uma nova era de dominação, militar, econômica, dos Estados Unidos sobre o resto do
mundo: neste sentido, como durante toda a história de classes, o avesso da cultura é
sangue, tortura, morte e terror.
O autor acima se refere, em especial, à aproximação entre arte e economia, ou a
produção mercantil da arte, a produção estética mercantilizada. Apesar de tratarmos aqui, não
desse movimento em si
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, mas da recorrência a elementos estéticos na produção, circulação e
consumo de mercadorias, os aportes de Jameson lançam luz a alguns aspectos da questão que
procuramos entender.
Jameson traz contribuições interessantes e polêmicas para se pensar a expressão
cultural do capitalismo na sua fase atual. Partindo da teoria de Mandel de que vivenciamos a
fase tardia do capitalismo, o autor elabora sua teoria de que a expressão ou lógica cultual
desta fase de ―capitalismo tardio‖ é o pós-modernismo
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. Desta forma, para Jameson
(2004:13/14): ―O pós-modernismo é o que se tem quando o processo de modernização está
completo e a natureza se foi para sempre. É um mundo mais completamente humano do que o
anterior, mas é um mundo no qual a ‗cultura‘ se tornou uma verdadeira ‗segunda natureza‘‖.
As contribuições deste autor para se a pensar a cultura como ―segunda natureza‖ nos
traz alguns aportes para a questão que nos propusemos nesta tese. Entretanto, é interessante
capitalismo.‖ Jameson (2004) destaca de forma acentuada em sua teoria seu vínculo teórico-conceitual com
Mandel, quanto a sua classificação do capitalismo atual, como uma terceira fase do capitalismo, sua fase mais
avançada e mais pura - o capitalismo tardio. Entretanto, reside justamente aí uma das críticas a este autor,
segundo Ana Lúcia Gazzola, na introdução (p. 11) que faz ao livro de Jameson (2004b), ―Espaço e Imagem;
teorias do pós-moderno e outros ensaios‖, ―Jameson constrói uma teoria da sociedade atual cujo modelo
pressupõe interconexões complexas entre modos de subjetividade e experiência, formas culturais, condições
sociais e históricas e estágios do desenvolvimento econômico.‖, entretanto, acrescenta Gazzola (p. 12): ―(...)
alguns críticos consideram insuficiente sua elaboração do novo estágio do capitalismo multinacional,
argumentando que ele não oferece mediações adequadas entre o econômico, o cultural e o político. Termina,
assim, por apresentar uma concepção reducionista, mecanicista e com implicações economicistas das
mudanças históricas e dos fenômenos culturais. Tais leituras da obra de Jameson criticam sua concepção
unificada e integrada tanto da cultura contemporânea quanto das culturas das sociedades tradicionais, e o fato
de que ele termina por operar dentro dos limites do modelo de base e superestrutura‖. Apesar de procedentes
as críticas que Gazzola apresenta em relação à Jameson, consideramos a contribuição que o autor traz para se
pensar a constituição cultural da fase tardia do capital e, em relação a este aspecto, Jameson fomenta debates e
traz argumentos com os quais concordamos e nos ajudam a reforçar nossa hipótese de trabalho.
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Mesmo sabendo que não há como não recorrer a ele no estudo que desenvolvemos, este não é o objeto de
nossa pesquisa. Entendemos que só em termos analíticos podemos proceder ao ―recorte‖ entre ―produção
artística mercantilizada‖ e estetização da mercadoria, na realidade, estes dois movimentos são partes da
―expressão cultural‖ do capitalismo tardio e estão interligados entre si.
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Jameson (2004: 23) assinala, em relação à passagem do moderno para o pós-moderno que, ―a preparação
econômica do pós-modernismo, ou do capitalismo tardio, começou nos anos 50, depois que a falta de bens de
consumo e de peças de reposição da época da guerra tinha sido solucionada e novos produtos e novas
tecnologias (inclusive, é claro, a da mídia) puderam ser introduzidas‖. Falando ainda da medição entre
capitalismo tardio e sua lógica cultural Jameson (2004: 25. grifos do autor) acrescenta: ―(...) a expressão
capitalismo tardio traz embutida também a outra metade, a cultura, de meu título; essa expressão é não só uma
tradução quase literal da outra expressão, pós-modernismo, mas também seu índice temporal parece já chamar
a atenção para mudanças na esfera do cotidiano e da cultura‖.