,
conceituando turnaround e discorrendo sobre o tema ações estratégicas.
2.1 CICLO DE VIDA DAS ORGANIZAÇÕES
No campo das ciências sociais aplicadas, a administração toma
emprestada a lógica evolutiva dos organismos vivos para entender o
processo de crescimento e desenvolvimento das organizações. Para
Morgan (1986), embora existam controvérsias sobre temas como a
morte, que é um fato certo no ciclo biológico dos seres vivos e sobre o
período de infância, que não significa necessariamente dificuldades para
a organização, pode-se afirmar que a comparação possui um grau de
explicação razoável.
Em uma abordagem similar, pesquisas têm sido realizadas desde a
década de 70 com objetivo de apresentar, por meio de modelos, o
processo de crescimento e desenvolvimento das empresas, os chamados
ciclos de vida organizacionais – CVO. Para Quinn et al. (2003) modelos
representam, de forma bastante satisfatória, a realidade complexa e por
isso suas premissas devem ser analisadas com rigor. Diante disso,
considera-se importante examinar, neste capítulo, modelos de ciclo de
vida organizacional, pois descrevem os estágios por que passam as
organizações durante seu crescimento.
O modelo seminal aos estudos de CVO é proposto por Larry
Greiner (1972). O autor explica o CVO com base em estudos realizados
sobre o comportamento humano frente às modificações do ambiente
(Figura 1). Greiner (1972) utiliza elementos como idade; tamanho de
crescimento da indústria; foco gerencial; estrutura organizacional;
formalização; estilo da alta administração e sistemas de controle e
recompensas aos níveis gerenciais, para enquadrar as empresas em cinco
fases de desenvolvimento organizacional: 1) início, 2) sobrevivência, 3)
sucesso/decolagem, 4) expansão e 5) maturidade. Na figura 1 observa-se
26
o esquema proposto pelo autor. É importante notar que cada fase é
precedida de um momento de crise na organização. Faria e Fischer
(2001) concordam com Greiner (1972) quando afirmam que no modelo
proposto a crise gerada na fase anterior é motivo para o próximo período
de evolução.
Figura 1 - Modelo de CVO segundo Greiner
Fonte: adaptado de GREINER, 1998, p. 402.
Greiner (1972) observou que poucas empresas passam por todas as
fases de evolução e que à medida que avançam nas fases seguintes é
possível observar vestígios das fases anteriores. Para o autor as
características de estrutura, sistemas e liderança são similares em cada
fase e a transição entre ambas não acontece naturalmente, mesmo com o
empenho da alta administração. Esse fato é agravado pela dificuldade
dos gestores em entender que uma solução adotada em determinada fase
é precursora da própria crise. A maior resistência a mudança aparece na
alta administração, por significar mudanças no papel do próprio gestor.
Esse fato explica, segundo o autor, porque muitas organizações
contratam executivos externos em momentos de crise.
Macedo (1997) analisando o CVO proposto por Greiner (1972)
também assinala que em cada fase do crescimento das organizações
momentos de crise (crise da liderança, autonomia, controle e
burocracia). Os autores que defendem a existência de fases
intermediárias no CVO (GREINER, 1972; MORGAN, 1986; FARIA,
FISCHER, 2001; QUINN et al. 2003), apontam que as organizações
devem desenvolver um conjunto de ferramentas e soluções viáveis para
enfrentar o período seguinte da expansão evolutiva.
Miller e Friesen (1984) sugerem que as 05 fases propostas por
Greiner não seguem uma sequência lógica do primeiro ao último
estágio. Para esses autores uma organização pode se manter em
Crescimento
por delegação
Crise de
controle
Crescimento por
coordenação
Crise de
burocracia
Crescimento por
colaboração
Crise
Crise de
liderança
Crescimento
pela
criatividade Crise de
autonomia
Crescimento
pela direção
Fase 1 - Início
Fase 2 -
Sobrevivência
Fase 3 – sucesso/
decolagem
Fase 4 –
Expansão
Fase 5 –
Maturidade
Empresa
Jovem
Empresa
madura
Evolução
Grande
empresa
Pequena
empresa
C
r
e
s
c
i
m
e
n
t
o
Crescimento
por delegação
Crise de
controle
Crescimento por
coordenação
Crise de
burocracia
Crescimento por
colaboração
Crise
Crise de
liderança
Crescimento
pela
criatividade Crise de
autonomia
Crescimento
pela direção
Fase 1 - Início
Fase 2 -
Sobrevivência
Fase 3 – sucesso/
decolagem
Fase 4 –
Expansão
Fase 5 –
Maturidade
Empresa
Jovem
Empresa
madura
Evolução
Grande
empresa
Pequena
empresa
C
r
e
s
c
i
m
e
n
t
o
27
determinada fase por período indeterminado, não existe uma sequência
que seja absoluta e definitiva, o tempo de permanência em cada fase
varia de uma organização para outra.
O modelo de CVO proposto por Adizes (1990) apresenta cinco
estágios de crescimento (namoro, infância, toca-toca, adolescência e
plenitude) e cinco estágios de envelhecimento (estabilidade, aristocracia,
burocracia incipiente, burocracia e morte). Para esse autor a definição de
um estilo gerencial que maximize a eficiência, ajustado ao estágio e
perspectiva de evolução da organização, é fator preponderante para o
sucesso. A fase do “namoro” é a fase da ideia, a empresa ainda não
existe e o empreendedor está se apaixonando por ela. O autor alerta que
este namoro deve ser oficializado para que se transforme em casamento
(abertura oficial da empresa), que é o compromisso máximo de um
relacionamento. Para o autor quanto maior o compromisso do
empreendedor com seu negócio maior as possibilidades de êxito.
Quando a organização deixa de ser um sonho e passa a operar e produzir
resultados é a fase da “infância”; nesta fase o importante é ter atitude.
Uma empresa nesta fase tem pouco planejamento e o poder é
centralizado no empreendedor.
Continuando a comparação com os seres humanos em suas fases
iniciais, Adizes (1990), argumenta que a próxima fase da organização é
o “toca-toca” (comparado a um bebê que começa a engatinhar). Nesta
etapa a organização é impulsionada pelas oportunidades do mercado, o
crescimento é desordenado e a organização é reativa e não pró-ativa, as
tarefas são distribuídas conforme a disponibilidade e não pela
competência das pessoas. É fundamental que a organização comece a
identificar sistemas de controle e que o empreendedor exerça sua
habilidade de delegar. Na busca pela sua independência, assim como um
jovem, a empresa entra na fase da “adolescência”. O empreendedor
estabelece suas prioridades, mas descumpre com as próprias regras.
Nesta fase é preciso que o empreendedor fortaleça suas habilidades de
delegar autoridade, contrate pessoas profissionais para a gestão e
trabalhe de forma mais eficiente.
28
Figura 2 - Modelo de ciclo de vida organizacional segundo Adizes.
Fonte: Adaptado de Adizes, 1990, p. 97.
O estágio da “plenitude” é caracterizado, segundo o autor, pela
existência de sistemas e estruturas organizacionais funcionais; visão e
criatividade institucionalizadas; a empresa é orientada para resultados
acompanhada de planejamento e execução do planejado. Neste estágio a
empresa tem capacidade de manter uma curva positiva de crescimento e
lucratividade e, finalmente, a empresa passa a gerar novos negócios para
os sócios.
Adizes (1990) alerta que em qualquer das etapas de crescimento
(namoro, infância, toca-toca, adolescência e plenitude) a empresa corre
o risco de entrar em declínio ou até mesmo sucumbir, porém é na fase
da estabilidade que os primeiros sinais do envelhecimento aparecem na
organização. Neste estágio, para o autor, “a empresa ainda está forte,
mas vai perdendo sua flexibilidade” (ADIZES, 1990, p.69).
Churchill e Lewis (1983) também propõem um modelo de cinco
fases do ciclo de vida das organizações: concepção; sobrevivência;
lucratividade/estabilização; lucratividade/crescimento; decolagem e
maturidade. O modelo defendido por estes autores explica as fases com
base nos elementos diversidade/complexidade e tamanho da empresa,
associados aos fatores: estilo gerencial, estrutura organizacional, alcance
dos sistemas formais, metas estratégicas principais e o envolvimento do
proprietário do negócio.
29
Figura 3 - Modelo de ciclo de vida organizacional segundo Churchill e Lewis.
Fonte: Adaptado de CHURCHILL e LEWIS, 1983, p.42.
Robert Quinn e Kim Cameron (1983) concluíram que a utilização
de estilos de gestão integrados ao estágio do desenvolvimento da
empresa é fator definitivo para o crescimento organizacional, pois os
diferentes estágios organizacionais exigem atitudes e competências
diferenciadas dos gestores. O modelo dos autores é derivado de estudos
sobre nove modelos de ciclos de vida (Downs, 1975; Lippitt, 1967;
Scott, 1971; Greiner, 1972; Torbert, 1974; Lyden, 1975; Katz, Kahn,
1979; Adizes, 1979 e Kimberly, 1979) e é definido em quatro estágios.
O primeiro estágio “empresarial define que o sucesso de uma
organização está associado ao crescimento, flexibilidade, aquisição de
recursos e desenvolvimento de suporte. No segundo estágio chamado de
“coletividade” o gestor deve utilizar a comunicação e uma liderança
personalizada como forma de estimular a participação e
comprometimento dos colaboradores. No terceiro estágio de
“formalização” a eficácia é precedida da padronização de processos
internos e na definição de metas racionais de desempenho. O quarto
estágio é o da elaboração da estrutura” é quando acontece a expansão
do mercado e a descentralização da estrutura. Nesta fase a flexibilidade
nos controles é decisiva para o sucesso da organização.
Início, sobrevivência, crescimento, expansão e maturidade são os
estágios do CVO que singularizam o modelo funcional proposto por
Scott e Bruce (1987). O diferencial deste modelo é ter destacado as
instabilidades que ocorrem entre as etapas (transição de uma fase a
outra). Para os autores é nesta transição que se origina, com frequência,
o fracasso organizacional, pois tendem a causar rupturas na estrutura e
exigir novas habilidades dos gestores. A Figura 4 expressa o conceito
dos autores:
Fator crítico
para o
crescimento
da companhia
Importante,
mas
administrável
Em alguma
medida irrelevante
ou é um
subproduto natural
I
Concepção/
Existência
II
Sobrevivência
III - A
Lucratividade/
Estabilização
III - B
Lucratividade/
Crescimento
IV
Decolagem
V
Maturidade
Capacidade do dono para realizar
Caixa
Pessoas, planejamento e sistemas
Capacidade do dono para delegar
Empresa jovem Empresa madura
Grande
empresa
Pequena
empresa
Fator crítico
para o
crescimento
da companhia
Importante,
mas
administrável
Em alguma
medida irrelevante
ou é um
subproduto natural
I
Concepção/
Existência
II
Sobrevivência
III - A
Lucratividade/
Estabilização
III - B
Lucratividade/
Crescimento
IV
Decolagem
V
Maturidade
Capacidade do dono para realizar
Caixa
Pessoas, planejamento e sistemas
Capacidade do dono para delegar
Empresa jovem Empresa madura
Grande
empresa
Pequena
empresa
30
Figura 4 - Modelo funcional do ciclo de vida organizacional
Fonte: Scott e Bruce, 1987
Para Scott e Bruce (1987) a fase de “início” equivale à concepção
do negócio. A fase de “sobrevivência” é onde os esforços estão voltados
à ocupação do mercado que permita alcançar relativa estabilidade para
planejar o futuro crescimento do negócio. Para os autores quando a
empresa estiver equilibrada e o gestor dominando os sistemas gerenciais
básicos a etapa está concluída. Na etapa de “crescimento” a empresa
preocupa-se em executar o planejado na fase anterior e a equipe gestora
deve voltar-se a definições sobre novas metas de crescimento ou
permanência nos atuais patamares. Na etapa de “expansão” a empresa
põe em prática uma reorganização da estrutura, define novas estratégias,
introduz novos produtos e se integra a cadeia produtiva. A melhoria das
práticas gerenciais é condição essencial para a manutenção desta fase.
Na última etapa deste modelo a “maturidade” corresponde a
consolidação da própria organização no mercado, o planejamento
acontece de forma ordenada e o olhar está no futuro da organização.
Denominado de modelo dos quatro estágios, o trabalho de
Kazanjian (1988) considera relatos de empreendedores de empresas de
tecnologia. No primeiro estágio de “concepção e desenvolvimento” o
autor sugere que este é o estágio anterior a formalização da empresa.
Nesta fase a atenção do empreendedor está voltada para o
desenvolvimento de um novo produto. No estágio de “comercialização”
o autor sugere que os riscos a serem vencidos pelo empreendedor estão
relacionados a qualidade do projeto e da produção. O esforço da
organização está, normalmente, focado na produção e no departamento
de engenharia. O próximo estágio diz respeito ao processo de
“crescimento”, que somente será alcançado se o estágio anterior tiver
logrado êxito. A meta é produzir, vender e distribuir o produto com a
31
garantia de rentabilidade positiva. No quarto estágio, da “estabilidade”,
a preocupação maior do gestor, segundo o autor, é com a garantia da
manutenção do crescimento e de encontrar um melhor posicionamento
de mercado. O foco está no desenvolvimento de novos produtos.
o modelo proposto por Mount, Zinger e Forsyth (1993),
considera fundamental a participação ativa do proprietário da empresa
em todas as cinco fases do CVO. A primeira fase é focada na ação e na
eficiência e é chamada de fase da “empresa operada pelo proprietário”.
Nesta etapa as habilidades técnicas e de vendas são mais importantes
que as próprias habilidades gerenciais do proprietário. Para os autores na
etapa seguinte, “transição para uma empresa administrada pelo
proprietário”, ocorre uma eficiência maior nas vendas exigindo a
contratação de maior número de funcionários. Nesse sentido, o estilo
gerencial sugere mudanças. É a etapa onde o proprietário abandona o
estilo centralizador, exercido na etapa anterior e se dedica às funções
gerenciais de seu negócio. Na próxima etapa, “transição para a
administração profissional”, o proprietário deve delegar
responsabilidades e estabelecer processos de comunicação mais
eficientes. Nesta etapa, portanto, há maior ênfase na burocracia interna e
uma demanda por recursos às áreas de suporte. A quinta e última etapa,
chamada de “administração profissional” é caracterizada pela presença
de profissionais ligados à gestão, especialistas em áreas funcionais que
participam das decisões, têm responsabilidades e autoridade definidas.
Nesta fase a equipe de planejamento ganha maior importância, segundo
os autores.
Por assumir contornos importantes, pois transita de forma
transversal em todos os estágios do CVO, os temas envelhecimento
(ADIZES, 1990) e declínio organizacional serão abordados em capítulo
a parte no item 2.3 deste trabalho.
É ponto comum entre os autores estudados (GREINER, 1972;
ADIZES, 1990; CHURCHILL, LEWIS, 1983; QUINN, KIM, 1983;
MILLER, FRIESEN, 1984; SCOTT, BRUCE, 1987; KAZANJIAN,
1988; MOUNT et al. 1993; PASCALE, 1994; MACEDO, 1997;
GERSICK et al. 1997) que as crises mal administradas provocam o
declínio e a morte das organizações, independente do estágio do ciclo de
vida em que se encontrem. Independente do autor os CVO apresentam
conceitos que remetem às fases de nascimento, crescimento,
estabilização, decadência e morte. Também se percebe uma
convergência de opinião quando os autores evidenciam que o aumento
da complexidade na organização acontece na etapa de crescimento,
exigindo, desta forma, um esforço maior da organização em vencê-los.
32
Por outro lado, na etapa do envelhecimento a empresa perde, de forma
visível, a capacidade de enfrentamento das crises e, se estratégias de
turnaround não forem adotadas, o desaparecimento da organização é
decretado. Os modelos estudados também apontam para a necessidade
de flexibilidade e de adoção de controles conforme a empresa avança
em seu ciclo de vida. Paradoxalmente, o exagero nos controles provoca
um aumento da burocracia em estágios mais avançados do CVO,
contribuindo para que a empresa perca sua flexibilidade. Nesse sentido o
equilíbrio é necessário, sem que, com isso, a organização perca sua
identidade. Pascale (1994) alerta que o equilíbrio demasiado pode levar
uma organização ao entorpecimento da auto-satisfação, provocando a
entropia dos sistemas, ocasionando seu declínio.
2.1.1 Ciclo de vida na empresa familiar
A utilização de um único modelo que caracterize por completo a
complexidade da empresa familiar pode levar o analista a um
reducionismo exagerado, embora, como veremos nesta discussão, os
pesquisadores Gersick, Davis, Hampton e Lansberg (1997) que são os
autores referenciais, proponham um modelo singular do CVO para a
empresa familiar. Para estes autores o ciclo de vida de uma empresa
familiar é caracterizado pela formação de um tripé, onde em um dos
eixos encontra-se a família, noutro eixo encontram-se as relações do
negócio (empresa) e na outra extremidade encontra-se o eixo do
patrimônio. Cada eixo representado por Gersick et al. (1997) possui
etapas de desenvolvimento que podem ser observados na figura 5.
Para os autores, o ciclo de vida de uma empresa familiar não é
muito diferente do ciclo de vida de organizações com outra formação
que não seja familiar. A diferença fundamental está no fato de que nas
primeiras uma evolução das relações entre os membros da família e
seus proprietários. Para os autores, o desenvolvimento de uma empresa
familiar pode ser traduzido a partir de duas perspectivas. A primeira
considera os efeitos e a influência dos eventos externos à organização:
mercado, sociedade e governo. A segunda particulariza o caso da
empresa familiar e está relacionada ao ciclo de vida deste tipo de
organização, considerando que as empresas mudam de forma previsível,
influenciadas pelo ambiente externo, porém, motivadas por questões
internas, tais como as relações entre os membros da família. A este
modelo os pesquisadores chamaram de modelo de desenvolvimento
33
tridimensional, pois considera as relações existentes nas dimensões da
família, empresa e propriedade.
Figura 5 - Desenvolvimento de uma empresa Familiar
Fonte: Gersick et al. (1997, p. 18)
Uma organização familiar normalmente inicia suas atividades pela
vontade do empreendedor chefe, que recebe o nome de proprietário
controlador ao passo que a empresa avança em sua caminhada. Quando
o controlador reconhece a necessidade e proporciona espaço para a
participação dos outros sócios da família, a empresa passa a ser
considerada como uma sociedade entre irmãos (GERSICK, et al., 1997).
O consórcio entre primos é a próxima fase e é caracterizada pela entrada
de novos sócios na organização. Esta evolução é definida por Gersick et
al. (1997) como a dimensão da propriedade.
A dimensão da família relaciona-se aos aspectos como paternidade,
casamento, padrões de comunicação, papéis dos familiares na
organização, relacionamento entre irmãos, cunhados e sogros. Para os
autores é no estágio denominado de Jovem Família Empresária que as
relações acontecem com maior intensidade, caracterizadas pela parceria
conjugal e os problemas pertinentes ao início de uma vida adulta. As
próximas gerações que entram na empresa são caracterizadas pelo
estágio Entrada na Empresa. Neste estágio são definidos os critérios de
entrada da nova geração, os planos de carreira e a fase de transição. Na
fase Trabalho Conjunto, como o nome sugere são definidas as relações
entre os pares da família (pais, irmãos, cunhados e primos), é nesta fase
que os relacionamentos complexos devem ser administrados.
Finalmente no estágio de Transição da Liderança a preocupação volta-se
34
ao fato da substituição do principal executivo da empresa. É nesta fase
que a disputa por cargos, entre os membros da família, está mais
presente (GERSICK, et al., 1997). Para Davis (1999) a sucessão é o
teste supremo de uma empresa familiar. Naquelas bem planejadas
começa cedo e os impactos são menores, se a família deseja continuar
com o sonho do fundador precisa renovar a geração de mandatários,
mesmo que a gestão da empresa seja composta por executivos externos.
A primeira fase da dimensão do negócio (início) diz respeito à
fundação da empresa e aos primeiros anos de sobrevivência. Para
Gersick et al. (1997, p.155) “a empresa que está no estágio inicial do
proprietário controlador, os dois requisitos mais importantes para a
sobrevivência são que ela reaja de forma flexível às necessidades dos
clientes e permaneça muito eficiente em relação aos custos”. Para os
autores é nesta fase que as bases da empresa familiar são constituídas.
Os aspectos culturais são introduzidos, a estratégia é definida e os
valores tornam-se a referência para os membros da família. A fase
inicial da organização requer um perfil do sócio fundador que aponte
para características empreendedoras e os aspectos de persistência,
determinação e constância de propósitos são fundamentais para a
continuidade do negócio. Nesta etapa, de acordo com Gersick et al.
(1997) os recursos que ajudaram a construir a empresa e irão dar forma
ao sonho provêm das economia pessoais do próprio fundador, ou da
colaboração de familiares e, em alguns casos, de terceiros. Por fazer
parte de seu sonho, o fundador usa controle absoluto sobre todas as
decisões da empresa, sejam elas estratégicas ou operacionais.
Outra característica deste tipo de empreendimento é a sociedade
entre o próprio casal, ao que pese a lei brasileira, no novo código civil
de 2002, proibir, parcialmente, a sociedade entre cônjuges, ou seja, o art.
977 do código civil diz: “Faculta-se aos cônjuges contratar sociedade,
entre si ou com terceiros, desde que não tenham sido casados no regime
da comunhão universal de bens, ou no da separação obrigatória”. Nesse
sentido, a vedação legal fundamenta-se numa interpretação dos
dispositivos que regulam a própria sociedade entre o casal (casamento).
De acordo com Nery (2005) no caso da comunhão universal de bens, a
titularidade da empresa pertence a ambos, pois a sociedade conjugal
assegura a divisão universal dos bens. No que diz respeito ao casamento
com separação obrigatória, a lei não permite ao casal misturar seus
patrimônios no âmbito do casamento. Ou seja, pela atual lei é permitida
a formação de sociedade entre marido e mulher, somente quando forem
casados sob regime de separação total de bens (art. 1.687), separação
parcial (art. 1.658) ou participação final nos aquestos (art. 1.672). O
35
artigo 977 do novo código civil trouxe mudanças na composição
societária das empresas familiares, porém, a forma de gestão permanece
inalterada.
A segunda fase (expansão/formalização) inclui a totalidade das
empresas, não as familiares. Os modelos de Greiner (1998), Scott e
Bruce (1987) e Adizes (1990), apresentados nas figuras 1, 2 e 4, também
indicam a existência desta fase em organizações não familiares. Este
estágio do ciclo de vida das empresas transcorre lentamente, podendo
durar muitos anos e até perpassar gerações. Para Gersick et al. (1997)
esta é a fase onde as empresas familiares formalizam a estrutura que será
necessária para impulsionar os negócios e atender, inclusive, as
demandas dos membros da própria família. É nesta fase que a percepção
das oportunidades fica evidente e onde o estresse dos executivos,
causado pela pressão dos negócios, dos familiares e do mercado, marca
sua passagem pela organização. Esta fase é identificada pela expansão
dos negócios e dos setores internos; acontece a formalização das
estruturas e processos; a profissionalização dos membros da equipe é
uma preocupação constante e a descentralização e as consequêntes
reduções do controle direto conjugam com a delegação de autoridade.
Nesta fase acontece a re-organização do negócio e o crescimento da
empresa se pela abertura de novos mercados, fato que exige uma
ampliação do fluxo de caixa e das operações. Nesta etapa a função da
gerência ou departamento de recursos humanos é essencial para a
continuidade da organização, pois a empresa amplia seu quadro
funcional; paralelo a esta necessidade de profissionalizar o corpo
funcional a organização se ressente de uma política de comunicação que
proporcione a instalação de uma cultura de gestão do conhecimento,
onde a informação possa fluir de forma homogênea entre as equipes.
Deste momento em diante, os administradores passam a ter outro perfil,
mais qualificado e profissional. Para Gersick et al. (1997) este é um
momento crucial, pois o risco da perda de foco está diretamente ligado
à arrogância e falta de sensibilidade dos líderes. O desafio desta fase é
manter a empresa produtiva, enxuta e numa curva de crescimento
positiva, para isso criatividade e disciplina são fundamentais.
Pode-se comparar a terceira fase do ciclo de vida da empresa
familiar (maturidade), com o ciclo de vida de um produto. Este é o
ponto em que o produto deixaria de evoluir e começaria a concorrer em
um mercado cada vez menos lucrativo. Para Gersick et al. (1997) neste
estágio o objetivo é a estabilidade e as expectativas de crescimento são
modestas. Neste caso, duas alternativas para a empresa familiar
renovar ou reciclar, caso contrário a morte é fato certo. Esta é a fase em
36
que a empresa começa a apresentar os primeiros sinais de declínio após
a maturidade. Por outro lado, é neste estágio que se define com mais
clareza o posicionamento dos produtos e serviços da organização. Para
os autores, este fato causa uma sensação de bem estar, segurança e
euforia na família. E é neste clima de euforia que os problemas podem
se avolumar. A falsa sensação de segurança e o clima de euforia
bloqueiam a visão do executivo principal, inibindo a adoção de novas
estratégias.
Na Figura 6, o CVO de empresa familiar proposto por Gersick et al.
(1997) é adensado com novos elementos. A inclusão dos estágios de
declínio e turnaround no eixo da empresa é motivada, principalmente,
por perceber-se que os autores dão pouca ênfase ao tema em seus
tratados. Pode-se citar como exemplo de CVO o modelo funcional de
Scott e Bruce (1987) que aborda o tema declínio nas diversas fases do
desenvolvimento da organização; ou o modelo de Greiner (1998) que
propõe uma análise das crises em cada estágio do CVO; também serve
como modelo, para esta análise, a proposta de Adizes (1990) que
expande a discussão sobre o tema, descrevendo, com maior clareza, a
fase de envelhecimento organizacional. Em ambos os casos avaliados
percebe-se uma preocupação em identificar movimentos de crise e
declínio nas empresas estudadas. Com base nesta análise, volta-se para o
CVO da empresa familiar e propõe-se a inclusão dos elementos declínio
e turnaround por entender-se que são elementos de alta significância
para as organizações e, desta forma, merecem um aprofundamento
acadêmico.
Figura 6 - Ciclo de vida de uma empresa familiar.
Fonte: Adaptado de Gersick et al. (1997, p. 18)
37
Na Figura 6 são projetados os elementos do Modelo Tridimensional
de Desenvolvimento proposto por Gersick et al. (1997) de forma que os
eixos estejam paralelos, permitindo uma análise da interação entre cada
elemento nas diferentes fases do CVO de uma empresa familiar. Para
que esta análise fosse possível considerou-se uma empresa em sua fase
de maturidade.
Na primeira dimensão do CVO de uma empresa familiar (fase 1 da
Figura 6), pode-se observar que enquanto o Proprietário Controlador
inicia as atividades da empresa ele conta com a participação dos demais
componentes de sua família que, neste estágio, reduzem-se,
normalmente, ao casal fundador do negócio. (GERSICK et al., 1997,
p.145)
A Entrada na Empresa de novos sócios ou dos filhos dos sócios
(fase 2 da Figura 6) se dá, normalmente, quando a Sociedade Entre
Irmãos é formalizada, no período de Expansão dos negócios. Neste
estágio, para os autores, é necessário reestruturar a empresa de modo
que ela esteja preparada para iniciar e sustentar o crescimento
(GERSICK et al., 1997, p.76 e 161).
O Trabalho em Conjunto (fase 3 da Figura 6) é reforçado quando a
empresa evoluiu para um Consórcio entre Primos na fase da Maturidade.
Esse estágio tem como principal desafio a administração das
expectativas das três gerações que trabalham em conjunto (GERSICK et
al., 1997, p. 84), ou seja, os fundadores, seus filhos e os filhos de seus
filhos APai Neto. Para os autores, a manutenção do equilíbrio
nas decisões neste estágio da empresa está sob responsabilidade da
geração do meio (filhos) que tem a responsabilidade, por um lado, de
conter as expectativas de seus próprios filhos, enquanto administram a
autoridade de seus pais (fundadores). Neste estágio a cooperação e o
processo de comunicação entre as gerações são fundamentais para a
continuidade dos negócios.
A Passagem do Bastão no período logo após a empresa entrar na
fase de Maturidade e/ou no período de Declínio ou Turnaround dos
negócios é, para os autores, uma das fases mais críticas do negócio, pois
envolve a participação de todos os membros da empresa que conta, neste
momento, com pelo menos duas gerações de descendentes e uma
mistura de famílias originadas pelos casamentos realizados ao longo do
tempo.
Nesse contexto, pode-se inferir que, a exemplo do que sugere
Adizes (1990), os estágios de Declínio bem como os períodos de
Turnaround são transversais a todo CVO da empresa familiar. Desta
forma, as sobreposições dos demais estágios também são possíveis.
38
Como sugere a Figura 6, a fase de Expansão pode acontecer sem,
necessariamente, a entrada de novos componentes na empresa. Sob esta
ótica de análise, uma empresa familiar, mesmo na fase de Expansão não
necessariamente transforma-se numa Sociedade Entre Irmãos, ou
Consórcio de Primos. De acordo com o conceito de Gersick et al. (1997)
a passagem do bastão, ou a sucessão, pode acontecer em qualquer das
fases de desenvolvimento da empresa, porém, os autores alertam que:
“A sucessão é o teste supremo de uma empresa familiar. Depois que ela
é transformada de empreendimento individual em familiar, sua
continuidade torna-se uma preocupação única.” (GERSICK et al., 1997,
p. 201). No caso da sucessão, os autores sinalizam para o fato do
envolvimento de todos os participantes da empresa na preparação de um
novo elemento que irá comandar a organização. Para os autores, esse
processo nem sempre acontece de forma racional e sua engenharia
envolve as três dimensões que compõem a empresa familiar: a família, a
empresa e a propriedade. (GERSICK et al., 1997, p. 228).
Como observado neste capítulo os sistemas empresariais familiares
são complexos por tratarem de elementos que se interrelacionam nos
diversos períodos de crescimento da empresa. Também é observado que
tais sistemas podem gerar negócios gigantescos e, por este motivo, se
revestem de grande importância, tanto para a sociedade, que se beneficia
pelos empregos gerados, como para os governos que veem adensados
seus orçamentos pelo recolhimento de impostos e tributos. No entanto,
problemas de relacionamento entre os membros da família podem gerar
desalinhamentos irreversíveis na estrutura deste tipo de organização,
provocando, no limite, o fechamento da sociedade ou a morte prematura
da própria empresa. Por sua importância, o capítulo 2.2 caracteriza a
empresa familiar, proporcionando uma discussão dos conceitos,
histórico e características que a distingue das demais formas de
organização.
2.2 EMPRESA FAMILIAR
No conceito de Bernhoeft (2003) a maioria das empresas familiares
brasileiras tem sua história vinculada à figura de um imigrante que,
apesar dos poucos recursos, trazia consigo duas características
fundamentais para um empreendedor: capacidade de correr riscos
calculados e habilidade/intuição para empreender. Para este autor até
39
mesmo nas economias mais maduras as empresas familiares estão
presentes de forma intensa.
O peso econômico da empresa familiar pode ser traduzido em
números: 70% das empresas da Espanha, 80% na Alemanha, 75% na
Inglaterra e 90% das empresas no Brasil são familiares. Nos Estados
Unidos este tipo de organização emprega 62% da força de trabalho e
contribui com 64% do produto interno bruto. De acordo com uma
pesquisa publicada na revista Melhores e Maiores (2004) das 264
maiores empresas de capital nacional listadas, 142 são familiares. Para
Oliveira (2006), no Brasil a história das empresas familiares se confunde
com as capitanias hereditárias do início do século XVI, quando a
transferência das glebas de terras aos herdeiros era uma prática entre as
famílias da época. Para o autor foi nesta mesma época que novos
segmentos econômicos começaram a tomar forma, motivados pela
necessidade de segmentar as referidas companhias para melhor
administrá-las.
Martins et al. (1999, p.17) descreve as origens das empresas
familiares no Brasil da seguinte forma: “poucos pensaram que na
origem da empresa familiar brasileira estava a capitania hereditária,
primeira forma de empreendimento privado que tivemos”, e conclui
afirmando “as capitanias, como dizia o nome, eram hereditárias, ou seja,
podiam ser transmitidas por herança”.
Donnelley (1967) afirma que uma empresa é familiar quando os
vínculos da família com a empresa perpassam, no mínimo, duas
gerações; e as relações de influência entre a organização e a (s) família
(s) fundadora (s) permanecem inalteradas. Para este autor, o conceito de
empresa familiar pode ser expresso como: “Empresa familiar é aquela
ligada a uma família, pelo menos durante duas gerações e com ligações
familiares que exerçam influência sobre as diretrizes empresariais, os
interesses e objetivos da família.” (DONNELLEY, 1967, p. 161).
Grzybovski e Tedesco (1998) corroboram com Donnelley (1967), pois,
para estes autores para haver ligação entre o conceito de empresa e
família deve haver uma história de, no mínimo, duas gerações.
Bernhoeft (1989) adiciona a estes conceitos a necessidade de se ter na
administração da empresa membros da família atuando.
Percebe-se que o conceito de empresa familiar descrito por
Donnelley (1967) e Bernhoeft (1989) está relacionado ao controle das
empresas por parte das famílias proprietárias, num período de, no
mínimo, duas gerações e o fato de haver convergência entre os
interesses econômicos e políticos dos membros que a compõem.
40
Conforme Rocha (2001), para que uma empresa se caracterize como
familiar deve haver uma estrutura gerencial onde a família proprietária
assuma os cargos de maior poder decisório. Silva et al. (1998) propõem
que uma empresa para ser considerada familiar deve reunir os seguintes
elementos: a família deve ter propriedade sobre o negócio, podendo ser
total, majoritária ou minoritária; a família deve poder opinar sobre as
diretrizes estratégicas da empresa; os valores organizacionais devem
refletir ou serem influenciados pela família proprietária e o processo de
sucessão é influenciado pela família.
Para Gaj (1990) o conceito de empresa familiar está diretamente
ligado ao evento da sucessão do líder. Gaj (1990, p. 182) diz que
empresa familiar é “aquela com capital aberto ou fechado, que foi
iniciada por um membro da família que a passou ou tem intenção de
passar a um herdeiro direto ou parente por casamento”. Lodi (1993, p. 6)
corrobora com Gaj (1990) quando conceitua empresa familiar como
“aquela em que a consideração da sucessão da diretoria está ligada ao
fator hereditário e onde os valores institucionais da firma identificam-se
com um sobrenome de família ou com a figura de um fundador”.
Percebe-se nestes dois autores (GAJ, 1990; LODI, 1993) uma
evolução do conceito de empresa familiar quando o atributo sucessão é
posto no centro do conceito. De fato, grande parte da literatura que
borda o tema empresa familiar preocupa-se com questões relacionadas à
sucessão, Gersick et al. (1997) quando propõem o modelo de
desenvolvimento tridimensional da empresa familiar acometem esta
questão como uma etapa no desenvolvimento da dimensão da família.
Leone (1992), por outro lado, caracteriza a empresa familiar em quatro
vértices: 1) quando iniciada por um membro da família; 2) a família
participando da gestão; 3) quando a figura do fundador ou da família se
identifica com os valores institucionais da empresa e 4) o fator
hereditário é preponderante quando o assunto é sucessão do líder.
Gersick et al. (1997), definiram a composição de uma empresa familiar
pelo trinômio: família, empresa e sociedade. Para estes autores o
Modelo dos Três Círculos da Empresa Familiar (Figura 7), representa de
forma definitiva as relações que envolvem este tipo de organização.
41
Figura 7 - Modelo dos três círculos da empresa familiar
Fonte: Gersick et al. (1997, p. 6)
Analisando a Figura 7 percebe-se que cada indivíduo participante da
família e sócio da empresa, se posiciona de forma diferente em cada um
dos círculos do modelo de Gersick et al. (1997). De acordo com os
autores as possibilidades de participação na empresa são:
No setor 1 - membro da família que não é nem proprietário nem
funcionário;
No setor 2 – proprietário não membro da família nem funcionário;
No setor 3 – funcionário da empresa que não é proprietário nem membro
da família;
No setor 4 – proprietário, membro da família, mas não é funcionário;
No setor 5 – proprietário que trabalha na empresa, mas não é membro da
família;
No setor 6 membro da família que trabalha na empresa, mas não é
proprietário;
No setor 7 proprietário que é membro da família e trabalha na
empresa.
Para os autores esse modelo é de fácil aplicação, pois “descreve o
sistema da empresa familiar como três subsistemas independentes, mas
superpostos: gestão, propriedade e família.” (GERSICK et al. 1997, p.6)
Desta forma Davis (2002) orienta que os processos de tomada de
decisão e comunicação devem ser geridos com cuidado neste tipo de
organização. Para o autor um modelo de governança eficaz deve
considerar uma estrutura composta por:
-
Um conselho de acionistas que tem como função principal vigiar os
interesses dos acionistas da empresa;
42
-
Um conselho de família que tem como função: a) representar os
interesses dos proprietários; b) monitorar as estratégias de longo
prazo e; c) aconselhar o executivo principal da empresa;
-
Um Top management que tem a função de organizar a empresa e
representar o corpo funcional junto aos sócios-acionistas.
Bernhoeft (1989), afirma que o maior desafio de uma sociedade
familiar é equacionar as demandas de liquidez dos familiares, mantendo
a empresa capitalizada. Talvez esta seja a grande dificuldade que
enfrenta uma sociedade familiar, mais acentuada nos casos de empresas
de micro e pequeno porte.
No Quadro 1 faz-se um resumo das principais conceitos sobre
empresa familiar. Para a realização desta peça optou-se por expressões
chaves, pois se entende que este formato ajuda o leitor a fixar os
conceitos.
Autor Ano Expressões chave
Robert G.
DONNELLEY
1967
-
Empresa identificada com os valores da
família.
-
Ter no mínimo duas gerações da mesma
família no poder.
-
Interesses da firma se identificam com as
políticas da família.
Renato
BERNHOEFT
1989
-
A origem do negócio é vinculada a uma
família.
-
Os membros da família participam da
administração.
-
O aspecto familiar está muito mais
relacionado ao estilo com que a empresa é
administrada, do que somente ao fato de seu
capital pertencer a uma ou mais famílias.
Luis GAJ
1990
-
São empresas iniciadas por uma família ou
membros de uma família.
-
intenção de passar o controle para um
herdeiro direto ou parente por casamento.
Bernard
BARRY
1978
-
O controle acionário pertencente aos membros
de uma única família.
João Bosco
LODI
1993
-
Empresa familiar é aquela em que a
consideração da sucessão da diretoria está
ligada ao fator hereditário
-
Os valores institucionais da firma identificam-
se com um sobrenome de família de um
43
fundador.
-
O conceito de empresa familiar nasce
geralmente com a segunda geração de
dirigentes.
-
Na geração do fundador, a empresa é pessoal e
não familiar.
Antônio Carlos
VIDIGAL
1996
-
Todas as empresas, na origem, tiveram um
fundador ou um pequeno grupo de fundadores.
-
As cotas da empresa serão, provavelmente,
herdadas por membros da família (filhos).
Gersick et al.
1997
-
Descrevem o sistema da empresa familiar
como três subsistemas independentes, mas
superpostos: Empresa, Propriedade e Família.
-
São empresas controladas pelas famílias dos
fundadores.
A. SUEHIRO
1997
-
A propriedade e controle estão nas mãos de
um grupo com laços de parentesco, de sangue
ou por casamento.
-
A posse da propriedade permite a família
exercer o controle da empresa.
Ives MARTINS
et al.
1999
-
Aquela em que um ou mais membros de uma
família tem controle administrativo.
-
Os membros da família possuem parcela
expressiva da propriedade do capital.
-
O controle é exercido com base na posse da
propriedade.
Volnei
GARCIA
2001
-
É aquela que é controlada por uma ou mais
famílias.
-
A posse da propriedade permite a família
definir a estratégia do negócio.
Quadro 1 - Expressões chaves do conceito de empresa familiar
Fonte: Organizado pelo autor
Na sequência é apresentada uma lista das expressões chaves que
aparecem com maior frequência entre os autores estudados:
-
Deve haver interação entre os membros da família e a empresa;
-
uma sobreposição dos interesses da família, da propriedade
e da empresa;
-
A empresa espelha os valores da família;
-
Os membros da família devem fazer parte dos cargos com
maior poder de decisão na empresa;
44
-
A vinculação entre propriedade e gestão passa por vieses que
transcendem a capacidade de gestão, adentrando em questões
subjetivas como sentimentos e poder;
-
A empresa familiar nasce na segunda geração de dirigentes;
-
A posse da propriedade permite à família definir a estratégia do
negócio;
-
intenção de passar o controle para um herdeiro direto ou
parente por casamento;
Percebe-se que os elementos: sucessão, participação dos membros
da família nos processos decisórios; valores familiares espelhados na
organização e posse da propriedade são os elementos que permeiam
grande parte das definições dos autores.
À medida que a empresa familiar afeta a vida das pessoas que dela
fazem parte e este conceito estiver presente entre os membros da
empresa, a tendência é de que se desenvolvam procedimentos
organizacionais que se transformarão em valores que orientarão a
condução dos negócios da família. A interação entre a vida familiar e as
relações no trabalho, na opinião de autores como Donnelley (1967,
p.198) constituem uma grande vantagem em longo prazo, tanto para os
interesses da família como da própria organização.
Nesse sentido o entendimento das causas do declínio, bem como o
estudo dos fatores que promovem o turnaround dos negócios, se
revestem de suma importância para a empresa familiar, que tem neste
modelo de organização a base de sustentação social e econômica de suas
famílias. O capítulo 2.3 analisará estes fundamentos à luz da atual teoria.
2.3 DECLÍNIO E TURNAROUND NAS ORGANIZAÇÕES
Para Hoffman (1989) três fronteiras que podem ser estudadas
quando o assunto é declínio no desempenho das organizações: 1)
declínio organizacional; 2) recuperação da empresa e 3) falência.
Levy (1986) define declínio organizacional como a falta de
consciência das ameaças do ambiente (interno ou externo) associado ao
desconhecimento das fraquezas da organização. Para o autor, essas duas
deficiências juntas levam a empresa a adotar um conjunto de medidas
pouco eficiente para contornar os problemas. Weitzel e Jonsson (1989)
orientam que é fundamental que as organizações elaborem um conjunto
de indicadores que possam auxiliar o grupo gerencial a monitorar as
45
possíveis distorções no desempenho da empresa. Para estes autores, as
empresas que se encontram na fase do declínio, debatem-se perante
problemas relacionados, principalmente, à erosão de sua base de
recursos, exigindo dos gestores rapidez e eficiência na tomada de
decisão. Estes autores classificaram em três as causas de declínio nas
empresas: descontinuidade da indústria, passagem de estágio do produto
no seu ciclo de vida e a dinâmica organizacional interna.
Mintzberg (1984), por sua vez, resume que o declínio acontece
quando a organização atingiu o limite da oferta de seus serviços à
sociedade. Da mesma forma Greenhalgh (1982) concorda com
Mintzberg (1984) quando aponta para o declínio como a deterioração na
habilidade gerencial de adequar-se ao ambiente ou quando se falha na
tentativa de aumentar a participação no mercado declinante.
Whetten (1980) quando estuda o setor público caracteriza o declínio
em duas tipologias: declínio como estagnação (organizações passíveis e
inflexíveis) e como redução do mercado (decréscimo de
competitividade). Para esse autor os estágios do declínio podem ser
expressos em: atrofia organizacional; vulnerabilidade; perda de
legitimidade e entropia ambiental. Na visão de Scott (1976), é
necessário injetar energia humana e financeira numa organização em
declínio, pois esta se assemelha a um modelo orgânico que, quando
doente, necessita de cuidados e assistência especiais. Katz e Kahn
(1966) e Buckley (1967) ensinam que o declínio numa organização
ganha proporções maiores quando as ações estratégicas adotadas pela
empresa não forem suficientes para repor a energia que a organização
requer, do mesmo modo que o não entendimento da real complexidade
do ambiente pode levar o grupo gestor a uma leitura errada da situação.
Neste caso, para os autores, o declínio pode acentuar-se e a falência é
inevitável.
Como observado nesta introdução, o tema em estudo apresenta uma
amplitude de conceitos que nos remete a necessidade de segmentar a
pesquisa em duas partes: declínio e turnaround e ações estratégicas de
recuperação do desempenho empresarial. Para tanto, o capítulo que
segue fará uma abordagem à luz dos principais autores, procurando
categorizar os conceitos, estabelecendo conexões que facilitem o
entendimento da matéria.
46
2.3.1 Declínio e turnaround: causas e consequências
Ao longo das últimas três décadas foram vários os pesquisadores
que se preocuparam em caracterizar o tema declínio e turnaround das
organizações. Há, porém, certa dificuldade em descolar os dois
conceitos, uma vez que o turnaround é uma fase precedida de
momentos de declínio nas empresas. Esta pesquisa mostra que Schendel
et al. (1976) são os precursores deste tipo de estudo nas organizações.
Para esses autores existem “curas estratégicase “curas operacionais”
como solução para os casos de declínio organizacional. As “curas
estratégicas” são úteis quando a causa do declínio é a gestão da
organização e as curas operacionais são necessárias para responder as
deficiências financeiras, resultado da fraca eficiência operacional.
Na opinião destes autores a estrutura de custos elevada; a produção
ineficiente; a redução do volume dos negócios, associados ao aumento
da concorrência e problemas com a gestão são características que
indicam as causas do declínio. Sobre esse assunto os autores são
enfáticos em afirmar que uma receita operacional líquida, reduzida por
quatro anos consecutivos, é o maior sinal de declínio na organização.
Bibeault (1999), porém, é menos flexível que Schendel et al.
(1976), pois afirma que o declínio pode ser identificado no primeiro
ano de prejuízo operacional da empresa. Para este autor as causas do
declínio podem ser classificadas como internas e externas. No primeiro
caso a visão estreita e a falta de disciplina do gestor podem ser as causas
do declínio. Este autor também cita a centralização excessiva das
decisões e os problemas oriundos da sucessão como possíveis causas do
declínio. Os fatores externos podem ser causados pela subida das taxas
de juros e inflação; pela entrada de novos concorrentes; fatores ligados a
regulamentação e legislação do setor e, finalmente, a evolução rápida da
tecnologia de produção que pode tornar obsoleta a tecnologia da
empresa que, descapitalizada, não acompanha a concorrência.
No conceito de Hofer (1980), a empresa consegue movimentos
positivos de recuperação somente se tiver uma saúde operacional
adequada; neste caso a redução dos custos e ativos é a melhor resposta.
Nesse contexto Bibeault (1999) e Hofer (1980) são categóricos ao
afirmar que o período de recuperação deve ser ajustado às condições
financeiras da empresa e as estratégias devem ser formuladas com um
olhar concentrado nas principais causas do declínio.
Slatter e Lovett (1999) identificaram em seus estudos que a troca do
principal executivo é uma estratégia positiva que oferece um alto grau
47
de recuperação das empresas. O papel deste novo executivo é
concentrado em aumentar o fluxo de caixa; melhorar os controles
financeiros e instalar uma cultura de gestão orientada para resultados.
Os autores qualificam o turnaround como a adoção de uma estratégia
sustentável que deve ser suportada por uma estrutura de controle efetivo.
Neste caso, os próprios autores sustentam que tal estratégia sustentável
ou vantagem competitiva sustentável é algo que nem sempre será
possível nas organizações. Mesmo aquelas empresas incapazes de
manter uma vantagem competitiva sustentável podem recuperar seus
lucros e inverter a curva negativa de crescimento. Para esses autores “as
empresas bem sucedidas usam duas vezes ou mais estratégicas de
recuperação que as mal sucedidas” (SLATTER, LOVETT, 1999, p. 93).
Pode-se observar que Slatter e Lovett (1999) sinalizam que a
estratégia de redução de custos é importante, porém, insuficiente para o
turnaround organizacional. Sobre esse assunto Hambrick e Schecter
(1983) foram os primeiros a afirmar que uma redução de custos não
significa necessariamente a melhor estratégia para o turnaround
organizacional. Para estes autores os movimentos estratégicos da
empresa devem ser acompanhados de aumento da cota relativa de
participação no mercado e uma eficiência nos níveis operacionais da
organização. Thiétart (1988) corrobora com Hambrick e Schecter (1983)
e Slatter e Lovett (1999) quando sugere que é necessária mais de uma
ação para a melhoria do desempenho e recuperação da organização. Para
este autor uma estratégia bem sucedida de recuperação deve considerar
as características concorrenciais apontadas por Porter (1980): barreiras a
entrada e saída e poder de negociação dos clientes e fornecedores, são as
principais.
Thain e Goldthorpe (1989) sugerem que o declínio de uma
organização é resultado do desequilíbrio dos seguintes fatores:
-
Distanciamento do propósito organizacional definido na missão;
-
Utilização de estratégias inapropriadas para atender aos objetivos
estratégicos;
-
Cadeia de valor deficiente, causando dificuldades para implementar
a estratégia;
-
Incapacidade de organizar pessoas, estruturas e sistemas para o
controle;
-
Recursos utilizados de forma dispendiosa;
-
Estratégias operacionais desalinhadas com o meio ambiente;
-
Dificuldades na obtenção dos resultados propostos.
48
Para os autores, é impossível uma organização manter, de forma
contínua, o desempenho positivo. Os problemas se renovam e as
ineficiências instalam-se de forma sistemática, como consequência os
resultados ficam abaixo do planejado. Chowdhury e Lang (1996)
atribuem os baixos resultados organizacionais a complacência da alta
administração em tolerar erros sucessivos, associados à falta de
sensibilidade para perceber os movimentos do mercado.
Para Drucker (1954) o melhor indicador de sucesso é o crescimento
da empresa. Mas como as empresas alcançam e mantêm uma vantagem
competitiva? Essa tem sido considerada uma pergunta fundamental no
campo das estratégias. Tentando responder essa questão Porter (1980)
utiliza uma matriz para fazer um diagnóstico e posicionar a empresa na
indústria em que atua em determinado período do tempo; Teece, et al.,
(1997); Eisenhardt e Martin, (2000) desenvolvem a teoria da criação de
valor em ambientes de crescimento acelerado; Mintzberg (2006), sugere
o ajuste de processos gerenciais e a perfeita adequação da estrutura à
estratégia definida; Teece, Pisano e Shuen, (1997) trabalham com a
perspectiva da posse de recursos extras para criar e manter a vantagem
competitiva sobre a concorrência e Hamel & Prahalad (1994)
desenvolvem a teoria das competências essenciais, condicionantes para
o sucesso da organização.
Orientado pela lógica do negócio, Porter (1987) afirma que as
batalhas com a concorrência acontecem na arena do mercado, ao passo
que no nível corporativo, conforme as organizações se desenvolvem e
aumentam de tamanho a complexidade aumenta. Esse aumento da
complexidade é citado no trabalho de Grinyer et al. (1990) que afirma
que o sucesso da recuperação do desempenho acontece quando as
organizações centram seus esforços na melhoria dos aspectos
operacionais, em particular nas áreas de marketing e da produção. Na
versão destes autores, as boas práticas de gestão, contemplando a gestão
eficiente dos recursos humanos e a comunicação horizontal e vertical
eficiente, associados a um sistema de planejamento estratégico eficaz e
ações de marketing direcionadas para o cliente contribuem para a
eficiência na recuperação do negócio.
As pesquisas de Robbins e Pearce II (1992) se aproximam da versão
de Hofer (1980) sobre turnaround após períodos de declínio. Para os
autores a recuperação do desempenho das organizações pode ser
dividida em duas etapas: desenvolvimento de atividades de redução de
custos e ativos (retrenchment) e o turnaround após a empresa ter
estabilizado os resultados econômicos, conforme mostra a Figura 8.
49
Figura 8 - O processo de recuperação de Robbins e Pearce II
Fonte: Adaptado de Robbins e Pearce II (1992, p.291)
A Figura 8 mostra (quadrante 1) o momento em que a organização
começa a sentir os primeiros efeitos do declínio. É quando a cegueira
(WEITZEL, JONSSON, 1989) dos executivos dá lugar a evidências que
sinalizam crises (SCOTT, BRUCE, 1987) mais contundentes. É nessa
fase que a combinação dos fatores internos e externos empurra a
empresa para a necessidade de recuperação. Neste estágio, um
diagnóstico preciso é fundamental, pois, é baseado nele que o grupo
gestor tomará as providências na intensidade que a situação requer.
O quadrante 2 mostra que o retrenchment é uma das ações de
recuperação adotadas neste estágio, que pode acontecer por meio da
redução de custos (quando a intensidade do declínio é baixa), ou através
da venda de ativos fixos, motivados, neste caso, por crises mais
agravadas. Morrow et al. (2004) pesquisando sobre a redução de ativo
fixo como alternativa da melhoria do desempenho organizacional
validaram o trabalho de Robbins e Pearce II (1982). Para estes autores é
verdadeira a hipótese de que a aplicação de ações de retrenchment
melhora a rentabilidade organizacional e acrescentam, indicando, que a
natureza competitiva da indústria determina o rumo que a estratégia de
retrenchment seguirá. Arogyaswamy e Yasai-Ardekani (1997)
discordam dessa afirmação. Para estes autores, os investimentos em
tecnologia e a busca contínua pela melhoria da eficiência na operação
são os fatores determinantes para o turnaround bem sucedido dos
negócios. Neste caso, a redução dos custos como atividade de
Fatores
Internos
de
declínio
Fatores
Externos
de
declínio
Intensidade
do
declínio
Estabilidade
Melhoria do
desempenho
da organização
Redução
de custos
Redução de
ativos
Manutenção
da eficiência
Expansão
empreendedora
Operacional
Estratégico
Baixa
Alta
Processo de Turnaround
Fase de Declínio crescimentoProcesso de estabilidade e recuperação
Quadrante 1 Quadrante 2 Quadrante 3
50
retrenchment pode comprometer o desempenho e a qualidade dos
produtos da organização, conduzindo a empresa a um círculo vicioso
que a levaria à falência.
A Figura 8 mostra também uma sobreposição entre o final do
quadrante 2: processo de estabilidade e recuperação e o início do
quadrante 3 processo de crescimento ou regresso ao crescimento
(HOFER, 1980; SCHENDEL et al., 1976; BIBEAULT, 1999). A
duração entre uma fase e outra, segundo Robbins e Pearce II (1992)
dependerá da capacidade que a organização tem de responder aos
problemas identificados. Para os autores esta capacidade está
diretamente relacionada a fatores como: recursos disponíveis, programas
e políticas, estrutura organizacional, recursos humanos e recompensa.
Chowdhury (2002) define a sobreposição entre os quadrantes 2 e 3
como uma caixa preta. Na opinião deste autor é neste momento que as
estratégias de recuperação são adotadas e os primeiros sinais positivos
começam a aparecer.
Fleck (2004) aponta para duas as condições essenciais para o
sucesso de longo prazo nas organizações. A primeira delas está
relacionada à “capacidade da empresa de exercer prolongado poder no
mercado, ocupando posição privilegiada do setor” (FLECK, 2004, p.
84). A segunda habilidade está relacionada à “empresa projetar
processos organizacionais que lhe permitam capturar, explorar e
reconfigurar recursos valiosos e moldar consideravelmente seu ambiente
de negócios” (FLECK, 2004, p. 84). Neste contexto a autora procura
explicar que o desempenho superior de uma organização é regido pela
flexibilidade e agilidade que ela demonstra em reconfigurar seus
processos, utilizando os recursos excedentes com objetivo de
acompanhar e criar as mudanças no mercado.
Pelas evidências identificadas no estudo, pode-se concluir que o
declínio e a recuperação do desempenho empresarial é um processo
holístico que envolve aspectos econômicos, financeiros, estratégicos e
humanos. Desencadeados por uma sequência de acontecimentos,
espalhados numa linha de tempo variável. Tendo como inputs fatores
relacionados ao ambiente interno e externo à organização.
O turnaround, por sua vez, surge como uma necessidade para se
evitar a degradação dos recursos financeiros originados pelos momentos
de declínio. Nesse sentido, se observa que a gênese da sangria de
recursos está relacionada às más práticas de gestão e a fatores externos,
principalmente, aqueles relacionados a políticas de regulamentação do
setor, concorrência acirrada, alta da inflação e a alta dos juros.
51
No conjunto de alternativas para se inverter a curva do declínio e
recuperar as organizações, autores sugerem ações multidimensionais
integradas e foco na causa principal do desajuste organizacional. Nesse
sentido um diagnóstico preciso é fundamental para subsidiar o grupo
gestor na escolha da melhor alternativa. Também é evidenciado no
estudo que o processo de recuperação é multifásico, ou seja, dividido em
fases: análise, prognóstico, ações de recuperação e melhoria no
desempenho.
Nesta última fase, contudo, é desejável que a organização regresse
ao nível de desempenho anterior ao declínio. No entanto, Slatter e
Lovett (1999, p. 3) alertam “é importante compreender que em princípio
muitas situações de recuperação podem nunca alcançar tal posição”.
Para esses autores, mesmo uma empresa não alcançando os níveis
anteriores de desempenho poderá voltar a competir no mercado,
entretanto, a manutenção dos índices de rentabilidade estará prejudicada,
deixando a organização vulnerável a futuras crises. Sem um fluxo de
caixa adequado a empresa perde vantagem competitiva sobre a
concorrência e este fator é preponderante para a sustentabilidade do
negócio.
2.3.2 O turnaround nas organizações sob o enfoque do contexto,
conteúdo e processo
De acordo com Pettigrew (1992) um estudo coerente dos fatores de
declínio e turnaround organizacional deve considerar as seguintes
dimensões: conteúdo, processo e contexto.
Na análise de Bibeault (1999) a recuperação empresarial é sinônimo
de retomada sustentável da organização aos padrões de desempenho
anteriores ao início da etapa do declínio. Os fatos que originam o
declínio da organização, bem como as ações estratégicas apontadas por
pesquisadores como necessárias para o turnaround dos negócios serão
tema desta análise. Para isso serão apresentados os conceitos dos
principais autores que estudam a matéria, finalizando com o
detalhamento do framework proposto por Robbins e Pearce II (1992).
52
2.3.2.1 Análise do declínio e turnaround sob o enfoque do contexto
De acordo com Pettigrew (1992) a análise do contexto deve
considerar as questões sociais, tecnológicas, econômicas e políticas
(contexto externo), bem como as questões de estrutura, cultura interna,
processos de produção e poder (contexto interno). É unânime entre os
autores estudados, Schendel et al. (1976), Hofer (1980), Kierulff, (1981)
e Welsh e Whate (1981), Bibeault (1999), Slatter e Lovett (1999),
Robbins e Pearce II (1992), Pant (1991) e Pandit (2000), que após a
identificação dos primeiros sinais de crise, ações emergenciais devem
ser tomadas. Porém, não convergência sobre a prioridade das ações.
Para Schendel et al. (1976) e Bibeault (1999) é necessário, de imediato,
eliminar a crise financeira; para Slatter e Lovett (1999) é preciso
considerar as ações do passado para propor um novo conjunto de
estratégias que reverta as causas do declínio; para Kierulff, (1981) e
Welsh e Whate (1981) é preciso que a empresa vença, primeiro, as
resistências externas (barreiras de entrada, legislação, regulamentação
governamental); para Bilbeault (1999) é preciso, inicialmente, que a
empresa se preocupe em melhorar os métodos de gestão; e para Pant
(1991) e Pandit (2000) é preciso que a organização se adapte às
mudanças do ambiente econômico, readequando estrutura e portfólio de
produtos.
De acordo com Slatter e Lovett (1999), não faz sentido elaborar
uma lista extenuante de sintomas de declínio, pois as variáveis
dependem da combinação dos fatores internos da organização com a
situação do ambiente econômico vivido. Desta forma Bibeault (1999)
propõe a categorização dos sintomas do declínio em: 1) indicadores que
possibilitem a análise do potencial de falência da organização; 2) sinais
de longa duração, atribuídos a indicadores como, diminuição do market
share e aumento de dívidas a pagar; 3) sinais comportamentais
adversos: deficiência na comunicação interna; percepção de redução da
qualidade dos produtos ou serviços oferecidos; atraso no pagamento de
fornecedores e de funcionários; baixa rotação dos estoques e aumento
das reclamações dos clientes, originadas por produtos fora do prazo de
validade ou defeituosos.
Ainda sob o enfoque do contexto as causas do declínio podem ser
de origem externa (MONE, 1998) ou interna à organização
(CAMERON, ZAMMUTTO, 1983).
53
As causas externas estão relacionadas aos fatores sócio-econômicos
(recessão econômica, variáveis externas da indústria, legislação e
regulação governamental).
As causas internas dizem respeito à rigidez dos processos e a falta
de excedentes organizacionais (capacidade de gestão, recursos humanos
e técnica). Porém, Bibeault (1999) alerta para o reducionismo que
muitos cometam ao atribuir exclusivamente a má gestão à causa
principal da crise que leva ao declínio. Para esse autor, elementos como
a falta de delegação; a superficialidade da gestão; as mudanças
constantes do primeiro escalão; problemas de gestão do fluxo de caixa e
uma diretoria pouco comprometida são elementos que devem ser
acrescidos à lista de causas internas que podem dar origem a crises que
levam ao declínio das organizações.
O autor alerta também, para o fato de as organizações cometerem o
equívoco de pensar que a expansão dos negócios é a forma mais segura
para ser chegar ao sucesso (Bibeault, 1999, p.54). No entendimento
deste autor o crescimento desordenado pode implicar no distanciamento
do core business da organização. Quando isso acontece, a empresa tem
dificuldades de manter sua competitividade, ficando suscetível a
investida da concorrência.
2.3.2.2 Análise do turnaround sob o enfoque do conteúdo
De acordo com Pettigrew (1992) a análise do conteúdo deve abordar
as áreas em transformação na organização. O autor se refere às áreas de
marketing, produção, finanças e recursos humanos. Ficou evidenciado
no estudo realizado, que os autores preocupam-se em investigar as
mudanças que se ocultam por debaixo da estratégia adotada pelas
empresas.
O Quadro 2 apresenta um resumo das principais mudanças
provocadas pelas estratégias de turnaround, segundo os autores
estudados:
Autor Ano Mudanças provocadas pelas estratégias de turnaround
Schendel et
al.
1976
-
Adequação da estrutura de gestão;
-
Adequação da estrutura da organização;
-
Aumento da eficiência organizacional;
-
Aumento da capacidade de produção;
54
-
Investimento em novas tecnologias;
-
Melhoria das plantas industriais;
-
Participação em novos mercados.
Hofer 1980
-
Aumento do market share;
-
Redução de custos;
-
Redução de ativos.
Hambrick e
Schecter
1983
-
Reposicionamento da estratégia da organização;
-
Reposicionamento dos produtos.
Thiétar 1988
-
Delegação de poder;
-
Criação de produtos diferenciais;
-
Venda de ativos;
-
Melhoria da eficiência organizacional;
-
Reposicionamento de mercado;
-
Integração vertical.
Robbins e
Pearce II
1992
-
Estratégias de retrenchment:
-
Liquidação;
-
Venda de ativos;
-
Melhoria da eficiência da organização;
-
Corte em custos;
-
Reposicionamento do portfólio de produtos
-
Estratégias de recuperação:
-
Aumento do market share;
-
Lançamento de novos produtos;
-
Aumento da diversificação por meio de
aquisições;
-
Abertura de novos mercados.
Barker III e
Duhaime
1997
-
Reposicionamento das áreas de marketing, produção
e P&D, ajustando a dinâmica do mercado;
-
Níveis mais exigentes de controle;
-
Reestruturação da organização (arranjo
institucional).
Bibeault 1999
-
Aumento da eficiência;
-
Redefinição dos ativos da empresa;
-
Desaceleração dos investimentos;
-
Troca de comando;
-
Diversificação do portfólio de investimentos.
Slatter e
Lovett
1999
-
Aumento dos controles financeiros;
-
Reposicionamento dos produtos;
55
-
Aquisições como forma de crescimento;
-
Troca de comando
-
Melhoria do desempenho da gestão
Quadro 2 - Estratégias de turnaround identificadas pelos autores
Fonte: Autores pesquisados
A troca de comando da empresa pode ser entendida como uma
proposta de mudança na gestão das empresas deficitárias. Schendel et al.
(1976) argumentam que a promoção de mudanças radicais pode gerar
conflito dentro da unidade de comando. Nesse sentido as organizações
optam pela substituição dos elementos da direção. De acordo com
Sudarsanam e Lai (2001) evidências que corroboram para se afirmar
que a substituição da direção de uma empresa, está inversamente
relacionada com a alta das ações, ou seja, se o alto comando consegue
manter um desempenho razoável e suas ações se mantêm em patamares
aceitáveis o risco de substituição é baixo.
De acordo com Arogyaswamy e Yasai - Ardekani (1997), a etapa de
recuperação do desempenho pode ser dividida em dois momentos: 1)
etapa de reestruturação operacional onde a prioridade é reduzir custos e
a; 2) etapa de reestruturação operacional do ativo que implica na adoção
de medidas que aumentem a eficiência e reduzam ativos.
A primeira etapa vale-se do objetivo de recuperar a lucratividade
por meio da adequação dos custos, reduzindo custos fixos, diretos e
indiretos (SLATTER, LOVETT, 1999). Esse tipo de estratégia é mais
usado por organizações em dificuldades financeiras. Em curto prazo,
espera-se que a empresa mantenha um fluxo de caixa razoável e
aumente seus lucros (HOFER, 1980).
Na etapa de reestruturação operacional do ativo o adotadas
estratégias que permitem a empresa um melhor aproveitamento da
capacidade de produção. Comumente nesta fase acontece o fechamento
de fábricas e escritórios de representação que não apresentam os
resultados esperados. O objetivo é aumentar a eficiência operacional dos
negócios, maximizando os ativos disponíveis (BIBEAULT, 1999;
HOFER, 1980). De acordo com Hambrick e Schecter (1983) à lista
acima se deve acrescentar os investimentos em tecnologia (aquisição de
equipamentos e softwares) e capacitação de pessoal que permitam o
aumento da eficiência de produção. De acordo com Robbins e Pearce II
(1992) é nesta etapa que ocorre o reposicionamento dos negócios da
empresa, revestindo-se, portanto, de fundamental importância para o
sucesso da organização.
56
O turnaround em uma organização que passa por problemas de
declínio exige, de acordo com Hambrick e Schecter (1983), a adoção de
ações como o lançamento de novos produtos, campanhas mais
agressivas de marketing, aumento do esforço de vendas e a promoção de
produtos. Robbins e Pearce (1992) sintetizam as ações sugeridas por
Hambrick e Schecter (1983), quando afirmam que neste estágio as
empresas tendem a reposicionar-se no mercado procurando nichos mais
lucrativos. Para esses autores a realização de parcerias estratégicas, joint
ventures ou acordos de licenciamento de produtos, bem como a
liquidação de produtos e linhas de produção que não se ajustam ao core
business da empresa é comum nas situações de turnaround.
2.3.2.3 Análise do turnaround sob o enfoque do processo
Bibeault (1999), Slatter (1984), Robbins e Pearce II (1983), Slatter e
Lovett (1999) e Chowdhury (2002), são autores que contribuem para a
análise do processo nos movimentos de declínio e turnaround
organizacional. De acordo com Pettigrew (1992), quando analisado o
processo, se devem considerar as ações, reações e interações entre as
partes interessadas, e como elas realizam a mudança. O objetivo
principal é entender como as organizações aplicam as ações planejadas
para promoverem o turnaround nos negócios.
Chowdhury (2002) define turnaround como a combinação de
eventos que juntos concorrem para a retomada dos negócios num
determinado período de tempo, que inicia ainda enquanto a empresa
encontra-se em declínio, culminando com o momento em que a
organização volta aos patamares anteriores de desempenho.
O primeiro autor a dividir em fases o processo de turnaround foi
Bibeault (1999). Segundo seu entendimento, o turnaround compõe-se
de: fase inicial; avaliação; emergência e estabilização e retomada do
crescimento. Para o autor, o momento crucial é quando a empresa
percebe que precisa adotar ações de impacto para melhorar os
indicadores de desempenho.
O Quadro 3 apresenta um resumo das fases do turnaround sugeridas
por Bibeault:
57
Autor Fase Perspectivas
Fase inicial
-
Mudança de gestão (CEO);
-
Decisão por realizar transformações na
organização;
Avaliação
-
Pode ser apoiada por consultores
externos;
-
Elaboração de um plano de
sobrevivência e recuperação;
-
Plano de comunicação interno e externo
sobre as ocorrências de mudanças.
Emergência e
estabilização
-
Preocupação em assegurar a
sobrevivência;
-
Desenvolvimento de ações de
retrenchment;
-
Reestruturação dos ativos da empresa;
-
Intervenção na gestão das operações;
-
Redefinição das estratégias de
marketing;
-
Adequação da estrutura de pessoal a
nova organização;
-
Incremento das margens de eficiência
operacional;
-
Melhoria da liquidez, reestruturação do
passivo;
-
Melhoria dos processos de controle.
Bibeault (1999)
Retomada do
crescimento
-
Crescimento do volume dos negócios;
-
Criação de suporte financeiro para
sustentar o crescimento;
-
Aumento da capacidade produtiva;
-
Reposicionamento dos produtos
existentes e lançamento de novos;
-
Investimento nas competências humanas
da empresa.
Quadro 3 - Fases do turnaround sugeridas por Bibeault (1999)
Fonte: Bibeault (1999)
A exemplo de Bibeault (1999) Slatter e Lovett (1999) indicam
quatro etapas para o turnaround: análise da situação; recuperação do
desempenho; mudança estratégica e recuperação organizacional.
58
O Quadro 4 apresenta um resumo das fases do turnaround sugeridas
por Slatter e Lovett (1999):
Autor Fase Perspectivas
Análise da situação
-
Realização de diagnóstico situacional;
-
Avaliação das possíveis estratégias de
recuperação;
-
Avaliação da equipe de gestão;
-
Avaliação da estrutura organizacional;
-
Consenso entre os sócios sobre a
alternativa de recuperação mais viável;
-
Desenvolvimento de um plano para
gerar mais fluxo de caixa;
-
Mudança do gestor (CEO).
Emergência
-
Aplicação de ações de curto prazo (6 a
12 meses);
-
Redução dos custos operacionais;
-
Aumento do fluxo de caixa;
-
Aumento do esforço de marketing e
vendas;
-
Redução do quadro de pessoal;
-
Redução de estoques
-
Eliminação de linhas de produtos com
pouca rentabilidade;
-
Antecipação das contas a receber;
-
Negociar prazos de dívidas;
-
Aporte de novos recursos por meio de
financiamentos.
Mudança estratégica
-
Reposicionamento estratégico dos
negócios ligados a empresa;
-
Reposicionamento de mercado que
requerem novos investimentos
Slatter e Lovett (1999)
Recuperação
organizacional
-
Lançamento de novos produtos;
-
Ampliação do mercado (market
share);
-
Aquisição de novos negócios.
Quadro 4 - Fases do turnaround sugeridas por Slatter e Lovett (1999)
Fonte: Slatter e Lovett (1999)
59
Robbins e Pearce II (1992) desenvolveram um framework de
recuperação empresarial considerando os trabalhos desenvolvidos
anteriormente por Slatter (1984) e Bibeault (1999), este último,
originalmente publicado no ano de 1982, conforme é demonstrado na
Figura 8. Para efeito deste estudo consideraremos os itens abordados nos
quadrantes dois e três, conforme mostra a Figura 9.
O quadrante dois mostra o processo de estabilidade e recuperação
que, para os autores, são fases complementares. Como pode ser
observada na Figura 9, a fase do processo de estabilização e recuperação
se sobrepõe a fase seguinte (crescimento). Para os autores é difícil
definir quando uma fase termina e outra inicia. Por se tratar de um
processo, os indicadores de desempenho devem ser mensurados
constantemente.
Figura 9 - O processo de recuperação de Robbins e Pearce II - b
Fonte: Adaptado de Robbins e Pearce II (1992, p.291)
Robbins e Pearce II (1992) indicam que o processo de turnaround
(quadrante dois) inclui duas fases com atividades estratégicas: o
retrenchment e a recuperação. A estabilização da situação econômica é
o objetivo da fase de retrenchment. De acordo com a extensão da crise,
as ações serão mais densas, podendo, nos casos de extrema severidade,
reduzir custos e ativos, simultaneamente. Aquelas empresas em situação
menos severa de crise estão sujeitas a ações menos traumáticas,
exigindo ou redução de custos ou redução de ativos. (HOFER, 1980).
Fatores
Internos
de
declínio
Fatores
Externos
de
declínio
Intensidade
do
declínio
Estabilidade
Melhoria do
desempenho
da organização
Redução
de custos
Redução de
ativos
Manutenção
da eficiência
Expansão
empreendedora
Operacional
Estratégico
Baixa
Alta
Processo de Turnaround
Fase de Declínio crescimentoProcesso de estabilidade e recuperação
Quadrante 1 Quadrante 2 Quadrante 3
60
Para Schendel et al. (1976) quando os problemas internos são
apontados como os principais causadores do declínio na organização, a
resposta a esses problemas, normalmente, está vinculada a ações de
melhoria da eficiência organizacional. No caso do declínio ser originado
por problemas externos, a reconfiguração dos ativos, quase sempre, é a
solução adotada pelas organizações para retomarem o crescimento.
Robbins e Pearce (1993) indicam que a severidade e a causalidade
são as duas dimensões da situação de recuperação. Delas depende a
natureza, extensão e velocidade da estratégia. Para estes autores, a
amplitude da crise é definida pela situação financeira que a empresa
apresenta em determinado momento da avaliação. Quanto mais severa
for a crise financeira, mais velocidade dever-se-á imprimir na busca da
estabilidade da organização. As origens (causalidade) do declínio
financeiro podem estar ligadas a situações operacionais (baixa
eficiência) ou estratégicas (necessidade de reposicionamento). Para os
autores, somente uma avaliação das causas internas e externas poderá
indicar qual a melhor estratégia que a empresa deverá adotar para voltar
a crescer e recuperar sua posição de mercado.
61
3 PROCEDIMENTOS METODOLÓGICOS
Neste capítulo são apresentados os procedimentos metodológicos
adotados na presente investigação. A metodologia utilizada é resultado
de uma combinação de fatores, principalmente aqueles relacionados às
limitações e alternativas que o tema oferece. A principal limitação é a
escassez de publicações nacionais sobre o tema, fato que, ao mesmo
tempo, torna-se uma oportunidade de oferecer referenciais ao meio
acadêmico sobre o declínio e turnaround das organizações.
3.1 DELINEAMENTO DO ESTUDO E PLANO DE INVESTIGAÇÃO
Para Yin (1989) as variáveis que determinam a escolha do melhor
método de investigação científica dependerão das questões propostas
pelo pesquisador. Para Lakatos e Marconi (1991), a ciência não existe se
não for seguida de eficientes métodos de pesquisa, sendo que o método
ajuda a compreender o processo e o produto originado pela investigação.
De acordo com as definições apresentadas neste capítulo, a presente
dissertação classifica-se como um estudo de caso com predominância
exploratória, qualitativa, sendo que o método de abordagem utilizado é
de caráter descritivo.
Segundo Huberman (1999); Yin (2005) e Mucchielli (1996), o
estudo de caso é uma estratégia metodológica classificada como
exploratória, descritiva e interpretativa. Na opinião de Maren (1995, p.
239) o estudo de caso é eclético e pode ser trabalhado por meio das mais
variadas técnicas e métodos que permitam a compreensão do fenômeno
investigado.
Mucchielli (1996) aponta que existem três formas para se fazer
estudo de caso: estudo de caso instrumental (definida a partir de um
modelo teórico); estudo de caso múltiplo (quando se investiga duas ou
mais situações e estudo de caso intrínseco ou único. O estudo de caso
único trata de uma única realidade que pode ser estudada
exaustivamente com objetivo de buscar novos elementos que possam
corroborar com o objeto de estudo.
Minayo (1994) sugere que nas ciências sociais aplicadas predomina
o método de investigação qualitativo, por permitir maior abrangência e
profundidade, se comparado aos métodos quantitativos.
62
A pesquisa qualitativa pode ser caracterizada como uma tentativa de
se explicar em profundidade os resultados das informações obtidas em
entrevistas ou questões abertas, sem a mensuração quantitativa de
características ou comportamento. Esse tipo de abordagem facilita a
descrição da complexidade dos problemas e a interação entre as
variáveis, compreendendo e classificando processos sociais; oferecendo
contribuição em processos de mudança; e criando e formando opiniões
em grupos ou atitudes em indivíduos. (OLIVEIRA, 2008)
Yin (2004) qualifica o estudo de caso como qualitativo e acrescenta
que tal método vem conquistando espaço significativo no meio
acadêmico. O propósito deste método de estudo é estabelecer uma
estrutura de discussão e debate, sem que com isso precise conter uma
interpretação completa dos eventos reais. Para este autor a utilização do
estudo de caso como método de investigação científica permite um
alcance analítico maior ao pesquisador, com sorte que o mesmo pode
inquirir em determinadas situações comparando-as com outras e com as
teorias existentes, gerando, em muitos casos, sugestões para
investigações futuras.
Riege (2003) acrescenta que o método de estudo de caso deve ser
utilizado quando o investigador pretende avaliar com mais profundidade
um fenômeno da vida real, permitindo ao meio acadêmico o ganho de
conhecimentos que se originaram de observações e interpretações
holísticas. Porém, Yin (2004) alerta para as deficiências do método, que
poderão ser superadas se o pesquisador seguir procedimentos ordenados
e não aceitar falsas evidências ou evidências tendenciosas.
De acordo com Martins (2002) um estudo de caso tem
predominância descritiva. Isso é característico nas situações onde não se
pretende intervir sobre a situação, mas sim, investigar e informar sobre
os acontecimentos. Nesse sentido, o autor sugere que as características
de um estudo de caso perpassam as peculiaridades da pesquisa
qualitativa. Para este autor, os estudos de caso visam à descoberta, pois:
o pesquisador mantém sua atenção a novos padrões que poderão
surgir;
amplia a interpretação do contexto, buscando o melhor
entendimento do problema;
expressa a realidade em sua forma mais profunda evidenciando a
pluralidade dos fatos;
recorre a fontes de informações diversas, ampliando o escopo da
pesquisa;
observa a realidade sob diferentes perspectivas, representando os
diferentes pontos de vista presentes nos fatos investigados.
63
A qualidade de uma pesquisa qualitativa não depende do tamanho
da amostra, mas dos atributos da própria amostra:
“O julgamento da validade de uma investigação
científica pode ser obtido pela construção
metodológica do trabalho, ao relacionar à
formulação teórica, questão de pesquisa, perguntas,
critério de seleção dos entrevistados ou seja, é
identificada já no exame do projeto. a triangulação
de dados com o acréscimo de fontes diversificadas
de evidências, como documentos, observações e
literatura e seu encadeamento consistente na etapa
de análise, ajuda a garantir a validade dos
resultados suportados por entrevistas em
profundidade.” (DUARTE, 2005, p. 67)
O autor completa dizendo que a confiabilidade do estudo está
diretamente ligada a três pressupostos:
seleção de informações para responder as perguntas da pesquisa;
escolha de procedimentos adequados à questão da pesquisa;
os resultados devem estar alinhados a teoria disponível e as
informações levantadas durante a investigação. Nesse sentido, um
plano metodológico para ser eficaz, deve dar atenção especial aos
predicados que envolvem as perguntas de pesquisa.
A Figura 10 esquematiza o plano de investigação deste estudo:
64
1- Objetivo do estudo
Identificar as principais causas do
declínio e as ações que levam a
retomada das organizações
Análise do processo de
recuperação de uma empresa
familiar sob o enfoque do
framework de Robbins e Pearce II
2- Questões de investigação
3 – Metodologia
Estudo de caso exploratório com
predominância qualitativa e
abordagem descritiva
• Ciclo de vida nas organizações;
• Empresa familiar;
• Declínio e turnaround.
4 – Fundamentação teórica
5 – Coleta dos dados
Bases de dados secundários,
literatura disponível e entrevistas
presenciais
Análise sob o enfoque do ciclo de
vida proposto por Gersick e o
framework de Robbins e Pearce II
6 – Análise dos dados
8 - Conclusões
Apresentação das conclusões e
sugestões para futuras
investigações
7 – Discussão dos dados
Apresentação dos achados da
investigação
Figura 10 - Esquema do plano de investigação
Fonte: o autor
A Figura 10 apresenta, de forma objetiva, o plano de pesquisa e
investigação da presente dissertação. É conveniente considerar que
outros elementos fazem parte desta metodologia e estão distribuídos, na
forma de processos, entre as oito etapas apresentadas.
65
3.2 PERGUNTAS DE PESQUISA
A definição das perguntas de pesquisa decorre da problemática e
dos objetivos que se pretende estudar. A finalidade de perguntar é obter
informações que possam contribuir para o entendimento do objeto em
estudo. A seguir são listadas algumas questões que auxiliaram no
levantamento das informações necessárias para atender aos objetivos
deste estudo:
-
Quais os propósitos da criação da empresa?
-
Considerando o ciclo de vida da empresa, quais as fases de
maior dificuldade na gestão e por quê?
-
Quais as dificuldades enfrentadas nos momentos de sucessão na
empresa?
-
Como se deu o processo de profissionalização na gestão da
empresa?
-
Qual a participação da família na definição das estratégias da
empresa?
-
É possível identificar os fatores que levaram a empresa ao
declínio?
-
Se sim, quais são esses fatores?
-
É possível identificar os elementos fundamentais que
promoveram o turnaround nos negócios?
-
Se sim, quais foram às estratégias utilizadas para estabilizar a
empresa? E quais foram as estratégias utilizadas para recuperar
a empresa?
-
Quais estratégias ajudaram a retomar o crescimento da
empresa?
-
A severidade do declínio influenciou na escolha do conjunto de
ações tomadas para sua recuperação? Se sim, de que forma?
3.3 CATEGORIAS DE ANÁLISE
Para o exame dos dados levantados na presente investigação, optou-
se pela adoção de duas categorias de análise:
1ª categoria: Modelo de CVO de empresa familiar proposto por de
Gersick et al. (1997);
66
2ª categoria: Framework de Robbins e Pearce II (1992), que representa o
processo de declínio e recuperação empresarial.
A adoção da primeira categoria de análise justifica-se pelo fato de a
empresa, objeto da investigação, apresentar características de empresa
familiar. Nesse sentido, as relações entre os elementos dos eixos da
família, negócios e patrimônio ganham especial atenção e profundidade
de análise. Convêm salientar que, para a presente investigação, também
foram estudados os ciclos de vida organizacionais propostos por: Miller
e Friesen, (1984); Adizes, (1990); Churchill e Lewis (1983); Robert
Quinn e Kim Cameron (1983); Scott e Bruce (1987); Kazanjian (1988) e
Mount et al. (1993), apresentados na fundamentação teórica.
Também é utilizado nesta investigação o framework de Robbins e
Pearce II (1992) que divide o processo de declínio e turnaround em 03
fases: fase de declínio; fase de estabilidade e recuperação e fase do
turnaround. O estudo em profundidade das fases propostas pelos autores
permite que a investigação atinja seus objetivos, pois, cada fase é
caracterizada por elementos de compreensão facilitada.
3.4 SUJEITOS DA PESQUISA
Os sujeitos da pesquisa são os integrantes, e ex-integrantes de
cargos de diretoria da empresa Dudalina S/A pertencentes à família.
Também foram entrevistados os membros da família que têm
participação acionária na empresa. Esse conjunto de entrevistas,
mostrado no Quadro 5 subsidiou, em partes, o entendimento do CVO da
empresa, bem como, ofereceu elementos decisivos para o entendimento
das crises vividas por ela.
Entrevistado Função Data Como
Vilson Luis de
Souza
Sócio e Presidente do
Conselho de
Administração
18/11/2009 Entrevista
pessoal
Márcio Controladoria 18/11/2009 Entrevista
pessoal
Vilson Luis de
Souza
Sócio e Presidente do
Conselho de
Administração
20/01/2010 Entrevista
pessoal
Sonia Regina Hess
de Souza
Sócia e CEO da
empresa
20/01/2010 Entrevista
pessoal
67
Armando Hess de
Souza
Sócio e ex- CEO
empresa
03/02/2010 Entrevista
pessoal
Quadro 5 – Relação de pessoal entrevistado
Fonte: O autor, 2010.
Para o entendimento dos motivos que levaram a empresa ao declínio
e posterior recuperação do crescimento no período entre 1989 e 2004,
foram ouvidas as pessoas que faziam parte da diretoria da organização
no período entre 1990 a 2004, pois, para Robbins e Pearce II (1992) o
ciclo completo entre o declínio do desempenho e a recuperação é de +/-
4 anos. Cabe observar que a Dudalina S/A enfrentou seu maior desafio
no ano de 1991, em função da abertura abrupta das importações, sendo
que nos anos 1996 e 2002 seu lucro também foi negativo. Nesse sentido,
o período acima (1989 a 2004) se justifica como aquele que antecedeu o
ápice das dificuldades da empresa.
3.5 COLETA E ANÁLISE DOS DADOS
O estudo de caso é “um meio para se coletar dados preservando o
caráter unitário do objeto a ser estudado” (CARVALHO, 1997, p. 157).
Para Martins (2008) o estudo de caso é uma tentativa de abranger todas
as características do tema em estudo e pode, como uma análise
qualitativa, complementar a coleta de dados nos trabalhos acadêmicos.
Nesse caso a utilização da técnica de entrevista guiada é o sustentáculo
para o trabalho.
Com base nesse entendimento a coleta dos dados primários foi
realizada por meio de entrevistas semi-estruturadas (roteiro apêndice A),
que permitiram entender com maior profundidade os eventos e
acontecimentos objeto deste estudo. Para Richardson (2004) o uso da
técnica de entrevista individual ajuda a extrair do entrevistado o que ele
percebe como relevante em determinado problema e permite ao
entrevistador uma leitura mais ampla sobre o entrevistado e quais suas
conclusões sobre os fatos que serão estudados. As entrevistas foram
realizadas nas dependências da empresa. Porém foi considerado o fato
de o entrevistado preferir um lugar neutro, onde ele pudesse dedicar
tempo exclusivo para a atividade.
Um cronograma, indicando o nome do entrevistado, o dia, horário e
local da entrevista, foi elaborado (modelo apêndice B). O objetivo do
cronograma foi ajustar as agendas dos entrevistados e entrevistador, bem
68
como, o calendário de elaboração da presente dissertação. Com objetivo
de tornar a entrevista mais objetiva foi enviado, por fax e/ou e-mail, o
roteiro da entrevista aos entrevistados (apêndice A).
Os dados secundários, por sua vez, foram provenientes de análise
documental. Foram avaliados relatórios de gestão; documentos e
registros contábeis e gerenciais, bem como, outros documentos de posse
da empresa que pudessem ajudar a compor sua história. Para o
levantamento destas informações foi enviado, aos devidos
departamentos da empresa, um check list (apêndice C) indicando a
natureza da informação e o período a que ela se relaciona. O objetivo
desta atividade foi organizar o tempo do pesquisador de tal forma que
sua presença na empresa seja objetiva e profícua.
Bardin (1979) apud Richardson (2004) nos ensina que o processo de
análise do conteúdo de um trabalho científico é composto por três
etapas: pré-análise; descrição analítica e interpretação inferencial.
Baseado neste conceito, as informações pesquisadas serão analisados
sob as seguintes dimensões:
1º - Identificação e organização das informações relevantes coletadas na
pesquisa documental – pré-análise;
2º - Estudos dos dados sob o enfoque do referencial teórico descrição
analítica;
3º - Reflexões, ilações e interpretações sob a luz do material coletado -
interpretação inferencial.
Na pré-análise foi atribuída relevância especial para a classificação
dos dados por ordem de importância, com o objetivo de alcançar os
propósitos da presente dissertação. Na descrição analítica o enfoque foi
dado à fundamentação teórica, nesta etapa, se promoveu as relações
entre a teoria pesquisada e a experiência que o estudo proporcionou.
Finalizando, as conclusões foram apresentadas para validação.
3.6 LIMITAÇÕES DA PESQUISA
Uma importante limitação neste modelo de investigação científica
está relacionada à obtenção dos dados que possam subsidiar a análise
das inter-relações entre causa, situação, severidade, retração
(retrenchment), resposta de recuperação e desempenho de uma
organização que tenha enfrentado um processo de declínio e posterior
turnaround. Por se tratar de informações consideradas confidenciais o
pesquisador enfrentou resistências (naturais) da coalizão dominante
69
formal na liberação de tais informações e indicadores. Também se teve
dificuldades na obtenção de registros da história do ciclo de vida da
organização, ao que pese a história da empresa e de Dona Adelina estar
devidamente registrada, a ausência dos fundadores impossibilita a
obtenção de informações tácitas e a identificação das estratégias
formuladas e aplicadas durante os momentos de dificuldade.
A falta dos registros contábeis reais é um fator limitante da análise
nesta categoria de investigação. No caso específico da empresa Dudalina
S/A, os dados contábeis disponíveis até o ano de 1997 não espelham, de
forma completa, a realidade da empresa, portanto, em alguns momentos
se deve ignorar tais elementos e confiar no depoimento dos sócios, sob
pena de se fazer uma análise equivocada da situação.
É igualmente importante registrar que o tempo necessário para uma
investigação em profundidade merece ser ampliado e, como isso não é
possível, o fator tempo torna-se um componente restritivo, devendo ser
considerado com a devida importância pelo pesquisador, sob pena de
não conseguir lograr o êxito a que o trabalho se propõe.
70
71
4 ANÁLISE DOS DADOS
Neste capítulo será apresentada a análise dos dados da empresa
investigada. Na primeira etapa discorre-se sobre o histórico do setor,
apresentando dados e fatos que contam a evolução da indústria têxtil
nacional. O histórico da empresa é apresentado na sequência, com base
em dados secundários e primários coletados durante as entrevistas. Na
segunda etapa é descrito o ciclo de vida da empresa e as relações
encontradas com o framework apresentado por Gersick et al. (1997). A
terceira etapa é dedicada à análise dos dados sobre o declínio e
turnaround sofrido pela empresa, sob o prisma do framework de
Robbins e Pearce II (1992).
4.1 CARACTERIZAÇÃO DO SETOR
Registros históricos indicam que a entrada da indústria têxtil no
Brasil data do período entre os anos de 1840 a 1915. Em 1865 o país
desenvolvia a cultura do algodão de forma sistemática, com mão de obra
abundante e um mercado em franca expansão. De acordo com o
relatório do BNDES (2006), em 1880, já era possível encontrar 50
fábricas em território nacional, empregando mais de 5.000 pessoas.
Os investimentos para o início da atividade alcançaram valores
significativos entre os anos de 1893 a 1938. Neste período, o país
importara máquinas oriundas da Inglaterra, Estados Unidos, Alemanha e
França alcançando a cifra de 3.020.000,00 libras esterlinas. Valores
considerados significativos para um país cuja atividade industrial
encontrava-se na fase inicial. A Tabela 2 apresenta a evolução dos
investimentos no período.
Ano Valor (¹)
1893 400.000
1912 700.000
1925 1.100.000
1938 820.000
(¹) valores em libras esterlinas
Tabela 2 Picos de investimento em importação de máquinas têxteis entre 1890 a
1939
Fonte: BNDES 50 anos – histórias setoriais, 2002.
72
Em 1945, aproximadamente 200 fábricas empregavam 80.000
pessoas em toda a cadeia têxtil brasileira. Porém, somente no ano de
1965 o governo federal incluiria o setor têxtil como prioritário na
política do Conselho de Desenvolvimento Industrial. Neste mesmo
período o Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social
BNDES disponibilizava linhas de crédito especiais para o financiamento
das atividades do setor.
As políticas públicas para o desenvolvimento da cadeia têxtil
ganham força a partir do ano de 1966, quando foi criado pelo governo
federal o Grupo Executivo das Indústrias Têxteis – GEITEX, sendo
substituído mais tarde (ano de 1970) pelo GS VIII que incluiria nas
políticas de benefício, além da indústria têxtil a indústria de couro e
calçados. Dentre os benefícios oferecidos ao setor estava a isenção
tarifária para importação de bens de capital. (FLEURY et al., 2007).
Na década de 1970, preocupados com a excessiva migração interna,
o governo brasileiro decide implantar uma nova política de
desenvolvimento para o interior do país. Em 1974 o Programa de
Industrialização do Nordeste é lançado pelo governo federal e várias
empresas do setor têxtil instaladas na região sudeste migram para o
nordeste brasileiro em busca de incentivos financeiros e fiscais. (STEIN,
1979).
A partir de 1990 com a criação do Plano Setorial Integrado para o
Setor Têxtil, expressivos investimentos foram realizados no setor. A
reorganização de fábricas e a racionalização dos processos colocam a
indústria têxtil brasileira num patamar acima, porém, ainda não
suficiente para concorrer com as indústrias dos países desenvolvidos.
De acordo com o relatório do BNDES (2006), no período
compreendido entre os anos de 1990 e 2005 o setor têxtil brasileiro
realizou investimentos, na compra de máquinas, da ordem de 8,2 bilhões
de dólares. Neste mesmo período uma redução no parque fabril, que
passa de 7.250 fábricas no ano de 1990, para 4.030 fábricas no ano de
2005.
Especificamente, no setor de malharia, a queda foi menos
substancial, porém, de acordo com o relatório do Instituto de Estudos e
Marketing Industrial – IEMI, (2006) a diminuição de fábricas neste setor
foi de 32%. A redução maior aconteceu na década de 90, por conta da
abertura abrupta das importações e em função da modernização do
parque fabril nacional que conferiu maior produtividade às empresas.
Para os especialistas do IEMI (2006) os investimentos realizados no
período eliminaram a defasagem tecnológica do setor, principalmente
nos elos iniciais da cadeia (produção de fios e tecidos), elevando o setor
73
têxtil nacional a um nível tecnológico bastante avançado. Este
movimento contribuiu para reduzir, na época, a idade média dos
equipamentos. Como resultado da modernização do parque de máquinas
o relatório do IEMI (2006) aponta para um aumento de sete vezes na
quantidade total de teares, aumentando, substancialmente o número total
de quinas de malharia, fator que foi decisivo para a mudança no
padrão de produção de tecidos, como mostra a Tabela 3.
Fiação Tecelagem Malharia Acabamento
Itens
1990 2005 1990 2005 1990 2005 1990 2005
Investimento
total em
máquinas no
período (US$
Bilhões)
3,0
1,7
1,7
1,8
Nº de fábricas
1.179 376 1481 493 3766 2582 818 575
Produção
(1000 t)
1.142 1.294 803 1314 319 554 1063 1764
Nº de
empregados
(1000)
272
80
402
100
50
116
69
29
Tabela 3 – Dimensões do setor têxtil em 1990 e 2005
Fonte: relatório IEMI/2006.
É importante destacar que a concentração dos investimentos (8,2
bilhões em 15 anos), permitiu a ampliação da produção em todos os sub-
setores e reduziu o número de fábricas, à custa do aumento significativo
de capital investido por unidade de emprego gerado (FLEURY et al.,
2007).
Nessa mesma época, de acordo com o relatório do IEMI/2006,
pode-se observar uma dispersão regional da produção têxtil brasileira
que, desloca-se do eixo sul/sudeste para estados do nordeste brasileiro.
O deslocamento da produção para outras regiões do país somente foi
possível em função da disponibilidade de financiamentos para
implantação de novas plantas industriais e, em grande medida, graças às
políticas de isenção fiscal promovida pelos estados. A estratégia das
empresas resumiu-se, basicamente, na terceirização de subprocessos
produtivos, a exemplo das facções. De acordo com o relatório
IEMI/2006, as ações estratégicas do setor, tais como: planejamento,
design e marketing, continuam concentrados nas regiões sul/sudeste
brasileiro.
74
Também no período compreendido entre os anos de 1990 a 2005
um aumento na produção do setor. A Tabela 4 indica os segmentos,
dentro da cadeia têxtil, que tiveram aumento mais significativo.
Ano Expansão (%) Segmentos
1990 2005 1990-2005
Filamentos 168 296 76%
Fios 1.141 1.294 14%
Tecidos 803 1.314 64%
Malhas 319 554 74%
Capacidade de
beneficiamento
1.063 1.765 66%
Tabela 4 – Produção têxtil em 1.000t
Fonte: Relatório IEMI/2006.
Observa-se que os segmentos de maior expansão concentram-se nos
setores de filamentos e malhas, com 76% e 74% respectivamente de
crescimento. O setor de tecidos vem a seguir com 64% de taxa de
crescimento. Para Fleury et al. (2007), esse aumento na capacidade
produtiva acompanha o aumento da demanda interna e promove a
explosão de micro e pequenos empreendimentos, principalmente na
atividade de confecção que, de acordo com os autores, oferece poucas
barreiras de entrada.
Analisando o relatório do International Textile Manufacturers
Federation ITMF/2006, percebe-se que uma preocupação constante da
indústria têxtil diz respeito à renovação do parque de máquinas. A
automação e os avanços tecnológicos em software e hardware forçam a
substituição de máquinas em períodos cada vez menores. A exemplo
disso pode-se citar que, até a década de 90, os prazos para substituição
de máquinas e equipamentos nas indústrias têxteis da Europa giravam
em torno de 7 anos e no Brasil entre 9 e 10 anos. Na nova configuração
da cadeia global esse prazo tende a ser reduzido cada vez mais,
atingindo patamares inferiores a 6 anos.
Sobre a internacionalização da cadeia têxtil e de confecção
brasileira Tenan e Miranda (2007) sugerem que o setor tem-se mantido a
margem dos grandes movimentos globais de internacionalização, muito
embora o panorama mundial aponte tendências à internacionalização
dos negócios e a formação de cadeias globais de produção.
Para Fleury et al. (2007), a produção brasileira tem foco restrito ao
mercado doméstico, sendo que a exportação é esporádica e realizada nos
momentos de retração do mercado interno. Para os autores essa
75
tendência pode ser considerada um resquício das políticas de proteção
da indústria nacional dos anos 1980.
Na outra ponta das cadeias globais do setor estão as grandes
empresas internacionais que, com a abertura do mercado na década de
1990, encontram uma indústria nacional desarticulada. Para Fleury et
al. (2007), o setor preocupa-se mais em proteger seu produto dos
importados do que ativamente atingir o mercado externo. O resultado
desta política equivocada é desastroso, pois deixa a indústria têxtil
brasileira à margem das cadeias produtivas globais.
Especificamente no caso da indústria da confecção, a tendência
internacional aponta para uma externalização das etapas de manufaturas
intensivas, principalmente aquelas que exigem grande aporte de o de
obra. A participação dos países emergentes restringe-se a esta produção,
sendo que o comando do setor permanece com as empresas detentoras
de grandes marcas.
No caso brasileiro parte da indústria nacional, a exemplo dos
modelos internacionais, se organiza próxima às grandes cadeias de
comercialização e produtoras de marcas nacionais e internacionais.
Também em território nacional, as grandes empresas, detentoras das
grandes marcas ou com participação destacável no mercado, comandam
a cadeia, impondo padrões de qualidade e preço a seus fornecedores.
Grandes empresas com marcas mundiais como o caso da Lacoste,
Tommy Hilfiger, Benetton, Zara, Nike, Adidas, Ecko Unld, estabelecem
localmente sua produção em busca de ganhos de escala, importando de
seus países de origem determinados itens de coleção. Olhando para o
varejo, percebe-se que grandes empresas como Renner, C&A, Wal-Mart
e Sears utilizam-se da mesma estratégia, com a diferença de investirem
em design próprio. Os grandes compradores globais exercem um papel
importante na estruturação da produção, uma vez que são os
responsáveis pela comercialização e distribuição dos produtos, o que
lhes dá poder de comando sobre toda a cadeia (GARCIA, 2003).
Cruz-Moreira (2003) classifica a partir do trabalho de Gereffi
(1994) em dois os compradores globais identificados na cadeia têxtil e
confecção:
Os detentores de marca: são aquelas empresas que possuem canais
próprios de distribuição e comercialização e apresentam marcas
consolidadas no mercado. Seu esforço é concentrado no
desenvolvimento de produtos e design. Como regras de negócio
estas empresas não apresentam produção própria, a manufatura de
seus produtos é terceirizada em empresas especializadas. Alguns
76
exemplos deste tipo de empresas: Lacoste, Tommy Hilfiger,
Benneton, Zara, The Gap e Nike;
Os grandes varejistas: são detentores de fortes esquemas de
distribuição em mercados globais. Igualmente não produzem,
terceirizam a produção. Uma diferença importante entre estas
empresas e as do grupo anterior é que os varejistas o realizam
gastos expressivos em desenvolvimento de produtos. Os produtos e
modelos são desenvolvidos pelas empresas contratadas. Algumas
empresas que atuam neste tipo de negócio: Wal-Mart, J. C. Penney,
Sears, C&A.
De acordo com Fleury et al. (2007) a disseminação desta estratégia
desencadeou importantes efeitos para as cadeias globais de produção,
que passaram por um profundo rebaixamento dos preços, em virtude do
acirramento da concorrência que passa a ser global. O crescimento da
participação dos países periféricos, no comércio internacional de
produção de têxtil e do vestuário, também é um fenômeno que surge a
partir da estratégia acima identificada.
Se por um lado a participação nas chamadas cadeias globais confere
uma experiência internacional a uma parte da indústria nacional de
confecção, por outro lado, boa parte das empresas opera ao largo dessa
lógica. As pequenas e médias empresas, característica da grande maioria
das indústrias do setor, produzem e oferecem seus produtos de baixo
preço, com design simples e baixa preocupação com qualidade,
utilizando matérias-primas convencionais, operando com baixos custos
e em muitos casos, escoando boa parte de sua produção no mercado
informal. Outras operam em proximidade com o mercado, oferecendo
uma combinação de velocidade com flexibilidade; são os chamados
produtores de modinha que lançam coleções baseados em marcas
famosas, num modelo de produção Just in time. Finalmente, um grupo
destas empresas procura nichos de mercado, oferecendo produtos para
grupos de interesse, direcionando seus esforços no design do produto.
4.2 A EMPRESA DUDALINA S/A
Um jovem casal intensamente apaixonado inicia uma vida de
sonhos e esperança na pequena cidade de Luis Alves – SC. Assim inicia
o texto oficial que conta a história da saga de sucesso da família Hess de
Souza. A admiração dos primogênitos pela perseverança do casal Hess
de Souza é visível no olhar e comportamento dos filhos quando
77
interrogados sobre a vida pregressa da empresa. A história da Dudalina
S/A se confunde com a história da minha mãe (Adelina Clara Hess de
Souza) afirma Vilson Luis de Souza, presidente do conselho de
administração e um dos filhos do casal.
[...] minha mãe coordenava a empresa com mão de
ferro e de todos os conselhos que recebemos o que
mais ficou marcado entre os irmãos foi: não
briguem, nem todo o dinheiro do mundo vale a
honra a dignidade e a união de uma família
(VILSON LUIZ DE SOUZA, 2009).
Desta forma a empresa cresceu e os filhos amadureceram sempre
unidos. O problema de um é o problema de todos:
[...] quando converso com um sobrinho ou parente
qualquer sobre, por exemplo, seu fraco desempenho
na empresa, faço isso com muita naturalidade, sem
nenhum pudor ou constrangimento. Da outra parte
o feedback também é aceito com naturalidade pois
a outra pessoa sabe que a intenção é contribuir para
o desempenho do profissional. As questões
pessoais são esquecidas neste momento. A empresa
é superior a tudo isso [...] (VILSON LUIZ DE
SOUZA, 2009)
Sob essa égide nasceu, cresceu e se desenvolveu a empresa. São 52
anos de história que inicia em 1957 quando o casal Rodolfo Francisco
de Souza Filho (Seu Duda) e Adelina Clara Hess de Souza (Dona
Adelina), casados desde 1947, decidiu constituir a Dudalina (junção dos
nomes do Duda + Adelina).
A história da Dudalina, porém, inicia em 1955 quando seu Duda vai
até a cidade de São Paulo e entre uma mercadoria e outra, que adquiria
para abastecer seu pequeno armazém de secos e molhados, comprou um
grande lote de tecidos de um comerciante turco da Rua 25 de março.
(SOUZA, 1996).
A quantidade de tecido é tamanha que dois anos após adquirir a
mercadoria o pequeno armazém de secos e molhados do seu Duda
vendera uma pequena quantidade do produto. Dona Adelina, preocupada
em “despachar” a mercadoria, toma a iniciativa e monta uma confecção.
Aproveitando as habilidades adquiridas em um curso de corte e costura
que fizera anteriormente, Dona Adelina convoca duas amigas que
78
possuíam máquinas de costura e inicia uma pequena fábrica. Os
primeiros clientes foram operários de uma construtora. Logo o estoque
de tecidos foi vendido e surge a DUDALINA. (SOUZA, 2002).
Mesmo na época o espírito empreendedor dos proprietários pode ser
observado. A continuidade do negócio, pensava o casal, dependia da
expansão da pequena fábrica de confecções. Aproveitando as
informações de que em cada residência existia uma máquina de costura
que, normalmente, era subaproveitada, os sócios tiveram uma grande
idéia: alugar máquinas de costura e investir o pequeno recurso
disponível em capital de giro para comprar matéria prima e financiar a
venda dos produtos. O perfil das comunidades rurais da época indica
que o escambo era uma forma comum de negociação. O dinheiro era
mais facilmente encontrado em épocas de colheita das safras
(normalmente, 3 vezes ao ano).
O primeiro grande momento da empresa aconteceu com a compra
de equipamentos usados de uma confecção que fechara na cidade de
Blumenau –SC. O financiamento das máquinas foi feito com recursos
dos fornecedores da matéria prima (comerciantes de São Paulo). O ano
era de 1957 e dois representantes comerciais foram contratados,
definindo roteiro e região de representação individual. Dona Adelina é
também ótima vendedora. Quando precisava, enchia o caminhão de
camisas e, acompanhada por um filho e o motorista, saía para vender
nas cidades da região. voltava para casa quando todo o estoque tinha
sido vendido. (SOUZA, 1996).
Segurança e solidez são as amarras que envolvem a Dudalina desde
sua fundação. A adoção de uma logomarca representada por uma ancora
simboliza a intenção dos sócios.
[...] minha mãe, até quando pode, fazia o controle
de qualidade dos produtos da empresa, nada
passava em branco, ela não admitia falhas na
produção [...] (VILSON LUIZ DE SOUZA, 2009).
O casal sabe que para crescer mais precisa investir na modernização
da fábrica. Isso significava a compra de máquinas de costura elétricas
industriais, porém, na pequena cidade de Luis Alves SC, não havia
energia elétrica. A solução foi investir em um gerador próprio. O ano era
1959 e os pedidos não paravam de crescer.
O planejamento da sucessão da empresa estava pronto. Em 1964
o casal adquire duas lojas na cidade de Balneário Camboriú SC. As
lojas de varejo funcionaram como uma escola para os filhos. O
79
expediente era de 14 horas por dia. Com a família crescendo, os dois
filhos mais velhos começam a participar ativamente do negócio que,
neste momento, é impulsionado pela grande demanda das novas
coleções. Em 1969 seu Duda e Dona Adelina e seus 16 filhos, mudam-
se definitivamente para a cidade de Blumenau. Mesmo ano que os
primeiros indícios de profissionalização são observados na empresa.
Com a inauguração da nova sede a empresa passa a contar com uma
estrutura composta por departamentos de produção, finanças, vendas,
compras administração de pessoal e desenvolvimento de produtos
(SOUZA, 1996).
Nos anos 70 o grande impulso vem com a consolidação da empresa
no mundo da moda. A Dudalina deixa de ser uma confecção e passa a
ser uma empresa que faz moda. A marca tem mercado garantido em
diversos estados brasileiros. Os investimentos em desenvolvimento de
produtos começam a dar retorno. A camisa com colarinho bico de pato,
fabricada pela empresa, é moda em todo país. Em 1974 a gestão da
empresa passa para a segunda geração. Assume a presidência do
conselho de administração Anselmo José e a diretoria de produção fica a
cargo de Heitor Rodolfo. Em 1977 uma nova fábrica é inaugurada na
cidade de Luis Alves – SC.
A chamada década perdida da economia nacional, anos 80, é
também um período de superação na Dudalina. A empresa sofre com as
cheias do Rio Itajaí-Açu em 1983. Produtos e máquinas são atingidos,
obrigando a empresa, momentaneamente, a parar a produção. Em
contrapartida os negócios são ampliados com a abertura de escritório de
vendas na capital paulista, comandado por Sônia Regina, a sexta filha do
casal. Em 1984 uma nova fábrica é inaugurada na cidade de Blumenau –
SC.
Com o crescimento do negócio, em 1985 uma nova unidade é
construída na cidade de Luis Alves SC. No mesmo ano a produção de
calças, bermudas, shorts e jaquetas é transferida para uma nova unidade,
também na cidade de Blumenau – SC.
Em 1986 três unidades industriais são inauguradas: Lontras, Nova
Trento e Presidente Getúlio, todas na região do Vale do Itajaí em Santa
Catarina. Em 1988 a aquisição de um edifício na cidade de São Paulo
marca a permanência definitiva da empresa no mundo da moda dos
grandes centros. No prédio se instalam a diretoria de vendas e a filial
paulista (SOUZA, 1996). Nesta época a empresa opera com os mercados
private labels; exportação; criação de coleções para grandes magazines
e coleções exclusivas, ampliando o mercado nacional e conquistando o
mercado internacional (SOUZA, 1996; SOUZA, 2002).
80
No período compreendido entre os anos de 1984 e 1989 a empresa
cresceu 250% (SOUZA, 2002). Preocupados com a explosão dos
negócios o conselho de administração aprova a aplicação de 4% do
faturamento anual em projetos de capacitação, treinamento e
reformulação gerencial. É o primeiro indício de uma nova estratégia
gerencial, profissionalizar definitivamente a gestão do negócio. Para
tanto é criado o conselho de administração que tem como presidente o
filho mais velho Anselmo José Hess de Souza, que passou a presidência
executiva da empresa para Armando Hess de Souza.
O ajustamento da economia e a sequência de planos econômicos
desastrosos trouxeram instabilidade a Dudalina, nos anos 90. A abertura
de mercado, promovida pelo então governo Fernando Collor de Melo,
em 1991, fez com que a empresa antecipasse mudanças. Para tanto os
investimentos em modernização do parque industrial são constantes.
Precursora no uso de novas tecnologias, a empresa torna-se a primeira
camisaria do Brasil a ter sistema integrado de modelagem, encaixe e
corte eletrônicos. Em 1994 acontecem as primeiras importações de
tecidos da Itália e de Portugal. A marca Base entra no mercado em 1994
como um laboratório de franquias. A estratégia deu certo e cinco anos
mais tarde a franquia é lançada com um amplo mix de produtos. Em
1996 a empresa enfrenta dificuldades e seu lucro é negativo. No ano
seguinte (1997) a empresa contrata a Fundação Dom Cabral com o
objetivo de repensar o negócio e a forma de gestão. Deste momento em
diante a Dudalina assume a estratégia de focar seus produtos para a
moda masculina adulta. Nos 5 anos seguintes o lucro volta a crescer e a
empresa estabiliza novamente.
O início dos anos 2000 foi de ajustes na Dudalina. Após ver o lucro
cair em 56% entre os anos 2000 e 2001, em 2002 o balanço da empresa
mostra um lucro negativo em mais de 5% da receita operacional líquida.
No ano seguinte (2003), Sônia Regina assume a presidência da empresa
junto com os irmãos Renê Murilo, diretor de operações e Rui Leopoldo,
diretor de exportações. Neste período as ações de responsabilidade
social são intensificadas e o principal desafio da nova diretoria é manter
e aprimorar o processo de gestão e fazer com que a empresa volte a
apresentar lucro. Em 2003 os sinais de recuperação são expressos no
balanço que apresenta uma ROL 32% maior do que o ano anterior, com
lucro positivo de 7,46%. Os anos seguintes, até 2008, a empresa entra
em um espiral crescente de faturamento e lucratividade. O Gráfico 1
demonstra a evolução do lucro da empresa sobre a receita operacional
líquida, entre os anos 1996 e 2008.
81
Evolução do Lucro/ROL
3,09%
7,46%
3,63%
10,21%
9,23%
7,94%
2,15%
6,25%
6,32%
9,51%
9,50%
-0,21%
-0,52%
-2%
0%
2%
4%
6%
8%
10%
12%
1995 1996 1997 1998 1999 2000 2001 2002 2003 2004 2005 2006 2007 2008 2009
Ano
Percentual
Gráfico 1 - Evolução do Lucro/ROL
Fonte: o autor, 2009
O Gráfico 01 demonstra claramente os períodos marcados por maior
dificuldade financeira da empresa nos últimos 14 anos. A retomada dos
lucros no ano de 1997 pode estar ligada ao fato de a empresa contratar
uma consultoria para repensar o negócio e implantar um modelo de
gestão mais agressivo, bem como a retomada, em 2003, pode estar
relacionada à troca de diretoria que foi realizada no ano anterior. Tais
hipóteses serão analisadas com mais profundidade no capítulo seguinte.
4.2.1 A situação da empresa em 2009
Atuando com as marcas Dudalina Sport Chic, Dudalina Cult,
Individual e Base & Co a empresa mantém um escritório de vendas
(matriz) na cidade de São Paulo – SP e 04 unidades industriais. A
unidade mais antiga (1957) está localizada na cidade de Luís Alves - SC
e conta com uma planta de 2.926 m2. A unidade industrial de Blumenau
SC possui 5.085 m2 de área construída e foi inaugurada em 1983. Em
Terra Boa - PR, a empresa mantém uma unidade de 2.652 m2. A
unidade de Presidente Getúlio possui 1.428m2 m2. Ao todo são 14.046
m2 de produção com 1.272 colaboradores diretos e 250 indiretos. O
Quadro 6 apresenta um resumo das unidades de produção da empresa.
82
Descrição Localização Área
construída m2
colaboradores
Início das
atividades
Unid. Industrial Luís Alves 2.926 242 1957
Escr. Vendas São Paulo 360 03 1983
Unid. Industrial Blumenau 5.085 297 1983
Unid. Industrial Pres. Getúlio 1.428 214 1989
Unid. Industrial Terra Boa 2.652 416 1994
Total 12.451 1.172
Quadro 6 – Resumo da Empresa
Fonte: Dados fornecidos pela empresa, 2009
4.2.1.1 Setor de atuação e principais produtos e marcas
O objetivo do negócio é a exploração da indústria do vestuário em
fibras naturais, mistas ou artificiais, podendo ainda exportar ou
importar. Sob essa perspectiva a empresa produz as marcas próprias:
DUDALINA; INDIVIDUAL e BASE & CO, além de produzir para as
principais marcas brasileiras, exportando para países do MERCOSUL e
Europa.
As camisas de tecido plano são o principal produto da empresa e
representam 70% da produção e vendas da empresa. A Dudalina fabrica
malhas, calças e bermudas, comercializando, ainda, boxers, jaquetas,
perfumes, acessórios, trajes, sapatos e tricôs.
Cada marca da empresa representa um público alvo que se pretende
alcançar, conforme demonstra o Quadro 7.
Marca Conceito da marca Mix de produtos
BASE & CO Criatividade e qualidade
nos produtos. Focada
para o público jovem
Camisas, T-shirts, malhas polo,
calças, bermudas, boxers, tricôs,
jaquetas, tênis, perfumes,
mochilas e acessórios.
INDIVIDUAL Focada no público
masculino nos estilos:
life style, classic e
Premium.
Camisas, T-shirts, malhas polo,
calças, bermudas, boxers, tricôs,
jaquetas, blazers, gravatas,
sapatos e acessórios.
DUDALINA Focada no público
masculino executivo.
Calças, camisas, gravatas, tricôs,
jaquetas, blazers, sapatos e trajes.
Quadro 7 - Mix de produtos
Fonte: O autor, 2009
83
Com a visão de futuro de ser a melhor empresa de moda masculina
do Brasil, a empresa registra em seu planejamento estratégico a missão
de “despertar no consumidor o desejo por nossas marcas”. Para isso os
valores adotados pela empresa são:
Cliente: É nossa prioridade, necessita ser seduzido sempre.
Ética: É ser transparente e verdadeiro.
Inovação: É antecipar-se, criando novos desejos de forma sustentável.
Paixão: É o sentimento que nos move a fazer o melhor com prazer.
Pessoas: Construir relações sólidas e verdadeiras.
Para o presidente do conselho, Vilson Luis de Souza (2009): “A
meta da empresa é tornar-se uma grande gestora de marcas, não se
esquecendo de nossos parceiros no Private Label, da responsabilidade
social e do foco na sustentabilidade do negócio.”
4.3 CICLO DE VIDA DA EMPRESA
Adotando-se como base de análise o CVO proposto por Gersick et
al. (1997), para uma empresa familiar, os estágios de desenvolvimento
da Dudalina S/A foram divididos em três: Início das atividades, estágio
de Expansão e Maturidade da organização. No Quadro 8 são
apresentados os principais eventos que caracterizam o CVO da empresa:
Estágio do
CVO
Eventos importantes na organização Período
Surgimento da empresa
Aquisição das primeiras máquinas industriais
Filho mais velho assume a gestão
Início
Mudança da empresa para Blumenau – SC
1957 a 1973
A segunda geração assume o comando
Construção da nova sede na cidade de Blumenau
– SC
Abertura do escritório de vendas em São Paulo -
SP
Abertura das unidades industriais de Presidente
Getúlio- SC e Terra Boa – PR
Expansão
Crise da abertura de mercado no início da década
de 90
1969 a 1996
Criação do conselho de administração
Toma posse o segundo gestor da segunda
geração
84
Empresa lidera a produção de tecido plano no
país
Lucro negativo em 1996
Novo modelo de gestão é implantado
Lucro negativo em 2002
Toma posse o terceiro gestor da segunda geração
Abertura da unidade de produção de Brusque
Maturidade
Fechamento da unidade de produção de Brusque
1997 até o
presente.
Quadro 8 – Principais eventos do ciclo de vida da empresa
Fonte: O autor, 2009
Como mostra a Figura 6 do capítulo 2, as fases do ciclo de vida de
uma organização, familiar ou não, apresentam uma tendência de
sobreposição de eventos e datas. Desta forma, fica a juízo do autor
definir marcos ou eventos que caracterizem a divisão estanque das fases,
ou optar por intercalar os eventos, sobrepondo fatos e acontecimentos
entre o término de uma fase e o início de outra. Neste caso, dadas as
características da empresa, preferiu-se pela segunda opção, ou seja,
sobrepor eventos entre uma fase e outra.
4.3.1 Fase inicial – O primeiro ciclo da vida da empresa (1957 a 1973)
Esta fase é marcada pela concepção do negócio. É o período que
transforma uma necessidade ou sonho do empreendedor em algo
concreto. Para os autores estudados (GREINER, 1972; ADIZES, 1990;
CHURCHILL, LEWIS, 1983; QUINN, KIM, 1983; MILLER,
FRIESEN, 1984; SCOTT, BRUCE, 1987; KAZANJIAN, 1988;
MOUNT et al. 1993; PASCALE, 1994; MACEDO, 1997; GERSICK et
al. 1997) nesta fase o grande desafio é a sobrevivência da empresa. É o
momento de testar a aceitação do negócio e do produto pelo mercado.
Para Gersick et al. (1997):
“A empresa que está no estágio inicial do
proprietário controlador, os dois requisitos mais
importantes para a sobrevivência são que ela reaja
de forma flexível às necessidades dos clientes e
permaneça muito eficiente em relação aos custos”.
(GERSICK et al. 1997, p.155)
85
Na empresa estudada esta fase caracterizou-se pelo período de 1957
a 1973, sendo que a data final é aproximada e culmina com a mudança
da empresa para a cidade do Blumenau SC, pois, segundo relatos,
nessa época a cidade escolhida oferecia infraestrutura mais compatível
para o exercício da atividade da empresa (SOUZA, 2002).
O início da empresa se deu ao acaso. Seu Duda (Rodolfo Francisco
de Souza Filho) marido de dona Adelina, foi a São Paulo fazer compras
para abastecer seu pequeno armazém de secos e molhados, que
mantinha junto com a família na pequena cidade de Luis Alves - SC.
Aproveitando uma liquidação de tecidos, o então empresário comprou
uma quantidade razoável do material. Dois anos após a compra, e com o
tecido ainda em estoque, dona Adelina (Adelina Clara Hess de Souza),
matriarca da família e idealizadora da empresa, tomou a iniciativa de
montar uma confecção, inicialmente, para aproveitar o tecido em
estoque.
[...] então eu pensei o seguinte: bom todas as noites
nós estávamos vendendo camisas, cuecas aqui na
loja. E porque eu não vou pensar em fazer alguma
coisa deste tecido? [...] (ADELINA CLARA HESS
DE SOUZA, apud FRÖHLICH, 2005)
Nesse período a empresa (armazém de secos e molhados) se
confundia com a família:
[...] o armazém do meu pai era como a extensão da
nossa casa, quando precisávamos de um quilo de
arroz, descíamos e apanhávamos o produto, éramos
em muitos em casa, cada um pegava o que bem
entendia. Não havia um controle entre as contas da
casa e a empresa [...] (VILSON LUIZ DE SOUZA,
2009).
Para manter o novo negócio que iniciava a matriarca não media
esforços:
[...] eu mesma pegava uma Kombi e saía a vender
nas lojas das cidades vizinhas: Brusque, Joinville,
Dr. Pedrinho e Guaramirim [...] assim como eu saía
a vender, eu vendia para um ou dois meses [...] eu
mesma vendia, eu mesma entregava, eu mesma
recebia. Todo o negócio estava em minhas mãos
86
[...] (ADELINA C. HESS DE SOUZA, apud
FRÖHLICH, 2005)
[...] todo o negócio estava em minhas mãos [...] o
corte das camisas era feito por mim, todo corte era
feito por mim. Eu trabalhava de madrugada, até
altas horas da noite. Quando Anselmo entrou, ele
começou a me ajudar, mas a organização sempre
estava comigo [...] (ADELINA C. HESS DE
SOUZA, apud FRÖHLICH, 2005)
Os depoimentos corroboram com a descrição da fase inicial da
organização proposta por Gersick et al.(1997). Para os autores, uma
empresa familiar inicia suas atividades pela vontade do empreendedor
chefe que controla todos os processos da organização, requerendo um
perfil que aponte para características empreendedoras, tais como:
persistência, determinação e constância de propósitos.
Nesta fase a presença da família na gestão dos negócios era total.
Dona Adelina controlava a produção, ajudava a vender e gerenciava o
negócio que era tratado como uma extensão da casa. Analisando o
framework dos três ciclos de Gersick et al. (1997), pode-se concluir que,
na fase inicial, a empresa apresentava a seguinte configuração:
Figura 11 - Modelo dos três ciclos adaptado para a fase inicial
Fonte: Adaptado de Gersick et al., 1997
87
Percebe-se que a sobreposição dos elementos propriedade e gestão e
família, fica evidente nesta fase do ciclo de vida da empresa (detalhe no
canto esquerdo da Figura 11). Apesar do esforço em expandir os
negócios a gestão não se profissionaliza e o controle é exercido de forma
absoluta pela matriarca da família.
4.3.2 Expansão – Crescimento e crise (1969 a 1996)
Para os autores (GREINER, 1972; SCOTT, BRUCE, 1987;
ADIZES, 1990) a fase de expansão é comum a todos os tipos de
empresas. Para estes autores esta fase transcorre lentamente, podendo
levar muitos anos ou perpassar gerações. No caso das empresas
familiares Gersick et al.(1997) afirmam que nesta etapa as empresas
formalizam a estrutura e preparam a organização para dar suporte aos
novos entrantes na sociedade (sociedade entre irmãos eixo da
propriedade, na proposição dos autores). Nesta fase, acontece a re-
organização do negócio e o crescimento se pela abertura de novos
negócios, fato que exige uma ampliação do fluxo de caixa, pois é nesta
etapa que a exigência por investimento em imobilizado se acentua.
(KAUFAMANN, 1990; CHURCHILL, LEWIS, 1983; GERSICK et
al.1997; GREINER, 1972).
Para Souza, (1996) o chamado novo período da Dudalina foi
caracterizado pelo crescimento contínuo. A área geográfica de atuação
foi expandida e a empresa inicia seus primeiros processos de
exportação. Com a transferência da empresa para a nova sede
(Blumenau SC), a planta de produção foi ampliada, associada a
inauguração de três novas unidades de produção, chegando ao ápice
com a instalação do escritório de negócios na cidade de São Paulo – SP.
Neste período a empresa passou de 140 para 1.200 funcionários
(SOUZA, 1996).
Outro marco importante na fase de expansão foi a passagem da
gestão da empresa (passagem do bastão – eixo da família, Gersick et al.,
1997) para o primogênito do casal, Anselmo José Hess de Souza.
Anselmo, que acompanhara os negócios da família desde a infância,
assumiu a gestão dos negócios em 1974. Sua trajetória foi marcada pelo
foco no mercado e na preocupação constante em formalizar a estrutura
da empresa.
88
[...] com a entrada do Anselmo na confecção, houve
uma evolução da empresa bastante acentuada, uma
evolução muito grande. A entrada dele no negócio
foi muito importante [...] ele saía a vender para o
norte do Paraná e várias cidades. A evolução
principal da empresa começou quando o Anselmo
começou a trabalhar na Dudalina, porque eu
sozinha não dava conta, pois eu estava grávida todo
ano [...] (ADELINA CLARA HESS DE SOUZA,
apud FRÖHLICH, 2005).
A necessidade de formalizar a estrutura pode ser o motivo da
centralização excessiva que marcou a gestão de Anselmo José Hess de
Souza. Como ele próprio admite:
[...] a minha estrutura era um pouco centralizadora.
Eu tinha domínio de todas as áreas. Atuava, ou
fiscalizava dentro de todas as áreas. Fazia através
de acompanhamentos e trabalho. Eu tinha poder
absoluto. Era eu que dava as regras totais.
(ANSELMO JOSÉ HESS DE SOUZA, apud
FRÖHLICH, 2005).
Nesta mesma fase os primeiros sinais de gestão profissional são
evidenciados. Neste período um executivo externo (não pertencente à
família) foi contratado.
[...] a empresa trouxe profissionais de fora que
tinham experiência, contratação de profissionais,
chefe de expedição, gerente comercial, eles já
tinham experiências de outras empresas, sempre, ou
quase sempre, da área têxtil, porque o têxtil tinha
predomínio absoluto. (ANSELMO JOSÉ HESS DE
SOUZA, apud FRÖHLICH, 2005).
A fase de transição entre o modelo centralizador, de controle
absoluto, que Anselmo herdou da mãe dona Adelina, e o modelo de
gestão profissional e descentralizada, foram precedidos de desconfortos
entre as equipes. Como relata Anselmo:
[...] muitos profissionais contratados bateram de
frente com a gestão familiar [...] as pessoas iam
adquirindo vontade própria e eu era muito ditador
89
[...] (ANSELMO JOSÉ HESS DE SOUZA apud
FRÖHLICH, 2005)
Em 1989, o então presidente executivo, Anselmo José Hess de
Souza, passa a presidência executiva da empresa para o irmão, Armando
Hess de Souza, e assume o recém criado Conselho de Administração.
Anselmo deixa uma empresa capitalizada e com crescimento médio de
250% nos últimos 5 anos de sua gestão, porém, os problemas de gestão
acumulavam-se e caberá à próxima gestão resolvê-los.
A transferência da gestão da empresa foi intermediada pela própria
fundadora, como afirma Fröhlich:
“Uma vez que o presidente buscava interesses
pessoais não consoantes com os interesses e a
direção do negócio da empresa, foi necessária a
intervenção da fundadora para direcionar um
processo de transição da gestão para o outro filho”.
(FRÖHLICH, 2005, p. 93).
Este fato demonstra que, apesar da sócia fundadora ter-se afastado
da gestão dos negócios, a empresa conservava a característica cultural
de gestão familiar.
A instalação de um Conselho de Administração não blindou a
empresa de uma crise de gestão, disfarçada, no período anterior, pelo
vertiginoso crescimento das receitas e do patrimônio da empresa.
Com a sucessão, a empresa assume um novo estilo gerencial.
Greiner (1998) afirma que neste estágio, de transição entre uma gestão e
outra, podem surgir grandes problemas organizacionais, marcados por
pequenas crises de controle. Desse momento em diante, de acordo com
o autor, o foco passa a ser na coordenação técnica. Igualmente Gersick
et al. (1997, p. 201) afirma “a sucessão é o teste supremo de uma
empresa familiar”.
Apesar do alerta dos autores, a sucessão na Dudalina não foi
planejada. O novo presidente assume sem a qualificação desejada. Esta
constatação fica evidente no depoimento do próprio presidente:
“O Anselmo iniciou um novo negócio que não era
compatível com a Dudalina, então o conselho
decidiu que ele deveria se afastar, para cuidar do
próprio negócio, e me colocaram de presidente... eu
não estava totalmente preparado... levei uns 2 anos
para entender a dinâmica política da empresa,
90
durante esse tempo fui muito castigado [...]”
(ARMANDO CÉSAR HESS DE SOUZA, 2010)
Colaborou para o agravamento da crise na Dudalina o fato de, entre
1990 e 1991, o governo brasileiro promover a abertura das importações,
conforme afirma Armando:
[...] com a abertura das importações, o setor têxtil
de Blumenau viveu uma crise, que foi quase a sua
destruição. Na Dudalina não tínhamos uma
estrutura de custos para competir com os
importados, foi um caos... Lembro que na nesta
época sobrevivemos pela nossa teimosia [...]
(ARMANDO CÉSAR HESS DE SOUZA, 2010).
Deste momento em diante a crise se instala na empresa que
acumulara prejuízos financeiros.
Para Fröhlich (2005) os problemas que se acumularam na nova
gestão, são em consequência de:
Ausência de uma estratégia que fizesse frente ao novo modelo
econômico brasileiro;
Despreparo do novo gestor;
Estilo de gestão totalmente familiar, “a empresa parecia
continuidade da casa e as discórdias eram frequentes”.
(FRÖHLICH, 2005, p. 98);
Disputa pelo poder entre os irmãos;
Lentidão na tomada de decisões, provocada pelos frequentes
conflitos entre a gestão executiva, o conselho de administração e os
acionistas.
Como se pode observar nesta fase da empresa, a presença da família
no comando é total. O crescimento dos negócios e a passagem da gestão
para Armando Hess estimulam a adoção de algumas ferramentas de
gestão, na tentativa de conduzir a empresa de forma mais profissional.
Olhando-se para o framework de Gersick et al. (1997) a fase de
expansão da empresa pode ser representada pela figura 12:
91
Figura 12 - Modelo dos três ciclos adaptado para a fase de expansão
Fonte: Adaptado de Gersick et al., 1997
Na figura 12, a tentativa de profissionalizar a empresa está
representada pela sobreposição dos três ciclos de Gersick et al.(1997),
identificada pelo desenho na parte superior direita. Percebe-se que os
elementos referentes a gesta, propriedade e família, começam a criar
independência e são gerenciados de forma separada. Apesar da gestão se
restringir aos membros da família, a empresa direciona esforços com o
objetivo de separar os interesses da empresa dos interesses dos
familiares, tornando a gestão independente. Porém, este objetivo
somente é alcançado na próxima fase, quando a empresa entra para a
maturidade.
4.3.3 Maturidade – Ajustes e estabilidade financeira (1997 a 2009)
Apesar dos conflitos e disputas internos o presidente resiste à
pressão e permanece no cargo até o ano de 2002. Trabalhando com
adversidades múltiplas, mas focado no objetivo de organizar a empresa,
o então presidente Armando Hess de Souza implanta uma gestão mais
compartilhada e tenta se firmar como líder. Para Kaufmann (1990) as
organizações que atravessam esse tipo de situação precisam adotar
92
mecanismos de gestão mais eficientes com objetivo de conduzir os
negócios para o sucesso. Para o autor, a preservação da personalidade
institucional depende da conservação dos valores básicos do negócio.
Neste sentido, a Dudalina buscava uma identidade no mercado, visto
que a produção havia sido diversificada e não havia uma segmentação
de mercado, conforme pode ser observado pelo depoimento de um dos
sócios:
[...] nós produzíamos dentro do mesmo parque
fabril: camisa, calça, bermuda, blusa infantil, era
uma salada russa e perdemos mercado, porque nós
dispersamos o foco e tudo o que nós fazíamos era
um produto de qualidade mediana. Foi uma briga
quase que solitária do presidente com os
conselheiros para dar mais foco à empresa... Isso se
arrastou por mais de 5 anos [...] (ARMANDO
CÉSAR HESS DE SOUZA, 2010)
Intuitivamente, ou não, a nova diretoria, coordenada por Armando
Hess, direciona seus esforços na procura de uma resposta às dificuldades
encontradas na gestão. A contratação da uma consultoria e a adoção de
um modelo de gestão, focado na excelência, salvam a empresa de
problemas mais sérios, conforme relata Armando:
[...] foi uma exigência minha que a empresa
seguisse o modelo de gestão que estávamos
implantando. Percebi que esta era uma forma de
colocar minhas idéias na organização, pois tinha o
aval e experiência da Fundação Dom Cabral. Desta
forma consegui vencer algumas resistências,
principalmente do conselho de administração.
(ARMANDO HESS DE SOUZA, 2010).
Para Greiner (1972), quando um planejamento acontece de forma
estruturada, a empresa passa a ser gerenciada por uma visão mais
profissional, o trabalho em conjunto é reforçado (GERSICK et al.1997),
buscando-se a viabilidade do negócio a longo prazo (GALBRAITH,
1982) e a direção da empresa se volta à integração dos diversos níveis
da organização.
A consolidação do novo modelo de gestão, apoiada pela consultoria,
faz a empresa evoluir de um lucro operacional líquido negativo (ROL)
93
de R$ - 63.000,00 em 1996, para uma ROL de mais de R$ 3.700.000,00
no ano de 2000.
Os benefícios da mudança são sentidos em todos os níveis da
organização, como relata um dos sócios:
[...] o Armando colocou um sistema de gestão e
deixou a empresa atualizada tecnologicamente [...]
o sistema integrado de gestão permite que s
tenhamos todas as informações possíveis em tempo
real [...] (SÔNIA REGINA HESS DE SOUZA,
2010).
Este mesmo sentimento é compartilhado por Heitor Rodolfo:
[...] hoje, nós temos nas nossas fábricas
previsibilidade absoluta. Nós sabemos que hora o
produto está pronto. Nós temos um balanceamento
de produção, temos assim a fábrica na mão. Hoje a
Dudalina, se quiser, ela sabe quantos consumidores
potenciais ela tem nos 5.563 municípios brasileiros.
Então, ela tem todo um planejamento em cima
disso. Hoje eu acho que a Dudalina é uma empresa
com o maior grau de informação de confecção
desse país [...] (HEITOR RODOLFO DE SOUZA
apud FRÖHLICH, 2005)
O novo modelo de gestão contribuiu para que a empresa pudesse se
reposicionar no mercado e adotar estratégias mais agressivas e
contundentes. A principal mudança pode ser atribuída ao fato de a
empresa ter optado por trabalhar com 03 marcas de produtos e, desta
forma, segmentar o mercado, definindo estratégias para cada público
alvo identificado. A opção da Dudalina foi trabalhar com o mercado das
classes A e B nas marcas: Base Co; Individual e Dudalina (segmentada
nas marcas Cult; Business e Sport Chic). Esse comportamento
proporciona uma vantagem competitiva para a empresa, de acordo com
o depoimento do atual presidente do conselho de administração:
[...] hoje temos uma presença de mercado bem
definida, a empresa tem uma visão clara do que
acontece no universo da moda no mundo todo, do
ponto de vista de produto, moda, tendências [...]
acompanhamos de perto os chamados sinais fracos
e sinais fortes de tendência, por isso a Dudalina está
94
sempre na vanguarda [...] (VILSON LUIZ DE
SOUZA, 2009).
A consolidação do novo modelo de gestão da Dudalina alcançou o
ápice no ano de 2003. Neste período houve a troca da direção da
empresa, que passou a ser presidida por Sônia Regina Hess de Souza.
Esse fato, porém, não alterou as práticas organizacionais, tão pouco a
forma e o modelo de condução dos negócios foram alterados. Greiner
(1972) e Galbraith, 1982 concordam que empresas no estágio de
desenvolvimento maduro têm maior facilidade em administrar suas
equipes, pois, venceram barreiras de controle social e disciplina, sem
com isso engessarem os processos. Para os autores, organizações que
alcançam a maturidade mantêm processos sistematizados de gestão,
selecionam, organizam e distribuem informações nos diversos níveis
hierárquicos com o objetivo de manter uma constância de resultados.
Na Figura 13 pode-se observar o esquema proposto por Gersick
et al. (1997) adaptado para a fase de maturidade do CVO da empresa
estudada.
Figura 13 – Modelo dos três ciclos adaptado para a fase de maturidade da empresa
Fonte: Adaptado de Gersick et al., 1997
95
Diferente da proposta conceitual dos autores, a referida empresa,
apesar de considerada madura, não alcançou o estágio da parceria entre
primos no eixo do patrimônio. Também é observado que a transição da
liderança é feita no primeiro ciclo da empresa (fase inicial), diferente
da teoria dos autores que propõe que organizações familiares transferem
o controle da empresa (transição da liderança passagem do bastão) na
fase da maturidade. Para a construção da referida figura foram
considerados somente os eventos classificados como de impacto na
organização. O critério escolhido foi o depoimento dos entrevistados e a
bibliografia consultada sobre a empresa.
É nesta fase que a empresa encontra a maturidade, também, no
modelo dos três ciclos proposto por Gersick et al.(1997). Para aos
autores esta configuração de gestão (representada pela figura no canto
superior direito da figura 13) é o ideal. Neste momento a empresa
mantém independência na gestão. Os interesses da família não
interferem na condução dos negócios. No caso da empresa estudada,
corrobora com essa afirmação o fato de a empresa homologar um
modelo de gestão que é caracterizado pela existência de:
Conselho de administração;
Conselho de família;
Acordo de acionistas.
O Conselho de Administração é um órgão de deliberação colegiada,
sendo que a representação da empresa é privativa dos diretores. O
Conselho de Administração compõe-se de 7 (sete) membros efetivos e 3
(três) suplentes, sendo 6 (seis) eleitos em assembleia geral dos acionistas
e um indicado pelo acionista controlador. Os acionistas minoritários que
representam mais de 20% (vinte por cento) do capital social com direito
a voto podem indicar um dos conselheiros efetivos. Na composição do
conselho, 3 (três) conselheiros são independentes, ou seja, escolhidos
entre pessoas com amplo conhecimento em gestão, finanças, mercado e
estratégia e que não tenham nenhuma relação com a empresa. Esta
especificidade garante que os conselheiros mantenham sua
independência no exercício da função. Atualmente, o presidente do
conselho é Vilson Luis de Souza.
O conselho de família, intitulado Conselho de Família Hess de
Souza, não tem personalidade jurídica e é formado exclusivamente pelos
16 filhos do casal Rodolfo Francisco e Adelina Clara Hess de Souza. O
referido conselho é presidido por Adelina Sheila Hess de Souza Cunha,
auxiliada por três membros efetivos, que se reúnem a cada bimestre para
deliberação da pauta. A reunião do conselho, por sua vez, é realizada
96
anualmente com a presença mínima de 12 membros. Suas atribuições
são várias e vão desde a discussão de instrumentos de proteção e
diversificação do patrimônio da família, passando pela autorização para
aquisição e venda de participações acionárias entre seus membros;
discussão sobre desenvolvimento e formação dos acionistas; assuntos
relacionados à sucessão e arbitragem de conflitos entre os membros.
Vilson resume a função do conselho de família:
[...] nas reuniões do conselho gastamos 60% do
nosso tempo em questões relacionadas ao
relacionamento dos sócios, tratamos de cuidar dos
aspectos relacionados ao afeto entre os irmãos.
Outros 30% do tempo gastamos discutindo a
cultura da nossa organização, formas de preservar a
herança cultural deixada pelos nossos pais.
Somente 10% do tempo dedicamos ao negócio em
si. Para tratar deste assunto o fórum é outro [...]
(VILSON LUIS DE SOUZA, 2009).
O Acordo de Acionistas, por sua vez, é um instrumento adotado
para regular as relações entre os sócios das empresas, Dudalina S/A;
ADRO Administração e Representações Comerciais Ltda. e Dudalina
Participações Ltda., ambas pertencentes e controladas pela família Hess
de Souza, estabelecendo princípios e normas de relacionamento e gestão
nas empresas.
O documento estabelece que a empresa Dudalina S/A deverá ser
administrada de forma profissional e tecnicamente como empresa de
capital aberto; também fica expresso que a empresa não deverá ser
conduzida como sociedade familiar. Este documento define ainda os
critérios que deverão ser observados para o preenchimento de cargos de
direção e gerência. O Acordo de Acionistas delibera sobre a forma de
administração da Dudalina S/A; sobre a formação do Conselho de
Administração e sobre a formação da diretoria. Assinam o referido
Acordo de Acionistas os 16 irmãos e Dona Adelina.
4.3.4 Resumo dos eventos de impacto no CVO da empresa
Quando analisados os eventos de impacto no ciclo de vida da
empresa, sob a ótica do crescimento, declínio e turnaround, o CVO
pode ser construído conforme mostra a Figura 14.
97
Figura 14 – Eventos de impacto no ciclo de vida da empresa
Fonte: o autor, 2009
A Figura 14 identifica os principais eventos acontecidos durante os
52 anos de história da Dudalina. Percebe-se que as fases inicial e de
expansão, sobrepõem-se no período entre 1969 a 1973. O referido
período assinala eventos importantes como, por exemplo, a mudança da
empresa para a cidade de Blumenau – SC (1969), a aquisição das
primeiras máquinas industriais (1969) e o início da transição do
comando para a segunda geração (1973 a 1974).
Conceitualmente, neste período a empresa encontrava-se na fase de
expansão, porém, somente a partir da passagem do bastão (GERSICK et
al. 1997) no ano de 1974, a organização expande seus negócios e
cresce em faturamento, número de empregados, número de plantas
industriais, iniciando o processo de profissionalização dos
departamentos internos.
O Quadro 9 apresenta uma relação completa dos eventos marcantes
no CVO da empresa estudada.
98
Fase Ano Evento
1955 Compra do primeiro lote de tecidos
1957 Nasce a Dudalina Confecções
1957 Primeiros vendedores contratados
1959 Aquisição de um gerador de energia elétrica para a fábrica
1964 Compra de 2 lojas na cidade de Balneário Camboriú – SC
Inicial
1969 Mudança da fábrica para a cidade de Blumenau – SC
1969 Mudança da fábrica para a cidade de Blumenau – SC
1974 Passagem da gestão para a 2ª geração (Anselmo Hess de Souza)
1977 Inauguração de uma nova unidade de produção na cidade de
Luis Alves – SC
1983 Fábrica de Blumenau é atingida pelas cheias do rio Itajaí-Açú
1983 Abertura de um escritório de vendas na cidade de São Paulo
1984 Inauguração de uma nova unidade de produção na cidade de
Blumenau – SC
1984 Inauguração de uma nova unidade de produção na cidade de
Luiz Alves – SC
1986 Inauguração de 03 novas unidades de produção nas cidades de
Lontras, Nova Trento e Presidente Getúlio, ambas em Santa
Catarina
1988 Compra de um edifício na cidade de São Paulo – SP
1989 Assume a presidência Armando César Hess de Souza
1989 Criação do Conselho de Administração
1994 Inicia a importação de tecidos de Portugal e Itália
1994 Inauguração de uma nova unidade de produção na cidade de
Terra Boa – PR
1994 Lançamento da marca Base Co
Expansão
1996 Empresa apresenta lucro negativo
1997 Contratada consultoria da Fundação Dom Cabral
1997 Mudança de estratégia exclusivamente moda masculina adulta
1998 Abertura de fábrica no Nordeste
1999 Lançamento da franquia da Base Co
2000 Cai o lucro da empresa
2001 Cai o lucro da empresa
2002 Fechamento de fábrica no Nordeste
2002 Empresa apresenta lucro negativo
2003 Assume a presidência Sonia Regina Hess de Souza
2003 Lucro volta a ser positivo
2007 Inauguração de uma nova unidade de produção na cidade de
Brusque – SC
2008 Morre a fundadora da empresa Adelina Clara Hess de Souza
Maturidade
2009 Fechada a unidade de produção de Brusque – SC
Quadro 9 – Quadro completo dos eventos no CVO da empresa
Fonte: O autor, 2009
99
O período compreendido entre os anos 1989 a 2003 foi de
superação na empresa. A expansão e o crescimento meteórico são
acompanhados por seguidas crises, motivadas por fatores externos
(abertura do mercado em 1990) ou internos (crise de gestão 1996 e
2002). No capítulo seguinte serão analisados os fatores de declínio e
turnaround dos negócios, especificamente no período compreendido
entre 1989 a 2003.
4.4 DECLÍNIO E TURNAROUND NA DUDALINA
Um dos objetivos desta investigação é avaliar as causas do declínio
e as estratégias adotadas para o turnaround na empresa Dudalina S/A,
interpretando-as à luz do framework de Robbins e Pierce II (1992),
proposto na figura 8, no capítulo 2.
Para os autores, Schendel et al. (1976); Bilbeault (1999); Hofer
(1980); Slatter e Lovett (1999); Hambrick e Schecter (1983); Thiétart
(1988); Porter (1980); Thain e Goldthorpe (1989); Teece et al. (1997);
Chowdhury e Lang (1996); Eisenharrdt e Martin (2000); Pisano e Shuen
(1997); Grinyer et al. (1990); Robbins e Pearce II (1992); Kierulff
(1981); Welsh e Whate (1981); Barker III e Duhaime (1997), uma
dificuldade em descolar os dois eventos para análise, (declínio e
turnaround) uma vez que o turnaround é uma fase precedida de
momentos de declínio. Desta forma é necessário que a interpretação seja
feita de forma sistêmica, integrando os elementos constitutivos do
fenômeno apreciado.
A afirmação dos autores corrobora e valida o framework de Robbins
e Pierce II (1992), pois o referido framework permite que se faça uma
análise dos fatores internos e externos que contribuíram para o declínio
associando-os a intensidade da crise vivida na organização.
Nesse sentido, o recorte temporal do estudo será entre os anos 1989
a 2003. Período em que a empresa foi assolada por 03 momentos de
crise e recuperação.
4.4.1 As crises de 1991 e 1996 e os impactos na organização.
No final dos anos 80, o país vivia uma forte crise econômica. Num
primeiro momento, entre 1981 e 1983, a diminuição do ritmo de
100
crescimento do PIB (4,5% em 1981, 0,5% em 1982 e -3,5% em 1983)
foi devida a um esforço de ajustamento imposto pela crise da dívida
brasileira, originada, segundo especialistas, por três choques: crise do
petróleo, que triplicou os preços do produto nos anos 80; elevação das
taxas de juros internacionais, justificadas pelo aumento dos índices de
risco dos países subdesenvolvidos e a recessão norte americana dos anos
1979 a 1982.
Entre 1984 e 1986, a crise brasileira parecia superada, mas em 1987,
um ano após a implementação do primeiro choque econômico, o
denominado Plano Cruzado (fevereiro de 1986), que fora substituído
mais tarde pelos planos Bresser (junho de 1987) e Plano Verão (janeiro
de 1989), a crise volta a instalar-se na economia nacional, com o PIB
tendo uma taxa de crescimento negativa de 0,1% em 1988.
Em 1989, a economia volta a apresentar um crescimento positivo,
embora modesto, de 3,3%, ao mesmo tempo em que a inflação chegava
aos 50% mensais no final do ano, ou seja, o país vivia um fenômeno
hiper-inflacionário. Em 1990, a economia volta a apresentar uma taxa
negativa de crescimento do PIB, em torno dos 4,4%, com a constatação
de que o PIB per capita de 1990 era inferior ao do ano de 1980. Neste
mesmo ano (1990) a instabilidade econômica chega ao limite,
apresentando uma inflação de 82,18% (INPC) no mês de março,
segundo dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística – IBGE.
A pluralidade de planos econômicos e a instabilidade de moeda têm
reflexos diretos no comportamento das empresas, levando-as a exaustão
financeira.
Na Dudalina, o cenário não foi diferente, conforme explica a atual
presidente da empresa:
[...] eu lembro que nesta época eu estudava na
Europa, quando eu ligava para cá as pessoas me
diziam que, por exemplo, na Avenida 23 de Maio
em São Paulo se podia andar de marcha à ré, ou
seja, a cidade estava parada, o país estava parado
[...] (SÔNIA REGINA HESS DE SOUZA, 2010)
Para o presidente do conselho a crise vivida em 1991 foi estrutural,
do país:
[...] vivemos uma espécie de paralisia econômica e
esse era um período que a empresa arrastava-se,
não havia venda e a empresa tinha que consignar no
cliente a mercadoria, no final do mês ia ao cliente
101
contava a mercadoria vendida e faturava, foi talvez,
o momento mais complicado de venda no período...
Então, isso é fruto de perda de receita por redução
violenta de vendas [...] (VILSON DE SOUZA,
2010)
Em 1989 o presidente Anselmo Hess de Souza, acionista com a
maior quantidade de ações entre os irmãos, deixa a empresa para cuidar
de interesses pessoais. Anselmo passa a gestão para Armando César
Hess de Souza, que abre uma nova forma de gestão nas empresas da
família. Menos autoritário e mais concentrado na organização e
sistematização dos processos internos da empresa, Armando, que tem
formação em administração, encontra obstáculos à sua gestão. Os
conflitos entre os sócios e entre conselho de administração e presidente
da empresa são constantes e trazem instabilidade e perda de mercado à
empresa.
[...] de repente começamos a perder mercado,
nossos grandes clientes sumiram, e isso meio que
tirou o nosso chão [...] (ARMANDO CÉSAR
HESS DE SOUZA, 2010)
[...] tive que enfrentar o conselho várias vezes. Eles
literalmente boicotavam meus projetos de varejo.
Fui obrigado a investir numa fábrica no Nordeste
que eu nem acreditava que daria certo. Tivemos um
prejuízo de mais de R$ 4.000.000,00 com o
posterior fechamento desta fábrica, isso sugou
muito recurso da Dudalina. (ARMANDO HESS
DE SOUZA, 2010).
A falta de foco na empresa também contribuiu para o agravamento
da crise, conforme relata o presidente da época:
[...] a fábrica tinha na sua origem a produção de
camisa, mas nós fazíamos e produzíamos dentro do
mesmo parque fabril: camisa, calça, bermuda, blusa
infantil, e perdemos mercado, porque nós
dispersamos o foco e tudo o que nós fazíamos era
um produto de qualidade mediana. Em uma ocasião
eu trouxe uns compradores europeus, meus amigos,
eles me olharam e disseram que o nosso produto
não tinha qualidade suficiente para ser vendido nas
102
lojas deles. Isso mexeu com os brios da Dudalina, a
partir deste momento começamos um grande
projeto de melhoria dos nossos produtos [...]
(ARMANDO CÉSAR HESS DE SOUZA, 2010)
O mesmo sentimento é dividido com a atual presidente da empresa
que relata:
[...] não lembro muito bem da época... o pouco que
recordo era da quantidade exagerada de produtos
que fabricávamos, na empolgação chegamos a abrir
uma fábrica que algum tempo depois fechou...
foram milhões de dólares de prejuízo por falta de
planejamento. (SONIA REGINA HESS DE
SOUZA, 2010)
Após a estabilização da economia do país e passada a crise de 1991
a empresa encontra o caminho do crescimento. Foram quatro anos de
crescimento e lucro positivo.
Em 1996 o fechamento do balanço apresenta, novamente, um lucro
negativo. Quando inquiridos sobre as causas que teriam originado a
queda no lucro naquele ano, o atual presidente do conselho e o CEO da
época têm visões diferentes sobre o fato.
[...] em 1996 o lucro negativo deve ser um ajuste do
pós real (refere-se ao plano econômico do governo
federal)... Não deve ser alguma coisa muito
significativa para a empresa. (VILSON DE
SOUZA, 2010)
[...] os números da época não são confiáveis. Agora
eu posso falar... Nós éramos uma empresa informal,
a contabilidade não refletia a realidade da empresa.
Essa foi uma das minhas lutas quando assumi a
gestão, finalmente, após 4 anos os demais sócios
entenderam que somente com uma empresa 100%
formal é possível ser grande. (ARMANDO CÉSAR
HESS DE SOUZA, 2010)
Para o presidente do conselho, o problema da empresa é na
formação dos administradores e na qualidade da sua estratégia.
103
[...] basicamente, o mais importante é a formação
do administrador, se você tiver uma boa formação
do administrador ele vai ter uma estratégia no
mínimo razoável... Nossa estratégia está no mínimo
uma geração atrasada. A estratégia não se faz no
dia a dia, isso eu discordo, a estratégia parte do
pressuposto de você conhecer o mercado, o teatro
de operações, as suas forças e conhecer o
adversário, ou seja, juntar todos os elementos e
alocar inteligência para você ter a melhor relação
custo beneficio. Penso que a estratégia surge do
mercado... A estratégia tem que ser feita de fora
para dentro. Hoje, que eu digo que a Dudalina está
uma geração atrasada é porque a estratégia da
Dudalina é de dentro pra fora... [...] (VILSON DE
SOUZA, 2010)
Segundo a opinião do presidente do conselho, a expressão de dentro
pra fora (quando se refere a estratégia), significa dizer que a empresa
não ouve o cliente, não está preparada para entender a necessidade do
cliente, os canais de comunicação com o mercado são poucos e
ineficientes.
A tentativa de criar um canal de distribuição para a marca Base Co
em 1999, que deveria servir de laboratório para as demais marcas do
grupo, foi um fracasso. A empresa, que na época, voltava todas as suas
operações exclusivamente para a produção, não elaborou um projeto
cuidadoso para a criação da franquia, a ação foi deflagrada de forma
impulsiva. A falta de experiência no varejo, principalmente no mercado
de franquias, colaborou para o fracasso da estratégia.
[...] a tentativa do lançamento da franquia da Base
Co, foi uma intenção desprovida de estratégia, de
planejamento... Eu diria o seguinte, parafraseando
Peter Drucker, você fazer uma estratégia e não
quantificar em números é a mesma coisa que você
preparar o assado e não ligar o forno... Essas não
foram tentativas sérias, porque a administração não
estava preparada, não tinha conhecimento do
varejo, e, de certa maneira, é uma acomodação,
porque seria a conquista de um novo território [...]
(VILSON LUIZ DE SOUZA, 2010)
104
A falta de planejamento também é percebida quando a empresa, na
onda do momento, segundo o presidente do conselho, decide, em 1998
montar uma fábrica no nordeste brasileiro. A fábrica fechou em menos
de 02 anos.
[...] tínhamos um gerente que não dava conta do
recado aqui na fábrica, mas era uma pessoa que
estava muito tempo conosco, para não demiti-lo
mandamos ele para gerenciar a fábrica do nordeste,
foi um desastre total... Pensando bem foi muito
mais que um desastre, foi um caos... Na época se
perdeu uns dois milhões de dólares... Quer dizer,
isso não é gestão profissional [...] (VILSON LUIZ
DE SOUZA, 2010)
Quando perguntados sobre o futuro da Dudalina a diretoria se
mostra preocupada, pois, a empresa, que é exclusivamente indústria, não
desenvolveu nenhuma estratégia para criação de canais de distribuição
direta, uma tendência das atuais indústrias do mesmo ramo. Há uma
orientação do conselho para que a diretoria da empresa desenvolva
projetos desta natureza, porém, não uma concordância da atual
presidente da empresa. Segundo a presidente, esta não é uma estratégia
adequada para o momento.
A atual direção tem receio de entrar no varejo, por entender que,
desta forma, estará concorrendo diretamente com seus clientes dos
magazines e redes de lojas. Esse fato pode ser explicado pelos equívocos
cometidos no passado. Foram duas experiências frustradas. A primeira
delas foi a tentativa de franquear a marca Base Co, que não rendeu
frutos à empresa. A segunda tentativa de a Dudalina acessar o varejo de
forma mais agressiva e orientada ao cliente final foi a abertura de uma
rede de lojas especializadas em camisaria masculina, também sem êxito.
Para o presidente do conselho, o modelo de gestão familiar,
associado à cultura portuguesa da família, inibe os grandes embates e
debates internos. Se decidirmos por adotar uma estratégia de varejo, não
vejo alternativa se não a substituição da presidente, afirma Vilson.
A partir de 1998 a empresa recebe assessoria da Fundação Dom
Cabral, e implanta um novo modelo de gestão focado na qualificação
dos gestores e na implantação de processos internos. Nesta mesma
época a empresa monta seu escritório em São Paulo e 04 membros da
família são transferidos para a nova estrutura. O objetivo é estar mais
próximo do cliente. O modelo deu certo. Atualmente a presidente da
105
empresa mora em São Paulo, participando de reuniões da ABIT da
FIESP, de encontros empresariais e convivendo permanentemente com
o mundo empresarial, trocando experiências, construindo redes de
relacionamento e trazendo conhecimento para a empresa. Atualmente
mais de 60% das operações da empresa são decididas em São Paulo.
Uma das preocupações externalizadas pelos entrevistados é a falta
de contribuição efetiva dos membros do segundo e terceiro escalão da
empresa nas reuniões de planejamento. A atribuição deste fenômeno
está ligada a cultura da empresa que durante as fases de início e
expansão, teve uma característica de direção centralizadora.
[...] quando você pega as pessoas e, de forma
ordenada as faz pensar, produzir, o resultado vai ser
incomensuravelmente melhor do que as pessoas
que são autômatas... Aqui na empresa as pessoas
vão para uma reunião inibidas pela hierarquia [...]
(VILSON LUIZ DE SOUZA, 2010)
Essa centralização excessiva é fruto de um modelo de gestão
familiar, que foi o grande fator de sucesso da empresa no passado, pois a
colocou entre as melhores empresas de moda masculina do Brasil.
Porém, a empresa chegou ao limite do modelo. O que anteriormente era
um fator de sucesso, hoje é um fator de fracasso, afirma o presidente do
conselho, pois é da cultura dos nossos dirigentes o gostar de prestar
contas e repudiar auditorias. Isso é ruim para a empresa, as pessoas
percebem o que se passa ao seu redor e ficam inibidas até mesmo em
oferecer suas opiniões durante as reuniões, finaliza Vilson.
Analisando os depoimentos dos entrevistados e os números
apresentados pela empresa, é possível inferir que a falta de um plano de
desenvolvimento efetivo, associado às decisões tomadas de forma
emotiva, a falta de critérios na escolha das estratégias, a centralização
excessiva e a crise econômica brasileira levaram a empresa ao declínio
nos período de 1991 e 1996.
Por outro lado, um dos motivos que ajudaram a empresa a superar a
crise de 1991 e 1996 foi a prática do uso da informação qualificada para
a tomada de decisão.
Com a introdução de novos processos e controles, pela consultoria
da Fundação Dom Cabral, a empresa inicia uma gestão financeira mais
efetiva, analisando investimentos, balanços, cenários e tendências. A
contabilidade gerencial é apresentada junto à contabilidade fiscal. Para a
106
atual diretoria, este procedimento ajudou a empresa a planejar seus
investimentos e o conselho a direcionar as estratégias do grupo.
[...] hoje, com os dados que temos, nós
conseguimos perceber que caminho se pode
seguir... Temos informações muito precisas, a
margem de contribuição por produto, por cliente,
por grupo, por linha. Por exemplo, percebe-se que
no modelo que tínhamos, para atuarmos no
mercado, tivemos que aumentar o prazo para o
cliente, então financiávamos a compra do cliente,
comprávamos a matéria prima à vista e
aumentávamos o prazo do cliente, ora, os
indicadores de gestão financeiros começaram a
ficar ruins e isso começa a afetar a lucratividade...
Mas, as pessoas achavam que estava certo fazer
isso, então os indicadores mostraram que para fazer
isso precisávamos de muito capital de giro... E não
próprio, porque não tínhamos... Isso tem um custo.
As pessoas começaram a perceber que muito
estoque é prejuízo, e assim por diante... E essas
informações são veiculadas para toda gerência e
supervisão. Como temos o PPR, abrimos as
informações a todos os funcionários. (VILSON
LUIZ DE SOUZA, 2010).
4.4.2 A crise de 2002 e os impactos na organização
Considerada a última turbulência inflacionária vivida no país, desde
a implantação do plano Real (1994), o ano de 2002 registra um aumento
no Índice Geral de Preços de Mercado - IGPM, medido pela Fundação
Getúlio Vargas, de 25,30%, com um Índice Nacional de Preços ao
Consumidor - INPC, medido pelo Instituto Brasileiro de Geografia e
Estatística IBGE de 14,74%. Neste mesmo ano o PIB brasileiro
cresceu insignificantes 2,70%, com um dólar vendido a R$ 3,53
(atualmente é comercializado a R$ 1,80) e taxa Selic de 25% ao ano.
(atualmente a taxa Selic é de 8,75% ao ano) caracterizando um
desaquecimento da economia. Resumidamente, o quadro econômico era
desfavorável quando comparado com o atual cenário brasileiro.
Especialistas atribuem a instabilidade vivida na época às eleições
para a presidência da república.
107
Após 8 anos de um governo de centro direita, as pesquisas de
opinião mostravam que o Brasil passaria às mãos de um partido de
esquerda, cenário que se concretizaria mais tarde. Havia uma grande
expectativa entre os investidores, principalmente, quanto ao
cumprimento dos contratos internacionais celebrados pelo Brasil. No
ambiente interno, as incertezas quanto à política econômica a ser
adotada pelo Governo influenciaram fortemente a economia. Como
reflexos, muitos insumos utilizados na produção, como os derivados de
petróleo, registraram no ano de 2002, aumentos substanciais de preço.
Encerrado o ano de 2003 e com a manutenção da política econômica o
IGPM recuou para 8,69%.
Neste mesmo período, um dos grandes parceiros comerciais do
Brasil e que representava 65% das exportações da Dudalina, sofre com a
crise. A Argentina, país que em 1999 iniciou um processo de declínio
econômico devido a sucessivas crises institucionais, sociais e
principalmente desequilíbrio fiscal (GIAMBIAGI e RUBINI, 2003)
implanta o chamado “corralito”, bloqueando a disponibilidade de
depósitos bancários. Ao longo de 2001, cresceu a desconfiança em
relação ao sistema financeiro Argentino e o país entra em profunda
recessão, refletindo na economia de todos os países do bloco da América
do Sul
No segundo semestre de 2002 e início de 2003 aconteceram
melhoras na economia Argentina. A substituição de importações e a
produção de bens exportáveis criaram condições que, depois de uma
queda do PIB em 2002, permitiram que a economia Argentina voltasse a
crescer em 2003, com perspectivas de 4% de aumento do PIB. Porém,
para a Dudalina, a crise Argentina criara um problema interno de
grandes proporções.
Reflexo da crise instituída na América do Sul, principalmente no
Brasil e na Argentina, a Dudalina, em 2002, apresenta um lucro
negativo, caracterizando uma nova crise na empresa.
As exportações são reduzidas em 40%. O quadro de pessoal é
comprimido, 221 funcionários são demitidos (15% do total de
empregados), e a receita operacional líquida caiu em 12% se comparada
aos dois anos anteriores.
Para o presidente do conselho a redução das exportações na
Dudalina foi resultado, exclusivo da crise da Argentina:
[...] foi um ano terrível. Cancelamento de pedidos,
devolução de mercadorias e falta de pagamento dos
clientes era um problema que se repetia todos os
108
dias. Amargamos um prejuízo muito grande...
Ficamos um ano com mercadoria encalhada na
empresa. A crise na Argentina quase nos quebrou
[...] (VILSON LUIZ DE SOUZA, 2010)
Mesmo com a adoção de um novo modelo de gestão implantado
pela consultoria da Fundação Dom Cabral, a empresa não tem uma
estrutura profissionalizada que permita ter frequência e constância nas
exportações. Exportamos de forma aleatória, afirma Vilson.
Neste cenário, Sônia Regina Hess de Souza, sexta filha do casal, é
empossada presidente da empresa; Sônia é a terceira gestora da segunda
geração da empresa.
Quando indagada sobre os motivos que levaram a empresa à crise
de 2002 e como encontrou a empresa quando assumiu a presidência,
Sonia é cautelosa em falar:
[...] o que aconteceu especificamente eu realmente
não tenho os dados... Eu não estava na empresa,
pelo menos não na direção. Na empresa estou há 19
anos, mas não da direção... Pelo que me lembro a
empresa estava num certo conflito, decidiu-se
mudar as marcas, tínhamos problemas de
mercado... Quando você não é o CEO da empresa
você pensa naquilo que poderia fazer... Então,
quando eu efetivamente assumi, minha primeira
providencia foi olhar os custos e cortar os gastos.
(SÔNIA REGINA HESS DE SOUZA, 2010).
A atitude da presidente é prevista no modelo de Robbins e Pierce II
(1992) que sinaliza para redução de custos na empresa ou retrenchment
nos investimentos como forma de estabilização da crise e recuperação
do crescimento. Igualmente para Schendel et al. (1976) e Bibeault
(1999), é necessário, de imediato, eliminar a crise financeira da empresa,
sob pena de ver todos os recursos corroídos, inviabilizando, desta forma,
qualquer tipo de recuperação.
A adoção de estratégias de impacto e a aplicação de ações enérgicas
com objetivo de rapidamente recuperar a empresa é proferida pelos
autores estudados. Neste caso, o uso de simbologias que possam
representar e fixar o objetivo da estratégia é uma ação que Slatter e
Lovett (1999) aconselham. De forma empírica, ou consciente da
necessidade de chamar a atenção para o problema que a empresa estava
109
vivendo, a presidente toma posse e na primeira reunião deixa claro seu
propósito:
[...] uma das minhas primeiras atitudes, quando
assumi a empresa, foi dar a todos um cortador de
unhas, com objetivo de deixar bem claro que custos
se você não cortar elecresce... É igual à unha, se
você não a corta cresce... Essa atitude foi
emblemática para meu posicionamento e trazer o
pessoal junto para dividirmos a mesma estratégia.
Eu não sou muito focada em crescimento, ou sou
focada em resultados. Eu costumo dizer que a
última linha é que vale numa empresa (referindo-se
ao balanço da empresa). E desde que eu assumi a
empresa tem dado resultado. (SÔNIA REGINA
HESS DE SOUZA, 2010).
A visão da presidente nem sempre é compartilhada com o
presidente do conselho que afirma:
[...] eu trocaria um ano de lucro da empresa por um
bom projeto de varejo. (VILSON LUIZ DE
SOUZA, 2010).
A elaboração de contratos de resultado com os gestores da empresa
foi uma ferramenta também implantada após a crise de 2002. De acordo
com a presidente um planejamento estratégico que define os
indicadores e índices de crescimento. Definindo metas para a diretoria.
Os resultados são acompanhados pelo conselho de administração e por
toda a casa; a implantação do programa de participação nos resultados –
PPR, no ano de 2005, trouxe uma nova dinâmica para a empresa. Os
resultados são democratizados com todos os funcionários, afirma a atual
presidente da empresa.
Com a ascensão de Sônia à presidência, a empresa assume também
sua responsabilidade social. A confirmação do propósito da Dudalina de
ser uma empresa responsável socialmente pode ser confirmada no
episódio marcado pela catástrofe de 2008 que, após 03 meses de
intensas chuvas vitimaram milhares de cidadãos catarinenses. Muitos
perderam suas casas e familiares com os desmoronamentos de encostas,
principalmente na região do Vale do Rio Itajaí. Quando indagada sobre
o fato de ter parado uma das principais fábricas da empresa, em um
período de pico da produção (mês de novembro), assumindo prejuízos
110
financeiros, com objetivo de emprestar a energia elétrica produzida por
gerador próprio para o hospital local, Sônia responde:
[...] a atitude de ligar o gerador da fábrica ao
hospital foi de uma pessoa que estava trabalhando
naquele dia, não foi minha. Mas a decisão de não
desligar o gerador, parando a produção da fábrica,
que deu um prejuízo razoável, pois era final de
novembro, final de ano, a produção toda vendida,
portanto, deixamos de entregar e deixamos de
receber, foi da diretoria da Dudalina, em nenhum
momento a diretoria da empresa pensou em desligar
o gerador. Como é que eu poderia desligar um
hospital para por a fábrica funcionar? Aquelas
pessoas que trabalhavam conosco quase todas
tinham alguém da família que tinha sido atingida.
Além da energia elétrica, fornecemos ao hospital
água e colocamos nossa lavanderia à disposição.
Para nossos funcionários oferecemos férias e 15
dias não foram descontados do salário, oferecemos
ajuda financeira e psicológica. de São Paulo
mobilizamos as pessoas e enviamos mais de 15
carretas de alimentos e água para as famílias daqui.
Junto com a FIESC criamos um fundo, compramos
um terreno e estamos construindo e entregando as
primeiras casas para as pessoas atingidas. Ou seja, é
um momento do ser humano, por que você não tem
duas vidas pra viver, então, se nesse momento de
tragédia você não der a mão a quem precisa vai
ajudar quando? A empresa pode ser dos cios e
dos acionistas, mas, acima de tudo a empresa é de
quem trabalha nela e, naquele momento, a Dudalina
era daquelas pessoas [...] (SÔNIA REGINA HESS
DE SOUZA, 2010).
A decisão de dar mais foco à empresa foi outra estratégia utilizada
pela diretoria com objetivo de retomar o crescimento. Para isso a
Dudalina decide segmentar ainda mais seu mercado, o objetivo é
desenvolver produtos com maior valor agregado para atuar junto às
classes A e B. Nesse sentido, a empresa passa a selecionar matéria prima
que pudesse fazer um diferencial no mercado, principalmente, como
forma de combater a concorrência de produtos importados da China.
111
[...] decidimos investir num novo patamar de
mercado para sair da crise e não ficarmos na vala
comum, por que na vala comum, fica todo mundo
igual. (SÔNIA REGINA HESS DE SOUZA,
2010).
O aumento dos investimentos em marketing também marcou esse
período. A criação de bordões para propagandas e a utilização de atores
chamados “globais” em campanhas publicitárias marcou,
definitivamente, o conceito da Dudalina como marca de excelência e
qualidade. O alvo das campanhas foram as marcas Individual e
Dudalina, ambas destinadas as classes A e B, sendo que a primeira
(Individual) focada na moda casual chique e a marca Dudalina,
encontrada apenas nos melhores magazines, têm o objetivo de atender
ao público executivo.
A melhoria das relações com parceiros e distribuidores é outro
mecanismo utilizado pela empresa como forma de criar relações mais
sustentáveis no dia a dia. Após a crise de 2002 a empresa volta, segundo
a presidente, ainda mais suas preocupações no sentido de consolidar as
parcerias.
[...] qualquer parceiro que a gente tenha a gente tem
a preocupação de estabelecer uma relação ganha-
ganha. Na Dudalina a gente não faz relação de
ganha-perde, esse tipo de relação não interessa... Eu
acho que daqui a pouquinho vamos ter outra crise,
até porque não se sustenta essa ganância do
mundo... A gente que a sustentabilidade é muito
falada e pouco praticada, eu quero construir aqui na
Dudalina o praticar antes de falar. (SÔNIA
REGINA HESS DE SOUZA, 2010).
O cuidado com as relações com o varejo estão sempre presentes no
discurso da presidente. Para Sônia: “Varejar é muito diferente de
industrializar.” (SÔNIA REGINA HESS DE SOUZA, 2010). A
presidente faz essa afirmação para indicar que o mercado é muito
sensível aos movimentos das empresas. Em sua opinião, é preciso ter
respeito com o mercado, principalmente com os parceiros.
A estratégia de fidelização do cliente e consolidação de parcerias
comerciais foi desenvolvida a partir da crise de 2002. Com o mercado
internacional desaquecido a alternativa foi desenvolver estratégias de
abertura de novos mercados dentro do país. Os investimentos na
112
consolidação da marca deram certos e a empresa abre mercados
importantes nos estados do nordeste brasileiro. Atualmente, dos 05
principais clientes da empresa 03 são do nordeste. de se considerar
que o produto é destinado à classe média alta, que, teoricamente, está
mais concentrada nos estados dos sul e sudeste.
Apesar dos bons resultados o conselho de administração permanece
reticente quanto à estratégia da empresa quando o assunto é mercado:
[...] a nossa maior deficiência é a falta de
qualificação para entender o mercado, temos rias
qualidades, mas essa é uma deficiência grande, uma
empresa que não entende de mercado sempre terá
problemas. Hoje não basta produzir bem, é
fundamental que se conheça as necessidades do
cliente e para isso, é preciso estar presente na vida
do cliente, no seu dia a dia [...] (VILSON LUIZ DE
SOUZA, 2010).
Para a presidente, existem outros motivos que contribuíram para a
aceleração da crise na Dudalina no ano de 2002. A maioria está
relacionada a questões estruturais e conjunturais do país. São eles:
Excessivo número de impostos que incidem sobre a produção;
Deficiência nos portos e aeroportos dificultando a logística das
exportações;
Esgotamento do sistema viário aumentando os custos de
transporte e logística;
Falta de uma política industrial que facilite o acesso a
financiamentos e transferência de tecnologia;
Pouca eficiência do governo na fiscalização e aplicação das leis
contra a pirataria e a informalidade.
O Brasil é um país ainda de muita informalidade e
o nosso setor de confecções é um setor informal.
Acredito que este ano vai ser um divisor de águas,
com a entrada da nota fiscal eletrônica, com os
controles do governo, etc. Ou seja, não para ter
tanta informalidade porque é muito difícil
concorrer, por exemplo, do custo de uma roupa
40% é imposto, você imagina quem é informal que
esses 40% viram 20% [...] (SÔNIA REGINA HESS
DE SOUZA, 2010).
113
Para Sônia o respeito à cultura da empresa foi um dos fatores que
contribuíram para que a Dudalina superasse a crise de 2002.
As empresas entram em declínio quando deixam o
mito da empresa morrer. Quando deixam a cultura
da empresa se esfacelar. Quando as empresas não
respeitam sua própria cultura acontece o declínio.
Se você olhar para a cultura da Dudalina verá que
ela veio da dona Adelina, é uma cultura que a dona
Adelina deixou para seus filhos e isso foi sempre
preservado, mesmo nos momentos de crise da
empresa. Então, entrando um novo gestor no meu
lugar ele tem que entender isso, ele até pode ir
mudando as coisas devagar, mas ele não pode
chegar aqui e querer transforma a Dudalina numa
outra empresa, porque ele vai acabar com a
empresa muito rapidamente. (SÔNIA REGINA
HESS DE SOUZA, 2010).
Sobre o futuro da empresa, foi perguntado aos entrevistados como
ele imaginam a Dudalina daqui a 15 anos. As respostas foram:
[...] para a Dudalina sobreviver e prosperar nos
próximos anos, dadas as situações atuais do
mercado e principalmente as políticas do setor, eu
diria que: ou ela participa ativamente do varejo ou
não vai existir. (VILSON LUIZ DE SOUZA,
2010).
Quando houver um rompimento na família a
empresa tem dois caminhos a seguir: ou ela se
re-inventa ou ela se destroça, não há alternativa.
(SÔNIA REGINA HESS DE SOUZA, 2010).
[...] a Dudalina tem algumas alternativas, mas a
mais coerente delas é de que a empresa compre a
participação de uns 60% dos sócios. Aqueles sócios
que sobrarem na empresa terão o desafio de
harmonizá-la novamente, alinhando principalmente
a visão do negócio (ARMANDO CÉSAR HESS
DE SOUZA, 2010).
Sobre a sucessão da empresa:
114
A Dudalina tem um problema, ela vai ter que fazer
um sucessor da família, se ela não fizer um
sucessor ela terá que ser vendida... E esse sucessor
tem que ser de fora da empresa. (VILSON LUIZ
DE SOUZA, 2010).
A minha sucessão está começando a ser desenhada
e planejada até porque não deverá ser dentro da
família. A terceira geração é muito jovem e não tem
experiência de empresa... Então preparar isso tem
ainda um longo tempo, neste caso é melhor trazer
alguém com experiência. (SÔNIA REGINA HESS
DE SOUZA, 2010).
Certamente o próximo CEO da empresa não será da
família, não preparamos ninguém para isso, terá
que ser alguém de fora, com experiência neste
mercado (ARMANDO CÉSAR HESS DE SOUZA,
2010).
4.4.3 A análise das crises na Dudalina e o framework de Robbins e
Pearce II
O framework de Robbins e Pearce II sugere a divisão do declínio e
turnaround em 3 etapas distintas: fase do declínio, processo de
estabilização e recuperação e crescimento.
É na fase do declínio que a cegueira dos executivos (WEITZEL,
JONSSON, 1989) lugar a evidências que sinalizam a crise (SCOTT,
BRUCE, 1987). Para os autores, a identificação da intensidade da crise é
resultado de uma análise profunda dos fatores internos e externos que
contribuíram para que a empresa se encontre naquela situação.
Conforme mostra a Figura 15.
115
Figura 15 – Fase de declínio
Fonte: Adaptado de Robbins e Pearce II (1992, p.291)
Para a análise do declínio e turnaround da empresa serão utilizados
os eventos identificados no período entre os anos de 1990 a 2003. Tal
fato se justifica, pois no referido período a empresa apresentou 03
momentos de dificuldades que culminam com a troca dos CEO e
apresentação de resultados negativos. Conforme os autores, a duração
entre uma fase e outra dependerá da capacidade que a empresa tem de
responder aos problemas identificados.
De acordo com os entrevistados o pior momento vivido pela
empresa está relacionado ao início da década de 1990, os demais
períodos 1996 e 2003 foram momentos de ajustes de gestão e,
especialmente em 2002, a crise vivida pela América Latina, mais
especificamente a Argentina, principal parceiro comercial da empresa na
época.
Nesse sentido, a primeira fase do framework de Robbins e Pearce II
fica explicitada na figura 16.
Entretanto, para a análise do segundo quadrante do framework de
Robbins e Pearce II (1992): estabilização e recuperação da empresa
utilizar-se-ão informações do período compreendido entre os anos de
1989 e 2003, conforme é demonstrado na figura 18.
Fatores
Internos
de
declínio
Fatores
Externos
de
declínio
Intensidade
do
declínio
Baixa
Alta
Fase de Declínio
Quadrante 1
116
Figura 16 – Fase de declínio na Dudalina
Fonte: Adaptado de Robbins e Pearce II (1992, p.291)
A dificuldade de uma identificação precisa dos fatores que levam
uma organização a estabilização e recuperação são mencionadas por
Chowdhury (2002) quando afirma que os quadrantes 02 e 03 do referido
framework são uma caixa preta. O autor utiliza esta expressão com o
objetivo de chamar a atenção para o fato de que somente uma
combinação de elementos pode tirar a empresa da situação de risco.
Isoladamente não é possível identificar uma receita pronta para o
turnaround de uma organização. O prognóstico dependerá do
diagnóstico. Quanto mais preciso for o diagnóstico, maiores serão as
evidências de recuperação.
Para Schendel et al. (1976) quando os problemas internos são
apontados como os principais causadores do declínio na organização a
resposta a esses problemas, normalmente, está vinculada a ações de
melhoria da eficiência organizacional.
A Figura 17 mostra o framework da fase de estabilização e
recuperação da empresa, de acordo com Robbins e Pearce (1992).
117
Figura 17 – Fase de estabilização e recuperação
Fonte: Adaptado de Robbins e Pearce II (1992, p.291)
Na Figura 18 são apresentados os principais fatos e evidências que,
de acordo com o depoimento dos entrevistados, contribuíram de alguma
maneira para a estabilização e o turnaround dos negócios na empresa.
Figura 18 – Fase de estabilização e recuperação na Dudalina
Fonte: Adaptado de Robbins e Pearce II (1992, p.291)
Finalizando o processo de declínio e turnaround o quadrante 3
apresenta o estágio de crescimento da organização. Para Bilbeault
(1999) neste estágio a empresa apresenta crescimento no volume de
Estabilidade
Redução
de custos
Redução de
ativos
Manutenção
da eficiência
Expansão
empreendedora
Processo de estabilidade e recuperação
Quadrante 2
118
negócios e aumento da capacidade produtiva. Para Slatter e Lovett
(1999) a fase do crescimento, ou o terceiro quadrante apresentado por
Robbins e Pearce (1992) é o momento em que a empresa amplia sua
participação no mercado, lançando novos produtos e adquirindo novos
negócios. A Figura 19 sintetiza o estágio do crescimento.
Figura 19 – Fase de crescimento
Fonte: Adaptado de Robbins e Pearce II (1992, p.291)
Percebe-se que em 2 dos 3 momentos de dificuldades da empresa,
1991 e 2002, a troca do CEO foi uma das estratégias utilizadas por ela
para a promoção das mudanças que redundariam na volta ao equilíbrio
da organização. Esta percepção corrobora com a afirmação de Slatter e
Lovett (1999) que indicam em seus estudos que a troca do principal
executivo é uma estratégia positiva que oferece alto grau de recuperação
na maioria das empresas por eles estudadas.
Na Dudalina a melhora do desempenho organizacional pode ser
comprovada quando realizada análise financeira dos seis anos após a
última crise financeira. Nesse período a empresa manteve uma curva de
crescimento positivo, indicando uma recuperação acima dos patamares
dos períodos anteriormente estudados, ou seja, o lucro/ROL apresentou
um percentual de 10,21% em 2008. No período anterior (1996 a 2001),
o percentual máximo alcançado pela empresa não passou de 6,32%, no
ano de 1999.
A Figura 20 mostra o framework completo, com as etapas do
processo de declínio e turnaround na empresa Dudalina. Nesta figura
poder-se identificar os principais fatos e evidências das crises na
empresa. Os dados apresentados são coletados a partir dos depoimentos
dos entrevistados e documentos apresentados pela empresa.
Melhoria do
desempenho
da organização
Operacional
Estratégico
crescimento
Quadrante 3
119
Figura 20Framework do Processo de declínio e turnaround na empresa Dudalina
Fonte: Adaptado de Robbins e Pearce II (1992, p.291)
120
121
4.5 A DUDALINA NO FUTURO
Haja vista os inúmeros fatores e variáveis envolvidos, não é
possível definir com precisão como uma organização se comportará no
futuro. Porém, na medida em que um estudo de caso é conduzido,
evidências importantes são percebidas pelo investigador que pode,
baseado na teoria estudada, nos depoimentos colhidos, nos fatos
levantados e nos documentos analisados, emitir juízo de valor sobre a
matéria investigada.
Nesse sentido, neste capítulo serão apresentadas breves
considerações, resultado das percepções do autor, sobre a empresa
DUDALINA S/A.
A primeira consideração a ser feita diz respeito à dificuldade de
alinhamento da organização. Tal dificuldade pode ser atribuída à
quantidade de sócios e as diferentes percepções que cada um tem a
respeito da empresa. Pelos depoimentos analisados se percebe que há,
no nimo, duas correntes de pensamentos distintas, indicando
expectativas adversas entre os sócios. (ver página 101).
A primeira é formada por um grupo menor, porém, mais
representativo em participação acionária e preconiza que a empresa deve
seguir como uma indústria do ramo da moda. Evidentemente é uma
posição mais conservadora que privilegia a permanência do status quo
organizacional.
A segunda corrente, enxerga na atividade do varejo o futuro da
empresa, segundo os defensores dessa linha, as atividades industriais,
notadamente as indústrias de confecção, estão migrando a produção para
outras partes do planeta onde as políticas de incentivo são mais
atrativas, a aquisição de equipamentos e máquinas é subsidiada pelo
governo e a mão de obra tem uma participação menor no custo de
produção. (ver página 113)
Para estes, o futuro da DUDALINA está ligado ao varejo,
entretanto, como uma “empresa gestora de marcas”, em que a produção
é terceirizada e o objeto principal do negócio é a pesquisa, o incremento
de produtos e o desenvolvimento de novas coleções. Manter a atividade
industrial no Brasil, principalmente no ramo da confecção é
contraproducente, argumentam seus defensores.
Esta divergência de opiniões foi o principal motivo que levou o ex-
CEO a deixar a presidência da empresa no ano de 2002. (ver Quadro 8,
página 83).
Outro aspecto considerado relevante e, portanto, merecedor de
atenção é a diversificação dos investimentos dos sócios. Neste caso,
122
percebe-se que a maioria optou por investir em atividades paralelas à
empresa original. Por outro lado, é unânime entre os entrevistados que a
DUDALINA terá dificuldades na sucessão do atual CEO. É possível que
o fato dos investimentos paralelos e a dificuldade de sucessão do CEO
estejam relacionados. A falta de alinhamento sobre o futuro da
organização provoca ansiedade e descontentamento em boa parte dos
sócios, instigando-os a realizar novos empreendimentos, onde suas
expectativas possam ser realizadas. Desta forma, a força de trabalho que
antes era concentrada na empresa original, passa a ser dividida com as
novas atividades, que requerem investimentos e aporte constante de
capital.
As impressões até aqui descritas sugerem que no futuro a empresa
passará por um redesenho do quadro societário. Há evidencias, nos
depoimentos dos entrevistados, de que um dos movimentos possíveis é a
empresa comprar as cotas de alguns sócios mantendo, efetivamente,
aqueles que têm um alinhamento de pensamento e direção (ver página
113).
Por exemplo, em uma das entrevistas, foi expresso pelo entrevistado
que as opções para a DUDALINA seriam: (a) a compra das cotas dos
sócios; (b) a fusão da empresa ou, em última hipótese, (c) a venda do
negócio. Entretanto, analisando os dados da pesquisa e comparando com
empresas similares, outra opção da empresa pode estar ligada ao Initial
Public Offering - IPO (abertura de capital), com profissionalização da
gestão, não necessariamente familiar, como, por exemplo, fizeram as
empresas, Perdigão e WEG.
Avaliando os depoimentos, à luz do referencial teórico do capítulo
2.3, pode-se inferir que, caso os sócios não alinhem a organização em
um único pensamento, poderão acontecer novas situações de crise e
declínio na organização. Conflitos dessa natureza podem ser precursores
de adiamento de decisões e investimentos importantes para a
organização, levando-a a lentidão e morosidade. Quando isso acontece,
a empresa apresenta dificuldades em manter sua competitividade,
ficando suscetível a investida da concorrência, conforme descreve o
subitem 2.3.2.1 deste estudo.
Como afirmado no início dessa discussão, a proposta deste subitem
foi apresentar impressões sobre o tema estudado. Cabe aos sócios
analisar até que ponto tais observações são pertinentes e tomar as
providências que mais lhes convier.
123
5. CONSIDERAÇÕES FINAIS E RECOMENDAÇÕES
5.1 Considerações finais
O objetivo geral deste estudo foi identificar e avaliar as principais
causas de declínio e as ações estratégicas que levaram ao turnaround
dos negócios nos diferentes estágios do ciclo de vida da empresa
Dudalina S/A. A referida empresa apresenta características de empresa
familiar e se encontra na segunda geração de gestores.
Para atingir o objetivo geral foram propostos 04 objetivos
específicos:
Identificar, na literatura, as causas do declínio das organizações;
Avaliar os estágios de declínio e as principais características ao
longo de cada estágio;
Identificar as estratégias adotadas que proporcionaram o turnaround
na empresa;
Analisar o ciclo de vida da empresa sob a ótica dos eixos da família,
empresa e propriedade.
O alcance do objetivo geral e específico, conforme a descrição
abaixo corrobora para a afirmação da pergunta de pesquisa. Nesse
sentido, se pode afirmar que é possível identificar os elementos que
contribuíram para o declínio e turnaround dos negócios na organização.
Tais elementos são apresentados na Figura 20. Por ser um estudo de
caso único a resposta à pergunta de pesquisa limita-se a empresa
investigada.
O alcance do primeiro objetivo específico pode ser observado no
capítulo 2.3 do presente trabalho. Dos diversos autores pesquisados para
responder a este objetivo, três merecem destaque (BIBEAULT, 1999;
SLATTER, LOVETT, 1999) pela contribuição que ofereceram para
Robbins e Pearce II definirem o framework de análise de declínio e
turnaround usado como base nesta dissertação.
O segundo objetivo específico é cumprido quando, no capítulo 4,
faz-se uma análise dos estágios de declínio da empresa estudada e suas
principais características, por meio do framework de Robbins e Pearce II
(1992), associando-as ao ciclo de vida de empresa familiar proposto por
Gersick et al. (1997).
A figura 14 demonstra de forma objetiva essa comparação. O ciclo
de vida da empresa foi dividido em 03 etapas, conforme orienta Gersick
et al. (1997). A primeira etapa (fase inicial) vai do ano de constituição à
124
mudança da empresa para a nova sede no município de Blumenau no
ano de 1969. A segunda etapa, chamada pelos autores de etapa de
expansão dos negócios, vai do ano de 1969 a 1996. Deve-se observar
neste capítulo que uma sobreposição de datas (de forma proposital),
pois se entende que um período de transição entre a fase inicial e a
fase de expansão. Essa transição acontece entre os anos de 1969 a 1973.
A terceira etapa do CVO proposto pelos autores (maturidade) vai do ano
de 1997 até o momento da elaboração deste trabalho.
Uma observação importante nesta análise fica a cargo da sucessão
na Dudalina S/A, que ocorre antes da fase de expansão, ou
concomitantemente com esta fase. Vale lembrar que Gersick et al.
(1997), sugerem que a transmissão do bastão (forma como os autores
denominam a sucessão nos negócios familiares) acontece quando a
empresa está próxima ou no estágio da maturidade. Portanto, o estudo
demonstra que é possível ocorrer a passagem do bastão nas primeiras
fases do ciclo de vida da empresa.
Outra observação importante com relação ao CVO da Dudalina S/A
é que a empresa, mesmo apresentando elementos que indicam estar no
estágio de maturidade (conselho de administração com participantes
externos à família, conselho de família e acordo de acionistas) não a
participação acionária que caracterize um consórcio entre primos como
explicita Gersick et al. (1997) na proposta de CVO de empresa familiar.
O terceiro objetivo específico se consolida quando analisamos o
item 4.4.3, especificamente a Figura 20 que mostra o framework de
Robbins e Pearce II (1992) analisado sob a perspectiva dos eventos
identificados como geradores de declínio e as ações adotadas que
contribuíram para o turnaround dos negócios na empresa. Neste
capítulo é importante destacar que a análise foi realizada com o interesse
de observar movimentos estratégicos da organização. As ações de
retrenchment operacionais não foram consideradas nesta análise, pois,
para tanto, ter-se-ia que elaborar uma proposta de investigação
concentrada em dados financeiros, que são considerados de teor
confidencial pela empresa. Foi realizada uma tentativa de acesso aos
documentos financeiros e relatórios de gestão da Dudalina S/A, porém,
foi negado o acesso por parte da empresa. Este fato não prejudicou o
trabalho, tendo em vista que o objetivo era estudar as estratégias da
organização e tais informações foram conseguidas com os entrevistados.
O quarto objetivo específico pode ser comprovado observando-se o
capítulo 4.3 e subitens que tratam especificamente do CVO da empresa
Dudalina S/A. O fato a ser destacado é que a empresa entra para a fase
de maturidade sem que fundamentos básicos de gestão tivessem sido
125
resolvidos, como sugere Gersick et al. (1997). Essa dicotomia tem seu
encaminhamento providenciado com a contratação de serviços de
consultoria para a empresa. A partir da referida consultoria um novo
modelo de gestão é implantado dando ênfase a um crescimento
sustentado em bases sólidas e na busca da profissionalização do
negócio. A característica assinalada por Gersick et al. (1997) da empresa
familiar complexa é notada nesta fase, onde são vários os membros da
família acionistas (16 irmãos são sócios), sendo que um dos sócios
continua no comando dos negócios.
Gersick et al. (1997) afirmam que é na fase de maturidade que a
empresa familiar começa a apresentar os primeiros sinais de declínio.
Para os autores, as estratégias para o turnaround nos negócios passam
pela redefinição do posicionamento dos produtos e serviços da
organização. Corroborando com essa afirmação, observa-se que nesta
fase do CVO a Dudalina S/A redireciona sua linha de produtos e opta
pela linha masculina executiva, direcionada para as classes A e B, que se
mantém até hoje.
Desta forma o objetivo geral considera-se atingido, pois a
investigação chega ao final apresentando o modelo de análise do ciclo
de vida de uma empresa familiar, proposto por Gersick et al. (1997)
espelhado na história da empresa Dudalina S/A, com depoimentos de
antigos e atual CEO e sócios, que descrevem as relações envolvendo a
família Hess de Souza durante a evolução da empresa. Os momentos de
dificuldade da organização, que também são objeto do objetivo geral,
são contemplados neste trabalho e sua comprovação pode ser observada
na figura 14 do capítulo 4.3.4 que faz um resumo do CVO da empresa,
associado aos momentos de crise e turnaround dos negócios.
5.2 Recomendações
O estudo sobre o declínio e o turnaround, associado ao ciclo de vida
de empresa familiar é tema relativamente novo no Brasil. São poucos os
autores que se arriscam nesta seara, talvez pela dificuldade de acesso às
informações ou por dar pouca significância ao fenômeno. Porém, este
mesmo tema é alvo de muitas discussões acadêmicas na Europa e EUA.
Essa observação é um incentivo para a comunidade acadêmica
brasileira que tem a oportunidade de pesquisar temas inéditos e
disponibilizar os resultados de sua pesquisa a acadêmicos, professores,
pesquisadores, empresários, cientistas, enfim, aos interessados.
126
Para os próximos estudos, recomenda-se dar ênfase na análise dos
fundamentos financeiros das empresas pesquisadas. Notadamente, é
possível levantar dados sobre o crescimento das organizações,
especificamente sobre faturamento, número de empregados, volume de
produção, comparando-os com o entendimento dos executivos de como
as crises vividas refletem na performance do negócio.
Também é recomendável que se faça uma investigação mais
profunda do cenário macro econômico vivido pelas empresas e seus
clientes na época identificada como de declínio. Esse fato é relevante,
pois poderá ajudar o pesquisador na identificação dos fenômenos sociais
e políticos que mais impactam na vida das empresas.
Recomenda-se, igualmente, que os pesquisadores interessados na
matéria, façam uma seleção criteriosa de artigos e publicações
internacionais, tendo em vista que o número de publicações nacionais
sobre o tema é restrito a menos de 5 autores.
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Alegre: Bookman, 2005.
136
137
APÊNDICE A
Roteiro básico para condução das entrevistas
1. Questionamentos sobre ciclo de vida e sucessão:
-
Descreva o ciclo de vida da empresa desde a fundação até os dias de
hoje.
-
Durante todo esse período quais foram os momentos críticos que a
empresa passou?
-
Após as crises algo mudou na empresa? O que?
-
Houve evolução nos processos internos após cada crise enfrentada?
-
O processo de planejamento mudou? participação dos
funcionários no planejamento? Se sim, desde quando?
-
Avalie os processos de crescimento e comunicação nas diversas
etapas do ciclo de vida da empresa.
-
Como são realizados os processos de tomada de decisão estratégica?
(fusões, aquisições, ampliação, etc.). participação dos demais
membros da família? Como?
-
Em que momento do ciclo de vida da empresa houve maior
valorização e empenho da direção para a definição de regras e
procedimentos?
-
Em que momento do ciclo de vida da empresa houve maior
exigência por itens como produtividade e eficiência?
-
A empresa é voltada a resultados (define metas)? Em qual
momento do ciclo de vida esse procedimento começou a ser
adotado?
-
Os sistemas de controle existentes tiveram início, ou ganharam mais
importância a partir de que período do ciclo de vida?
-
A administração é considerada profissional? Se sim, desde que
período?
-
Em sua avaliação, a partir de que período a empresa passou a ser
considerada profissionalizada (definição de procedimentos, planos
de cargos e salários, participação nos resultados, etc.)?
138
-
Quantos movimentos sucessórios a empresa enfrentou e em que
período do ciclo de vida?
-
A empresa prepara seus sucessores? Se sim, de que forma são
escolhidos e como acontece sua capacitação?
2. Questionamentos sobre a mudança no quadro da sociedade:
-
Houve mudança no quadro de participação societária? Se sim,
quando e como ocorreu?
-
Após a mudança no quadro de participação, na sua avaliação, houve
melhoria no desempenho da empresa? Por quê?
3. Questionamentos sobre a estrutura da empresa:
-
Qual a configuração atual do organograma da empresa?
-
Quando foi a última vez que o cronograma foi alterado e por que
isso ocorreu?
-
Você classifica a empresa voltada a processos ou a resultados?
Quais os indícios de sua afirmação?
-
Em que ponto da história da empresa a estrutura sofreu maiores
mudanças? Quais foram essas mudanças?
4. Questionamentos sobre as estratégias da empresa:
-
Ao longo da história a empresa alterou seu posicionamento
estratégico? Se sim, em que períodos?
-
Qual o índice de participação no mercado (market share)?
-
Como você define a formação de estratégias na empresa?
Emergente ou condicionada ao planejamento?
-
A empresa tem planejamento estratégico? Se sim, qual o
período de revisão?
5. Questionamentos sobre inovação, sistemas e processo:
-
Com que frequência a empresa moderniza o parque de
máquinas?
-
Como você classifica o nível de inovação da empresa (zero a
dez)?
-
A empresa utiliza de benchmarking? Qual a referência para a
sua empresa? Qual a referência para o setor?
-
Você classifica os processos da empresa como: flexíveis ou
complexos?
139
-
Qual o nível de profissionalização dos sistemas de RH,
marketing, finanças e produção?
6. Questionamentos sobre o comportamento da organização:
-
O que vem antes: as pessoas ou a empresa? Explique.
-
Quais os valores de que a organização não abre mão?
-
Quais os valores deixados até hoje pelo fundador?
-
Houve alteração destes valores? Se sim, em que período do
ciclo de vida?
-
Como o executivo principal é avaliado? resultados
pactuados entre o conselho de gestão?
-
Em sua opinião, os executivos (diretores e gerentes de primeiro
escalão) estão preparados para os desafios que a empresa terá
que enfrentar?
-
Você classifica a gestão da empresa como conservadora ou
agressiva? Por quê?
-
A empresa busca processos de certificação ambiental?
-
Como você define a empresa?
7. Questionamentos sobre as crises da empresa:
-
Qual a maior crise enfrentada até hoje pela empresa?
-
Em sua opinião, quais os motivos que levaram a empresa a esta
crise?
-
Qual a parcela de participação do executivo nesta crise?
-
Qual a parcela de participação da família nesta crise?
8. Questionamentos sobre o turnaround:
-
Em sua opinião, quais os motivos que levaram a empresa a sair
da crise e retomar o crescimento? Por quê?
-
Qual a contribuição do executivo para o turnaround?
-
Qual a participação da família para o turnaround?
-
Quais as principais estratégias adotadas pela empresa para
promover o turnaround? Qual estratégia foi determinante?
-
Houve venda de ativos para gerar entrada de recursos na
empresa? Se sim, como foi o processo?
140
141
APÊNDICE B
Cronograma das entrevistas
Entrevistado Função Data Horário Local da
entrevista
Vilson Luis de
Souza
Sócio e Presidente do
Conselho de
Administração
18/11/2009 09h00min Blumenau
Márcio Controladoria 18/11/2009 17h00min Blumenau
Vilson Luis de
Souza
Sócio e Presidente do
Conselho de
Administração
20/01/2010 10h00min Blumenau
Sonia Regina
Hess de Souza
Sócia e CEO da
empresa
20/01/2010 07h30min Blumenau
Armando Hess
de Souza
Sócio e ex- CEO
empresa
03/02/2010 16h00min Brusque
142
143
APÊNDICE C
Chek list
Data Informação Depto Contato
Solicitado Entregue
Organograma
atualizado da
empresa
RH
Histórico da empresa Presidência
Cópia do
planejamento
estratégico da
empresa
Presidência
Portfólio de produtos Marketing
Número de
funcionários (por
departamento),
tempo médio de casa
(por departamento) e
salário médio pago
(por departamento).
RH
Mapa do número de
funcionários (por
ano) por
departamento nos
últimos 10 anos
RH
Mapa das vendas
(por ano), dos
últimos 10 anos por
produto (em
unidades)
Financeiro
Mapa das
exportações (por
ano) dos últimos 10
anos por produto.
(em unidades)
Financeiro
144
Número de plantas
de produção,
tamanho em metros
quadrados,
capacidade instalada
(por produto),
capacidade utilizada.
Produção
Faturamento (por
ano) nos últimos 10
anos.
Financeiro
Percentual de lucro
(sobre faturamento)
nos últimos 10 anos.
Financeiro
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